Irrigando Desertos
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Irrigando Desertos
Gabriele Greggersen
RESUMO
O objetivo do artigo, baseado no livro de C.S. Lewis, A Abolição do Homem, é compreender
e discutir a importância da imaginação numa educação baseada no Tao. Perguntamo-nos em
que situações e em que medida a educação se torna um deserto e como o uso da imaginação
pode remediar essa situação? Após a compreensão e discussão dos aspectos essenciais do
livro e de sua importância na educação, faremos algumas aplicações da filosofia educacional
de A Abolição do Homem à educação que se queira cristã. A questão central é: O que pode-
mos aprender do homem imaginativo, C.S. Lewis, e essa obra em particular sobre educação,
numa perspectiva cristã?
Palavras-chave: C.S. Lewis; imaginação; educação cristã.
ABSTRACT
The aim of the paper, that is based on the book of C.S. Lewis, The Abolition of Man, is to
realize and discuss the importance of imagination in an education based on the Tao. We are
asking in which situations and in which measure education is becoming desertic and how
can the use of imagination remediate that situation? After the understanding and discussion
of the essential aspects of the book and of its importance to education, we will apply the
philosophy of education of The Abolition of Man to an education which is Christian. The main
question is: what can we learn from the imaginative man in C.S. Lewis and this particular
work about education in a Christian perspective?
Keywords: C.S. Lewis; imagination, Christian Education.
RESUMEN
El propósito del artículo, basado en el libro de C.S. Lewis, La Abolición del Hombre, es com-
prender y discutir la importancia de la imaginación en una educación basada en el Tao. Nos
preguntamos en qué situaciones y en qué medida la educación se convierte en un desierto
y cómo el uso de la imaginación puede remediar esta situación. Después de comprender y
discutir los aspectos esenciales del libro y su importancia en la educación, haremos algunas
aplicaciones de la filosofía educativa de La Abolición del Hombre a la educación que quiere
ser cristiana. La pregunta central es: ¿Qué podemos aprender del hombre imaginativo, C.S.
Lewis, y de este trabajo en particular sobre educación, desde una perspectiva cristiana?
Palabras clave: C.S. Lewis; imaginación; educación cristiana.
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Introdução
1
A estatísticas dizem que o livro didático é o livro mais vendido no Brasil. Enquanto, no exterior, os
best-sellers são romances, ficções; no Brasil são os livros didáticos, que os alunos são obrigados a ler.
Qual a consequência dessa política para o hábito da leitura no Brasil? Até que ponto essa prática não
estraga o gosto saudável pela leitura, que se torna algo enfadonho ou chato?
2
Fonte: Disponível em: <http://www.lewisiana.nl/abolquotes/>. [Acesso 24 de junho de 2014].
3
É por isso que o projeto pedagógico prevê uma visão, uma missão e o perfil de egresso, ou seja,
pergunta-se que aluno é esse que se pretende formar.
4 Essa ideia é explorada em A Mente do Criador, de Dorothy L. Sayers, que era amiga de Lewis e a
quem dediquei a minha atual tese de doutorado. O livro foi prometido a sair publicado pela Editora
É-Realizações.
5 Nos anexos do livro, Lewis inclui uma seleção de provérbios de todos os lugares e épocas que dizem
praticamente as mesmas coisas sobre justiça, fidelidade e outros valores humanos universalizáveis,
precisamente para provar a sua tese a respeito do Tao, ou seja, uma tábua de valores comuns a toda
a humanidade.
6 Palavra mal compreendida, porque a Idade Média tem mais de mil anos de duração e é impossível
que o ser humano estivesse vivendo no lado escuro da lua por um milhar de anos. E os historiadores
descobrem cada vez mais coisas boas inventadas durante a Idade Média e sobre a importância que
esse período teve para o progresso da humanidade.
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Baseado em “behavior”, que significa “comportamento” e nas experiências de estímulo-e-resposta de
Pavlov, que serviram de base para as teses de Skinner.
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A popularidade dessa moral nas pessoas consumistas e materialistas modernas se vê pelo sucesso que
fazem os livros que dão receitas para a vida “bem-sucedida” ou de sucesso, particularmente, financeiro.
E não o deixe usar a lógica nem ficar a sós com livros, nem abraçar a verdadeira ciência,
pois todas essas coisas representam o perigo de que o paciente humano se dê conta
de que existe uma realidade “lá fora”, que lhe permite chegar a conclusões, entrar em
comunicação com o autor (por mais distante ou até morto que ele esteja).
O último estágio virá quando, mediante a eugenia,9 a manipulação pré-natal e uma edu-
cação e propaganda baseadas numa perfeita psicologia aplicada, o Homem alcançar um
completo domínio sobre si mesmo. A natureza humana será a última parte da Natureza
a se render ante o Homem (...) A batalha estará definitivamente vencida. Mas a pergunta
é: quem exatamente a terá vencido? (LEWIS, 2017a, p. 56).
Lewis está falando aqui a partir de uma época em que a eugenia estava
em alta. O nazismo, por exemplo, dizia que as pessoas deficientes não tinham
o direito de viver e de reproduzir os seus códigos de DNA em meio à hu-
manidade. Elas eram separadas, segregadas, porque os genes delas poderiam
contaminar a sociedade. Da mesma forma que os judeus eram perseguidos,
as pessoas com qualquer deficiência eram também perseguidas. E o nazismo
9
Trata-se da ciência que estuda o cultivo de condições que tendem a melhorar as qualidades físicas e
morais de gerações futuras, especialmente pela genética e controle das características genéticas dos
filhos de um casal.
Mas os projetistas de homens destes novos tempos estarão armados com os poderes de
um Estado onicompetente e uma irresistível tecnologia científica: obteremos finalmente
uma raça de manipuladores que poderão, verdadeiramente, esculpir toda a posteridade a
seu bel-prazer [...] Os Manipuladores, nesse ponto, estarão em condição de escolher que
tipo artificial de Tao irão impor à raça humana, segundo as razões que lhes convierem.
(LEWIS, 2017a, p. 26).
Essa última frase foi inclusive citada por B.F. Skinner, o fundador do
behaviorismo ou comportamentalismo, no livro Beyond Freedom and Dignity
[Para Além da Liberdade e Dignidade]. E ele estava criticando a visão de Lewis
sobre a abolição do homem, pela ciência, pelo evolucionismo e o compor-
tamentalismo e suas previsões de que essas tendências farão o homem virar
máquina e, com isso, viria a destruição da liberdade e de toda a sociedade
humana, afirmando que tais coisas simplesmente não existem e não passam
de alarmismo inútil e anticientífico. Dai-o título “para além” da liberdade e
dignidade, pois elas são meras ilusões para Skinner. Segundo ele o que impor-
ta não é o bem e o mal, o homem está acima dessas coisas, mas o controle
sobre os instintos, reforçando alguns, que são alegadamente os que levam os
seres à evolução, e reprimindo outros, que representam o elemento retrógrado.
Aqui Lewis deixa claro porque não é naturalista e não pode concordar
com o comportamentalismo, pois ele se origina de uma busca ilegítima e
ilusória pelo poder, pelo controle das forças naturais e das pessoas mes-
mas, que são manipuladas à sua revelia, pelo que se está infringindo a regra
universal da liberdade e da dignidade humanas, negadas por Skinner. Nessa
mesma esteira, filósofos como Nietzsche defendem a total independência do
homem para criar a sua própria vida, valores, história, de maneira egoísta e
relativista, mas que no fim, leva à loucura e destruição.
10
Trata-se de um conceito amplo, mas que pode ser equiparado à pro atividade e à adoção de uma
postura de respeito ao próprio espaço e àquele do outro. Ser assertivo é, diante de uma situação de
estresse, não reagir nem de forma agressiva, nem passiva, mas equilibrada.
Ciência e magia
O grande esforço da bruxaria e o grande esforço científico são irmãos gêmeos: um deles
era doente e morreu, o outro era forte e sobreviveu. Mas eram gêmeos. Nasceram do
mesmo impulso... Para os sábios da antiguidade, o problema principal era como con-
formar a alma à realidade, e a solução encontrada foi o conhecimento, a autodisciplina
e a virtude. Tanto para a bruxaria quanto para a ciência aplicada, o problema é como
subjugar a realidade aos desejos dos homens, e a solução encontrada foi uma técnica.
(LEWIS, 2017, p. 72-73).
O Tao e a educação
11 Nesse sentido, não há momento da vida mais imaginativo do que a oração, mas isso daria substrato
para outro capítulo.
12
Isso lembra novamente a ordem de Lewis em A abolição... de “irrigar desertos” e não “derrubar
árvores”.
Considerações finais
13
Nome original do Diabo em Cartas de um Diabo a Seu Aprendiz, de C.S. Lewis.
Referências bibliográficas