85-Texto Do Artigo-570-1-10-20220829
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Campus Araçuaí
RESUMO
ABSTRACT
The present work, within the dimension of the educational proposal Ethnomathematics in
basic education, aims to focus on the anti-racist and interdisciplinary approach, relating the
curricular components Mathematics and History, by means of Kente fabrics, from the region
of Ghana, on the African continent. In this analytical perspective, we will make a brief
historical approach of the people of the region contextualizing the fabric and its symbology
and colors represented in the African clothes. In a propositional way, we report and articulate
skills and competencies present in the Common National Curricular Base (BNCC) and in the
Paulista Curriculum, besides the materials available in public schools of the State of São
Paulo that dialogue with the Teaching of Afro-Brazilian and African History and Culture, in
compliance with the Federal Law 10.639/2003. Therefore, in order to contribute to the
learning and pedagogical action of geometry as Ethnomathematics, to learn about the
production of knowledge held by different peoples.
1
Cursando Mestrado em Ciências Humanas no programa da Universidade Santo Amaro – Unisa. Professora de
História na Educação Básica de São Paulo. Formada no curso Lato Sensu História, Sociedade e Cultura pelo
COGEAE/PUC-SP. Lato Sensu Política de Promoção da Igualdade Racial na pela Escola Universidade Federal
de São Paulo (UNIFESP). Graduada em licenciatura em História pela Universidade de Santo Amaro (UNISA).
Graduada em Pedagogia pelo Centro Universitário Ítalo Brasileiro (UNIÍTALO).
1. INTRODUÇÃO
O estudo de uma educação unicamente com base europeia pode contribuir para o
aumento dos índices de desigualdade escolar apontados na Pesquisa Nacional por Amostra de
Domicílios realizada pelo IBGE (PNAD/IBGE, 2009) que apontam a diferença entre a
escolaridade média de um jovem negro e um jovem branco de 25 anos, como 2,3% o que
confirma a estrutura da desigualdade na educação brasileira. Quanto ao analfabetismo, o
índice ainda é mais alarmante, chegando a 12,9% entre pessoas negras e 5,7% entre pessoas
brancas e, no nível superior, é 15,7% de negros e 80% de brancos.
Sabemos que o processo das representações simbólicas está presente no itinerário do
desenvolvimento histórico do homem. As identidades dos estudantes são formadas, algumas
vezes, por elementos históricos que não valorizam e nem apresentam as culturas, ciência,
tecnologia e as riquezas dos povos africanos, como é evidenciado ao longo da história
humana. Devemos sempre lembrar que o ensino de História constitui um processo relevante
no âmbito educacional, com aplicabilidade de seus conceitos em diversos componentes
curriculares nas escolas da educação básica, tais como a Matemática.
Pensar no ensino de matemática para a educação básica, pode ser associado à
resolução de problemas, com isso, devemos desenvolver a aprendizagem dos estudantes,
enfatizando a importância das conexões entre o conhecimento matemático adquirido e
utilização dele em seu convívio social com a linguagem simbólica do componente
matemática.
Para embasar legalmente este trabalho antirracista na educação, podemos pontuar
algumas mudanças nas políticas educacionais das escolas brasileiras a partir de alguns
importantes marcos legais, como a Constituição Federal de 1988, a lei n.º 7.716 de 05 de
janeiro de 1989que estipulou o racismo como crime e a Lei Federal número 10.639 de 9 de
janeiro de 2003 que determinada a obrigatoriedade do ensino de história e cultura afro-
brasileira e africana na educação básica.
A Lei n.º 10.639/2003 e a sua complementação com a Lei n.º 11.645/2008, alteram a
Lei n.º 9394/96, a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, que estabelecendo e
tornando obrigatória a Educação das Relações Étnico-Raciais e o ensino da História e Cultura
Afro-Brasileira e Africana, no ensino básico. No parágrafo 1 do artigo 26-A da Lei n.º
11.645/2008 aponta-se:
Art. 1º O art. 26-A da Lei no 9.394, de 20 de dezembro de 1996, passa a vigorar com
a seguinte redação:
Tendo o aparato legal como referência inicial, este artigo tem como objetivo contribuir
para uma reflexão sobre a inclusão da cultura africana em sala de aula, estimulando a
formação de uma educação que rompa a visão eurocêntrica, tradicionalmente presente na
seleção de conteúdos.
Quando falamos da educação antirracista é a educação que combate ativamente
qualquer expressão de racistas nas unidades escolares e na educação. Assim apresentado aos
estudantes e profissionais da educação, deste modo reconhecendo e valorizando as diversas
contribuições do passado e presente de africanos e afro-brasileiros em todos os campos do
conhecimento humano.
Considerando uma concepção de aprendizagem ativa e significativa do estudante,
propõem-se uma abordagem pedagógica interdisciplinar. Ressaltando as vantagens de tal
abordagem que
não dilui as disciplinas, ao contrário, mantém sua individualidade. Mas integra as
disciplinas a partir da compreensão das múltiplas causas ou fatores que intervêm
sobre a realidade e trabalha todas as linguagens necessárias para a constituição de
conhecimentos, comunicação e negociação de significados e registro sistemático dos
resultados. (BRASIL, 1999, p. 89).
positiva dos povos africanos, na valorização da diversidade étnica e cultural, na percepção das
suas contribuições e no reconhecimento da ancestralidade.
Enquanto aos saberes tradicionais dos povos africanos e afro descendentes é
interessante abordar os estudos sobre a etnomatemática, feitos pelos matemáticos Ubiratan
D’Ambrósio e Paulus Gerdes. Segundo Gerdes (2007):
Tradições matemáticas que sobreviveram à colonização e atividades matemáticas na
vida diária das populações, procurando possibilidades de as incorporar no currículo;
Elementos culturais que podem servir como ponto de partida para fazer e elaborar
matemática dentro e fora da escola. (GERDES, 2012, p. 18).
Assim, como também aponta D’Ambrósio (2005), explorar esses saberes no cotidiano
escolar, mostrando a presença e influência destas culturas no Brasil, pode contribuir para a
construção de uma identidade social dos estudantes.
Trabalhar a partir de uma concepção decolonial propondo práticas tradicionais
africanas e afro brasileiras em atividades, pode enriquecer a visão dos estudantes sobre como
resolver problemas. Bem como, a ampliação de saberes sobre como outros povos criaram,
significavam e utilizavam determinados objetos.
Decifrar a simbologia dos tecidos Kente poderá assim, ser um convite para diversas
aprendizagens que partem das tradições dos povos dos territórios da África Ocidental,
principalmente Mali e Gana e com isso ensejamos que a produção e divulgação deste artigo
possam contribuir nesse processo.
A sugestão para trabalhar os tecidos Kente enquanto um recurso didático para que os
professores surge do anseio do desenvolvimento de habilidades, competências e
O tecido escolhido para desenvolver o trabalho de análise foi o Kente dos Ashanti ou
Asante. Este é um dos povos mais conhecidos dentre os Akan de Gana, na região ocidental da
África. Eles ocupam o território grande área do centro-sul e estão organizados de forma
confederação de estados. A primeira produção conhecida desses tecidos datam do século
XVII.
Devemos sempre lembrar que, ao analisar as vestimentas na cultura africana, temos
uma caracterização com o objetivo de exceder o material que, normalmente, não tem apenas
uma função utilitária de cobrir o corpo enquanto uma roupa. Para muitos povos os tecidos são
carregados por significados sociais para esta sociedade.
Assim, ao desenvolver um trabalho sobre os tecidos Kente é importante que o
professor inclua em seu planejamento etapas para a apreensão e compreensão destes
significados.
O vestuário é linguagem, fortalece a palavra, visto a importância da oralidade na
cultura africana. A interdependência corpo/vestuário caracteriza o traje como objeto
indissociável do corpo, e lhe confere significado, daí a importância do ditado
popular: “Estar nu é estar sem palavras”. O comportamento dos personagens frente
ao vestuário revela seu valor para as sociedades africanas, identificando-o como
signo sociocultural, cuja função utilitária se dilui em relação à função social e
simbólica. Segundo mitologia africana, o vestuário e a palavra surgiram juntos,
quando a terra recebeu do gênio criador, um traje de fibras vegetais cheias de
essência divina. O entrelaçamento de fibras simbolizava o caminho pelo qual a
palavra se revelava; e terra vestida portava então uma linguagem. (PETTER, 1992,
apud MENEZES, 2006, p. 2).
culturais. Assim, também, podemos encontrar materializado em certos produtos têxteis, como
nos tecidos Kente, elementos presentes em outras culturas do continente africano.
Podemos desenvolver nas aulas de História uma análise com os estudantes sobre as
principais cores utilizadas para elaborar os tecidos. Promovendo um debate em classe sobre
qual seria a simbologia das cores como, Ouro representando a realeza, riqueza, status elevado,
glória e pureza espiritual; Prata para serenidade, pureza, alegria, associado com a lua; Cinza
rituais de cura e limpeza; Preto para a maturação e energia espiritual intensificada; Branco
para a purificação, ritos de santificação e ocasiões festivas; Amarelo para preciosidade,
realeza, riqueza, fertilidade e beleza; Rosa para a essência feminina da vida etc. Nesse
processo é interessante dialogar sobre as diferenças de significado das cores para nossa
cultura e a para a cultura dos povos de Gana, bem como a mudança de significação das cores
no decorrer do tempo.
No Currículo Paulista conseguimos estabelecer uma ligação entre componente de
História do 7.º ano com esta proposta de trabalho nas habilidades relacionadas:
(EF07HI03) Identificar aspectos e processos específicos das sociedades africanas e
americanas antes da chegada dos europeus, com destaque para as formas de
organização social e para o desenvolvimento de saberes e técnicas, valorizando a
diversidade dos patrimônios etnoculturais e artísticos dessas sociedades.
(EF07HI12) Identificar a distribuição territorial da população brasileira em
diferentes épocas, considerando a diversidade étnico-racial, étnico-cultural
(indígena, africana, europeia e asiática) e os interesses políticos e econômicos. (SÃO
PAULO, 2019, p. 477-478).
Nessa habilidade é importante ressaltar que esses povos eram organizados nos
aspectos social, político e econômico, com cultura e conhecimento científico complexos,
opostos à noção de espaço a ser construído presente na África. Devemos enfatizar e valorizar
os saberes dos povos africanos principalmente no que tange ao conhecimento científico,
arquitetônico e da diversidade cultural, assim para o desenvolvimento desta habilidade o
importante valorizar e apresentar aos estudantes estes conhecimentos africanos.
Enquanto as figuras presentes nos tecidos Kente, ao analisarmos, reproduzirmos ou
reinterpretá-las com os estudantes, podemos propiciar o desenvolvimento de algumas
habilidades propostas pela disciplina Matemática no Currículo Paulista do 7º ano, como:
2
Os ashanti são os mais conhecidos dentre os povos akan de Gana, na região ocidental da África. Eles ocupam uma
grande área do centro-sul do país e estão organizados numa confederação de estados, sendo que cada estado é dirigido
por um chefe supremo, que por sua vez, está subordinado ao rei (ashantehene).
3
Embora os Ewe (pronuncia-se “Ev-ay”) não sejam tão conhecidos fora de Gana como os Asante, eles também tecem
muitos dos tecidos conhecidos como kente. Na verdade, muitos colecionadores consideram os têxteis Ewe a expressão
mámundialmente xima da arte da tecelagem africana. O povo Ewe vive na região do delta de Volta, no sudeste de
Gana, e na fronteira internacional do Togo. De acordo com suas histórias locais, alguns grupos chegaram à sua terra
natal no século XVII após uma série de migrações do leste, passando pela cidade de Notse, no Togo.
Kente Ashanti. Assim, ele é representado de forma mais realística com as cores da natureza
(BERMUDA NATIONAL GALLERY, 2010). Nesta comparação é interessante o professor
de História desenvolver um debate em sala de aula por esta diferença, explicando-a.
Todos os padrões Kente possuem significados específicos e podem ser uma poderosa
ferramenta para expressar pontos de vista, inclusive políticos. Considerando o tecido como
um objeto de estudo para o desenvolvimento de habilidades e competências nos estudantes,
pode-se trabalhar dentro dos estudos sobre as técnicas e tecnologias, bem como, um
patrimônio cultural, desenvolvendo e aprofundando-se na cultura de Gana, trabalhando
também questões socioemocionais dos estudantes com a motivação e engajamento além da
ampliação de repertórios artísticos-culturais e desenvolvimento da criatividade.
Na realização de uma análise minuciosa do tecidos Kente junto aos estudantes pode-se
considerar os principais elementos estruturais como: ponto, camada, linha, plano, volume,
cor, escala, textura, movimento e transparência, no caso de análise têxtil física, neste quesito,
pontua-se que se possível o educador deve levar uma amostra do tecido para sala para
aproximar, mas o objeto de análise.
Galileu Galilei, Newton, Descartes, Leibniz, Albert Einstein, Carnot, Lagrange, Lacaille, J. J.
Cousin, Lacroix, Euler, Bézout, Monge, Legendre, Laplace, Delandre e Brisson entre outros
nas aulas, reafirmando o pensamento eurocêntrico da componente.
Com isso podemos traçar um certo paralelo entre o início das explorações infantis com
o início do estudo da matemática partindo do campo da geometria.
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Acreditamos que este trabalho está em acordo com a Lei nº 10.639 / 2003, que
valoriza a cultura africana no ambiente escolar e que pode ser utilizada como base para outros
trabalhos, que desejamos que ocorram no decorrer de todo o ano escolar e não apenas na
Semana da Consciência Negra.
Compreender como a geometria pode ser desenvolvida na escola pública através
trabalho metodologia Etnomatemática e suas aplicações práticas ajuda os estudantes a
aprender com outro olhar sobre a matemática.
REFERÊNCIAS
ENDEREÇO DA AUTORA