Tensores
Tensores
Tensores
D A H M E N
s.r. dahmen
instituto de física
ufrgs
∗
1 Tensores N: um relato pessoal 11
1.1 No início 11
1.2 E la nave va 13
1.3 E os tensores de antes? 17
1.4 O porquê de estudarmos tensores 19
1.5 A título de conclusão 21
4 O Cálculo Tensorial 47
4.1 Acerca de abstração, poesia e física ∗ 47
4.2 Derivada parcial de um tensor 48
4.3 O transporte paralelo e a derivada covariante 52
4.4 Os símbolos de Christoffel ∗ 54
4.5 Derivada absoluta ∗ 55
4.6 Operadores em forma tensorial: grad, div e rot 57
1 8π G
Rµν − R gµν = − 4 Tµν (3)
2 c
e percebemos que nada que vimos no curso regular de Física nos
preparou para entender exatamente o seu significado. Não se trata
tanto do que são as grandezas mas da estrutura da equação em si: é
uma igualdade entre matrizes? Sim, é. Seria uma equação diferencial?
Também, embora à primeira vista nada nos indique que o seja. Deve
haver mais de uma equação, dado os diferentes índices. Quantas são
exatamente? No total 10.
Surgem então as perguntas: precisamos realmente de tudo isto para
entender a Relatividade Geral de Einstein? Não haveria um caminho ao
largo desta linguagem tensorial? A resposta à primeira questão é ’sim,
precisamos’, e à segunda é ’não, não tem’. As Equações de Einstein
descrevem a física do fenômeno que conhecemos por gravitação como
sendo a geometria do espaço-tempo codificada no tensor métrico gµν .
Se pudéssemos descrever a Teoria da Relatividade Geral em poucas
palavras, a faríamos como fez Einstein:
8 uma introdução à teoria do espaço e do tempo
Notação usada
N
Ai Bi ≡ ∑ Ai Bi Notação de Einstein para somas (4)
i =1
Valores:
1.1 No início
1
A. Z. Petrow, Einstein-Räume. Akademie-
Verlag, Berlin, 1964, p. 4. Aleksei Zi-
A primeira vez que vi a definição de tensor num contexto mais abstrato
novyevich Petrov (1910–1972) foi um ma-
fiquei perplexo, pois aquilo não guardava qualquer semelhança os temático russo que muito contribui para
tensores que eu conhecia. Reproduzo aqui a definição de um dos a classificação de tipos de soluções das
Equações de Einstein, a chamada classi-
clássicos da Relatividade Geral1 , descrição esta muito parecida com a ficação de Petrov. Existe uma edição em
do livro onde a vi pela primeira vez 2 : inglês, Einstein Spaces, publicado pela edi-
tora Elsevier.
Por um tensor de ordem (r + s) em um espaço n-dimensional entendemos um 2
G. B. Arfken, H. J. Weber e F. E. Harris,
objeto geométrico de n (r+s) componentes Mathematical Methods for Physicists, Aca-
demic Press, Boston, 2013.
··· αr
Tβα11 ··· βs (x) (α1 · · · αr , β 1 · · · β s = 1, · · · , n) (1.1)
0
as quais, por uma mudança de coordenadas ( x α ) → ( x α ), se transformam
segundo a regra
0 0
α0 ··· α0 ∂x α1 ∂x αr ∂x δ1 ∂x δs γ1 ··· γr
Tβ01 ··· β0r ( x 0 ) = · · · γr 0 ··· 0 T (x) (1.2)
1 s ∂x γ1 ∂x ∂x 1 β ∂x β s δ1 ··· δr
ciência esperamos que estes mesmos nomes façam algum sentido ló-
gico 3 . Se eles tinham este nome, havia um motivo para que tivessem 3
Embora não discutamos muito isso no
sido assim chamados. Mas foi preciso um pouco mais de tempo para curso de Física, um pouco de etimolo-
gia nos ajudaria entender a idéia por trás
que eu conseguisse desatar este nó e ligar os pontos corretamente. de certos conceitos. O termo átomo, por
exemplo, vem da combinação das raízes
gregas a (não) com temnein (cortar). Por-
1.2 E la nave va tanto átomo é aquilo que não pode ser
cortado, dividido. Os átoms seriam assim
indivisíveis. Pelo mesmo motivo obras
Faltava ainda entender a questão da relação entre os índices superiores
podem ser publicadas em tomos.
e inferiores e as regras de transformação. Haveria um maneira de
entender isto geometricamente? Tentei imaginar um caso simples para
entender o que realmente estava acontecendo. O caso mais simples
não é interessante pois escalares são invariantes. Pensemos então em
vetores, que são os próximos da lista. Segundo Petrov a regra de
transformação é a seguinte:
∂x 0 a b
A0 a = A vetor contravariante (1.6)
∂x b
∂x b
A0a = A vetor covariante ou covetor (1.7)
∂x 0 a b
Quanto mapeamos um espaço nós o fazemos usando um sistema
de coordenadas. Quando pensamos nas componentes de um vetor,
ou seja, em suas projeções no eixo de coordenadas, devemos ter em
mente que os valores numéricos destas projeções só fazem sentido
em relação aos eixos escolhidos e não têm um significao intrínsico
independende destes. Um vetor não pode deixar de ser um vetor
quando escolhemos bases diferentes. Tomemos o caso simples de um
espaço plano bidimensional. Vamos supor que optemos por uma outra
base {e10 , e20 }, obtida a partir de uma base original {e1 , e2 } através de
uma transformação de coordenadas bem comportada. A relação entre
os vetores da base antiga e os da base nova pode ser escrita na forma
ou, se preferirmos
! ! !
e10 Λ11 Λ12 e1
= . (1.9)
e20 Λ21 Λ22 e2
Em palavras poderíamos descrever a matriz acima como
! ! !
e10 projeção de e10 sobre e1 projeção de e10 sobre e2 e1
=
e20 projeção de e20 sobre e1 projeção de e20 sobre e2 e2
v = v1 e1 + v2 e2 (1.10)
! ! !
v10 projeção de e1 sobre e10 projeção de e2 sobre e10 v1
=
v20 projeção de e1 sobre e20 projeção de e2 sobre e20 v2
1
e10 = e ; e20 = e2 , (1.12)
2 1
ou, em forma matricial:
! ! !
e10 1
2 0 e1
= . (1.13)
e20 0 1 e2
Nesta nova base temos um vetor e10 cuja magnitude é metade do vetor
e1 ao passo que e20 = e20 . Portanto, um vetor v tem, segundo a regra
v0 = Λ̄v, a seguinte forma:
! " ! −1 # T !
v10 1
20 v1
=
v20 0 1 v2
! !
2 0 v1
= (1.14)
0 1 v2
e e’
1 1
componente v10 tem que dobrar de tamanho para que o vetor continue
igual. A figura abaixo ilustra esta situação. Um outro exemplo simples
onde podemos claramente entender a idéia de vetor contravariante é o
de uma rotação passiva: quando giramos os eixos ordenados por um
ânguloθ, um vetor que é fixo no espaço parecerá ter girado por um
ângulo de −θ quando visto deste novo sistema de coordenadas 4 . 4
Existe uma diferença grande entre trans-
A pergunta que nos fazemos agora é se haveria vetores que mudam formações passivas e ativas: as passivas
são aquelas em que os eixos de coordena-
da mesma maneira que a base. Considerando ainda o exemplo acima: das mudam, mas o objeto permanece inal-
seria possível achar um vetor cuja componente v1 mudasse para v10 = terado. Uma transformação ativa ocorre
1 0 quando o objeto em si muda, mas os ei-
2 v1 e v2 = v2 ? A resposta é sim: na verdade é exatamente isto o que xos não. No exemplo da rotação, a trans-
ocorre com o gradiente de uma função. O gradiente nada mais é que uma formação passiva é quando giramos os
medida da variação da função por unidade de comprimento na direção eixos. A ativa, é quando o vetor gira, mas
os eixos permanecem inalterados. Por via
dos vetores da base. Se a unidade encolhe como no caso ilustrado de regra as transformações a que estamos
acima, a variação também deve encolher. Imaginemos o caso em que a nos referindo aqui são sempre passivas,
pois estamos interessados em mudanças
função T ( x, y) represente a temperatura de uma sala. O gradiente mede de coordenadas.
simplesmente o quanto a temperatura muda a medida que caminhamos
por ela. Se houver um incremento de distância de, digamos, ∆x = 10−2 ,
o mesmo incremento ∆x 0 = 10−2 corresponde, fisicamente falando,
a metade do incremento de unidades de x e portanto a variação de
temperatura – o gradiente – será metade do valor. Portanto o gradiente
é um vetor que muda da mesma maneira que a base, razão pela qual
é mais apropriadamente chamado de um vetor covariante ou covetor.
Tomemos um exemplo simples. Consideremos T ( x, y) = x + y, cujo
gradiente é dado por
∂T ∂T
∇ T ( x, y) = i+ j = Tx i + Ty j = i + j. (1.15)
∂x ∂y
∂T ∂x ∂T 1
= = × Tx
∂x 0 ∂x 0 ∂x 2
∂T ∂y ∂T
= = 1 × Ty . (1.16)
∂y0 ∂y0 ∂y
Em notação matricial
! ! !
1
Tx0 2 0 Tx
= , (1.17)
Ty0 0 1 Ty
eE2 + µB2
Tab = eEa Eb + µHa Hb − δab (1.25)
2
a = a1 i + a2 j + a3 k
b = b1 i + b2 j + b3 k
é definido via:
a∧b = a1 b1 (i ∧ i) + a1 b2 (i ∧ j) + a1 b3 (i ∧ k)
+ a2 b1 (j ∧ i) + a2 b2 (j ∧ j) + a2 b3 (j ∧ k) (1.26)
+ a3 b1 (k ∧ i) + a3 b2 (k ∧ j) + a3 b3 (k ∧ k)
Tudo isto obviamente era feito numa linguagem um pouco diferente daquela
que eu viria a encontrar futuramente. Porém, isto esclarecia o porquê de eu
ter visto em um livro que uma das propriedades de tensores era criar novos
tensores de ordem mais alta multiplicando tensores de ordem mais baixa, por
exemplo
Isso fez com que eu visse com mais clareza o poder da notação tensorial. O
que torna a notação de Dirac especial é sua generalidade e poder de síntese
pois se soubermos manipular corretamente os bras e kets, é possível fazer contas
sem nos preocuparmos com sua representação. Apenas quando precisamos
trazer o resultado para o espaço e tempo do nosso laboratório é que fazemos
a opção pela representação que melhor nos aprouver. A filosofia por trás
da geometria diferencial é exatamente a mesma. Há porém uma diferença
importante: podemos aprender Mecânica Quântica sem sequer ouvirmos falar
da notação de Dirac. Ela é de uma grande beleza e praticidade, mas não
é necessária. Em Relatividade Geral tensores não são uma opção, são uma
necessidade, e isto por questões mais fundamentais. É um erro acreditar que
seja possível aprender Relatividade Geral sem tensores 5 . 5
Poderia se argumentar contra esta afir-
mação: há um livro bastante interessante
de Relatividade Geral intitulado Einstein
1.4 O porquê de estudarmos tensores in Matrix Form: Exact Derivation of the The-
ory of Special and General Relativity without
O uso de tensores na Relatividade Geral está diretamente associado à geometri- Tensors, de G. Ludyk (Springer Verlag,
Heidelberg, 2013). Ludyk escreveu o li-
zação do espaço-tempo. Objetos geométricos têm uma realidade independente
vro pensando em estudantes de Exatas,
das coordenadas usadas para descrevê-los algebricamente. Por isso as equações mas mais particularmente para as Enge-
da Relatividade Geral e, pelo princípio da equivalência de Einstein, todas as nharias, um público mais habituado à
equações da Física precisam ser escritas de forma covariante. A linguagem linguagem de produtos diádicos entre
tensorial é portanto a linguagem natural da TRG. O caráter generalista ex- vetores. Portanto é possível não usar a
linguagem tensorial dos físicos e matemá-
plica também o nome originalmente dado ao cálculo de tensores por Gregorio
ticos, como faz Ludyk, escolhendo uma
Ricci-Curbastro e popularizado por seu estudante Tullio Levi-Civita: cálculo representação mais voltada para um pú-
diferencial absoluto, hoje mais comumente chamado de cálculo de Ricci 6 . Na blico específico. Porém, a notação esco-
sua forma moderna o cálculo tensorial deve muito ao matemático holandês Jan lhida torna os cálculos tão extensos que
A. Schouten que publicou um livro intitulado O Cálculo de Ricci 7 . fica claro como uma notação tensorial de
índices não apenas é elegante como nos
Tensores, historicamente falando, surgiram do estudo de objetos geomé-
poupa um enorme trabalho.
tricos em espaços generalizados, não tendo a física como objetivo ulterior. A 6
G. Ricci, T. Levi-Civita, Méthodes de cal-
Geometria é o ramo mais antigo da matemática mas sistemas de coordenadas cul différentiel absolu et leurs applications,
só foram introduzidos no século XVII. Foi a partir da sua invenção que os ma- Mathematische Annalen 54 (1–2) (1900),
temáticos puderam usar a Álgebra para descrever a Geometria. Isto permitiu, pp. 125–201. T. Levi-Civita
entre outras coisas, que o Cálculo fosse criado. Não obstante sua praticidade, 7
J.A. Schouten, Der Ricci-Kalkül: Einfüh-
sistemas de coordenadas não estão livres de armadilhas e pagamos um preço rung in die neueren Methoden und Probleme
quando associamos a Álgebra à Geometria: perdemos em alguns casos a visão der mehrdimensionalen Differentialgeometrie
[O cálculo de Ricci: introdução aos novos
geométrica do problema que estejamos eventualmente estudando. Um dos métodos e problemas da geometria diferencial
exemplos que melhor ilustra esta ponto é o da minimização da superfície multidimensional], Springer, Berlin, 1924.
cujo contorno é uma curva C em R3 conhecida. Matematicamente temos um Este livro é o volume 10 da famoso série
problema de minimização de uma área de manuais de matemática com aplica-
ções editadas por Richard Courant, Carl
Z
Runge, Max Born e Wilhelm Blaschke:
A= dS (1.32) Die Grundlehren der Mathematischen Wis-
S(C )
senschaften in Einzeldarstellung mit besonde-
sobre todas as possíveis superfícies S do contorno C fixo, ou seja um problema rer Berücksichtigung der Anwendungsgebiete
de cálculo variacional [Estudos fundamentais das Ciências Matemá-
ticas em Monografias com particular conside-
Z
δA = δ dS = 0. (1.33) ração às Áreas de Aplicação.
Este problema foi resolvido por Lagrange em 1762. Ele mostrou que se a
superfície é dada pela expressão
z = F ( x, y) (1.34)
1 α 3
∇ β ∇ β Bαα − Bαα Bγα Bαγ − (B ) , (1.38)
2 α
onde, se compararmos as expressões obtidas por diferentes métodos, veremos
que o termo da figura corresponde ao laplaciano da curvatura média. Notem
que não existe na expressão acima qualquer referência a um sistema de coorde-
nadas. O que fica claro neste exemplo é que o cálculo tensorial nos propicia
As leis da física são relações entre grandezas tensoriais que expressam, muitas delas,
princípios fundamentais da Natureza. Um destes é o chamado princípio geral da cova-
riância, que afirma que todas as leis da física devem ter a mesma forma em diferentes
sistemas de coordenadas que estejam relacionados entre si por transformações diferen-
ciáveis e que admitam uma inversa. Por trás desta idéia está o fato que coordenadas são
apenas representações, rótulos que usamos para descrever grandezas de interesse e o
espaço-tempo no qual os fenômenos ocorrem. Coordenadas não tem existência a priori e
portanto não podem ter qualquer papel na formulação das leis fundamentais da física.
Sendo assim, se quisermos expressar leis que independam das coordenadas usadas nas
representações dos tensores, é necessário entendê-los enquanto grandezas definidas em
termos de suas regras de transformação.
x 0 a = x 0 a ( x ) = f a ( x1 , x2 , · · · x n ) (2.1)
∂x01 ∂x 01 ∂x 01
∂x1 ∂x2
··· ∂x n
∂x02 ∂x 02 ∂x 02
∂x 0 a
def ∂x2
··· ∂x n
J = ∂x1
= . .. .. . (2.2)
∂x b .. . ··· .
∂x 0n ∂x 0n ∂x 0n
∂x1 ∂x2
··· ∂x n
24 uma introdução à teoria do espaço e do tempo
∂x 0i 1 ∂x 0i 2 ∂x 0i
dx 0i = 1
dx + 2 dx + · · · + n dx n
∂x ∂x ∂x
∂x 0 i
= dx j
∂x j
0
= Λi j dx j (2.6)
∂x 0i j 0
A 0i = A = Λi j A j (i = 1, 2, · · · n). (2.7)
∂x j
∂x j j
Ai0 = A j = Λ i0 A j (i = 1, 2, · · · n). (2.8)
∂x 0i
∂x 0 a ∂x 0b ∂x 0c ∂xr ∂x s ∂x t hij···
T 0 abcklm
··· 0
··· ( x ) = · · · T rst··· ( x )
∂x h ∂xi ∂x j ∂x 0k ∂x 0l ∂x 0m
0 0 0 hij···
= Λ ah Λbi Λcj · · · Λrk0 Λsl 0 Λt m0 T rst··· ( x ) (2.9)
∂x 0 a ∂x d c 0
T 0 ab = T = Λ ac Λdb0 T cd . (2.12)
∂x c ∂x 0b d
∂r
ei = (2.14)
∂xi
Esta é a razão destes vetores terem o índice grafado embaixo (índice covariante).
Substituindo este resultado na equação (2.13) obtemos:
!
i 0i ∂x j
A ei = A e j 0i . (2.16)
∂x
∂x 0 j j
A 0i = A (2.18)
∂x j
Podemos também representar um mesmo vetor usando suas componentes
covariantes Ai expandidos numa base contravariante i cuja definição é:
ei = ∇ x i . (2.19)
A = Aµ eµ = A1 e1 + A2 e2 + · · · + An en forma contravariante
µ 1 2 n
A = A µ e = A1 e + A2 e + · · · + A n e forma covariante (2.20)
podemos visualizar isto facilmente, pois os vetores i, j, k são tangentes aos eixos u=u
0
j
tem que mudar segundo a matriz inversa Λi0 para que uma transformação
’cancele’ a outra e o vetor permaneça inalterado enquanto grandeza física. Esta
mesma observação vale para a forma contravariante Aµ , expandida numa base
covariante eµ .
A chamada base dual ou cotangente é, segundo sua definição (2.19), baseada y
superficies de nivel
ev
eu
v = v0
A pergunta que se faz então é a seguinte: precisamos diferenciar entre eµ e eµ
eu
se até o momento vivemos felizes sem fazer esta distinção? Afinal, como foi ta
en
u=u um
dito acima, em referenciais ortogonais não há diferença entre as duas bases, ua
um
0 va
en
ta
a menos de fatores de normalização. É justamente neste ponto crucial mas
muitas vezes ignorado que está a chave para a resposta: precisamos diferenciar
entre as bases pois em espaços curvos nem sempre podemos escolher sistemas
de coordenadas ortogonais – estes ainda existem, mas apenas numa vizinha Figura 2.3: A base cotangente ou dual de
de um sistema de coordenadas curvilí-
aberta e finita em torno de um ponto P da variedade M. Mesmo em espaços
neas em uma superfície curva qualquer.
planos muitas vezes optamos por sistemas de coordenadas oblíquas, como é Note que o vetor eu que dá o gradiente
o caso quando estudamos a mecânica de corpos deformáveis. Isto explica a na direção de u crescente é, por constru-
existência de muitos livros de cálculo tensorial voltados especificamente para ção, perpendicular ao vetor da base ev . O
aplicações nesta área. mesmo vale para ev e eu . Os ângulos de
π/2 entre estes pares são representados
A discussão acima é um indicativo que entre as duas bases há certas pro-
pelas linhas pontilhadas.
priedades, como a ortogonalidade entre eµ e eν para µ 6= ν. Tomemos um
exemplo simples de coordenadas não ortogonais no plano para ilustrar algumas
propriedades interessantes que relacionam a base direta a sua base dual.
1 1 1 2
u= ( x + y) v= ( x − y) w = z− ( x − y2 ), (2.21)
2 2 2
∂r
eu = = i + j + 2vk
∂u
∂r
ev = = i − j + 2uk
∂v
∂r
ew = =k (2.23)
∂w
Como não são perpendiculares entre si, seu produto escalar não é nulo:
A base dual é
1
eu = ∇u = (i + j)
2
1
ev = ∇ v = (i − j)
2
w
e = ∇w = −(u + v)i + (u − v)j + k (2.26)
eu · ev = 0 ev · ew = − u eu · ew = −v. (2.27)
eu · ev = ev · eu = 0
ev · ew = ew · ev = 0
eu · ew = ew · eu = 0 (2.29)
Do mesmo modo
eu · eu = ev · ev = ew · ew = 1. (2.30)
µ
eµ · eν = δ ν (2.31)
µ
onde δ ν é o delta de Kronecker. Este resultado vale na verdade para qualquer
conjunto de base {eµ } com sua base dual {eµ } em função da definição de cada
uma delas:
∂r ∂r ∂x µ ∂x ρ ∂x µ µ
eµ · eν = ∇ x µ · ν = [∇ x µ ]ρ ν
= ρ ν
= ν = δ ν. (2.32)
∂x ∂x ρ ∂x ∂x ∂x
Esta relação entre os vetores das bases nos leva a outro conceito importante: o
tensor métrico.
eµ · eν = gµν , (2.34)
que é simétrico pela troca de índices, ou seja gµν = gνµ . Isto significa que
dos n2 elementos, apenas n(n + 1)/2 são independentes. No espaço-tempo
curvo da física, isto significa que dos 16 possíveis valores gµν , apenas 10 são
independentes.
O primeito resultado importante que obtemos fazendo uso do tensor mé-
trico é a relação entre as projeções covariantes e contravariantes de um vetor
arbitrário A. Por definição, a projeção covariante de A é dada pela projeção
ortogonal deste sobre os vetores tangentes:
Aν = A · eν = ( Aµ eµ ) · eν = Aµ eµ · eν = gµν Aµ (2.35)
| {z }
gµν
Aµ = gµν Aν (2.36)
A versão contravariante do tensor métrico fundamental é definida via
eµ · eν = gµν (2.37)
ρ
gρµ gµν = δν (2.38)
ou seja, uma é o inverso da outra. Isto também nos dá a regrar para subir o
índice
Aµ = gµν Aν . (2.39)
pois multiplicando os dois lados de (D) por gρν temos
ou seja, ele tem uma representação contravariante ’natural’. Mas como pode
ser isso? Bem, a resposta pragmática é relativamente simples: quando usamos
sistemas de coordenadas ortogonais, não há diferença entre vetores covariantes
e contravariantes: Eµ = Eµ . Eles são exatamente a mesma coisa, por isso
podemos simplesmente escrever a equação acima na forma
∂V
m ai = − q (2.46)
∂xi
onde i é um índice que indica a componente. Quando tivermos porém um
sistema não ortogonal de coordenadas, quer o espaço seja plano ou curvo,
daí precisamos considerar que Eµ e Eµ são diferentes. Mas como lidar com
a equação acima? Afinal física é física, e campos elétricos são grandezas que
existem independente da base que escolhemos para representá-los. O cuidado
que devemos tomar é que não podemos simplesmente escrever a equação como
m aµ = −q (∇V )µ (2.47)
pois ela não é covariante, no sentido de ter a mesma forma para todos os siste-
mas de coordenadas, pois os dois lados se transformam de maneira diferente
por mudança de coordenadas. De novo,a resposta pragmática é a seguinte: se
tivermos um potencial, calculamos a componente covariante Eν e subimos o
índice usando o tensor métrico:
Eµ = gµν Eν −→ m aµ = −q gµν (∇V )ν = −q Eµ (2.48)
Esta equação é correta pois ela é covariante, ou seja, vale em qualquer sistema
de coordenadas.
Mas fica a questão: o campo elétrico é um vetor ou um covetor? A lite-
ratura no assunto é relativamente confusa mas, assumindo o ponto de vista
pragmático, isso depende da situação. Do ponto de vista matemático mais
moderno, ele é um covetor (ou 1-forma), pois basicamente atua sobre um vetor
deslocamento para produzir um escalar E · dr = Eµ dx µ = dW/q da mesma
maneira que um bra atuando sobre um ket dá uma amplitude de probabilidade
Z
hφ|ψi = dx φ∗ ( x )ψ( x ) (2.49)
Além do mais, sabemos que existe a relação entre |ψi e hψ|:
1. Adição
A operação mais é a adição de 2 tensores do mesmo tipo ( p, q):
T a bc = c1 U a bc + c2 V a bc (2.51)
2. Produto
É possível multiplicar vetores de ordem m e n para obter um vetor de ordem
m + n. Também, se um vetor é do tipo ( a, b) e outro do tipo (c, d), o tensor
resultante é do tipo ( a + c, b + d). O chamado produto direto de vetores é
então definido como no exemplo abaixo, onde multiplica-se componente a
componente
C abcde = A ad Bbce (2.52)
O produto direto de tensores é uma maneira de gerar tensores de ordem mais
alta que seus fatores. Também é relativamente simples mostrar que o produto
direto de tensores é um tensor. Para isto usamos um exemplo simples e as
definições acima:
∂x 0i k ∂x l ∂x 0i ∂x l k ∂x 0i ∂x l k
C 0i j = A0i B0j = A 0
Bl = 0
A Bl = C l (2.53)
∂x k ∂x j l
∂x ∂x j ∂x l ∂x 0 j
3. Contração de índices
Uma das operações mais importantes que podemos realizar sobre tensores é a
contração de índices. O produto escalar de dois vetores
Ai Bi = A · B (2.54)
T ab = A a Bb −→ T aa = A a Ba = A · B (2.56)
aquele de um cilindro. Um ser bidimensional que vivesse sobre ele mediria que
a soma dos ângulos internos de um triângulo tem o valor correto de π (v. figura
ao lado). Ela não conseguiria detectar uma curvatura, o que em outras palavras
significa que a curvatura intrínseca é zero. Isso pode ser melhor entendido
pois podemos construir um cilindro enrolando uma folha de papel, sem esticá-
la ou amassá-la. Isto seria impossível para uma esfera, motivo pelo qual
as projeções de mapas da superfície terrestre apresenta distorções.Há porém
um fato importante: embora o ser bidimensional não detecte uma curvatura,
no seu mundo é possível contorná-lo, retornando ao ponto de partida. Esta
propriedade está relacionada à topologia do espaço.
Figura 2.6: Um mundo bidimensional
Espaços tangentes e vetores da base coordenada cilíndrico não tem curvatura intrínseca.
gµν = eµ · eν (3.1)
gµν = eµ · eν (3.3)
Com a equação acima podemos calcular a distância entre dois pontos qualquer
que seja o sistema de coordenadas usado e independente da superfície ser
plana ou não. Em gµν ou gµν está toda a informação que precisamos codificada
nos valores de cada combinação de pares µ e ν. O tensor métrico gµν nos
permite definir um produto escalar entre vetores, que podemos escrever de
várias formas:
onde usamos a regra segundo a qual podemos subir um índice usando gµν ou
baixar um índice usando gµν .
O cuidado que devemos tomar na Teoria da Relatividade é que o espaço-
tempo é quadridimensional e portanto há um termo a mais na expressão acima
que corresponde à componente x0 = ct dos vetores e tensores. Na física clássica
desprezamos esta componente pois o tempo é um parâmetro não afetado pela
fenômenos físicos que descreve. A Teoria da Relatividade mudou isto, de
modo que devemos considerar no produto escalar todas os termos, incluindo
os relativos à x0 . É por este motivo que na Relatividade chamamos o elemento
de linha não mais dr2 mas sim ds2 , pois este tem um termo a mais.
A regra usual para o produto interno (escalar) é que ele seja positivo definido,
isto é gµν Aµ Aν ≥ 0 para todo A 6= 0 e seja zero apenas quando A = 0. Porém,
em se tratando da geometria do espaço-tempo, este condição não pode ser
mais imposta pois a assinatura da métrica pode ser negativa. A assinatura é a
diferença entre o número de elementos positivos e negativos da métrica. Por
exemplo, na Relatividade Especial a assinatura pode ser −2 = 1 − 1 − 1 − 1
quando usamos a convenção (+, −, −, −) ou 2 = 1 + 1 + 1 − 1 quando usamos
(−, +, +, +). Estas diferentes escolhas correspondem às diferentes formas
quadráticas
que basicamente diz que o corpo descreve uma trajetória no espaço-tempo pois
ele existe durante um intervalo.
A pergunta é: mas de onde vem esta equação? Voltando para a Relatividade
Restrita, lembremos que um dos seus fundamentos é a constância da velocidade
da luz no vácuo, ou seja, a independência desta da velocidade da fonte ou do
observador. Imagine agora o caso simples. No instante t = 0 um pulso de
luz (esférico) é emitido da origem de um sistema de coordenadas ( x, y, z). Um
outro referencial inercial com coordenadas (t0 , x 0 , y0 , z0 ) se move com velocidade
constante v na direção x, de tal maneira que sua origem coincide com a
x 2 + y2 + z2 − c2 t2 = 0 (3.7)
Por outro lado, o segundo observador vê a mesma coisa, só que do seu referen-
cial (assumindo c constante) a equação é
e portanto
x 2 + y2 + z2 − c2 t2 = x 02 + y 02 + z 02 − c2 t 02 . (3.9)
A transformação de coordenadas de um referencial (t, x, y, z) para um referen-
cial (t0 , x 0 , y0 , z0 ) que faz com que esta identidade seja verdadeira é a transfor-
mação de Lorentz. Ela obviamente vale para um deslocamento infinitesimal
como descrito em (3.6) onde os sinais (+, −, −, −) ou (−, +, +, +) são apenas
uma questão de convenção. O deslocamento ds é um quadrivetor invariante,
e a partir dele podemos definir uma quadrivelocidade, uma quadriaceleração
ou um quadrimomento, por exemplo. Uma das consequências da Teoria da
Relatividade Especial de Einstein é que os quadrivetores são grandezas invari-
antes, ou seja, elas tem o mesmo módulo quadrado independente do referencial
inercial escolhido. Em outras palavras, pensando na quadrivelocidade, temos
U = (γ c, γ u x , γ uy , γ uy ) (3.10)
U 2 = gµν U µ U ν = (U 0 )2 − (U 1 )2 − (U 2 )2 − (U 3 )2 = c2 (3.11)
U = (c, u x , uy , uy ) (3.12)
A expressão ds2 não deve ser interpretada mais como a distância (medida
com régua) entre dois pontos mas uma distância no espaço-tempo, entre
dois pontos de coordenadas espaciais diferentes e que ocorrem em tempos
diferentes. A distância espacial continua sendo dada do mesmo modo que
estamos habituados a calcular. A parte espacial da métrica fundamental de
Minkowski é Euclideana. De um modo geral podemos então escrever
É importante notar que ds2 pode ser negativo e portanto ds pode ser imaginário.
A interpretação disto será dada logo abaixo.
estamos abrindo um caminho que nos permite também descrever todas as gran-
dezas mecânicas que de alguma maneira estejam relacionadas a deslocamentos
de forma covariante, ou seja, independente das coordenadas escolhidas e da
curvatura do espaço. Dentre estas grandezas uma das mais importantes é sem
dúvida a velocidade v ou, mais particularmente, v2
2
ds dx α dx β
v2 = = gαβ (3.21)
dt dt dt
e portanto
dr dr dθ dθ dϕ dϕ
v2 = grr + gθθ + g ϕϕ
dt dt dt dt dt dt
= ṙ2 + r2 θ̇ 2 + r2 sin2 θ ϕ̇2 (3.23)
α β
m ∂ ẋ β α ∂ ẋ
2 ∑
= g αβ ẋ + ẋ
α,β
∂ ẋ ν d ẋ ν
m
∑
β
= gαβ δνα ẋ β + δν ẋ α
2 α,β
m m
=
2 ∑ gνβ ẋ β + 2 ∑ gαν ẋα (3.27)
β α
1 µν
gαν ,β + g βν ,α − gαβ ,ν ≡ Γ
µ
g αβ . (3.34)
2
Os símbolos de Christoffel exercem um importante papel na Relatividade Geral
e os discutiremos mais detalhadamente no capítulo seguinte, interpretando-os
geometricamente. Com esta definição podemos escrever a equação (3.33) de
maneira mais sintética:
ẍ µ + Γ αβ ẋ α ẋ β = 0.
µ
(3.35)
Esta é a equação de movimento de uma partícula livre escrita em forma
covariante. Ela se aplica em qualquer sistema de coordenadas e em espaços
de qualquer curvatura, pois a métrica fundamental gµν está codificada via
símbolos de Christoffel.
r̈ − r θ̇ 2 − r sin2 θ ϕ̇2 = 0
2
θ̈ + ṙ θ̇ − sin θ cos θ ϕ̇2 = 0
r
2
ϕ̈ + ṙ ϕ̇ + 2 cot θ ϕ̇ θ̇ = 0 (3.37)
r
3.3.1 Geodésicas
Imagine-se dirigindo seu carro num espaço curvo. Deixe o volante na posição
neutra e siga em frente. Qual a trajetória que seu carro irá descrever? Seu
carro descreverá aquilo que na geometria diferencial é chamado de geodésica. A
posição neutra do volante significa em termos físicos um corpo não sujeito a
forças. Um corpo não sujeito a forças descreve uma trajetória “reta”do espaço
curvo. Em geometria diferencial a geodésica é a menor distância entre os
pontos A e B. Seguir uma geodésica significa andar em linha “reta”.
Numa superfície esférica bidimensional as geodésicas são os grandes círculos.
O Equador é um grande círculo, da mesma maneira que você se move sobre
parte de um grande círculo se andar de sul para norte mantendo sua longitude
constante. É por isto que aviões seguem, na medida do possível, trajetórias
que são partes de grandes círculos. Por exemplo, no vôo entre Frankfurt para Figura 3.1: Trajetória mais curta entre os
Tóquio voa-se primeiro em direção nordeste paralelo à costa da Suécia com aeroportos de Frankfurt (FRA) e Tóquio-
Haneda (HND). Mapa gerado pelo site
a proa em Murmansk, para depois fazer um desvio para sudoeste, sobre a
gcmap.com.
Sibéria, com a proa em Tóquio. A figura ao lado ilustra a trajetória seguida
que, vista na representação plana do mapa terrestre, parece um arco.
Para acharmos agora a menor distância entre dois pontos usaremos o for-
malismo Lagrangiano já usado por nós no capítulo anterior. Esta abordagem se
justifica pois as equações do movimento no formalismo Lagrangeano vêm da
R
minimização a ação L(ẋ, x) dt. Substituindo o tempo t pela parametrização λ
de uma curva genérica chegaremos ao mesmo conjunto de equações.
1 2
x (t) = x0 + v0x t ; y(t) = y0 + v0y t − gt . (3.42)
2
A equação da parábola é obtida eliminando o t da primeira equação e substi-
tuindo na segunda:
v0y 1 g
y ( x ) = y0 + ( x − x0 ) − ( x − x0 )2 (3.43)
v0x 2 v20x
ficamos com
Z t q
` = v2x + v2y dt0
0
Z t q 2
= v20x + v0y + gt0 dt0
0
(3.45)
cuja solução é
2 t
1
q
` = (v0y − gt0 ) v20x + v0y − gt0
2g 0
2 t
2
v0x
q
+ ln (v0y − gt0 ) + v20x + v0y − gt0
2 0
(3.46)
1
q 2
` = (v0y + gt) v20x + v0y − gt
2g
v20x
q
2
+ ln v0y + gt + v20x + v0y − gt
2
1 q v2 q
− v0y v20x + v20y − 0x ln v0y + v20x + v20y (3.47)
2g 2
d ∂L ∂L
− u =0 (3.50)
dλ ∂ ẋ u ∂x
1 µν
ẍ µ + g gαν ,β + g βν ,α − gαβ ,ν ẋ α ẋ β = 0 (3.51)
2
ẍ µ + Γ
µ
αβ ẋ α ẋ β = 0 (3.53)
Esta equação é a mesma equação de movimento de uma partícula livre cuja
Lagrangeana é L = (m/2) gµν ẋ µ ẋ ν . A beleza da teoria é capturada por esta
equação simples, mas profunda: a mesma equação que descreve o movimento
de uma partícula livre descreve o caminho de menor distância entre dois
pontos num espaço cuja curvatura está codificada na métrica via os Γ αβ .
µ
Como vimos, o plano R2 pode ser descrito em termos das coordenadas polares
r, ϕ com a métrica
! !
1 0 µν 1 0
gµν (r ) = , g (r ) = (3.54)
0 r2 0 r −2
1 1 11 1
Γ 22 = g ( g12 ,2 + g12 ,2 − g22 ,1 ) = − g11 g22 ,1 = −r
2 2
1 1 22 1 1
Γ 12 = Γ 21 = g ( g21 ,2 + g22 ,1 − g12 ,2 ) = g22 g22 ,1 = .
2
2 2 r
Neste caso as equações das geodésicas são:
ẍ1 + Γ 1 2 2
22 ẍ ẍ = r̈ − rϕ2 = 0
2
ẍ2 + Γ 2 1 2
22 ẍ ẍ = ϕ̈ + ṙ ϕ̇ = 0 (3.55)
r
Paradoxalmente, esta é talvez a pior maneira possível de se escrever a equa-
ção de uma reta em R2 ! Se aplicarmos o formalismo acima às coordenadas
cartesianas x1 = x e x2 = y somos levados ao resultado trivial ẍ = ÿ = 0.
1 1 11 1
Γ 22 = g ( g12 ,2 + g12 ,2 − g22,,1 ) = − g11 g22 ,1 = − sin θ cos θ
2 2
2 1 1
Γ 12 = Γ 221 = g22 ( g21 ,2 + g22 ,1 − g12,,2 ) = g22 g22 ,1 = cot θ.
2 2
As geodésicas são dadas pelas equações Figura 3.3: UM grande círculo na esfera
e no mapa. Se você já acompanhou a
ẍ1 + Γ 1 2 2
22 ẍ ẍ = θ̈ − sin θ cos θ ϕ̇2 = 0 trajetória da ISS num mapa, esta figura
deve ser familiar.
ẍ2 + Γ 2 1 2
12 ẍ ẍ = ϕ̈ + 2 cot θ θ̇ ϕ̇ = 0 (3.57)
Estas são as equações de um grande círculo na esfera. Como podemos ver isto?
Primeiro temos que observar que uma curva geodésica é sempre a interseção
de um plano e a superfície esférica pois é a curva mais “reta” possível entre
dois pontos. E, sendo a intersecção de um plano com uma esfera, ela deve
ser um círculo. Uma vez que a esfera é a figura mais simétrica possível, não
há uma direção preferencial e todas as direções são equivalentes. Portanto
podemos escolher uma curva para quem θ tem um valor constante (latitude
constante), isto é paralela ao plano equatorial. Neste caso θ̈ = 0 e portanto o
segundo termo da equação (3.57) acima deve ser identicamente nulo:
ϕ̈ = 0 → ϕ̇ = K → ϕ = λK (3.60)
As raízes desta beleza à qual Landau e Lifshitz se referem pode ser explicada
pelas palavras do físico e escritor inglês Femi Fadugba, segundo o qual a física
é “poesia ao inverso” 2 : 2
F. Fadugba, entrevista a Agnes Sonntag,
revista Spiegel, seção Kultur, edição 48,
novembro de 2021.
Tudo na física necessita de uma metáfora para poder ser descrito. Por isso
a física é como a poesia, só que invertida: na poesia tudo é descrito em um
nível mais abstrato, seja ele o amor, o mar, ou um relacionamento. Na física
procedemos de modo parecido, mas inverso: pegamos algo abstrato, o universo
invisível e matemático da física, e recorremos à metáforas para trazê-lo para
[um nível mais] baixo, para o concreto, e assim conseguirmos entendê-lo .
qualquer corpo ou fenômeno físico e não é por eles influenciado. Eles não tem
uma estrutura física, motivo pelo qual podemos dotar o espaço de uma métrica
Euclideana e identificar o eixo temporal com o espaço de números reais R.
Na Relatividade Geral ocorre justamente o contrário: segundo a Relatividade
Geral, o campo gravitacional – um campo de forças da física clássica – pode ser
identificado com a métrica do espaço e do tempo. A métrica é quem determinao
estado de movimento dos corpos e campos” 4 . Por outro lado, a teoria de 4
H.-J. Treder, Relativität und Kosmos:
Einstein também nos ensina que os processos físicos que ocorrem no espaço- Raum und Zeit in Physik, Astronomie
tempo influenciam suaa estrutura. Isto significa que a geometria do espaço e do und Kosmologie, Akademie-Verlag, Berlin,
1968, p. 54.
tempo, no qual os fenômenos acontecem, é definida a partir das equações que
descrevem estes mesmos fenômenos. Isto faz da Relatividade Geral uma teoria
sem paralelos na física. Espaço e tempo são definidos pelas equações, e não são
pré-condições para que estas equações existam. A Teoria da Relatividade Geral
de Einstein não é portanto apenas uma teoria NO espaço-tempo mas acima de
tudo uma teoria DO espaço-tempo.
Do ponto de vista matemático, uma das principais consequências disto é
que as equações fundamentais da Relatividade Geral não podem depender de
uma estrutura espaço-temporal a priori, pois são justamente elas que definirão
quem são estas estruturas. Isto, aliado ao fato da gravitação ser universal, pois
atua sobre todas as partículas, e de longo alcance, atingindo os confins do
Cosmos, dão à Relatividade Geral uma posição única dentro de toda a física.
Na verdade, como o espaço e tempo são afetados por todos os processos que
nele ocorrem, todas as equações da física devem ser covariantes, ou seja, escritas
de uma forma que independa de uma estrutura espaço-temporal definida a
priori.
A necessidade de escrever equações que fossem válidas em qualquer geo-
metria e qualquer sistema de coordenadas foi um dos grandes desafios que
Einstein teve que enfrentar durante a criação da teoria. O fato que já existia
uma linguaguem – o cálculo tensorial – que lhe permitiu escrever as equações
sem fazer referência a qualquer espaço lhe foi mostrado por seu amigo e cola-
borador Marcel Grossmann (1878 – 1936), um especialista em cálculo tensorial
e geometria diferencial. Neste capítulo discutiremos alguns pontos básicos do
cálculo tensorial, sem o qual não é possível entender a Relatividade Geral.
Nosso objetivo neste capítulo será portanto o de entender como definir
derivadas e integrais de tensores em espaços curvos. Isto será feito de forma
abstrata pois não temos como visualizar geometricamente um espaço-tempo
quadridimensional, quanto mais se ele for curvo. Por isso é importante en-
tendermos como trabalhar com tensores e empregar as regras de maneira
correta pois boa parte dos cálculos da Relatividade Geral são feitos em um
nível de abstração com o qual devemos nos acostumar. Uma fez feitas as contas
corretamente, “projetamos” os resultados em 2 ou 3 dimensões para então
interpretá-los fisicamente, do mesmo modo que na Termodinâmica olhamos
projeções de uma equação de estado em 2 ou 3 dimensões para podemos visua-
lizar o que realmente está acontecendo. A vantagem do método abstrato é que
ele se aplica a qualquer número de dimensões. É com isto que nos ocuparemos
neste capítulo.
∂A a
∂b A a A a, b A a|b (4.1)
∂x b
∂A ab···
∂m A ab··· A ab···
,m A ab|m··· (4.2)
∂x m
A( x α + δx α ) − A( x α )
lim (4.3)
δx α →0 δx α
A cor diferente para A( x α ) é para que nos lembremos que estamos lidando
com um vetor transladado paralelamente até o ponto onde se encontra o vetor
A( x α + δx α ). Isto é uma das primeiras coisas que aprendemos nos cursos
básicos de cálculo sem que na verdade atentemos para o procedimento em
si. É justamente aí que surge a questão de ordem prática: num espaço curvo,
como transladar um vetor paralelamente se em cada ponto do espaço o vetores
da base apontam em direções diferentes? Em outras palavras, o que significa
paralelo em um espaço curvo? A resposta é um pouco mais complicada que
nossa intuição com vetores em espaços planos possa sugerir.
Poderíamos olhar este problema de um ponto de vista estritamente ma-
temático: consideremos com um pouco mais de cuidado a expressão para a
derivada parcial das componentes de um vetor A no sistema de coordena-
das ( x 00 , x 01 , · · · ), obtidas pela transformação das coordenadas ( x0 , x1 , · · · ) da
0
Como fica claro pelo resultado acima, para que a derivada parcial A a|c0 seja
um tensor de ordem 2, o segundo termo do lado direito da expressão deve ser
nulo. O único caso onde isto ocorre é quando a matrix de transformação Λ ab0
independe da posição
0
0 0 ∂2 x a
Λ ab | d = ∂d Λ ab = b d = 0, (4.5)
∂x ∂x
ou seja, quando as transformações são lineares. Este é o caso por exemplo
da Transformação de Lorentz, motivo pelo qual na Relatividade Especial não
precisamos nos preocupar com o caráter tensorial das derivadas.
Desta discussão concluímos que a derivada parcial de um tensor não é um
5
No contexto do cálculo tensorial a de-
rivada parcial de uma tensor é chamada
tensor5 . Podemos agora retomar a discussão anterior com relação à interpre-
de derivada ordinária.
tação geométrica deste problema. Quando estudamos a variação de alguma
grandeza, estamos comparando seus valores em dois pontos P e Q distintos
6
O parâmetro da curva pode ser o tempo
t, mas não necessariamente. No caso de
divididos por um parâmetro que representa a separação entre os pontos6 . Em
uma órbita de um planeta, pode ser o
outras palavras, considerando o vetor A temos ângulo θ em relação a um θo = 0 previa-
mente definido.
[ Aa ]P − [ Aa ]Q
lim (4.6)
δu→0 δu
onde δu é a variação do parâmetro que mede a separação entre os pontos
P e Q. Se considerarmos porém as regras de transformação para vetores
contravariantes neste caso temos
0 0a
0a ∂x a b 0a ∂x
[ A ]P = [ A ]P e [ A ]Q = [ Ab ] Q (4.7)
∂x b P ∂x b Q
∂
p̂i = −ih̄ . (4.8)
∂xi
Como ilustra a figura (4.2.1), a derivada parcial corresponde à translação
infinitesimal do vetor Z ao longo da curva até uma nova posição, representado
pela linha verde pontilhada. Porém, o vetor Z assim transladado não é paralelo
a si mesmo e consequentemente não pode ser usado no cálculo da derivada.
Mas como assim, não é paralelo? Em espaços curvos paralelo significa manter
inalterado o ângulo entre o vetor e a tangente à curva. Para um ser unidimensional, d Γ
nos dá o vetor Z0 correto. É com este vetor Z0 que comparamos o novo vetor
Ztangente
no ponto desejado. Geometricamente falando Z = Z0 . É muito importante notar Z’tangente
dAi = A,p
i
dx p = Ai ( x + dx ) − Ai ( x ) (4.9)
expressar os dois vetores são idênticos. Quando vamos para um espaço curvo,
temos que garantir que ao transportar o vetor descontemos a variação dos
vetores da base pois não é o vetor em si que muda mas sua representação. É
neste sentido que devemos entender em espaços curvos a idéia de “transporte
paralelo”. Um exemplo prático seria você se descolar ao longo de um meri-
diano sobre a superfície da Terra em direção ao Polo Norte. Durante todo o
deslocamento o vetor que dá sua direção e sentido de deslocamento é sempre
o mesmo. Rigorosamente falando o vetor existe no plano tangente a superfície
esférica do planeta, pois para existir na superfície ele teria que ser curvo, o que
não faz sentido. A figura ao lado exemplifica um deslocamento paralelo de um
vetor sobre a superfície de uma esfera imersa no R3 . Notem que para um ser
bidimensional, que vive sobre a superfície da esfera, as componentes do vetor
projetadas num eixo local não mudam e portanto o vetor não muda de direção:
ele foi transportado paralelamente a si mesmo. É importante também notar
que o transporte paralelo aqui ilustrado (e em muitos livros) é sempre descrito
sobre geodésicas, pois neste caso a visualização é mais fácil: no transporte
paralelo sobre uma geodésica o vetor mantém sempre o mesmo ângulo com a
tangente à curva. Isto não é verdade se o transporte se dá sobre uma curva que
não é uma geodésica. Nestas situações o ângulo do vetor muda em relação à
tangente à curva à medida que nos deslocamos. Um exemplo prático disto é
dado no Apêndice F, onde se calcula o transporte paralelo ao longo de uma
curva não geodésica. Ali podemos ver claramente como o vetor muda suas
componentes para poder compensar a mudança da base dos diferentes planos
tangentes.
Temos que considerar que ao transladarmos um vetor, os vetores da base
mudam e devemos “descontar”esta mudança na hora de fazer as contas. Esta Figura 4.5: Um vetor é transportado pa-
mudança será por nós chamada de δAi : ralelamente sobre uma geodésica de um
ponto sobre a superfície de uma esfera
até outro, mantendo inalteradas as pro-
δAi = mudança de Ai devido ao deslocamento paralelo por dx jeções do vetor sobre os eixos de coorde-
nadas que definem o plano tangente. As
devido à mudança da base (4.10)
linhas azuis, vistas por um ser em uma
dimensão mais alta, mostram que o para-
lelismo é relativo apenas à superfície da
Com isto podemos calcular a diferença infinitesimal entre dois vetores no
esfera S2 imersa no espaço tridimensio-
mesmo ponto nal.
p
δAi = Γ ik A p dx k (4.15)
∂Aµν
+ Γ γα Aγν + Γ νγα Aµγ
µν µ
A ;α =
∂x α
∂Aµν
Aµν ;α = − Γ γµα Aγν − Γ γνα Aµγ
∂x α
µ
∂A ν
+ Γ γα Aγν − Γ γνα Aγ
µ µ µ
A ν ;α = (4.16)
∂x α
Uma outra maneira de ver o mesmo resultado nos dá uma idéia mais intuitiva
do que os símbolos de Christoffel representam.
Quando variamos um vetor qualquer A variando uma das coordenadas
x p temos que levar em conta não só a dependência funcional do vetor com a
posição como também a variação dos vetores da base. Logo temos:
dA d ( A i ei ) ∂Ai ∂ei
= = e + Ai . (4.17)
dx p dx p ∂x p i ∂x p
var. das componentes var. da base
dek = ek ( x p + dx p ) − ek ( x p ) (4.18)
onde os Γ i
kp são funções das coordenadas. Portanto o símbolo de Christoffel
Γ kp mede a componente i da mudança do vetor de base ek quando variamos
i
Isto portanto implica que para um vetor arbitrário A, sua variação quando a
base também varia vale, segundo a eq. (4.17)
dA ∂Ai
p = p ei + A i Γ k
ip ek (4.21)
dx ∂x
Uma vez que índices somados são mudos, podemos no 2º termo da expressão
acima fazer a troca i ↔ k, permitindo assim que escrevamos a expressão acima
de forma mais compacta:
dA ∂Ai
= e + Ai Γ k e
dx p ∂x p i | {zip }k
(i ↔ k )
i k i
= A,p ei +A Γ kp ei
h i
i
= A,p + Ak Γ i
kp ei . (4.22)
deµ ν dx
α
=Γ µα eν . (4.24)
dλ dλ
dA dAµ ν dx
α
= eµ + A µ Γ µα eν (4.25)
dλ dλ dλ
df df
= uν ν (4.26)
dλ dx
df
=∇f·u (4.27)
dλ
Portanto o termo dx
α
α
dλ = u define a componente α do vetor tangente à curva.
Usando este resultado em (4.25) podemos escrever
dA dAµ
= eµ + A µ Γ ν α
µα u eν (4.28)
dλ dλ
escrevemos, finalmente
dA d Aµ ν
= u eµ + Aµ Γ νµα uα eν
dλ dx ν
A ,ν uν eµ + Aµ Γ νµα uα eν .
µ
= (4.30)
Uma vez que os índices são mudos, podemos no 2º termo do lado direito trocar
ν → µ para que assim o vetor de base possa ser colocado em evidência, e fazer
simultaneamente a troca µ → α e α → ν. Isto nos permite escrever a expressão
acima de forma mais compacta:
dA
= A ,ν + Aα Γ
µ µ
αν u ν eµ (4.31)
dλ
ou seja
dA µ
= A ;ν uν eµ (4.32)
dλ
Ficamos assim com
dA
dλ → derivada absoluta do vetor A ao longo da curva parametrizada por λ.
µ
A ;ν → derivada covariante da componente Aµ do vetor A.
Do ponto de vista prático, a beleza deste formalismo está na maneira
sintética através da qual as expressões podem ser escritas. Isto nos permite
manipular as fórmulas de maneira mais rápida quando se está familiarizado
com a ginástica de índices 7 . Isso não significa que seja fácil “abrir” as contas 7
O termo index gymnastics foi introduzido
por Misner, Wheeler e Thorpe em seu
livro clássico, o Gravitation.
© s.r. dahmen 2022
o cálculo tensorial 57
∇ · A = Akµ = A|µ + Γ
µ µ µ
µν Aν (4.34)
que, aparentemente, não tem nada a ver com a expressão original. Esta forma
é muito comum em livros de Relatividade Geral pois nos permite calcular
o divergente sem ter que calcular antes os símbolos de Riemann. Para que
possamos entender esta maneira de definir o divergente (e outros operadores
diferenciais) é importante entendermos primeiro algumas propriedades do
determinante g do tensor métrico gµν .
onde o fato de det ( gij ) se diferente de zero é uma condição imposta para
que o tensor tenha inversa. O símbolo ei1 i2 ···i N é a generalização do tensor
de Levi-Cività para N dimensões. É importante notar que pela convenção
de Einstein a expressão acima representa uma soma
∑ ∑ ··· ∑ (4.37)
i1 i2 iN
δ ab = g ac gcb . (4.40)
Toda vez que r 6= k aparece na equação acima o produto do tipo grir grik .
Como existe uma soma sobre r e outra sobre k, teremos sempre a soma de
termos do tipo
ei1 i2 ···ik ···ir ···i N · · · gkik grik · · · + ei1 i2 ···ir ···ik ···i N · · · grik gkik · · ·
pois os termos
∂gmk ∂g
e − kl (4.44)
∂x l ∂x m
da expressão logo acima cancelam-se mutuamente pela troca de índices
m ↔ l (há uma soma sobre estes índices!). Substituindo agora a expressão
(4.42) em (4.43) ficamos com
p p
1 ∂g 1 ∂| g| 1 ∂ | g| ∂ ln | g|
Γkkl = = = = (4.45)
2g dx l 2| g| dx l | g| dx l ∂x l
p
para det ( gij ) < 0. Olhemos agora para a atuação do operador ∇ no espaço
de Riemman.
4.6.2 Gradiente
Qualquer operação diferencial vetorial, seja ela um gradiente, um divergente
ou um rotacional, envolve a derivada parcial de primeira ordem dos campos.
Quando vamos para o espaço de Riemann esta derivada é substituida pela
derivada covariante. Vejamos quais as modificações que isto acarreta nas
expressões por nós conhecidas, começando pelo gradiente.
A derivada covariante de um escalar é idêntica à derivada parcial. Por isso
podemos expressar o gradiente através das suas componentes segundo
∂S
S kk = S |k = k (4.47)
∂x
Devemos porém ter muito cuidado pois em geral S|2 6= S|2 . Por exemplo,
se estamos tratando de coordenadas polares ( x1 , x2 ) = (ρ, φ) temos, por
exemplo
∂S ∂S ∂S 1 ∂S
S |2 = 2 = e S |2 = = 2 (4.48)
∂x ∂φ ∂x2 ρ ∂φ
Isto normalmente é diferente de nossa prática habitual quando usamos
coordenadas ortogonais no espaço Euclideano pois nestes casos trabalhamos
comumente com uma base de vetores normalizados. Neste caso temos por
exemplo
1 ∂S
(gradS)φ = (4.49)
ρ ∂φ
que é diferente de S|2 ou S|2 . Esta diferença entre notação covariante
e contravariante de vetores da base e versores no espaço Euclideano se
estendem também para o divergente e o rotacional.
4.6.3 Divergente
Os resultados por nós deduzidos nos permitem escrever o divergente de um
vetor de modo compacto, pois pela definição de derivada covariante temos
Aiki = Ai | i + Γi ip A p
∂Ai
p
1 ∂ | g| p
= + A
∂xi | g| dx p
p
q
1 ∂ i
= | g | A (4.50)
| g| dxi
p
4.6.4 Rotacional
Para calcular o rotacional de um vetor temos partimos da expressão
p p
Ai k k − A k ki = Ai | k − Γ ik A p − A k |i + Γ ki A p = Ai | k − A k |i . (4.54)
o que eles estão fazendo nada mais é que aplicar as fórmulas gerais que
acabamos de deduzir mas usando uma notação diferente. No presente caso
temos que q
hu hv hw = | g| (4.54)
O termo nas derivadas parece ser diferente pois falta um h na multiplicação,
mas isto se deve ao fato que no espaço euclideano usamos bases ortonormais
ao passo que no caso Riemanniano as bases não são e quando mudamos
de representação (de covariante para contravariante) os termos au e au estão
relacionados por
ai = gij a j (4.54)
e portanto aparece um fator de métrica a mais no interior da derivada.
geométrica x
2
x
2
~
sistema de eixos nao ortogonais
ortogonal
par. = ort.
1
x
paral.
Um vetor é um vetor. Quando dizemos isto estamos nos referindo ao fato que
ortogonal
um vetor representa uma grandeza física e tem uma existência independente
paralelo
do sistema de coordenadas que escolhemos para representá-lo. As propriedades x
1
paralelo = ortogonal
de um vetor não podem depender do sistema de coordenadas escolhido. Coordenadas
são etiquetas, nada mais que isso. Porém, em se tratando de um sistema de
coordenadas arbitrário, arbitrária também é a maneira como projetamos o vetor Figura A.1: As duas maneiras de se pro-
nos eixos ordenados. É em função da maneira como fazermos esta projeção jetar um vetor sobre dois eixos de coor-
denadas que não são ortogonais entre si.
que estão relacionados os conceitos de vetores contravariantes e covariantes.
A projeção pode ser paralela (contravari-
Na representação de Minkowski para dois referenciais inerciais que se movem ante) ou ortogonal (covariantes). Quando
com velocidade relativa v, o referencial que se “move” é representado por um os eixos são ortogonais entre si, a proje-
ção paralela e ortogonal coincidem.
sistema de coordenadas oblíquo, ao passo que o referencial “parado” como
eixos perpendiculares entre si. Quando temos um sistema de coordenadas x
2
r sin
(α −
Figura A.3: Relações entre ângulos e
θ)
x 1 cos α
α I
diferentes triângulos que nos permitem
achar as componentes contravariantes x1
x1
x
e x2 projetadas paralelalmente aos ei-
2 .
r sin
x 1 cos α (α −
θ)
xos oblíquos gerados pelos versores a1
α
x
2
I
x
2 e a2 . o vetor r pode ser escrito como
r
II
r sin θ
r
r = x1 a1 + x2 a2 , ou seja, a regra do para-
α
α−θ
II
r sin θ 2
x a
2
lelogramo é válida.
a
2 θ α x 2 cos α θ
.
a x1 x x1 a
1
α 1 α 1
x 2 cos α
r sin(α − θ )
x1 sin α = r sin(α − θ ) −→ x1 =
sin α
r sin θ
x2 sin α = r sin θ −→ 2
x = (A.0)
sin α
Um detalhe muito importante desta decomposição é que o vetor r é dado pela
soma dos vetores x1 a1 e x2 a2 como era de se esperar. Em outras palavras,
a regra do paralelogramo para soma de vetores é mantida e podemos então
escrever
r = x1 a1 + x2 a2 (A.0)
sin(70˚ − 30˚)
x1 = 5.0 × = 3.42
sin 70˚
sin 30˚
x2 = 5.0 × = 2.66
sin 70˚
a
2 θ θ
.
x x a
a 1
1 1
1
α α
x
2 x
2
Figura A.5: As componentes x1 e x2 pro-
2 2
x x jetadas nos eixos definidos pelos versores
L
2 x x / sin α
e1 e e2 . Note que os vetores sobre es-
2 2 x
. 2 tes eixos, cuja soma reproduz o vetor r,
α
não é dado por x1 e1 + x2 e2 mas sim por
( x1 / sin α)e1 + ( x2 / sin α)e2 . Isto é expli-
r
a
2 a
r cado em mais detalhes no texto.
2
θ e
2
. 1 1
a x a x
1
x 1
1 x
1
α e α
α 1
L x / sin α
1 1
x
1 x
1
r = x1 a1 + x2 a2 (A.-5)
r = 4.33 a1 + 3.83 a2
e1 e2
r = 4.33 + 3.83
sin 70˚ sin 70˚
r = 4.08 e1 + 3.61 e2 (A.-6)
É fácil verificar também que, pela lei dos cossenos que r = 5.0.
K G P
B
y1
φ θ
F
J
C
E
φ
θ
1
x
O H A
α1 = OH + GP = β1 cos θ + β2 sin φ
2
α = HE + EG = β1 sin θ + β2 cos φ (A.-7)
onde usamos o fato que ( GP) = ( H A). Podemos destas expressões calcular os
valores de β1 e β2 em função das variáveis dos eixos ortogonais:
α1 cos φ − α2 sin φ
β1 =
cos(θ + φ)
−α1 sin θ + α2 cos θ
β2 = (A.-7)
cos(θ + φ)
Em notação matricial podemos escrever isto como:
! ! !
β1 1 cos φ − sin φ α1
= (A.-7)
β2 cos(θ + φ) − sin θ cos θ α2
β1 = OC = OJ + JC = OJ + JP sin θ
= α1 sec θ + ( AP − AJ ) sin θ
= α1 sec θ + α2 sin θ − α1 sin θ tan θ
= α1 cos θ + α2 sin θ , (A.-9)
e também
β2 = OD = OK + KD = OK + KP sin φ
= α2 sec φ + ( BP − BK ) sin φ
= α2 sec φ + α1 sin φ − α2 tan φ sin φ
= α1 sin φ + α2 cos φ . (A.-11)
Em notação matricial:
! ! !
β1 cos θ sin θ α1
= (A.-11)
β2 sin φ cos φ α2
Agora, se olharmos para as transformações das coordenadas dos eixos (em
outras palavras, dos vetores da base), teremos
x1 = y1 cos θ + y2 sin φ
x2 = y1 sin θ + y2 cos φ (A.-11)
onde seguimos a regra
x1 = y1 cos( x1 , y1 ) + y2 cos( x1 , y2 )
2
x = y1 cos( x2 , y1 ) + y2 cos( x2 , y2 ) (A.-11)
sendo que cos( xi , y j ) representa o cosseno entre os eixos xi e y j . Seguindo as
definições formais (2.7) e (2.8) aplicadas ao nosso caso temos
2
∂yi j
βi = ∑ j
α (componentes contravariantes)
j=1 ∂x
2
∂x j
βi = ∑ α
i j
(componentes covariantes)
j=1 ∂y
A P = A P x e x + A P y ey ; A Q = A Q x e x + A Q y ey , (B.0)
ou seja
(∆A) PQ = AP − AQ (B.0)
se torna, no limite de uma variação infinitesimal
dA d( A x ex ) d ( A y ey )
= + (B.0)
dλ dλ dλ
70 uma introdução à teoria do espaço e do tempo
Este resultado nos mostra que o vetor eθ (S) está conectado ao vetor eθ ( P) através
de um “vetor diferença” ou “vetor de conexão”
d θ eθ = eθ ( S ) − eθ ( P ) (B.0)
As componentes deste vetor por unidade de comprimento na respectiva direção
são chamados de coeficientes de conexão (connection coefficients) e são, neste
caso, denotados por Γr θθ e Γθ θθ :
∂eθ r ∂eθ θ
deθ
= er + eθ
dθ ∂θ ∂θ
r
= Γ θθ er +Γ θ
θθ eθ (B.0)
onde definimos
r θ
r ∂eθ ∂eθ
Γ θθ = ; Γ θ
θθ = (B.0)
∂θ ∂θ
Um certo cuidado aqui se faz necessário: os sobrescritos r e θ não indicam
potência mas a componente contravariante do vetor. Γ rθθ e Γ θθθ são mais co- Figura B.4: Figura superior: a variação
mumente conhecidos na Teoria da Relatividade como símbolos de Christoffel do vetor eθ devido a um deslocamento
e foram aqui calculados de forma puramente geométrica numa geometria por angular ∆θ. Figura inferior: a diferença
nós conhecida. Porém sua definição, como veremos abaixo, é geral e se aplicam do vetor eθ em duas posições diferentes
do espaço. A variação é dada pela dife-
a espaços curvos multidimensionais e portanto mais abstratos. Antes porém rença de vetores eθ (S) − eθ ( P) q, onde o
é importante enfatizarmos exatamente o significado da notação para que não último representa o vetor eθ ( P) transpor-
nos confundamos quando seu uso se fizer necessário. Em palavras podemos tado paralelamente a si mesmo do ponto
escrever: P ao ponto S. Fonte: Grøn e Næss.
θθ → 1º subíndice: qual vetor da base varia (eθ )
r
Γ θθ = 2º subíndice: o quê varia (coordenada θ).
r →
a componente do vetor (radial).
Os índices inferiores indicam qual vetor da base está sendo variado pela mu-
dança infinitesimal de qual coordenada. O índice superior indica a componente
do vetor diferença ao qual o símbolo de Christoffel se refere. No caso específico
que acabamos de estudar temos
r
Γ θθ = −r ; Γ θ
θθ =0 (B.-1)
∆r er = 0 (B.-1)
|dθ er | = dθ (B.-1)
Pela figura vemos que o vetor dr er tem a mesma direção e sentido do vetor eθ
e portanto pode ser escrito em termos do versor êθ = (1/r ) eθ como
1
dθ er = dθ êθ = dθ eθ (B.-1)
r
Γ 1
11 , Γ 1
12 , Γ 1
21 , Γ 1
22 ,
Γ 2
11 , Γ 2
12 , Γ 2
21 , Γ 2
22 . (B.-1)
r r
deθ = Γ θr dr er + Γ θ
θr dr eθ + Γ θθ dθ er + Γ θ
θθ dθ eθ , ,
r r
der = Γ rr dr er + Γ θ
rr dr eθ + Γ rθ dθ er + Γ θ
rθ dθ eθ , . (B.-1)
(2) calcule as derivadas dos vetores eµ como função das suas variáveis
naturais, no caso acima as derivadas de (eθ , e ϕ ) como função de (θ, ϕ).
(3) O resultado do item (2) ainda está expresso em termos da base em . Rees-
creva o resultado em termos da base eµ . Os coeficientes que multiplicam
os vetores da base são os símbolos de Christoffel procurados.
∂x ∂y ∂z
er = ex + ey + ez
∂r ∂r ∂r
∂x ∂y ∂z
eθ = ex + ey + ez
∂θ ∂θ ∂θ
∂x ∂y ∂z
eϕ = ex + ey + ez (B.-2)
∂ϕ ∂ϕ ∂ϕ
ou
(
∂x m xm ∈ { x, y, z}
eµ = em com (B.-1)
∂x µ xµ ∈ {r, θ, φ}
1 cos θ
deθ = dr eθ − r dθ er + dϕ e ϕ
r sin θ
Γθθr dr eθ + Γrθθ dθ er + Γ θ ϕ dϕ e ϕ
ϕ
=
1 cos θ
de ϕ = dr e ϕ + dθ e ϕ − r sin2 θ dϕ er
r sin θ
− sin θ cos θ dϕ eθ
r
Γ dre ϕ + Γ dθ e ϕ + Γ dϕ er + Γ
ϕ ϕ θ
= ϕr ϕθ φϕ ϕϕ dϕ eθ
(B.-18)
∂x m
eµ = em (B.-20)
∂x µ
Esta foi a equação que usamos acima para expressar a base (er , eθ , e ϕ ) em
função da base (ex , ey , ez ). Por outro lado a derivada total de um campo vetorial
é semelhante em sua forma à derivada total de um campo escalar
∂eµ α
deµ = dx
∂x α
∂ m
∂x em dx α
= α µ
∂x ∂x
= eµ
∂2 x m
= dx α em (B.-21)
∂x α ∂x ν
Mas pela definição (B) dos símbolos de Christoffel temos
∂eµ
=Γ ν
µα eν (B.-21)
∂x α
Comparando as duas expressões temos
∂2 x m
eν Γ ν
µα = em (B.-21)
∂x α ∂x ν
Como ∂α ∂ν = ∂ν ∂α temos que
Γ ν
µα =Γ ν
αµ (B.-21)
dA dAk k
= e +Γ A i u j ek (B.-21)
dλ dλ k ij
a = (v̇k + Γ k
ij v
i
v j ) ek (B.-21)
Sendo Γ r
θθ = −r e Γ θ
rθ = 1/r a expressão acima se torna
2
a = (r̈ − r θ̇ 2 ) er + θ̈ + θ̇ ṙ eθ
r
eθ
= (r̈ − r θ̇ 2 ) er + (r θ̈ + 2 θ̇ ṙ )
r
= (r̈ − r θ̇ 2 ) r̂ + (r θ̈ + 2 θ̇ ṙ ) θ̂ (B.-23)
Este resultado, que nos livros de mecânica é deduzido de outra forma, mostra
como o formalismo covariante permite estudarmos a variação de qualquer
vetor quando os vetores da base também variam. Usamos também a notação
mais usual dos versores por uma questão de familiaridade.
0
Esta expressão pode ser simplificada pois Λστ Λ
ρ ρ
σ0 = δτ e portanto ficamos
com
0
∂ γ0 A α0 − Γ σ α0 γ0 A σ0 ∂γ0 Λσα0 Aσ + Λσα0 Λτγ0 (∂τ Aσ )
=
−δτ Aρ ∂α0 Λτγ0 + Λ α0 Λνγ0 Γ τ µν Aρ
ρ µ
Aσ||τ ≡ ∂τ Aσ − Γ
ρ
στ Aρ (C.-3)
DAµ = D ( gµν Aν )
= ( Dgµν ) Aν + gµν ( DAν )
(D.-1)
∂gµν
gµν ;α = −Γ γ
µα gγν − Γ
γ
να gµγ = 0. (D.-1)
∂x α
Lembrando que
∂gµν
−Γ νµα −Γ µνα =0 (D.-1)
∂x α
∂gµα
−Γ αµν −Γ µαν = 0
∂x ν
∂gνα
−Γ ανµ −Γ ναµ = 0. (D.-1)
∂x µ
Os símbolos de Christoffel são simétricos por troca dos dois últimos índices
Γ µνα =Γ µαν
Isto significa que podemos escrever as três expressões por nós obtidas como:
∂gµν
−Γ νµα −Γ µνα = 0
∂x α
∂gµα
−Γ αµν −Γ µνα = 0
∂x ν
∂gνα
−Γ αµν −Γ νµα = 0. (D.-3)
∂x µ
onde destacamos em vermelho alizarin os índices permutados. Somando as
duas primeiras equações e subtraindo a terceira chegamos finalmente à
1 ∂gµν ∂gµα ∂gνα
Γ µνα = + − . (D.-3)
2 ∂x α ∂x ν ∂x µ
o índice:
1 ∂gσν ∂gσα ∂gνα
Γ να = gµσ
µ
+ − . (D.-3)
2 ∂x α ∂x ν ∂x σ
A importância deste resultado não pode ser menosprezada: para um gµν que
seja solução das equações de Einstein, temos imediatamente os Γ να que entram
µ
Não existe nestes casos uma convenção sobre a ordem em que os índices são
escritos. Os livros da escola russa de Relatividade dão preferência para as
duas últimas formas. Esta notação tem se tornado no entanto cada vez menos
frequente.
Podemos também definir uma base tangente nestas variáveis, ou seja uma na
Figura E.1: As bases tangentes em co-
qual os vetores da base são tangentes às direções r, θ e ϕ. A pergunta é: como
ordenadas cartesianas x ,y, z (em azul)
fazer isto? Existiria uma regra para, dado um conjunto de variáveis, achar a e em coordenadas esféricas r, θ, ϕ (em
base tangente a elas associada? vermelho). Notem que em ambos os ca-
sos os vetores da base são tangente às
A base tangente às curvas coordenadas é definida pela derivada do vetor curvas coordenadas. No caso de coor-
posição r em relação às variáveis que definem as coordenadas. denadas esféricas er aponta na direção
radial (para longe da origem), e ϕ é tan-
gente aos paralelos e aponta na direção
Em se tratando de coordenadas cartesianas ( x, y, z), o vetor posição r é expresso
de ϕ crescente (de oeste para leste) e eθ é
na forma tangente aos meridianos, apontando na
r = x ı̂ + y ̂ + z k̂, (E.0) direção de norte para sul.
de onde segue que
∂r ∂r ∂r
= êx = ı̂, = êy = ̂, = êz = k̂. (E.0)
∂x ∂y ∂z
∂r
er = = sin θ cos ϕ ı̂ + sin θ sin ϕ ̂ + cos θ k̂,
∂r
∂r
eθ = = r cos θ cos ϕı̂ + r cos θ sin ϕ ̂ − r sin θ k̂,
∂θ
∂r
eϕ = = −r sin θ sin ϕ ı̂ + r sin θ cos ϕ ̂. (E.-1)
∂ϕ
1 1
êr = er , êθ = e , ê ϕ = eϕ . (E.-1)
r θ r sin θ
A base dual.
Existe a possibilidade de usarmos uma outra base, a chamada base dual. Esta
base é também chamada de base normal (normal no sentido de perpendicular)
pois ela é obtida por meio do gradiente das coordenadas. Temos assim 2 bases
possíveis:
∂x ∂x ∂x
∇x = ı̂ + ̂ + k̂ = ı̂
∂x ∂y ∂z
∂y ∂y ∂y direcao do gradiente
∇y = ı̂ + ̂ + k̂ = ̂ e’ a mesma
do eixo x
∂x ∂y ∂z
gradiente
∂z ∂z ∂z
∇z = ı̂ + ̂ + k̂ = k̂ (E.-2) x
∂x ∂y ∂z
O fato das bases serem idênticas neste caso vem do fato da base original ser z
x=2 x=3
x=1
r, θ e ϕ como função de x, y e z
q
r = x 2 + y2 + z2
p !
x 2 + y2
θ = arctan
x
y
ϕ = arctan (E.-3)
x
e calcular o gradiente. Seguindo a notação usual, denotaremos vetores da base
dual com um superescrito ei para diferenciá-los dos vetores da base tangente,
representados por um subescrito ei . Temos assim, segundo a definição do
gradiente:
∂r ∂r ∂r r
er = ∇r = ı̂ + ̂ + k̂ = = er
∂x ∂y ∂y r
1 e
eθ = ∇θ = cos θ cos ϕ ı̂ + cos θ sin ϕ ̂ − sin θ k̂ = 2θ
r r
1 eϕ
eϕ = ∇ϕ= (− sin θ sin ϕ ı̂ + sin θ cos ϕ ̂) = 2 (E.-4)
r sin θ r sin θ
Este resultado nos mostra que a base de vetores dual e tangente coincidem, a
menos de fatores de escala. Com uma normalização elas se tornam idênticas:
coordenadas.
trav
gradiente
con
1
x
1 T
gradiente T 1
x1 = ρ, x2 = φ
P
(F.0) ex = e ρ
∂g22 ∂g
= 22 = 2ρ (F.0)
∂x1 ∂ρ
sin φ sin( x2 )
A1 = cos φ = cos( x2 ), A2 = − =− (F.0)
ρ x1
ao passo que
Este resultado era esperado pois sabemos que o vetor ex é constante. POr
questão de simplicidade, uma vez que ρ é constante, tomemos ρ = 1. Se agora
fizermos todo o percurso, do ponto P ao ponto Q da figura, isto é
dρ=0
( xi ( P)) = (ρ, φ) = (1, 0) −−−→ ( xi ( Q)) = (ρ, φ) = (1, π/2) (F.0)
( A1 , A2 ) Q − ( A1 , A2 ) P = (−1, −1)
( A1 , A2 )Q − (1, 0) = (−1, −1)
( A1 , A2 ) Q = (0, −1) (F.-1)
Consideremos o transporte de um vetor v arbitrário ao longo de um paralelo Figura F.2: Um vetor é transportado pa-
de latitude θ = θo do ponto Po até a volta ao mesmo ponto, ou seja entre φ = 0 ralelamente sobre a superfície de uma
e φ = 2π. esfera. Fonte: Foster and Nightingale, op.
A equação paramétrica ui (t) do círculo é dada por cit., p. 66.
(
u1 ( t ) = θ o
uµ (t) =
u2 ( t ) = t 0 ≤ t ≤ 2π
o que implica que du1 /dt = 0 e du2 /dt = 1. Dados os valores para os símbolos
de Christoffel, a equação do transporte paralelo é
v̇µ + Γ ν2 vν = 0
µ
(F.-2)
e que ele faça um ângulo inicial α em relação ao meridiano N–S que passa pelo
ponto Po , ou seja, sua componente projetada sobre o vetor unitário êθ = 1a eθ Consulte o Apêndice C acerca da nor-
1
Estas soluções nos dão o valor das componentes do vetor v que é transportado
paralelamente a si mesmo sobre qualquer ponto do círculo θo . O resultado
mais interessante é o valor que este vetor assume ao retornar ao ponto inicial
Po , ou seja, quando t = 2π. Neste caso o resultado acima se reduz à
(
v1 (2π ) = vθ (2π ) = 1a cos(α − 2π cos θo )
1
(F.-2)
v2 (2π ) = vφ (2φ) = a sin θo sin( α − 2π cos θo ).
Isto significa que ao completar o circuito o vetor continua sendo unitário, como
pode ser facilmentente comprovado calculando o produto escalar de v(2π )
consigo mesmo
gµν vµ (2π ) vν (2π ) = 1. (F.-2)
No entanto, o produto escalar de v(0) com v(2π ) dá: