Habeas Corpus Defesa Tecnica Deficiente Pn285

Fazer download em docx, pdf ou txt
Fazer download em docx, pdf ou txt
Você está na página 1de 10

EXCELENTÍSSIMO SENHOR DESEMBARGADOR PRESIDENTE DO EGRÉGIO

TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO

LIVRE DISTRIBUIÇÃO

Impetrante: Beltrano de Tal


Paciente: José das Quantas
Autoridade Coatora: MM Juiz de Direito da 00ª Vara da Cidade (PR)

O advogado BELTRANO DE TAL, brasileiro, casado, maior,


inscrito na Ordem dos Advogados do Brasil, Seção do Paraná, sob o nº 112233, com seu
escritório profissional consignado no timbre desta, onde receberá intimações, vem, com o
devido respeito à presença de Vossa Excelência, para, sob a égide do art. 648, inciso II, da
Legislação Adjetiva Penal c/c art. 5º, inciso LXVIII da Lei Fundamental, impetrar a presente

ORDEM DE HABEAS CORPUS,


1
em favor de JOSÉ DAS COUVES, brasileiro, solteiro, mecânico, possuidor do RG. nº.
11223344 – SSP(PR), residente e domiciliado na Rua X, nº. 000 – Curitiba (PR), ora
Paciente, posto que se encontra sofrendo constrangimento ilegal por ato do eminente Juiz
de Direito da 00ª Vara da Cidade (PR), o qual, apesar de ostensiva a insuficiência de
defesa técnica do Paciente, ainda assim conduziu o processo em detrimento da defesa do
Acusado, em face de pretenso crime de porte ilegal de arma de fogo, cujo quadro fático em
especie dormita nos autos do processo nº. 33344.55.06.77/0001, como se verá na
exposição a seguir delineada.

(1)

SÍNTESE DOS FATOS

Colhe-se dos autos do processo supra-aludido que o


Paciente fora preso em flagrante delito, em 00 de abril do ano de 0000, pela suposta
prática de porte ilegal de arma de fogo (art. 14 do Estatuto do Desarmamento), cuja
cópia do auto em flagrante ora acosta-se. (doc. 01)

Por meio do despacho que demora às fls. 27/31 do processo


criminal em espécie, o Magistrado a quo, na oportunidade que recebera o auto de prisão
em flagrante (CPP, art. 310), arbitrou fiança em favor do Paciente, a qual fora pago e o
mesmo, então, liberado. (doc. 02)

2
Citado, o Paciente apresentou tempestivamente sua Resposta
à Acusação (CPP, art. 396-A), peça processual essa feita por seu então patrono, Dr.
Fulano das Tantas (OAB/PR nº. 0000).

Registre-se, antes de mais nada, que, para o Impetrante, é


extremamente desconfortável invocar argumentos de que seu colega profissional, antes
mencionado, cometeu equívocos graves, os quais comprometeram substancialmente a
defesa do Paciente.

Todavia, a defesa do Paciente, na ocasião de sua Resposta à


Acusação, limitou-se a destacar que “ . . . provará a inocência do Réu no desenvolver
desta ação penal. “ Acosta-se, para tanto, a cópia integral da peça processual em comento.
(doc. 03)

Nesse compasso, contata-se que, de início, houvera prejuízo


substancial ao Paciente, na medida em que seu então patrono não atentou para arrolar
uma única testemunha (apesar de existir). Mais importante ainda, foi a ausência de pedido
de perícia para constatar que a arma de fogo não tinha o mínimo potencial lesivo .

Tal pedido de produção de prova, como consabido, deve ser


apresentado com a defesa inaugural, à luz da regra contida no art. 396-A, da Legislação
Adjetiva Penal.

3
Outrossim, e mais grave ainda, o então defensor constituído,
apesar de regularmente intimado (doc. 04), não apresentou as alegações finais, conforme
se constata pela certidão ora acostada. (doc. 05)

Todavia, nesse ponto, data venia, também incorreu em erro o


d. Magistrado processante, quando não nomeou outro defensor para evidenciar os
memoriais da defesa.

Veio, então – e não era para se esperar algo diferente --, a


condenação do Paciente. (doc. 06)

Essas são, pois, algumas considerações necessárias à


elucidação fática.

(2)

DEFICIÊNCIA NA DEFESA TÉCNICA

OFENSA AOS PRINCÍPIOS DO CONTRADITÓRIO E AMPLA DEFESA

O patrocínio da defesa foi, notoriamente, eivado de


imperfeições técnicas que ocasionou incontestável prejuízo ao Paciente. Feriu, por esse
norte, os princípios constitucionais da ampla defesa e do contraditório .

A condenação do Paciente, dessarte, é nula, uma vez que


inexistiu defesa eficaz ao mesmo.
4
À toda evidência os documentos colacionados demonstram um
trabalho defeituoso, concretizando, como sustentado, um prejuízo ao Paciente.

Convém ressaltar o magistério de Norberto Avena, o qual, a


propósito do tema em vertente, leciona que:

“A regra deverá ser a apresentaçã o de argumentos capazes de formar a


convicçã o do magistrado em favor do réu. Defesa meramente formal, vale
dizer, limitada a um pedido vago e sem sustentaçã o de absolviçã o, a nosso
ver, caracteriza deficiência e leva à anulação do feito. “ (Avena, Norberto
Clá udio Pâ ncaro. Processo Penal: esquematizado. 4ª Ed. Sã o Paulo: Método,
2012, p. 1024)
( não existem os grifos no texto original)

Com o mesmo sentir professa Dirley da Cunha Júnior:

“Tais garantias completam e dã o sentido e conteú do à garantia do devido


processo legal, pois seria demasiado desatino garantir a regular instauraçã o
formal de processo e nã o se assegurar o contraditó rio e a ampla defesa à quele
que poderá ter a sua liberdade ou o seu bem cerceado; ademais, também nã o
haveria qualquer indício de razoabilidade e justiça numa decisã o quando nã o
se permitiu ao indivíduo à s mesmas garantias do contraditó rio e da ampla

5
defesa. “ (Cunha Jú nior, Dirley da. Curso de Direito Constitucional. 6ª Ed.
Salvador: JusPodivm, 2012, p. 742)

Já é pensamento consolidado nos Tribunais, maiormente os


Superiores, que a falta de defesa técnica constitui nulidade absoluta da ação penal, quando
demonstrado o prejuízo para o Acusado, que é a hipótese ora tratada.

Com a mesma sorte de entendimento, urge transcrever nota de


jurisprudência do Egrégio Superior Tribunal de Justiça:

HABEAS CORPUS. SUBSTITUTIVO DE RECURSO PRÓPRIO. INADMISSIBILIDADE.


WRIT ORIGINÁRIO NÃO CONHECIDO. MANIFESTO CONSTRANGIMENTO ILEGAL.
AUSÊNCIA DE DEFESA. DEFICIÊNCIA. ALEGAÇÕES FINAIS SUBSTANCIALMENTE
VAZIAS. ORDEM CONCEDIDA DE OFÍCIO. CORRÉU EM SITUAÇÃO FÁTICO-
PROCESSUAL IDÊNTICA. EXTENSÃO DOS EFEITOS. VIABILIDADE (ART. 580 DO
CPP).
1. É inadmissível o emprego do writ em substituição ao meio processual cabível.
2. Segundo a Súmula nº 523/STF, no processo penal, a falta de defesa constitui
nulidade absoluta, mas a sua deficiência só o anulará se houver prova de prejuízo
para o réu. 3. Se o defensor, em alegações finais, reitera os argumentos do
ministério público, que postulava a condenação, fica caracterizada a ausência de
defesa, a ensejar a nulidade do processo a partir desse momento processual. 4.
Existência de corréu em situação fático-processual idêntica, que demanda a
6
aplicação do art. 580 do código de processo penal. 5. Habeas corpus não
conhecido. Ordem concedida de ofício, com extensão ao corréu. (STJ; HC
313.788; Proc. 2015/0003379-2; SP; Sexta Turma; Rel. Min. Sebastião Reis Júnior;
DJE 03/09/2015)

PROCESSUAL PENAL E PENAL. HABEAS CORPUS. SUBSTITUTIVO DE RECURSO


ESPECIAL, ORDINÁRIO OU DE REVISÃO CRIMINAL. NÃO CABIMENTO. ART. 157,
§ 2º, INCISO I, DO CÓDIGO PENAL E ART. 14 DA LEI Nº 10.826/03. NÃO
CONHECIMENTO DO RECURSO DE APELAÇÃO DO RÉU. CONFLITO ENTRE
AUTODEFESA E DEFESA TÉCNICA. RAZÕES DE APELAÇÃO REQUERENDO A
MANUTENÇÃO DA SENTENÇA CONDENATÓRIA. RÉU INDEFESO. NULIDADE DO
ACÓRDÃO. ORDEM CONCEDIDA DE OFÍCIO.
1. Ressalvada pessoal compreensão diversa, uniformizou o Superior Tribunal de
Justiça ser inadequado o writ em substituição a recursos especial e ordinário, ou
de revisão criminal, admitindo-se, de ofício, a concessão da ordem ante a
constatação de ilegalidade flagrante, abuso de poder ou teratologia. 2.
Manifestada pelo réu a vontade de recorrer, não pode a defesa técnica pugnar
pela manutenção da sentença, por correta, sob pena de tornar-se indefeso o réu,
devendo ser constituído novo defensor para tal mister. 3. Tese de consunção do
crime de porte ilegal de arma pelo de roubo e de indevida alteração do regime de
cumprimento da pena prejudicadas. 4. Habeas corpus não conhecido, mas ordem
concedida de ofício para anular o acórdão proferido pelo tribunal de justiça do
Rio de Janeiro e determinar intimação do paciente para constituir novo patrono.
(STJ; HC 113.377; Proc. 2008/0178609-5; RJ; Sexta Turma; Rel. Min. Nefi
Cordeiro; DJE 03/09/2015)
7
HABEAS CORPUS. IMPETRAÇÃO ORIGINÁRIA. SUBSTITUIÇÃO AO RECURSO
ESPECIAL CABÍVEL. IMPOSSIBILIDADE. RESPEITO AO SISTEMA RECURSAL
PREVISTO NA CARTA MAGNA. NÃO CONHECIMENTO.
1. Com o intuito de homenagear o sistema criado pelo poder constituinte
originário para a impugnação das decisões judiciais, necessária a racionalização
da utilização do habeas corpus, o qual não deve ser admitido para contestar
decisão contra a qual exista previsão de recurso específico no ordenamento
jurídico. 2. Tendo em vista que a impetração aponta como ato coator acórdão
proferido por ocasião do julgamento de recurso em sentido estrito, contra o qual
seria cabível a interposição do Recurso Especial, depara-se com flagrante
utilização inadequada da via eleita, circunstância que impede o seu
conhecimento. 3. O constrangimento apontado na inicial será analisado, a fim de
que se verifique a existência de flagrante ilegalidade que justifique a atuação de
ofício por este Superior Tribunal de Justiça. Homicídio qualificado (artigo 121, §
2º, incisos II e IV, do código penal). Deficiência de defesa. Nulidade relativa.
Súmula nº 523 do Supremo Tribunal Federal. Advogado ad hoc. Dispensa de
provas. Alegações finais genéricas ofertadas oralmente. Prejuízo demonstrado.
Constrangimento ilegal evidenciado. Concessão da ordem de ofício. 1.
Consolidou-se no âmbito dos tribunais superiores o entendimento de que apenas
a falta de defesa técnica constitui nulidade absoluta da ação penal, sendo certo
que eventual alegação de sua deficiência, para ser apta a macular a prestação
jurisdicional, deve ser acompanhada da demonstração de efetivo prejuízo para o
acusado, tratando-se, pois, de nulidade relativa. Enunciado nº 523 da Súmula do
8
Supremo Tribunal Federal. 2. Ainda que a ausência do advogado constituído não
tenha sido justificada, não se mostra prudente delegar ao defensor ad hoc a
responsabilidade de conduzir a defesa do acusado na sua plenitude, admitindo-
se, inclusive, que desista da produção das demais provas requeridas e ofereça
alegações orais genéricas na própria audiência para a qual foi designado, como
ocorreu na hipótese, circunstâncias que revelam o prejuízo ao trabalho defensivo
e autorizam a declaração de nulidade do ato, nos termos do artigo 563 do Código
de Processo Penal. Alegado excesso de prazo no encarceramento do paciente.
Contribuição da defesa para a demora na conclusão do processo. Necessidade de
arguição do tema perante a corte estadual. Ilegalidade não caracterizada. 1. Os
prazos para a conclusão da instrução criminal não são peremptórios, podendo ser
flexibilizados diante das peculiaridades do caso concreto, em atenção e dentro
dos limites da razoabilidade. 2. Caso em que se apura a prática do crime de
homicídio duplamente qualificado, sendo que o aventado excesso de prazo na
conclusão do processo pode inclusive ser debitado à defesa, que expressamente
afirmou haver se esquecido de comparecer à audiência em que oferecidas
alegações finais pelo defensor ad hoc. 3. Ademais, eventual demora no
encarceramento do acusado deve ser suscitada perante o tribunal estadual, a fim
de que a atuação desta corte superior de justiça não ocorra em indevida
supressão de instância. 4. Habeas corpus não conhecido. Ordem concedida de
ofício apenas para anular a ação penal a partir da audiência de continuação da
instrução criminal, inclusive. (STJ; HC 280.901; Proc. 2013/0360797-9; ES; Quinta
Turma; Rel. Min. Jorge Mussi; DJE 29/04/2014)

9
(3)

EM CONCLUSÃO

O Paciente, sereno quanto à aplicação do


decisum, ao que expressa pela habitual pertinência jurídica dos
julgados desta Casa, espera deste respeitável Tribunal a decretação
da nulidade processual absoluta, por infração às garantias
constitucionais da ampla defesa e do contraditório, anulando-se os
atos processuais a partir do ato citatório, conferindo ao Paciente
novo prazo para oferecer a sua defesa inicial.

Respeitosamente, pede deferimento.

Cidade(PR), 00 de novembro do ano de 0000.

Fulano(a) de Tal
Impetrante - Advogado(a)

10

Você também pode gostar