Fadiga e Periodização Do Treino Desportivo
Fadiga e Periodização Do Treino Desportivo
Fadiga e Periodização Do Treino Desportivo
1. Sobrecarga
Implícita na própria noção de “adaptação de treino” está a ideia de que apenas estímulos
que perturbem de uma maneira importante o equilíbrio metabólico ou de regulação de
uma determinada função serão indutores do processo de reorganização interna
conducente ao surgir de uma capacidade de resposta superior.
mas possibilitar a realização de, por exemplo, 8 repetições, então os músculos não serão
sujeitos a sobrecarga e os efeitos do treino não serão os esperados. Neste caso, a carga
utilizada poderá permitir a manutenção de aquisições anteriores, o que é uma estratégia
de treino possível em determinadas circunstâncias, mas falhará o alvo se a intenção for
o desenvolvimento da força.
O mesmo se passará com o treino da resistência aeróbia. Para um atleta de fundo, treinar
na zona do limiar anaeróbio é condição fundamental para aumentar a sua capacidade de
desempenho a nível competitivo. Se as velocidades de corrida não acompanharem a
evolução ocorrida nas adaptações aeróbias e neuromusculares provenientes das semanas
anteriores de treino, as cargas tornar-se-ão irrelevantes para o fim em vista.
A noção de sobrecarga implica a adequação das cargas de treino a par e passo com a
mutação constante da capacidade máxima do indivíduo, ou seja, leva à organização de
uma progressão dos exercícios de treino no que diz respeito às componentes da carga,
noção que será explicitada mais à frente (princípio metodológico da progressão das
cargas de treino).
Existe um nível de carga óptimo, em cada situação, para cada atleta, que será aquele que
melhor estimulará o organismo no sentido de obter as adaptações desejadas. A regra
deverá ser de realizar o menor treino possível que permita atingir os objectivos em vista.
O treino não é, assim, um fim em si próprio mas um conjunto de procedimentos
considerados necessários para elevar a capacidade de desempenho competitivo.
Níveis de carga fracos não têm provavelmente qualquer efeito observável. No entanto,
por vezes é conveniente aplicar cargas deste tipo como instrumentos de recuperação
activa ou por outras razões. Existe, no entanto, um nível médio, inferior ao óptimo, que
é muito utilizado em tarefas variadas de estabilização das aquisições e do nível de
fadiga atingido ou para efeitos de aceleração dos mecanismos de recuperação cruzada.
Pode-se dizer que os níveis de carga fraco, médio e óptimo alternam constantemente e
alimentam a dinâmica do processo de treino global.
2. Especificidade
Neste sentido, convém clarificar que a intensidade é o factor que define por si só a
especificidade biológica, ou seja, o conjunto de adaptações que se vão pretender
induzir com a aplicação de determinado exercício. O volume da carga definirá o
grau dessas adaptações.
3. Reversibilidade
A perda das adaptações anaeróbias parece ser mais lenta. No que diz respeito às
enzimas chave do processo glicolítico, foram registadas diferenças mínimas da sua
actividade mesmo após perto de 3 meses de destreino. Isto não significa que o
desempenho não sofra quebras significativas, pois este depende de muitas outras
variáveis (Mujika & Padilla, 2000).
É provável que muitos atletas consigam manter o fundamental das suas adaptações
aeróbias durante um período longo de tempo apesar de uma redução significativa da
carga de treino. Para que isso aconteça, será conveniente manter alguma estabilidade na
intensidade dos exercícios, reduzindo-a não mais de 20%, preservar a frequência de
treinos semanais (não reduzir mais de 30%, ou seja, repousar 2 a 3 dias por semana em
vez de um) e, deste modo, reduzir significativamente o volume, até 70-80% do que o
atleta vinha fazendo no período imediatamente anterior.
4. Heterocronismo
Existem capacidades que necessitam de um tempo longo de estimulação para que ocorra
supercompensação, enquanto outras reagem num período de tempo relativamente curto.
Por exemplo, a resistência aeróbia exige, pelo menos, 20 a 40 dias de solicitação
sistemática para atingir valores elevados, enquanto algumas adaptações
neuromusculares, como a força rápida, podem sofrer acréscimos importantes num
período de tempo mais restrito.
Este fenómeno, representado pelos tempos diferenciados exigidos por cada capacidade
para que se atinjam níveis de adaptação importantes, é designado por heterocronismo
das funções biológicas.
O seu conhecimento, pelo menos nos seus traços gerais, é fundamental para uma
correcta programação do treino, principalmente ao nível da construção da semana de
treino (o microciclo), assim como para a distribuição das cargas de diferente natureza ao
longo da época competitiva, de modo a conseguir efeitos máximos e conjugados de
adaptações que terão que estar presentes nos momentos mais importantes em termos
competitivos, ou seja, nos chamados “picos de forma”.
Alguns exemplos que ilustram o heterocronismo das funções biológicas dizem respeito
ao tempo de compensação e restabelecimento de alguns processos metabólicos:
Por outras palavras, a relação existente entre tempo de aquisição e tempo de regressão
varia de capacidade para capacidade. As aquisições técnicas são aquelas que parecem
ser mais estáveis, podendo permanecer para toda a vida, independentemente do nível
das capacidades físicas.
Por outro lado, pode-se considerar como uma regra geral que as capacidades mais
facilmente treináveis, ou seja, aquelas cuja evolução é mais rápida em resposta aos
estímulos de treino, são também as que se perdem e recuperam com maior
facilidade.
- As aquisições que levam mais tempo a ser obtidas, mantêm-se durante mais tempo;
- O decréscimo dos efeitos da adaptação da carga será tanto maior quanto menos
consolidados estiverem os níveis de adaptação.
Para além do mais, este modelo só foi demonstrado até ao momento em mecanismos
celulares bem delimitados, como são a depleção/restauração das reservas de glicogénio
após estimulação muscular repetida, a reposição das reservas de fosfocreatina em
determinadas condições e a síntese proteica nas estruturas contrácteis musculares.
Apesar do seu carácter sedutor, pela sua simplicidade e aparente facilidade de aplicação,
descontando a incerteza sempre presente nas condições concretas de aplicação,
dificilmente se poderá deduzir deste modelo regras concretas para a prescrição dos
exercícios do treino e o seu encadeamento ao longo dos ciclos de preparação.
Alguns autores, por exemplo, Verkhoshansky (2002) apresentam esta curva como
denotando processos de longo prazo, ou seja, ciclos de preparação - competição
(macrociclo) com a duração típica de 12 a 20 semanas, onde surgem fases de sobrecarga
acumulada, com a correspondente perda temporária da capacidade de desempenho do
atleta, seguidos de uma fase de recuperação e especialização dos exercícios de treino até
que, por fim, se atingirá um período de duração limitada (2 a 6 semanas) onde os
processos de supercompensação se manifestarão numa capacidade acrescida de
desempenho competitivo.
Esquemas deste género lançam para estratégias de periodização do treino que não
vamos desenvolver aqui, mas que, não sendo únicos (existem outros modelos de
periodização) baseiam-se num conjunto vasto de observações de ciclos de treino
considerados bem-sucedidos, ao longo das últimas 4 a 5 décadas e em numerosos
desportos. Por outro lado, existe alguma evidencia que sustenta a perspectiva de que
estes processos dependem de alterações de longo prazo (ciclos até 20 semanas) dos
sistemas hormonais reguladores dos processos anabólicos e catabólicos com incidência
no metabolismo e na remodelação estrutural do músculo esquelético, alterações nos
subtipos das unidades motoras e nas condições de estimulação nervosa, remodelação
cardíaca e regulação do sistema cardiovascular no seu conjunto, ou o processo mais
A curva de regresso dos valores de fadiga ao nível inicial é mais pronunciada, ou seja, o
processo decorre num tempo mais curto que os processos de melhoria do estado de
treino induzidos pelo exercício ou conjunto estruturado de exercícios, numa relação
próxima de 1 : 3. Esta assimetria temporal explica os efeitos de ganho decorrentes das
sessões de treino, sem ter que se recorrer à noção vaga de supercompensação,
permitindo, de igual modo, explicar como um processo de aplicação contínua e
progressiva de cargas conduz a melhorias estáveis da capacidade de desempenho do
atleta.
Naturalmente que em situações reais de treino, quer o factor preparação, quer o factor
fadiga tem subcomponentes específicas – na realidade, o desempenho competitivo
depende, em todos os casos, de um conjunto variado de vectores de intervenção
condicionantes. Assim, haverá diferenças na longevidade de tipos específicos de
preparação ou fadiga induzida pelo exercício, dependendo da sua origem em termos de
áreas de solicitação de base metabólica (aeróbias - anaeróbias), neuromuscular
(hipertrofia - adaptações nervosas) e motora (grupos musculares, estrutura do
movimento, etc.). Assim se explica por que razão determinadas variáveis fisiológicas e
de desempenho respondem de modo diferente às variações sofridas pela carga ao longo
dos ciclos de treino.
Modelação matemática
t 1 t 1
pˆ t p0 k1 w i e t i 1 k 2 w i e t i 2
i 1 i 1
p̂ t p0 g t h t
em que
t 1 t 1
g t k1 w i e t i 1 e h t k 2 w i e t i 2
i 1 i 1
Aplicações
Introdução
factores de pressão sobre o atleta decorrentes do treino e das competições, mas também
os aspectos psicológicos e sociais extradesportivos (Lehmann et al, 1993).
Muitos autores defendem que, presentemente, não é possível distinguir fadiga aguda e
decréscimo pontual de desempenho provocado por uma sessão de treino, dos estados de
sobressolicitação ou de sobretreino. Isto deve-se, em parte, à ausência de instrumentos
de diagnóstico comprovados, à grande variabilidade inter e intra-individual e à escassez
de estudos adequadamente controlados. Não existe, hoje em dia, qualquer evidência da
existência de um processo de sobressolicitação antecedendo a instalação da síndroma do
sobretreino ou de que os sintomas deste sejam sempre mais severos do que os da
sobressolicitação.
1. Desempenho
2. Questionários de fadiga
Uma deterioração dos estados de humor e a existência de queixas por parte dos atletas
são indicadores precoces e sensíveis de sobressolicitação.
2.1 POMS
2.2 RestQ
Este teste foi traduzido e validado para atletas de várias nacionalidades, uma vez que a
questão linguística é, aqui, fundamental.
O outro tipo de análise, no domínio das frequências, define e separa, por análise
espectral, as diferentes intensidades de sinais a diferentes frequências, observadas nas
variações do sinal eletrocardiográfico.
A razão entre as potências das baixas e das altas frequências (LF/HF) é considerada
como um indicador importante da influência relativa de cada um dos sistemas,
correspondendo valores inferiores a uma maior influência simpática, que pode ser
proveniente de estados de fadiga em vias de se tornarem crónicos. Valores elevados
deste quociente, por outro lado, em atletas bem treinados e em fase competitiva, pode
ser sinal de boa recuperação entre cargas e nível de forma elevado.
Bibliografia
Bompa TO, Haff GG (2009). Periodization: Theory and methodology of training. 5th
Edition. Champaign: Human Kinetics.
Viana MF, Almeida PLD, Santos RC (2001). Adaptação portuguesa da versão reduzida
do Perfil de Estados de Humor: POMS. Análise Psicológica, 19(1): 77-92.