Corpo Nu
Corpo Nu
Corpo Nu
RELATO DE PESQUISA
ABSTRACT: The body carries a fascination and magic present in representations of classic
and contemporary artists. Although the representation of the naked man is not a new theme in
the universe of the arts, she was undeveloped in artistic photography. The Project, “Nu Body:
photo essay as art” was thought to establish paths that address future production
photography of the male nude from the perspective of art, and as production, encourage
contemplative and poetic analysis in reading this stigmatized photographs naked.
1. introdução
A maneira como o corpo humano desnudo é percebido e compreendido pela sociedade
passou por inúmeras transformações ao longo do tempo. Contudo desde a Antiguidade
Clássica a nudez é um tema presente nas artes, tanto que logo após o surgimento da fotografia
houveram tentativas de fotografar o nu, e em uma das primeiras imagens, de Hippolyte
Bayarde57 (1801-1887), não se nota qualquer relação com erotismo ou pornografia, mas com
a forma humana.
Com o passar do tempo a fotografia registrada no século XX de corpo nu, tanto
masculino como feminino, foi ganhando destaque devido à imagem ser mais realista se
comparada com a pintura e a escultura daquela época. Porém, a sociedade condenou os
modelos de nu como depravados e imorais. Tal associação se deu principalmente pelo
surgimento dos pin- up, cartões eróticos lançados na virada do século XX que fizeram muito
sucesso durante duas décadas.
Assim, o mercado pornográfico, muito lucrativo, rendeu-se à fotografia fazendo com
que o nu artístico fosse visto com desconfiança e descrédito. Desse modo, é necessário
diferenciá-lo dos outros tipos de nus.
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Foi um pioneiro da fotografia e obteve o registro fotográfico do seu próprio corpo desnudo por meio do processo em
positivo sobre papel.
preocupação de toda sociedade em fazer produzir nele certas transformações que escolhe de
um repertório cujos limites não se pode definir. A análise dos contornos e formas presente nos
registros em preto e branco permite concluir que o corpo se assemelha a uma massa de
modelagem na qual a sociedade imprime suas próprias características, isso é, maneiras de
projetar a fisionomia do seu próprio espírito.
Mas antes da contemplação, existe uma longa discussão acerca dos limites da arte, do
erotismo e da pornografia nos registros artísticos, pois muitas produções tendem ao apelo de
cunho sexual, se tomarmos como ponto de partida a exploração e atual banalização dos
corpos, principalmente o feminino - exposto a maior parte do tempo pelo olhar de homens nos
mais diversos tipos de artes.
Para compreender o que não se considera como fotografia artística de nu, recorremos
ao seguinte conceito de pornografia: “expressões escritas ou visuais que apresentam, sob a
forma realista, o comportamento genital ou sexual com a intenção deliberada de violar tabus
morais e sociais” (Gregori, 2004: 236).
Longe dessa noção, “Corpo nu: ensaio fotográfico como arte” inverteu o gênero por
trás da objetiva. O masculino posa para o feminino, e corpo humano em sua essência é
capturado por mulheres que buscam transmitir por meio da arte a expressão máxima da
beleza, do movimento do corpo e não apenas dos atributos físicos do modelo.
O ensaio foi desenvolvido em estúdio, onde as poses e a iluminação podem ser
manipuladas, propiciando um resultado facilitado pelo controle dos elementos fundamentais
na composição.
A beleza dos registros em preto e branco capturam as texturas com mais detalhes e
neutralizam a variada exposição de cores - capaz de produzir sentidos e reações mais próprias
das fotografias de nu erótico e pornográfico. Assim, a essência do ensaio analisado encontra-
se na frase de Willian Blake , definida como na frase: “a arte jamais poderia existir sem expor
a beleza da nudez”58 (Borges, 2013), sem contemplar artisticamente os contornos e formas
que o nu masculino é capaz de expressar.
58
BORGES, Rejane O corpo humano causa fascínio e é exaltado como algo naturalmente belo. Como instinto, a nudez
sempre foi e será o meio pelo qual o homem busca uma conexão com o seu próprio ser e com a criação. Disponível em:
<http://obviousmag.org/archives/2011/01/qual_o_limite_que_as_separa_a_arte_da_pornografia.html>
Acesso em 13 jan. 2013
4. Descrição do processo
O ensaio foi elaborado mediante um prévio conhecimento na área técnica da fotografia
somado ao longo e demorado processo de pesquisa que conduziu a criação de imagens em
uma configuração teatral de um corpo humano masculino desnudo.
A escolha do ator e bailarino Luciano Barros Teixeira, vinte e três anos, que faz parte da
Companhia Teatral Miramundo Produções Culturais e do Grupo Teatral Improviso, ocorreu
devido à facilidade de exploração de uma narrativa corporal expressiva carregada por uma
composição satisfatória e um objetivo artístico autêntico.
A personalidade extrovertida e comunicativa do modelo tornou a sessão mais íntima;
diante de suas habilidades dramáticas e da sua flexibilidade que, permitiram poses mais
técnicas e acrobáticas; além da percepção artística das fotógrafas, por meio da qual o
resultado não seja a realização de imagens chocantes ou de desejo sexual.
Cada aluna/fotógrafa usou seu próprio equipamento, uma utilizou a câmera Nikon
D3000 com lente 18-55mm f/3.5-5.6G59 VR II (Vibration Reduction) AF-S (Build in Auto
Focus Motor) DX e as outras utilizaram câmeras Nikon D7000 com lente 18-105mm f/3.5-
5.6G ED VR AF-S DX60 . O estúdio foi montado no Laboratório de Fotografia do
Departamento de Comunicação Social da Universidade Federal do Maranhão – UFMA, São
Luís - MA61 . Equipado com duas fontes artificiais de luz básica contínua, sendo um, refletor
profissional leds CN-160 lâmpadas - com fluxo luminoso de 660LM, temperatura de cor
3200/5400K (Kelvin) e filtro difusor em acrílico; e um par de lâmpadas fluorescentes fixadas
no teto do estúdio com temperatura de cor 4000/5000K com intensidade de luz média.
A fim de promover efeitos interessantes de penumbra que causasse um ar de mistério e
devaneio, experimentaram-se possibilidades alcançadas por meio de um posicionamento das
iluminações, uma fixa no teto e outra móvel (que ora vinha de baixo para cima, dando uma
leitura de luz dramática, ou de cima para baixo, que propagou um brilho etéreo e misterioso; e
ora mais distante ou mais perto e posicionada em um dos lados do fotografado que levou a
acentuar com mais ou menos luzes apenas uma das áreas retratadas).
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Lentes controladas eletronicamente, não apresentam anéis no tambor.
60
São lentes exclusivamente desenhadas para câmeras digitais SLR da Nikon, levando em consideração seu fator de corte.
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MARANHÃO
4.1 Fotografias
Durante a observação do conjunto de fotografias é possível verificar a existência de
dois grupos de imagens que determinam a própria natureza da significação: o corpo nu
completo e com poses artísticas e a nudez masculina em detalhes.
A composição e a perspectiva dos grupos reafirmam as diferentes formas artísticas que
um corpo despido pode ser fotografado de forma artística com impacto visual sem provocar,
necessariamente, o desejo sexual. O ensaio não é resultado de uma composição perfeita, mas a
combinação de elementos.
5. Considerações
O ensaio teve como premissa os múltiplos olhares advindos da fotografia artística de
nu masculino. A arte, e nesse caso em específico a arte fotográfica, foi produzida e é
interpretada baseada nos filtros correspondentes a bagagem cultural de cada leitor. Essa
multiplicidade de concepções acerca da nudez masculina, somada ao vasto e diversificado
acervo teórico e empírico utilizado, possibilitou a elaboração de um ensaio fotográfico
autêntico.
O poder do discurso não-verbal presente nas imagens, desvenda e incita o mergulho ao
universo de contemplação do corpo humano, evidenciado por enquadramentos que variam de
um plano geral ao close-up. Muitas vezes sutis, os detalhes, ajudam para que a análise seja
feita de forma simples e primorosa. Cada destaque foi pensado e modificado de forma a
compor minuciosamente a imagem. O projeto “Corpo nu: ensaio fotográfico como arte”
elaborou um trabalho de nudez com um ângulo diferente. Capaz de despertar a apreciação do
corpo humano como uma conexão natural do seu próprio ser com a arte.
REFERÊNCIAS