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ARTIGO
A CONFIABILIDADE HISTÓRICA
DO QUARTO EVANGELHO
À LUZ DA GEOGRAFIA E DA
ARQUEOLOGIA
Dr. Fabricio Luís Lovato
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A CONFIABILIDADE HISTÓRICA
DO QUARTO EVANGELHO
À LUZ DA GEOGRAFIA E DA
ARQUEOLOGIA
The historical reliability of the fourth gospel in the light of geography
and archeology
RESUMO
ABSTRACT
INTRODUÇÃO
Os quatro Evangelhos canônicos (Mateus, Marcos, Lucas
e João) são relevantes para os cristãos, por serem considerados
testemunhos inspirados da vida de Jesus Cristo, o centro da
fé cristã. Dentre as quatro obras, apenas o Evangelho de João
afirma diretamente ser o relato de uma testemunha ocular dos
eventos que narra: “E o Verbo se fez carne e habitou entre nós,
cheio de graça e de verdade, e vimos a sua glória, glória como do
unigênito do Pai” (Jo 1.14).2 “Aquele que viu isso dá testemunho,
e o testemunho dele é verdadeiro. E ele sabe que diz a verdade,
para que também vocês creiam” (Jo 19.35). “Este é o discípulo
2 Salvo outra indicação, as referências bíblicas foram obtidas da versão Nova Almeida
Atualizada.
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3 Sobre o capítulo 21 do Evangelho ser parte da obra original de João (ao invés de uma
adição tardia ao livro), veja-se a argumentação em BAUCKHAM, 2011, p. 464-488.
4 Cerca de 92% do conteúdo do Evangelho de João é exclusivo e não se encontra nos
Sinóticos, em contraste com 42% em Mateus, 59% de Lucas e 7% de Marcos (UNGER,
2011, p. 438).
5 Mas, como afirma Bruce (2004, p. 71), isto “não é dificuldade de monta. João revela
conhecimento do ministério galileu (cf. João 7.1) e os Sinóticos implicitamente confirmam
o relato joanino de um ministério hierosolimita”.
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as quais João não foi escrito até a segunda metade do século II”
(PAROSCHI, 2009, p. 79).
O que se acreditava ser um “Evangelho desconhecido” foi
descoberto entre os papiros egípcios comprados de um nego-
ciante em 1934 e publicado por H. I. Bell e T. C. Skeat, em 1935.
Os fragmentos deste documento (“Papiro 2 de Egerton”) foram
datados por volta de 150 d.C., através de análises paleográfi-
cas. Este texto parece ter pertencido a um manual destinado a
ensinar as histórias dos Evangelhos às pessoas, e está baseado
nos quatro Evangelhos canônicos. Isso é evidência de que “o
Evangelho quádruplo era geralmente aceito na Igreja em me-
ados do século II” (BRUCE, 1959, p. 322) e, portanto, é um ar-
gumento adicional para uma autoria anterior do livro de João,
ainda no primeiro século.
O Papiro 66 (que faz parte da coleção Papiros de Bodmer,
grupo de manuscritos descobertos no Egito em 1952) contém
um códex quase completo do Evangelho de João e é datado em 151
aproximadamente 200 d.C. (BRUCE, 1959, p. 323). Raymond E.
Brown declarou que “os papiros Rylands e Bodmer tornam vir-
tualmente impossível uma data muito depois de 100 d.C. para a
escrita final do Evangelho completo” (BROWN, 1962, p. 1).
Há uma discordância entre os estudiosos sobre a data exa-
ta para a composição do Evangelho, variando de tão cedo quan-
to 65 d.C. (ROBINSON, 2000, p. 254-311) a tão tarde quanto 96
d.C. (BRUCE, 1983, p. 13). Mas de qualquer forma, nas palavras
de Blomberg, “com qualquer conjunto de datas, seja o mais libe-
ral ou o mais conservador, os Evangelhos e o livro de Atos foram
escritos no século I” (BLOMBERG, 2010, p. 22). Assim, é claro
que o Evangelho de João foi escrito em “uma época em que a
lembrança dos detalhes históricos [do ministério de Jesus] ainda
seria precisa” (VON WAHLDE, 2018, p. 116).
2. A GEOGRAFIA DO EVANGELHO
DE JOÃO
Muitos estudiosos questionaram a autenticidade dos lo-
cais mencionados no Evangelho de João. Por exemplo, em 1954
Norbert Krieger afirmou que os nomes de algumas designa-
ções de lugares em João eram fictícios, invenções do autor a
fim de criar um simbolismo que contribuiria para o significado
do evento sendo descrito (VON WAHLDE, 2018, p. 102). Ape-
sar disso, os estudos modernos têm estabelecido a precisão de
muitas dessas referências; e
a exatidão dessas identificações, bem como a
exatidão de detalhes incidentais nas descrições
do Evangelho indicam que o autor desses textos
era alguém com acesso a conhecimento, não
apenas dos lugares mencionados no ministério,
mas também de vários outros elementos dos
costumes e da vida judaica (VON WAHLDE,
152 2018, p. 117).
A confiabilidade histórica dos Evangelhos é, portanto, res-
saltada quando lemos essas narrativas à luz da geografia his-
tórica dos dias de Jesus. Nas palavras de McDowell e Wilson,
uma vez que “seria praticamente impossível para um escritor
gentio mais recente conhecer o contexto histórico-geográfico
relativo a um evento na vida de Jesus”, podemos tomar esses
incidentes como uma “boa evidência de que os acontecimentos
descritos pelos escritores do evangelho realmente ocorreram”
(MCDOWELL; WILSON, 1999, p. 221).
Os escritores dos Evangelhos, de maneira geral e frequen-
te, referem-se a aspectos geográficos, indicando familiaridade
com a terra (MCDOWELL; WILSON, 1999, p. 221), o que ocorre
especialmente com o Evangelho de João (BRUCE, 2004, p. 64).
Comentando acerca desse Evangelho, Paul N. Anderson declara
que locais ligados a eventos específicos no ministério de Jesus
“não apenas são mencionados, mas são descritos com informa-
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8 Para Bruce (2004, p. 75), “não se deve, porém, exagerar tais afinidades; longe está a
literatura qumranita de apresentar-nos figura tal como a do Jesus do Evangelho joanino”.
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3.3 Betsaida
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com tanta certeza como neste caso” (BRUCE, 2004, p. 122). Uma
vez que essa estrutura não existia mais após a destruição da cidade
pelos romanos, em 70 d.C., é improvável que qualquer escritor,
não dependendo de um testemunho ocular, pudesse realizar uma
descrição com tal nível de detalhes.
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REFERÊNCIAS
ALBRIGHT, W. F. Recent Discoveries in Palestine and the Gospel
of St John. In: DAVIES, W. D.; DAUBE, D. (Eds). The Background
of the New Testament and its Eschatology. In Honor of Charles
Harold Dodd. Cambridge, England: Cambridge University Press,
1956. p. 153–171.
ALBRIGHT,W. F. The Archaelogy of Palestine. Harmondsworth,
Middlesex: Pelican Books, 1960.
12 Confira-se a análise de MCDOWELL, J. Novas Evidências que Demandam um Veredito.
Evidência I e II. São Paulo: Hagnos, 2013, p. 643-673.
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