Comunicado Da Justiça Eleitoral para o TJSE
Comunicado Da Justiça Eleitoral para o TJSE
Comunicado Da Justiça Eleitoral para o TJSE
Carira
Vistos etc.
I – DO RELATÓRIO:
O Requerente, por meio de seu Presentante, alegou, em sua Petição Inicial, que no curso do Inquérito
Civil iniciado, em 2012, acostado aos autos, tomou conhecimento de que o Requerido, já no ano de 2015,
quando exercia a Chefia do Executivo Municipal de Carira-SE, vinha cometendo diversas irregularidades,
dentre elas, destacou as que ensejariam ato de improbidade administrativa, quais sejam: a) folha de
pagamento dos profissionais efetivos do magistério público em desacordo com as nomenclaturas previstas
no art. 32, da Resolução nº 243, do TCE; b) pagamento de gratificações e remunerações indevidas com
recursos do FUNDEB, totalizando pagamento ilegal de R$ 34.459,06 (trinta e quatro mil, quatrocentos e
cinquenta e nove Reais e seis centavos); c) pagamento de gratificações e remunerações indevidas com
recursos do MDE, totalizando o montante de R$ 33.268,02 (trinta e três mil, duzentos e sessenta e oito
Reais e dois centavos), com pagamentos ilegais; d) existência de Escola Estadual com número excessivo
de Coordenadores (Escola Municipal Aroaldo Chagas – 6(seis) Coordenadores); e) utilização de recursos
em desacordo com o art. 70, da Lei de Diretrizes da Educação Básica - LDB.
Pediu, por fim, a procedência dos pedidos para condenar o Requerido nas sanções do art. 12, incisos II e
III da Lei nº. 8.429/1992.
O Requerido foi notificado para se manifestar (pág. 658), pronunciando-se, às págs. 661/673.
Devidamente citado, o Requerido ofereceu Contestação (págs. 685/703), na qual alegou, preliminarmente,
Ilegitimidade Passiva ad causam, em razão de os fatos apurados terem ocorrido na gestão anterior e a
inaplicabilidade da Lei nº. 8.429/92 aos agentes políticos. No mérito, alegou ausência de dolo nas
condutas descritas na Inicial, não causando prejuízo ao erário. Ao final, requereu a improcedência do
pedido, deixando de anexar documentos.
Realizada a instrução, foram colhidos os depoimentos de Josefa Soemia Menezes, Jailton Martins de
Almeida, Sérgio Ricardo Vieira Rocha, Nadja Milena Santana e Edineude Nascimento, conforme
gravação audiovisual disponibilizada no SCP-V, vide termos de audiência, de págs. 717, 723/724, 1.090 e
1.114.
II – DA FUNDAMENTAÇÃO.
Cuidam, os presentes autos, de Ação Civil Pública na qual o Ministério Público do Estado de Sergipe
atribui a Diogo Menezes Machado, ocupante do cargo de Prefeito do Município de Carira - SE, no
período apurado, atos de improbidade administrativa, concernentes à aplicação indevida de verbas do
FUNDEB e do MDE, objetivando, a final, a aplicação das sanções previstas no art. 12, da Lei n°
8.429/92.
O cerne da questão gira em torno da ocorrência de atos de improbidade administrativa que teriam sido
praticados pelo Requerido, à época dos fatos, enquanto Prefeito de Carira - SE, alegando, o Ministério
Público Estadual, atos que teriam o condão de caracterizar a improbidade administrativa, quais sejam a)
folha de pagamento dos profissionais efetivos do magistério público em desacordo às nomenclaturas
previstas no art. 32, da Resolução nº 243 do TCE; b)pagamento de gratificações e remunerações indevidas
com recursos do FUNDEB, totalizando pagamento ilegal de R$ 34.459,06 (trinta e quatro mil,
quatrocentos e cinquenta e nove Reais e seis centavos); c) pagamento de gratificações e remunerações
indevidas com recursos do MDE, totalizando o montante de R$ 33.268,02 (trinta e três mil, duzentos e
sessenta e oito Reais e dois centavos) com pagamentos ilegais; d) existência de Escola Estadual com
número excessivo de Coordenadores (Escola Municipal Aroaldo Chagas – 6(seis) Coordenadores); e)
utilização de recursos em desacordo com o art. 70, da LDB.
Resta verificar se tais condutas se enquadram como atos de improbidade administrativa, sujeitas à
penalidade prevista na Lei nº 8.429/1992.
A palavra probidade, originária do latim "probitas", do radical "probus", cujo significado é crescer
retilíneo, era aplicada às plantas. Usada posteriormente, em sentido moral, deu origem a provo, reprovo,
aprovo e outros cognatos. Significa tal vocábulo, então, a atitude de respeito total aos bens e direitos
alheios e constitui ponto essencial para a integridade do caráter.
O homem probo, como define Fernando Bastos de Ávila, na sua Pequena Enciclopédia de Moral e
Civismo, "é firme nas promessas que faz, é sincero com os outros, incapaz de se aproveitar da ignorância
ou fraqueza alheia. No campo administrativo ou em sentido profissional, traduz a ideia de honestidade e
competência no exercício de uma função social".
A moralidade dentro da Administração Pública complementa a legalidade. Ela permite a distinção entre o
que é honesto e o que é desonesto. Todos os atos do bom administrador visam ao interesse público; logo,
o comportamento impessoal não atende aos interesses pessoais ou de terceiros. As medidas casuísticas são
evitadas. Uma vez atendidos os interesses da coletividade, todos serão beneficiados equitativamente,
cumprindo-se os velhos preceitos de Ulpiano: “honeste vivere, alterum non laedere, suum cuique
tribuere”- que carregam, em si, conteúdo moral e jurídico.
Da conduta inversa do que acima foi dito, tem-se a improbidade administrativa, cujo sujeito ativo será,
portanto, aquele que estiver investido de função pública, seja qual for a forma que a ela tiver sido
guindado e a condição da qual se revista (em caráter temporário ou efetivo), que importe no
gerenciamento, na destinação ou aplicação dos valores, bens e serviços, tendo como inafastável
finalidade, o público.
Nos dizeres de Pazzaglini Filho(1998), entende-se por improbidade administrativa “o designativo técnico
para a chamada corrupção administrativa, que,sob diversas formas, promove o desvirtuamento da
Administração Pública e afronta os princípios nucleares da Ordem Jurídica (Estado de Direito,
Republicano e Democrático), revelando-se pela obtenção de vantagens patrimoniais indevidas às
expensas do erário, pelo exercício nocivo das funções e empregos públicos, pelo tráfico de influência nas
esferas da Administração Pública e pelo favorecimento de poucos em detrimento dos interesses da
sociedade, mediante concessão de obséquios e privilégios ilícitos".
A mens legislatoris constitucional foi a de precipuamente evitar este tipo de comportamento, razão por
que o legislador constituinte fez constar do art. 37, da Constituição Federal, que “a administração pública
direta, indireta ou fundacional, de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos
Municípios obedecerá aos princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e
eficiência”.
Assim, não agindo o administrador público em consonância com os princípios encartados na Constituição
Federal, incorrerá em conduta tipificadora de improbidade administrativa, e esta, consoante estabelecem
os artigos 9°, 10 e 11 da Lei nº 8.429/92 (Lei de Improbidade Administrativa), que preveem três
modalidades de atos ímprobos: a) atos que importem em enriquecimento ilícito (artigo 9º); b) atos que
causem prejuízo ao erário (artigo 10); c) atos que atentem contra princípios da administração (artigo 11).
Art. 10. Constitui ato de improbidade administrativa que causa lesão ao erário qualquer ação ou omissão,
dolosa ou culposa, que enseje perda patrimonial, desvio, apropriação, malbaratamento ou dilapidação dos
bens ou haveres das entidades referidas no art. 1º desta lei, e notadamente:
(…) Omissis;
Já o art. 11, da referida lei, traz que “Constitui ato de improbidade administrativa que atenta contra os
princípios da administração pública qualquer ação ou omissão que viole os deveres de honestidade,
imparcialidade, legalidade e lealdade às instituições”. Nesta hipótese, exige-se somente a vulneração dos
princípios administrativos, sendo dispensável a ocorrência do enriquecimento ilícito e do dano ao erário,
ou seja, basta que o agente tenha uma conduta violadora dos aludidos princípios.
O Requerido, embora tenha reconhecido o ato ilegal, afirmou que não teria ocorrido dano ao erário, o que
descaracterizaria, segundo a sua óptica, o ato de improbidade.
Ocorre que, diante da realização de despesas indevidas, das verbas já mencionadas, o dano ao erário
mostra-se configurado, mesmo que a exata quantificação da lesão financeira sofrida somente possa ser
demonstrada após a liquidação.
Ademais, entendo que o Requerido agiu com culpa, sendo negligente, deixando de atuar com o cuidado
necessário à execução dos atos administrativos, com o fito de evitar a violação às condutas
administrativas estritamente vinculadas.
Desta feita, o Requerido, ao realizar despesas indevidas com recursos do FUNDEB e MDE, acabou por
direcionar recursos financeiros para o custeio de despesas outras que não aquelas voltadas à
democratização, expansão e melhoria da qualidade de ensino.
Ademais, desviou a finalidade da aplicação das verbas vinculadas à Educação, incidindo no art. 11, inciso
I da Lei de Improbidade Administrativa.
Não restam dúvidas acerca da conduta ilegal do Requerido, visto que as despesas indevidas constantes
mostram a tamanha relutância em obedecer às regras da LDB, ultrapassando as barreiras da mera
irregularidade, devendo o seu comportamento ser qualificado como materialmente ímprobo.
Destarte, diante da prova produzida, aliás, fato público e notório acerca da má administração dos recursos
destinados à educação, fragilizando ainda mais a débil estrutura da rede municipal de ensino, imperioso se
faz o reconhecimento dos pedidos formulados na peça vestibular.
Assim, restou patente que o Requerido, no ano de 2015, promoveu as irregularidades apontadas,
permitindo inferir que, de fato, ocorreu a violação ao princípio da legalidade, subsumindo-se ao
descrito no art. 11, caput, incisos I e II da Lei nº 8.429/92, in verbis:
Art. 11. Constitui ato de improbidade administrativa que atenta contra os princípios da administração
pública qualquer ação ou omissão que viole os deveres de honestidade, imparcialidade, legalidade, e
lealdade às instituições, e notadamente:
I - praticar ato visando fim proibido em lei ou regulamento ou diverso daquele previsto, na regra de
competência;
A Lei Federal nº 8.429/92 estabeleceu que a punição dos atos de improbidade administrativa deverá
ocorrer de acordo com as sanções previstas no art. 12, o qual prevê que cada modalidade de ato de
desonestidade tem espécies e gradação de sanções diferentes. As modalidades são praticamente as
mesmas, variando, porém, algumas em função do tempo ou de valores.
O primeiro aspecto a ser levado em consideração, quanto à aplicabilidade, é o da escala de gravidade, isso
porque as sanções do art. 9º são mais severas que as do art. 10, e este, por sua vez, fixa sanções mais
severas do que as do art. 11.
Tratando-se das sanções previstas para violação do art. 10, tem-se a seguinte previsão, in verbis:
Art. 12. Independentemente das sanções penais, civis e administrativas previstas na legislação específica,
está o responsável pelo ato de improbidade sujeito às seguintes cominações, que podem ser aplicadas
isolada ou cumulativamente, de acordo com a gravidade do fato:
(…) Omissis;
II - na hipótese do art. 10, ressarcimento integral do dano, perda dos bens ou valores acrescidos
ilicitamente ao patrimônio, se concorrer esta circunstância, perda da função pública, suspensão dos
direitos políticos de cinco a oito anos, pagamento de multa civil de até duas vezes o valor do dano e
proibição de contratar com o Poder Público ou receber benefícios ou incentivos fiscais ou creditícios,
direta ou indiretamente, ainda que por intermédio de pessoa jurídica da qual seja sócio majoritário, pelo
prazo de cinco anos.
Assim, em face da expressa e clara disposição de lei, constatada a improbidade administrativa pelo
prejuízo ao erário é de rigor a imposição das citadas sanções ao réu, resguardando-se legalidade,
impessoalidade e moralidade administrativas e os interesses de toda sociedade.
O Ministério Público Estadual, em sua Petição Inicial, alegou que o Requerido teria se utilizado
indevidamente de verbas do FUNDEB e MDE, no período de sua gestão administrativa à frente do Poder
Executivo do Município de Carira - SE, em desacordo com o disposto em lei.
Os arts. 22 e 23, da Lei nº. 11.494/2007, assim disciplinam a aplicação dos recursos financeiros, ipsis
litteris:
Art. 21. Os recursos dos Fundos, inclusive aqueles oriundos de complementação da União, serão utilizad
os pelos Estados, pelo Distrito Federal e pelos Municípios, no exercício financeiro em que lhes forem
creditados, em ações consideradas como de manutenção e desenvolvimento do ensino para a educação
básica pública, conforme disposto no art. 70 da Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996.
§ 1º Os recursos poderão ser aplicados pelos Estados e Municípios indistintamente entre etapas,
modalidades e tipos de estabelecimento de ensino da educação básica nos seus respectivos âmbitos de
atuação prioritária, conforme estabelecido nos §§ 2º e 3º do art. 211 da Constituição Federal.
§ 2º Até 5% (cinco por cento) dos recursos recebidos à conta dos Fundos, inclusive relativos à
complementação da União recebidos nos termos do § 1o do art. 6o desta Lei, poderão ser utilizados no 1º
(primeiro) trimestre do exercício imediatamente subseqüente, mediante abertura de crédito adicional.
Art. 22. Pelo menos 60% (sessenta por cento) dos recursos anuais totais dos Fundos serão destinados ao
pagamento da remuneração dos profissionais do magistério da educação básica em efetivo exercício na
rede pública.
Parágrafo único. Para os fins do disposto no caput deste artigo, considera-se:
III - efetivo exercício: atuação efetiva no desempenho das atividades de magistério previstas no inciso II
deste parágrafo associada à sua regular vinculação contratual, temporária ou estatutária, com o ente
governamental que o remunera, não sendo descaracterizado por eventuais afastamentos temporários
previstos em lei, com ônus para o empregador, que não impliquem rompimento da relação jurídica
existente.
Já os arts. 70 e 71, da Lei nº. 9.394/1996 (Lei de Diretrizes da Educação Básica – LDB), assim
normatizam:
VII – amortizacao e custeio de operacoes de credito destinadas a atender ao disposto nos incisos deste
artigo;
Art. 71.Nao constituirao despesas de manutencao e desenvolvimento do en- sino aquelas realizadas com:
I – pesquisa, quando nao vinculada as instituicoes de ensino, ou, quando efetivada fora dos sistemas de
ensino, que nao vise, precipuamente, ao aprimora- mento de sua qualidade ou a sua expansao;
III – formacao de quadros especiais para a administracao publica, sejam militares ou civis, inclusive
diplomaticos;
V – obras de infra-estrutura, ainda que realizadas para beneficiar direta ou indiretamente a rede escolar;
VI – pessoal docente e demais trabalhadores da educacao, quando em desvio de funcao ou em atividade
alheia a manutencao e desenvolvimento do ensino”.
Analisando as normas acima destacadas, verifico que há a previsão de que pelo menos 60% (sessenta por
cento), dos recurso anuais relativos ao FUNDEB sejam utilizados ao pagamento da remuneração dos
profissionais do magistério da educação básica, sendo que considera-se vedada a utilização dos recursos
do fundo no financiamento das despesas não consideradas como de manutenção e desenvolvimento da
educação básica, não se considerando como como tais as despesas realizadas com os trabalhadores da
educação, quando em desvio de função ou em atividade alheia à manutenção e desenvolvimento do
ensino.
Como demonstrado pelo MP, às páginas 504/562, pode-se observar a que a exigência legal não é
atendida, eis que os dados apontados na mencionada Resolução, como CPF, cargo e função, regime de
trabalho, data de ingresso, jornada de trabalho, nível, classe e lotação por unidade escolar, não são
atendidos, deixando, pois, de facilitar a fiscalização de aplicação dos recursos do FUNDEB.
- Pagamento de gratificação por serviço extraordinário com recursos do FUNDEB em desacordo com o
Plano de Carreira do Magistério de Carira ou indevidamente a servidores que deles não fazem jus, vide
documentos de págs. 748/751, no qual o próprio município reconhece as irregularidades e assume a
adoção de providências a fim de saná-las, Folhas de pagamento de págs. 1051/1087, corroborados pelo
depoimento da Testemunha Edineude Nascimento.
- Em relação aos pagamentos de salários a professores com recursos do FUNDEB que não exercem mais
o magistério, vide o depoimento da testemunha Salu de Almeida.
- Já quanto aos professores em desvio de função, recebendo com recursos do FUNDEB, conforme
apontado à pág. 751, houve a confissão do Município. Inclusive, há de se destacar o exemplo concreto da
Professora Josefa Soênia, a qual admitiu estar em desvio de função, mas continuava a receber regência de
classe, vide documento de pág. 548.
- Por fim, no que pertine aos professores recebendo gratificações de difícil acesso, sem cumprir os
requisitos estabelecidos, o Município contestou apenas a condição de uma única servidora elencada,
aduzindo que tomaria as providências somente quanto às pessoas apontadas pelo SINTESE. Vide pág.
751.
Por meio dos mencionados documentos prova testemunhal ainda podem ser apontadas as seguintes
anomalias.
As normas já expostas não preveem a possibilidade de pagamento de remuneração dos servidores listados
na Inicial, mediante a utilização de recursos financeiros oriundos do FUNDEB, pois o art. 21, da Lei nº
11.494/2007 c/c art. 70, da Lei nº 9.394/1996, autoriza a utilização dos recursos do FUNDEB para a
remuneracao e aperfeicoamento do pessoal docente e demais profissionais da educacao, o que vem a
excluir, de imediato, os servidores que não exercem, de fato, o magistério.
Assim, diante do acima analisado, percebo que houve a configuração de ato de improbidade, levando em
consideração o já descrito sobre tais tipos de ato, enquadrando-se no disposto nos arts. 10, IX e XI, e 11,
da Lei nº. 8.429/1992, pois o Requerido promoveu, de forma culposa, por ser negligente quanto à
destinação das verbas públicas, desvio de tais verbas, de forma não autorizada por lei, liberando-a, ainda,
sem a estrita observância das normas pertinentes, aplicando os recursos de forma irregular, atentando
contra o princípio da legalidade, ao praticar ato objetivando fim proibido em lei.
Às condutas ímprobas, ora analisadas, devem ser aplicadas as penalidades previstas no art. 12, II e III da
Lei nº. 8.429/92, que assim traz:
Art. 12. Independentemente das sanções penais, civis e administrativas previstas na legislação específica,
está o responsável pelo ato de improbidade sujeito às seguintes cominações, que podem ser aplicadas
isolada ou cumulativamente, de acordo com a gravidade do fato:
(…) Omissis;
II - na hipótese do art. 10, ressarcimento integral do dano, perda dos bens ou valores acrescidos
ilicitamente ao patrimônio, se concorrer esta circunstância, perda da função pública, suspensão dos
direitos políticos de cinco a oito anos, pagamento de multa civil de até duas vezes o valor do dano e
proibição de contratar com o Poder Público ou receber benefícios ou incentivos fiscais ou creditícios,
direta ou indiretamente, ainda que por intermédio de pessoa jurídica da qual seja sócio majoritário, pelo
prazo de cinco anos;
III - na hipótese do art. 11, ressarcimento integral do dano, se houver, perda da função pública, suspensão
dos direitos políticos de três a cinco anos, pagamento de multa civil de até cem vezes o valor da
remuneração percebida pelo agente e proibição de contratar com o Poder Público ou receber benefícios ou
incentivos fiscais ou creditícios, direta ou indiretamente, ainda que por intermédio de pessoa jurídica da
qual seja sócio majoritário, pelo prazo de três anos.
Parágrafo único. Na fixação das penas previstas nesta lei o juiz levará em conta a extensão do dano
causado, assim como o proveito patrimonial obtido pelo agente.
No caso em análise, em que pese a verificação do ato de improbidade, bem como do desvio de valores do
FUNDEB e MDE para pagamento de profissionais não enquadrados pela lei que disciplina tais fundos,
entendo que houve, não só a configuração de dano ao erário, mas a violação aos princípios inerentes à
Administração Pública.
III – DO DISPOSITIVO.
ISSO POSTO, diante de tais fundamentos e das evidências trazidas aos autos pelos documentos
acostados com a Inicial, JULGO PROCEDENTE o pedido autoral e reconheço, na forma do pedido, que
o Réu praticou os atos de improbidade administrativa, definidos como tal no art. 10, IX, e art. 11, ambos
da Lei nº 8.429/92, e CONDENO o nacional DIOGO MENEZES MACHADO, já qualificado nos
autos, nas sanções previstas no art. 12, incisos II e III, da referida norma legal, a seguir descritos:
II) Proibição de contratar com o Poder Público, por igual período do item anterior;
III) Proibição de receber benefícios ou incentivos fiscais ou creditícios direta ou indiretamente, ainda que
por intermédio de pessoa jurídica da qual seja sócio, pelo prazo de 5 (cinco) anos;
IV) Condeno o Requerido a ressarcir o Município de Carira-SE pelos prejuízos sofridos, no valor
referente à 10% (dez por cento) do valor total da aplicação irregular das verbas vinculadas, durante o
período de sua gestão, como apontados na Inicial, com a incidência da correção monetária, com base na
variação do IPCA-E, e dos juros de mora de 1% (um por cento) ao mês, ambos os consectários a partir da
data de cada evento danoso;
V) Condeno o Requerido a pagar a multa civil em favor do Município de Carira – SE, no percentual de 10
% (dez por cento) do valor total do prejuízo causado ao erário, a ser apurado em liquidação de sentença,
incidindo a correção monetária, com base na variação do IPCA-E, e dos juros de mora de 1% (um por
cento) ao mês, ambos os consectários a partir da publicação deste decisum.
Deixo de condenar o Requerido ao pagamento de honorários sucumbenciais, tendo em vista que a Ação
Civil Pública constitui função institucionalizada do Ministério Público.