Jozinalva Oliveira Castelo Branco Bonfim
Jozinalva Oliveira Castelo Branco Bonfim
Jozinalva Oliveira Castelo Branco Bonfim
São Leopoldo
2021
B695i Bonfim, Jozinalva Oliveira Castelo Branco
Inclusão de alunos com Transtorno do Espectro Autista
(TEA) na escola regular : uma análise de teses e
dissertações produzidas no Brasil de 2012 a 2020 / por
Jozinalva Oliveira Castelo Branco Bonfim. – 2021.
160 f. : 30 cm.
Catalogação na Fonte:
Bibliotecária Vanessa Borges Nunes - CRB 10/1556
JOZINALVA OLIVEIRA CASTELO BRANCO BONFIM
BANCA EXAMINADORA
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2021
A meu esposo Bonfim Melo, por todo apoio, amor, cuidado,
compreensão e por ser meu porto seguro nos dias difíceis.
AGRADECIMENTOS
Agradecer, em especial, ao meu esposo Bonfim, por sempre estar ao meu lado,
em todos os momentos, por me incentivar a trilhar essa caminhada acadêmica e
profissional, por toda paciência, apoio e compreensão que teve comigo para que eu
pudesse realizar este sonho.
Aos meus pais, José Castelo (in memoriam) e Neuza, por todo amor,
ensinamentos e exemplos, pois, mesmo com pouca escolaridade, sempre me
incentivaram a trilhar o caminho da educação.
À Universidade do Vale do Rio dos Sinos – UNISINOS, e ao Programa de Pós-
Graduação em Educação e a todo seu corpo docente e administrativo, que integram
este Mestrado.
Agradecimento especial à minha orientadora, Professora Doutora Maura
Corcini Lopes, através de suas orientações deu-me base e contribuições necessárias
à elaboração deste trabalho. Minha admiração, agradecimento e respeito. E à minha
co-orientadora, Professora Doutora Sandra de Oliveira, pelas contribuições e apoio.
Agradecer às professoras Dra. Eli Fabris e Raquel, que fizeram parte da minha
banca e a todas as contribuições dadas à pesquisa.
A todos os professores que ministraram disciplinas no Programa de Pós-
Graduação em Educação com os quais tive a oportunidade de conviver. Obrigada
pelos conhecimentos compartilhados.
À turma do Mestrado do Diocesano de Teresina-PI, 2018. Pela construção de
conhecimento, pelos laços de amizades estabelecidos, especialmente às queridas
amigas, Lilian, Vilani, Dulce, Manu, Ruthiene e Déborah, que fazem parte do grupo
Egrégias, e dizer que sem vocês não teria encontrados forças para chegar até aqui,
agradecer pelas trocas de experiências, textos, livros, palavras de incentivo,
companheirismo e por não termos soltado a mão de ninguém.
Um agradecimento especial à minha amiga Vilani, pelas madrugadas de sono
estudando comigo, pelos finais de semana, pelo cuidado que teve comigo nesse
percurso, pelas palavras duras, mas, ao mesmo tempo, doces, impulsionando-me
sempre.
A minha querida amiga professora Dra. Daíse, quando eu pensei que não
conseguiria, ela surgiu com sua mão amiga e me reergueu, gratidão minha amiga.
Aos meus queridos irmãos, por todo apoio moral importante e necessário neste
período de intensos desafios.
Aos integrantes do grupo de orientação, pelos momentos de discussões e
aprendizagens.
Aos mestres e doutoras (as), cujas pesquisas contribuíram com este trabalho,
e que foram importantes para execução da pesquisa.
E, principalmente, a Deus, autor da vida e que me deu forças e possibilitou
alcançar mais uma vitória em minha vida acadêmica e pessoal mesmo com todas as
dificuldades durante o processo. Gratidão, meu Deus.
“Trabalhar com a diferença é pensar o
diferente como uma possibilidade e não
como uma falta, uma possibilidade que,
justamente por sua diversidade, tem o que
negociar, o que ensinar e o que aprender.
Esse ensinar terá que ser inventado com
os próprios sujeitos da diferença, serão
tantas formas quantas forem as diferenças
e os/as diferentes.”
(Fabris e Lopes)
RESUMO
Considerando a inclusão como um processo que não tem um fim a ser alcançado e
um direito a todos aqueles que, ao longo da história, vêm sendo segregados e
excluídos da sociedade e da escola, este trabalho traz como objeto de estudo a
inclusão do aluno com Transtorno do Espectro Autista. O objetivo é analisar e
problematizar como pesquisadores, em suas dissertações e teses, abordam e
dialogam sobre a inclusão do aluno com Transtorno do Espectro Autista na escola
regular. Trata-se de uma pesquisa de análise documental, que elegeu, como caminho
metodológico, o mapeamento e seleção de dissertações e teses desenvolvidas e
publicadas no Brasil, no período de 2012 a 2020, destacando como critério –
pesquisas que discutiam sobre inclusão escolar de crianças com Transtorno do
Espectro Autista em escola regular. Foram analisados 11 trabalhos e destacadas
recorrências enunciativas que apontaram para a socialização como um
atravessamento curricular que esmaece outros tipos de aprendizagem que deveriam
ser promovidas pela escola para o aluno com Transtorno do Espectro Autista. Diante
de tal recorrência, problematizou-se a socialização como um atravessamento que
acaba determinando e reduzindo a função da escola. Denominou-se socialização –
ad aeternum – o conjunto enunciativo derivado dos materiais de pesquisa.
Argumentou-se, concluindo sobre a finalidade do enviar as crianças com Transtorno
do Espectro Autista para a escola regular, que não desafia os indivíduos a
aprendizagens diferenciadas e justifica a importância da escola somente para a
socialização, um tipo de socialização que não se conclui, mantendo a dependência do
aluno com Transtorno do Espectro Autista da escola.
Considering inclusion as a process that has no end to be achieved and a which is also
a right to all those who, throughout history, have been segregated and excluded from
society and school, this piece of research brings as an object of study the inclusion of
students with Autism Spectrum Disorder. The goal is to analyze and problematize how
researchers, in their dissertations and theses, address and discuss the inclusion of
students with Autism Spectrum Disorder in regular school. This is a documentary
analysis research, which elected, as a methodological path, the mapping and selection
of dissertations and theses developed and published in Brazil, in the period from 2012
to 2020, highlighting as a criterion pieces of research that discussed school inclusion
of children with Autism Spectrum Disorder in regular school. I analyzed 11 dissertations
and theses and highlighted enunciative recurrences that pointed to socialization as a
curricular crossing that dims other types of learning that should be promoted by the
school for students with Autism Spectrum Disorder. Faced with such recurrence,
socialization was problematized as a type of crossing that ends up determining and
reducing the function of the school. The enunciative set derived from the research
materials was termed socialization ad aeternum. I argued, while concluding about the
purpose of sending children with Autism Spectrum Disorder to regular school, that it
does not challenge individuals to differentiated learning and it justifies the importance
of school only for socialization, a type of socialization that is never concluded, keeping
the student with Autism Spectrum Disorder dependent on the school.
Inicio a escrita desse capítulo tecendo uma análise de cunho reflexivo sobre o
meu percurso profissional e acadêmico, que segue desde 1999, ano em que conclui
o curso de graduação em Pedagogia, pela Universidade Estadual do Maranhão
(UEMA/CESC). Nesse período, fui despertando para a pesquisa, já com um olhar para
as diferenças, pois, na grade curricular do meu curso, pouco se falava, ou nada, a
respeito da Educação Especial. Para além disso, concluindo o curso a nível de
graduação, encetei nos estudos dedicados à formação continuada, através dos cursos
de capacitação na área da educação, como as especializações em Psicopedagogia,
Tecnologias da Informação para Educadores e Libras. As escolhas estavam
relacionadas a essa falta que houve na formação inicial e que me levava a ter
dificuldades na atuação profissional nas escolas.
Adentrando no âmbito da atuação profissional, atuei como professora no
Ensino Básico, em escola privada, como coordenadora e como gestora de escola
pública e privada de Educação Básica. Sobre esse aspecto, vale destacar que, em
sua maioria, minhas experiências se debruçam sobre o campo da gestão –
coordenação – especificamente durante 20 anos. Ao longo dessa trajetória, os
desafios profissionais foram enfrentados com estudo e compromisso, dado que,
mesmo não estando diretamente em sala de aula, as demandas dos alunos e dos
professores sempre chegavam até mim e instigavam-me a buscar respostas e
soluções, nem sempre possíveis de modo imediato. Dessa maneira, construir
conhecimentos e criar alternativas para as práticas pedagógicas era sempre a minha
opção e responsabilidade, em especial no tocante a alunos com dificuldades na
aprendizagem e deficiência incluídos na escola regular.
Durante muito tempo, através da coordenação, acompanhei o que as escolas
e professores nomeavam como inclusão. No entanto, os conceitos e as práticas
deixavam-me inquieta, posto que, geralmente, entravam em contradição, ou até
mesmo se distanciavam das práxis propostas, fazendo-me refletir e tensionar tais
conceitos. Nesse entremeio, partindo em busca de respostas para as muitas
indagações que surgiram, aprofundei-me nos estudos sobre o tema e, aos poucos, fui
encontrando pequenos respiros e brechas para entender melhor o tema.
Ao revisitar e selecionar minhas experiências profissionais, pessoais e
acadêmicas, vi-me mobilizada por muitos desafios, tanto profissionais quanto
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que tinha como bandeira de luta as transformações sociais, passa a fazer parte,
integralmente, do currículo dos cursos de atuação pedagógica.
Diante desse panorama, as Políticas Públicas Nacionais para Educação
Especial (1994), a Lei de Diretrizes e Bases da Educação – LDB – (1996), e os
Parâmetros Curriculares Nacionais (1998) impulsionaram as discussões sobre a
temática da inclusão e passaram a normatizar determinados encaminhamentos. O
sentido era garantir acesso físico e pedagógico voltados a uma Educação Especial,
que atendesse um público dentro de um pensamento de inclusão com escolarização
única/igualitária, universal e obrigatória, como está explícito na LDB 9394/96 e no
Artigo 205 da Constituição Federal de 1988. Dito isso, se, por um lado, esse aspecto
faz imperar um discurso de inclusão, por outro, acentua a exclusão, haja vista que,
nem as escolas, nem seus sistemas de ensino, foram redimensionados para essa
inclusão. Ocorre que, a mesma política que vem propor a inclusão dessas pessoas
com deficiência, apresenta concepções de uma educação reduzida a serviço dessas
crianças e jovens com deficiência.
As políticas citadas anteriormente, além de fazerem parte dos conteúdos de
minha formação inicial, também foram basilares para minha atuação como
coordenadora pedagógica na rede privada, que iniciei logo após a conclusão da
graduação, em meados dos anos 2000. Nessa época, minhas aprendizagens na
graduação se tornam fundamentais, sendo legitimadas e colocadas em prática no dia
a dia com o trabalho de formação do professor. Com meu caminhar, comecei a
suspeitar que muitas das práticas realizadas pela escola poderiam ser excludentes, o
que se percebia eram práticas homogeneizadoras, distante da realidade de muitos
alunos, levando, frequentemente, à evasão desse aluno da escola. Sendo assim, aos
poucos, fui percebendo minha identidade como “professora inclusiva”, embora sem
saber direito o que isso poderia significar, fui constituindo-me.
Outra experiência que merece destaque foi a atuação na coordenação
pedagógica da Escola Municipal Unidade Integrada Municipal Antônio Edson
(UIMAE), localizada em um bairro da periferia, com proximidades à BR 316 e da
rodoviária da cidade de Caxias/MA, no bairro Volta Redonda. A escola foi fundada por
moradores advindos da zona rural, por famílias de baixa renda e com alto índice de
criminalidade e prostituição. Durante os anos em que trabalhei nesta instituição, tive
contato direto com alunos com deficiência auditiva, Transtorno do Déficit de Atenção
com Hiperatividade (TDAH) e Síndrome de Down incluídos na escola.
14
Em consonância com Corazza (2002), foi a postura que passei a adotar: refletir
em relação às questões práticas e cotidianas que se tornaram rotina na escola
observada. Destarte, para pensar sobre as naturalizações das significações, conforme
a autora, é preciso um entendimento de condições e possibilidades de quebra
contínua de pensamentos já elaborados, olhando, percebendo e apropriando de
novos estudos e conceitos, fazendo interlocuções, reelaborando as teorias e fazendo
ligações, levando a problematizar um olhar já produzido.
Somada às inquietações referentes à inclusão que iam se desenhando, ao final
da primeira década dos anos 2000, objetivando contribuir com companheiras de
trabalho da escola onde atuava, sobretudo em 2007, iniciei, pela Faculdade Piauiense,
uma especialização em Psicopedagogia Clínica e Institucional. Nesse viés, acreditava
que a Psicopedagogia poderia ajudar a entender melhor a inclusão e poderia orientar-
me sobre as práticas que mais bem se endereçariam aos alunos com deficiência.
Diferentemente da Pedagogia, a Psicopedagogia, apesar do foco educacional, trouxe-
me um olhar mais clínico e psicológico para a abordagem pedagógica, ou seja,
permitiu constatar as nuances e as particularidades de cada indivíduo que, a despeito
de estar inserido na escola regular, tinha a necessidade de um atendimento
especializado – direcionado às suas questões singulares.
Visando aprofundar mais os conhecimentos na área da educação, em 2008,
iniciei uma Pós-Graduação a distância em Tecnologias da Informação para
Educadores, pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Nesse curso,
o meu direcionamento educacional era investigar sobre Tecnologias Assistivas – de
acordo com o Comitê de Ajudas Técnicas da Coordenadoria Nacional para Integração
da Pessoa Portadora com Deficiência (CORDE). Tecnologia Assistiva pode ser
entendida como uma área do conhecimento, de característica interdisciplinar, que
engloba produtos, recursos, metodologias, estratégias, práticas e serviços que
destinam-se a promover a funcionalidade, relacionada à atividade e participação de
pessoas com deficiência, incapacidades ou mobilidade reduzida, buscando
autonomia, independência, qualidade de vida e inclusão social. (CORDE, 2007).
Diante disso, ao longo desse curso, compreendi que as Tecnologias Assistivas
poderiam contribuir de forma significativa para a educação inclusiva, maiormente para
pessoas com deficiência. Essas ferramentas ampliavam-me as possibilidades de
intervir, alcançar e promover a inclusão das pessoas com deficiência, alicerçadas nas
Tecnologias Assistivas, contribuindo de forma a ampliar o desenvolvimento da sua
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inclusão veio através dos cursos a distância, percebi as muitas possibilidades que a
tecnologia apresenta, por exemplo, aproximar distâncias ultrapassando territórios, e
como essas atividades oportunizavam e alcançavam aos mais diversos tipos de
alunos.
Ainda, ano de 2017, assumi a gestão de uma escola privada, na Fundação
Educacional Coelho Neto (FECON), local do primeiro encontro com alguns alunos
com Transtorno do Espectro Autista (TEA). A partir daí, aumentou meu interesse em
observar outras possibilidades de olhar a inclusão e pensar o conceito de inclusão
nesse prisma – direcionado para os alunos com TEA. Vivenciar as dificuldades
encontradas em sala de aula pelos professores provocou-me a ter a preocupação
voltada à inclusão que objetivava atender o aluno com TEA na escola regular.
Era necessário entender os receios, as inseguranças, as angústias, os desafios
e os desconfortos em lidar com esses alunos. Percebi que os orientava como
deveriam fazer em sala de aula, tendo como base os estudos que já vinha fazendo,
todavia, muitas vezes, sentia-me impotente por não conseguir alcançar os objetivos
que os docentes almejavam. Com essa inquietação, reconheci que não poderia ajudá-
los sem assimilar com maior profundidade sobre a inclusão do aluno com TEA na
escola, no contexto atual. E eis que chega a oportunidade de fazer o Curso de
Mestrado em Educação, pela Universidade do Vale do Rio do Sinos (UNISINOS).
Vislumbrei encontrar respostas para as indagações que circundavam às minhas
inquietações e minha incapacidade de maior contribuição com os profissionais que
estavam sob a minha gestão.
Ao ingressar no curso de mestrado, além das disciplinas e discussões
elucidadas durantes as aulas, os exercícios reflexivos realizados durantes os estudos
no Grupo de Estudo e Pesquisa em Inclusão (GEPI), coordenado pela Professora
Maura Corcini Lopes, fizeram-me inferir que estava incursa de muitas maneiras no
tema que investigo. Dito isso, justifico minhas escolhas por muitos lugares, pessoas e
discursos que me atravessaram. Foi importante essa trajetória que na qual me vi
implicada durante todo meu percurso profissional e pessoal. E, corroborando com o
pensamento de Veiga-Neto (2014, p. 22), compartilho que “[...] em uma liberdade que
chamo de homeopática, concreta, cotidiana e alcançável nas pequenas revoltas
diárias, quando podemos pensar e criticar o nosso mundo”. Nesse sentido, a
amarração da minha trajetória vai junto das minhas inquietações.
No mestrado, fui desafiada a pensar, suspeitar e a problematizar algumas
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verdades que orientaram a minha busca pelo curso. Como já narrei anteriormente, a
Pós-Graduação em Psicopedagogia constituiu um olhar atento ao indivíduo que, por
distintas razões, não consegue aprender ao mesmo tempo que os outros. Também
trago comigo leituras clínicas que constituem o meu olhar sobre a inclusão, além de
um olhar crítico. Tais leituras clínicas, por vezes, seguem definindo meu olhar sobre
os alunos diagnosticados. Não obstante, quando isso acontece, tento exercer sobre
mim uma espécie de vigilância para fazer aparecer com mais firmeza discursos
pedagógicos e sociais que determinam, comumente, os rumos da formação e dos
processos de escolarização.
Sigo nessa mesma condução, fortemente atravessada por discursos clínicos,
porém, a partir do contato com o Grupo de Estudo e Pesquisa em Inclusão
(GEPI/UNISINOS/CNPq), consegui apreender que necessito aprofundar as leituras
sobre a inclusão, problematizando verdades que para mim estavam dadas. Tardei a
entender que a posição de mestranda em educação exigia de mim um certo
distanciamento para abordar a temática da inclusão do aluno com deficiência na
escola.
Depois de rever minhas trajetórias na temática da inclusão, passei a me
interrogar sobre o que eu desejava pesquisar. Sabia que seguiria focando na inclusão,
contudo, era preciso fazer um recorte. Constituí meu interesse em algo ainda não
comentado neste capítulo – a inclusão escolar de alunos diagnosticados com TEA.
Como já mencionado, tive a oportunidade de ter a experiência e o contato com alunos
com TEA e os desafios, as dúvidas, o pouco conhecimento a respeito do Transtorno
do espectro Autista, tanto dos profissionais da escola, quanto meu, fazendo-me
aguçar o interesse em aprofundar meus conhecimentos.
A compreensão da necessidade conceitual e metodológica no espaço dentro
das escolas para esse grupo específico de alunos só acrescentou ênfase à busca de
formação, por desconhecimento ao que tange o assunto e pelo aumento de alunos
com TEA incluídos nas escolas, nesse momento. Ter observado e vivenciado práticas
não inclusivas no desenvolvimento de tais alunos possibilitou-me concluir que ações
pedagógicas “bem-intencionadas” não falam sobre como pensa, age e aprende um
aluno com TEA na escola regular.
20
Sob essa ótica, adotar a nomenclatura de “inclusão” como algo novo e pautado
por normas e leis é anular a perspectiva inicial do processo educativo, que é
naturalmente incluir e conviver com sujeitos que se diferenciam dos nossos costumes
e comportamentos. Dessa forma, olhar a educação inclusiva vai além da lidação com
deficiências, de identificar o que falta, e, nessa linha, começo a desconstruir a ideia
que tinha de inclusão escolar somente como um espaço de convivência, de
socialização e de garantia do direito à matrícula desse aluno em uma escola regular,
para criar outros modos de lidação de processos inclusivos considerando a
aprendizagem.
Particularmente, inquietava-me a construção de um novo olhar dentro da
inclusão na concepção de uma escola mais inclusiva. Comecei a problematizar a
inclusão referente às práticas inclusivas que oportunizem a permanência desse aluno
na escola regular, bem como sua aprendizagem acadêmica, desenvolvimento cultural,
social e individual dentro do processo escolar inclusivo.
Com todas essas inquietações, reflexões e a legitimação das leis, normas e
pareceres sobre o processo inclusivo no ambiente escolar, passei a confrontar minha
busca pela pesquisa de mestrado dentro do campo da inclusão escolar. Essa procura
incidia nomeadamente na inclusão do aluno com Transtorno do Espectro Autista.
(TEA), tendo em vista que foi o público que mais chamou-me atenção ao longo dos
21
como será possível garantir sua aprendizagem acadêmica. Acredito que o Mestrado
em Educação pela UNISINOS ampliou meus conhecimentos através de estudos e
pesquisas que me conduziram a caminhos que trouxeram pistas para as muitas
perguntas que permanecem. E, pensando nisso, amparei-me em leituras como: Lopes
(2005, 2007, 2009, 2017), Fabris (2006, 2017), Mendes (2006, 2010, 2017), Rech
(2010), Klein (2015, 2017), Masschelein e Simon (2014), dentre outros, que no
decorrer da pesquisa, dialogaram, problematizaram e discutiram a Educação Especial
na visão da educação inclusiva de alunos com TEA.
Apresento, aqui, o percurso da construção da pesquisa, caminho teórico e
metodológico que, antes da situação de pandemia do Coronavírus – COVID-19, era
um pensar e, após, ganhou muitos desdobramentos, até chegar no desenho atual.
Aos poucos, caminhando com um olhar atento, mesmo diante de muitas incertezas,
para o delinear dessa pesquisa, dado que foram muitos os atravessamentos, nesse
antes e depois da situação da pandemia, fui delineando a pesquisa com os capítulos
descritos na sequência.
No primeiro capítulo, apresento o trajeto percorrido e o vínculo estabelecido
com a inclusão escolar, que está imbricado no meu percurso acadêmico da graduação
até o mestrado, para realização desta pesquisa, assim como as razões que justificam
minhas escolhas pelo tema. Discorro o itinerário investigativo que provocou, em mim,
um olhar inquietante para reelaborar a trajetória dos meus estudos, gerando
necessidades e motivos que me levaram a aprofundar meus conhecimentos em nível
de mestrado.
No segundo capítulo, trago um breve histórico da inclusão, políticas públicas
educacionais e TEA, e objetivei mostrar como as políticas de inclusão escolar, embora
todas as dificuldades, vêm se transformando e alcançando conquistas ao longo dos
anos, dentro do contexto escolar com alunos com TEA. Esse encaminhamento se fez
fundamental, pois entendo que, ao discutir sobre a inclusão dos alunos com TEA, não
poderia deixar passar as questões mais conceituais e históricas sobre inclusão.
No capítulo terceiro, exponho a base teórica que impulsionou a pesquisa e me
direciono a pensar que a inclusão do aluno com TEA na escola regular deve ser uma
atividade de reflexão e questionamento e, para que as discussões se efetivem, é
importante guiar algumas abordagens pertinentes ao tema. Inicialmente, evidencio
conceitos e características gerais do TEA, procuro mostrar uma espécie de linha do
tempo sobre o conceito e concepção do Autismo ao longo da história, os aspectos
23
legais que amparam as práticas de inclusão na escola regular e, por vezes, até fora
da esfera da educação. Dando sequência, faço uma reflexão em torno da
inclusão/exclusão, tentando questionar os direcionamentos inclusivos que, em alguns
momentos, podem também excluir.
No quarto capítulo, demonstro a materialidade da pesquisa, discorrendo sobre
como realizei as buscas para investigação. As buscas das pesquisas tornaram-se
possíveis através do processo da revisão de literatura feito pelo Portal de Teses e
Dissertações da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior
(CAPES). As buscas partiram de alguns critérios do próprio portal e seguindo a
seleção por descritores das produções brasileiras de dissertações e teses acerca da
temática da inclusão, especialmente com alunos com TEA, no período de 2012 a
2020. O recorte temporal justifica-se pela implantação da Lei nº 12.764/2012, que
instituiu, além da Política Nacional de Proteção dos Direitos da Pessoa com
Transtorno do Espectro Autista, outros direitos de inclusão de pessoas com TEA no
mercado de trabalho e nas escolas, em salas regulares de ensino.
Verso, também, a respeito da mudança do meu objeto de estudo, através das
pesquisas que investigaram a inclusão do aluno com TEA na escola regular, em que
procurei focar no olhar dos pesquisadores, como eles abordam nas dissertações e
teses a inclusão do aluno com TEA? Que materiais e instrumentos de produção de
dados foram utilizados? Quais são os autores utilizados nas pesquisas analisadas?
Que conceitos emergem das análises dos trabalhos? Quais conclusões os
pesquisadores extraem de suas pesquisas?
Trabalhando com o problema da minha pesquisa, que é: Como os
pesquisadores do campo da educação, em suas dissertações e teses, abordam e
problematizam a inclusão do aluno com TEA na escola regular? e como objetivo
geral: Analisar e problematizar como pesquisadores, em suas dissertações e teses,
abordam o tema da inclusão do aluno com TEA, na escola regular. Os objetivos
específicos: conhecer os saberes que justificam as conclusões observadas pelos
pesquisadores desenvolvidos com alunos com TEA na escola regular e identificar
como os pesquisadores da educação analisam a inclusão dos alunos com TEA. E
explico que, consequentemente, escolho, assim, trabalhar com as produções
acadêmicas relacionadas à temática da inclusão do aluno com TEA.
No quinto capítulo, os resultados e discussões dos excertos extraídos das sete
dissertações e quatro teses. Elucido as percepções e reflexões dos pesquisadores
24
1 Locução adverbial. Para sempre; que não tem fim; que dura eternamente; de modo eterno, sem fim,
infinito; eternamente: juiz assegura que o político foi banido ad aeternum da função pública. Etimologia
(origem de ad aeternum). Do latim ad 'para' + aeternum 'sempre. (DICIO, 20--).
25
pública2.
Um pensamento que atuou fortemente no decurso das duas primeiras décadas
do século XX, período no qual o Brasil vivenciava uma série de transformações
político-sociais que resultaram em mudanças no panorama educacional também,
marcado pelo não acesso à escola pelas classes mais populares, o que gerou um
sistema dualista (voltado à elite e grande parcela da classe média).
Aranha (2012) afirma que as mudanças no cenário educacional apontaram que
as escolas primárias públicas iniciaram o seu processo de popularização entre as
décadas de 1920 e 1930, juntamente com o momento em que os aspectos
psicopedagógicos da educação sofreram forte influência das reformas do sistema
educacional, acima de tudo, a implementação do movimento escolanovista, o qual
visava superar o viés tradicionalista através de um ensino público, laico e gratuito –
“único meio de efetivo de combater as desigualdades sociais da nação” (MENDES,
2010, p. 96).
Por isso, é exatamente sob essas circunstâncias acima que a visão psicológica
foi inserida no contexto escolar. Essa inserção permitiu a realização de testes de
inteligência, exatamente para identificar os “deficientes intelectuais”. Com os
resultados em mãos, os estados passaram a olhar com mais “atenção” a esse público
e a pensar alternativas para auxiliar a prática dos professores que atuavam
diretamente com eles e atender às novas demandas. Entrementes, Mendes (2010)
destaca que surgiram as primeiras instituições para crianças excepcionais por volta
de 1940, a exemplo, o Complexo Educacional da Fazenda do Rosário (MG), mantido
pela Sociedade Pestalozzi, e a Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais
(APAE), criada no Rio de Janeiro, em 1954, tendo como pauta educativa a defesa da
diminuição das desigualdades sociais.
2 Para Boarini (2003 apud MENDES, 2010, p. 95), “o higienismo constituiu-se num forte movimento, ao
longo do século XIX e início do século XX, de orientação positivista, formado por médicos que
buscavam influenciar o Estado para obter investimentos e intervir não só na regulamentação de
assuntos relacionados especificamente à área de saúde, mas também no ordenamento de muitas
outras esferas da vida social”.
27
3 Segundo os dados de Jannuzzi (1992 apud MENDES, 2010, p. 98), no período compreendido entre
os anos de 1950 e 1959 foram identificados cerca de 190 estabelecimentos. Sendo que, desses, a
maioria (77%) eram públicos e em escolas regulares.
4 Campanha para Educação do Surdo Brasileiro (CESB), em 1957; Campanha Nacional de Educação
e Reabilitação dos Deficitários Visuais (CNERDV), em 1958; Campanha Nacional de Educação do
Deficiente Mental (Cademe), em 1960 (MENDES, 2010, p. 99).
28
[...] partem do princípio de que todos devem ter acesso, desde o princípio, à
educação e à vida social. Podemos perceber que tal entendimento está
marcado por um caráter oposicional-binário entre inclusão e exclusão. Estar
dentro das redes/espaços sociais e educacionais pressupõe não estar do
lado de fora deles. (LOPES; FABRIS, 2017, p. 69).
Sendo assim, pensar a inclusão escolar como o único sentido de unir “todos”
em um mesmo espaço pode ser um pensamento ingênuo, que não é suficiente para
pensar a inclusão. Estar dentro da escola, na convivência com “todos”, é estar também
fora dela, o caráter oposicional-binário é o processo de in/exclusão que vem nos dizer
que a experiência com o “todos” no tempo e no espaço da “escola inclusiva” em suas
“práticas homogeneizadas" só reforça sujeitar o aluno a um disciplinamento do corpo,
não de saberes, e que as diferenças precisam ser corrigidas para que se efetive,
verdadeiramente, a educação escolar.
Em toda essa rede de sentido da discursividade gerada, “há a necessidade de
se pensar e se discutir sobre o que não é olhado, sobre o que está silenciado. Discutir
o que parece sutil e insignificante, mas que age, marca, condiciona, subjetiva” (ROOS,
2007, p. 74). As questões de inclusão ultrapassam a verificação da aprendizagem em
aspectos pontuais ou mesmo o pensamento de uma educação reguladora, que se
constitui com o objetivo de “corrigir”. É necessário olhar as questões políticas
pedagógicas que envolvem todo o processo dinâmico e cambiante de inserção dos
alunos com deficiência na escola regular.
Nesse ínterim, de 1990 a 1994, alguns documentos pertinentes à educação das
pessoas com deficiência são elaborados, a Declaração Mundial de Educação para
31
técnica adequada, recursos educativos dentre outros” (BRASIL, 1996), com o intuito
de trazer todos a participar de pensamentos e práticas da escola regular.
Mesmo com as Diretrizes, a escola continuava sendo vista “como um espaço
que incentiva a homogeneização dos sujeitos, um espaço que valoriza a avaliação
padronizada, impossibilitando que a educação inclusiva aconteça de modo eficiente”
(RECH, 2010, p. 147). E, em prol de uma melhoria desse processo, em 2001, foi
elaborado o documento das Diretrizes Nacionais para a Educação Especial na
Educação Básica, aprovado na Resolução nº 02/2001, que Institui Diretrizes
Nacionais para a Educação Especial na Educação Básica, contemplando ações mais
inclusivas a esse público.
Todavia, apenas com a Convenção sobre os Direitos das Pessoas com
Deficiência, elaborada pela ONU, em 2006, e que entrou em vigor em 2008, com a
Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva Inclusiva, as diretrizes
inclusivas foram se consolidando. De acordo com Fröhlich (2018), a Política Nacional
de Educação Especial na Perspectiva Inclusiva, de 2008, promeveu
(...) uma interlocução entre escola comum e Educação Especial. Além disso,
teria propiciado o aumento significativo das matrículas nas escolas comuns
da rede pública, indicando a escola comum como um espaço possível para a
escolarização das pessoas com deficiência. (FRÖHLICH, 2018, p. 65).
Art. 1º Esta Lei institui a Política Nacional de Proteção dos Direitos da Pessoa
com Transtorno do Espectro Autista e estabelece diretrizes para sua
consecução.
§ 1º Para os efeitos desta Lei, é considerada pessoa com transtorno do
espectro autista aquela portadora de síndrome clínica caracterizada na forma
dos seguintes incisos I ou II:
I – deficiência persistente e clinicamente significativa da comunicação e da
interação sociais, manifestada por deficiência marcada de comunicação
verbal e não verbal usada para interação social; ausência de reciprocidade
social; falência em desenvolver e manter relações apropriadas ao seu nível
de desenvolvimento;
II – padrões restritivos e repetitivos de comportamentos, interesses e
atividades, manifestados por comportamentos motores ou verbais
estereotipados ou por comportamentos sensoriais incomuns; excessiva
aderência a rotinas e padrões de comportamento ritualizados; interesses
restritos e fixos.
§ 2º A pessoa com transtorno do espectro autista é considerada pessoa com
deficiência, para todos os efeitos legais. (BRASIL, 2012).
buscam levar em consideração o contexto dos alunos com TEA, considerando a luta
que enfrentam para serem incluídos. Igualmente, destacam-se as circunstâncias de
discriminação que esses sujeitos enfrentam, assim como as dificuldades de se
adequarem a uma escolarização dita como inclusivas na escola regular.
O governo brasileiro prosseguiu em seus avanços legais e, em 2015, publicou,
no Diário Oficial da União, a Lei nº 13.146/2015 e, em seu artigo 1º, estabeleceu:
O referido Estatuto propõe a garantia dos direitos das pessoas com deficiência,
focando na acessibilidade e cidadania, impondo, com ele, as penalidades para quem
infringir o disposto na legislação.
Em 2020, foi implantada a Lei nº 13.977 ("Lei Romeo Mion"), que institui a
Carteira de Identificação da Pessoa com TEA (Ciptea), visando a atenção integral,
atendimento prioritário e imediato no acesso aos serviços públicos e privados,
principalmente nas áreas de saúde, educação e assistência social (BRASIL, 2020).
Não posso negar que muitos avanços no que tocam às leis e políticas de
inclusão vêm ganhando notoriedade ao longo das décadas, no Brasil. Frente a isso,
questões importantes reverberam quando a discussão gira em torno da inclusão dos
alunos com TEA na escola regular. Não somente ao que se refere aos seus direitos
de frequentarem uma escola regular, e sim como a inclusão desses alunos vem
acontecendo, independentemente das suas deficiências, e que possibilitem sua
permanência na escola regular, seu progresso acadêmico de aprendizagem e
socialização.
Sigo, na seção seguinte, com teorizações do TEA, trazendo conceitos e
características mais pontuais de forma a levar a pensar o processo inclusivo.
[...] importante manter aceso um debate relativo aos efeitos daquilo que
temos feito quando afirmamos que estamos “incluindo”. Inegavelmente, o
direito à matrícula dos alunos com deficiência nas escolas regulares está
efetivado e garantido, mas mais inegável ainda é o fato de que o direito tão
defendido ultrapassa a possibilidade de partilha de um espaço físico.
(MENEZES, 2014, p. 2-3).
Conforme a autora, a lei, por si só, não garante uma ação inclusiva, e o fato
desses alunos estarem em um mesmo espaço não significa que eles se sintam
incluídos. Na ação inclusiva, no caso específico do aluno com TEA, além da sua
matrícula, é importante sua permanência, aprendizado e socialização. Por esse
motivo, a atuação de um apoio pedagógico especializado pode ser importante, pois é
a partir dessa prática e do envolvimento de todos os profissionais que fazem parte da
equipe escolar que há viabiidade em pensar um ambiente que rompe com o
preconceito cultural existente entre os alunos com TEA.
Cunha (2016) realça que o primeiro passo para o professor aplicar sua prática
com um aluno com TEA na escola é conhecer o aluno com base na observação, na
avaliação e na mediação. E cada uma dessas etapas ocorre de modo distinto, exigindo
40
Nas últimas décadas a inclusão tomou força de lei. Hoje a proclamamos como
um direito de acesso e de permanência com dignidade nos espaços
reservados para alguns. As razões de tais espaços terem gestado são vários,
mas o que interessa aqui é a riqueza dos grupos que hoje lutam para estar
participando e vivendo da escola, no mercado de trabalho, nos centros
urbanos, no campo. Sem limites de fronteiras, nossos excluídos são em
número maior que os nossos incluídos. (LOPES, 2007, p. 17).
É importante sublinhar que a luta por inclusão, no Brasil, inicia-se não apenas
na visão de deficiência, e sim de uma forma geral. Há excluídos sociais que, durante
muito tempo, ficaram fora do projeto social e econômico do país, sendo, a maioria,
legada à pobreza,à exclusão racial, sobremaneira dos negros, e que se amplia para o
aspecto social e econômico, dentre outros atores sociais brasileiros que ficaram às
margens desse projeto nacional, como as mulheres, os camponeses os grupos
indígenas, os homossexuais etc.
A lógica da inclusão se encontra muito atrelada aos processos normativos e
42
Neste intuito de cada vez mais naturalizar a inclusão, corre-se o risco de não
se conhecer as tramas históricas que possibilitaram com que, hoje, a inclusão
se efetive como este princípio mais justo, mais humano e, também,
salvacionista. Portanto, olhar para trás, para os movimentos que
desencadeiam a inclusão escolar, nos auxiliam na compreensão de outras
possibilidades para a constituição dos espaços escolares. Nos faz pensar em
outras trajetórias possíveis para produção dos sujeitos.
Quero deixar claro que não estou criticando a inclusão quando a questiono,
entretanto, problematizando que a política inclusiva a qual estamos vivenciando tem
uma construção histórica e temporal, com finalidades específicas que, por vezes,
podem favorecer ações de inclusão e exclusão. Consequentemente, a inclusão passa
a ser exclusão dentro de um sistema que deseja fazer “o diferente” ter um caráter
homogeneizante e, mais uma vez, ser passível da compreensão de que incluir é
simplesmente buscar uma educação para pessoas com deficiência, incluí-las em
salas de aula regulares e mobilizar práticas educativas em que todos aprendem de
formas iguais. Na contemporaneidade, em nada surpreende que o pensamento de
uma prática pedagógica de inclusão traga como resultado uma prática excludente,
44
Se o espaço de inclusão vai além da escola, discutir o currículo não deve ser
algo limitado ao âmbito escolar, portanto, faz-se indispensável pensar mais adiante
dos muros da escola. Analisar práticas de inclusão não exclusivamente aos diferentes,
todavia, de todos os alunos, em todas as esferas escolares. Limitar as normativas ao
campo da escola é, também, limitar as contribuições dos sujeitos em diversos campos
da vida humana.
Sem embargo, a atenção centra-se na inclusão escolar dos alunos com TEA e
45
Abordar a temática inclusão escolar sobre todos os pontos não é uma tarefa
fácil. Pude ver isso quando realizei uma análise sobre in/exclusão atrelada ao mesmo
processo. Trazer esse discurso para o ambiente escolar faz com que o tema se torne
mais complexo, até porque deve-se levar em conta todos os sujeitos envolvidos, as
normas estabelecidas, saberes, currículos, propostas educacionais e escolares.
Nos capítulos anteriores, apontei como esses movimentos em benefício de uma
educação inclusiva foram se constituindo ao longo das décadas, e algumas
percepções a esse respeito foram percebidas nesse ínterim e nas pesquisas
estudadas.
Nas pesquisas analisadas, algumas se assemelhavam por um discurso da
inclusão escolar como ação solidária, um favor ao aceitar o aluno com deficiência na
sala de aula. Em outras, os professores tinham a concepção da inclusão como direito
e garantia ao aluno, porém, o que se observou foram quadros que não possibilitavam
ver o aluno como sujeito de aprendizagem e capaz de desenvolver suas
potencialidades. Outras entendiam que o processo inclusivo se dá em proveito do
discente frequentar a escola e conviver com os demais em função da socialização e
integração. Apenas uma das pesquisas analisadas buscou problematizar a inclusão,
apreendendo como uma ação que pode incluir e excluir e que não é vista como algo
que tenha um fim em si mesmo.
Em harmonia com as pesquisas de Hatteg e Klaus (2014), e através de estudos
feitos pelo grupo de Estudos e Pesquisas em Inclusão (GEPI/UNISINOS/CNPq), o
processo inclusivo não se justifica somente vantajosamente à socialização e
convivência desses sujeitos com os demais, à produção da aprendizagem, colocando
em prática metodologias de ensino que contemplem as especificidades e
potencialidades desse sujeito para produzir a aprendizagem. Investiga a inclusão
escolar como algo que se naturaliza como um imperativo, compreendendo que não
existe um local de chegada, mobilizando esse movimento a um processo de
in/exclusão, pois são tensões que se movimentam permanentemente. “As pesquisas
realizadas no GEPI entendem que a inclusão não pode ser vista como um lugar de
chegada, como um bloco homogêneo de ações que, se colocadas em prática,
47
Precisamos ter saber sobre aqueles com os quais trabalhamos. Saberes que
vão além da minha leitura sobre as condições de vida de meus alunos, ou
seja, preciso de saberes que me possibilitem trabalhar desencadeando
processos de aprendizagens.
5 A revisão bibliográfica foi o primeiro exercício realizado para mapear as pesquisas e, posteriormente,
selecionar os documentos que conversam com o campo temático.
6 As buscas pelas pesquisas foram realizadas através dos filtros de refinamento em cada sessão de
busca da CAPES: Ano: De 2012 a 2020 – Tipo: Mestrado e Doutorado – Grande Área De
Conhecimento: Ciências Humanas – Área De Conhecimento: Educação – Área De Concentração:
Educação – Nome Do programa: Educação – Instituição: Todas.
52
trabalhos que focavam a questão da inclusão e prática pedagógica com o aluno com
TEA, na escola regular do Ensino Infantil e Fundamental e, ao fazer isso, do universo
de 56 materiais, ficaram 11 – sete dissertações e quatro teses. Também empreendi a
extração dos resumos e conclusão dos trabalhos que compõem o material a ser
analisado. Então, no Quadro 2, trago os resumos e as vivências (descrições) das
práticas pedagógicas com alunos com TEA na escola regular. A seleção das 11
pesquisas pode ser vista no Apêndice B – Quadro 2 – Narrativas das práticas
pedagógicas no período de 2012 a 2020 – CAPES/MEC (sete dissertações e quatro
teses).
A pesquisa de Ebling (2019) tornou-se guia para refinar a leitura do material de
pesquisa na busca de práticas pedagógicas e dos tensionamentos sobre o vivido. Em
concordância com a autora, “[...] tais tensionamentos, por vezes, apareciam nos
trabalhos de forma explícita e, outras vezes, era possível perceber por meio de jogos
de palavras usadas ao comentarem capacidades individuais dos alunos” (EBLING,
2019, p. 40).
Selecionadas as 11 pesquisas, o investimento passou a ser feito nas leituras
mais aprofundadas dos resumos, conclusões e dos capítulos que os pesquisadores
desenvolviam suas análises após descreverem as práticas pedagógicas com crianças
com TEA, matriculadas na escola regular. Elaborei marcações e posterior extração de
excertos dos materiais que descreviam as práticas pedagógicas utilizadas em sala de
aula. Friso que, nas leituras, o material pouco mostrava descrições dessas práticas,
levando-me a prosseguir, repetitivamente, com as leituras sobre o tema que
investigava, na tentativa de enxergar algo para seguir com meu objeto de estudo e, a
partir da extração de enunciações, percebi que não conseguia extrair descrições de
práticas pedagógicas para responder ao meu objeto de estudo.
Em alguns momentos, houve dificuldade em encontrar, de forma clara, dentro
do trabalho, onde estava a operação do pesquisador sobre seu material. Os
posicionamentos mostravam o que acontecia na escola com crianças com TEA,
todavia, ao serem analisados, não mostravam como tais posicionamentos eram ou
não postos sob suspeita pelos pesquisadores.
Enquanto meu olhar se voltava para o encontro com descrições de práticas
pedagógicas desenvolvidas com alunos com TEA na escola regular, ao mesmo
tempo, procurava outras pesquisas que tivessem seguido a mesma trilha. Muitas são
as investigações que enfatizam a formação de professores, contudo, a que mais se
53
pesquisadores nas dissertações e tese que poderão ser vistos no capítulo seguinte,
que trata dos resultados e discussões.
57
Referência 02 – A fala da professora expressa a pouca leitura sobre o tema autismo, uma vez
que teve acesso via programa de TV. E a professora na sua formação inicial não obteve
informação sobre o autismo. [...]. É importante ressaltar que a escola como um todo
desconhece sobre o que é verdadeiramente o autismo, como sua definição (conceito),
características comportamentais e os métodos educacionais adequados para trabalhar com
os alunos com autismo, que são importantes para receber estas pessoas e poder desenvolver
um trabalho pedagógico com os educandos. (CÉSAR, 2013, p. 56-72).
Referência 05 – [...] constatamos, na fala da professora, Eles demonstraram ter medo de não
conseguir fazer com que os alunos aprendam, medo do julgamento dos outros professores
por ter aceito o aluno em sala; e o mais importante, medo em enfrentar o trabalho pedagógico
com essas pessoas que, por vezes, é marcado pela “falta de capacidade e às vezes de ‘jeito’
para trabalhar com elas foram levantados pelas professoras entrevistadas como fatores de
não aceitação dos mesmos na escola.” (OLIVEIRA, 2017, p. 81).
Referência 05 – As duas professoras foram enfáticas ao dizer que não tiveram formação
adequada para atender o aluno autista, e mesmo que tenham feito leituras, buscando
individualmente informações sobre como desenvolver atividades com a aluna autista, ainda
assim, sentiam-se inseguras algumas vezes. Esta insegurança e o desconhecimento sobre o
autismo, a falta de práticas pedagógicas adequadas para a escola inclusiva e o
desconhecimento de habilidades próprias da aluna, impediram que a inclusão acontecesse.
(OLIVEIRA, 2017, p. 103).
Referência 10 – Na fala de Ana é notável sua tomada de consciência de que não dar conta de
determinadas demandas de sua prática pedagógica e o desconhecimento causa-lhe algumas
angústias. (SOARES, 2016, p. 84).
Referência 04 – Observamos que os desafios com que se depara este aluno, da mesma forma
como comprovada em outras pesquisas já mencionadas, perpassam, dentre outras coisas,
questões como o preconceito das pessoas em aceitar aquela criança e percebê-la como um
cidadão com os mesmos direitos dos demais, a ausência de coletividade da equipe em
colaborar para que o processo de inclusão seja uma prioridade e responsabilidade para todos,
e ainda a falta de preparo dos profissionais como um todo em atender as crianças público
alvo da educação especial. (RODRIGUES, 2015, p. 102).
Referência 10 – Vimos que muitas vezes as possibilidades pedagógicas passam por amarras
que poderiam ser desfeitas numa prática colaborativa, algo que depende do conhecimento e
atitude das profissionais. (SOARES, 2016, p. 152).
Referência 11 – Identificamos, nas falas dos participantes e no diário de campo, que havia
poucos momentos de planejamento coletivo para a construção de planos de trabalhos para
os alunos com deficiência ou transtornos globais do desenvolvimento. [...] O planejamento
coletivo precisava ser (re) significado para avançar na qualidade das discussões
pedagógicas, para além de relatos sobre os maus comportamentos dos alunos ou as
peculiaridades da criança atendida pela Educação Especial. (SANTOS, 2017, p. 116-120).
Referência 11 – Esta pesquisa apontou que é importante que a escola contribua para a criação
de condições que permitam: o planejamento coletivo e individual dos professores; a gestão
democrática; a participação da família; a discussão sobre o currículo; a materialização do
Projeto Político-Pedagógico; a construção de um plano de ação coerente com o contexto
escolar e social; as condições de avaliação, enfim, pontos que compõem a trama
multideterminada da escola. (SANTOS, 2017, p. 184).
5. 2 Socialização: Ad Aeternum
escola regular.
Mas, antes dessa problematização, introduzo alguns conceitos da socialização
na escola. Na perspectiva funcionalista, consideravam o aluno passivo, as técnicas
de treinamento asseguravam a internalização de normas, regras, valores individuais,
moral e costumes que eram assimilados da família, comunidade e escola. Essa era a
forma dos alunos se integrarem à sociedade, um “esforço contínuo para impor às
crianças maneiras de ver, de sentir e de agir às quais elas não chegariam
espontaneamente” (DURKHEIM, 1974, p. 5)
Pensar a socialização como elemento permanente do processo educativo exige
abandonar as concepções tradicionais, que tinham, por exemplo, a socialização com
fatores a serem alcançados, quais sejam: adaptação e internalização, “uma educação
normativa e moral que deveria assentar a unidade entre indivíduo e sociedade, ambos
concebidos como duas faces de uma mesma a realidade” (SETTON, 2003, p. 338).
O desenvolvimento social estaria condicionado a esses elementos que, de
maneira harmônica, a escola tenta materializar, é uma relação passiva do agente
social, tendo, a escola, o papel de equipar o aluno para não ocorrer atritos entre os
valores institucionais e individuais. O professor, sendo o adulto nesse contexto, é o
responsável pela socialização, quem introduz o universo escolar de forma mais
elaborado.
O conceito de socialização no qual me amparo para desenvolver algumas
teorizações parte da concepção sociológica, com uma visão mais contemporânea,
conceituando a importância da negociação, apropriação e reinvenção para criação de
espaços coletivos de trocas em que a escola e o aluno têm condição de dialogar,
questionar e escolher junto com o professor, pois “as combinações de lógicas de ação
que organizam a experiência social do indivíduo moderno não tem centro, não
assentam sobre nenhuma lógica única ou fundamental” (SETTON, 2003, p. 343).
Sendo assim, tomo como alicerce um contexto amplo da socialização para conversar
com conceitos mais estreitos da socialização escolar do aluno com TEA.
Nessa linha, começo a denominar de conjunto analítico Socialização: ad
aeternum, de “que não tem fim” a socialização. Proponho-me a refletir e questionar
acerca do papel da escola enquanto espaço de aprendizagem escolar, estudo e
prática para esses alunos, e não somente um espaço de socialização que trabalhe
cuidados, normas e regras a serem seguidas para o controle de comportamentos.
Pensar a escola enquanto espaço social e de aprendizagem, que provoca interações
64
pequenos suspiros para experiências com o TEA, dentro desse processo educativo
da escola que precisa incluir a pessoa com deficiências.
Nesse viés, a concepção naturalizada, herdada do prisma histórico, cultural e
reducionista que se sustenta, ainda hoje, em reduzir esse aluno à sua condição
biológica, sem qualquer condição de atuar no mundo, parece ser o que vem
justificando o modelo escolar de educar o aluno TEA, como comprovam os excertos
abaixo:
Referência 06 – Através de relatos das entrevistas, pode-se perceber que a chegada do autista
na escola, muitas vezes implica em trabalhar a socialização para posterior aprendizagem,
como visto nas respostas obtidas no questionamento. (VECCHIA, 2017, p. 48).
Referência 06 – Inserir essa criança com Autismo na cultura com os prejuízos nas relações
sociais, linguagem, dentre outros, não é uma tarefa simples. [...] percebe-se que as
professoras demonstravam uma preocupação no seu trabalho e que, antes de inserir qualquer
conteúdo para as crianças com Autismo, foi necessário socializá-las com a escola, os
colegas, os funcionários e a sala de aula. (VECCHIA, 2017, p. 66).
[...] o professor amoroso que não permite que os alunos se escondam por
trás das histórias de fracasso ou inépcia que contam sobre si mesmo ou os
outros contam sobre eles. Em suma, o professor amater ama sua matéria e
acredita que deve ser dado a todos, repetidas vezes, a oportunidade de se
engajarem na matéria que ele ama. (MASSCHELEIN; SIMONS, 2018, p. 84).
Referência 05 – Diante das narrativas das professoras, ficou evidente que não existe uma
preocupação com relação à aprendizagem dos conteúdos curriculares, referentes ao 5º ano
pela aluna. O objetivo primordial das professoras durante o ano de 2016 foi promover a
socialização da aluna. Porém, não percebemos durante nossas observações em sala
nenhuma atividade, mecanismos ou esforços para que essa socialização acontecesse com
os colegas de classe da aluna. (OLIVEIRA, 2017, p. 108).
Referência 05 – A professora fala das limitações da aluna tanto para a socialização quanto
para a aprendizagem, “é muito limitado essa coisa de inserir ela nas atividades junto com
os colegas”. Por um lado, a voz da professora evidencia que o trabalho pedagógico
direcionado à aluna autista pouco ou em nenhum momento tem uma intencionalidade que
de fato coloque-a em um lugar privilegiado. Por outro lado, também não a insere as
atividades desenvolvidas pelos outros alunos. (OLIVEIRA, 2017, p. 79).
importante conquista.
Referência 09 – A leitura desses fragmentos evidencia que a interação dos alunos com os
colegas é observada pelas professoras e é parte das práticas escolares produzidas no
processo de inclusão. Os relatos das docentes demonstram a importância, por elas atribuída,
aos processos de socialização no desenvolvimento das crianças. (GUARESCHI, 2016, p. 158).
Referência 06 – Nota-se que a inclusão para crianças com autismo, mesmo que a passos
lentos, traz resultados positivos tanto para a própria criança quanto para as crianças que
estão a sua volta. Fica claro nas respostas da professora Maria a evolução deste aluno que
ela já acompanha há três anos, não só na socialização, mas também na aprendizagem. Este
aluno foi observado e, durante o período de observação, foram visíveis estas questões.
(VECCHIA, 2017, p. 61).
Referência 9 – Os relatos das docentes demonstram a importância, por elas atribuída, aos
processos de socialização no desenvolvimento das crianças. (GUARESCHE, 2016, p. 158).
de ampliar ou fortalecer o que já existe nesse aluno, faz com que o professor consiga
perceber em sua prática de socialização algo potencialmente interessante a
apresentar ao aluno, diferente de normas de convívio em sociedade. “Formar e educar
uma criança não é uma questão de socialização e não é uma questão de garantir que
as crianças aceitem e adotem os valores de sua família, cultura ou sociedade”
(MASSCHELEIN; SIMONS, 2018, p. 97). Trata-se de formar e educar em que o
período da socialização seja uma experiência de um tempo para apresentar,
experimentar, se constituir de outros modos de ensinar.
Os processos de socialização no contexto escolar do autista têm um peso na
aquisição de condutas aceitáveis socialmente. A socialização é para o
desenvolvimento de habilidades sociais corretas para a convivência social, isto é,
“toda a conduta social é regulada socialmente, no sentido de que o grupo social
considera adequadas determinadas formas de agir e outras, impróprias” (BORSA,
2007, p. 3).
A escola possui uma lógica que opera na direção de socializar
homogeneizando condutas, com suporte no que o mundo vai esperar que seja feito,
para, assim, todos serem integrados nos espaços que ocupam, “uma vez que, esta
trata de maneira igual àqueles considerados diferentes socialmente, seja no que se
refere aos direitos como aos deveres. Nesse sentido, a escola acaba por privilegiar os
que por sua herança cultural já são privilegiados” (GOMES; AIRES, 2018, p. 4). E,
nisso, o acesso ao conhecimento só é para alguns, denunciando que têm outros,
alguns sendo escolhidos para pertencer ao universo escolar.
A garantia da inclusão, provavelmente, passe pela ruptura da homogeneização.
Pensar na escolarização do TEA é problematizar o espaço pedagógico instituído ao
longo da história para, daí, ter novas práticas de incluir e escolarizar com dimensões
como acesso e permanência aos conteúdos escolarizados. A escola vem legitimando
as formas e tempos para o TEA que só fortalecem suas limitações pessoais e
intelectuais. Isso porque se reduziu o aprender dentro de uma “concepção
naturalizante e reducionista de aprendizagem e desenvolvimento, a pessoa com uma
deficiência ou transtorno foi por muito tempo estigmatizada em suas condições e
possibilidades de atuar no mundo” (LUCKOW; CORDEIRO, 2019, p. 175).
Os pesquisadores notam que os conteúdos escolares são silenciados pelos
professores e não parece ser a pauta dessa formação com o aluno com TEA. A pauta
de formação acaba sendo a socialização. Os excertos destacados nessa investigação
71
O desejo da correção das inabilidades sociais dos alunos com TEA a partir da
sua socialização ad aeternum é uma tentativa da hegemonia da normalidade na
escola para todos, pois “o indivíduo a corrigir aparece com a ideia de incompletude e
é colocado como um problema que precisa ser corrigido” (ARNOLD, 2007, p. 103).
72
aluno com TEA, objetiva forçá-lo a desenvolver atividades comum a todos como forma
de aproximá-lo da normalidade, mesmo já chegando à escola testado e diagnosticado
para classificar qual atividade pode realizar. Essas tentativas são para “identificar um
sujeito com deficiência que não se constitui como um completo anormal, mas com
diferentes normalidades” (FRÖHLICH, 2018, p. 196). Esse é um processo de
escolarização do aluno com TEA, que tenta aproximar, fazendo as adaptações, dado
que a condição de “normalidade permite mudanças, pois atende, de certa forma, às
necessidades e condições dos sujeitos” (FRÖHLICH; LOPES, 2018, p. 999). Essas
podem ser estratégias de normalidade que podem camuflar as deficiências e
aparentar inclusão.
74
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
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de 1° e 2º graus, e dá outras providências. Brasília/DF, 1971. Disponível em:
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78
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81
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escola. Canoas: Ed. ULBRA, 2007. p. 65-87.
DISSERTAÇÕES
6 O foco do trabalho, porém fica Fica bem claro que uma das
FONTOURA, Deise da por conta do papel do desenho melhores formas de lidar com a
Silva. A contação de como mediador no educação inclusiva é não
histórias e o desenho desenvolvimento do exercício colocando-a dentro de um rótulo e
mediados por CAA simbólico da criança com forma única, não pensando que
como estratégias Autismo. Trouxe nesse trabalho todos os alunos com deficiência
pedagógicas no a prática pedagógica do desenho são iguais. Através de estudos com
desenvolvimento da como catalisador desse processo alunos autistas muitas
simbolização da criança com o auxílio também das conceituações gerais são
com TEA: um estudo de narrativas de histórias infantis descartadas em parte, a exemplo a
caso. Mestrado em que contemplem o universo e o premissa das dificuldades de
Educação, Universidade contexto social dos sujeitos. simbolização desses alunos, em
Federal Do Rio Grande Unindo essas duas práticas parte, rejeitada neste estudo. O
Do Sul, Porto Alegre, pedagógicas, desenho e jogo simbólico mostrou-se eficaz no
2018. contação de histórias pretendi presente trabalho, quando a ação
incentivar no sujeito de pesquisa de contação de histórias, aliada aos
o desenvolvimento do seu desenhos, mostrou-se eficaz e
processo de simbolização, pertinente. Por isso, delineia-se o
esperando sempre que o entendimento da necessidade de
exercício simbólico pudesse cada vez mais ações específicas
auxiliar na sua comunicação com com cada aluno, no sentido de que
auxílio do CAA. [...] Talvez a a educação inclusiva seja efetiva.
criança com Autismo realmente
tenha uma dificuldade no jogo de
faz de conta tradicional com
outras crianças onde cada um
interpreta um personagem, mas
penso que isso não quer dizer
que eles não façam a mesma
coisa sozinhos, isso só
demonstra que sua dificuldade
está na interação social e não na
imaginação e que talvez não
exista uma relação real entre as
duas coisas. Isso tudo são
apenas elucubrações e não é
86
organização e formação específica para atuar uma educação inclusiva. Para isso,
funcionamento das nas SRMs, apenas um finalizou é fundamental que o AEE funcione
salas de recursos o curso específico de AEE e dois e que tenha vínculos com toda a
multifuncionais aos professores estão cursando. escola, possibilitando
educandos com Autismo Quanto às “Parcerias”, os esclarecimento quanto às melhores
na rede municipal de professores das SRMs relatam práticas e atuação coordenada no
Manaus. Mestrado em como acontece e quais as sentido do crescimento e
Educação, Universidade dificuldades em manter a colaboração das práticas de
Federal do Amazonas. Articulação pedagógica com os inclusão.
Manaus, 2018. professores das Salas Comuns.
Os professores das classes
comuns também reafirmam essa
lacuna na parceria, reduzidas
somente a conversas informais.
No que se refere ao
Envolvimento das famílias, de
acordo com os professores, a
maioria dos pais é participativa.
Porém, alguns poucos não
estabelecem relações. Os
elementos problematizados
neste estudo explicitam
compreensões de que o
processo de inclusão, através do
Atendimento Educacional
Especializado, perpassa pela
organização e funcionamento
das Salas de Recursos
Multifuncionais (SADIM, 2018, p.
74).
Alternativa e Ampliada: adulta, contribuindo, ainda que escolar efetiva de alunos com
Um recurso para discretamente, para uma faceta Transtorno do Espectro do Autismo
favorecer o desempenho da inclusão, no ambiente da (TEA). Para isso é preciso integrar
ocupacional de jovens instituição e, fazendo repercutir as medidas entre casa e escola,
com Transtorno do na casa. Não obstante, quando bem como, principalmente,
Espectro Autista. verificados os efeitos da coordenar as ações a serem
Mestrado em Educação, intervenção nos PAs, o estudo realizadas no percurso de ensino
Universidade Do Estado mostrou que houve uma escolar, como estratégia destaca-
Do Rio De Janeiro. Rio de mudança significativa no se a comunicação alternativa
Janeiro, 2016. desempenho ocupacional deste, ampliada, que colabora para o
fazendo uma ligação direta com desempenho ocupacional dos
a interação e comunicação, já estudantes envolvidos, e
que a dimensão comunicativa é consequentemente a ampliação
ilimitada e, logo é capaz de dos aspectos de seu ganho escolar.
imperar em qualquer situação,
desde que haja, no mínimo duas
pessoas (LIRA, 2016, p. 100).
influência nas efeitos dessa intervenção tanto diagnóstico for realizado para que
habilidades sobre a criança, como sobre o as intervenções médicas e
comunicativas e empoderamento parental. escolares sejam devidamente
interativas da criança Conclui-se que o programa de desenvolvidas. Nesse percurso, o
com Transtorno do orientação a pais teve um efeito empoderamento familiar é
Espectro Autista e no positivo sobre as habilidades fundamental, tendo em vista que as
empoderamento sociocomunicativas da criança, ações da família devem estar
parental. Mestrado em observado através do aumento coordenadas em conjunto com os
Educação, Universidade na frequência de demais profissionais que atuam em
Federal De Santa Maria. comportamentos de benefício dos alunos com TEA.
Santa Maria, 2016. compartilhamento de tópicos, Assim, os pais devem também ser
atenção compartilhada e foco das ações do ensino escolar,
contatos afetivos entre a díade. tendo em vista que o que fizerem
Além disso, observou-se que o em muito contribui com a
nível de empoderamento aprendizagem e desenvolvimento
parental mostrou-se maior após dos alunos, e dos pais de um aluno
a implementação das com essa especificidade.
orientações do que antes delas.
É importante destacar que a
literatura apresenta uma ampla
gama de possibilidades de tipos
de intervenções centradas nas
famílias e programas de
orientações a pais, os quais
apresentam diferenças
conceituais e operacionais
bastante distintas. Por exemplo,
alguns estudos entendem que a
família, para auxiliar no
desenvolvimento do filho,
necessita essencialmente a
aquisição de conhecimento
técnico de intervenções
(OLIVEIRA, 2016, p. 54).
classificatório e instrumentalista
(FREITAS, 2015, p. 157).
TESES
a cada instituição
(GUARESCHI, 2016, p. 165,
166).
ciência e a apropriação
conceitual. Salvo iniciativas
isoladas e precursoras que
podem ser constatas no
atendimento educacional de
alunos ao longo da história
brasileira. Acreditamos que
diante da hegemonia do
capital e de desigualdade
posta, a educação deve atuar
na instrumentalização
científica para essa classe
minoritária. Esse reforço é
imprescindível, para que a
escola não minimize suas
ações a conhecimentos
espontâneos (DAMBROS,
2018, p. 114).
DISSERTAÇÕES
RESUMO:
Pinto (2013) propôs, em seu estudo, analisar as práticas pedagógicas direcionadas a um educando do
primeiro ano do Ensino Fundamental em uma escola pública municipal de Cariacica. Identificando
quais as concepções que os educadores possuíam acerca da temática do Autismo e da educação
inclusiva, e observar as relações estabelecidas entre educadores e educandos, bem como os aspectos
da socialização do sujeito com os demais colegas de turma e professores. O estudo de foco
fenomenológico se desenvolveu a partir de uma abordagem qualitativa, cuja metodologia se baseou
no estudo de caso fenomenológico. Como instrumentos de coleta de dados, utilizou-se análise
documental e registro fotográfico. Os resultados obtidos a partir de entrevistas semiestruturadas e
registro de diário de campo, na referida escola, apontaram que a proposta da educação inclusiva ainda
passa por muitos desafios e constataram um grande desconhecimento a respeito do Autismo, reduzido
numa visão estereotipada do sujeito, ainda, um baixo investimento nas relações com o educando nos
momentos lúdicos. Considerou a necessidade de um planejamento sistematizado do professor e de
prática educativa direcionada ao educando com Autismo, a necessidade de uma prática pedagógica,
através da observação e registro rigoroso do cotidiano vivido no contexto escolar, para que se possa
conhecer as suas necessidades.
PROFESSORES:
Aula Professor Thales (Ed. Física)
João participou da brincadeira, inclusive tendo a oportunidade de jogar a bola também. O
segundo jogo era formado pela organização das crianças em roda e o professor ao centro, passava a
corda em movimentos giratórios e as crianças tinham de pular para não deixar que a corda encostasse
em seus pés. Cada aluno que pisasse na corda deveria ir para o centro da roda e assumir o lugar do
professor para girá-la. João, por ter pisado na corda algumas vezes teve também de ir para o meio da
roda e comandar a brincadeira, que realizou sem muita dificuldade.
Em seguida, o jogo proposto pelo professor foi o de pular corda e João novamente participou
da brincadeira realizada sempre em duplas: duas crianças pulavam juntas a cada vez. Após este jogo,
o professor distribuiu a bola para o grupo dos meninos e a corda para o de meninas. Neste momento,
João se aproximou de mim, que estava sentada na arquibancada da quadra, e sentou-se no chão para
calçar suas sandálias. Ao chamar por ele, o mesmo se encaminhou em minha direção e sentou-se ao
meu lado. Perguntei-lhe por que não queria mais brincar com os colegas, e ele disse apenas que não
queria; e, vendo que estava com a câmera nas mãos fotografando a turma na aula, olhou-a com
interesse, então perguntei: “você sabe tirar foto?” E ele disse: “sei…”, novamente falei: “quer tirar fotos
dos colegas brincando, eu te ensino…”, assim, vendo que ele queria, dei a câmera em suas mãos e
mostrei onde devia apertar para bater a foto. Ele bateu duas fotos e logo atraiu a atenção de outros
colegas que demonstraram interesse em tirar fotos também. (Diário de campo dia 06/08/12).
Em outra ocasião da aula do professor Thales, devido à agitação da turma, o professor decidiu
permanecer em sala de aula com os alunos. Então, pegamos diversos jogos, como jogo da memória,
de encaixe, entre outros, para as crianças brincarem. O professor dividiu a turma em grupos e distribuiu
os jogos. Em dado momento, percebi que os grupos se misturaram e alguns alunos também
desenhavam e pintavam em seus cadernos.
Notei também que o momento que deveria ser de jogos e brincadeiras com os alunos foi
interpretado como uma atividade livre por parte do professor, sem qualquer direcionamento. A
brincadeira foi considerada como algo livre, sem necessidade de nenhuma intervenção de um adulto.
A turma ficou livre para brincar, correr e andar pela sala de aula e, eventualmente, o professor
chamava atenção de um ou outro aluno. Em meio à agitação dos risos e brincadeiras das crianças,
116
estava João, sentado no chão, com algumas peças, que formavam uma espécie de carrinho.
Notei que, mesmo perto dos colegas, João brincava solitário. Após um tempo, o professor
mudou os grupos dos jogos e, desta vez, o educando foi para o fundo da sala e ficou perto de três
colegas, Pedro, Pedro Lucas e João. Observei, junto ao professor, o comportamento do educando:
mesmo brincando perto dos três colegas, não se envolvia na brincadeira deles, continuando a brincar
sozinho. (Diário de campo dia 15/10/12 grifo nosso). (PINTO, 2013, p.113) Professor Thales (Ed.
Física)
de volta à sala. Mesmo propondo outras atividades que Rosiane passava para a turma, João ficou sem
muita vontade de fazê-las. Por fim, realizou uma tarefa de Ciências, que seguia o exemplo da primeira:
uma imagem com perguntas para interpretação da cena observada. João ficou quase todo o tempo
aéreo, sem vontade de fazer nada e com muito sono, reclamando bastante quando pedimos para que
realizasse as atividades propostas. (Diário de campo 28/08/12). (PINTO, 2013, p. 150).
NARRATIVA DA PESQUISADORA:
Em relação às atividades desenvolvidas por Thales, pois, geralmente as situações de
brincadeiras e jogos aconteciam em suas aulas, ele afirmou que João “é muito tranquilo, ele trabalha,
ele brinca do mesmo jeito, ele não tem o mesmo contato com os outros alunos, [...] às vezes ele fica
sozinho” (Diário de campo dia 09/09/12). (PINTO, 2013, p. 114). E endossou a importância de trabalhar
com jogos e sua contribuição para a socialização do educando.
Apesar de afirmar sobre a importância do jogo e da brincadeira para os sujeitos, sobretudo os
sujeitos com Autismo, não percebemos este investimento do qual Thales nos falou, no sentido de um
direcionamento nas atividades lúdicas desenvolvidas pelo educador com a turma. (PINTO, 2013, p.
115).
Acerca dos inúmeros desafios encontrados no espaço-tempo do CEI Esperança que
implicaram (in) diretamente nas práticas pedagógicas realizadas junto a João, está a questão do
acesso ao currículo por parte desse sujeito, algo que, na fala de Selena, seria o mais importante para
ele, naquele momento de sua escolarização. Entretanto, vivenciando a realidade da turma do primeiro
ano B durante três dias na semana, não percebíamos a existência de um planejamento específico ou
de uma prática pedagógica sistematizada que objetivasse o acesso de João aos conteúdos
trabalhados na turma. De forma que as observações feitas a seguir, buscam mostrar como era feita a
intervenção com o educando naquele contexto. (PINTO, 2013, p. 133).
(...)a atividade desenvolvida pelas crianças era dada sem direcionamento algum assim, como
João não sabia exatamente o que fazer naquela situação, a solução encontrada por ele foi pintar as
gravuras contidas na folha da apostila. Existia também certa descontinuidade nas atividades propostas,
pois, Rosiane ajuda as crianças a colarem seus barquinhos feitos de dobradura de papel e, logo em
seguida, pede às crianças para colocarem as apostilas em sua mesa porque passariam às atividades
da disciplina de Português. Nesta ocasião, como cheguei depois na sala, não deu tempo de auxiliar
João na tarefa da apostila, de forma que o mesmo entregou a atividade sem ao menos fazê-la com a
orientação de pegar o caderno de Português, próximo conteúdo a ser trabalhado. (PINTO, 2013, p.
134).
Em relação à prática pedagógica voltada para o educando com Autismo é necessário
pensarmos no planejamento como lugar de organização das ações e práticas a serem desenvolvidas
com os alunos, mesmo por que, para organizar o cotidiano da sala de aula de forma a orientar o
educando para as atividades que serão realizadas bem como o que se espera dele nas diferentes
situações, pressupõe uma prévia organização, sem a qual fica impossibilitado o desenvolvimento de
uma prática sistemática direcionada a esse sujeito. (PINTO, 2013, p. 134).
Apesar de os educadores do CEI demonstrarem certa inclinação a respeito da inclusão e dizer
118
RESUMO:
Cesar (2013), através da sua pesquisa analisou os saberes e práticas de professores frente à inclusão
de alunos autistas em uma escola pública de Belém. Foi feita uma pesquisa de campo e os sujeitos
que compõem a pesquisa foram: 2 docentes do ensino regular e 1 docente que atua no atendimento
educacional especializado da escola pesquisada, na Sala de Recursos Multifuncionais. Foram
evidenciados que a escola como um todo desconhece sobre o que é verdadeiramente o Autismo, como
sua definição (conceito), características comportamentais e os métodos educacionais adequados para
trabalhar com os alunos causando-lhes angústias por esse desconhecimento e fazendo com que não
se utilizassem de práticas específicas para atender as necessidades dos alunos autistas, ocasionando
com que o processo de ensino-aprendizagem não aconteça de maneira satisfatória para esses alunos.
O aluno (autista) não quer saber de brincar ou conversar com os colegas em sala
(PROFESSORA 2). (CÉSAR, 2013, p. 66).
Tá sendo muito difícil conseguir me comunicar com eles, mas estou tentando. Os atendimentos
são individualizados, por isso não sei direito como é o contato com as outras crianças. (PROFESSORA
3). (CÉSAR, 2013, p. 66).
Sinceramente, não entendo sobre inclusão, apenas colocar o aluno deficiente na sala, isso me
pergunto. (PROFESSORA 1). (CÉSAR, 2013, p. 68).
NARRATIVA DA PESQUISADORA:
As falas das professoras são preocupantes porque evidenciam, em primeiro lugar, que
conhecem pouco sobre o trabalho pedagógico com o utismo, na verdade apenas sabem que devem
trabalhar a questão da socialização e o exercício da linguagem. Apesar de pesquisarem não
encontraram muita informação e segundo, que uma das professoras tentou realizar a prática
direcionada ao aluno autista, mas desistiu, não exercendo mais sua função de educadora e sim de
cuidadora. (CÉSAR, 2013, p. 59).
A professora 2 em sua fala destaca que não busca criar estratégias metodológicas para o
atendimento educacional do aluno autista, nem vê resultado no AEE pela professora especializada.
Com isso, não está ocorrendo o processo de inclusão escolar deste aluno, já que a preocupação da
professora é só “cuidar” dele. Enquanto a professora 1 nem se quer consegue orientar seu aluno, pois
participa apenas do cuidar dele. No espaço escolar, as professoras não usam equipamentos
diferenciados para o desenvolvimento de atividades com os alunos autistas. Se a escola possui, as
professoras não usam. (CÉSAR, 2013, p. 63).
Percebemos que a escola, como o sistema educacional como um todo, ainda não está
preparada para receber os alunos com Autismo nas turmas regulares de ensino, pois verificamos que
ainda não tem um mínimo de domínio do que são os Transtornos Globais do Desenvolvimento,
especificamente o Autismo. (CÉSAR, 2013, p. 71).
Observamos que os alunos estão ali, mas as professoras não conhecem metodologias
diferenciadas para atender aquele aluno. Se verificou tentativas de se comunicar e socializar com os
alunos, para que consiga entender e assim promover atividades significativas aos alunos. Mas isso
ainda é um desafio para a comunidade escolar, e vemos o desconhecimento sobre educação inclusiva
ou mesmo sobre as características ou necessidades dos alunos diferentes. (CÉSAR, 2013, p. 71).
É importante ressaltar que a escola como um todo desconhece sobre o que é verdadeiramente
o Autismo, como sua definição (conceito), características comportamentais e os métodos educacionais
adequados para trabalhar com os alunos com Autismo, que são importantes para receber estas
pessoas e poder desenvolver um trabalho pedagógico com os educandos. Diante da realidade
analisada e aqui exposta, propomos que a escola possa oportunizar os meios necessários para
trabalhar com esses alunos, bem como organizar atividades como palestras, minicursos, seminários,
oficinas aos docentes e corpo técnico da escola para que assim a inclusão educativa dessas pessoas
possa acontecer como um direito assegurado pela legislação que rege a educação inclusiva, e não
somente incluir sem proporcionar o suporte pedagógico necessário para efetivamente desenvolver os
alunos com Autismo nas suas capacidades psicológicas, cognitivas e sociais. É necessário também
mais discussões quanto a formação inicial de professores para a educação especial na perspectiva da
inclusão. (CÉSAR, 2013, p. 72).
RESUMO:
Santos (2014) observou e interveio em um estudo de caso, do aluno Lucas de 04 anos, com Autismo
que frequenta a escola comum na educação infantil, o estudo se baseia em uma abordagem descritiva
e qualitativa que objetivou conhecer, descrever e analisar as interações e intervenções do contexto
escolar. Visou também conhecer como os profissionais dessa escola lidam com a inclusão dessa
criança levantando algumas práticas pedagógicas, analisando e refletindo sobre o currículo e sobre as
adaptações necessárias ao aluno na perspectiva da educação inclusiva e segundo o disposto no
currículo da educação infantil nacional. Os resultados apontam para uma prática pedagógica inclusiva,
com conteúdo e estratégias de ensino, que podem promover a aprendizagem significativa de crianças
diagnosticadas com Autismo e que essas crianças podem aprender de maneira significativa, desde
120
NARRATIVA DA PESQUISADORA:
Pode-se observar que Lucas responde às iniciativas de interação propostas pelo professor,
respondendo às solicitações, obedecendo a ordens e brincando: completando frases, inclusive
reconhecendo-se amado pelo professor; acompanhando danças propostas e aceitando brincar quando
solicitado, inclusive em brincadeiras coletivas.
Percebe-se também o uso da interação pelos professores como instrumento de larga dimensão
para se atingir os objetivos propostos em cada atividade. Na sala de aula, fora dos momentos do
ensaio, quando as crianças cantavam a música do Natal que elas estavam ensaiando com frequência,
o Lucas começa a fazer os gestos da dança, como todos fazem na coreografia, durante os ensaios.
(SANTOS, 2014, p. 73).
Pode-se notar que os colegas de Lucas o procuram para tocá-lo, abraçá-lo e beijá-lo. Essas
demonstrações de carinho, Lucas sempre aceitou durante o período de observação da pesquisadora.
(..). Com essas atitudes, os colegas parecem demonstrar que Lucas é parte do grupo, favorecem a
participação dele em vários momentos da rotina da turma, e, ao mesmo tempo, auxilia-o nos momentos
em que precisa ser ajudado. Os colegas de Lucas parecem saber que ele apresenta algumas
necessidades e limitações, mas que isso não os impede de tratá-lo como uma criança igual a eles,
com necessidades de brincar, interagir, cantar, dançar e aprender. (SANTOS, 2014, p. 77).
Pode-se perceber que as atividades planejadas para a faixa etária da sala de aula em que
Lucas frequenta são bastante flexíveis e conseguem contemplar a diversidade presente na sala de
aula. Lucas consegue participar em praticamente todos os momentos propostos na rotina dessa sala,
e conta com a ajuda dos professores e dos amigos quando a atividade exige algum tipo de auxílio
voltado especificamente para ele. Percebe-se, também, que há uma preocupação por parte da escola
em fazer com que Lucas participe e sinta-se realmente parte do grupo de crianças em que está
inserido. Sentar em roda para rezar e reconhecer o crachá (reconhecimento do pré-nome escrito). Ao
ver o seu nome no crachá, Lucas sorri. Participar de rodas de música, cantando, dançando ou fazendo
os gestos das músicas. Lucas participa ativamente. Demonstra uma adoração com atividades de
cantar e dançar, fazendo os gestos das músicas que fazem parte da rotina da sala. Recitação das
poesias que já conheceram, para apresentação aos pais no final do ano. Lucas parece atento e se
aproxima da professora e dos cartazes das poesias. A professora Rita pergunta a Lucas onde está o
jacaré da poesia. Lucas responde com uma ação motora, colocando a mão na figura do jacaré, no
cartaz da poesia correspondente. (SANTOS, 2014, p. 85-86).
A professora traz para a sala uma caixa fechada dizendo que é surpresa, perguntando às
crianças o que pode ter dentro da caixa. Lucas, continua o que está fazendo. Depois de um ou dois
minutos, apresenta a mesma reação das demais crianças, se aproximando da professora e da caixa,
tentando tocá-la, com expressões verbais (sem a fala formal). Uma das propostas da atividade
diversificada é a brincadeira com letras móveis. Lucas brinca da mesma forma que se brinca com
blocos de construção, empilhando-as. Ainda não associa as letras do alfabeto com o seu pré-nome
(primeiro nome), e brinca por menos tempo que os demais. A proposta é trabalhar com modelagem
em artes. A professora apresenta as massinhas e as forminhas. Lucas sorri e emite alguns grunhidos
ao pegar a massinha. Apresenta uma coordenação motora menos elaborada se comparada às das
demais crianças, mas tenta responder aos estímulos. Ana mostra à sua frente como enrolar a massinha
para fazer de conta que é uma minhoca. Lucas tenta fazer igual; ele pega a massinha e ameaça
arremessá-la para longe, mas não o faz quando lhe chamam a atenção. (SANTOS, 2014, p. 88).
É interessante perceber como as professoras se preocupam em saber se Lucas está
assimilando ou não o trabalho proposto, ou de que forma ele está aprendendo e demonstrando isso,
uma vez que a sua fala não se encontra plenamente desenvolvida ou inteligível. (SANTOS, 2014, p.
121
88).
Daí o papel decisivo do professor: ele é o mediador entre o aluno e a cultura através da
significação que atribui ao currículo em geral e ao saber que transmite pelas ações que tem para com
o conhecimento. Pode-se perceber ainda que, a partir dessas práticas, o professor sabendo da
possibilidade de introduzir o currículo oculto a seu favor, constrói e favorece a inclusão da criança com
Autismo (contemplando a prática pedagógica analisada e descrita), pois as interações e intervenções
que a professora fez são fundamentadas teoricamente pelo currículo prescrito. (SANTOS, 2014, p. 99-
100).
RESUMO:
Rodrigues (2015) teve seu estudo pautado em analisar o processo de inclusão de um aluno com TEA,
de oito anos de idade, que no momento da pesquisa cursava o 1º ano do Ensino Fundamental em uma
escola regular do município de Arraial do Cabo. Objetivou analisar algumas das políticas de inclusão,
verificar como se dá o atendimento a este aluno com Autismo na escola regular pesquisada, analisou
as culturas, políticas e práticas de inclusão implementadas na e pela escola com o intuito de promover
a inclusão do aluno em foco, a partir do referencial analítico conhecido por perspectiva omnilética. O
estudo classifica-se como etnográfico cuja investigação dos dados se deu por meio da técnica de
observação não participante, diário de campo, e entrevistas semiestruturadas.
NARRATIVA DA PESQUISADORA:
Esta falta de comprometimento, de alguns funcionários da escola, em oposição a um trabalho
em conjunto que favoreça, por meio da ação de todos, o processo de inclusão, leva, muitas vezes, a
uma crença errônea de que a responsabilidade pela inclusão dos alunos público-alvo da educação
especial é tarefa exclusiva da equipe de inclusão (neste caso da professora de apoio, da supervisora
itinerante enviada pela DEI, dos professores da sala de recursos) (RODRIGUES, 2015, p. 75).
Com relação ao aluno com Autismo, ...a maior parte das tarefas realizadas com o menino era
imputada à professora de apoio, portanto, era ela quem mais realizava atividades de aprendizagem de
conteúdos escolares. Foram identificadas somente três ocorrências em que a professora regente
interagiu minimamente com o aluno, como nessa situação: “Sônia distribui folhinhas de atividades para
a turma, desta vez ela entrega para Rui”. (Profª regente e o aluno com Autismo, DC, 24º encontro,
maio). Não foi observada, durante a pesquisa, qualquer atitude efetiva da professora regente em
promover intervenção pedagógica com Rui. (RODRIGUES, 2015, p. 82).
Suas atividades, na maioria das vezes, eram elaboradas no intuito de buscar o interesse do
aluno, partindo sempre de algum elemento que o agradasse. Essa busca era realizada por meio de
122
conversa com a mãe de Rui ou por atitudes como essa: “Mariá percebe os objetos que mais despertam
o interesse de Rui, seleciona e recolhe dizendo que isso será importante para atividades posteriores.”
(Profª de apoio seleciona objetos de interesse do aluno com Autismo, DC, 3º encontro, março).
Atividade lúdica com o nome do aluno elaborada por Mariá para Rui. Atividade lúdica de Matemática
elaborada por Mariá para Rui. Atividade lúdica de Língua Portuguesa com a “Galinha pintadinha”
elaborada por Mariá para Rui. Atividade lúdica, com bolinhas, de Matemática elaborada por Mariá para
Rui. Mariá elaborou algumas atividades com a personagem “Galinha pintadinha” e também com bolas,
pequenas ou grandes, pois essas eram duas coisas que Rui gostava bastante, dentre outras coisas.
“Mariá me apresenta uma lousa e umas cartas com figuras e palavras que ela mesma confeccionou
para realizar atividades com Rui, ela chama essas cartas de “comunicação alternativa””. (Profª de apoio
desenvolvendo atividade orientada pela supervisora itinerante, DC, 4º encontro, março).
(RODRIGUES, 2015, p. 83-84).
O comportamento de Rui era agitado e sua concentração durava poucos minutos, por esse
motivo, entre as pesquisas que Mariá realizava por conta própria na internet, atrelada à orientação de
Angélica, ela procurava por métodos que pudessem facilitar a comunicação com o menino e ainda
desenvolver nele certos limites que o pudessem manter na sala de aula, para assim desempenhar as
atividades acadêmica. (RODRIGUES, 2015, p. 83-84).
Alguns dos métodos, identificados por nós, que Mariá utilizou com Rui foram o PECS30 -
Sistema de Comunicação por Troca de Figuras, também utilizado como um dos procedimentos da
Comunicação Alternativa Ampliada, o TEACCH31 - Tratamento e Educação para Autistas e Crianças
com Deficiências Relacionadas à Comunicação, conhecido por estabelecer um quadro de rotina pelo
qual a criança será orientada em suas atividades cotidianas, além do o ABA32 - Análise Aplicada do
Comportamento, que representa uma das técnicas utilizadas pela terapia comportamental.
(RODRIGUES, 2015, p. 85).
Foi observado que a maioria das entrevistadas, seis das oito, acreditava que os conteúdos a
serem apresentados para o desenvolvimento de práticas pedagógicas, deveriam partir da realidade de
cada um e serem adaptados às necessidades dos alunos. (RODRIGUES, 2015, p. 86).
Foi percebida também, na fala de duas entrevistadas, situações de aprendizagem para além
da escola, ou seja, o ensino de valores e regras que envolvem questões de convivência fora da
instituição, no meio social do qual a criança faz parte, em suas relações em outras instituições sociais.
(RODRIGUES, 2015, p. 89).
Percebemos também nesta fala que quando as culturas não inclusivas são impregnadas em
um ambiente em que, teoricamente, deveria prevalecer a atmosfera de inclusão, ela se desenvolve em
outras vertentes também não inclusivas, pois tais valores e crenças, de achar que aquele aluno não é
da escola, acarretam em ações originadas do preconceito, ou seja, práticas cotidianas
preconceituosas, que por sua vez viram regras implícitas, as políticas, convergindo em um ambiente
não aberto ao desenvolvimento do processo de inclusão, já que tais formulações acabam gerando
barreiras culturais, políticas e práticas não inclusivas. (RODRIGUES, 2015, p. 94).
Podemos observar, a categoria “Formação profissional” retratou apenas um dos desafios que
se pode encontrar diante do processo de inclusão, porém, este foi visto por grande parte das
participantes desta pesquisa como uma das principais barreiras à promoção da inclusão.
(RODRIGUES, 2015, p. 100).
REFERÊNCIA 5- OLIVEIRA, Janiby Silva De. A prática pedagógica do professor com o aluno
autista no contexto da Escola Inclusiva. Mestrado em Educação, Universidade do Estado do Pará.
Belém, 2017.
PALAVRAS-CHAVE: Educação Especial Inclusiva. Prática Pedagógica. Autismo.
RESUMO:
Oliveira (2017) objetivou analisar a prática pedagógica do professor na classe comum com uma aluna
autista de 14 anos de idade no 5º ano do Ensino Fundamental, em uma Escola Estadual da cidade de
Belém do Pará. Priorizando o planejamento, as metodologias de ensino e a avaliação na perspectiva
da inclusão da pessoa autista na classe comum de ensino. Trata-se de um estudo de caso, de caráter
qualitativo, observação direta e entrevista narrativa. Teve como sujeitos investigados a professora da
classe comum e a do contraturno que faz o Atendimento Educacional Especializado, e uma professora
de Educação Física. Teve como resultado que a inclusão ainda é um desafio, uma vez que os
professores nem sempre possuem uma formação sólida sobre este campo, principalmente no que
pese a inclusão de pessoa autista. Há ainda o fato de que muitos ainda precisam sentir-se partícipes
123
de um projeto que de fato tenha a inclusão como um compromisso, uma responsabilidade coletiva. É
perceptível no caso analisado, que a prática pedagógica nem sempre é pensada de modo inclusivo,
deixando de lado metodologias que priorizem não apenas os alunos sem deficiência, mas também a
aluna autista, ou seja, a turma como um todo.
NARRATIVAS DA PESQUISADORA:
Neste trecho, a professora fala das limitações da aluna, tanto para a socialização quanto para
a aprendizagem, “é muito limitado essa coisa de inserir ela nas atividades junto com os colegas”. Por
um lado, a voz da professora evidencia que o trabalho pedagógico direcionado à aluna autista pouco
ou em nenhum momento tem uma intencionalidade que de fato coloque-a em um lugar privilegiado.
Por outro lado, também não a insere as atividades desenvolvidas pelos outros alunos. (OLIVEIRA,
2017, p. 79).
.... Neste ponto, fica claro que a falta de intencionalidade aqui está relacionada ao
desconhecimento acerca das possibilidades de aprendizagem da aluna. (OLIVEIRA, 2017, p. 79).
É pertinente dizer que o trabalho com a inclusão deve partir dessa intencionalidade. Se a
própria professora diz não saber o que ensinar, ou que não se planejou para garantir a inclusão da
aluna nas suas atividades, reforça que a inclusão ainda se constitui como um campo de grandes
desafios. (OLIVEIRA, 2017, p. 80).
Constatamos na fala da professora quando ela diz “como que eu vou trabalhar com essa
menina, por que ela não aceita o toque, né?” que o medo, a insegurança estão presentes no seu
saber/fazer. (..) por vezes, é marcado pela “falta de capacidade e às vezes de ‘jeito’ para trabalhar com
elas foram levantados pelas professoras entrevistadas como fatores de não aceitação dos mesmos na
escola”. (OLIVEIRA, 2017, p. 81).
Quando a professora se reportou ao conteúdo trabalhado voltado à alimentação, indicou à
Jacira a colagem de papéis picados no alimento doce representado pela figura do sorvete. Em nenhum
momento visualizamos uma atividade voltada à experimentação dos sabores e cheiros dos alimentos.
Como estamos trabalhando com uma turma de 5º ano que tem uma aluna autista inclusa, acreditamos
que a experimentação poderia contribuir na assimilação do conteúdo, não apenas por esta aluna, mas
124
por toda a classe. Para isso, o professor deve buscar metodologias que trabalhem a partir da
experiência, do concreto, do vivido. Cabe dizer que a mudança na prática é resultado da reflexão e do
próprio amadurecimento do professor. (OLIVEIRA, 2017, p. 87).
Nas atividades seguintes foram usados os recortes feitos sempre em dias anteriores, para
acompanhar linhas desenhadas pela professora ou desenhos significativos como árvore, lembranças
para o dia das mães, entre outros. De acordo com a professora, essas atividades “objetivavam sempre
estimular a coordenação motora da aluna”. (OLIVEIRA, 2017, p. 88).
Enquanto a aluna fazia a atividade elaborada para ela, o restante da turma copiava do quadro
branco o conteúdo referente à disciplina ciências, demonstrando que o que é trabalhado com a aluna
tem pouca ou nenhuma relação com o conteúdo trabalhado na turma inteira. (OLIVEIRA, 2017, p. 89).
No momento, consideramos a prática inadequada, pois não presenciamos nenhuma tentativa
de aproximar a aluna das atividades desenvolvidas pelos outros alunos. Depois, em análise mais
apurada, concluímos que a dificuldade estava na tarefa desenvolvida pelos alunos em geral, ou seja,
enquanto Jacira fazia colagem, os outros alunos respondiam, no caderno, questões relacionadas ao
tema copiado do quadro branco. A nosso ver, e considerando a presença de Jacira na sala, seria mais
apropriado que a turma desenvolvesse atividades em grupo, mesmo que tais atividades envolvessem
colagem ou perguntas e respostas, acreditamos que a interação possibilitaria melhor aprendizagem
para todos. Encerrado o período acima mencionado, a professora passou a utilizar-se de atividades
com desenho e pintura, algumas delas, como de costume, não tinham relação com as atividades dos
outros alunos em sala. (OLIVEIRA, 2017, p. 90).
Parece-nos, no entanto, que a escola comum ainda está se pensando inclusiva. Porém,
quando vemos que a prática das professoras, sujeitos desta pesquisa, não promove interação entre a
aluna autista e os outros alunos da turma, e que além disso, a aprendizagem da aluna centra-se apenas
em atividades motoras, nos questionamos que espaço se tem dado à inclusão na escola. As duas
professoras foram enfáticas ao dizer que não tiveram formação adequada para atender o aluno autista,
e mesmo que tenham feito leituras, buscando individualmente informações sobre como desenvolver
atividades com a aluna autista, ainda assim, sentiam-se inseguras algumas vezes. Esta insegurança
e o desconhecimento sobre o Autismo, a falta de práticas pedagógicas adequadas para a escola
inclusiva e o desconhecimento de habilidades próprias da aluna, impediram que a inclusão
acontecesse. (OLIVEIRA, 2017, p. 103).
RESUMO:
Vecchia (2017) analisou as práticas pedagógicas dos professores do Ensino Fundamental regular da
rede municipal de Guarapuava que atuam na escolarização de crianças com Autismo. Sendo uma
pesquisa qualitativa descritiva tendo como instrumentos entrevista e observação. Os participantes da
pesquisa foram quatro professoras de duas escolas municipais que atendem a crianças com Autismo
em classe regular, e duas crianças incluídas nestas escolas. Os resultados apontam que a ausência
de fala em algumas crianças com Autismo, não representa ausência de pensamento e de
aprendizagem. Esta pesquisa avança no sentido de enfatizar a necessidade da formação continuada
dos professores que trabalham com as crianças com Autismo em classes regulares, uma vez que cada
criança reage de diferente maneira a cada instrumento mediador. Assim, como mediadores, os
professores assumem papel de excelência no processo de ensino e aprendizagem da criança com
Autismo em sala regular de ensino.
“Então, com ele, eu tenho que trabalhar bastante de forma lúdica, com jogos, tem que procurar
atividade diferenciada, é por ele ser pequeno e como a gente tá numa fase assim de transição de serie,
já passou dois meses quase, mas no início por exemplo ele tava habituado a rotina de 2015 que era
da educação infantil ne, que era, então ele tinha toda um rotina que é diferente do primeiro ano, então
houve uma resistência, há na verdade, né, uma resistência da parte dele em entrar nessa nova rotina
de primeiro ano do Ensino Fundamental, que é outra, que nosso objetivo é outro ne, então por isso
que é preciso ter um jogo de cintura grande, fazer coisas que interessem a ele, por exemplo ele gosta
muito de modela”(Julia, 2016). (VECCHIA, 2017, p. 44).
[...] Então ano passado ela aplicou muita atividade com ele de silabas de formação de palavras
nessa perspectiva a escrita manuscrita ele não tem, ele não escreve manuscrito não pega lápis, mas
ele digita no notebook. Então como que é a alfabetização dele, é com jogos, é com as palavras no
alfabeto móvel, as letrinhas soltas, as silabas soltas, agora ele ta fazendo silaba complexa, mas quando
ele tem que escrever é no notebook, sabe [...]. (Maria, 2016). (VECCHIA, 2017, p. 44).
“[...] fazer coisas que interessem a ele, por exemplo ele gosta muito de modela e ele é um
artista plástico de 6 anos, porque ele modela, se ele traz um brinquedo dele ele modela na massa de
modelar o animalzinho em questão perfeito, se ele olha a figura no livro, ele representa, o sapinho por
exemplo é perfeitamente, é assim ele consegue reproduzir nos mínimos detalhes ne [...].” (Julia, 2016).
(VECCHIA, 2017, p. 52).
“[...] eu fiz pra eles apostilas no ano passado, fiz apostilas só de frutas, ai, a imagem da fruta
e o nome da fruta, frutas e verduras a apostila de animais, todos os animais que eu conseguia achar
no google eu coloquei a imagem e o nome fiz uma apostila pra ele dos animais, ai a apostila de todos
os colegas, de todas as professoras com nome, ai ele vai associando, ele associa aquela imagem com
o nome e ele digita, ele memoriza, ele não precisa mais do apoio da apostila pra digitar o nome das
professoras, ele não precisa do apoio da apostila pra digitar o nome das frutas ele vai de memória
visual [...].” (Maria, 2016). (VECCHIA, 2017, p. 54).
“Pra ele que devagar ele está assimilando a rotina, as regras ne, é ele tem uma professora
acompanhante ne inclusive se adapta muito bem a ele, muito paciente, atenciosa que me auxilia
bastante nesse processo ne, então primeiro de modo geral assim a socialização ne, fato da gente
trazer uma estratégia nova, um material novo, um jogo, está ajudando ele a, assim chamando atenção
dele, seduzindo ele de certo modo, atraindo ele pra aprendizagem, sem manipula, mas assim atraindo
ele pra aprendizagem, atraindo ele para fora, pra socializa, pra aprende, pra aprende um conhecimento
que ele também é muito inteligente e a socialização, o brincar com os amigos, com os colegas e a
possibilidade dele se expandir dele se expressa do jeito dele ne, então. Pros alunos assim eu penso
que o convívio com a diferença, há abertura de mente que eles vão ter ne, a compreensão da limitação
do colega há compreensão do colega [...]” (Julia, 2016).
NARRATIVAS DA PESQUISADORA:
Para que o professor consiga fazer o papel de mediador nas ações com o aluno, ele precisa
estar aberto a estas questões. Há professoras, como Maria, Julia e Aline, que relataram ter ajuda de
estagiários, mas mesmo com esses auxílios, elas se dedicam à mediação desse aluno. Porém, nem
todas estão preparadas. (VECCHIA, 2017, p. 44).
(..) possível observar nas respostas, houve a necessidade da socialização antes da
aprendizagem. Entender como o aluno se socializaria com as demais crianças da sala compreende a
preparação do professor para recebê-lo. Como já relatado, quando o professor não consegue se
adaptar com o aluno especial poderá ter dificuldades em direcionar seu trabalho docente. (VECCHIA,
2017, p. 49).
Sobre as crianças relatadas na entrevista, apenas uma foi citada sobre a sua adaptação
curricular. As demais professoras colocam algumas modificações no planejamento destes alunos,
sendo que, por Lei, todos os alunos devem e podem ter adaptação curricular. Na observação de ambos
os alunos foi possível observar estas questões. No aluno da escola A, em um dia na observação, os
alunos da turma estavam a realizar avaliação bimestral e a professora também precisava avaliar o
aluno com Autismo. Porém, como este tem adaptação curricular, sua avaliação é diferenciada.
(VECCHIA, 2017, p. 56).
Nota-se que todas as professoras participantes têm formação em Pedagogia e pós-graduação
na área de Educação Especial e destacaram a necessidade de ir buscar além daquilo que elas já
possuem de conhecimento sobre inclusão. Duas professoras, Julia e Maria, relataram terem sido
preparadas pela escola para trabalhar com a inclusão. (VECCHIA, 2017, p. 28).
Ao término das observações, a professora iniciava o processo de escrita manuscrita, uma vez
que ele escrevia apenas no notebook. No período pós-qualificação, ao retornar à escola para obter
outras questões e questionar a professora como estava o aluno, ela revelou que ele já escrevia sobre
pontilhado ou copiava letras e números que lhe eram propostos. (VECCHIA, 2017, p. 61).
Nota-se que as professoras apresentaram a dificuldade de não estarem preparadas para
receber autistas em sala de aula. Mesmo ao pesquisar sobre a temática, cada aluno reagiu de uma
forma. Então não basta apenas saber o que é o Autismo. É preciso conhecer este aluno, pois como
relatado, cada professora teve uma dificuldade diferente devido a cada criança se apresentar de uma
forma. Outra questão importante mencionada e que as professoras também relataram é que, mesmo
com graduação na área de Educação e todas com Pós-Graduação na área da Educação Especial, é
precária a formação, pois não ensinam como ensinar o aluno, que materiais podem ser usados e
práticas pedagógicas podem ser realizadas com a criança com Autismo. Por outro lado, foi possível
verificar avanços significativos alcançados com esta pesquisa. No que tange a relação teoria e prática,
constatamos que, apesar das professoras exporem a falta de formação para atuar junto a crianças
com Autismo, elas têm realizado atividades significativas no contexto inclusivo. Muitas vezes os
professores almejam uma resposta “pronta” e precisa para as questões de ensino e aprendizagem,
mas é somente na prática que se pode pensar em estratégias propriamente dita. (VECCHIA, 2017, p.
65-66).
RESUMO:
Souza (2019) avaliou a eficácia de uma proposta pedagógica de intervenção escolar, de cunho
colaborativo, na escolarização de uma criança com TEA, matriculada no Ensino Infantil na cidade de
Tenente Laurentino Cruz/RN. Além da professora e do educando, participaram da pesquisa uma
cuidadora e uma consultora de Educação Especial. Pesquisa de cunho quase-experimental
intrassujeito foi utilizado para mensurar os efeitos do programa de capacitação no comportamento
mediador do professor. O aumento na frequência de comportamentos mediadores da docente e as
mudanças qualitativas no desempenho do aluno foram registrados após o programa de capacitação.
Conclui-se que o sucesso ou fracasso da escolarização da criança com TEA estão condicionados ao
planejamento/organização de estratégias de ensino, às adequações realizadas na escola, bem como
à formação continuada de professores.
127
NARRATIVAS DA PESQUISADORA:
Essa fala de Maria Luísa ressalta o desconhecimento da prática pedagógica desenvolvida pela
professora Angélica na sala do AEE com o aluno pesquisado. Dessa forma, para que a educação do
aluno com TEA seja significativa é preciso que Maria Luísa disponibilize um tempo com a professora
do Ensino Especial, para que elas possam compartilhar o planejamento, as dificuldades e as possíveis
adaptações curriculares para o aluno com TEA. (SOUZA, 2019, p. 59).
Com relação às atividades acadêmicas de Davi, observou-se que, antes da intervenção, a
professora Maria Luísa não realizava adaptações e adequações curriculares para o aluno. Diante
dessa realidade, ele quase sempre não realizava atividades acadêmicas com o grupo. Preenchia o seu
128
tempo escolar das 13h até ás 16h com jogos de encaixe, brinquedos ou empilhando cadeiras. (SOUZA,
2019, p. 68).
Nas sessões de história, Maria Luísa foi orientada para direcionar cada conto infantil de uma
forma mais lúdica e que chamasse atenção de Davi. Primeiro, a professora antecipava o momento da
história com a exposição do livro que seria contado para a turma, fazendo inferências do que seria
exposto naquela história. Caso Davi não estivesse no centro da roda na exposição da história, todos
os alunos, juntamente com Maria Luísa, o chamavam. Em segundo lugar, a professora procurava
narrar com detalhes os episódios do conto infantil com gestos e músicas, procurando mostrar a imagem
de cada cena à turma e, em especial, para Davi. Quando o menino não queria se sentar na cadeira e
ficava no chão, Maria Luísa também se sentava no chão e mostrava as figuras a Davi para que ele se
inteirasse do contexto dos fatos narrados. No final da sessão, a professora fazia uma síntese da história
com uma música ou dinâmica e sempre envolvia Davi nessa mediação. Algumas vezes teve que usar
como estratégia (para chamar a atenção do menino) colocá-lo no colo para que ele não se dispersasse
na história e ficasse até o fim da exposição da narração. (SOUZA, 2019, p. 80).
A cada escolha de um conto infantil, Maria Luísa o selecionava de acordo com o plano de
ensino proposto para cada aula, respeitando as necessidades e potencialidades de cada criança da
turma e, em especial, o aluno com TEA. Esse comportamento de mediação registrado na prática
pedagógica da professora na contação de história de uma forma individualizada. (SOUZA, 2019, p.
81).
Com as mudanças no comportamento da docente, o nível de interesse de Davi pelas histórias
aumentou. De fato, como ilustrado na Figura 33, o aluno passou a, espontaneamente, explorar os
livros. (SOUZA, 2019, p. 82).
No depoimento da professora regular é descrita a importância da formação para prática
pedagógica. Nesses termos, é enfatizada a relevância da Consultoria Colaborativa como estratégia
que auxiliou na compreensão das demandas do aluno com Autismo. São enfatizadas as oficinas e a
produção de materiais para uso em sala de aula. O depoimento sugere que a professora se sentia
mais segura para atuar com essa população. Entretanto, cabe ressaltar que a formação para a
Educação Inclusiva, seja ela inicial ou continuada, exige dos educadores mudanças de postura, uma
prática pedagógica vinculada à diversidade. (SOUZA, 2019, p. 83).
As falas da professora regente e cuidadora descrevem que, antes da capacitação em serviço,
Maria Luísa e Letícia alegavam uma falta de preparação para atuarem com crianças com Autismo em
decorrência das lacunas na formação inicial e continuada para a Educação Inclusiva. Observou-se,
ainda, nos relatos das participantes, pontos positivos que a intervenção proporcionou na prática
pedagógica da professora titular. Antes da capacitação, Maria Luísa e Letícia não atuavam juntas na
escolarização do aluno com TEA. Após a intervenção, elas passaram a planejar a rotina, a atividade
acadêmica e a hora da história em parceria colaborativa, bem como na elaboração de materiais e de
recursos pedagógicos que proporcionaram a participação com eficácia de Davi nas atividades
escolares. (SOUZA, 2019, p. 85).
TESES
REFERÊNCIA 1- ALVES, Marcia Doralina. Alunos com Autismo na escola: um estudo de práticas
de escolarização. Doutorado Em Educação. Universidade Do Vale Do Rio Dos Sinos, São Leopoldo
– RS, 2014.
PALAVRAS-CHAVE: Escolarização. Práticas pedagógicas. Alunos com Autismo.
RESUMO:
Alves (2014) investigou sobre a escolarização de alunos com Autismo, tendo em vista as condições de
possibilidade sob as quais essa escolarização tomou forma e se articulou como um imperativo pós-
políticas públicas de inclusão. Partiu-se inicialmente, de um estudo sobre as narrativas produzidas
pelos discursos clínicos sobre esses sujeitos. Realizou-se também um deslocamento histórico sobre
as origens da escola, o que possibilitou compreender como o sujeito com Autismo foi sendo constituído,
inicialmente, a partir de aparatos sociais para o seu isolamento no final do século XIX (asilos, hospitais
psiquiátricos) até a sua inclusão em escolas regulares no século XXI. Apresentou algumas
problematizações sobre como vem se efetivando a escolarização de alunos com Autismo na escola
regular, a fim de compreender de que modo as práticas pedagógicas direcionadas a esses alunos se
instauram como regimes de verdade. Foram realizadas entrevistas com profissionais da sala de aula
129
“(...) Esse espaço é mais tranquilo, eles podem ficar mais sozinhos, eles procuram esse
espaço, eles já têm essa referência. Então, estão fazendo uma atividade no pátio, às vezes, foge
daquela rotina, a menina tem mais dificuldades com isso. Por exemplo, ela quer chegar na escola e
entrar na sala, mas, às vezes, acontece alguma coisa, a professora tá fazendo alguma atividade no
pátio, ela procura a sala de recursos e corre para lá. Dependendo do aluno que tá ali a gente vai
trabalhando essas questões”. (Professora do Atendimento Educacional Especializado – AEE).
(ALVES, 2014, p. 99).
NARRATIVAS DA PESQUISADORA:
Esclareço que a professora da classe regular possui graduação em Pedagogia e é doutoranda
em Educação. Já a professora do atendimento educacional especializado é graduada em Educação
Especial e doutoranda em Educação. (ALVES, 2014, p. 89).
O que é possível destacar nos excertos selecionados é um olhar que contempla a circulação
dos alunos com Autismo entre os colegas e nas dependências da escola. Esse é um critério
amplamente usado nos pareceres para dizer o quanto esses alunos encontram-se bem adaptados ao
convívio escolar. (ALVES, 2014, p. 93).
Acredito que essa seja uma demanda dos professores no sentido de que esses alunos se
enquadrem o mais rapidamente numa norma. Poderá ser entendido também como uma tentativa de
trazê-los o mais próximo possível do que se propõe o currículo escolar, com suas regras que não
deixam de ser práticas de socialização, a partir de uma ordem cultural existente.
Percebe-se, a partir dos excertos, que a aprendizagem de conteúdos escolares não tem sido
a tônica das práticas docentes. Frente às evidências, a avaliação constitui-se em um desafio para o
professor que se vê perante a dificuldade de expressar, em pareceres pedagógicos, os resultados da
aprendizagem de habilidades e competências para além da socialização ou de um comportamento
bem adaptado. É como se, aos olhos do professor, a escolarização se resumisse a práticas de
socialização, somente. (ALVES, 2014, p. 93).
O excerto do parecer acima revela as lacunas no processo de aprendizagem desses sujeitos
na classe regular. A professora, na tentativa de afirmar seu lugar como educadora, acaba permitindo
que a educadora especial se torne a única responsável pela aprendizagem de seu aluno. (ALVES,
2014, p. 96).
Por meio da apreciação dos pareceres, verificou-se que esses documentos avaliam aspectos
comportamentais do aluno, como por exemplo, “sentar junto”, “esperar sua vez”, “não pegar o lanche
dos colegas”. Constata-se, assim, que tais pareceres atuam muito mais como artefatos que controlam
a vigilância dos alunos autistas do que como instrumentos orientadores da prática pedagógica dos
professores. (ALVES, 2014, p. 96).
Vimos nos excertos anteriores que o professor da classe regular refere que para alunos com
Autismo não há uma preocupação com a aprendizagem de conteúdos escolares, como para os demais
colegas da turma. Diante dessa constatação, os professores partem para uma busca que está fora dos
muros escolares, procuram em outras áreas um apoio para sustentarem, de alguma forma sua prática
e atingir a meta educativa. (ALVES, 2014, p. 97).
Os professores, às vezes, diante da dificuldade do trabalho pedagógico com esses alunos,
acabam indicando inúmeros “atendimentos”, desejando que os especialistas se tornem depositários
das suas esperanças em trazer o aluno para mais perto da norma do que é ser um escolar. É através
dessa parceria que o professor busca tornar possível um trabalho pedagógico, evitando perder seu
foco educativo. (ALVES, 2014, p. 97).
Ressalto que durante a entrevista com a professora do atendimento educacional especializado,
a professora explicou-me que o “terapêutico” não é sinônimo de “clínico”, mas, sim, refere-se a um
olhar que permite ao aluno construir um lugar de existência na escola. (ALVES, 2014, p. 98).
A professora lança mão de novas estratégias a fim de desenvolver um trabalho mais dirigido
com o aluno, em função das suas particularidades. Nesse sentido, percebemos que diante dos
impasses frente a alunos com especificidades, como bem diz a professora da sala de recursos,
precisaremos problematizar a escola que hoje temos, para que em tempos de “aprendizagem para
todos”, consigamos enxergar condições possíveis para a escolarização de alunos com necessidades
educacionais especiais nesse contexto. (ALVES, 2014, p. 99).
Ao finalizar esse estudo que me permitiu pensar as práticas pedagógicas desenvolvidas com
alunos com Autismo, defendo a tese que a escola regular, apesar dos seus esforços em acompanhar
os avanços pedagógicos na contemporaneidade, reproduz um modelo que é disciplinar e perpetua um
paradigma da Idade Moderna, quando essa mesma escola passou a fazer parte das ciências da
educação. Esse olhar reflete as dificuldades de uma área que ainda busca um corpo teórico próprio
131
que contribua para pensarmos nos desafios da escolarização de alunos com necessidades
educacionais especiais. Diante do que foi exposto até aqui, podemos pensar que o aluno autista poderá
ser efeito de toda essa maquinaria escolar que lhe atribui conceitos e descreve padrões de
normalidade. Frente à realidade encontrada no conjunto de materiais aqui analisados, concluo que o
diagnóstico determina a forma de olhar e escolarizar esses alunos e que sob o jugo da necessidade
de socialização desses alunos, a escola regular realiza uma inclusão excludente. (ALVES, 2014, p.
100).
RESUMO:
Guareschi (2016), em sua tese, investiga as práticas escolares produzidas na inclusão de alunos com
Autismo, na Educação Infantil e nos Anos Iniciais do Ensino Fundamental, em seis escolas municipais
de Santa Maria/RS. Incluem-se nessas ações as práticas pedagógicas, os processos de socialização
e a dinâmica pedagógica (organização dos tempos e espaços escolares). A autora estabeleceu um
diálogo entre os campos da Educação Especial e da Psicanálise. Usou como metodologia a pesquisa
documental, tomando como materialidade de análise pareceres pedagógicos e planos de atendimento
educacional especializado, elaborados por professoras de Educação Especial. No delineamento
metodológico, apostou na potência desses documentos escolares como narrativas das práticas
engendradas nas escolas. Por meio da análise dos documentos escolares emergiram três outros
elementos, que apareceram de forma recorrente na narrativa das professoras. O primeiro diz respeito
aos tempos e espaços na dinâmica pedagógica. As práticas escolares narradas demonstraram que
diferentes adaptações foram necessárias na dinâmica pedagógica a fim de tornar a escolarização
possível. O segundo elemento, a importância da figura do profissional de apoio, na inclusão desses
alunos, e que sua atribuição excede ao que é previsto nas políticas (auxílio na comunicação, higiene,
alimentação e locomoção). Essas duas categorias revelam a torções que se fazem necessárias na
passagem da letra da lei para o campo escolar. O terceiro elemento que perpassou a escrita dos
pareceres e dos planos de atendimento educacional especializado das professoras dizia respeito à
interação com os colegas. Nesse sentido, as narrativas das professoras demonstraram a importância
dos encontros desses alunos com as demais crianças para seu desenvolvimento.
a sala de recursos [...]. Diariamente temos tentado (professora da sala de recursos e monitora) levá-lo
à sala de aula, onde estudam seus colegas do 3º ano. Ficou acertado com a professora da sala de
aula que seria destinada uma classe para o Marcelo, com um objeto colorido, para que ele possa
identificar que “aquele lugar” na sala é seu. Marcelo tem entrado na sala de aula, mas logo sai, voltando
por conta própria para a sala de recursos, o objetivo é de conseguir ampliar a cada dia a permanência
dele em sala de aula. (Prof. Isabel, Aluno Marcelo, Excerto do Plano de AEE) (GUARESCHI, 2016, p.
151).
Vinícius 10 anos 3º ano. Durante os meses de março e abril, Vinícius oscilou seu
comportamento apresentando agressividade (mordendo, dando tapa e cuspindo) com o profissional de
apoio e colegas. Entretanto, em outras situações ele demonstrou atitudes adequadas em sala de aula,
ficando sentado e respondendo com auxílio da profissional de apoio às atividades propostas pela
professora.
Sugere-se que para o ano de 2014 o aluno dê sequência aos atendimentos na sala de
recursos, bem como que seja passado o trabalho que está sendo executado para a nova estagiária
que começará a ser a profissional de apoio do aluno Vinícius, para que ela possa dar seguimento ao
trabalho de alfabetização. (Prof. Aline, Aluno Vinícius, Excerto do Parecer Pedagógico) (GUARESCHI,
2016, p. 146-155).
João 10 anos, 4º ano. Pega o lápis, mas não segura por muito tempo. Proponho uma atividade
livre onde em uma folha de ofício posiciono o lápis em sua mão, fazendo uso da técnica mão-sobre-
mão, atuando como apoio e deixando que ele conduza o lápis, os rabiscos são direcionados por ele.
Ainda a fim de estimular a coordenação motora, sensibilidade, também cor, trabalho com massinha de
modelar, deixando que ele a manipule, com tinta peço para ele colocar o dedo na tinta e logo numa
folha. João ao realizar esse tipo de atividade ainda demonstra um pouco de resistência, mas já vem
demonstrando mais segurança.
A fim de estabelecer uma comunicação faço uso de imagens, onde identifico dizendo a quem
se refere, possibilitando ao João ter contato visual com várias imagens. O objetivo é permitir que no
decorrer ele possa identificá-las, associando-as com seu contexto real. (Prof. Beatriz, Aluno João,
Excerto do Parecer Pedagógico). (GUARESCHI, 2016, p. 122-140).
Marcos 7 anos, 2º ano, tem dificuldade em desenvolver o jogo simbólico, quando brinca com
carrinhos, o faz somente batendo um no outro. Demonstra resistência em atividades com música e
outras atividades lúdicas. Prefere fazer folhinhas, ler o alfabeto da sala e outros jogos de letrinhas.
Precisa estar sempre “estudando”. (Prof. Ana, Aluno Marcos, Excerto do Plano de AEE).
(GUARESCHI, 2016, p. 115).
Com massinha de modelar, elaborou uma brincadeira com pedaços de massinha e um caninho
de plástico, que é utilizado para espichar a massinha e cortá-la, como para ver o que passa ou não
pelo buraco do caninho. Marcos colocou para passar no caninho diversos objetos, e com ajuda,
conseguiu simbolizar esses objetos como carrinhos que passaram por uma ponte. (Prof. Ana, Aluno
Marcos, Excerto do Plano da AEE. (GUARESCHI, 2016, p. 117).
Dança na sala de recursos, sozinho e com outros colegas, vídeos infantis e musicais para
trabalhar som, ritmo, movimento, interação com o outro bem como a interpretação de histórias e letras
de músicas → Atividades e construção de histórias com desenhos e brinquedos; → Bandinha rítmica,
para explorar os sons de forma livre; → Gravação de vídeos do aluno cantando, dançando, contando
histórias. (Prof. Ana, Aluno Marcos, Excertos do Plano de AEE e do Parecer Pedagógico)
(GUARESCHI, 2016, p. 131).
Jéssica 11anos, 2º ano, possui deficiência visual (cegueira) e o diagnóstico de transtorno do
espectro autista. Ficava sentada em sua cadeira, demonstrando muitas estereotipias motoras e por
vezes gritando. A professora procurava oferecer jogos e brinquedos, conversando de forma afetuosa.
Oferecia desenhos em alto relevo para que ela percebesse o que estava sendo trabalhado, mas essas
folhas muitas vezes eram rasgadas. Tinha dificuldade no controle dos esfíncteres, apesar de utilizar a
fralda apenas durante o sono. Como não solicitava ir ao banheiro foi disponibilizada uma monitora, que
além de acompanhá-la até o banheiro em horários pré-determinados, também auxiliava na alimentação
e higiene.
Tem boas habilidades motoras, nesse aspecto não apresenta nenhuma dificuldade prática nas
atividades com bola, vai à pracinha e corre de mãos dadas com os amiguinhos. Não possui dificuldades
de motricidade fina, observada em atividades com massa de modelar e jogos de montar, nem ampla,
em atividades com corda, bambolês e cubos gigantes. → Atividades que favorecerão sua mobilidade:
caminhar com bambolês, andar por cima de uma corda largada no chão, achar os colegas no pátio
seguindo o som da voz. Andar pelos corredores com uma vassourinha de brinquedo e um carrinho de
bebê e posteriormente a bengala. (Prof. Ana, Aluna Jéssica, Excertos do Plano de AEE e do Parecer
133
NARRATIVAS DA PESQUISADORA:
O aluno Marcos resiste às atividades lúdicas propostas e prefere realizar “tarefas” em folhas
porque deseja estudar, o que para o menino parece envolver a escrita. (GUARESCHI, 2016, p. 114).
Cabe ressaltar que, em sua proposta pedagógica, a professora Ana não deixa de oportunizar
momentos de brincadeiras, apesar de toda a insistência de Marcos para estudar as letras. A docente
compreende a importância do brincar simbólico para o desenvolvimento do aluno. As professoras
Marta e Beatriz também indicam a ausência do brincar nos alunos incluídos nos anos iniciais do Ensino
Fundamental. (GUARESCHI, 2016, p. 114).
Nesses relatos sobre as práticas escolares produzidas para alunos com diagnóstico de
134
Autismo, a professora revela que o brincar é um aspecto central em suas intervenções pedagógicas.
Ao verificar os comportamentos estereotipados e o manuseio mecânico dos brinquedos a professora
oportuniza o brincar, que poderá simbolizar esse corpo e suas ações. Diante desses comportamentos,
como rasgar papéis, a professora faz ofertas que podem significá-los, como “construir o boneco, que
será recheado com o papel picado pela aluna”. (GUARESCHI, 2016, p. 118).
Os excertos acima, bem como os relatos das outras duas professoras, evidenciam que
aspectos como coordenação motora, seriação e classificação, pareamentos de objetos e imagens,
reconhecimento de letras e de números são privilegiados. Evidentemente, não questiono a importância
da oferta dessas atividades, que nomearei como formais, aos alunos com Autismo. Entretanto, sublinho
a importância de o brincar simbólico perpassar as práticas escolares articuladas na inclusão desses
estudantes com entraves na constituição subjetiva. (GUARESCHI, 2016, p. 123).
No decorrer da análise dos pareceres pedagógicos e dos planos de AEE dos alunos com
Autismo, cujos operadores de leitura foram os quatro eixos da AP3, novos elementos para pensar as
práticas escolares emergiram. Nas narrativas das professoras apareceram, de forma recorrente,
questões sobre os espaços e os tempos na dinâmica pedagógica, a atuação do profissional de apoio
e a interação com os colegas na inclusão escolar desses sujeitos.
Em relação às práticas escolares produzidas em torno do eixo o corpo e sua imagem, percebi,
na análise dos documentos das demais professoras, narrativas pouco expressivas. Essa constatação
vem ao encontro do que foi verificado no primeiro eixo, o brincar e a fantasia. Novamente, as atividades
formais parecem ser privilegiadas em detrimento do brincar e de atividades que propiciem a
simbolização e o reconhecimento do corpo, ao menos nas narrativas dos documentos. (GUARESCHI,
2016, p. 132-133).
No tocante à linguagem de Marcos, a docente pretende que o aluno possa “comunicar seus
desejos e dúvidas, bem como conseguir ouvir o que o outro solicita”, além de “utilizar a escrita de forma
significativa, e não apenas de forma mecânica” e “expressar-se por meio de desenhos”. É significativo
notar que Ana oferece ao menino possibilidades variadas para dizer de si, como a fala, a escrita e o
desenho. Do mesmo modo a professora Isabel articula, para o aluno Marcelo, práticas escolares que
possibilitam “várias tentativas para estabelecer a comunicação efetiva e, dessa forma, os gostos,
preferências, manifestações de conhecimento foram sendo percebidas”. Essas práticas escolares
produzem efeitos no campo da linguagem. (GUARESCHI, 2016, p. 140).
Por fim, o relato da professora Beatriz apresenta uma estratégia interessante para alunos
maiores que não falam, como é o caso de João. A docente informa que utiliza imagens para estabelecer
a comunicação. A proposição de práticas escolares nessa lógica pode se constituir em uma forma de
transmitir algo para os outros, desde que não se paute em uma linguagem artificial, que não estabelece
o laço social. Sendo assim, mostrar figuras e solicitar que o aluno repita o nome é um artificialismo que
não produz linguagem. Na escola a linguagem precisa ser colocada em cena em relações espontâneas
com os outros, e considero esse espaço um lugar privilegiado para que isso ocorra. O brincar é uma
das ferramentas que possibilita ao aluno se dizer, a escrita é outra. (GUARESCHI, 2016, p. 141).
É possível perceber que, nem sempre, esses sujeitos permanecerão todo o turno na sala de
aula regular. Por vezes, eles transitarão por diversos lugares na escola como a sala de recursos, a
biblioteca, a pracinha, o laboratório de informática, de acordo com suas preferências. Noto que o
espaço do atendimento educacional especializado se configura como um local de refúgio,
frequentemente procurado por aqueles que, por alguma razão, não suportaram continuar com os
demais alunos. Ao mesmo tempo em que observamos práticas nas escolas em que esses tempos e
espaços são flexibilizados na dinâmica escolar, dispomos do relato da professora Marta, que procura
estabelecer parcerias com o psiquiatra que atende os meninos e com a família para a flexibilização no
horário, mas recebe a negativa de ambos. A docente sinaliza o quão difícil é para Lucas e Otávio
permanecerem as quatro horas na instituição, ainda que lhes seja permitido circular por diferentes
lugares. (GUARESCHI, 2016, p. 150-151-153).
E a interação dos alunos com os colegas é observada pelas professoras e é parte das práticas
escolares produzidas no processo de inclusão. Os relatos das docentes demonstram a importância,
por elas atribuída, aos processos de socialização no desenvolvimento das crianças. (GUARESCHI,
2016, p. 158).
RESUMO:
Soares (2016) pretendeu desvelar os efeitos de um programa de formação continuada nas práticas
pedagógicas potencializadoras da aprendizagem de conteúdos acadêmicos de professoras, que lidam
com alunos com Autismo na sala regular. Percebe-se que ainda é insuficiente a literatura científica
sobre modos pedagógicos de ensino de conteúdos acadêmicos aos alunos com o TEA e pouco
conhecimento sobre as características de pessoas com o TEA, comunicação alternativa (CA), bem
como, a necessidade de habilidades acadêmicas serem ensinadas como são as habilidades
funcionais, com práticas pedagógicas que atendam às particularidades das crianças com o TEA. Os
alunos com necessidades educacionais especiais, por sua vez, são receptivos ao ensino, quando as
adaptações são implementadas, adequadamente. Impõe ser necessária a formação no ambiente
escolar com dispositivos didáticos que evoquem a descoberta, aperfeiçoamento e acesso ao
conhecimento acadêmico para alunos com o TEA, porque professores apoiados poderão ser mais
receptivos à inclusão escolar. De acordo com os depoimentos das agentes educacionais que
vivenciaram a experiência com o PEI, o recurso foi confirmado como facilitador de aprendizagens
funcionais, cognitivas e sociais por meio de comportamentos mediadores direcionados para a criança
com o TEA e que culminaram com o atendimento às expectativas curriculares previstas para o primeiro
ano: identificação de letras, sílabas, palavras e números, participação em eventos comemorativos da
escola, conteúdos considerados essenciais nessa fase escolar para a continuidade das apropriações
da leitura, escrita e numeralização, e da progressão no ciclo de alfabetização e letramento na infância,
leitura fluente, produção textual, resolução de problemas e operações aritméticas.
NARRATIVAS DA PESQUISADORA:
Vimos que a professora titular analisava as situações, mas não se envolvia com a
aprendizagem dos seus alunos com necessidade educacionais especiais (NEE). Como não havia
interação entre a referida professora com esses alunos, optamos por focar na prática da professora
auxiliar, que de fato era a responsável por acompanhar as crianças com NEE da sala. (SOARES, 2016,
p. 57).
Numa aula, ministrada por Maria, na qual a dinâmica era toda turma escutar poesias, declamar
e escrevê-las, Ana ficou com Daniel no canto de sempre trabalhando Sistema de numeração decimal
com material dourado, dando aula de matemática e não o envolveu no trabalho coletivo com a
oralidade, tão propícia naquele momento.
Num segundo episódio, no qual a aula era sobre pronome pessoal, toda turma estava
trabalhando com leitura e interpretação de texto e substituindo o nome pelo pronome /ele/. Essa
também era uma oportunidade para envolvimento de Daniel com um conteúdo acadêmico propício e,
mais uma vez, Ana ficou no canto da sala, trabalhando resolução de problemas com gráficos na área
de matemática.
O terceiro episódio selecionado para linha de base foi uma aula de ciências, os alunos
combinavam as apresentações das maquetes e Daniel usava um jogo de associação de figuras com
palavras e Ana fazia uma prova com o aluno com deficiência intelectual (DI). (SOARES, 2016, p. 59).
Não percebemos nenhuma atividade com desenho, prevaleciam os recortes em livros didáticos
colados no caderno do aluno como apoio para contagem e escrita de símbolos matemáticos (+/-/=) e
números. Esse fato nos chamou a atenção e perguntamos se o aluno rejeitava desenhar, cantar, jogar
e dançar. Ana falou que, às vezes, sim, e no 5º ano as atividades priorizadas eram as produções
escritas e operações matemáticas.
Constatamos ser a escrita, restrita às cópias e às operações matemáticas e aos exercícios de
resoluções de problemas que eram recortados em livros didáticos. Documentamos esse fato em
fotografias digitais.
As adaptações com os recortes, vistas na linha de base, garantiam que o caderno de Daniel
fosse apresentado aos seus pais como prova de que ele participava das atividades em sala de aula.
Entretanto, essa participação se dava sem alinhamento curricular e com pouca exploração do que
realmente o aluno podia alcançar em sua aprendizagem. (SOARES, 2016, p. 67-68).
A atividade sugerida na intervenção, explorava habilidades acadêmicas para resolução de
problemas: identificar valores, estabelecer trocas, agrupar quantidades, escrever números por extenso,
exercitar o raciocínio lógico, jogando como se estivesse manuseando dinheiro. Pois, no jogo há a
possibilidade das crianças vivenciarem papéis sociais dos adultos, simulando situações funcionais da
vida cotidiana. O fato de constatarmos adaptações pedagógicas pouco elucidativas dos conteúdos do
currículo de estudo do aluno, nos fez refletir com Ana sobre a constância desses modelos, como eles
exploravam pouco o potencial da criança, não oportunizando desafios, trabalhando praticamente o que
o aluno já sabia. Registramos e questionamos o modelo, que está na fotografia abaixo, uma tarefa que
Ana havia elaborado e feito com o aluno. (SOARES, 2016, p. 72).
É possível perceber que o tipo de tarefa, o nível do conteúdo acadêmico de matemática, era
mesmo simplificado e não adaptado, por uma questão de concepção de ensino de Ana e de ausência
de repertório para lidar com as características de Daniel. O aluno copiava os desenhos, sua capacidade
imaginativa deixava de ser explorada e a resolução de problemas somente exigia a habilidade de
contar quantos elementos ele precisava para ter o triplo da quantidade. (SOARES, 2016, p. 73).
Daniel realizou uma tomografia corneana e teve esse diagnóstico, em linguagem não técnica
ele ver em forma de cone. O quadro é progressivo para perda total da visão e o médico sinalizou, para
o futuro, um transplante de córnea. (SOARES, 2016, p. 75).
Havia, no contexto da sala de aula, restrição na forma de planejar e elaborar atividades de fato
inclusivas, já que para as crianças especiais elas eram diferenciadas e ministradas especificamente
pela professora auxiliar, com conteúdo diferente do que estava estabelecido no currículo do 5º ano e
centrado no que a professora mais dominava. Sendo titular no turno da manhã de uma turma da
educação infantil e auxiliar em outro turno, às vezes trazia tarefas sem planejar para os alunos da tarde
como pintar, ler textos e responder questões escritas. (SOARES, 2016, p. 91).
Os dados da observação evidenciaram uma docência que atende as políticas educacionais de
inclusão escolar no que se refere à matrícula. Entretanto, a disponibilidade para modificação de
práticas pedagógicas históricas, considerada um dos pilares de sustentação para que o professor
possa repensar sua prática, parece ser sufocada por conta do tempo escasso para planejamento e a
relação de poder na sala de aula entre as professoras que impedia a ação pedagógica compartilhada.
Percebemos que se as duas profissionais tivessem um pouco mais de afinidades elas trabalhariam
137
melhor, mas como isso não acontecia, os alunos arcavam com o prejuízo. (SOARES, 2016, p. 92).
No decorrer da formação uma das lacunas notáveis foi a ausência de colaboração no
planejamento e na elaboração das atividades diárias da sala de aula. A professora conhecia algumas
características do TEA, já a auxiliar estava pela primeira vez aprendendo sobre esse tema. A formação
foi desencadeadora de várias problematizações das situações de ensino e aprendizagem em sala de
aula. Também influenciou, por meio da implementação do PEI, a percepção das potencialidades do
aluno quanto ao seu desempenho acadêmico.
Não havia adaptação curricular para ensinar o aluno com o TEA. Eram desconhecidos seus
conhecimentos prévios acerca dos conteúdos acadêmicos, mesmo sendo já sabido que era um
egresso da Educação Infantil, nível cursado no ano anterior, na cidade onde morava. Nossa proposta
inicial foi elaborar com a professora e a auxiliar o PEI28. Para isso, solicitamos a matriz curricular da
turma e listamos os conteúdos previstos para uma unidade de trabalho (3 meses). (SOARES, 2016, p.
107).
As adaptações do livro didático exigiam que a professora comunicasse com antecedência as
páginas que seriam estudadas durante a semana, e, em algumas situações, fotocopiar a página para
ampliar o espaço das palavras cruzadas, fazê-las com menos palavras. João cansava-se quando a
atividade era longa, por exemplo, uma cruzada com dezessete palavras era reduzida para dez, mas
sendo a mesma atividade da sala, depois ele fazia as demais.
Outra adaptação foi escrever palavras ditadas na agenda do celular, pois, por ter a
coordenação motora fina comprometida, João manuseava o lápis com dificuldade e, às vezes, o
rejeitava. Identificar letras, sílabas e palavras em material de EVA também facilitou a sua leitura e
atendeu à perspectiva de Luana de entender qual era o conhecimento prévio de João sobre letras e
números. (SOARES, 2016, p. 134).
Foram confeccionados jogos e devido a habilidade de escrita no teclado ter ficado evidente,
com a escrita do nome próprio, que surpreendeu, pois ninguém sabia que ele já escrevia seu nome, a
professora do AEE disponibilizou um notebook para uso na sala regular. (SOARES, 2016, p. 136).
Sobre as expectativas de aprendizagem elaboradas no PEI e seu alinhamento com o currículo
do primeiro ano, ficou evidente que as intenções pedagógicas foram alcançadas. (SOARES, 2016, p.
139).
A rotina pedagógica, por nós observada nas duas turmas, em parte, assegurava a flexibilização
curricular. Entretanto, com adequações insuficientes para dar conta de um aprendizado dos conteúdos
acadêmicos alinhado com o currículo tanto do 1º como do 5º ano. As estratégias didáticas tanto para
Daniel (5º ano) como para João (1º ano) não favoreciam o alinhamento curricular com a turma. O 1º
ano está conforme a matriz curricular indica, domínios de alfabetização, letramento e conceituação
numérica. No 5º ano propõe sistematização no nível de pós- alfabetização, sendo necessário domínio
do código escrito e numérico o desenvolvimento de habilidades acadêmicas de conteúdos mais
amplos.
A rotina pedagógica de acordo com Ana incluía sempre tarefas mais fáceis com Daniel,
segundo ela, não podia ser do mesmo jeito que era feito com toda turma, precisava “simplificar” o
conteúdo. O planejamento de unidade de língua portuguesa da turma era bastante diferenciado dos
conteúdos estudados por Daniel, conforme está prescrito no planejamento de unidade bimestral
fotocopiado a seguir. (SOARES, 2016, p. 152).
REFERÊNCIA 4- SANTOS, Emilene Coco Dos. Os Alunos com Autismo no Primeiro Ano do
Ensino Fundamental e os Movimentos de Construção das Práticas Pedagógicas. Doutorado em
Educação, Universidade Federal Do Espírito Santo, Vitória, 2017.
PALAVRAS-CHAVE: Aluno com Autismo. Ensino Fundamental. Prática pedagógica.
RESUMO:
Santos (2017) propôs investigar o movimento de construção de caminhos alternativos na prática
pedagógica desenvolvida com crianças com Autismo e seguiu os princípios teórico-metodológicos da
pesquisa-ação, realizada em duas turmas de 1º ano de uma escola de Ensino Fundamental do
município de Serra. Tendo como participantes do estudo: a equipe gestora, os professores regentes,
a professora de Educação Especial, as estagiárias e as três crianças com Autismo, enfocando
particularmente as práticas pedagógicas orientadas para as crianças com diagnóstico de Autismo. No
que diz respeito especificamente aos processos de ensino e de aprendizagem, constatou que as vias
necessárias para que a criança com Autismo conseguisse participar do processo de ensino envolveu,
por parte da equipe participante da pesquisa: atenção especial aos alunos com Autismo no 1º ano,
devido às mudanças que ocorrem em sua vida escolar; mais tempo e explicação das atividades;
138
NARRATIVAS DA PESQUISADORA:
Inicialmente, identificamos, nas falas dos participantes e no diário de campo, que havia poucos
momentos de planejamento coletivo para a construção de planos de trabalhos para os alunos com
deficiência ou transtornos globais do desenvolvimento. Parecia que bastava o tempo do recreio para
se tratar dos casos mais desafiadores da escola. (SANTOS, 2017, p.114).
Notamos que o planejamento também era um obstáculo para as estagiárias, pois não havia
momento destinado a esse fim e isso, de certa forma, trazia consequências para o apoio dado ao aluno
com Autismo e à turma, como podemos observar no relato. (SANTOS, 2017, p. 118).
Notamos que Ângela queria ensinar o aluno o que os outros estavam aprendendo, mas o seu
choro e a sua insistência em ir para casa dificultavam conhecê-lo melhor. Foi necessário chamar a
atenção dela para o aluno e não para o Autismo em si: descobrir o que João sabia e quais seus
interesses ajudaria no planejamento de novas atividades e potencializaria sua participação; ver João
como um todo, com suas particularidades, não isoladas, mas contextualizadas em sua família e história
de constituição. (SANTOS, 2017, p.119).
Assim, no momento inicial da pesquisa, o planejamento realizado pelas professoras, estagiária,
pedagoga e o coletivo não acontecia com regularidade. Além da inconstância, também notamos uma
busca por atividades pouco diversificadas e sem necessariamente estarem atreladas aos objetivos
definidos para a turma, principalmente para João. O planejamento coletivo precisava ser (re)significado
para avançar na qualidade das discussões pedagógicas, para além de relatos sobre os maus
comportamentos dos alunos ou as peculiaridades da criança atendida pela Educação Especial. O
grupo precisava refletir mais sobre: o que ensinar? Por que ensinar? Para quem ensinar? Como
ensinar? Contudo, não era só uma questão de reflexão, o grupo precisava de ação a partir desses
questionamentos. (SANTOS, 2017, p. 120).
Um relato nos ajuda a compreender como era a prática pedagógica da professora Laura. Ela
conta o que aconteceu enquanto eles estudavam sobre a pirâmide alimentar: A atividade indicada foi
139
pintar as gravuras na folha em que estava uma pirâmide alimentar e, ao orientar os alunos, a professora
Laura perguntou: – Posso pintar a alface de marrom? Os alunos responderam: – Não! – Posso pintar
o pão de roxo? Novamente os alunos falaram em coro: – Não! E ela caminhava pela sala entre as
fileiras organizadas com as carteiras em duplas olhando como cada aluno estava pintando seus
desenhos. Guilherme estava pintando as gravuras com a ajuda da estagiária. Nesse ínterim, Marcos
havia chamado a estagiária para ajudá-lo porque não estava entendendo a figura que representava a
manteiga no topo da pirâmide. A estagiária aproximou-se dele e falou qual era a gravura e ele
prosseguiu pintando, organizado, usando as cores correspondentes ao alimento e, em alguns
momentos, ele parava à frente da folha e balançava suas mãos e o tronco. Repetiu esse gesto três
vezes durante a atividade que durou cerca de 30 minutos. [...] quando o aluno foi mostrar a atividade
na mesa da professora, ela notou que ele não havia pintado todas as figuras e disse: – Ainda tem
espaço em branco nas figuras, volta lá e pinta com capricho. O aluno retornou para sua cadeira e
pintou a atividade. Ele havia sido o primeiro a terminar (Diário de campo dia 14/08/2015). (SANTOS,
2017, p. 123).
Os professores apontavam a necessidade de preparação da escola diante das matrículas de
alunos com Autismo. Na verdade, alguns casos demandavam mais atenção do que outros. Para o
grupo, era preciso estudar para trabalhar com um número considerado grande de alunos matriculados
naquele ano com necessidades educativas especiais por deficiência e transtorno. Assim, a formação
de professores foi um dos primeiros desafios apontados pela escola diante da matrícula de alunos com
Autismo. (SANTOS, 2017, p. 131).
Buscamos construir estratégias que favorecessem a permanência do aluno na escola, mesmo
sem conseguir discutir até aquele momento a realização das tarefas juntamente com as outras
crianças. A pedagoga sugeriu usar fotos do aluno em diferentes atividades para que ele aos poucos
reconhecesse os lugares, as pessoas e as diferentes atividades da escola, pois ela já havia
desenvolvido em outra escola essa experiência. (SANTOS, 2017, p. 147).
Segundo as professoras, o uso dessa ferramenta de comunicação deu bons resultados. O
aluno participou dos momentos de construção do catálogo. Aos poucos João reconhecia os locais e
os diferentes profissionais que estavam atuando com ele e começou a manifestar uma preferência pela
sala de apoio. (SANTOS, 2017, p. 148).
A professora de Educação Especial, Ângela, e eu estávamos na sala de João e a professora
regente havia iniciado uma atividade sobre o folclore com a turma. João estava sem nenhuma proposta.
Havia dois lápis encaixados nas costas da cadeira da frente que o aluno pegava, fazia movimento de
batidas de baqueta e devolvia os lápis aos buracos na cadeira, novamente. Ângela pede uma atividade,
uma folha xerocada para tentar fazer com o aluno, dizendo: – Vamos fazer o dever e depois você
brinca com a ‘baqueta’, combinado, João? – Combinado. Ele respondeu – Vamos fazer uma atividade
que está todo mundo fazendo. Ele olhou para o lado e observou os outros alunos realizando a
atividade, cada um em sua mesa, calados, concentrados na proposta. – É um caça-palavras – disse
Ângela – você conhece os personagens? Ele ficou quieto. Ela mesma respondeu. – Esse é o Saci, ele
tem uma perna só, mas está dando para ver direito, né? (apontando para a imagem do Saci na folha
com o dedo). Olha o nome dele aqui. Começa com que letra? (mostrando a palavra escrita na folha) –
S. – E depois vem o quê? João foi respondendo letra a letra a cada pergunta da professora Laura,
formando a palavra SACI. – Então vamos procurar onde tem o S no quadro do caça-palavra? (aponta
para o quadro) – Ele apontou a letra S. (SANTOS, 2017, p. 154).
Quando entrei na sala, João estava com a tesoura na mão querendo cortar a letra ‘O’ da capa
do livro de Matemática. A estagiária explicou que não era para cortar, mas ele insistia e chorava muito
querendo cortar a letra. Ela tirou o livro de perto dele. Perguntei à professora se havia revistas para
recorte na sala. A professora Ivete apontou a prateleira de baixo no armário e autorizou com um sorriso
que eu pegasse uma revista. Peguei a primeira que vi e, para a minha alegria, havia uma letra O bem
grande na capa. Pesquisadora – Olha, João, uma letra ‘O’. Vamos cortar? O aluno parou de chorar e
cortou a letra ‘O’. Enquanto isso, olhei para o lado e perguntei à estagiária o que os outros alunos
estavam fazendo. Ela disse que eles estavam usando o livro para fazer uma atividade de formas
geométricas. Deveriam cortar as formas do triângulo, quadrado, retângulo, círculo que estavam no
apêndice do livro didático para realizarem a atividade em outra página do livro. Eu perguntei a ela se
isso foi explicado para João. E ela respondeu que não. Então, eu retirei a página do final do livro e pedi
que ela recortasse as figuras enquanto eu mostrava para ele as formas geométricas na página indicada
pela professora. Fui perguntando para ele, apontando cada imagem das formas geométricas e as cores
e ele respondeu adequadamente. Logo depois a estagiária me entregou as figuras cortadas e ele colou
todas corretamente, eu entreguei uma de cada vez e perguntei qual era a forma e a cor. Ele respondia
e colava no livro como as outras crianças, nos locais apropriados (Diário de campo dia 05/06/2015).
140
Foi a partir desse relato que confirmamos nossa análise, em conjunto com os professores, do
movimento de conhecer melhor a criança, identificar suas singularidades e potencialidades e encontrar
caminhos diferenciados para seu envolvimento nas tarefas escolares. (SANTOS, 2017, p.156).
Em relação às atividades instituídas pelas professoras de área, Arte e Educação Física,
percebemos que João conseguia participar junto com os outros alunos, em alguns momentos.
Principalmente nos dias em que as professoras explicavam as atividades diretamente para ele e
quando o próprio João parecia estar mais aberto a aceitar novas propostas. Indicar passo a passo e
reiteradamente a forma de comportamento adequado nos jogos ajudava João a realizar a atividade,
organizando seu pensamento e ação, (SANTOS, 2017, p.163).
Conversando com Júlia sobre a participação de João nas atividades, ela diz que muitas vezes
ele chega na sala de aula e a professora entrega folha, e ele não quer. Quando a professora vai
entregar para os alunos, ele já fala, ‘folha não, ler não’. Então Júlia pega a folha e diz: ‘Não vou ler
para você, não, vou ler para mim’. Vira a folha para o seu lado e começa a ler o texto... João olha meio
de lado para o que ela está lendo. Quando termina a leitura, ela começa a falar em voz alta os
enunciados, as perguntas sobre o texto, personagens e outras propostas da atividade. João responde
oralmente a todas as perguntas. Isso tem dado muito certo! Daqui a pouco ele está envolvido! (Diário
de campo dia 16/11/2015). O objetivo proposto para a turma era ler um texto e responder às perguntas
relacionadas com a leitura, mas o aluno com Autismo nem queria receber a folhar, que dirá ler. Então,
fazia toda a diferença para ele a leitura intencional da estagiária Júlia. O caminho usado pela estagiária
para chamar a atenção de João foi dizer que estava pegando a folha para ela, realizar a leitura em voz
alta, fazer perguntas no final de sua leitura, também em voz alta. Assim, o aluno foi participando da
atividade de uma forma diferente, indireta, mas possível. (SANTOS, 2017, p. 166).
Em relação aos alunos Marcos e Guilherme, a pesquisa-ação permitiu um percurso diferente
daquele seguido com João. Na turma em que eles estudavam, podemos dizer que as atividades
estavam sendo direcionadas intencionalmente pela professora regente, Laura.
Foram necessárias poucas negociações com as professoras, com a pedagoga, com a
professora de Educação Especial e com a estagiária, pois, nessa turma, a prática pedagógica parecia
não demandar grandes mudanças porque a professora registrava suas ações com o grupo com
intencionalidade; transmitia o conhecimento aos alunos; ensinava os conteúdos destinados para
aquele ano no Ensino Fundamental, considerando as diferenças entre os alunos; e estava atenta à
necessidade de avaliar o processo de aprendizagem de todos os alunos. (SANTOS, 2017, p. 167).
A prática pedagógica da professora ajudava a atender a essas demandas de Marcos e
Guilherme, pois ela identificava na turma dois grupos e fazia seu planejamento considerando as
demandas desses grupos. (SANTOS, 2017, p. 168).
Depois do período de observação participante, em uma tarde em que estávamos na sala
regular, a professora Laura entrega um encadernado de atividades xerocadas sobre diferentes
conhecimentos relacionados com os estudos da Ciência da Natureza (ela havia preparado três
encadernados para serem usados em três trimestres). A atividade daquele dia era fazer uma pesquisa
sobre brincadeiras antigas com os pais ou avós. Os alunos deveriam apresentar a pesquisa e, em
seguida, eles iriam colorir uma folha com diversas brincadeiras antigas. Todos participaram da aula.
No final, perguntei à professora qual seria a próxima atividade em continuação da proposta para aquela
aula. Ela disse que era só para eles escreverem os nomes. Então sugeri que vivenciássemos todas as
brincadeiras no dia seguinte e depois poderíamos dividir a turma em grupos para que eles
participassem de outra forma de brincadeira que envolveria a escrita das palavras (o nome das
brincadeiras). E ela aceitou. Envolvemos também a estagiária e a professora de Educação Especial
para a atividade que seria na semana seguinte” (Diário de campo dia 04/09/2015). (SANTOS, 2017, p.
169).
Nas situações descritas, encontramos subsídios que nos permitem afirmar que o que é
alternativo no trabalho com a criança com Autismo é a forma como vamos configurando – para essa
criança – a prática pedagógica pensada para todas as crianças. (SANTOS, 2017, p. 175).
Sobre a formação, reconhecemos a urgência de se pensar esse momento vinculado ao que
acontece na sala de aula do professor, por isso a importância da formação em serviço, com temas,
tempos e espaços destinados ao estudo das multideterminadas ações pedagógicas na escola. Esse é
o espaço que será disparador de dúvidas, sugestões, leituras, vivências que poderão fazer a diferença
na forma como compreendemos o ensino e a aprendizagem desses sujeitos. A prática pedagógica
deve ser intencional, planejada, sistematizada e colaborativa entre os professores, equipe gestora e
demais profissionais que atuam no espaço escolar. Essa articulação entre o ensino comum e a
Educação Especial, no caso de João, foi sendo constituída aos poucos, a cada encontro de formação,
planejamento das ações, execução do planejado, refletida principalmente nas ações entre a professora
141
de Educação Especial, Ângela, e a estagiária, Júlia. Esse aluno precisava de tempos diferenciados,
negociações, ajustes de conduta, com o outro conduzindo suas ações não de uma forma mecânica,
mas mostrando a João que era possível aprender e demonstrar o que já sabia. Na aposta constante
da professora Laura, encontramos caminhos diferentes na maneira como ela conduzia sua turma. Os
alunos com Autismo no primeiro ano A não demandavam grandes mudanças em relação à forma de
apresentação dos conteúdos pertinentes ao 1º ano. Atentamos, no entanto, para a preocupação da
professora de que todos participassem das atividades e se apropriassem dos conhecimentos
abordados. (SANTOS, 2017, p. 176).
Fonte: Elaborado pela autora (2019).
142
Quais os autores que -BOSA, C. Autismo: atuais interpretações para antigas observações.
foram BAPTISTA, C. R.; BOSA, C. (Org.) Autismo e educação: reflexões e
utilizados/estudados para propostas de intervenção. Porto Alegre: Artmed, 2002.
discutirem as -GÓES, M. C. R. Alunos com necessidades especiais no recreio da
observações feitas pelos escola inclusiva. In: JESUS, D. M.; BAPTISTA, C. R.; BARRETO, M. A.
pesquisadores para S. C.; VICTOR, S. L. (Orgs.). Inclusão, práticas pedagógicas e
produzirem suas trajetórias de pesquisa. Porto Alegre: Mediação/Prefeitura Municipal de
análises? Vitória/ CDV/ FACITEC, 2007.
Quais conceitos foram O aporte teórico utilizado pela pesquisa se baseou na interlocução entre
utilizados pelos as contribuições do campo da educação inclusiva e a Filosofia
pesquisadores das teses Fenomenológica de Martin Heidegger e Maurice Merleau-Ponty,
e dissertações partindo da analítica existencial do Ser, considerando o sujeito com
analisadas para Autismo como ser-no-mundo e discutindo as relações estabelecidas
discutirem as entre os sujeitos, tal como postula Merleau-Ponty.
observações feitas a
respeito da inclusão com
alunos com TEA na
escola regular?
Quais os autores que Há um debate com teóricos que trabalham o modo de ver a educação
foram inclusiva na realidade educacional brasileira atual (...), teóricos como
utilizados/estudados para Sílvia Ester Orrú, Maria Teresa Eglér Mantoan e Ivanilde Apoluceno de
discutirem as Oliveira.
observações feitas pelos Parizzi e Reali (2002), por meio da revisão bibliográfica, realizaram-se
pesquisadores para leituras sobre educação inclusiva, Autismo, tendo como referências
produzirem suas Mantoan (2006); Baptista e Bosa (2002), Oliveira (2005), entre outros.
análises? (p. 30).
O que os pesquisadores Fica evidente que o despreparo dos professores e a carência de uma
das teses e dissertações formação continuada dos docentes, de forma sistemática, é sempre um
em análise destacam a dos pontos mais discutidos com relação à inclusão. (p. 64)
partir das observações [...]. Percebe-se também o uso da interação pelos professores como
feitas sobre a inclusão do instrumento de larga dimensão para se atingir os objetivos propostos em
aluno com TEA na escola cada atividade. (p. 73)
regular e como foram [...] O comportamento apresentado por Lucas e seus colegas, pode-se
produzidos os dados de esperar que essas interações sociais possam contribuir para o
tais práticas? desenvolvimento da fala e da personalidade desse aluno autista, mesmo
quando a dificuldade de interação social e ausência de fala sejam
características do Autismo. (p. 76)
[...]. Pode-se perceber que Lucas consegue iniciar interação com os
colegas, mesmo que não o faça oralmente como os outros. (p. 78)
Nota-se que, quando Lucas adquire familiaridade com as pessoas que
o cercam, ele apresenta, algumas vezes, iniciativa de interação. E como
resposta, em geral, sempre encontra colaboração de alguém para
participar do que é proposto por ele (em forma de gestos, apontamentos
ou falas não convencionais). E isso é muito importante para as crianças
autistas. (p. 82-83)
Como foi visto nos episódios de intervenção da professora e em vários
episódios de interação com o aluno Lucas, a preocupação em mediar,
interferir em comportamentos sociais tidos como incorretos, e promover
atitudes de cunho pedagógico, os procedimentos educacionais com
crianças com Autismo visam, entre outros, facilitar o desenvolvimento
do aspecto social. (p.101)
Durante as observações para a realização deste trabalho e enquanto
docente com algumas experiências com crianças na educação infantil,
é nítido quando se olha para o passado e percebe-se o ganho para as
práticas pedagógicas nesses casos. Tudo é lentamente aprendido e
reaprendido a cada vez que se tem um aluno diferente. A ajuda e
colaboração da equipe escolar e dos próprios colegas de classe
enriquecem não só os momentos de socialização da criança em
questão, bem como a maneira de lidar em diversas situações do meio
que a envolvem: situações afetivas, motoras, de cuidado pessoal, ou
adaptações físicas, do espaço, do tempo, da rotina da sala de aula e da
escola como um todo. (SANTOS, 2014, p.105).
Quais os autores que Kanner, 1942; Gadia, Tuchman, Rotta, 2004; Klin, 2006; Nagueira, 2007;
foram Bosa, Camargo, 2009; Rubira, Santos, Martins, 2011, Aranha, 1991;
utilizados/estudados para Mello, 1997; Batista, Enumo, 2004; Carvalho, 2004; Silva, Aranha, 2005.
discutirem as (p. 70)
observações feitas pelos
146
pesquisadores para
produzirem suas
análises?
Quais conceitos foram - Conceito de currículo (p. 32); - As relações e interações professor-
utilizados pelos aluno foram estudadas por Silva e Aranha (2005) (p. 47); - conceitos e
pesquisadores das teses referências com relação a currículo e escola; - Currículo oculto e
e dissertações currículo em ação. (p. 55)
analisadas para
discutirem as
observações feitas a
respeito da inclusão com
alunos com TEA na
escola regular?
Quais os autores que Base teórica: Cunha (2012, 2013), Mello (2007), Orrú (2009, 2012), Silva
foram et al (2012), Suplino (2009), que discorrem sobre o Autismo, sua
utilizados/estudados para etiologia e/ou inclusão, abordando aspectos da promoção,
discutirem as aprendizagem, sociabilidade e autonomia do aluno com TEA. (...) Sobre
observações feitas pelos educação inclusiva, serviram de base analítica Santos e Paulino (2008),
pesquisadores para Santos (2013), Booth e Ainscow (2011), os quais demonstram uma visão
produzirem suas a respeito das culturas, políticas e práticas da educação inclusiva na
análises? atualidade, enfatizando a visão omnilética (...). Também Konder (1981,
2008), Netto (1985), Lima (1996, 2002), Lukács (2010) e Morin (2006,
2007) que ajudaram a compreender os princípios da concepção
omnilética. (p. 36)
Quais conceitos foram Conceito de inclusão na visão omnilética (SANTOS, 2012, 2013) que se
utilizados pelos constitui de três bases: 1- culturas, políticas e práticas (BOOTH;
pesquisadores das teses AINSCOW, 2011); 2- dialética segundo Konder (1981, 2008) e Lukács
e dissertações (2010); e complexidade de Morin (2006, 2007, s/d). (p. 9) (...). conceito
analisadas para essencial da dialética para a construção da omnilética. (p. 40).
discutirem as
observações feitas a
respeito da inclusão com
alunos com TEA na
escola regular?
O que os pesquisadores A fala da professora demonstra que, nem sempre, ou quase nunca, o
das teses e dissertações professor está preparado para receber o aluno com deficiência.
em análise destacam a Segundo ela, ele vai buscar a formação apenas quando já tem o aluno
partir das observações na turma. (p. 73)
feitas sobre a inclusão do [...] O planejamento, na maioria das vezes, não tem uma relação muito
aluno com TEA na escola grande com os conteúdos da turma, tá muito na questão do socialização,
regular e como foram da aceitação do colega próximo. (p. 78)
produzidos os dados de A professora fala das limitações da aluna tanto para a socialização
tais práticas? quanto para a aprendizagem, “é muito limitado essa coisa de inserir ela
nas atividades junto com os colegas”. Por um lado, a voz da professora
evidencia que o trabalho pedagógico direcionado à aluna autista pouco
ou em nenhum momento tem uma intencionalidade que de fato coloque-
a em um lugar privilegiado. Por outro lado, também não a insere as
atividades desenvolvidas pelos outros alunos. (p. 79)
Constatamos na fala da professora que: Eles demonstraram ter medo
de não conseguir fazer com que os alunos aprendam, medo do
julgamento dos outros professores por ter aceito o aluno em sala; e o
mais importante, medo em enfrentar o trabalho pedagógico com essas
pessoas que, por vezes, é marcado pela “falta de capacidade e às vezes
de ‘jeito’ para trabalhar com elas foram levantados pelas professoras
entrevistadas como fatores de não aceitação dos mesmos na escola”.
(p. 81)
Ao analisarmos as tarefas desenvolvidas até aqui, percebemos que não
há essa preocupação com a interação dos alunos. Mas, ao contrário, há
diferenciação entre o que tem sido trabalho com Jacira e o que se faz
com o restante da turma, havendo, desse modo, uma total diferenciação
entre eles, e reforçando a fala da professora ao relatar “que a aluna está
num nível muito abaixo da turma”. (p.88)
Um dos pontos que merece ser compartilhado diz respeito aos tempos
e às atividades que os alunos da classe realizam. Enquanto a aluna fazia
a atividade elaborada para ela, conforme. (p. 89)
De acordo com a professora, tais atividades visavam desenvolver na
aluna habilidades de atenção, concentração, participação e socialização
com os demais alunos da classe. Porém, o que observamos é que os
alunos não foram estimulados a incluir Jacira em seus grupos. (p. 93)
Questionamos como seria possível ampliar a socialização e interação
da aluna se o próprio ambiente escolar não favorece essa aproximação,
como se vê na maioria das imagens. As cadeiras individualizadas, os
alunos sentados sozinhos ou com seus grupos próximos. Poucas foram
as atividades que permitiram a Jacira mais aproximação de seus
colegas, pelo menos quando estivemos observando. (p. 95)
Nas falas das duas professoras é possível perceber a espera de que a
própria aluna se insira nos grupos, e interaja com os outros alunos. (p.
96)
As duas professoras foram enfáticas ao dizer que não tiveram formação
adequada para atender o aluno autista, e mesmo que tenham feito
leituras, buscando individualmente informações sobre como
desenvolver atividades com a aluna autista, ainda assim, sentiam-se
inseguras algumas vezes. Esta insegurança e o desconhecimento sobre
o Autismo, a falta de práticas pedagógicas adequadas para a escola
inclusiva e o desconhecimento de habilidades próprias da aluna,
impediram que a inclusão acontecesse. (p. 103)
Quais os autores que No contexto desta trajetória profissional que me aproximei do meu objeto
foram de pesquisa, que neste caso é a prática pedagógica do professor. É
149
utilizados/estudados para oportuno dizer que busquei fundamentá-lo a partir de alguns autores que
discutirem as trabalham o tema como Grandin (2016), Cunha (2014; 2015), Bentes
observações feitas pelos (2010), Oliveira (2003; 2007) e Bueno (1999). Sampiere (2013).
pesquisadores para Mantoan (2011). (p. 15)
produzirem suas
análises?
O que os pesquisadores Através de relatos das entrevistadas, pode-se perceber que a chegada
das teses e dissertações do autista na escola, muitas vezes implica em trabalhar a socialização
em análise destacam a para posterior aprendizagem, como visto nas respostas obtidas no
partir das observações questionamento. (p. 48)
feitas sobre a inclusão do Como possível observar nas respostas, houve a necessidade da
aluno com TEA na escola socialização antes da aprendizagem. Entender como o aluno se
regular e como foram socializaria com as demais crianças da sala compreende a preparação
produzidos os dados de do professor para recebe-lo. (p. 49)
tais práticas? Atualmente, com a inclusão nas escolas, as mesmas têm se preparado
para receber essas crianças com adaptação curricular, com
planejamento diferenciado ou atividades diferenciadas, a fim de
propiciar a aprendizagem no ambiente oferecido. (p. 55).
Foi um momento importante para perceber que, mesmo socializado na
escola, a presença de uma pessoa “estranha” a ele interferiu para
apresentar questões referentes a aprendizagem. (p. 56)
Diante do exposto, pode-se pensar que a aprendizagem do autista é
possível acontecer a partir do momento que se cria essas condições
necessárias para que esse aprendizado ocorra. Diante disto, na
questão. Em sua opinião quais foram os resultados da inclusão desse
aluno até o momento: para você? E para a criança com necessidades
educacionais especiais? E para as outras crianças da turma? “Primeiro
ano inteirinho foi só para a socialização [...] O ano passado quando que
eu tinha uma auxiliar deu pra trabalhar com ele e ele já tinha socializado
com a escola, [...] devagar ele está assimilando a rotina, as regras...
atraindo ele para fora, pra socializar, pra aprender, pra aprender um
conhecimento que ele também é muito inteligente e a socialização, o
brincar com os amigos, com os colegas e a possibilidade dele se
expandir dele se expressar do jeito dele, né, (p. 60)
Nota-se que a inclusão para crianças com Autismo, mesmo que a
passos lentos, traz resultados positivos tanto para a própria criança
quanto para as crianças que estão a sua volta. [...] a evolução deste
aluno que ela já acompanha há três anos, não só na socialização, mas
também na aprendizagem. (p. 61)
Percebe-se a importância do professor enquanto mediador da sala de
aula em saber ouvir/ver essa criança e entender o seu modo de
expressão, de comunicação e de aprendizado. (p.61)
Pode-se observar que as professoras, ao assumir esse papel de
mediadoras, não apenas estão ali para mediar a cultura-criança,
criança-cultura, mas no caso das crianças com Autismo, para lhes
151
Quais os autores que Na pesquisa em análise, para discorrer a respeito das políticas de
foram inclusão e a temática do Autismo, são utilizados: Miranda (2008),
utilizados/estudados para Mazzotta (2001), Mendes (2010), Deimling (2013); sobre a mediação na
discutirem as prática escolar do autista, a base teórica foi: Vygotsky (1989, 1993,
observações feitas pelos 1995, 2014), assim como: Praça (2011), Melo (2007), Cruz (2014),
pesquisadores para Prates e Martins (2011), Schirmer, Fontoura e Nunes (2004), D’aroz
produzirem suas (2013), DSM V (2014), Sheuer (2002), Beatón (2001), Vasques e
análises? Baptista (2014), Knittel (2014), Mello (2002) .
Quais os autores que Lemos, Salomão e Agrepino-Ramos (2014), Costa, Zanata e Capellini
foram (2018), Carneiro (2012), Monteiro e Ribeiro (2019), Leite e Abrão (2015),
utilizados/estudados para Cipriano e Almeida (2016), Barros e Fontes (2016), Nunes e Bruni
discutirem as (2015), Caetano e Gurgel (2018), Calheiros e Mendes (2016), Nogueira
observações feitas pelos (2011), Oliveira (2014), Brandão e Ferreira (2013), Meier e Garcia
pesquisadores para (2011), Capellini, Shibukawa e Renaldo (2018), Farias (2008).
produzirem suas
análises?
Quais conclusões os Foi possível constatar a pouca interação da professora com o aluno, o
pesquisadores retiram seu despreparo para atender às demandas da criança, bem como as
das suas análises das dificuldades em realizar adequações curriculares. Em termos gerais, a
teses e dissertações docente não criava condições e estratégias interventivas que
sobre a inclusão proporcionassem a participação e o engajamento do aluno nas
trabalhada por atividades acadêmicas e funcionais, de acordo com as suas
educadores com alunos necessidades e potencialidades. (p.87).
com TEA na escola
regular?
Quais os autores que Para fazer a leitura dos materiais me inspirei de forma muito cuidadosa
foram no pensamento de Foucault e Larrosa (2008), Veiga (2002), Fischer
utilizados/estudados para (2013), Popkewitz (2008), Fischer (2013), Elias (1993), Varela (1996),
discutirem as Kupfer (1997), Veiga-Neto e Agamben (2009), Vasques (2018).
observações feitas pelos
pesquisadores para
produzirem suas
análises?
trabalhada por [...] Partindo da leitura do presente, das fontes de pesquisa e das ações
educadores com alunos evidenciadas na escola é possível constatar que a escola
com TEA na escola contemporânea com suas ações voltadas para a inclusão de alunos com
regular? Autismo apresenta práticas pedagógicas excludentes. Pode-se dizer
que essa é uma escola homogeneizadora que não acolhe as diferenças,
apesar de um imperativo de inclusão. [...] Outra forma de pensarmos a
dinâmica da escolarização de alunos com autismo é como um
dispositivo de práticas de socialização que procura adaptar esse sujeito
frente às demandas de uma escola que, ao tentar oferecer-lhe um lugar,
busca em alguns casos, no diagnóstico médico um “nome” para esses
sujeitos. (p.102)
Tendo em vista os discursos que envolvem as práticas de socialização
dos alunos em questão, formulo a tese de que essas práticas poderão
se constituir como um lugar possível, uma porta de entrada para os
alunos no mundo da escola. Para tanto, é importante um professor
acolhedor, disposto a se perguntar sobre quem é esse aluno, que
relações ele estabelece com o outro e em que tempos e espaços se dão
os desdobramentos daí decorrentes. [...]. Pude constatar a partir das
análises empreendidas, que o currículo, igualmente como as ações
pedagógicas direcionadas a esses alunos, não é inclusivo. [...] As
práticas de acolhimento aos alunos com Autismo poderão se configurar
como um primeiro passo para a inserção desses alunos no verso
escolar. Sendo assim, práticas de socialização constituem-se em
práticas de escolarização. (p. 103)
Sobre a questão da aprendizagem de conteúdos pedagógicos a
pesquisa revelou que há um esvaziamento dos conhecimentos
endereçados a esses alunos. Esse fato é notório quando analisamos os
pareceres pedagógicos que revelaram a pouca existência da avaliação
da aprendizagem de conteúdos formais, bem como, a escassa
visibilidade sobre um planejamento escolar para esses alunos. Os
professores não deixam transparecer um programa que inclua metas e
possibilidades de conteúdo a serem administrados. (p. 103).
O que os pesquisadores Interessa notar que em alguns pareceres pedagógicos e planos de AEE
das teses e dissertações essas manifestações tomam boa parte da escrita, evidenciando a
em análise destacam a dificuldade de lidar com elas e a angústia que geram.[...] A instituição
partir das observações escolar prima pelo respeito às normas e diversas atividades são
feitas sobre a inclusão do realizadas nesse sentido, como, por exemplo, o cartaz das regras da
aluno com TEA na escola turma, a assinatura do livro negro em caso de desobediência, as
regular e como foram advertências, etc.(p.146)
produzidos os dados de As narrativas das professoras evidenciam que, diante de alunos reais,
tais práticas? outras estratégias podem ser necessárias para que a escolarização seja
possível, ao menos em um primeiro momento. Desse modo, estudar
cada caso, estabelecendo parcerias entre as famílias e os profissionais
da saúde, e tornar a escola um espaço de invenção permite que alguns
alunos possam permanecer e usufruir das ofertas produzidas no
contexto educacional. (p. 151)
[...]. Nessa perspectiva, parece-me que emergem dois pontos
importantes a serem sinalizados em relação a essa atuação. O primeiro
é a formação desses profissionais, diante da complexidade do que lhes
é demandado, uma vez que são acadêmicos, normalmente sem
experiência no contexto escolar ou mesmo com o Autismo. [...] O
segundo ponto é a interlocução que deve haver entre esses monitores
e os demais profissionais da educação a fim de serem tecidas
possibilidades educativas para os estudantes. (p. 157)
155
Quais os autores que A produção escrita operou com duas premissas teóricas básicas. A
foram primeira é a concepção do desenvolvimento infantil conforme postulado
utilizados/estudados para por Coriat e Jerusalinsky (1996), e a segunda premissa, relacionada
discutirem as com a forma de entender o desenvolvimento infantil, Kupfer e
observações feitas pelos Bernardino (2009), Bercherie (2001).
pesquisadores para
produzirem suas
análises?
Quais conclusões os Por meio da análise dos documentos escolares emergiram três outros
pesquisadores retiram elementos, que apareceram de forma recorrente na narrativa das
das suas análises das professoras. O primeiro diz respeito aos tempos e espaços na dinâmica
teses e dissertações pedagógica. As práticas escolares narradas demonstraram que
sobre a inclusão diferentes adaptações foram necessárias na dinâmica pedagógica a fim
trabalhada por de tornar a escolarização possível. [...] O terceiro elemento que
educadores com alunos perpassou a escrita dos pareceres e dos planos de atendimento
com TEA na escola educacional especializado das professoras dizia respeito à interação
regular? com os colegas. Nesse sentido, as narrativas das professoras
demonstraram a importância dos encontros desses alunos com as
demais crianças para seu desenvolvimento. (p. 166)
Acredito que na inclusão de alunos com Autismo é necessário que se
produzam torções na operacionalização das práticas escolares, de
forma que estas não se centrem somente em conteúdos canônicos, mas
contemplem produções que enlacem esses sujeitos aos outros e ao
universo simbólico. Dessa maneira, abrem-se possibilidades de
construções de práticas escolares próprias a cada instituição. (p. 166)
O que os pesquisadores A professora titular, quando questionada por nós sobre expressar seu
das teses e dissertações ponto de vista acerca dos modos de fazer inclusão escolar. [...] Declarou
em análise destacam a que trazia seu notebook e deixava o aluno usando a tarde toda, e que
partir das observações nesse ano ele ficava na sala de aula e não na sala de informática como
feitas sobre a inclusão do estava atualmente. [...]. Vimos que a professora titular analisava as
aluno com TEA na escola situações, mas não se envolvia com a aprendizagem dos seus alunos
regular e como foram com necessidade educacionais especiais (NEE). (p. 57)
156
Quais os autores que O aporte teórico desta tese está na área da Psicologia do
foram desenvolvimento, mais especificamente na abordagem histórico-cultural
utilizados/estudados para que trata de aprendizagem mediada.
discutirem as Camargo e Bosa (2009), Bez, Battistuzzo, Araújo, Braga, Corrêa Netto,
observações feitas pelos Cunha, Feuerstein, Reuven, Knight e colaboradores (2012), Panerai e
pesquisadores para colaboradores (2009), Camargo e Bosa (2009) e Gomes (2007).
produzirem suas
análises?
Quais conceitos foram Essa é uma abordagem que descreve o Transtorno do Espectro do
utilizados pelos Autismo (TEA), os conceitos de inclusão escolar, infância e
pesquisadores das teses desenvolvimento social e acadêmico e ainda define formação docente e
e dissertações flexibilização curricular.
analisadas para
discutirem as
observações feitas a
respeito da inclusão com
alunos com TEA na
escola regular?
157
Referência 11 SANTOS, Emilene Coco Dos. Os alunos com Autismo no primeiro ano
do Ensino Fundamental e os movimentos de construção das práticas
pedagógicas. Doutorado em Educação, Universidade Federal Do
Espírito Santo. Vitória, 2017.
O que os pesquisadores Estar diante do aluno com Autismo pode paralisar a prática pedagógica
das teses e dissertações de muitos professores pela maneira como essa síndrome foi se
em análise destacam a constituindo historicamente. [...] Ele não está na escola somente para
partir das observações socializar, brincar e porque é garantido por lei. Acima de tudo, ocupa
feitas sobre a inclusão do esse espaço de formação social para apropriação de conhecimento, das
aluno com TEA na escola produções culturais e também socializar-se com os outros. (p. 71)
158
regular e como foram No início do ano letivo, não havia um número suficiente de pessoas para
produzidos os dados de o apoio pedagógico nas salas de aula que tinham alunos acompanhados
tais práticas? pela Educação Especial, por isso alguns professores trabalhavam
sozinhos com a turma. Isso se tornava um problema, no 1º ano,
principalmente na turma onde estavam matriculados dois alunos com
Autismo.
Inicialmente identificamos, nas falas dos participantes e no diário de
campo, que havia poucos momentos de planejamento coletivo para a
construção de planos de trabalhos para os alunos com deficiência ou
transtornos globais do desenvolvimento. (p. 114)
[..]. Em alguns momentos, os professores preferiam realizar o
planejamento sozinhos. [...] muitas vezes, não tinha o tempo de
planejamento garantido, pois não havia outro profissional para atuar com
sua turma. (p. 116-117)
Notamos que o planejamento também era um obstáculo para as
estagiárias, pois não havia momento destinado a esse fim e isso, de
certa forma, trazia consequências para o apoio dado ao aluno com
Autismo e à turma (p. 119)
O planejamento coletivo precisava ser (re) significado para avançar na
qualidade das discussões pedagógicas, para além de relatos sobre os
maus comportamentos dos alunos ou as peculiaridades da criança
atendida pela Educação Especial. (p. 120)
Os professores apontavam a necessidade de preparação da escola
diante das matrículas de alunos com Autismo. [...] a formação de
professores foi um dos primeiros desafios apontados pela escola diante
da matrícula de alunos com Autismo. [...] Todos os participantes da
pesquisa se queixavam da falta de conhecimento para lidar com o aluno
com Autismo. (p. 131)
Percebemos que parte dos egressos parece não estar apta para atuar
com a ética e o compromisso esperados quando se trata do trabalho
pedagógico com pessoas com Autismo. (p. 134)
As professoras reconheciam as limitações no que se refere à formação
inicial quanto ao estudo sobre a Educação Especial. [...] Por outro lado,
queixavam-se da falta de tempo para tal estudo mais aprofundado e
ressaltavam que a maneira como o processo de inclusão ocorreu
dificultou a preparação dos profissionais: “imposta de cima para baixo”,
não permitindo ao professor tempo para estudar. [...]. Ainda que a
inserção de alunos público-alvo da Educação Especial tenha sido
implementada sem uma preparação inicial mais consistente dos
docentes da educação básica, entendemos que esse é um argumento
frágil para que o professor não se proponha a desenvolver uma prática
educativa que vise a propiciar a apropriação de conhecimentos por
todos os alunos. (p.135)
Constatamos na escola participante que o discurso da falta de formação
adequada e da informação específica trouxe grandes desafios para os
participantes da pesquisa, diante do aluno com Autismo (não
desconsiderando as outras deficiências e especificidades encontradas
na escola) nas atividades pedagógicas desenvolvidas em sala de aula.
Outra constatação é que, apesar da disposição da professora
especialista na área de deficiência intelectual em acompanhar o
processo de escolarização, sua prática inicialmente ainda estava
limitada ao desenvolvimento de atividades descontextualizadas,
ignorando o que acontecia em nível pedagógico na sala regular. (p. 144)
Foi a partir desse relato que confirmamos nossa análise, em conjunto
com os professores, do movimento de conhecer melhor a criança,
identificar suas singularidades e potencialidades e encontrar caminhos
diferenciados para seu envolvimento nas tarefas escolares. Em meio a
esse movimento poderíamos encontrar/construir caminhos alternativos
159
Quais os autores que Vigotski (1983, 1997, 2000a, 2000b, 2004), Luria e Yodovich (1985),
foram Luria (2010) e Leontiev (1978, 2010) sobre [DC1] o desenvolvimento das
utilizados/estudados para funções psicológicas superiores e os processos mediados, com
discutirem as destaque para o papel do outro no desenvolvimento humano.
observações feitas pelos
pesquisadores para
produzirem suas
análises?