Acordao 2 STJ Fernando
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Acordao 2 STJ Fernando
Documento: 1729657 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 15/10/2018 Página 2 de 6
Superior Tribunal de Justiça
HABEAS CORPUS Nº 384.567 - SP (2017/0000366-1)
IMPETRANTE : MIGUEL REALE JUNIOR E OUTROS
ADVOGADO : MIGUEL REALE JUNIOR E OUTRO(S) - SP021135
IMPETRADO : TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO
PACIENTE : JOSELYR BENEDITO SILVESTRE (PRESO)
RELATÓRIO
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testemunhal.
Diante dos argumentos expostos, a defesa requer "seja admitida e
concedida a presente ordem de habeas corpus, a fim de se trancar os autos da Ação
Penal n. 053.01.2009.003952-2, oriunda da 2a Vara Criminal de Avaré (SP), por
absoluta ausência de justa causa." Subsidiariamente pleiteia "seja admitida e concedida
a presente ordem de habeas corpus, para anular os autos da ação penal n.
053.01.2009.003952-2, oriunda da 2a Vara Criminal de Avaré (SP), com fundamento
nos artigos n. 158 e 564, III, "b", ambos do Código de Processo Penal." (e-STJ, fl. 22)
A Ministra Laurita Vaz, Presidente desta Corte Superior, solicitou
informações ao TJSP, as quais foram prontamente prestadas (e-STJ fls. 97/98 e
103/143).
O Ministério Público Federal opinou pelo não conhecimento do writ em
parecer sintetizado nos seguintes termos (e-STJ fl. 147):
É o relatório.
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HABEAS CORPUS Nº 384.567 - SP (2017/0000366-1)
VOTO VENCIDO
Como se vê, o TJ/SP entendeu que, havendo outras provas nos autos que
comprovassem o uso do documento falso, a realização da perícia seria dispensável.
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Recentemente, a Quinta Turma do STJ pronunciou-se pela prescindibilidade da
realização de perícia no documento contrafeito, conforme acórdão que restou assim
ementado:
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defesa do paciente aduz que o mencionado convite não poderia ser considerado
documento público por não se encontrar autenticado. Segundo o impetrante, "cópias
reprográficas, desacompanhadas da respectiva autenticação, não configuram
documento para fins penais e não podem ser objeto material para o delito de uso de
documento falso, pois não possuem potencialidade lesiva ao bem jurídico." (eSTJ, fl. 8)
Nesse ponto, não se ignora que a doutrina, a exemplo de Guilherme
Nucci, leciona que cópias não autenticadas de documentos públicos não constituem
documento público para fins penais, porquanto não teriam lesividade jurídica. Com
efeito, uma cópia de registro de identidade ou carteira de motorista, sem a devida
autenticação, apresentada para um policial rodoviário, não configuraria uso de
documento público falso, porque mera reprodução sem autenticação não possui valor
probante.
Todavia, na singularidade do caso concreto, temos que o documento, qual
seja, convite emitido por ente público tido por falso pelas instâncias ordinárias, foi
juntado aos autos de um processo judicial em ação de improbidade administrativa,
circunstância que lhe confere presunção de veracidade, conforme jurisprudência do
Superior Tribunal de Justiça e do Supremo Tribunal Federal.
Observe-se que, conforme denúncia, a juntada do documento falso
objetivava justificar o não comparecimento do ora paciente em audiência de Ação Civil
Pública designada para 20/11/2008, época em que vigia o Código de Processo Civil –
CPC de 1973 (Lei n. 5.869/73).
Sobre o tema, a Lei n 10.352/2001, que alterou a redação do art. 544, § 1º,
do CPC, autorizou que a autenticação das cópias das peças necessárias à instrução
do agravo pudesse ser feitas de próprio punho pelo advogado. Tempos depois, a Lei n.
11.382/2006 ampliou essa autorização para todos os documentos. Portanto, é
dispensável a autenticação de cópias documentais quando não for contestada sua
fidelidade pela parte contrária. É o que se extrai do art. 2º, da Lei 11.382/2006, que
alterou o art. 238, parágrafo único, inciso IV, do CPC de 1973.
Sobre o tema, confiram-se os seguintes julgados da Corte Especial do
STJ:
PROCESSUAL CIVIL. EMBARGOS DE DIVERGÊNCIA
EM RECURSO ESPECIAL. PROCURAÇÃO. SUBSTABELECIMENTO.
FOTOCÓPIA NÃO AUTENTICADA. PRESUNÇÃO JURIS TANTUM DE
AUTENTICIDADE.
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1. A autenticação de cópia de procuração e de
substabelecimento é desnecessária, porquanto presumem-se
verdadeiros os documentos juntados aos autos pelo autor, cabendo
à parte contrária argüir-lhe a falsidade. Inaplicabilidade da Súmula n.
115/STJ. Precedente: (EREsp 898510/RS, Rel. Ministro TEORI ALBINO
ZAVASCKI, CORTE ESPECIAL, julgado em 19/11/2008, DJ. 05/02/2009;
EREsp 881170/RS, Rel. Ministro ARI PARGENDLER, CORTE
ESPECIAL, julgado em 03/12/2008, DJ. 30/03/2009 ).
2. A documentação juntada nos autos mediante fotocópia
goza de presunção juris tantum, mesmo que não autenticada, incumbindo
à parte contrária impugná-la. Precedentes: (EREsp 179.147/SP, Min.
Humberto Gomes de Barros, DJ 30.10.2000; EREsp 450974 / RS, Min.
Cesar Asfor Rocha, DJ 15/09/200; AGA 3563.189-SP, Min. Eliana
Calmon, DJU de 16/11/2004).
3. Embargos de divergência desprovidos. (EREsp
1015275/RS, Rel. Ministro LUIZ FUX, CORTE ESPECIAL, DJe
06/08/2009)
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caracterização de uso de documento público falso – frise-se, exigência esta que não
existente no tipo penal incriminador – perdeu a razão de ser quando o documento é
apresentado em juízo, dada sua presunção de veracidade nessa circunstância.
Assim, não se identifica no caso concreto flagrante ilegalidade na decisão
da Corte Estadual que, embora tenha diminuído a pela aplicada, manteve a condenação
do paciente pelo uso do documento falso, considerando a conduta por ele praticada
penalmente típica.
Diante de todo o exposto, voto pelo não conhecimento do habeas corpus.
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CERTIDÃO DE JULGAMENTO
QUINTA TURMA
Relator
Exmo. Sr. Ministro JOEL ILAN PACIORNIK
Presidente da Sessão
Exmo. Sr. Ministro REYNALDO SOARES DA FONSECA
Subprocurador-Geral da República
Exmo. Sr. Dr. ANTÔNIO AUGUSTO BRANDÃO DE ARAS
Secretário
Me. MARCELO PEREIRA CRUVINEL
AUTUAÇÃO
IMPETRANTE : MIGUEL REALE JUNIOR E OUTROS
ADVOGADO : MIGUEL REALE JUNIOR E OUTRO(S) - SP021135
IMPETRADO : TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO
PACIENTE : JOSELYR BENEDITO SILVESTRE (PRESO)
CORRÉU : FREDERICO AUGUSTO POLES DA CUNHA
CERTIDÃO
Certifico que a egrégia QUINTA TURMA, ao apreciar o processo em epígrafe na sessão
realizada nesta data, proferiu a seguinte decisão:
"Após o voto do Sr. Ministro Relator não conhecendo do pedido, pediu vista o Sr.
Ministro Felix Fischer."
Aguardam os Srs. Ministros Jorge Mussi, Reynaldo Soares da Fonseca e Ribeiro Dantas.
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HABEAS CORPUS Nº 384.567 - SP (2017/0000366-1)
RELATOR : MINISTRO JOEL ILAN PACIORNIK
IMPETRANTE : MIGUEL REALE JUNIOR E OUTROS
ADVOGADO : MIGUEL REALE JUNIOR E OUTRO(S) - SP021135
IMPETRADO : TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO
PACIENTE : JOSELYR BENEDITO SILVESTRE (PRESO)
VOTO-VISTA
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nos autos da ação de improbidade administrativa a que respondia o paciente, objetivando o
adiamento de audiência, não seria capaz de iludir qualquer pessoa, notadamente a d. Juíza que
presidia o ato, que identificou a falsidade imediatamente e, após diligências da Serventia para
confirmar sua suspeita, realizou a audiência.
Inicialmente, cumpre salientar o quanto disposto nos arts. 297 e 304 do Código
Penal.
Como já foi dito no REsp 51915/SP, todo falsum é revelador de mentira mas
nem toda mentira revela, tecnicamente, o crime de falsum ou uso de documento falso.
Confira-se:
Com efeito, a doutrina, por sua maioria, entende que para a configuração
do tipo penal sob exame, a falsificação deve ser apta para iludir, enganar, ludibriar.
Do contrário, está configurada a hipótese de falso grosseiro, caso em que não haverá o
crime de falsidade de documento público. Poderia, caso se tratasse de questão patrimonial,
configurar outro tipo penal. Confira-se:
"A falsificação deve ser aquela capaz de enganar, ou seja, não há esse
crime quando a falsificação se apresenta de forma grosseira, podendo ocorrer um delito
patrimonial, como o estelio nato. Quanto à falsidade no crime de estelionato, vide
comentários do art. 171 do CP. Entende-se que para a configuração do delito do art.
297 do CP faz-se necessário o exame de corpo de delito." (Bittencourt, Cezar Roberto,
Código penal comentado, 7. ed. – São Paulo: Saraiva, 2012, edição eletrônica).
Feitas tais considerações, no caso concreto, segundo se pode aferir dos autos,
o paciente, que estava sendo processado por ato de improbidade administrativa,
juntou naquele feito, com a finalidade de adiar a realização de audiência, convite para
evento organizado pela Secretaria de Estado de Transportes, que contaria com a presença do
então Governador do Estado de São Paulo, previsto para aquela mesma data,
20/11/1008, às 14h00 (fl. 49).
"Ademais, não há que se falar em falsificação grosseira, uma vez que pôde
enganar o homem comum, muito embora a Juíza tenha percebido de imediato a
adulteração, porquanto para a constatação da falsidade foi necessária a requisição do
original para a comprovação (grifei).
"A testemunha Manoela Assef da Silva (fls. 456) juíza que atuou na ação
civil pública movida contra o réu Joselyr, patrocinado pelo réu Frederico, informou que
designou audiência para o dia 20/11/2008 às 14h. O réu Joselyr, através do réu
Frederico, solicitou a redesignação da audiência, alegando que o réu Joselyr participaria
de um evento. Indeferiu o pedido de redesignação em razão de não ter prova do alegado
evento. No dia seguinte, o réu Frederico compareceu novamente pedindo a
redesignação, juntando cópia do convite. Chamou a atenção porque os dizeres não são
comuns e constava que a presença do réu Joselyr seria imprescindível. Além disso
alguns escritos estavam embaixo do brasão do Estado de São Paulo. Uma vez que já
tinha tentado a redesignação, pediu que a serventia verificasse a veracidade do
documento. O diretor do Ofício descobriu que o evento era as 15h30 e não às 14h
como estava no documento. Assim, realizou a audiência normal e determinou que se
oficiasse à Secretaria dos Transportes para que enviassem o convite verdadeiro, o qual
foi recebido. Então, constatou que havia divergência entre os convites e determinou a
extração de cópias e remessa ao Ministério Público. Disse ainda que quando o réu
Frederico trouxe a petição com o convite, a testemunha indagou sobre a veracidade do
mesmo, porque achou estranho. O réu perguntou se a Juíza estava duvidando dele e ela
respondeu que não. A magistrada ainda informou o réu que ele tinha responsabilidade
sobre tudo o que juntava e ele disse: "sabe como é, o cliente pede para a gente juntar e
a gente junta". Alertou-o novamente que ele responderia pela veracidade das
informações que juntava na qualidade de advogado.
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original. Realizada diligência pela Secretaria, por meio de ligação telefônica, pela qual se
constatou que o horário da solenidade estava alterado e, desta forma, imediatamente
confirmada a adulteração, a d. Magistrada imediatamente indeferiu o pedido de
adiamento e realizou a audiência.
Somente após a audiência foi juntado nos autos convite verdadeiro, o que,
repise-se, serviu unicamente para confirmar a conclusão acerca da falsidade daquele
apresentado pelo paciente, assim que avistado pela d. Juíza.
Assim, estou convencido de que o convite falsificado não foi apto para
iludir a d. Juíza nem por um instante. Não houve qualquer risco para o bem jurídico
tutelado. É de se reconhecer, portanto, que se trata de falso grosseiro, caso em que
não há que se falar em tipicidade da conduta.
É o voto.
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CERTIDÃO DE JULGAMENTO
QUINTA TURMA
Relator
Exmo. Sr. Ministro JOEL ILAN PACIORNIK
Presidente da Sessão
Exmo. Sr. Ministro REYNALDO SOARES DA FONSECA
Subprocurador-Geral da República
Exmo. Sr. Dr. JOÃO PEDRO DE SABOIA BANDEIRA DE MELLO FILHO
Secretário
Me. MARCELO PEREIRA CRUVINEL
AUTUAÇÃO
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ADVOGADO : MIGUEL REALE JUNIOR E OUTRO(S) - SP021135
IMPETRADO : TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO
PACIENTE : JOSELYR BENEDITO SILVESTRE (PRESO)
CORRÉU : FREDERICO AUGUSTO POLES DA CUNHA
CERTIDÃO
Certifico que a egrégia QUINTA TURMA, ao apreciar o processo em epígrafe na sessão
realizada nesta data, proferiu a seguinte decisão:
"Prosseguindo no julgamento, a Turma, por unanimidade, não conheceu do pedido e, por
maioria, concedeu "Habeas Corpus" de ofício, nos termos do voto do Sr. Ministro Felix Fischer,
que lavrará o acórdão."
Votaram com o Sr. Ministro Felix Fischer os Srs. Ministros Reynaldo Soares da Fonseca
e Ribeiro Dantas.
Ausente, justificadamente, o Sr. Ministro Jorge Mussi.
Votou parcialmente vencido o Sr. Ministro Joel Ilan Paciornik.
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