Apostila de Geografia e Arqueologia Bíblica
Apostila de Geografia e Arqueologia Bíblica
Apostila de Geografia e Arqueologia Bíblica
INTRODUÇÃO
Mais de mil anos se passaram até que tudo fosse concluído. E nesse processo
muita coisa mudou, a começar pelas transformações culturais e religiosas, a divisão
das terras, o nascimento de novas civilizações, as variações climáticas, as transições
políticas, a estruturação física das cidades, etc.
Diante do exposto, faço votos de que você possa perceber que a geografia e a
arqueologia são indispensáveis no estudo bíblico e teológico sério. E ainda, que
mediante o uso destas ciências, você possa crescer na graça e no conhecimento
Daquele que criou todas as coisas para sua glória.
Em Cristo,
Não é nosso propósito, com tais palavras, minimizar, nem mesmo desdenhar de
nenhuma das matérias supramencionadas ou outras que não foram aqui citadas, pois
cada uma delas está repleta de importância e relevância, carregando consigo um valor
intrínseco, de valor imensurável para a formação teológica do cristão. Sendo, portanto,
indispensáveis para a boa formação teológica.
1
Por narrativas, nos referimos a todo arcabouço bíblico e, não necessariamente ao estilo literário apresentado
nas Escrituras.
3
2. IMPORTÂNCIA DA GEOGRAFIA E ARQUEOLOGIA BÍBLICA
2
ANDRADE, Claudionor de. Geografia Bíblica. 3ª Edição. Rio de Janeiro: CPAD, 1994.
4
Não obstante a afirmação feita por Claudionor de Andrade esteja correta, é
preciso ressaltar que a Sagrada Escritura não necessita de comprovação cientifica
sobre aquilo que afirma, pois como declarou o Senhor Jesus Cristo em sua oração
sacerdotal, ela própria é a verdade: “Santifica-os na verdade; a tua palavra é a
verdade” (João 17.17).
A ciência em apreço, ainda demonstra seu valor ao lançar luz sobre eventos
ocorridos na história do povo de Deus, ao situar o leitor das Sagradas Escrituras com
determinadas localizações, ao reconstruir seus costumes e comportamentos, ao
esclarecer como funcionava a economia e a religiosidade do povo, bem como, ao
explicar o surgimento de seitas e partidos políticos da época, e na elucidação de certas
passagens bíblicas, a exemplo do Salmo 126, que cita as torrentes do Neguebe; ou
ainda o Salmo 133, que nos fala sobre o orvalho do Hermon; e João 10, onde Jesus
afirma ser a porta das ovelhas. Mediante, o uso da geografia bíblica, podemos
compreender e realizar a correta interpretação destes textos, bem como de vários
outros relacionados na Sagrada Escritura.
3
PRICE, Randall. Arqueologia Bíblica – O que as últimas descobertas da arqueologia revelam sobre as verdades
bíblicas. 5ª Edição. Rio de Janeiro: CPAD, 2006.
5
inúmeros artefatos encontrados lançam luz sobre o texto bíblico. Daí sua importância
para a teologia; pois partindo de seus achados, podemos conhecer melhor a história
da humanidade e consequentemente, comparar suas descobertas materiais que,
muitas vezes, remetem aos tempos bíblicos. Um bom exemplo disso, são os achados
arqueológicos das cavernas do Qunram ou como comumente é denominado, os
“Rolos do Mar Morto”. Mas, sobre isso falaremos mais adiante. Assim sendo, é
pertinente apontar a arqueologia como uma ciência que caminha lado a lado com a
teologia e que obviamente não pode ser negligenciada, visto que a partir de suas
descobertas, recebemos um intenso faixo de luz sobre as mais diversas áreas de
estudo. Facilitando, inclusive, a compreensão de como se desenvolveu o processo de
escrita e registro das Sagradas Escrituras, bem como sua interpretação. Neste sentido,
o arqueólogo e teólogo, Merrill Unger, destaca que,
4
UNGER, Merrill F. Arqueologia do Velho Testamento. 1ª Edição. São Paulo: Imprensa Batista Regular, 1980.
6
3. ARQUEOLOGIA BÍBLICA
Por ser uma ciência um pouco mais antiga que sua companheira, trataremos
primeiro, de aspectos relacionados à Arqueologia Bíblica e somente depois da sua
colaboradora, a Geografia Bíblica.
Para alcançar seus objetivos, cada ciência lança mão de uma metodologia
própria, afim de obter os melhores resultados. E isso não é diferente no que diz
respeito à Arqueologia, incluindo o ramo que se dedica aos Escritos Sagrados. Neste
sentido, uma colaboradora eficaz da matéria em questão, é a arquitetura, visto que
grande parte dos achados arqueológicos, está relacionada aos muros, casas, templos,
edifícios, dentre outras obras ligadas às definições arquitetônicas de cada época.
7
e em todos os seres vivos mantém-se constante durante quase todo o tempo.
Talvez um em cada trilhão de átomos de carbono seja um átomo de carbono
14. Os átomos de carbono 14 estão sempre decaindo, mas são substituídos
por novos átomos de carbono 14, sempre em uma taxa constante. Nesse
momento, seu corpo tem certa porcentagem de átomos de carbono 14 nele,
e todas as plantas e animais vivos têm a mesma porcentagem que qualquer
ser humano.5
5
FRANCISCO, J.A.S.; LIMA, A.A.; ARÇARI, D.P. Datação por Carbono – 14. Disponível em:
http://portal.unisepe.com.br/unifia/wp-content/uploads/sites/10001/2018/06/1gestao_foco_Carbono14.pdf.
Acesso em: 28 de junho de 2020.
8
existência de determinadas civilizações e ou espécies animais. Não obstante, é preciso
esclarecer que a datação é aproximada e não exata, visto que com o passar do tempo
a quantidade de Carbono 14 encontrada nos fósseis diminui consideravelmente. A
ilustração a seguir, nos dá uma breve ideia do que estamos tratando aqui.
6
SAYÃO, Luiz. O impacto da arqueologia sobre o estudo da Bíblia. Disponível em:
http://www.prazerdapalavra.com.br/colunistas/luiz-sayao/4021-o-impacto-da-arqueologia-sobre-o-estudo-da-
biblia-luiz-sayao. Acesso em 07 de julho de 2020.
9
Esse é o trabalho de um antropólogo. Algumas escavações também contratam
zoólogos para fazer a mesma análise dos restos de animais.
10
• Flourine: Datação relativa de ossos em que se mede o flourine absorvido da
terra pelo osso, comparando-se esse nível com o de outros ossos na mesma
área (não é absoluta).
Podemos tomar como exemplo, uma das mais antigas e influentes sociedades
do mundo antigo, os sumérios, um povo que ocupou grande parte da antiga
Mesopotâmia; especialmente a parte sul, uma região extremamente significativa para
o povo de Deus.
11
pequenos tabletes retangulares, sendo a forma de escrita mais antiga a que
se parece com uma série de cunhas interligadas — daí o nome cuneiforme.7
Esta forma de linguagem, isto é, a escrita cuneiforme possuía mais de dois mil
sinais, sendo ao longo do tempo partilhada por outros povos, sobretudo, na área
contábil e administrativa.
7
Cf. PRICE, Randall. Op. Cit. 2006, pág. 33.
12
açoite como castigo. Mas tinham o direito de se envolver em negócios, pedir
dinheiro emprestado e comprar a sua liberdade.8
8
TENNEY, Merrill C. et al. Enciclopédia da Bíblia. 1ª Edição. Volume 5. São Paulo: Editora Cultura Cristã, 2008.
9
Ibidem.
10
Em termos simples, dolicocéfalo é alguém que tem a largura do crânio menor que o comprimento.
11
Braquicétalos é alguém com crânio quadrático, as dimensões da largura x altura, são equivalentes.
12
Cf. TENNEY, Merrill C. et al. Op. Cit. 2008, Vol. 05, pág. 705.
13
não sejam exaustivas em seus relatos e enunciados. Igualmente importante é lembrar
o fato de que as Escrituras não se propõem a ser um livro de ciências, sejam elas
exatas, biológicas, humanas, etc. Seus relatos partem do ponto de vista do observador
e sua linguagem usa a técnica da acomodação, para que a possamos compreender.
Sendo assim, é perfeitamente natural, que haja disparidades entre suas informações
e as declarações cientificas modernas.
14
Babilônia (c. 1792- 1750 a.C.). Com exceção de uns poucos textos religiosos
compostos em língua hurriana, os documentos eram escritos em acadiano.13
13
Cf. TENNEY, Merrill C. et al. Vol. 04. Op. Cit. 2008, pág. 121.
14
CHAMPLIN, Russell Norman. Enciclopédia de Bíblia, teologia e filosofia. 11ª Edição. Volume 04. São Paulo:
Hagnos, 2013.
15
Ibidem.
16
Devemos lembrar que Deus não anulou a personalidade dos escritores bíblicos, mas usou seus conhecimentos
“seculares” no registro de Sua verdade, as Sagradas Escrituras.
15
criação proposta em Gênesis. Embora, diga-se de passagem, tais peculiaridades,
aludem a um período anterior ao nascimento destes povos, como veremos adiante.
Veremos ainda, que a decifração da escrita cuneiforme foi de grande valor para o
conhecimento que temos dos povos antigos. Sendo, justamente, a decifração de tais
escritos que possibilitou a compreensão das imagens registradas em sete tábuas de
argila que ficaram conhecidas como “as tábuas da criação”. Nelas, encontramos o
poema babilônico-assírio da criação, o “Enuma Elish”. Tais tábuas foram encontradas
entre 1848 e 1876, durante escavações na cidade de Nínive, capital da Assíria.
Em síntese, o épico Enuma Elish descreve como o deus Apso e a deusa Tiamate
dão origem a outros deuses. Estes se mostram maliciosos e cruéis, precisando ser
contidos. Apso intenta destruí-los, mas seu plano é descoberto, sendo morto por seu
filho Ea. Tiamate apoiada por outros deuses, decide vingar seu marido. Na sequência,
Tiamate é morta por seu neto Marduque, o criador do universo. Depois de tudo criado,
Ea, pai de Marduque, seguindo suas orientações, cria o homem, usando o sangue do
deus Kingu e impõe sobre o ser humano o trabalho que antes pertencia aos deuses.
17
Cf. UNGER, Merrill F. Op. Cit. 2004, pág. 34.
16
As sete tábuas da criação do épico Enuma Elish
O dilúvio tem sido tratado por muitos historiadores, como um mito bíblico. Um
mito que é revestido de grande mistério e que encontra eco nos mais diversos povos
e suas respectivas culturas.
18
KELLER, Werner. E a Bíblia tinha razão. 3ª Edição. São Paulo: Editora Melhoramentos, 2012.
17
escritos das mais diversificadas culturas. Entretanto, não há base escriturística para
afirmar a existência de mais de um dilúvio. É possível que todos os mencionados
registros, digam respeito a um único acontecimento, sob a perspectiva peculiar destes
povos, refletindo seus aspectos culturais e religiosos.
19
Cf. CHAMPLIN, Russell Norman. Vol. 02. Op. Cit. 2013, pág. 154.
18
babilónico não menciona o número sete para os animais limpos. (4) Pássaros
são enviados em ambos os relatos, mas a ordem em Gênesis é um corvo e
uma pomba (duas vezes), enquanto que no cuneiforme a pomba e o corvo
são invertidos e uma andorinha é acrescentada. (5) Ambos os relatos têm um
altar após o Dilúvio, mas o relato babilónico é politeísta. (6) Ambos os relatos
concordam em indicar que a raça humana não seria novamente destruída por
um dilúvio.20
20
Cf. TENNEY, Merrill C. et al. Vol. 02. Op. Cit. 2008, pág. 171.
21
Ibidem.
19
Outra versão ainda mais antiga do Dilúvio foi recuperada a partir de vários
fragmentos encontrados ao longo de 78 anos (1889-1967) em vários sítios
arqueológicos da Mesopotâmia. Ela data do reinado de Ammisaduqa, que
governou Sippar de 1646 a 1626 a.C., e é seguramente anterior a Moisés.
Nela, o herói diluviano não é Utnapishtim (como no Gilgamesh), e sim
Atrahasis. Como no outro relato, ele é avisado pelo deus Enki (outro nome
para Ea) de que a Terra seria destruída por causa do barulho que os homens
faziam, não permitindo que o deus Enlil descansasse em paz. As pragas e a
fome foram enviadas primeiro e, finalmente, derramou-se um grande dilúvio.
Obediente às instruções de Enki, Atrahasis, sua família e vários tipos de
animais sobreviveram à inundação através de um barco que o próprio herói
construiu.22
22
SILVA, Rodrigo P. Escavando a verdade - A arqueologia e as incríveis histórias da Bíblia. 2ª Edição. São Paulo:
Casa Publicadora Brasileira, 2008.
20
3.4 A ARQUEOLOGIA E OS PATRIARCAS BÍBLICOS
Há uma situação similar em relação aos fatos que se referem a Agar e Ismael.
Pode parecer estranho que Sara tenha pedido que Abraão engravidasse a
sua serva Agar, para que criasse um filho para Sara (Gn 16.2). Novamente os
documentos de Nuzi demonstram que esse acontecimento estava em
conformidade com os costumes da época, em Harã. Na sociedade dos
hurrianos, onde um filho era extremamente importante, era prática comum
23
COLAVITTI, Fernanda. A era dos patriarcas. Disponível em:
http://revistagalileu.globo.com/EditoraGlobo/componentes/article/edg_article_print/0,3916,705241-2681-
3,00.html. Acesso em: 07 de julho de 2020.
24
Um povo que viveu na antiga Mesopotâmia, ocupando o extremo norte da região.
21
que, caso uma esposa não tivesse filhos, providenciasse uma escrava-mulher
para o marido, com a finalidade de dar-lhe um filho.25
25
Cf. TENNEY, Merrill C. et al. Op. Cit. 2008, Vol. 04, pág. 578.
26
Ibidem.
22
Placa de argila da cidade de Nuzi
27
Um vale onde entre os séculos XVI e XI a. C., os reis eram foram construídas tumbas para o sepultamento dos
Faraós. Um vale localizado às margens do rio Nilo, na região de Tebas, no Egito.
28
A Bíblia Almeida Corrigida Fiel, traz a esta expressão de forma mais clara: “DISSE o SENHOR ao meu Senhor:
“Assenta-te à minha mão direita, até que ponha os teus inimigos por escabelo dos teus pés” (Salmo 110.1).
23
da paz, em breve, esmagará debaixo dos vossos pés a Satanás. A graça de nosso
Senhor Jesus seja convosco” (Romanos 16.20). Talvez, o apóstolo tivesse em mente
um outro artefato, igualmente comum nos tempos bíblicos e que também foi
recuperado nas escavações arqueológicas supramencionadas.
A partir de então, por quase uma década (1947-1956), foram realizadas diversas
escavações na região e diversificado material foi encontrado.
29
Cf. KELLER, Werner. Op. Cit. 2012, n. p.
25
como o Papiro Nash, do segundo século da era cristã. O Códice de
Leningrado, copiado em 1008 d.C., é a mais antiga cópia contendo o Antigo
Testamento na íntegra num volume só.30
Talvez, uma das indagações que surgem de tudo isto é: quem escondeu todo
este material nas cavernas do Qumran?
Por outro lado, acredita-se que tais cópias tenham sido feitas no próprio local
por uma comunidade sectária conhecida como os Essênios.
Não temos muitas informações a seu respeito, mas sabemos que faziam parte
de uma seita judaica que surgiu por volta de 150 a.C., sendo caracterizada pelo
ascetismo, vivendo quase que exclusivamente para práticas espirituais. Eram
30
_________ Descobertas Arqueológicas. Disponível em: https://www.sbb.org.br/a-biblia-sagrada/descobertas-
arqueologicas/. Acesso em 13 de julho de 2020.
31
Cf. SILVA, Rodrigo P. Op. Cit. 2008, pág. 152.
26
separatistas e cautelosos. Viviam nas proximidades do Mar Morto e dedicavam-se
sobremaneira a estudar e interpretar as Escrituras.
32
JOSEFO, Flávio. História dos Hebreus. 8ª Edição. Rio de Janeiro: CPAD, 2004.
27
4. GEOGRAFIA BÍBLICA
Crescente Fértil. Este termo refere-se àquela extensão de terra que começa
no Golfo Pérsico estendendo-se a noroeste através dos Vales dos Rios Tigre
e Eufrates, continuando de oeste a nordeste da costa do Mar Mediterrâneo,
desviando para o sul através de Canaã e (popularmente) incluindo o Vale do
Rio Nilo.33
33
Cf. TENNEY, Merrill C. et al. Op. Cit. 2008, Vol. 01, pág. 1213.
28
O arqueólogo James Henry Breasted foi o responsável por esta nomenclatura.
Ela se dá, especialmente, porque em sua demarcação geográfica, a região
naturalmente sugere o formato de uma meia lua, tendo ainda a característica de ser
uma zona de grande fertilidade, favorecendo o desenvolvimento agrícola e
agropecuário. Um território vasto, com cerca de 2.100m2. Foi também nesta região
que Deus estabeleceu o Jardim do Éden34, onde viveram nossos primeiros pais: Adão
e Eva. Mais tarde, o Crescente Fértil se liga à história do povo de Israel, por ter sido
nesta região que o Senhor estabeleceu o seu povo. Um lugar que, de acordo com
Êxodo 3.8, “mana leite e mel”. Uma referência à sua fertilidade e abundância.
A região do Crescente Fértil foi palco das grandes potências mundiais, até a
chegada do império greco-romano, quando as civilizações migraram de forma mais
efetiva para o Ocidente.
34
Sua localização é incerta; porém acredita-se que estava situado entre o atuais Iraque e Armênia.
29
4.2 HIDROGRAFIA
Uma das áreas estudadas pela geografia é a hidrografia. Esta, diz respeito às
águas que estão sobre e sob a superfície terrestre.
4.2.1 As chuvas
35
TOGNINI, Enéas. Geografia da Terra Santa e das Terras Bíblicas. 1ª Edição. São Paulo: Hagnos, 2009.
36
Cf. TENNEY, Merrill C. et al. Op. Cit. 2008, Vol. 01, pág. 1033.
30
Não obstante a informação acima, não devemos esquecer que não é o acaso
quem controla e determina o tempo em que as chuvas devem cair sobre a terra, senão
próprio Deus. As Sagradas Escrituras nos dão abundante prova disto: Levítico 26.3-4;
Tiago 5.17-18 (cf. I Reis 17.1, 18.1); Salmo 147.7-9; Jeremias 14.22; Zacarias 10.1.
Embora a região onde Israel está situado seja, em certo sentido, desfavorecido
quanto às chuvas, estas podem ser esperadas com alegria no período próprio. Neste
sentido, o profeta Joel ao anunciar a benção de Deus sobre o seu povo, fala de duas
estações chuvosas distintas: “Alegrai-vos, pois, filhos de Sião, regozijai-vos no
SENHOR, vosso Deus, porque ele vos dará em justa medida a chuva; fará descer,
como outrora, a chuva temporã e a serôdia” (Joel 2.23 – ARA)37. A mesma expressão
é usada por Tiago, ao referir-se ao glorioso retorno do nosso Senhor Jesus Cristo:
“Sede, pois, irmãos, pacientes até a vinda do Senhor. Eis que o lavrador espera o
precioso fruto da terra, aguardando-o com paciência, até que receba a chuva temporã
e serôdia” (Tiago 5.7 – ARC)38. A ARA traduz como “as primeiras e as últimas chuvas”,
o que também está correto, como veremos.
37
Almeida Revista e Atualizada (baseada no Textus Receptus).
38
Almeida Revista e Corrigida (baseada no Texto Majoritário).
31
4.2.2 Os mares
O Mar Vermelho, embora bastante conhecido, uma vez que serviu de obstáculo
ao povo de Deus em sua jornada, quando estes fugiam dos seus opressores egípcios.
Com quase dois mil quilômetros de comprimento, entre o estreito de Bab al-
Mandeb e o Suez, no Egito, e cerca de 300 quilômetros de largura, somando
uma área de 450.000 km2, o Mar Vermelho banha o Sudão, o Egito e a Eritréia,
ao oeste; e a Arábia Saudita e o Iêmem, ao leste. Uma pequena faixa do Golfo
de Aqaba banha Israel e a Jordânia.39
A contestação que se faz a esta grande maravilha Divina está ligada à tradução
do termo hebraico יָם סּוףque significa “mar de juncos”. Os opositores do milagre ali
realizado, afirmam que os hebreus teriam passado numa parte com pouca água, onde
cresciam os juncos, de forma, que não teria ocorrido nenhum milagre. Contudo, as
dificuldades são dispersadas quando analisamos mais detidamente os fatos. Na parte
mais elevada deste mar, cresce uma grande quantidade de juncos, uma planta
39
Cf. ANDRADE, Claudionor de. Op. Cit. 1994, n.p.
32
aquática que quando murcha e morre deixa a água com uma tonalidade marrom-
avermelhada. De modo que a tradução apenas leva essa realidade em consideração.
Embora não tenha seu nome mencionado no texto, foi por pelo Mar
Mediterrâneo que que Jonas fugiu para Társis, quando fora comissionado por Deus
para pregar aos cidadãos de Nínive.
33
Este mar ganha especial significado para o povo de Deus, no período do Novo
Testamento, pois foi dominado pelos romanos que estabeleceram uma estratégica rota
comercial, sendo, consequentemente bastante utilizado pelo apóstolo Paulo em suas
viagens missionárias.
34
4.2.3 Os lagos
Na região da Palestina não existem muitos lagos e dos poucos que existem, três
recebem especial importância por sua relação com o povo de Deus: Lago de Merom,
Mar da Galileia e Mar Morto.
Este lago faz parte de uma bacia hidrográfica conhecida como “Vale de Hula”.
De acordo com o Dicionário Wycliffe: “O termo “águas de Merom” não indica o antigo
40
PFEIFFER, Charles F.; HOWARD, F. Vos; REA, John. Dicionário Bíblico Wycliffe. 2ª Edição. Rio de Janeiro: 2007.
35
Lago Huleh, mas uma nascente (cf. Js 15.7,9; 16.1; 19.46; Jz 5.19). Ele deve se referir
à fonte da cidade de Merom onde Josué reuniu suas forças cananeias”.41
Nessa região, às margens do Lago de Merom, Josué travou sua vitoriosa batalha
contra vários reis cananeus e seus exércitos (cf. Josué 11.1-9). Havia na região uma
cidade com o mesmo nome. “Merom era certamente uma cidade na Galileia Superior,
como comprovado por antigas fontes extrabíblicas”.43
41
Ibidem.
42
DAVIS, John. Dicionário da Bíblia. 16ª Edição. Rio de Janeiro: xxxxx
43
Cf. TENNEY, Merrill C. et al. Op. Cit. 2008, Vol. 04, pág. 227.
36
4.2.3.2 Mar da Galileia
37
4.2.3.3 Mar Morto
Embora seja chamado de mar, o Mar Morto é na verdade uma bacia hidrográfica
endorreica, ou seja, um lago que não tem onde desaguar. Localizado na extremidade
sul do Rio Jordão, é caracterizado por uma intensa concentração de sal. Em média, os
oceanos possuem cerca de 4% de salinidade, enquanto que o Mar Morto apresenta
algo em torno de 30% de teor salino. De modo que, com exceção de alguns poucos
microrganismos nada sobrevive em suas águas. De acordo com Merrill Tenney,
O segundo exemplo é o II Crônicas 20, que nos mostra como Josafá, rei de
Judá, depois de receber notícias de que exércitos inimigos marchavam contra ele,
buscou ao Senhor suplicando por seu socorro e recebeu a ordem Divina de se
preparar para a guerra, mas não batalhar contra seus oponentes. E nos diz o Texto
Sagrado que Josafá “aconselhou-se com o povo e ordenou cantores para o SENHOR,
44
Cf. TENNEY, Merrill C. et al. Op. Cit. 2008, Vol. 04, pág. 92.
38
que, vestidos de ornamentos sagrados e marchando à frente do exército, louvassem
a Deus, dizendo: Rendei graças ao SENHOR, porque a sua misericórdia dura para
sempre. Tendo eles começado a cantar e a dar louvores, pôs o SENHOR emboscadas
contra os filhos de Amom e de Moabe e os do monte Seir que vieram contra Judá, e
foram desbaratados” (II Crônicas 20.21-22).
Foi também, nas proximidades do Mar Morto que os essênios formaram sua
comunidade ascética, na qual foram produzidos os famosos e valiosos Manuscritos do
Mar Morto ou Manuscritos do Qumran.
4.2.4 Os rios
Os rios são correntes de água regidas pela gravidade, via de regra, desaguando
no oceano, mar, lago ou até mesmo em outro rio e sua extensão depende do relevo
39
da região onde se encontram. E na história do povo de Deus, encontramos alguns
poucos que merecem nossa consideração por sua ligação com a nação escolhida:
Eufrates, Nilo e Jordão.
Este rio sempre esteve ligado à história da nação escolhida, sendo um dos rios
citados em Gênesis, na definição geográfica do Jardim do Éden (cf. Gênesis 2.10-15).
Mais tarde, Deus usa o Eufrates, como delimitação fronteiriça da Terra Prometida, ou
seja, ele era o limite das terras dadas a Israel (cf. Gênesis 15.18). Além disso, diversos
acontecimentos da história hebreia estiveram ligados a este rio, (cf. Josué 24.14-15;
II Samuel 8.1-3; II Rei 23.29).
45
Cf. TENNEY, Merrill C. et al. Op. Cit. 2008, Vol. 02, pág. 642.
40
região de montanhas, lagos e chuvas sazonais, e atravessa áreas pantanosas e
tropicais, para finalmente abrir caminho através das regiões rochosas do deserto”.46
Este rio está intimamente ligado à história do povo de Deus. Esta ligação se dá
em ao menos dois momentos de extrema importância: o sonho de Faraó e sua
consequente interpretação por José, filho de Jacó (cf. Gênesis 41); e no episodio em
que Faraó manda matar todos os filhos dos hebreus e Moisés tem sua vida poupada
por sua família e em seguida é adotado pela filha de Faraó (cf. Êxodo 1).
A região onde fica o rio Jordão foi descrita como um lugar de beleza exuberante,
quando Abraão e Ló precisaram separar-se: “Levantou Ló os olhos e viu toda a
campina do Jordão, que era toda bem regada (antes de haver o SENHOR destruído
Sodoma e Gomorra ), como o jardim do SENHOR, como a terra do Egito, como quem
vai para Zoar” (Gênesis 13.10).
46
Cf. TENNEY, Merrill C. et al. Op. Cit. 2008, Vol. 04, pág. 506.
47
Nessa região ficava Cesaréia de Felipe, onde Pedro fez a famosa declaração: “Tu és o Cristo, o Filho do Deus
vivo” (Mateus 16.16).
41
textos como Jeremias 12.5, 49.19, 50.44. Não obstante, hodiernamente não há muito
o que apreciar, pois a região está absolutamente deteriorada e quase morta.
Não obstante toda essa beleza encontrada em suas campinas, o próprio rio é
formado por águas barrentas e perigosas, com mais de cem corredeiras, sendo cerca
de 27 grandes a e 80 pequenas. No que se refere às suas águas, devemos lembrar da
narrativa de II Reis 5, quando o leproso Naamã, comandante do exército da Síria, ao
ser orientado pelo profeta Eliseu a banhar-se nas águas do Jordão, desdenhou destas,
afirmando que sua terra haviam rios com águas muito melhores. Contudo, tais águas
não foram desprezadas pelo Filho de Deus, quando este veio ao Jordão para ser
batizado por João Batista (cf. Marcos 1.1-11). Entretanto, é preciso esclarecer que as
águas do Jordão, são como as águas de qualquer outro rio e não tem poderes místicos,
como acreditam algumas pessoas.
Segundo Enéas Tognini, “o Jordão lança no mar Morto 200 m³ de água por
segundo; 12.000 m³ por minuto; 720.000 m³ por hora; 17.280.000 cada 24 horas”.48
48
Cf. TOGNINI, Enéas. Op. Cit. 2009, pág. 92.
42
Em outras palavras, o estudo do Período Intertestamentário descortinará e dará
uma melhor compreensão a diversos eventos mencionados no Novo Testamento.
Com a morte de Davi, Salomão assumiu o trono e foi um grande rei por algum
tempo, até que seu coração se corrompe pela influência de suas muitas mulheres e
ele se torna idolatra. Como consequência, Deus promete tirar o reino de suas mãos,
porém, não em seus dias, mas nos de seu filho. Roboão filho de Salomão, assume o
reino e age de forma despótica. Suas decisões levam seu reino à ruina e a uma
consequente divisão, ficando com apenas duas tribos, uma vez que as outras dez,
segue a Jeroboão, filho de Nebate (I Reis 11-12).
Jeroboão e os reis que sucederam foram maus e idolatras, o que levou o Reino
do Norte (Israel) a cair sob o poder dos Assírios, sendo completamente extinto. E
agora, devido haverem se rebelado contra Deus, seguindo seus corações e
prostrando-se ante falsos deuses, os judeus, foram levados para o cativeiro babilônico.
43
com o fim de levar adiante os preceitos da Lei enquanto buscavam a restauração da
cultura e liberdade judaica, outrora perdidas.
Em meio ao silêncio Divino, o homem fez ouvir sua voz. Assim, durante o
período intertestamentário, surgem diversos escritos. Dentre os quais, alguns livros
que ficaram conhecidos como “livros apócrifos”. Estes foram, mais tarde, rejeitados
pelo protestantismo. Porém, uma pequena parte, foi incorporada ao cânon católico
romano e ortodoxo. Igualmente, nesse período surge uma espécie de literatura que
ganha certo prestígio entre os judeus e ficou conhecida como literatura apocalíptica.
O termo apócrifo significa: oculto. Assim, sugerem trazer à luz verdades que
estavam ocultas. Ao todo, somam um total de cerca de 250 livros. Os mais conhecidos
49
TOGNINI, Enéas. O período interbíblico.6ª Edição. São Paulo: Louvores do coração, 1987.
50
Ibidem.
44
são os que constam no cânon católico e no cânon ortodoxo: Tobias, Judite, Sabedoria
de Salomão, Eclesiástico, Baruc, Epístola de Jeremias, I e II Macabeus e acréscimos
feitos a Ester e a Daniel.
• Não constam no cânon hebraico, isto é, não fazem parte das Escrituras
que os judeus consideravam como inspiradas por Deus. Os católicos os
chamam de deuterocanônicos;
• Somente foram incluídos, oficialmente, no cânon católico em meados de
1500, não tendo sido usados pelos apóstolos como literatura inspirada;
• Foram escritos nos cerca de 400 anos de silêncio (período
intertestamentário.
Estas razões, por si, já são suficientes para os rejeitemos como Escrito Divino,
mas existe uma razão de peso, sobremodo elevado, que nos faz vê-los como meros
escritos humanos: são seus erros, contradições e histórias fantasiosas. Vejamos alguns
exemplos:
51
WESTMINSTER, Assembleia. A Confissão de fé de Westminster. 17ª Edição. São Paulo: Cultura Cristã, 2001.
52
Bíblia Católica Ave Maria
45
• Tobias 6.2-9 – Partiu, pois, Tobias em companhia do anjo, e o cão os
seguia. Caminharam juntos e aconteceu que, numa noite, acamparam à
margem do rio Tigre. Tobias desceu ao rio para lavar os pés, quando
saltou da água um grande peixe, que queria devorar-lhe o pé. Ele gritou
e o anjo lhe disse: Agarra o peixe e segura-o firme! Tobias dominou o
peixe e o arrastou para a terra. E o anjo acrescentou: Abre o peixe, tira-
lhe o fel, o coração e o fígado e guarda-os; joga fora os intestinos, pois o
fel, o coração e o fígado são remédios úteis. O jovem abriu o peixe, tirou-
lhe o fel, o coração e o fígado. Assou uma parte do peixe e comeu-a, e
salgou o resto. Depois continuaram juntos a caminhada, até chegarem
perto da Média. Então Tobias perguntou ao anjo: Azarias, meu irmão, que
remédio há no coração, no fígado e no fel do peixe? Respondeu ele: Se
se queima o coração ou o fígado do peixe diante de um homem ou de
uma mulher atormentados por um demônio ou por um espírito mau, a
fumaça afugenta todo o mal e o faz desaparecer para sempre. Quanto
ao fel, untando com ele os olhos de um homem que tem manchas
brancas, e soprando sobre as manchas, ele fica curado.53
53
Idem.
46
crença na ressurreição, porque, se ele não julgasse que os mortos
ressuscitariam, teria sido vão e supérfluo rezar por eles.54
É intrigante este erro no livro de Judite, pois Daniel deixa muito claro que
Nabucodonosor era rei da Babilônia (Daniel 1.1) e não apenas isto, historiadores
apontam a destruição de Nínive em 612 a.C., pelo pai de Nabucodonosor.
Se estes escritos foram inspirados, por que o escritor pede desculpas e chama
sua obra de medíocre? Veja o que diz Hebreus 4.12.
54
Idem
55
Idem.
56
Idem.
47
Os acréscimos feitos a Ester, falam de questões enigmáticas, como um suposto
sonho de Mordecai, onde Deus teria revelado à sua pessoa os acontecimentos
relacionados aos judeus.
• Daniel – no cânon que adotamos, Daniel termina no capitulo 12, mas nos
apócrifos eles vão até o capítulo 14.
No caso de Daniel, os acréscimos falam de uma defesa que Daniel teria feito de
uma suposta juíza de Israel, de nome Suzana. Porém, fala que Daniel era ainda
adolescente, mas no capitulo 12, ele já estava com uma idade bem avançada.
Não obstante as informações acima, devemos levar em conta que são livros de
grande valor histórico. Os livros escritos pelos Macabeus, por exemplo, falam de
guerras e outros fatos ocorridos no período interbíblico (400 anos de silêncio) e que
são atestados pela história.
Por outro lado, nos primeiros séculos da igreja cristã, surgiram alguns livros
reivindicando autoridade Divina, porém, não foram reconhecidos como possuidores
de tal autoridade. Alguns deles são:
Apocalipse de Tiago
48
A não aceitação destes se deu, especialmente, por trazerem consigo
contradições absurdas, além de vários conceitos provindos do gnosticismo. Vejamos
alguns exemplos:
Quando Jesus ouviu isto, ele riu e disse-lhe: você décimo terceiro espírito,
por que tenta tão esforçadamente? Mas fala, e eu serei tolerante contigo.
49
nos reuniu a todos e disse: "Antes que eu seja entregue a eles,
cantaremos um hino ao Pai e, em seguida, iremos ao encontro daquilo
que nos espera Ele pediu que nos déssemos as mãos em roda e
colocando-se no meio, disse: "Respondei-me Amém."
Antíoco Epifânio, domina com mão de ferro e procura a todo custo destruir a
cultura e a religiosidade dos judeus. Dessa forma, invade o Templo de Jerusalém e
50
sacrifica um porco no altar do Senhor, profanando-o e dessa maneira, cumprindo a
profecia de Daniel 9.27 e 11.31 (cf. Mateus 24.15). É neste contexto que surge a
literatura apocalíptica. Esta é caracterizada por visões, simbolismos, misticismo e
fábulas; havendo sido largamente utilizada pelos judeus no período intertestamentário.
Destarte, como afirmou Leandro Lima: “A literatura apocalíptica é um movimento
complexo, que abrange os escritos judaicos e cristãos compreendidos principalmente
entre os séculos III A.C e II D.C”.57
57
LIMA, Leandro Antonio de. Apocalipse como literatura: um estudo sobre a importância da análise da arte
literária em Apocalipse 12-13. Disponível em:
http://tede.mackenzie.br/jspui/bitstream/tede/2338/1/Leandro%20Antonio%20de%20Lima.pdf. Acesso em: 21
de outubro de 2020.
58
CHAMPLIN, Russell Norman. Novo Dicionário Bíblico Champlin. São Paulo: Hagnos, 2018.
51
Tal salto se daria rápida e prontamente, e a glória da vitória sobre as forças
malignas não tardaria a estabelecer-se.59
4.3.5.1 Sinagoga
Em qualquer lugarejo onde houvesse pelos menos dez homens adultos, havia
uma sinagoga. A sinagoga servia de escola comunitá-ria, lugar de concílios
59
Ibidem.
52
locais religiosos e políticos, e como igreja ou centro de adoração. Os seus
líderes eram os anciãos. O líder principal era o chefe, que dirigia a adoração.60
As sinagogas serviram como modelo para o que mais tarde viria a ser o local
de culto cristão, bem como a forma como eram organizados os rituais religiosos
também serviram de inspiração para o cristianismo nascente. “O culto, provavelmente,
terminava com alguns cânticos por parte de toda a congregação”.61 Mas, o que chama
a atenção é o fato de que o elemento central do culto que acontecia nas sinagogas era
a leitura e interpretação da Palavra de Deus. Jesus deu um bom exemplo disso, pois
frequentemente as expunha (cf. Lucas 4.14-22). A igreja primitiva seguiu firmemente
esse padrão. Por outro lado, a organização da liderança local desta instituição, deve
igualmente, ter servido de exemplo para os cristãos primevos.
4.3.5.2 Sinédrio
60
Cf. CHAMPLIN, Russell Norman. Vol. 06. Op. Cit. 2013, pág. 220.
61
Cf. CHAMPLIN, Russell Norman. Op. Cit. 2018, pág. 1649.
62
Ibidem.
63
Cf. TENNEY, Merrill C. et al. Op. Cit. 2008, Vol. 05, pág. 660.
53
povo judeu, mas também de aspectos cíveis, relacionadas a estes; julgando desde
pequenos delitos a crimes capitais. Não obstante, para que pudessem impor a pena
de morte sobre alguém, deveriam obter autorização da autoridade romana, via de
regra, do próprio governador da província. Eis a razão por que não executaram a Jesus
Cristo imediatamente, entregando-o a Pôncio Pilatos (cf. Mateus 27.1-2). “O Sinédrio,
assim como outros tribunais locais, de acordo com a Mishnah, quase certamente era
proibido de reunir-se no sábado ou em dias de festas”.64 Ou seja, sua reunião para
deliberar sobre a suposta culpa de Jesus foi absolutamente ilegal e imoral, conforme
comenta Hernandes Dias Lopes:
Suas leis não permitiam a um prisioneiro ser interrogado pelo Sinédrio à noite.
No dia anterior ao sábado ou de uma festa, todas as sessões estavam
proibidas. Nenhuma pessoa podia ser condenada a não ser por meio do
testemunho de duas testemunhas, mas eles contrataram testemunhas falsas.
O anúncio de uma pena de morte só podia ser feito um dia depois do
processo. Nenhuma condenação podia ser executada no mesmo dia, mas
eles sentenciaram Jesus à morte durante a noite, e logo cedo o levaram a
Pilatos para que este lavrasse sua pena de morte. A reunião acusatória do
Sinédrio, portanto, foi ilegal, uma vez que ocorreu à noite, e o método usado
também foi ilegal, visto que eles ouviram apenas testemunhas contra Jesus,
e ainda testemunhas falsas.65
64
Ibidem.
65
LOPES, Hernandes Dias. Mateus – Jesus, o Rei dos reis. São Paulo: Hagnos, 2019.
54
grupo organizado preocupado não somente com questões judiciais, mas
tendo a responsabilidade mais plena de atuar como o corpo governante de
toda a Palestina. Era a prática dos reis helénicos conceder um grande nível
de liberdade às nações subordinadas, no governo de seus negócios internos.
Esta parece ter sido a realidade da nação judaica sob os ptolomeus e
selêucidas.66
4.3.5.3 Escribas
66
Cf. TENNEY, Merrill C. et al. Op. Cit. 2008, Vol. 05, pág. 660.
67
DOUGLAS, J. D. O Novo Dicionário da Bíblia. 3ª Edição. São Paulo: Vida Nova, 2006.
68
Cf. TENNEY, Merrill C. et al. Op. Cit. 2008, Vol. 02, pág. 466.
55
O que fica evidente é que, o escriba já estava envolvido com os assuntos
templários, isto é, com os interesses relativos ao Templo do Senhor, antes do período
intertestamentário. Entretanto é nesse período que este personagem passa a ter um
papel de destaque na vida religiosa do povo de Deus. Pois, a partir do período
denominado de pós-exílico, o qual precede o período intertestamentário, os escribas
passam a desempenhar um novo papel: o de intérpretes da Lei de Deus. Neste quesito,
destaca-se o sacerdote Esdras, o qual era também, um escriba (cf. Esdras 7.10-12;
Neemias 8.1-8). É ainda no período intertestamentário, que os escribas ganham
proeminência, figurando também, como líderes políticos. No Novo Testamento, são
chamados de doutores e mestres (cf. Lucas 2.49; Mateus 23.1-7), sendo membros do
Sinédrio, atuando consequentemente, como juízes do povo (cf. Marcos 14.53-56;
Lucas 22.66). Muitos faziam parte da seita dos fariseus ou dos saduceus, legitimando
assim, suas interpretações da Lei.
4.3.5.4 Fariseus
É possível que os hasidim tenham se dividido. Sendo que uma parte optou por
fazer enérgica e categórica oposição sumo sacerdócio imposto pelos selêucidas e,
posteriormente, por Herodes, o Grande, e acabaram sendo chamados de separados.
Estes levantaram-se no seio da comunidade de judaica, como os grandes e poderosos
69
Cf. TOGNINI, Enéas. Op. Cit. 1987, págs. 131-132.
56
guardiões da Lei de Moisés. Formaram uma frente de resistência ao helenismo pagão
e idólatra de seu tempo. Nesse grupo, encontravam-se os escribas. Eles “evoluíram
até chegar ao fariseu tradicionalista e exclusivista do Novo Testamento”. 70
4.3.5.5 Saduceus
A opinião dos saduceus é que as almas morrem com os corpos e que a única
coisa que somos obrigados a fazer é observar a lei, sendo um ato de virtude
não tentar exceder em sabedoria os que a ensinam. Os adeptos dessa seita
são em pequeno número, mas ela é composta de pessoas da mais alta
condição.71
70
Ibidem.
71
JOSEFO, Flávio. História dos Hebreus. 8ª Edição. Rio de Janeiro: CPAD, 2004.
57
De modo que os saduceus eram, por assim dizer, os defensores do liberalismo
teológico de sua época. Outrossim, de forma geral, o Novo Testamento se reporta de
forma negativa à seita dos saduceus (cf. Mateus 3.7, 16.1,6; Marcos 12.18; Atos 15.17).
De forma geral, eram opositores dos fariseus, tanto em termos políticos, quanto
religiosos. Negavam os escritos dos profetas e a Mishnah (Lei oral) adotada pelos
fariseus. Neste sentido, Josefo observa que “os saduceus, porém, as rejeitavam,
porque elas não estão compreendidas entre as leis dadas por Moisés, que estes
afirmam serem as únicas que são obrigados a observar”.72 Não obstante, sendo
também membros do Sinédrio, uniram-se aos fariseus em sua oposição a Jesus (cf.
Marcos 12.18; Mateus 16.1-12). Igualmente, formaram uma frente de oposição aos
apóstolos (cf. Atos 4.1-3, 5.17-18, 23.1-10).
4.3.5.6 Zelotes
As Escrituras não dão grande ênfase aos zelotes; ao contrário do que ocorre,
com fariseus, saduceus e escribas. As únicas passagens que citam este personagem,
o fazem apenas de relance, apontando para um dos discípulos de Jesus, denominado
de Simão, o zelote (cf. Mateus 10.4; Marcos 3.18; Lucas 6.15; Atos 1.13).
Embora, como partido político tenham se organizado por volta do ano VI d.C.,
suas origens remontam, à guerra dos macabeus, onde Matatias em seu zelo para com
72
Idem.
58
Deus e a Lei, se negou a oferecer um sacrifício pagão, matando um emissário do rei e
um sacerdote apóstata que havia concordado com a ordem real.
Ao se referir a este grupo, Josefo afirma que tal nome, era uma autodesignação,
“como se tivessem no coração o zelo pela glória de Deus, quando viviam sempre
sedentos de sangue e suas mãos, prontas a cometer os maiores crimes”. 74
4.3.5.7 Publicanos
73
Cf. CHAMPLIN, Russell Norman. Op. Cit. 2018, pág. 806.
74
Cf. JOSEFO, Flávio. Op. Cit. 2004, pág. 1264.
59
impostos devidos ao império, extorquiam o povo cobrando muito além do estabelecido
em lei, razão pela qual, alguns ao buscarem ser batizados por João, foram exortados
a cobrar apenas o que era justo (cf. Lucas 3.12-13). Isso acontecia por que os romanos
permitiam tal prática. Para Roma, o que importava era receber sua “cota”, o que disto
passava, consideravam como uma espécie de comissão a ser paga aos cobradores de
impostos, os publicanos. O ódio desenvolvido pelos judeus a esta classe de pessoas,
era tanto que Merrill Tenney, chega a afirmar que os “cobradores de impostos ou
publicanos eram considerados as pessoas mais baixas entre os judeus, junto com
ladrões e prostitutas”.75 Ao falar a respeito destes, Champlin enumera quatro razões
pelas quais, os publicanos eram odiados:
Todavia, a história mais conhecida e que talvez, mais chame a atenção no Novo
Testamento acerca de um publicano, seja a de Zaqueu. Um cobrador de impostos que
ao encontrar-se com Jesus tem sua vida transformada e decide restituir quatro vezes
mais do que havia roubado de seus concidadãos (cf. Lucas 19.1-10).
75
Cf. TENNEY, Merrill C. et al. Op. Cit. 2008, Vol. 04, pág. 144.
76
Cf. CHAMPLIN, Russell Norman. Op. Cit. 2018, pág. 468.
77
Cf. TENNEY, Merrill C. et al. Op. Cit. 2008, Vol. 04, pág. 103.
60
4.3.5.8 Herodianos
Outro grupo sobre o qual pouco se fala é o dos herodianos, havendo apenas
três pesagens nas quais são citados (cf. Mateus 22.16; Marcos 3.6, 12.13). Seu nome
fala por si, pois eram partidários de Herodes, o Grande.
Não podemos afirmar com absoluta segurança a que classe ou a que categoria
social, os herodianos pertenciam, contudo, sabemos que, no aspecto religioso,
simpatizavam com os saduceus em suas crenças. Entretanto, não pertenciam a esta
seita, conforme pode ser inferido das palavras de Tenney: “Eles podem ter tido
inclinações saduçaicas, mas os evangelhos nunca sugerem que os herodianos devam
ser igualados aos saduceus”.79 Destarte, ao alertar seus discípulos sobre a hipocrisia
dos fariseus, Jesus incluiu os herodianos (cf. Marcos 8.15). Tenney observa ainda, que
“os herodianos, politicamente cuidadosos, estariam interessados, juntamente com os
fariseus eclesiásticos, em preservar o status quo”.80
78
Cf. TENNEY, Merrill C. et al. Op. Cit. 2008, Vol. 03, pág. 107.
79
Ibidem.
80
Ibidem.
61
apoiavam os publicanos, como a de Judas Galileu e Judas, o Gaulonita. Todo
o ódio que os judeus votavam ao feroz Herodes, eles canalizaram depois
contra os herodianos.81
4.3.5.9 Samaritanos
Por volta do ano 722 a.C. o Reino do Norte (Israel) foi invadido e dominado pelos
Assírios. Estes, como de costume, numa ação estratégica, dispersavam os povos
conquistados, distribuindo-os entre as mais diversas nações de seu império. Dessa
forma, mediante, a miscigenação cultural e religiosa, destruíam as crenças e
esperanças politicas daqueles que haviam sido conquistados. É nesse contexto que a
cidade de Samaria, que ficava nos limites de Manassés, que ia desde as margens do
Rio Jordão até as margens do Mar Mediterrâneo, surge. As circunstancias em que tudo
aconteceu são apresentadas, ainda que sucintamente, em II Reis 17.1-18. Devemos,
contudo, considerar o fato de que todas estas coisas aconteceram sob a soberana
providência de Deus (cf. I Reis 14.15-16; II Reis 17.19-34).
81
Cf. TOGNINI, Enéas. Op. Cit. 1987, pág. 140.
62
que era uma perda política em vez de uma perda religiosa. Siquém, e não
Samaria, sempre foi e continuaria a ser sua cidade santa. Eles modificaram a
história da praga dos leões (2Rs 17.24-33) adicionando que o rei assírio
também os permitiu reinstituir sua adoração no Monte Gerizim.82
82
Cf. TENNEY, Merrill C. et al. Op. Cit. 2008, Vol. 05, pág. 424.
83
Idem.
63
qualquer outra coisa, devemos olhar para todos estes acontecimentos, como um
tempo de preparação para a chegada do Messias prometido, Jesus Cristo. De modo
que devemos considerar o fato de que todos os acontecimentos do Período
Intertestamentário, estavam sob o controle soberano do Deus Todo-Poderoso, que
mediante, tais eventos cumpriu seus santos desígnios, os quais são claramente
expressos nas Sagradas Escrituras (cf. Gálatas 1.1-5, 4.1-7; Efésios 1.3-14). Neste
sentido, dois povos se destacam: os gregos e os romanos.
4.3.6.1 Gregos
84
Cf. CHAMPLIN, Russell Norman. Op. Cit. 2018, pág. 775.
64
Se por um lado, os gregos influenciaram os povos no que se refere ao
conhecimento filosófico-cultural, por outro, foram influenciados por estes em sua
religiosidade. Até por que, dois de seus grandes filósofos, caminharam de mãos dadas
com o monoteísmo judeu.
4.3.6.2 Romanos
Por outro lado, a administração romana era incomparável. Era realizada, através
de seus tributários, juízes, reis e governadores, estabelecidos em cada província e
povoado. Enéas Tognini, ressalta que “a metrópole procurava melhorar os meios de
transportes e comunicação, a fim de estar em contato com as cidades de seu império.
Por todos os lugares, estavam os publicanos, os arrecadadores de impostos”.86
85
TOGNINI, Enéas. O Período Interbíblico – 400 anos de silêncio profético. São Paulo: Hagnos, 2009.
86
Idem.
65
Destarte, através da construção e melhoria das estradas, os romanos facilitaram o
transporte de mercadorias; beneficiando, dessa forma, o comércio entre os mais
diversos povos do império, bem como a comunicação entre os mesmos.
87
Idem.
66
CONCLUSÃO
Também, nos são dadas, mediante o estudo destas ciências, ferramentas para
melhor defendermos nossa fé, diante dos constantes ataques que ela sofre, seja por
meio dos céticos ateus, seja por parte dos liberais de nossa época.
67