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Recebido: 13 de novembro de 2014 Aceito: 26 de maio de 2015
1. Introdução
transgressor, posto que este era o próprio direito organizado”. (JARDIM, 2010,
p.63) Nesse contexto os atos ilícitos praticados por funcionários públicos no
exercício da função eram tidos como atos praticados em nome próprio,
ensejando exclusivamente a responsabilidade pessoal dos mesmos.
Na segunda metade do século XIX surge a teoria civilista, na qual a
responsabilidade civil do Estado tinha como pressuposto uma ação culposa
dos funcionários públicos. Caso ausente o elemento culpa não havia que se
falar em responsabilidade civil estatal.
A teoria civilista da responsabilidade civil estatal esteve presente no
Código Civil de 1916 e nas Constituições de 1934 e 1937, até que em 1946 a
Constituição adotou a responsabilidade civil objetiva para o Estado.
A teoria objetiva da responsabilidade civil do Estado baseia-se na
desnecessidade da ocorrência de culpa do agente público para a imputação da
obrigação de reparar o dano, bastando a presença de um comportamento, um
dano e o nexo de causalidade entre ambos.
A responsabilidade objetiva do estado foi adotada pela Constituição da
República de 1988 em seu artigo 37, §6 e pelo Código Civil em seu artigo 43,
conforme já citado, porém os dispositivos em tela não demonstram claramente
se tal modalidade de responsabilidade estende-se também aos danos
resultados da omissão do Estado.
Se o Estado não agiu, não pode ser autor do dano. E se não foi o
autor, só cabe responsabilizá-lo caso esteja obrigado a impedir o
dano, isto é, no caso de descumprimento de um dever legalmente
imposto. Logo, a responsabilidade por ato omissivo do Estado seria
sempre responsabilidade por um ato ilícito proveniente de
negligencia, imprudência ou imperícia (culpa), o que remete à
responsabilização com base na teoria da responsabilidade subjetiva.
Nesse caso, a responsabilidade Estatal não restaria configurada
apenas pela demonstração da ausência do serviço e o dano sofrido,
dependendo da imposição legal de atuação Estatal naquela
circunstância, sob pena de excessiva e abusiva punição. (BANDEIRA
DE MELLO, 2010, p. 1014)
De fato não é razoável exigir do Estado que indenize alguém por dano
resultante da abstenção de uma atividade que não lhe incumbia realizar,
consequentemente, se o Estado for responsabilizado por deixar de fazer algo
que por exigência legal deveria fazer haverá indiscutivelmente culpa, seja por
negligência, imprudência ou imperícia.
Respeitável parte da doutrina, no entanto, defende a responsabilidade
objetiva nos casos de omissão estatal, como Hely Lopes Meirelles e José de
Aguiar Dias.
Os elementos da responsabilidade civil por omissão estatal são a
omissão do Estado em realizar dever legalmente lhe atribuído e o dano
provocado a outrem decorrente desta omissão. Verificados ambos os
elementos terá caracterizada a responsabilidade civil do Estado por omissão.
Há que se ressaltar as duas modalidades de omissão citadas pela
doutrina, quais sejam, omissão genérica e omissão específica.
A omissão genérica decorre do mero dever legal do Poder Público de
fazer algo, independentemente da existência de uma possibilidade efetiva de
concretização deste dever. É o que ocorre com o dever do Estado de proteger
o meio ambiente.
Quanto à omissão específica, entende-se essa como aquela que se
concretiza quando o Estado diante de uma possibilidade fática de atuação, em
que deve agir de modo a evitar ou prevenir o dano, deixa de fazê-lo, como
acontece quando em uma fiscalização que se constate a existência de pessoas
residindo em áreas de risco muito alto de deslizamentos, deixa de realocá-los
conforme determina a lei 12.608/2012.
Ocorre que com o avanço da tecnologia os fenômenos naturais são cada vez
mais previsíveis e como anualmente a intensidade desses fenômenos vem se
acentuando, é provável que eventos mais intensos do que os já ocorridos
venham a acontecer, e consequentemente provoquem danos mais intensos
dos que os até então já verificados. Nesses casos acredita-se que apenas
aqueles eventos que a ciência não possua meios de prevenção (inevitáveis,
irresistíveis) sejam capazes de provocar a exclusão do nexo de causalidade
por omissão estatal, como, por exemplo, a queda de um meteoro ou um
incêndio florestal provocado pela queda de um raio, visto que mesmo com a
ciência da queda de um meteoro ou da ocorrência de uma tempestade de
raios, não existem mecanismos capazes de impedir os impactos provocados
por tais fenômenos.
No que tange à ocorrência de casos fortuitos (morte em massa de
agentes de defesa civil ou incêndio em galpão de suprimentos) que impeçam o
cumprimento das obrigações legais em casos de desastres por parte do
Estado, acredita-se que o mesmo não poderá eximir-se da responsabilidade de
reparação dos danos em virtude do princípio da eficiência da atuação estatal,
previsto no caput do artigo 37 da CR/88, do qual se depreende que o Estado
deve possuir um aparato capaz de arcar com eventuais adversidades
decorrentes de sua estrutura interna.
No caso da excludente fato exclusivo de terceiro, defende-se que como
o Estado tem o dever constitucional de proteger e preservar o meio ambiente,
não pode permitir que determinada pessoa o deteriore a ponto de provocar
danos a outrem. Caso isso ocorra ao Estado caberá indenizar a vítima, em
razão de sua omissão na fiscalização do comportamento degradador alheio e
de seu grande poder econômico, restando o direito de regresso contra o
terceiro causador do dano.
Percebe-se então que em casos de desastres naturais, apenas a culpa
exclusiva da vítima e eventualmente a força maior serão aptos a excluir o nexo
de causalidade entre a omissão estatal e o dano causado, visto que o avanço
da tecnologia e a probabilidade de fenômenos naturais cada vez mais intensos
eliminam a possibilidade de exclusão por força maior em grande parte dos
casos e o dever genérico de proteger o meio ambiente e promover o direito de
Não obstante o Estado responda pelos danos causados por sua inércia,
mesmo que esses tenham ocorrido não exclusivamente em decorrência dela,
demonstrar o nexo de causalidade entre a ausência de conduta estatal e o
dano não é tarefa fácil.
A prova do nexo de causalidade entre a omissão estatal e o dano
ecológico (esse incluindo o dano ambiental ou ecológico puro e o dano à esfera
pessoal do afetado ou dano por ricochete) não é simples, em razão da
cumulatividade e da extensão temporal dos fatores desencadeadores do dano.
A fim de evitar a irresponsabilidade por danos ambientais nos casos em
que não há certeza científica de quem e em que proporção provocou o dano,
surgiu na Espanha a Teoria das Probabilidades, que trata-se de um
“instrumento hermenêutico destinado a facilitar a prova do nexo causal à
vítima”. (CARVALHO, 2013, p. 160)
Delton Winter de Carvalho assevera que a teoria das probabilidades é
sensível à complexidade e às incertezas científicas que permeiam os danos
ambientais, ao passo que determina que o legitimado ativo não terá que
demonstrar o nexo de causalidade com exatidão científica, mas que a sua
configuração se dará sempre que o juiz se convencer da existência de uma
7. Conclusão
8. Referências
ANTUNES, Paulo de Bessa. Direito Ambiental. 12.ed. rev. ampl. refor. Rio de
Janeiro: Lúmen Júris, 2010.
Disponível em:
<http://bdjur.stj.gov.br/dspace/bitstream/2011/8632/3/A_Responsabilidade_Civil
.pdf>. Acesso em: 19 set 2014.
CONDE, Luiz Paulo. Cadernos de Ciência, São Paulo: FINEP, n. 28, p.13-15,
jul./ago./set. 1992.
RODRIGUES, Silvio. Direito Civil. 20 ed. v. 4. São Paulo: Saraiva, 2008, p.6