Direito Das Sociedades Comerciais - Apontamentos
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Rita Ribeiro de Campos
O art.1º, CSC, fala de tipos societários, como tipo refere-se ao princípio da tipicidade, sendo
apenas comerciais as sociedades tipificadas na lei das sociedades comerciais. Cada uma dessas
sociedades está prevista nos artigos 175º, 197º, 271º e 465º, CSC.
Responsabilidade dos sócios:
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Capital social é, em geral, uma cifra representativa da soma dos valores nominais das
participações sociais fundadas em entradas em dinheiro e/ou em espécie.
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Não são referidas neste artigo, mas existem situações que devem também ser mencionadas
nos estatutos, como é o caso das vantagens especiais concedidas a sócios conexionadas com a
constituição da sociedade e as despesas de constituição que a sociedade deve pagar a sócios ou a
terceiros (art.16º, CSC).
Apesar das referidas anteriormente, são também obrigatórias as menções específicas para
cada tipo societário, vide art.176º, 199º, 272º, 466º e 472º, CSC.
É possível que a sociedade celebre relações jurídicas com terceiros antes da celebração do
contrato de sociedade? Sim! Concluído o contrato, mesmo sem lhe ter sido dado forma legal, os
sócios podem desde logo realizar negócios em nome dela, isto acontece, por norma, quando os
sócios entendem que a urgência da prática de tais atos não admite espera.
Estes negócios são válidos na lei, nem nada lhes indica que sejam considerados nulos. No
entanto, se a sociedade não seguir a forma legal exigida, a sociedade estará em situação
irregular, seguindo, deste modo, o regime do art.36º, nº2, CSC. Nota: no nº1 desse mesmo artigo
faz-se a referência a outro tipo de sociedades, as “sociedades aparentes”, isto é, são sociedades
que são falsamente criadas, para transmitir a aparência de que vão efetivamente existir, quando
não irão.
Coisa diferente é a criação de relações jurídicas depois do ato constituinte e antes do registo
definitivo da sociedade comercial. Para situações aqui englobadas é seguido o regime do artigo
37º, CSC. Neste caso, as relações internas (entre sócios) seguirão as disposições do CSC, mas,
também, do estatuto, com a devida ressalva no nº2. No que respeita a relações estabelecidas
com terceiros neste período, vigora o disposto nos artigos 38º, 39º e 40º, CSC.
Os atos constituintes de sociedades comerciais devem ser inscritos no registo comercial.
Este registo deve ser requerido pelos membros do órgão de administração e representação da
sociedade e todas as demais que tenham interesse em tal, devendo ser feito no prazo de dois
meses a contar da data do título da constituição da sociedade.
Não obstante o ato ser constituído na perfeição, este pode conter algumas invalidades.
Quanto a vícios do ato, é necessário fazer uma distinção num período antes do registo definitivo
e depois, seguindo os trâmites dos negócios jurídicos nulos e anuláveis (art.41º, nº1, CSC) e tem
de estar tipificada no art.42º, respetivamente.
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5. Participações Sociais
Participação social é definível como o conjunto unitário de direitos e obrigações atuais e
potenciais do sócio (enquanto tal). Deste modo, é sócio quem seja titular de uma participação
social respeitante a determinada sociedade.
A aquisição desta participação pode ser originária quando é efetivada na constituição da
sociedade ou por aumento de capital OU derivada quando resulte de casos de transmissão
mortis causa ou entre vivos, ou de aquisição de processo de fusão.
Associados às participações sociais, todos os sócios têm direitos que, para além dos
elencados no artigo 21º, CSC, são, também, os previstos nos artigos 59º, 67º, 77º e 156º, os
direitos de ação judicial. Não obstante estes direitos mais gerais, existem os direitos especiais,
isto é, são direitos atribuídos no contrato social a certo(s) sócio(s) ou a sócios titulares de ações
de certa categoria conferindo-lhe(s) uma posição privilegiada que não pode em princípio ser
suprimida ou limitada sem o consentimento dos respetivos titulares, vide artigo 24º, CSC.
Da mesma forma que têm direitos, estes sócios têm, também, obrigações, as do artigo 20º,
CSC, e, assim como acontece nos direitos, existem mais para além das previstas nesse artigo,
para cada tipo societário existem obrigações específicas. É necessário ter em atenção o dever
que os sócios têm de atuar da maneira mais compatível com o interesse social e o dever de
respeitar o estatuto e lei societário.
As partes sociais e as quotas têm um valor nominal, é desta forma que se sabe o quanto
estas valem, este valor varia conforme o tipo societário adotado. Existe, também:
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Em sentido estrito- poder de o sócio fazer perguntas à sociedade sobre a vida social e de
exigir que ela responda verdadeira, completa e elucidativamente.
Em sentido de consulta- poder de o sócio exigir à sociedade a exibição dos livros de
escrituração e de outros documentos sociais para serem examinados.
Em sentido de inspeção- poder de o sócio exigir à sociedade o necessário para que
vistorie os bens sociais.
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gratuitidade das prestações acessórias, pode ser feito explicitamente, mas, também, pode ser
feita de forma implícita, por exemplo: “prestações pecuniárias para cobertura das perdas de
exercício” ou de “comodato” conclui-se que são prestações gratuitas; quando se fala de
“empréstimos” ou “mútuos” de quantias em dinheiro, presume-se já que são prestações de
caráter oneroso.
Estas cláusulas são transmissíveis quando se trate de prestações pecuniárias, e
intransmissível nos restantes casos.
Obrigações de prestações suplementares
As prestações suplementares, previstas no artigo 210º e seguintes, CSC, são prestações em
dinheiro sem juros que a sociedade exigirá aos sócios quando, havendo permissão do estatuto,
deliberação social o determine.
Se estas prestações tiverem sido determinadas no estatuto social alterado, não poderão ser
exigidas aos sócios que não tenham aprovado essa mesma alteração, no entanto, é de grande
importância ressalvar que o contrato tem de estipular o montante global das mesmas
Contrato de suprimentos
O contrato de suprimento é o contrato pelo qual o sócio empresta à sociedade dinheiro ou
outra coisa fungível, ficando aquela obrigada a restituir outro tanto do mesmo género e
qualidade, ou pelo qual o sócio convenciona com a sociedade o diferimento de vencimento de
créditos seus sobre ela, desde que, em qualquer dos casos, o crédito fique tendo caráter de
permanência, como refere o artigo 243º, nº1, CSC.
Este contrato é nominado e típico e revela duas modalidades na sua designação: empréstimo
de dinheiro ou outra coisa fungível, e diferimento de crédito, ver o restante artigo. É um
contrato de livre convenção e não precisa de estar previsto contratualmente.
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sua participação social não se transmitirá para os seus sucessores OU podem condicionar a
transmissão a certos requisitos (p. ex.: só se transmitirão com o consentimento da sociedade ou
para determinadas categorias de herdeiros), ver artigo 225º, CSC.
Se a sociedade não pretender que a quota se transmita para os seus sucessores, deve esta
começar por deliberar amortizá-la (tendo de pagar, como contrapartida, aos herdeiros o valor da
liquidação da quota, valor este fixado por ROC, ver também art.235º, CSC), adquiri-la ou fazê-
la adquirir por sócio ou terceiro (nestes dois casos aplicam-se as disposições relativas à
amortização da quota, mas os efeitos da alienação da quota ficam suspensos enquanto a
contrapartida não for paga), no prazo de 90 dias subsequentes ao conhecimento da morte do
sócio, sob pena de a quota se considerar transmitida.
Entre vivos / cessão de quotas:
A transmissão entre vivos é um conceito amplo que engloba cessão de quotas, mas,
também, a venda e a adjudicação judiciais (art.239º, CSC).
A cessão de quotas, de acordo com o seu regime geral, não produz efeitos (é ineficaz) para
com a sociedade enquanto esta não a consentir, salvo se se tratar de cessão entre cônjuges,
ascendentes e descendentes ou entre sócios, nestes últimos casos a cessão é livre, não obstante
tem de ser comunicada à sociedade ou por ela reconhecida. Mesmo até ser consentida, a cessão
pode ser válida, eficaz entre as partes, e até relativamente a terceiros, mas não produzirá efeitos
para com a sociedade, para isso terá a mesma de consentir a cessão de quotas. Este
consentimento deve ser feito de forma expressa ou tácita, após a comunicação da situação à
sociedade
O contrato social pode proibir a cessão de quotas (embora os sócios tenham, nesse caso,
direito à exoneração, decorridos 10 anos sobre o seu ingresso na sociedade- art.229º, nº1, CSC),
e, desta forma, derrogar o regime do art.228º, nº2, CSC, por dispensar o consentimento da
sociedade em todas ou algumas situações OU por exigir o consentimento para todas ou algumas
das cessões do artigo suprarreferido.
Amortização de participações sociais
Na linguagem corrente, amortização significa pagamento gradual ou por uma só vez de uma
dívida. No entanto, no âmbito das sociedades comerciais já é diferente. Aqui amortização de
quotas é definível como a extinção da quota por meio de deliberação dos sócios, podendo ser
compulsiva (independente do consentimento do sócio, não fundada em específica autorização
legal, não precisa de autorização estatutária genérica) ou com o consentimento do sócio (é
necessária e suficiente uma autorização estatutária genérica), seja qual forma tem de ser
permitida pela lei.
Sendo a amortização algo pendente de deliberação dos sócios, esta tem de ser
unanimemente deliberada por estes e é, também necessário que a quota esteja inteiramente
liberada e que, à data da deliberação, o valor patrimonial social líquido, depois de subtraído o
montante da contrapartida da amortização, seja igual ou superior ao valor do capital social
somado ao da reserva legal (art.236º, nº1, CSC).
Exoneração de sócios
Este instituto consiste na saída ou desvinculação do sócio, por sua iniciativa e com
fundamento na lei ou no estatuto, da sociedade, é abordado nas sociedades em nome coletivo
(art.185º, CSC) e nas sociedades por quotas (art.240º, CSC).
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No âmbito das sociedades por quotas, um sócio pode exonerar-se nos casos previstos em
normas legais, no estatuto social ou nas alíneas do nº1. Na parte geral do CSC, nos artigos 3º,
5º, 45º, nº1 e 161º, nº5, também estão versadas justas causas de exoneração do sócio. Não
obstante estipulações no estatuto social quanto a este tema, não é possível que exista uma
cláusula a permitir a exoneração do sócio apenas por uma vontade que este tenha. O sócio tem
90 dias para declarar, por escrito, à sociedade a sua intenção de se exonerar e, recebida esta
declaração, a sociedade tem 30 dias para amortizar, adquirir ou fazer adquirir a quota por
outro(s) sócio(s) ou terceiro(s) desse sócio, se a sociedade não cumprir com o prazo dos 30 dias,
o sócio que se pretende exonerar tem como direito requerer a dissolução da sociedade por via
administrativa.
Exclusão de sócios
Coisa diferente é o instituto da exclusão de sócio, trata-se da saída do sócio de uma
sociedade, em regra por iniciativa desta e por ela e/ou pelo tribunal decidida, com fundamento
na lei ou cláusula estatutária. Existem vários factos que podem levar à exclusão do sócio, mas,
em geral, circunscrevem-se ao comportamento ou à situação pessoal de sócio que impossibilite
ou dificulte a prossecução do fim social, tornando-se por isso inexigível que o ou os restantes
sócios suportem a permanência daquele na sociedade.
Nas sociedades por quotas, existem motivos legais e estatutários que conduzem à exclusão
dos sócios, como é o caso do disposto nos artigos 204º, nºs 1 e 2, 212º, nº1, 214º, nº6, CSC, mas
a cláusula legal genérica de exclusão de sócios é a contida no art.242º, nº1, CSC, para causas de
exclusão estatutárias trata o art.241º, CSC.
Financiamento da sociedade – O valor das entradas pode ser igual ou superior, nunca
inferior, ao valor das participações sociais respetivas, assim consegue-se que o valor do
património social inicial seja pelo menos idêntico ao capital social. Os bens deste
património referido ao capital social são naturalmente um meio de financiamento
próprio da sociedade.
Ordenação – O capital social surge, na lei, como critério para determinação da medida
de direitos e obrigações dos sócios, da existência de certos direitos na titularidade de
sócios e dos quóruns deliberativos.
Avaliação económico-financeira da sociedade – Por variados motivos, as sociedades
procedem, pelo menos uma vez por ano, à avaliação da sua situação económico-
financeira.
Garantia para credores sociais – Está associada ao princípio da intangibilidade do
capital social, isto é, a sociedade não pode atribuir aos sócios bens sociais necessários à
cobertura do valor do capital social e reservas indisponíveis.
Lucros
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Legais – Obrigatórias nas sociedades por quotas, anónimas e em comandita por ações.
Para a sua constituição pelo menos 5% dos lucros de exercício ser-lhe-ão afetados, até
que corresponda a 20% do capital social, vide artigos 218º, 295º, nº1 e 478º, CSC.
Estatutárias – No estatuto social podem os sócios estabelecer que certa percentagem dos
lucros de exercício será afetada a uma reserva, com/sem menção das aplicações
possíveis.
Livres – São constituídas por deliberações dos sócios, que lhes afeta a totalidade ou
parte dos lucros de exercício distribuíveis.
Ocultas – Se um balanço omite uma verba no ativo OU inclui uma verba fictícia no
passivo, OU/E subvaloriza bens do ativo OU sobrevaloriza o passivo, o património
líquido da sociedade aparece com um valor inferior ao valor real. A diferença entre um
valor e outro constitui uma reserva oculta (ou não aparente).
Perdas
Perdas sociais são decréscimos ou quebras no património de sociedade. Em linha com o que
sucede com os lucros, nas perdas há distinções a fazer:
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São anuláveis as deliberações ilegais que não sejam nulas, as deliberações antiestatutárias e
as deliberações que vêm sido designadas como abusivas.
Ver artigos 58º e 59º, CSC.
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