O Capacitismo e Seus Desdobramentos No Ambiente
O Capacitismo e Seus Desdobramentos No Ambiente
O Capacitismo e Seus Desdobramentos No Ambiente
João Pessoa-PB
2021
VANESSA CASTRO ALVES DE SOUSA
João Pessoa-PB
2021
Catalogação na publicação
Seção de Catalogação e Classificação
Banca Examinadora
João Pessoa – PB
2021
Dedico esse trabalho ao meu amado esposo Erivaldo Castro que
compartilhou comigo ao longo do curso sonhos, dificuldades e
alegrias. Serei eternamente grata pela sua parceria. Muito
obrigada!
AGRADECIMENTOS
O capacitismo, que está cada vez mais evidente em nossa sociedade, inclusive no
ambiente escolar, é um termo recente que faz referência as práticas e atitudes
discriminatórias para com as pessoas com deficiência. Com base nesse argumento,
o presente trabalho pretende discutir como o capacitismo se manifesta no contexto
escolar. Para tanto, compreendemos que o modelo médico, que ainda determina os
critérios para o Atendimento Educacional Especializado (AEE) de estudantes com
deficiência, caracteriza tais pessoas como incapazes. Por esta razão, adotamos o
modelo social da deficiência como aporte teórico para este estudo, uma vez que tal
modelo identifica as barreiras que na escola ou na sociedade, impedem a participação
plena das pessoas com algum tipo de deficiência. O estudo realizado por meio de
entrevista e observação junto a um estudante com deficiência intelectual de uma
escola da rede municipal de João Pessoa - PB, revelou que ora de maneira explícita,
ora por meio de atitudes veladas, o capacitismo ainda é uma prática recorrente no
ambiente escolar. Tal fato evidencia-se tanto nos relatos do entrevistado, como na
observação realizada, sendo possível perceber que há uma série de dificuldades na
relação deste estudante com sua professora e com os colegas da turma, sendo ainda
visíveis as inúmeras dificuldades em seu processo de ensino e aprendizagem e a
ausência de medidas que viessem solucionar a questão. Com esse estudo,
esperamos contribuir para que professores, gestores, alunos e comunidade escolar
em geral possam de fato compreender o real sentido do capacitismo e assim atuar em
favor do combate e eliminação de tais práticas que tanto afetam a inclusão das
pessoas com deficiência na escola e na sociedade em geral.
The ableism, which is increasingly evident in our society, including in the school
environment, is a recent term that refers to discriminatory practices and attitudes
towards people with disabilities. Based on this argument, the present work intends to
discuss how ableism manifests itself in the school context. Therefore, we understand
that the medical model, which still determines the criteria for Specialized Educational
Assistance (AEE) for students with disabilities, characterizes such people as
incapable. For this reason, we adopted the social model of disability as a theoretical
contribution to this study, since such a pattern identifies the barriers that, in school or
in society, prevent the full participation of people with some type of disability. The study
carried out through an interview and observation with a student with intellectual
disabilities from a public school in João Pessoa - PB revealed that sometimes explicitly,
sometimes through hidden attitudes, ableism is still a recurrent practice in the school
environment. This fact has been evidenced in both sides, in the interviewee's reports
and the observation in question, making it possible to notice that there are a number
of difficulties in the relationship of the student with his teacher and with his classmates,
as well as the numerous difficulties in his teaching and learning process are still visible,
furthermore the absence of measures to resolve the issue. With this study, we expect
to contribute so that teachers, managers, the students, and the school community, in
general, can actually understand the real meaning of ableism and thus act in favor of
fighting and eliminating such practices that affect the inclusion of people with
disabilities in school as well as in society in general.
1. INTRODUÇÃO................................................................................................13
2. COMPREENDENDO O CAPACITISMO E OS OBSTÁCULOS À INCLUSÃO
DE ESTUDANTES COM DEFICIÊNCIA.................................................15
2.1 Entendendo a Deficiência: Algumas Concepções na Sociedade Atual..15
2.2 Capacitismo: O que É e Como Compreendê-lo...........................................17
2.3 Processo de Inclusão Escolar......................................................................19
3. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS........................................................22
4. RESULTADOS E DISCUSSÕES....................................................................25
4.1 O Estudante com Deficiência na Relação Professor – Aluno....................26
4.2 O Estudante com Deficiência na Relação Aluno – Aluno...........................28
4.3 O Estudante com Deficiência e as Experiências de Aprendizagens.........30
5. CONCLUSÃO..................................................................................................32
6. REFERÊNCIAS...............................................................................................34
7. APÊNDICE......................................................................................................37
7.1 Apêndice A....................................................................................................38
7.2 Apêndice B....................................................................................................39
7.3 Apêndice C....................................................................................................41
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1. INTRODUÇÃO
O interesse por esse tema de estudo, surgiu após a leitura de textos referentes
ao capacitismo, ainda no terceiro período do curso de pedagogia, durante a disciplina
educação especial. ‘‘capacitismo: o que é, onde vive, como se reproduz?’’ de Sidney
Andrade (2015). A partir destas leituras, do ponto de vista acadêmico, julgamos
necessário aprofundar esta reflexão devido a importância da temática, que oferece
contribuições bastantes significativas em nosso percurso formativo.
O referencial teórico deste trabalho foi construído de maneira que nos ajude
entender o que é a deficiência a partir da concepção de alguns autores: Diniz (2007),
Andrade (2015), Mello (2016), em seguida conceituaremos o capacitismo, trazendo
algumas de suas características presentes na nossa sociedade, e finalizaremos
explicando como se dá o processo de inclusão escolar das pessoas com deficiências.
[...] não é mais uma simples expressão social de uma pessoa. Deficiência é
um conceito complexo que reconhece o corpo com lesão, mas que também
denuncia a estrutura social que oprime a pessoa deficiente. Assim como
outras formas de opressão pelo corpo, tais como sexismo ou o racismo, os
estudos sobre deficiência descortinaram uma das ideologias mais opressoras
de nossa vida social: a que humilha e segrega o corpo deficiente (2007, p.1).
que, aquela pessoa sempre vai precisar de ajuda para realização de atividades
cotidianas, resultando assim, em sentimentos de dependência e incapacidade.
Por outro lado, qualquer comentário que considere uma pessoa com deficiência
como herói porque esta trabalha ou estuda, também se caracteriza como um discurso
capacitista, pois logo se vê que esse tipo de comentário, nega a capacidade de uma
PcD em realizar atividades que são consideradas normais, isso acontece porquê
enxergamos a pessoa com deficiência como alguém com rendimento inferior, ou em
outras palavras, incapaz. Sobre isso, Mello expõe:
Tal situação parece ser bem explícita quando se trata de uma pessoa com algum
tipo de deficiência, a mesma experimenta situações cotidianas de discriminação e
exclusão quando não se encaixa na regra do corponormativo. Mello (2012, p. 3271)
relata uma ligação íntima com o capacitismo quando expõe que a mentalidade
corponormativa: ‘‘considera determinados corpos como inferiores, incompletos ou
passíveis de reparação/reabilitação quando situados em relação aos padrões
hegemônicos corporais/funcionais’’. Desta forma, julgam as pessoas com deficiência
como incapazes, dada a sua condição.
Como já sabemos, a escola não foge à lógica citada acima, pois está sempre
na busca constante de padronização do aluno no intuito de oferecer uma educação
única e igualitária para todos. Essa característica escolar de não considerar as
particularidades do aluno, acaba favorecendo o processo de segregação e até mesmo
de exclusão do estudante com deficiência.
[...]nas salas de AEE todos os profissionais que atuam dentro da sala tem que
pôr direito garantir uma educação de qualidade e que venha despertar no
alunos com necessidades especiais cria o interesse pela as atividades que é
desenvolvidas pelo(a) o(a)s profissionais da educação e que o ensino
diferenciado não seja como um espaço que venha como reforço escolar, mas
sim como um complemento das atividades escolares. (2017, p. 2)
Com isso, podemos afirmar que as leis têm contribuído de forma bastante
significativa para o processo de inclusão, favorecendo a participação e o
desenvolvimento do estudante com deficiência. Neste sentido, é importante ressaltar
a necessidade de participação desses estudantes na sala de AEE, pois a mesma
oferece um atendimento suplementar que possibilita a eliminação de inúmeras
barreiras.
[...] não pode ser diferente de um professor de inclusão, onde seja valorizado
o respeito mútuo à sua capacidade e seu espaço, facilitando assim sua
atuação de forma livre e criativa proporcionando a cada um, uma sala de aula
criativa e diversificada, dando a oportunidade de participar das atividades
adaptadas às necessidades de cada aluno, já que o professor vai ser sempre
o responsável pelo sucesso ou pelo fracasso da aprendizagem dessa criança
(2014, p. 5).
em primeiro lugar, conhecer sua história de vida, propondo estratégias que, realmente
respondam as suas reais necessidades.
3. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
O lócus da pesquisa foi uma escola pública da rede municipal, situada em uma
comunidade periférica na cidade de João Pessoa, capital da Paraíba. Escolhemos
essa escola pelo fato de que a mesma possui em suas dependências uma sala de
AEE com profissionais especializados que atendem não só a localidade como os
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bairros circunvizinhos, e por isso, a escola é uma referência na região quando se trata
da inclusão dos estudantes com deficiência.
Optamos por analisar os dados a partir da escolha de três, além disso, os dados
foram analisados com base nas contribuições oferecidas pelos teóricos da área da
deficiência.
4. RESULTADOS E DISCUSSÕES
‘‘eu peço sempre ajuda a ela e ela vem aqui na minha mesa’’
Segundo Informações Colhidas (SIC)
Sobre a relação professor aluno, Bulgraen (2010, p. 37) argumenta que ‘‘o
professor precisa ter o entendimento de que ensinar não é simplesmente transferir
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[...] eu poderia dizer-lhes que Capacitismo é essa força invisível que faz um
menino de 12 anos não se sentir no direito de sonhar, porque seus olhos não
estão de acordo com o que um conceito construído de normalidade espera
deles. (2015, p.2)
como relatado anteriormente, o que nos mostra que ele pode ter negado tais
informações durante a entrevista. Sobre essa relação de afetividade, Luz afirma:
Com base na autora, percebemos que pelo fato de Lucas estar inserido em
uma escola regular, onde os alunos convivem harmonicamente uns com os outros,
Lucas imaginava estar vivenciando relações de afetividade e coleguismo comuns para
sua idade. Contudo, entendemos que não havia necessariamente, um processo de
interação social, com isso podemos enxergar uma clara omissão capacitista por parte
de seus colegas, que o excluíam das brincadeiras e limitava a interação entre eles.
Em uma breve conversa informal com a psicóloga, nos foi relatado que o bairro
onde estava inserida aquela comunidade escolar, é considerado um local periférico e
violento. Esse relato nos ajuda a compreender algumas respostas trazidas por Lucas,
revelando assim, alguns traços da sua personalidade. Quando indagado sobre qual
profissão ele desejava desempenhar quando crescer a resposta foi:
“Sim” (SIC)
Com essa resposta, foi possível compreender o contexto social no qual o Lucas
está inserido. Além disso, um funcionário da escola nos relatou que lá existia uma
criança vítima da violência no bairro, a qual adquiriu a deficiência após troca de tiros
na comunidade. Este contexto nos ajuda a compreender as respostas fornecidas por
Lucas no tocante a escolha e justificativa do desejo de sua futura profissão.
‘‘Não’’(SIC)
‘‘Sim’’(SIC)
Sobre a questão da autonomia, Freire (1996, p. 66) expõe que ‘‘O respeito à
autonomia e à dignidade de cada um é um imperativo ético e não um favor que
podemos ou não conceder uns aos outros’’. Ressaltamos por tanto o relevante papel
da escola no tocante ao processo da autonomia e da construção de novos
conhecimentos no cotidiano de estudantes com e sem deficiência.
Enfatizamos ainda que, apesar do pouco tempo de observações e contato com
o referido estudante, observamos certo desinteresse em relação à sua aprendizagem
por parte da professora que, em determinadas situações, chegava a dar respostas
prontas ao garoto, pedindo que as marcasse nas atividades avaliativas. Diante de tal
circunstância, entendemos que a deficiência de Lucas não era o maior impedimento
para que o mesmo pudesse aprender, já que o desinteresse da professora e o
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contexto social no qual o mesmo estava inserido exerciam grande influência nesse
processo. Diniz (2007) diz que a deficiência denuncia a estrutura social em que o
indivíduo está inserido, desta forma, evidenciando as barreiras encontradas
cotidianamente em ambiente. Com base na autora, expomos que as barreiras
atitudinais encontradas em sua sala de aula, acaba por prejudicar o processo de
aprendizagem do garoto Lucas
Os dados coletados nesta investigação nos permitiram compreender que assim
como a exclusão de pessoas e grupos minoritários, a prática capacitista se dá,
geralmente, de forma quase imperceptível. Por esta razão, torna-se necessário um
olhar mais acolhedor por parte dos professores quando se tem em sua sala de aula
um aluno com deficiência, pois o capacitismo muitas vezes pode ser demonstrado por
meio de uma super proteção exacerbada, com uma aparente boa intenção de que o
mesmo não venha a ‘‘sofrer’’ mais ainda. Além disso, o capacitismo é claramente
percebido a partir de atitudes de exclusão por parte de seus colegas nos momentos
de brincadeiras e interação social, momentos esses fundamentais para o
desenvolvimento e, por conseguinte, para a aprendizagem de toda e qualquer criança.
5. CONCLUSÃO
coletados nos permitiram identificar que as práticas capacitistas por vezes, ainda são
comuns no ambiente educacional. Tal processo prolonga o caminho rumo a inclusão
escolar que, de acordo com a legislação em vigor, é assegurada desde a educação
infantil até o ensino superior.
Com esse estudo, buscamos evidenciar as práticas capacitistas que
rotineiramente se fazem presentes no ambiente escolar, na intenção de que tais
práticas sejam refletidas e entendidas como prejudiciais para os estudantes com
deficiência, visando assim, a quebra de paradigmas como o da exclusão e integração
comumente evidenciados no sistema escolar brasileiro.
Com isso, esperamos apontar algumas alternativas que auxiliem aquelas
escolas que, de fato estão comprometidas com à inclusão de estudantes com
deficiência, a fim de que possam atuar na identificação e no enfrentamento dos
discursos e atitudes capacitistas, a exemplo daqueles que elencamos neste texto. Tais
práticas foram observadas de maneira implícita e explícita na instituição de ensino
visitada, tornando-se, dessa forma, prejudiciais na vida de qualquer pessoa com
deficiência como evidenciado anteriormente. Esperamos, finalmente, que haja
avanços na construção de pesquisas visando ampliar o conhecimento acerca do
capacitismo, o qual deve ser urgentemente combatido, na escola e na sociedade
atual.
34
6. REFERÊNCIAS
<https://repositorio.animaeducacao.com.br/bitstream/ANIMA/10099/1/O%20L%C3%
9ADICO%20E%20A%20INCLUS%C3%83O%20DE%20CRIAN%C3%87AS%20CO
M%20DEFICI%C3%8ANCIA%20NA%20EDUCA%C3%87%C3%83O%20INANTIL.p
df > Último acesso em: 20 nov 2021.
https://docs.uninove.br/arte/fac/publicacoes_pdf/educacao/v5_n1_2014/Ana_Paula.p
df> Último acesso em: 25 nov 2021.
SOARES, Joélcio Gonçal ves. PEREIRA Tiaro Katu. Pereira, DIAS, Wolli ver
Anderson. Método da Observação: reflexões acerca de seu uso e formas de
aplicação. Site disponível em: <
https://www.academia.edu/4914317/M%C3%A9todo_da_Observa%C3%A7%C3%A
3o_reflex%C3%B5es_acerca_de_seu_uso_e_formas_de_aplica%C3%A7%C3%A3o
> Último acesso em: 25 nov 2021.
SOUSA, Angélica Silva de. OLIVEIRA, Guilherme Saramago de. ALVES, Laís
Hilário. A PESQUISA BIBLIOGRÁFICA: PRINCÍPIOS E FUNDAMENTOS. Site
disponível em: <
https://www.fucamp.edu.br/editora/index.php/cadernos/article/view/2336> Último
acesso em 29 nov 2021.
YIN,robert k. Estudo de Caso Planejamento e Métodos. trad. Daniel Grassi - 2.ed.
-Porto Alegre : Bookman, 2001. Site disponível em: <
https://saudeglobaldotorg1.files.wordpress.com/2014/02/yin-
metodologia_da_pesquisa_estudo_de_caso_yin.pdf > Último acesso em: 29 nov
2021.
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APÊNDICE
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Apêndice - A
ROTEIRO DE ENTREVISTA
4- Seus colegas costumam lhe ajudar em alguma atividade que você tem
dificuldade de entender?
5- Você sente alguma dificuldade de interagir com seus colegas? Se sim, qual?
6- De que forma seu professor costuma lhe ajudar quando você sente alguma
dificuldade nas atividades?
8- Você já ouviu alguma palavra que lhe ofendeu por conta da sua deficiência?
10- Você já ouviu de algum professor da escola que você estuda, que você não
pode fazer algo por conta da sua deficiência? Se sim, de quem?
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Apêndice – B
UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA
CENTRO DE EDUCAÇÃO
CURSO DE PEDAGOGIA
Ao responsável
Eu, Vanessa Castro Alves de Sousa, responsável principal pela pesquisa intitulada:
Capacitismo no Ambiente Escolar, vinculada ao curso de Graduação em Pedagogia
da Universidade Federal da Paraíba, venho pelo presente, solicitar autorização do
Gestor da Escola Municipal __________________________________para realizar
pesquisa com o objetivo de realizar um estudo sobre Capacitismo no Ambiente
Escolar, com os seguintes objetivos: identificar discursos e atitudes capacitistas
rotineiramente vivenciadas na em uma escola pública no município João Pessoa-PB,
observar o percurso escolar de uma criança com deficiência e refletir como o
capacitismo pode limitar a autonomia de uma pessoa com deficiência e na escola e
vida. Este estudo está sob a orientação do(a) Profo.(a) Dra: Adenize Queiroz de
Farias
Atenciosamente,
40
________________________________________
NOME DO PESQUISADOR - Orientanda
UFPB
____________________________________
Orientadora de TCC- UFPB
41
Apêndice – C
UNIVERSIDADE FEDERAL DA
PARAÍBA CENTRO DE EDUCAÇÃO
CURSO DE PEDAGOGIA
Prezado/a,
Endereço:
Telefone:
Atenciosamente,