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DE SANTA CATARINA.
URGENTE
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I. OBJETO DA AÇÃO E COMPETÊNCIA DESTE TRIBUNAL
2.2. De fato, no âmbito daquele programa, 90% (noventa por cento) dos recursos
financeiros previstos no art. 170 da CE/SC eram alocados às IES mantidas por fundações
estaduais ou municipais de direito privado (“IES da ACAFE” ou “Instituições Comunitárias”), as
quais reúnem apenas 17% do total do alunado catarinense. Enquanto isso, as IES mantidas
por pessoas jurídicas de direito privado, com ou sem fins lucrativos (“IES Privadas”), recebiam
apenas 10% dos recursos, apesar de reunirem 68% do alunado barriga-verde.
2.3. Ainda que de constitucionalidade duvidosa, tal estrutura do UniEdu foi mantida
ao longo desses anos em razão de previsão constante do art. 49 dos Atos das Disposições
Constitucionais Transitórias (“ADCT”).1 Assim, mesmo diante dessa desproporcional e
absolutamente pessoal distribuição de recursos públicos, bem como dos diversos indícios de
irregularidades na sua execução do programa, sinalizados, inclusive, pelo Tribunal de Contas
do Estado de Santa Catarina (“TCE-SC”), ele se manteve vigente até agosto de 2023.
Desde 2022, contudo, o UniEdu passou a ser objeto de uma série de discussões,
sobretudo no contexto eleitoral. Prevaleceu a proposta política que pretendia transformar o
1 Art. 49 do ADCT: “A partir do exercício fiscal de 2002, do percentual de recursos de que trata o parágrafo único,
do art. 170 da Constituição do Estado de Santa Catarina, no mínimo noventa por cento serão destinados, na
forma da Lei, aos alunos matriculados nas Fundações Educacionais de Ensino Superior instituídas por lei
municipal, devendo, do montante de recursos acima estipulado, cinquenta por cento ser aplicado na concessão
de bolsas de estudo e dez por cento na concessão de bolsas de pesquisa para pagamento de mensalidades”.
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programa em algo muito mais amplo, que envolveria, basicamente, estatizar os custos das
IES da ACAFE. Antevendo os prejuízos ao erário catarinense que derivariam de tal movimento
e, também, os desafios de legalidade da proposta correspondente, a Associação Nacional das
Universidades Privadas (“ANUP”) provocou o TCE-SC a agir (doc. 5).
Tudo isso ocorreu em vão. Em 1/8/2023, foi publicada no Diário Oficial do Estado
de Santa Catarina a LC 831/23, que revogou a LC 281/2005 e instituiu um novo arranjo para
regulamentar o art. 170 da CE/SC: o Programa Universidade Gratuita.
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aos estudantes já matriculados junto a si, que, então, estudarão de forma gratuita nos
cursos oferecidos nessas instituições – e não em todas aquelas habilitadas a atuar no Estado.
8.3. De acordo com a previsão do art. 170 da CE/SC, o Estado deveria estruturar uma
política pública para prestar assistência financeira a qualquer aluno matriculado em qualquer
IES atuando de forma regular em Santa Catarina, independentemente de ser uma IES da
ACAFE ou não. Contrariando tal previsão, a LC 831/23 determina que 5% de todos os recursos
que devem ser destinados à educação, pelo Estado, seja utilizado para subsidiar
exclusivamente os serviços prestados por um grupo específico de IES, escolhidas de maneira
deliberada e injustificada, e não os alunos.
8.4. Além de incompatível com o art. 170 da CE/SC, o Programa também viola
princípios constitucionais que regem a atuação da Administração Pública, especialmente os
princípios da isonomia e da impessoalidade, previstos no art. 16 da CE/SC.
Mas não é só. Esta ADI visa a corrigir também a flagrante inconstitucionalidade
do art. 27 da LC 831/23, que autoriza o Governador do Estado a promover as adequações
necessárias na Lei Orçamentária Anual (“LOA”) para o exercício de 2023 e no Plano Plurianual
(“PPA”) para o quadriênio 2020/2023, para acomodar eventuais desarranjos orçamentários
decorrentes do PUG. A questão, contudo, é que o Governador do Estado não dispõe de
competência constitucional para promover adequações à lei orçamentária aprovada pelo
Poder Legislativo. Ao contrário: o art. 56, § 1º, da CE/SC proíbe a delegação de competências
exclusivamente atribuídas nesta matéria.
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Tudo indica que, em termos de despesas públicas, o PUG tende a ser ainda pior
do que o Fundo de Financiamento Estudantil (“FIES”), que gerou um custo público de R$ 32,3
bilhões em 2016 – valor superior ao custo do Bolsa Família no período (doc. 11) – antes que
o Tribunal de Contas da União (“TCU”) recomendasse sua reforma, ocorrida em 2017 por meio
da Lei nº 13.530/2017. O rombo, contudo, permaneceu, e veio a ser anistiado em 2022 pela
Lei nº 14.375/2022 – que, basicamente, permitiu o perdão de cerca de 90% das dívidas de
todos os contratos celebrados até o segundo semestre de 2017.
Atenta a tais riscos, a área técnica do TCE-SC editou o Relatório DGE nº 494/2023,
por meio do qual apontou violações à LRF, ao art. 113 do Ato das Disposições Constitucionais
Transitórias (“ADCT”) e aos dispositivos ora invocados. Inclusive, o TCE-SC sinaliza que o
próprio Sr. Secretário da Educação do Estado pode ter praticado graves ilícitos, inclusive
penais, ao afirmar que haveria totais condições de arcar com os custos do Programa. E, ao
fim, recomendou ao órgão a adoção de medida cautelar para suspender a execução de
despesas com o PUG, excetuando-se aquelas destinadas a manter o UniEdu, para não
prejudicar os alunos.
No mérito, esta ADI deve ser julgada procedente, para que se declare a
inconstitucionalidade (I) dos arts. 1º, 2º e 27 da LC 831/23 e, por consequência lógica, do
PUG, na forma estruturada pela LC 831/23, e (II) do art. 1º da LC 281/2005 e, por consequência
lógica, do UniEdu.
Nos termos do art. 85, inc. VI, da CE/SC c/c o art. 2º, inc. VI, da Lei Estadual nº
12.069/2001, as entidades de classe de âmbito estadual são partes legítimas para propor a
ação direta de inconstitucionalidade de leis estaduais face à CE/SC.
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16.1. No caso, conforme demonstram os documentos anexos à presente (doc. 01), a
AMPESC é uma associação criada em 2000 e que representa todas as instituições do sistema
privado de ensino superior do Estado de Santa Catarina. Para tanto, cabe-lhe, dentre outras
atribuições, postular pelos direitos e interesses das referidas IES.
16.2. De acordo com o art. 2º do Estatuto da AMPESC, esta pode “postular pelos direitos
e interesses das instituições associadas ou filiadas” (inc. I), bem como “nomear procuradores
para a defesa dos direitos da associação e de seus representados” (inc. VIII). É exatamente o que
se faz por meio da presente, em que a AMPESC, por direito próprio, pleiteia a tutela dos
direitos de seus associados à declaração da inconstitucionalidade de leis que prejudicam o
setor como um todo, a partir do emprego inadequado de recursos públicos.
3 Nesse sentido: TJSC, Órgão Especial, Direta de Inconstitucionalidade nº 5008695-43.2022.8.24.0000, rel. Des.
Monteiro Rocha, j. 4/5/2022. No âmbito do STF: “(...) a jurisprudência desta Corte é consolidada no sentido de
que as associações de classe devem comprovar a representação da integralidade da categoria afetada pelo ato
normativo impugnado, sob pena de não ostentarem legitimidade ativa para provocar a jurisdição constitucional
abstrata. Precedentes. (...)” (ADPF nº 559, Rel.: Min. Roberto Barroso, Tribunal Pleno, DJe 23/6/2022).
4 A esse respeito, veja-se: TJSC, Órgão Especial, Direta de Inconstitucionalidade nº 4029586-78.2017.8.24.0000,
rel. Des. Francisco José Rodrigues de Oliveira Neto, j. 7/7/2021.
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Como exposto, o art. 170 da CE/SC é claro ao prever que o Estado deve prestar
assistência financeira aos alunos, e não a um ou outro tipo de mantenedor de IES. Veja-se a
integralidade do texto em questão:
É claro que a lei complementar a que se refere o art. 170 da CE/SC comporta
arranjos que não distorçam sua estrutura ou propósito, como, por exemplo, os destinados a
organizar estruturas por meio das quais o Estado possa pagar diretamente às IES em que o
aluno escolheu estudar o recurso da assistência financeira concedida, a fim de evitar que a
política pública possa sofrer alguma distorção.
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20.1. Sobre o tema, Carlos Ari Sundfeld relembra que o fundamento de validade de
todas as leis deriva diretamente da Constituição. Nesse sentido, pontua que “uma lei vale,
deve ser obedecida – seja pelos Poderes Executivo e Judiciário, seja pelos indivíduos – porque foi
feita com base e na forma da Constituição”; e é justamente aí que reside a supremacia da
Constituição5.
20.3. Assim, na medida em que cada Estado deve organizar-se e reger-se pela sua
própria Constituição (observados, evidentemente, os princípios da CF/88),7 não há dúvidas de
que será esse o parâmetro para apurar a legalidade das normas aprovadas em âmbito
estadual. Não fosse esse o caso, então a própria CF/88 não teria instituído o controle
concentrado de constitucionalidade à luz das Constituições Estaduais.8
No caso concreto, portanto, qualquer política pública que envolva uma assistência
financeira a uma pessoa jurídica, independentemente de sua qualificação, violará a legalidade
estrita, em função de contrariar diretamente a previsão do art. 170 da CE/SC. E é exatamente
o que ocorre com relação à LC 831/23.
5 SUNDFELD, Carlos Ari. Fundamentos de Direito Público. São Paulo: Editora Malheiros, 3ª edição, p. 40.
6 FERRAZ, Anna Candida da Cunha. “O sistema de defesa da Constituição Estadual: aspectos do controle de
constitucionalidade perante Constituição do Estado-Membro no Brasil”, in Revista De Direito Administrativo
246, 13-49.
7 Constituição Federal de 1988: “Art. 25. Os Estados organizam-se e regem-se pelas Constituições e leis que
adotarem, observados os princípios desta Constituição”.
8 Constituição Federal de 1988: “Art. 125, § 2º. Cabe aos Estados a instituição de representação de
inconstitucionalidade de leis ou atos normativos estaduais ou municipais em face da Constituição Estadual,
vedada a atribuição da legitimação para agir a um único órgão”.
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21.1. Como fica claro na redação do art. 1º desse diploma, o arranjo do PUG em
momento algum se destina aos alunos, como determina a CE/SC. Ao contrário: ele acomoda
um programa de transferência de recursos públicos a determinado grupo de IES. Veja-se:
CE/SC LC 831/23
Art. 1º. Fica instituído o Programa Universidade
Gratuita, na forma da assistência financeira de
que trata o art. 170 da Constituição do Estado,
destinado ao fomento da educação superior,
em nível de graduação, prestado pelas
Art. 170. O Estado prestará anualmente, na forma
fundações e autarquias municipais
da lei complementar, assistência financeira aos
universitárias e por entidades sem fins
alunos matriculados nas instituições de
lucrativos de assistência social que
educação superior legalmente habilitadas a
cumprirem os requisitos legais e
funcionar no Estado de Santa Catarina.
regulamentares, doravante denominadas,
para efeitos do disposto nesta Lei
Parágrafo único. Os recursos relativos à
Complementar, instituições universitárias.
assistência financeira não serão inferiores a cinco
por cento do mínimo constitucional que o
Art. 2º. Os recursos distribuídos sob a forma
Estado tem o dever de aplicar na manutenção e
de assistência financeira às instituições
no desenvolvimento do ensino.
universitárias deverão ser por elas destinados
ao pagamento das mensalidades dos cursos
de graduação, até a sua conclusão, dos
estudantes que cumprirem os requisitos legais e
regulamentares.
O comando da CE/SC é claro: o Estado deve estruturar uma política pública que
assegure assistência financeira a qualquer aluno matriculado em qualquer IES que atue de
forma regular em Santa Catarina. Naturalmente, dado que os recursos públicos são finitos, o
Governo, na posição de formulador da política pública, pode estipular critérios para selecionar
uns e outros alunos. O que ele não pode fazer é distorcer o comando da CE/SC, sob pena de
violar a legalidade que deve pautar a construção da política pública.
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regulamentares”. Logo, todos os demais alunos catarinenses foram sumariamente
excluídos do Programa.
24.1. Ocorre que o contingente privilegiado pela norma corresponde a apenas uma
parcela dos estudantes catarinenses que estão regularmente matriculados no ensino
superior. E pior: trata-se da menor e da menos carente parcela, se comparada aos
deixados de fora!
24.3. Assim, o art. 1º da LC 831/23 reduz a abrangência do art. 170 da CF para 17% dos
estudantes catarinenses matriculados em IES regularmente habilitadas a atuar no Estado,
deixando de lado os 68% que decidiram estudar nas IES da rede privada e, claro, os demais
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15% da rede pública – que também poderiam receber assistência, ainda que sob a forma de
bolsas de permanência, auxílio moradia, dentre outras modalidades.
24.4. Por mais que, em tese, seja legítimo que o Programa pretenda custear apenas as
mensalidades (o que afastaria aqueles da rede pública), é importante frisar que os alunos que
foram deliberadamente deixados de fora do PUG possuem um perfil socioeconômico que
ensejaria muito mais cuidados do que os matriculados nas IES da ACAFE, que foram os
escolhidos para receber a totalidade dos recursos previstos no art. 170 da CE/SC.
24.5. A comparação abaixo, também preparada a partir dos dados do INEP, confirma
esse diagnóstico em números:
24.7. Percebe-se, a partir dessa perspectiva, que o arranjo instituído pelo PUG não
oferece assistência financeira aos alunos catarinenses. Ele até privilegia alguns alunos
catarinenses, contudo, exclusivamente aqueles que estiverem matriculados em IES da
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ACAFE. Então, a conclusão a que se chega é que o real destinatário da assistência não é o
estudante catarinense, mas a própria IES da ACAFE.
24.8. É tão escancarada a violação ao art. 170 da CE/SC que o art. 2º da LC 831/2023
inclusive demonstra o desvio de finalidade de maneira textual, ao estabelecer que “os
recursos distribuídos sob a forma de assistência financeira às instituições universitárias
deverão ser por elas destinados ao pagamento das mensalidades dos cursos de
graduação”.
24.9. Assim, onde a CE/SC diz que a assistência deve se destinar aos alunos, os arts. 1º
e 2º da LC 831/2023 a transformam em uma assistência à IES da ACAFE, que apenas atenderão
seus estudantes (17% do total matriculado) com tais recursos públicos.
24.10. Tanto isso é verdade que o art. 6º, § 2º, da LC 831/2023 prevê o seguinte: “a
avaliação dos requisitos de que tratam os incisos do caput deste artigo, os critérios de
desempate, sua aplicação e a seleção dos beneficiários para admissão e permanência no
Programa Universidade Gratuita ficarão a cargo de comissão de seleção constituída no âmbito
de cada instituição universitária, na forma a ser definida em decreto do Governador do Estado”.
24.11. E o art. 5º do Decreto nº 219/2023 (doc. 13), que regulamenta o PUG, deixa isso
ainda mais evidente ao estabelecer que “a Comissão de Seleção, prevista no § 2º do art. 6º da
Lei Complementar nº 831, de 2023, será designada pelo responsável legal da mantenedora, no
âmbito de cada instituição universitária, com a participação de pelo menos 1 (um) assistente
social e outro profissional, docente ou não, da instituição universitária e de 1 (um) representante
discente”. Na prática, portanto, o arranjo funciona desta forma:
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24.12. Percebe-se, assim, que no arranjo da LC 831/2023, o recurso da assistência
financeira a que se refere o art. 170 da CF é entregue pelo Estado às IES da ACAFE para que
essas (e não o Estado) selecionem os estudantes que receberão o benefício exclusivamente
dentre aqueles que estão matriculados consigo. É evidente a violação à previsão da CE/SC!
25.1. Para que se possa compreender, vale uma pequena digressão. O setor de ensino
envolve uma relação jurídica muito particular, que é aquela entre a mantenedora e a
instituição de ensino mantida (IES). A caracterização normativa consta do Parecer nº 282/2002
da Câmara de Educação Superior do Conselho Nacional de Educação (“CNE/CES”),10 segundo
o qual há "duas órbitas de atuação nitidamente diversas e apartadas, embora
umbilicalmente conectadas – uma acadêmica e uma econômica". Daí “resultaram
estabelecidas duas estruturas organizacionais, cada uma com o viso e com a
composição formal que lhe assegurasse efetividade. Nascem daí as figuras da
mantenedora e da mantida".
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25.4. Esse mantenedor, portanto, passa a atuar no mercado de ensino mediante um ato
do MEC, que credencia uma IES. Já as IES, na forma do art. 19 da Lei nº 9.394/1996 (a “Lei de
Diretrizes e Bases da Educação Nacional” ou “LDB”), podem ser caracterizadas como públicas,
privadas ou comunitárias, conforme legislação específica.
25.5. Isso permite extrair duas conclusões importantes. A primeira, de que a referência
do art. 170 da CE/SC às instituições de ensino revela a intenção do Constituinte Estadual de
posicionar a assistência ao aluno vinculado (por meio do mantenedor) a qualquer IES dentre
as previstas no art. 19 da LDB que possa atuar no Estado, de modo que o importante não é
quem é seu mantenedor, mas, sim, a abrangência de seu ato autorizativo de credenciamento.
25.7. Vale notar que essa exclusão não foi apenas dos mantenedores privados, como
os associados da AMPESC, mas, também, dos públicos. A rigor do art. 170 da CE/SC, mesmo
os estudantes da Universidade do Estado de Santa Catarina (“UDESC”) ou da Universidade
Federal de Santa Catarina (“UFSC”) poderiam ser candidatos a bolsas, ainda que de pesquisa
ou de permanência, em função da gratuidade do ensino de graduação.
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Ainda que a estrutura proposta para o Programa fosse compatível com o art. 170
da CE/SC, o que não é o caso, a LC 831/23 seria inconstitucional face à CE/SC por excluir,
deliberada e injustificadamente, os alunos matriculados em IES mantidas por pessoas jurídicas
com finalidade lucrativa. Com efeito, essa estrutura não é admissível sob a égide do princípio
à impessoalidade, consagrado no art. 16 da CE/SC e cujo teor é este:
Essa moldura é oferecida, sobretudo, pelos princípios que constam do art. 37,
caput, da CF/88 e que, em âmbito estadual, foram replicados no art. 16 da CE/SC. Dentre eles,
e considerando as particularidades do presente caso, destacam-se os princípios da
impessoalidade e da isonomia.
11 STF, Pleno, RMS nº 11.792, rel. Min. Victor Nunes Leal, DJ 14/5/1964.
12 “Ao tratar da objetividade inerente à impessoalidade administrativa, Ana Paula Oliveira Ávila assevera que ela
implica imparcialidade administrativa, obrigando o Poder Público a seguir parâmetros racionais de
comportamento, “o que afasta apreciações subjetivas, as motivações pessoais, as decisões arbitrárias, os
interesses alheios ao procedimento administrativo concreto e os interesses estranhos ao interesse público”.
(ÁVILA, Ana Paula Oliveira. O princípio da impessoalidade da Administração Pública: para uma administração
imparcial. Rio de Janeiro: Renovar, 2004, p. 48).
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ao cumprimento de finalidades públicas, o que pressupõe que ele aja de modo isento - o
mais objetivo e neutro possível. Na lição da professora Odete Medauar, a impessoalidade
busca a predominância do sentido de função, “isto é, a ideia de que os poderes atribuídos se
finalizam ao interesse de toda a coletividade, portanto a resultados desconectados de razões
pessoais”.13
13 MEDAUAR, Odete. Direito administrativo moderno. 21ª edição. Belo Horizonte: Fórum, 2018, p. 119.
14 “O princípio da isonomia ou igualdade dos administrados em face da Administração firma a tese de que esta
não pode desenvolver qualquer espécie de favoritismo ou desvalia em proveito ou detrimento de alguém. Há
de agir com obediência ao princípio da impessoalidade”. BANDEIRA DE MELLO, Celso Antônio. Curso de Direito
Administrativo. 32ª ed., rev. e atualiz. São Paulo: Editora Malheiros, 2015, p. 86.
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favorecimento de empresas e resultar em atuações administrativas não
respaldadas pela Lei” 15 (Grifou-se).
Isso ocorre porque apenas 64 dos 295 Municípios catarinenses são atendidos
pelas IES da ACAFE. Logo, trata-se de programa que, deliberadamente e sem critério objetivo
15 TJ-SC, Órgão Especial, ADI nº 5053423-09.2021.8.24.0000/SC, rel. Des. Alexandre d'Ivanenko. DJ 7/6/2023.
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algum, simplesmente obriga os estudantes de todos os demais 231 Municípios a terem que
deixar suas casas para buscar acesso ao ensino superior por meio de uma bolsa do PUG.
Vale observar, a esse respeito, que a capilaridade das IES privadas é bem superior,
atingindo 133 Municípios catarinenses: mais do que o dobro. Ora, se o critério fosse ampliar
o acesso de forma impessoal, os dois grupos deveriam ter sido contemplados no PUG.
36.1. No cenário idealizado pelo art. 170 da Constituição Estadual, deveria haver iguais
oportunidades, do ponto de vista formal e substantivo, para que os cidadãos conseguissem
preencher em uma vaga em uma escola ou IES e, também, continuar a estudar na referida
instituição ao longo de seu percurso acadêmico. Mas enquanto 133 dos 295 Municípios
catarinenses contam com IES Privadas, as IES da ACAFE atendem apenas a 64 Municípios.
Art. 162. O ensino será ministrado com base nos seguintes princípios:
I – igualdade de condições para o acesso e permanência na escola;
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40.1. Isso significa dizer que um estudante residente, por exemplo, em Pomerode, teria
muito menos chances de estudar e permanecer em sua cidade com a modelagem do PUG.
Isso porque não há Instituições Comunitárias na localidade, de modo que esse aluno
possivelmente teria que se deslocar a Blumenau ou a outra cidade do Vale do Itajaí para que
pudesse ter acesso ao Programa.
40.3. Como efeito prático do Programa, portanto, esse aluno de Pomerode utilizado
como exemplo possivelmente tenderia a desistir da bolsa oferecida no Programa, dado que
essa oferece muito mais oportunidades para alunos que estão concentrados nos municípios
onde há IES da ACAFE, os quais não precisam arcar, sozinhos, com os custos de permanência
que o deslocamento de uma cidade a outra implica.
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10 São João Batista 0 739 739
11 Içara 0 1345 1345
12 Pomerode 74 820 894
13 Santo Amaro da Imperatriz 74 635 709
14 Penha 0 1098 1098
15 São Joaquim 85 523 608
16 Ponte Alta 0 128 128
17 Lauro Müller 0 378 378
18 Papanduva 0 641 641
19 São Carlos 0 212 212
20 Campo Erê 0 457 457
21 Iporã do Oeste 0 242 242
22 Otacílio Costa 0 506 506
23 Abelardo Luz 0 515 515
24 São Domingos 0 248 248
25 Seara 0 387 387
26 Faxinal dos Guedes 0 392 392
27 Anita Garibaldi 0 272 272
28 Garuva 0 473 473
29 Agrolândia 0 269 269
30 Palma Sola 0 227 227
31 Alfredo Wagner 0 258 258
32 Itaiópolis 28 649 677
33 Saudades 0 283 283
34 Urussanga 27 404 431
35 Ipumirim 0 156 156
36 Irani 0 304 304
37 Garopaba 0 698 698
38 Lebon Régis 0 326 326
39 Dionísio Cerqueira 0 286 286
40 Correia Pinto 21 405 426
41 Imaruí 0 280 280
42 Catanduvas 19 173 192
43 Ouro 19 185 204
44 Nova Trento 0 329 329
45 Porto Belo 64 421 485
46 Treze Tílias 0 92 92
47 Turvo 0 303 303
48 Forquilhinha 36 547 583
49 Armazém 0 229 229
50 Monte Castelo 0 323 323
51 Três Barras 0 534 534
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52 Caibi 0 166 166
53 Anchieta 0 184 184
54 Passo de Torres 0 192 192
55 Rio do Campo 0 213 213
56 Água Doce 0 258 258
57 Luiz Alves 0 401 401
58 Itá 0 147 147
59 Balneário Arroio do Silva 0 231 231
60 Lontras 0 278 278
61 Ipira 0 176 176
62 Major Vieira 0 232 232
63 Guabiruba 0 560 560
64 Bom Jardim da Serra 0 119 119
65 Frei Rogério 0 105 105
66 Irineópolis 0 332 332
67 Jaguaruna 0 492 492
68 Coronel Martins 0 81 81
69 Modelo 0 90 90
70 Rodeio 0 233 233
71 Ilhota 0 385 385
72 Bela Vista do Toldo 0 247 247
73 Bombinhas 0 404 404
74 Morro da Fumaça 0 567 567
75 São Ludgero 75 326 401
76 Serra Alta 0 89 89
77 Cunha Porã 0 292 292
## TOTAL 2.164 34.741 36.905
41.2. Isso significa, portanto, que todo esse contingente de pessoas necessariamente
deve se deslocar para outra cidade caso queira usufruir de uma bolsa do PUG – que, como se
sabe, é paga com recursos do erário e deveriam beneficiar todos os estudantes, e não apenas
aqueles que nasceram em uma ou outra localidade atendida por uma IES da ACAFE.
41.3. Assim, das duas, uma: (i) ou a família tem condições de arcar com as despesas
para se manter em outra localidade (ii) ou, se os custos dessa mudança e da permanência
forem proibitivos, esses jovens serão impedidos de usufruir das bolsas pagas com recursos
públicos, o que muitas vezes pode ser decisivo para poderem ingressar em uma IES.
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e, assim, buscar emprego para dar continuidade aos seus estudos. E isso é o que basta para
concluir que o Programa, tal qual estruturado, viola o princípio da isonomia e o princípio de
iguais condições de acesso e permanência às IES, uma vez que não oferece as mesmas
oportunidades de acesso e permanência aos estudantes residentes em cidades com IES
habilitadas a funcionar no Estado, privilegiando aqueles que residem em locais
atendidos por IES da ACAFE – o que não faz o menor sentido, pois todos são
catarinenses.
Como já pontuado pelo Ministro Luiz Fux quando do julgamento da ADI 5.657/DF,
o princípio da proporcionalidade “acha-se vocacionado a inibir e a neutralizar abusos do
poder público no exercício de suas funções, qualificando-se como parâmetro de aferição
da própria constitucionalidade material dos atos estatais”.17
16 SILVA, Virgílio Afonso da. “O proporcional e o razoável”, in Revista dos Tribunais 798, p. 23-50, 2003.
17 STF, Plenário, ADI 5657/DF, rel. Min. Luiz Fux, j. 17/11/2022, DJ 28/4/2023.
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Este Col. Tribunal também reconhece a necessidade de aplicação da
proporcionalidade no exame de constitucionalidade de normas que afetam os direitos
fundamentais dos cidadãos:
18 TJ/SC, Órgão Especial, ADI 5058791-96.2021.8.24.0000/SC. rel. Des. Gilberto Gomes de Oliveira. DJ 1/6/2022.
19 SILVA, Virgílio Afonso da. “O proporcional e o razoável”, in Revista dos Tribunais 798, p. 34.
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Parágrafo único. A motivação demonstrará a necessidade e a adequação da
medida imposta ou da invalidação de ato, contrato, ajuste, processo ou
norma administrativa, inclusive em face das possíveis alternativas” (grifos
nossos).
No caso, o art. 170 da CE/SC prescreve que o Estado deve prestar assistência
financeira “aos alunos matriculados nas IES”. A medida adequada, nesse caso, é oferecer
assistência a todos os alunos que frequentam IES no Estado, indistintamente.
49.1. Ocorre que os recursos públicos a serem alocados para esse fim são escassos, de
modo que o cenário de atendimento integral dos mais de 400 mil alunos matriculados em
IES é economicamente inviável. Assim, deve-se partir para a segunda alternativa mais
adequada, que, logicamente, consiste em assegurar a assistência financeira ao maior
número possível de estudantes.
49.2. A questão, contudo, é que o Programa não cumpre esse comando, tendo em vista
que não foi pautado em critérios objetivos, como a distribuição do alunado catarinense entre
as IES, presença em municípios ou qualquer outra justificativa que não fosse puramente
subjetiva. A decisão de alocar 100% dos recursos às Instituições Comunitárias, em suma,
não considera critérios objetivos e, com isso, não privilegia o maior número possível de
alunos.
49.4. Esse aspecto, aparentemente, foi ignorado pela Secretaria de Estado de Educação,
já que, como pontuado pela área técnica do TCE/SC no Relatório DGE nº 494/2023, a
estimativa de recursos a serem alocados no PUG é incompatível com o valor das mensalidades
cobradas pelas Instituições Comunitárias:
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estudo para todo o período, até 2026, observa-se que a estimativa da SED
está subavaliada em aproximadamente R$ 1,09 bilhão”.
A área técnica pontua, ainda, que a situação pode ser agravada em função dos
aumentos das mensalidades cobradas pelas IES da ACAFE. Afinal, a estrutura do Programa
cria um risco de aumentos desproporcionais, que não se sujeitarão a qualquer controle por
parte do Estado:
Nesse contexto, vale destacar que as leis aprovadas não trazem qualquer
mecanismo de controle de custos por parte das universidades, de modo a
mitigar o risco de futuros aumentos desproporcionais nos preços das
mensalidades. A forma como proposta a implementação do
“Universidade Gratuita” permite que eventual aumento de custos, a
exemplo do que preveem os incisos IV e VIII, do art. 14, seja repassado
para a mensalidade. E, como o estado será o responsável por arcar com
o valor integral dos estudantes contemplados, não haverá incentivos
para que as faculdades controlem seus gastos, tampouco razões para que
os alunos questionem o valor pago mensalmente. Assim, o Estado passará
a arcar com despesas sobre as quais não tem qualquer controle.”
50.1. A área técnica do Tribunal chama a atenção para o risco que essa verdadeira
estatização às avessas traz para o Erário Catarinense. Afinal, com a gratuidade das
mensalidades de todos os seus cursos, as IES da ACAFE, que são instituições submetidas ao
regime de direito privado, se aproximarão do regime das instituições públicas de ensino –
mas essa transformação ocorrerá mediante a instituição de uma política pública e, portanto,
sem devido respeito aos requisitos e critérios básicos de um processo de estatização.
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mensalidades. Com isso, conforme pontua a área técnica do TCE/SC, cria-se uma tendência
natural de as IES da ACAFE elevarem os (já altos) valores cobrados.
Isso viola, também, a previsão do art. 135, § 4º, da CE/SC, que estabelece o papel
subsidiário do Estado na intervenção econômica em setores de mercado, bem como expressa
que “a lei estimulará a livre iniciativa e a livre concorrência” – exatamente o oposto do
que ocorre com o caso do PUG. Não há, portanto, qualquer adequação na medida.
20 SILVA, Virgílio Afonso da. O proporcional e o razoável. Revista dos Tribunais, ed. 798, p. 40.
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sistema ACAFE, o que coloca em xeque a capacidade do Estado em investir em ensino básico
e até mesmo em promover outros tipos de investimentos públicos relevantes.
Sobre o primeiro aspecto, vale lembrar que o art. 10, VI, da LDB estabelece que
cabe aos Estados “assegurar o ensino fundamental e oferecer, com prioridade, o ensino médio
a todos que o demandarem”. Logo, apenas parece fazer sentido estruturar uma política pública
que amplia sobremaneira os gastos com ensino superior se tal obrigação tiver sido cumprida,
o que não é o caso.
21 7º Relatório de Monitoramento e Avaliação do Plano Estadual de Educação de Santa Catarina – 2022. Secretaria
de Estado da Educação de Santa Catarina (SED/SC), Florianópolis, fevereiro de 2023 (doc. 21). Disponível em:
<https://www.sed.sc.gov.br/documentos/plano-estadual-de-educacao-sc-452/16890-7-relatorio-anual-
monitoramento-e-avaliacao-pee-sc-exercicio-2022-assinado>. Acesso em: 28.08.2023.
22 Este programa, criado pela Lei Estadual 18.338/2022 (“Lei 18.338/22”), oferece auxílio financeiro a estudantes
em situação de vulnerabilidade social que cursam o ensino médio regular e o ensino médio da Educação de
Jovens e Adultos (“EJA”) em escolas da rede estadual de ensino, com o intuito de combater a evasão escolar.
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Embora a Lei Orçamentária Anual de 2023 (“LOA 2023”) tenha previsto aumento
de recursos para o programa, a Secretaria de Estado da Fazenda (“SEF”) publicou a Portaria
nº 24, de 08 de fevereiro de 2023, (“Portaria SEF 24/23”) (doc. 14), alterando a LOA 2023
para diminuir em R$ 147 milhões o orçamento vinculado ao Programa Bolsa Estudante!
61.1. A mesma portaria especifica que tais recursos deveriam continuar vinculados a
rubricas da SED. Mas eles não foram integralmente mantidos no custeio da rede básica de
ensino estadual, uma vez que R$ 20.000.000,00 (vinte milhões de reais) foram destinados
ao UniEdu (e seriam, agora, destinados ao PUG)!
Isso revela, portanto, que o Estado tem retirado recursos da rede básica para
investir na oferta de ensino superior. O sacrifício do direito à educação de crianças e jovens,
que haveria de ser a prioridade do Estado, se dá em benefício das IES da ACAFE, que
receberão os recursos que deveriam ser destinados à rede pública de ensino básico.
Com relação ao segundo aspecto indicado acima, é fácil visualizar que, em termos
orçamentários, o PUG tende realmente a comprometer a capacidade do Estado ofertar ensino
básico de qualidade ou cumprir com as metas do PEE. E isso em função de o PUG não prever
quaisquer controles sobre o valor das mensalidades das IES da ACAFE ou mesmo voltados a
garantir que os estudantes que deixarem de executar sua contrapartida em serviços à
comunidade efetivamente devolvam os valores ao erário catarinense.
Na prática, portanto, o Estado passará a arcar com todos os custos das IES da
ACAFE, mas as instituições permanecerão operando como privadas, elevando suas
mensalidades em bases de mercado e sem qualquer incentivo para as reduzir.
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Ocorre que o custo público do programa nesse ínterim foi de R$ 32,3 bilhões em
2016 – valor superior ao custo do Bolsa Família no período, conforme destaca a auditoria
preparada pela Secretaria do Tesouro Nacional (“STN”) em 2017 (doc. 11).
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regulamentava o art. 170 da CE/SC – isto não pode ser cogitado no presente caso, tendo em
vista que a LC 281/2005, revogada pela norma ora atacada, era eivada das mesmas
inconstitucionalidades materiais da LC 831/23.
72.1. Com efeito, tal como o art. 1º da LC 831/23, o art. 1º da LC 281/2005 previa a
concessão de assistência financeira às IES, e não diretamente aos estudantes catarinenses,
descumprindo, portanto, o comando da CE/SC. No mais, ainda que os recursos em questão
não fossem integralmente alocados às IES da ACAFE, eles o eram majoritariamente: como já
exposto, no âmbito do UniEdu, 90% dos recursos eram destinados às Instituições
Comunitárias, enquanto apenas 10% eram alocados às IES Privadas. Veja-se a representação:
72.2. Dessa forma, o UniEdu também violava, ainda que em menor grau, os princípios
da impessoalidade e da isonomia, bem como a regra da proporcionalidade. Afinal, não havia
– como não há hoje – justificativa alguma para alocar a maior parte dos recursos públicos aos
estudantes das Instituições Comunitárias, que reúnem um contingente muito menor do
alunado catarinense e que, em regra, possui condições socioeconômicas mais favoráveis.
72.2.2. Contudo, se esse mesmo montante tivesse sido destinado integralmente às IES
Privadas, o total de beneficiários tenderia a ser de 350.194 estudantes, ou seja: 55,83% a mais
de alunos catarinenses. Da mesma forma, se cogitarmos um cenário de distribuição equitativa
do volume global de recursos (R$ 207 milhões) entre as IES da ACAFE e IES Privadas (50%
para cada grupo), o número de estudantes beneficiados com bolsas de estudos também seria
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superior: cerca de 129.213 estudantes catarinenses de IES da ACAFE seriam beneficiados e,
ainda, 201.309 de IES Privadas, totalizando aproximadamente 330.522 alunos.
72.2.4. Esse exemplo demonstra que a política pública existente antes do Programa – o
UniEdu – também impedia a disponibilização do maior volume de recursos públicos à maior
parcela do alunado catarinense. Ou seja, o arranjo institucional previsto na LC 281/2005
também violava os preceitos da isonomia e da proporcionalidade, posto que
privilegiava, injustificadamente, os alunos das IES Comunitárias, que (I) representam um
contingente muito menor de estudantes vis-à-vis as IES Privadas e (II) vêm de classes mais
abastadas.
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DE BOMBEIRO MILITAR E DA POLÍCIA CIVIL. VIOLAÇÃO DOS ARTS. 37, XIII, E
61, § 1º, II, ‘A’, DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL. INCONSTITUCIONALIDADES
FORMAL E MATERIAL. PROCEDÊNCIA.
1. A jurisprudência desta CORTE aponta para a necessidade de que a Ação
Direta questione todas as normas que integram o conjunto normativo
apontado como inconstitucional, tendo em conta o efeito
repristinatório verificado na declaração de inconstitucionalidade. A
ausência de impugnação de toda a cadeia normativa, ressalvados os
diplomas normativos anteriores à Constituição Federal de 1988, enseja o não
conhecimento da ação ajuizada. Houve o oportuno aditamento da inicial,
de modo a impugnar também a redação originária do § 5º do art. 46 da
Constituição do Estado do Rio Grande do Sul. Ação Direta de
Inconstitucionalidade conhecida. Precedentes desta CORTE”.24
74.1. Este entendimento também já foi acolhido por este E. Tribunal em diversas
oportunidades:
24 STF, Plenário, ADI 5.260/RS, rel. Min. Alexandre de Moraes, j. 11/10/2018, DJ 29/10/2018.
25 TJ/SC, Órgão Especial, ADI nº 8000495-69.2017.8.24.0000, rel. Des. Marcus Tulio Sartorado. DJ 20/11/2019.
26 TJ/SC, Órgão Especial, ADI nº 8000489-62.2017.8.24.0000, rel. Des. Roberto Lucas Pacheco, DJ 17/7/2019.
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segurança ostensiva e de segurança preventiva que remuneravam a
atividade-fim exercida por este órgão da administração direta do Estado de
Santa Catarina. Há, na mesma medida, inconstitucionalidade formal e
material, diante da invasão da competência do Município para legislar
sobre tema reservado à iniciativa privativa do Governador do Estado e
da criação de taxa para remunerar de serviço público universal e
indivisível”.27
Não se ignora que deixar de aplicar o efeito repristinatório terá como implicação
a ausência de programa de bolsas de estudo custeadas pelo Estado, o que tende a gerar
prejuízos aos alunos, na medida em que reduzirá as possibilidades de acesso ao ensino
superior.
27 TJ/SC, Órgão Especial, ADI nº 8000341-85.2016.8.24.0000, rel. Des. Rodrigo Collaço, DJ 20/9/2017.
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Dessa forma, ao outorgar ao Governador do Estado a prerrogativa de promover
toda e qualquer adequação ao orçamento aprovado pela ALESC para viabilizar a continuidade
do Universidade Gratuita, o art. 27 da LC 831/23 viola o comando constitucional supracitado.
A questão é ainda mais grave porque o Estado não tem, hoje, recursos públicos
disponíveis em montante suficiente para viabilizar a execução dos valores previstos na
LC 831/23. Essa realidade foi, inclusive, apontada pela Secretaria de Estado da Fazenda na
Informação DITE/SEF nº 152/2023, que acompanhou o PLC 13/23 (doc. 19):
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somente em transferências voluntárias especiais e convênios, bem como que
a folha de pagamento, maior despesa fixa do Estado, recebeu incremento de
cerca de 3,5 bilhões no exercício de 2022 em comparação com o de 2021.
[...] Diante disso, é importante que o Grupo Gestor de Governo esteja
ciente do esforço que será necessário para a viabilização do Programa
nestes primeiros exercícios: R$ 205,6 milhões em 2024; R$ 452,8 milhões
em 2025; R$ 714 milhões em 2026. Esses montantes deverão ser
buscados via redução/alocação de despesas em órgãos e entidades
estaduais; ou via aumento de receita” (Grifou-se).
82.2. Posteriormente, elas foram reforçadas pela área técnica do TCE-SC, por meio do
Relatório nº DGE 494/2023 (doc. 15):
Nesse contexto, não há dúvidas de que o teor do art. 27 abre as portas para que
o Poder Executivo, assumindo uma competência que é exclusiva do Poder Legislativo, aprove
ajustes à LDO incompatíveis com a realidade financeira do Estado.
Sob outra perspectiva, ainda, veja-se que o art. 27 também altera o critério
constitucionalmente previsto para definição dos montantes a serem destinados à assistência
financeira. Com efeito, enquanto o art. 170 da CE/SC prevê a vinculação de ao menos 5% dos
25% vinculados à manutenção e desenvolvimento do ensino, o art. 27 define valores em reais,
crescentes até o ano de 2026.
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84.1. A desobediência ao critério constitucionalmente firmado não passou
despercebida pelo TCE/SC, conforme se verifica no voto prolatado pelo Cons. Gerson Sicca
nos autos do Processo RL 23/80041207:
28 “Para a concessão de medida cautelar em ação direta de inconstitucionalidade, devem ser satisfeitos
cumulativamente os requisitos da plausibilidade jurídica da tese exposta (fumus boni iuris) e da possibilidade
de prejuízo decorrente do retardamento da decisão postulada (periculum in mora)" (STF, Pleno, ADI 5374 MC-
AgR, rel. Min. Roberto Barroso, j. 22/6/2020, DJe-172 de 8/7/2020)
29 TJ-SC, Órgão Especial. Ação Direta de Inconstitucionalidade nº 5011374-79.2023.8.24.0000/SC, Rel. Des. Sidney
Eloy Dalabrida, DJ 5/4/2023.
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Ambos os requisitos estão presentes in casu, a exigir a concessão de tutela de
urgência para resguardar os efeitos deletérios que a demora na tramitação processual pode
causar ao erário catarinense.
O periculum in mora, por sua vez, decorre do fato de o Governo já ter iniciado os
trâmites para dar concretude ao Programa e, com isso, efetuar o dispêndio de quase R$ 217
milhões exclusivamente aos alunos das IES Comunitárias.
89.1. Com efeito, em 8/8/2023, foi publicado no Diário Oficial do Estado de Santa
Catarina o Edital nº 2.206/2023 da Secretaria de Estado da Educação, que dispõe sobre a
inscrição das IES para participação no PUG (doc. 12). Conforme consta do seu item 1, o
período de inscrições se encerrará em 5/9/2023. O Anexo 1, por sua vez, esclarece que o
resultado final do credenciamento das IES da ACAFE será divulgado em 18/9/2023.
89.2. Superada essa etapa, o Governo pretende (I) cadastrar os estudantes ainda
durante o mês de setembro, (II) classificá-los segundo índice de carência, durante o mês de
outubro e (III) conceder os benefícios financeiros às IES credenciadas, ainda durante o mês de
outubro. Todas essas informações constam do website criado pelo Governo para
esclarecimento de dúvidas sobre o Programa e do informativo divulgado nessa mesma
página (doc. 20):30
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89.3. Nesse sentido, caso a medida cautelar não seja concedida, há um risco iminente
de o Governo empenhar os R$ 217 milhões que o art. 11 da LC 831/23 preveem para
desembolso no ano de 2023. E esse valor, não se engane o E. Tribunal, não tem retorno.
89.4. É fundamental ter clareza de que, uma vez concedida a bolsa ao estudante, este
terá a legítima expectativa de continuar a estudar de forma gratuita até o fim do curso.
Mesmo que a LC 831/2023 venha a ser declarada inconstitucional ao fim da tramitação destes
autos, não será possível paralisar o repasse de recursos públicos para custear tais bolsas de
estudos, sob pena de prejudicar o futuro de uma série de jovens.
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Urge, assim, a necessidade de se impedir a formação de relação jurídica entre
o Estado de Santa Catarina e os alunos de ensino superior, por meio da
concessão de bolsas de estudo nos temos propostos pelas leis recentemente
aprovadas. Concretizadas tais benesses, não há como se reverter a
despesa irregular sem que ocorra considerável prejuízo aos estudantes
contemplados, os quais figuram, nesse contexto, como terceiros de boa-
fé, sem qualquer ingerência ou ligação com as ações mal planejadas pelo
Governo.
89.6. Ao mesmo tempo, porém, com o intuito de não prejudicar os estudantes, poder-
se-ia admitir a continuidade provisória das bolsas do UniEdu, cujo volume de recursos é
menor. E, por outro lado, caso este E. Tribunal conclua, ao final, pela constitucionalidade da
LC 831/23 (o que nos parece improvável), o Estado poderá dar continuidade ao processo de
seleção e de concessão dos benefícios às IES Comunitárias.
89.7. Dessa forma, urge que este E. Tribunal determine a suspensão imediata dos
efeitos da LC 831/23 e proíba o empenho dos recursos públicos dedicadas ao PUG até que
se aprecie em definitivo o pedido de declaração de inconstitucionalidade formulado.
Assim, é à luz do exposto, a Autora pede que este E. Tribunal defira, inaudita altera
pars, medida cautelar para determinar ao Governo que se abstenha de empenhar os recursos
públicos no âmbito do Programa até que se conclua a análise das razões de mérito ora
apresentadas.
V. PEDIDOS
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(i) o recebimento da presente ação direta de inconstitucionalidade, considerando-
se que estão preenchidos os seus pressupostos de admissibilidade;
Dá-se a causa o valor de R$ 1.000,00 para fins meramente fiscais e protocolares, considerando
a exigência do sistema e-PROC do TJSC.
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Termos em que pede deferimento.
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ROL DE DOCUMENTOS ANEXOS
doc. 5 - Denúncia protocolada pela ANUP perante o Tribunal de Contas do Estado de Santa
Catarina (TCE/SC).
31 Junta-se a versão da Lei Complementar Estadual nº 281/2005 disponibilizada no site da ALESC. Considerando,
contudo, que a norma foi revogada e essa versão está tarjada, apresentamos, também, cópias da norma
obtidas em site confiável.
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doc. 17 - Portaria SED nº 286, de 03.02.2023.
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