O Ensino de Historia e Cultura Africana e Afro-Bra
O Ensino de Historia e Cultura Africana e Afro-Bra
O Ensino de Historia e Cultura Africana e Afro-Bra
BRASILEIRA NO
ENSINO FUNDAMENTAL
RESUMO
ABSTRACT
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Psicóloga pela UNESP/Bauru.
Bauru. Mestre em Educação Escolar pela UNESP/Araraquara.
Araraquara. Doutora em
Psicologia pela UFSCAR. Docente da Faculdade Aldete Maria Alves/FAMA - Iturama/MG.
janafzc@gmail.com
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Bacharel em Direito pela Faculdade Aldete Maria Alves/FAMA - Iturama/MG. Graduanda do curso
de Psicologia da Faculdade Aldete Maria Alves/FAMA - Iturama/MG. susisantana@hotmail.com.br
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analysis of books, articles, legislations and norms of Brazilian education. The present work
shows some important factors on the pedagogical practices to be used for the teaching of
African and Afro-Brazilian history and culture, as well as factors that must be the object of
reflection for that these practices can be carried out, such as the role of the school and the
state organs which are responsible by Brazilian education, in order to support the work of
teachers; discussions about the necessity for adequate material resources; content of this
theme which should be part f the scholar curriculum, as great names of Africans and Afro-
Brazilians in the science field; and the importance of the teacher training for the teaching of
this subject.
1 INTRODUÇÃO
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Sabe-se que as escolas têm o dever de garantir os direitos dos alunos negros, que o
Estado deve observar e supervisionar as ações realizadas nesse âmbito e que toda a
comunidade escolar (professores, gestores, alunos, família, população da região onde a escola
está situada, etc.) deve estar envolvida nesse processo (BRASIL, 2013), porém, em última
instância, entende-se que quem implementa ações em sala de aula, quem deve desenvolver
estratégias para o ensino dos referidos conteúdos, é o professor, e por isso este tem um papel
central para que o ensino de história e cultura africana e afro-brasileira ocorra. Portanto, faz-
se necessário refletir sobre como deve ser esse fazer docente voltado para esse ensino.
Para tal, é preciso entender o que a legislação brasileira diz a respeito das práticas
pedagógicas/educativas voltadas para o ensino de história e cultura africana e afro-brasileira,
no Ensino Fundamental, quais são as diretrizes para esse ensino, além é claro, de entender o
que estudiosos da área de ensino afirmam ser importante no que diz respeito à implementação
dessas práticas.
Desta forma, o presente trabalho objetiva: 1. Descrever o que a legislação brasileira
diz a respeito das práticas pedagógicas voltadas para o ensino de história e cultura africana e
afro-brasileira, no Ensino Fundamental. 2. Descrever diretrizes da legislação brasileira no que
diz respeito às práticas pedagógicas voltadas para o ensino de história e cultura africana e
afro-brasileira, no Ensino Fundamental. 3. Descrever fatores necessários, de acordo com os
estudiosos da área de ensino, para a implementação de práticas pedagógicas voltadas para o
ensino de história e cultura africana e afro-brasileira.
Na busca desses objetivos realizou-se uma pesquisa bibliográfica, analisando-se livros,
artigos, legislações e normativas da educação brasileira desde 2003, ano em que o ensino de
história e cultura africana e afro-brasileira tornou-se obrigatório.
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sistemática da comunidade sobre a diversidade étnico-racial, partindo da própria comunidade
e considerando as contribuições que esta pode dar ao currículo escolar (BRASIL, 2006).
A escola tem que reconhecer que o racismo e as desigualdades sociais contribuíram
para a exclusão de grande parcela da população afrodescendente. Para ser democrática, a
escola precisa ter como uma de suas metas a aquisição de recursos adequados para lidar com
as questões étnico-raciais, por exemplo, um acervo na biblioteca sobre a temática; videoteca
com filmes que abordem a temática; e brinquedoteca com bonecos negros, jogos que
valorizem a cultura negra e decoração multiétnica (BRASIL, 2006).
Faz-se necessário que os educadores leiam os matérias didáticos existentes de forma
crítica e reflexiva, tirando desses materiais imagens estereotipadas do negro, buscando a
desconstrução de atitudes preconceituosas e discriminatórias, visando construir coletivamente
alternativas pedagógicas, usando e produzindo recursos didáticos pertinentes para a escola
trabalhar de forma adequada, buscando bons resultados (BRASIL, 2006).
Por meio das Diretrizes Curriculares Nacionais Gerais para a Educação Básica
(DCNs), o MEC também orienta sobre o ensino de história e cultura africana e afro-brasileira,
apontando que administradores dos sistemas de ensino, mantenedoras de estabelecimentos de
ensino, estabelecimentos de ensino, professores e a todos os envolvidos na elaboração,
execução, avaliação de programas de interesse educacional, de planos institucionais,
pedagógicos de ensino, alunos e famílias são responsáveis por esse processo (BRASIL, 2013).
Embora não comece nas escolas, as desigualdades e discriminações passam pelo
ambiente escolar. Dessa forma, as DCNs também discutem que o ensino tem um papel
fundamental de educar os indivíduos sobre essas situações e desconstruir ideias equivocadas e
muitas vezes preconceituosas sobre parcelas da população brasileira, por exemplo, a
população afrodescendente. Para isso apontam para a necessidade de formação dos
professores e para que os currículos foquem na diversidade cultural do país (BRASIL, 2013).
O Movimento Negro, bem como os estudiosos do assunto, podem colaborar com as
instituições de ensino, sendo necessário também envolver toda a comunidade nessa jornada.
Além disso, os professores devem ser apoiados pela administração dos sistemas de ensino,
sendo fundamental que se tenha um mapeamento e compartilhamento das experiências
pedagógicas nas escolas, de modo a identificar dificuldades e buscar soluções para as
mesmas. Também é papel dos sistemas de ensino criar condições financeiras para o ensino de
história e cultura africana e afro-brasileira (BRASIL, 2013).
Do mesmo modo, de acordo com as DCNs, devem ser organizados centros de
documentação, bibliotecas, midiotecas, museus, exposições, nos quais sejam divulgadas a
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cultura e história dos diferentes grupos étnico-raciais brasileiros, entre eles dos
afrodescendentes. Os resultados obtidos com as atividades desenvolvidas pelas instituições de
ensino devem ser comunicados ao Ministério da Educação, à Secretaria Especial de Promoção
da Igualdade Racial, ao Conselho Nacional de Educação e aos respectivos Conselhos
Estaduais e Municipais de Educação, para que ações sejam realizadas diante das necessidades
observadas (BRASIL, 2013).
Apesar se não ser o foco desse estudo, vale lembrar que a Lei nº 11.645, de 10 março
de 2008, modifica a Lei nº 10.639, de janeiro de 2003, incluindo também a obrigatoriedade do
ensino de história e cultura dos povos indígenas (BRASIL, 2008).
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falando das leis criadas para que fosse possível o fim desse regime escravocrata (SANTOS;
TONIOSSO, 2015).
Ocorre, contudo, que muitas vezes esses assuntos foram abordados de forma simples,
sem aprofundamento. As apostilas eram como diretrizes para os assuntos a serem trabalhados,
cabendo ao professor ter conhecimento sobre os mesmos e assim ensinar de forma mais
detalhada cada um desses assuntos (SANTOS; TONIOSSO, 2015).
Na tentativa de buscar subsídios para a discussão sobre o que deve ser ensinado sobre
História e Cultura Afro-brasileira, Rodrigues (2007) investigou com profissionais de
diferentes áreas o que deveria ser ensinado sobre essa temática. Segundo essa pesquisa
entende-se como estudos afro-brasileiros tudo que envolve descendência africana, sendo que
essa temática abrange as diferentes áreas do conhecimento, como ciências exatas e humanas,
estando relacionada a tudo que envolve algum traço dessa cultura.
Sabe-se que a história e a cultura afro-brasileira têm muitos nomes importantes, que
contribuíram para essa sociedade, que estão ocultos na cultura brasileira (BITIOLI;
TONIOSSO, 2013), e Rodrigues (2007) discutiu que uma forma de ensinar esse conteúdo
seria trazer ao conhecimento dos alunos esses grandes nomes de pessoas negras que fizeram
parte da história brasileira em diferentes áreas de conhecimento, por exemplo, nas áreas de
exatas, mostrar pesquisadores negros que contribuíram para a construção desse conhecimento.
Isso ajudaria os discentes a verem que não são apenas brancos europeus ou japoneses que se
destacam no estudo desses conteúdos.
As tecnologias desenvolvidas por povos africanos e por pessoas afro-brasileiras
também é outro assunto a ser abordado. Esses conhecimentos poderiam ajudar a pessoa negra
a se sentir importante, além de mostrar que os africanos e afrodescendentes não são inferiores
em relação a outros povos e etnias.
É preciso que se faça pesquisas relacionadas à origem dos descendentes de africanos
que se encontram no Brasil, além de pessoas afro-brasileiras importantes nas diferentes áreas
de conhecimento, já que o conhecimento sistematizado sobre o assunto ainda precisa ser mais
explorado. Também se faz necessária a realização de programas que realmente foquem em
promover a cultura africana de forma eficaz, abordando temas como “de onde vieram os
negros”, “historicamente como contribuíram para as mudanças do país”, podendo utilizar
recursos como filmes, documentários, músicas, entre outros, sendo que o uso desses recursos
pode tornar o processo de ensino-aprendizagem mais atrativo para os alunos. Além disso, o
trabalho desse conteúdo através da arte se faz importante, uma vez que os negros contribuíram
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muito para o folclore, música, dança e outras expressões artísticas que se tem no país hoje
(RODRIGUES, 2007).
Também projetos interdisciplinares devem ser propostos na tentativa de engajar as
diferentes áreas do conhecimento com uma educação comprometida com o combate ao
racismo e a discriminação étnico-racial, sendo esperado o diálogo entre os professores e com
toda a comunidade escolar (SANTOS; COELHO, 2012).
Um ponto importante sobre a construção de saberes sobre essa temática são os estudos
dos Movimentos Negros ocorridos no Brasil nos dois últimos séculos, sendo possível
identificar a conquista de diversos direitos, inclusive no campo educacional, buscando a
igualdade entre todos os cidadãos brasileiros (BITIOLI; TONIOSSO, 2016).
É válido refletir também que, assim como hoje quase não se ensina sobre a história
da África e dos africanos e afrodescendentes brasileiros, nos anos em que os atuais
professores da educação básica foram alunos tão pouco ensinava-se sobre esses conteúdos.
Dessa forma, esses professores não aprenderam esses conteúdos quando estudantes e isso
dificulta o seu conhecimento sobre os assunto (LAUREANO, 2008).
Segundo Ferreira (2008) e Dias e Cecatto (2015), o fato de muitos professores da
educação básica não terem tido em sua formação estudos sobre a história da África e a cultura
dos afrodescendentes, seria um dos aspectos principais para as dificuldades para a
implementação das leis que tornaram obrigatório e deram diretrizes para o estudo desses
conteúdos na educação brasileira.
Lima (2015) afirma que, mesmo após muitos anos decorridos da obrigatoriedade do
ensino de história e cultura africana e afro-brasileira, identifica-se uma grande ausência de
formação continuada (hoje também chamada de permanente) dos professores para trabalhar
com esse tema proposto pela lei, sendo que quando ocorrem os cursos de formação eles não
atingem toda a demanda, além de não haver continuidade.
Diante disso, além de incluir essa temática nas escolas, é preciso que as secretarias
de educação se preocupem com a formação dos professores, promovendo eventos de
formação para auxiliar esses profissionais, uma vez que os professores trabalharão esse
conteúdo de forma mais adequada quanto mais adequada for a formação que tiveram
(LAUREANO, 2008).
No que diz respeito a esses cursos de formação, é imprescindível que as atividades
tenham base na concepção de formação de professores que busque o desenvolvimento de
habilidades prático reflexivas do docente. Portanto, devem buscar que o professor repense e
reconstrua seus saberes, usando a competência acadêmica em conjunto com a competência
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pedagógica, culminando em atividades e situações didáticas que atendam às demandas das
salas de aula (FERREIRA, 2008).
Entende-se que a Lei nº 10.639/03 ainda não foi incluída de forma plena no currículo
pedagógicos das escolas e instituições de ensino, havendo muitas vezes desconhecimento e
em outras falta de interesse por parte das escolas (LIMA, 2015).
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
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