Unidade Curricular - Paixão Razão e Consumo
Unidade Curricular - Paixão Razão e Consumo
Unidade Curricular - Paixão Razão e Consumo
Paixão, Razão e
Consumo
Equipe de elaboração
Rômulo Guedes e Silva
Equipe de coordenação
Janine Furtunato Queiroga Maciel
Gerente de Políticas Educacionais do Ensino Médio (GEPEM/SEDE)
Revisão
Andreza Shirlene Figueiredo de Souza
Mônica de Sá Soares
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GERÊNCIA GERAL DE ENSINO MÉDIO E ANOS FINAIS DO ENSINO FUNDAMENTAL
GERÊNCIA DE POLÍTICAS EDUCACIONAIS DO ENSINO MÉDIO
Sumário
1. Apresentação 5
2. Conceitos e História 8
Orientações para a realização de atividades 13
Orientações para a Avaliação 14
3. Era Digital: O consumo e o consumismo no mundo globalizado 15
Orientações para a realização de atividades 19
Orientações para a Avaliação 19
4. Teorias e Críticas 20
Orientações para a realização de atividades 24
Orientações para a Avaliação 25
5. Agentes de sustentabilidade: sujeitos, sociedades e instituições. 25
Orientações para a realização de atividades 31
Orientações para a Avaliação 32
7. Referencial Bibliográfico 33
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1. Apresentação
Prezado/a professor/a.
Desse modo, o entendimento de algumas percepções sobre o consumo e como esse ato
pode estar motivado por impulsos, ora descolado de uma racionalidade ora ligado à
necessidade, ora movido pela satisfação de desejos intrínsecos ao modo de vida adotado pelos
sujeitos, deve ser uma constante a ser trabalhada pelo professor que deverá utilizar-se de teorias
e conceitos das ciências humanas e sociais. Sendo assim, o objetivo é refletir sobre os modos de
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Isto posto, abaixo estão listados em tópicos os pontos da ementa da Unidade Curricular
que serão abordados aqui neste caderno, a fim de ilustrar um pouco das possibilidades do
trabalho com a unidade. São eles:
-Mobilização de conhecimentos sócio-histórico-filosóficos para
compreensão, de modo crítico-analítico, da lógica da sociedade de
consumo.
-Problematização da relação entre o ato natural do consumo e do
comportamento consumista.
-Apropriação do conceito de Desenvolvimento Sustentável. -Investigação
acerca da Sociedade de Consumo na Era Digital.
-Reflexão em torno da relação Globalização, Mercado e Consumismo.
-Proposição de ações individuais e/ou coletivas para intervir sobre
problemas de natureza sociocultural e ambiental (gincanas, exposições,
ações comunitárias, oficinas, entre outras).
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2. Conceitos e História
A relação entre paixão, razão e consumo é um tema que desperta inúmeras reflexões
filosóficas, históricas e sociológicas que precisam ser fundamentadas nos processos históricos
que estruturam as relações sociais, econômicas e culturais da contemporaneidade. Para tanto,
vamos iniciar esse material trazendo definições mais simples dos principais conceitos que serão
aprofundados aqui.
Paixão irracional
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Nesse contexto, o autor supracitado entendia que as paixões são emoções passivas,
ou seja, estados nos quais somos afetados por algo que está fora de nosso controle, resultando
em um enfraquecimento de nossa capacidade de agir de maneira livre e racional. A ideia dele é
trazida aqui e posta em relação ao consumo, tendo em vista que o ato de consumir nem
sempre é um ato consciente e racional. Spinoza argumentava que as paixões surgem a partir
de uma falta de entendimento adequado da realidade. Ele considerava que, muitas vezes, somos
levados pelas paixões, porque não compreendemos corretamente a causa das coisas que nos
afetam. Por exemplo, podemos experimentar alegria ou tristeza em resposta a eventos externos,
mas essa resposta emocional é baseada em uma compreensão limitada dos verdadeiros
mecanismos causais que levaram a esses eventos. Para Spinoza (1979), a paixão é uma forma de
ignorância, pois nos afasta de uma compreensão mais ampla e verdadeira da realidade.
A discussão sobre o consumo vai além do fator comportamental como a compra, uma
vez que poderá vir a repercutir na formação dos jovens sujeitos, bem como nos demais
aspectos como na construção dos valores éticos, na educação e na saúde (LINN, 2006), daí a
importância de abordar esse tema seja de maneira direta, a partir de seus conceitos, até a sua
relação com outros temas correlatos como trabalho, saúde, meio ambiente e outros.
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Seguindo essa breve análise histórica acerca das atividades ligadas ao consumo, vejamos
este pequeno recorte de CHIAVENATO (2004), que aponta uma relação entre os valores
morais existentes no período medieval e como esses rebatem nas relações de consumo e no
próprio entendimento do que viria a ser felicidade:
Desde a Idade Média, para os cristãos o homem virtuoso, honesto e digno era
modesto, abominava o luxo e o conforto. Esse costume foi consolidado pelas
religiões: os pobres acreditaram durante séculos que, padecendo na Terra, ganhariam
o Paraíso. A partir do século XIX, quando a industrialização possibilitou mais
conforto à sociedade, surgiu um choque, muitas vezes inconsciente, causado pelo
consumo de produtos que ofereciam “prazer”. O “prazer” estava associado ao
”pecado”. Simplificadamente, pode-se dizer que o conforto doméstico ou pessoal
contribuiu para diminuir os condicionamentos ou preconceitos que consideravam a
felicidade quase um pecado. Mudou a moral, e certos padrões de comportamento
foram abandonados, superados ou substituídos por outros mais “modernos” que
facilitavam o consumo. Depois de alguns milênios, ficou mais importante, para o
grosso da humanidade, “ter” em lugar de “ser” (CHIAVENATO, 2004, p.13).
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A corrente econômica liberal, enraizada nas ideias de Adam Smith, que entendia as
pessoas como seres cuja natureza está ligada ao consumo e desejo de obter mais bens e
acumulá-los, afirmava que a organização do mercado se daria por uma espécie de “mão
invisível”. Esse fato regularizaria o mercado, sem que o Estado precisasse realizar qualquer
intervenção, valorizando aquilo que tem valor e tirando de circulação do mercado aquilo que
não tem mais procura ou relevância.
Para ele, o mercado seria o local onde os indivíduos satisfazem suas necessidades e
desejos por meio de trocas ou compra e venda, gerando desenvolvimento e bem-estar nas
populações.
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Ao longo dos séculos, os grandes centros urbanos foram se multiplicando à medida que
a produção de bens de consumo se ampliaram, juntamente com as transações comerciais e
econômicas.
A animação em curta metragem “A história das coisas” seria uma ótima maneira de
explanar uma perspectiva crítica e ilustrada sobre os impactos danosos ao meio ambiente e às
relações humanas e econômicas, que os processos produtivos geram, além de ilustrar conceitos
como sustentabilidade, economia globalizada, obsolescência programada, moda, dentre outros.
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Sugestão de Vídeo
The Story of the Stuff - A história das coisas (versão brasileira dublada)
Desde a sua extração por meio da venda, utilização e eliminação, todas as coisas em nossas vidas afetam
comunidades em casa e no exterior, mas a maior parte desta está escondida da vista. The Story of Stuff é de 20
minutos, rápido olhar, cheio de fato na parte inferior dos nossos padrões de produção e consumo. The Story of
Stuff expõe as conexões entre um grande número de questões ambientais e sociais, e nos chama juntos para criar
um mundo mais sustentável e justo. Ele vai ensinar-lhe alguma coisa, ele vai fazer você rir e ele só pode mudar a
maneira como você olha para todas as coisas em sua vida para sempre. http://storyofstuff.org
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Uma outra questão que poderá ser abordada aqui, refere-se aos processos históricos e
econômicos, por exemplo, ocorridos na Europa Moderna contribuíram para o surgimento das
correntes de Adam Smith e Karl Marx, para, em seguida, eles pesquisarem teóricos mais
influentes do séc. XX, que desdobraram Marx e Smith.
É possível apresentar exemplos de pessoas que adquirem coisas que não contribuem para a
satisfação de suas necessidades básicas, mas sim de seus egos desejosos. Algumas pessoas
gastam dinheiro com produtos supérfluos ou de marcas demasiadamente caras, para obtenção
de status e deixam de retelhar suas casas para evitar goteiras, ou melhorar o saneamento de sua
moradia para evitar maiores infestações por parasitas originários de esgotos sem saneamento. O
produto dessa reflexão poderia ser apresentado em textos dissertativos, materiais gráficos,
charges, vídeos e/ou teatralizações.
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Vejamos aqui um fragmento descrito por José Renato Salatiel, na plataforma Geledés,
onde ele apresenta brevemente as ideias de alguns dos principais teóricos da Escola de
Frankfurt, na década de 1930, sobre as relações de consumo, propaganda, cultura de massa e
indústria cultural.
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produzem. Filme e rádio se autodefinem como indústrias, e as cifras publicadas dos rendimentos de seus
diretores-gerais tiram qualquer dúvida sobre a necessidade social de seus produtos.”
Para Adorno, os receptores das mensagens dos meios de comunicação seriam vítimas dessa indústria. Eles
teriam o gosto padronizado e seriam induzidos a consumir produtos de baixa qualidade. Por essa razão, a
indústria cultural substitui o termo cultura de massa, pois não se trata de uma cultura popular representada em
novelas da Rede Globo, por exemplo, mas de uma ideologia imposta às pessoas.
https://www.geledes.org.br/escola-de-frankfurt-critica-sociedade-de-comunicacao-de-massa/
A seguir, observamos dois exemplos de como o artista mais pragmático, pode estar engajado
com as abordagens mais críticas aos impactos dos processos produtivos no cotidiano dos
sujeitos. Comecemos analisando o comportamento da personagem Mafalda de Quino:
http://outras-palavras.net/wp-content/uploads/2013/05/86.jpg
A tirinha explora o fato de como os indivíduos, caso aqui, como a mídia pode ser
utilizada como veículo de propaganda com apelo ao consumo, complementando a crítica já
construída na década de 1930 pela Escola de Frankfurt em relação à Indústria Cultural.
Seguimos, agora, com a canção “Admirável Chip Novo” da cantora Pitty, trazendo
também uma reflexão iniciada, na tirinha de Mafalda acerca do estímulo ao consumo,
apontando com mais força a característica da alienação que se percebe nos sujeitos, na canção,
são comparados a robôs.
Admirável chip novo - Canção de Pitty Pitty - Admirável Chip Novo (Clipe Oficial)
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Quanto ao consumo, Bauman (2014, n.p.) ressalta que “Não se pode escapar do
consumo: faz parte do seu metabolismo! O problema não é consumir, é o desejo insaciável de
continuar consumindo”. Em outras palavras, aquele que consome impulsivamente, não tem
controle sobre seus desejos de consumo, tornando-se refém da propaganda, da moda e da
mídia, que rapidamente se refazem a fim de gerar novas tendências e novas necessidades nos
consumidores, para que esses continuem comprando.
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O estudante poderá vir a ser provocado a refletir sobre como e quais avanços
tecnológicos impactaram o processo de globalização, repercutindo nas questões econômicas,
produtivas, sociais e culturais.
Os estudantes podem ser orientados a realizar uma pesquisa na própria escola sobre os
hábitos de consumo praticados pelos jovens estudantes de sua escola, buscando verificar os
impactos desses consumos no bem-estar dos sujeitos, nas relações humanas e nos estudos,
tendo como produto final a produção de uma representação teatral para ser apresentada às
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demais turmas, ou algo mais sucinto como a produção de um mural que fique exposto no
interior da escola, de maneira que possa ser contemplado pelas demais turmas.
4. Teorias e Críticas
A dinâmica consumista é um dos sustentáculos de sistemas econômicos baseados no
capitalismo, em que a produção e o consumo são estimulados como motores do crescimento
econômico. Nessa lógica, a satisfação das paixões individuais é vista como um objetivo legítimo
e até mesmo incentivado, pois impulsiona o mercado. No entanto, ao priorizar o consumo
como forma de realização pessoal, corremos o risco de nos tornarmos prisioneiros de uma
lógica materialista que nos afasta da verdadeira felicidade e nos aliena de nossa essência
humana e para isso é importante retomar a ideia de Spinoza (1979), de que a paixão é uma
forma de ignorância, pois nos afasta de uma compreensão mais ampla e verdadeira da realidade.
Teóricos das ciências humanas como Karl Marx, Jean Baudrillard, Zygmunt
Bauman, e Gilles Lipovetsky são alguns dentre tantos outros que lançaram críticas
contundentes às sociedades contemporâneas de consumo no Ocidente. Um dos filósofos
mais influentes do século XIX, tendo dirigido incisivas críticas ao consumo praticado no
capitalismo, foi Marx, que considera que essas sociedades, diferentemente das mais antigas,
tornaram-se sociedades ideologizadas pelo consumo. Para ele, o consumismo desenfreado
era uma consequência direta das relações de produção capitalistas, nas quais os trabalhadores
foram alienados e explorados pelo sistema.
Ao longo desta Unidade Curricular, por vezes, a sociedade atual é mencionada como
sociedade de consumo. Dito isso, torna-se importante que tenhamos aqui uma clara definição
sobre esse termo para que assim possamos prosseguir sem interpretações equivocadas,
acreditando que essa seria uma simples sociedade consumindo aquilo que lhe é necessário à
sobrevivência.
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As novas tecnologias promovem grandes mudanças nos arranjos por trás das relações
sociais, na vida afetiva e no mundo do trabalho, gerando maiores possibilidades de comodidade,
agilidade e conforto na rotina dos indivíduos, gerando desejo nos indivíduos que naturalmente
querem usufruir de maior praticidade em suas vidas.
A ambição pela aquisição de novas ferramentas e utensílios que possam vir a agregar
maior conveniência no cumprimento de atividades rotineiras, por exemplo, pode gerar uma
rápida e frágil sensação de satisfação nos sujeitos, que nem sempre percebem que talvez não
existisse uma real necessidade de aquisição de tal ferramenta, e sim o hábito pelo consumo
desmedido e irrefletido que poderá vir a tornar-se compulsivo.
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uma reflexão racional, pode levar a um comportamento alienado e vazio. Na Era Digital, em
que a globalização e a publicidade moldam nossa percepção do mundo, somos
bombardeados por mensagens que despertam desejos e nos impulsionam a consumir cada
vez mais.
Em” Simulacros e Simulações”, Baudrillard (1998) também nos leva a pensar sobre
como os meios de comunicação e a indústria cultural moldam nossas percepções e
experiências. A mídia, por meio de imagens, publicidade e narrativas, constrói um mundo
simulado, no qual as pessoas são levadas a acreditar que sua satisfação e felicidade dependem
da aquisição de determinados produtos ou da adesão a um estilo de vida específico.
Neuromarketing
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Você sabia que existe no mercado um campo de estudo que observa o comportamento humano e aplica as
análises nas estratégias de marketing das empresas marketing é uma prática que une a neurociência e o marketing
com objetivo de entender o que enfureceu cliente na decisão de compra e através dessa prática que algumas
empresas decidem por exemplo as cores dos produtos as formas que eles serão apresentados e até mesmo com
preço de cada um.
Neuromarketing nos negócios: entendendo a lógica de consumo para vender mais
Diante disso, o campo do marketing e das vendas tem implementado nas últimas
décadas, inovações baseadas em entendimentos da neurociência, quando incorporam
mensagens e elementos que aguçam os nossos 5 sentidos, utilizando-se de mensagens
transmitidas pelas cores adotadas em um dado anúncio, pelo cheiro que determinada loja de
produtos de cama mesa e banho exala, nas texturas, cores ou simbologias contidas em
determinados anúncios. Os estudiosos e estrategistas por trás das campanhas publicitárias e
propagandas entendem que as tomadas de decisão estão associadas a questões instintivas,
racionais e emotivas e, por isso, passam a explorar esses três elementos em suas estratégias
persuasivas.
Sobre essa busca pela felicidade, que o comércio e indústria exploram intensamente por
meio de novos produtos e campanhas publicitárias, vejamos o que nos diz Bauman (2008):
Nesse sentido, Bauman (2001) discutiu a liquidez das relações sociais na modernidade
líquida, em que tudo se torna descartável e as relações humanas são cada vez mais superficiais, e
pouco duradouras; Giles Lipovetsky (2007) explorou a sociedade do hiperconsumo, em que a
busca pela felicidade se confunde com a aquisição de bens materiais; Guy Debord, na obra
“Sociedade do Espetáculo" (2000), analisou a sociedade contemporânea, em que os sujeitos
são meros espectadores passivos imersos em uma realidade mediada.
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No final das contas, é importante que pensemos sobre o quanto o sentido da felicidade
tem sido reduzido à aquisição de bens e mercadorias. Relembramos que vimos, ao longo da
nossa explanação, que o consumo é uma ação inerente à vida humana para satisfação de nossas
necessidades e desejos, contudo, devemos ter a clareza de que a compulsão pelo consumo na
atualidade é fruto de uma ideia projetada pelo mercado. Por consequência, temos uma
sensação de felicidade rápida e exclusivista, pouco ou nada preocupada com a saúde dos
sujeitos e com a coletividade.
Essa sociedade de simulacros citada por Baudrillard (1991), cria uma cultura do
espetáculo, na qual a imagem e a aparência têm primazia sobre a substância e a autenticidade. A
busca incessante por experiências espetaculares e imagens impactantes, muitas vezes alimentada
pelas redes sociais, leva a uma superficialidade e vazio existencial. A realidade torna-se um mero
espetáculo, onde tudo é reduzido a uma encenação de imagens, sem um fundamento real ou
significado profundo.
1. A partir dessa espetacularização da vida, o estudante pode ser estimulado a realizar uma
seleção de casos midiáticos e pessoas públicas que passam dos limites na exposição de
sua rotina nas redes sociais e, em seguida, apresentar os comentários sobre como as
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exposições em questão que podem ser danosas aos sujeitos em questão. É importante lembrar
que em caso de pessoas não públicas, o estudante deverá respeitar o anonimato dos sujeitos a
serem expostos em seu trabalho, considerando que toda pesquisa também deve ser norteada
por preceitos éticos.
É comum nos dias atuais um indivíduo perceber seu smartphone, por vezes, com cerca
de um ano de uso, apresentar entraves como lentidão e engasgos para processar tarefas simples.
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Se forem usuários de aparelhos premium cujos valores ultrapassam o preço de uma geladeira
simples, ainda podem conseguir chegar aos três anos de uso sem muitos problemas.
Esse ciclo de comprar e descartar tem sido naturalizado principalmente pelos mais
jovens. Enquanto isso, os mais velhos fazem menção saudosista aos eletrodomésticos e
eletrônicos do passado que duravam décadas e, ao primeiro defeito apresentado, poderiam ser
reparados sem grandes custos nas oficinas e autorizadas: é sobre isso que trata o conceito de
obsolescência programada.
Diante disso, vale destacar a ideia do princípio dos 3R’s, conforme pode ver verificado
abaixo:
Um caminho para a solução dos problemas relacionados com o lixo é apontado pelo Princípio dos 3R's -
Reduzir, Reutilizar e Reciclar. Fatores associados com estes princípios devem ser considerados, como o ideal
de prevenção e não-geração de resíduos, somados à adoção de padrões de consumo sustentável, visando poupar
os recursos naturais e conter o desperdício.
https://antigo.mma.gov.br/responsabilidade-socioambiental/producao-e-consumo-sustentavel/consumo-consci
ente-de-embalagem/principio-dos-3rs.html
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ambiente e na vida financeira das pessoas, assumiram posturas mais ativas na cadeia de
produção. Nesse sentido, é possível ver um engajamento ambiental por parte de alguns
profissionais da indústria, voltados à criação de produtos mais duráveis, passíveis de passar
por reparo e reaproveitamento, ao invés do descarte de imediato e por inteiro, como é
frequente ocorrer com aparelhos de TV ou celulares por exemplo.
Observe o quão impactante é a imagem a seguir e que nos leva a refletir sobre os
destinos do nosso planeta numa escalada de consumismo.
Roupas descartadas por Estados Unidos, Europa e Ásia são enviadas ao Chile para serem revendidas.
https://g1.globo.com/pop-arte/moda-e-beleza/noticia/2022/01/28/lixo-do-mundo-o-gigantesco-cemiterio-de-
roupa-usada-no-deserto-do-atacama.ghtml
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Vejamos abaixo um recorte de algumas das leis ambientais mais seguidas pelas empresas:
Leis ambientais para empresas: 5 leis e normas que todo gestor deve saber
1 – Política Nacional do Meio Ambiente (Lei nº 6.938)
Criada em 1981, a Política Nacional do Meio Ambiente (PNMA) é acompanhada do Sistema Nacional do Meio
ambiente (SISNAMA). Ela impõe ao poluidor a obrigação de recuperar futuros e/ou possíveis danos causados
ao meio ambiente.
2 – Lei dos crimes ambientais (Lei nº 9.605 e Decreto nº 3.179)
Em primeiro lugar, tudo começa com a definição da responsabilidade legal de empresas, instituições e pessoas
jurídicas frente aos impactos e atos ambientais causados, através da Lei nº 9.605 lançada em fevereiro de 1998.
3 – Licenciamento Ambiental (Resolução CONAMA nº001/86)
Licenciamento Ambiental é um instrumento da Política Nacional do Meio Ambiente, que busca promover o
controle prévio dos impactos, antes da construção, instalação e ampliação do empreendimento ou atividade que
cause qualquer tipo de impacto ambiental relevante no meio ambiente ou na sociedade.
4 – Tratamento de efluentes (Resolução Conama nº357)
Com o crescimento da empresa, cresce também a produção de rejeitos e de contaminação sobre os recursos
hídricos utilizados.
5 - Política Nacional de Resíduos Sólidos (Lei nº 12.305).
A PNRS é o guia para a implementação de sistemas de gestão de resíduos.
https://blog.eureciclo.com.br/confira-5-leis-ambientais-que-sua-empresa-precisa-saber/
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Por fim, a Unidade Curricular Paixão, Razão e Consumo traz uma série de
conceitos e interpretações sobre as práticas da sociedade de consumo, ao mesmo tempo em que
aponta também esclarecimentos e possibilidades de práticas mais saudáveis e sustentáveis.
Contudo, não basta refletir, já que esta Unidade Curricular propõe mais aos sujeitos, sendo
preciso difundir tais conhecimentos e exemplos, fazendo-se necessário colocá-los em prática,
daí o destaque do eixo estruturante de Mediação e Intervenção Sociocultural no qual a turma
deve ser provocada à realização de ações individuais e coletivas, como gincanas, exposições,
ações comunitárias, oficinas e outras iniciativas, que estimulem a conscientização e a mudança
de comportamento em relação ao consumo.
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A partir do vídeo Man de Steve Cutts, os estudantes podem iniciar uma reflexão sobre
como a humanidade se relaciona com a natureza para obter produtos e bens que utilizamos em
nosso cotidiano sem a mínima reflexão sobre todo o processo que alguns produtos passam até
chegarem em nossas mãos. Segue abaixo o link do vídeo em animação.
Sugestão de Vídeo
Link → MAN
A animação Man, tem mais 61 milhões de visualizações no youtube desde 21 de dez. de 2012. Criada pelo
ilustrador Steve Cutts em Flash e After Effects, ela representa a relação do homem com o mundo natural.
Saiba mais sobre Steve Cutts:
É um ilustrador e animador inglês que, embora já tenha trabalhado para grandes empresas como Coca-Cola,
Sony, Toyota, Reebok, e PlayStation, é reconhecido por algumas das animações de curta duração que produziu,
algumas delas criticando as grandes empresas. Combinando o uso de softwares como Adobe Flash e After
Effects, seus vídeos têm em comum o tom satírico, provocador e polêmico, lidando especialmente com questões
ligadas à preservação do meio ambiente e dos direitos animais. Seu vídeo Man, publicado em 21 de dezembro de
2012, já obteve mais de 34 milhões de visualizações. https://pt.wikipedia.org/wiki/Steve_Cutts
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Por fim, a turma pode ser orientada a realizar uma produção coletiva, onde cada equipe
se encarregará de exemplos e medidas que possam ser adotadas pelos sujeitos e ou pela
sociedade como um todo, tornando-se consumidores mais conscientes e engajados com o
bem-estar coletivo e as questões ambientais.
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6. Referencial Bibliográfico
BAUDRILLARD, Jean. Para uma crítica da economia política do signo, Livraria Martins
Fontes Editora Limitada. 1998
BAUMAN, Zygmunt. Resulta muy difícil encontrar una persona feliz entre los ricos
[Entrevista cedida a Núria Escur.] Jornal La Vanguardia. Barcelona, maio de 2014. Disponível
em:
https://www.lavanguardia.com/vida/20140517/54408010366/zygmunt-bauman-dificil-encontr
ar-feliz-ricos.html. Acesso em 10/jun. 2023.
BAUMAN, Zygmunt. Modernidade líquida. Rio de Janeiro: Editora Zahar, 2001. 258 p.
LIPOVETSKY, Gilles. O império do efêmero. São Paulo: Companhia das Letras, 1989.
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GERÊNCIA GERAL DE ENSINO MÉDIO E ANOS FINAIS DO ENSINO FUNDAMENTAL
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SPINOZA, Baruch de. A Ética. IN: Os Pensadores. Ed. Abril, São Paulo, 1979.
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