Saúde Mental e Adolescenncia
Saúde Mental e Adolescenncia
Saúde Mental e Adolescenncia
PSICOSSOCIAIS NAS
ADOLESCÊNCIAS
E JUVENTUDES
Autoras
Aline Henriques Reis
Andréa Chicri Torga Matiassi
Silvia Segovia Araujo Freire
Organizadoras
Rita Maria Lino Tarcia
Sílvia Helena Mendonça de Moraes
Débora Dupas Gonçalves do Nascimento
CURSO DE APERFEIÇOAMENTO
EM SAÚDE MENTAL E ATENÇÃO PSICOSSOCIAL
DE ADOLESCENTES E JOVENS
CUIDADOS
PSICOSSOCIAIS NAS
ADOLESCÊNCIAS
E JUVENTUDES
Autoras
Aline Henriques Reis
Andréa Chicri Torga Matiassi
Silvia Segovia Araujo Freire
Organizadoras
Rita Maria Lino Tarcia
Sílvia Helena Mendonça de Moraes
Débora Dupas Gonçalves do Nascimento
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)
Bibliografia.
ISBN 978-85-66909-42-5
23-144539 CDD-362.21
Índices para catálogo sistemático:
Apresentação do módulo. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 6
QUANDO O SOFRIMENTO BATE À PORTA. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 7
O QUE FAZER? PRIMEIROS ESBOÇOS!. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 23
O ACOLHIMENTO E A ESCUTA: ALIADOS DO VÍNCULO. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 33
COMPARTILHANDO E AMPLIANDO O CUIDADO: A CLÍNICA AMPLIADA, O PROJETO TERAPÊUTICO SINGULAR E
O APOIO MATRICIAL . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 47
O FORTALECIMENTO DE VÍNCULOS: CRIANÇAS, ADOLESCENTES, FAMILIARES E COMUNIDADE . . . . . . . . . . . . . . . . . . 50
PROJETOS DE VIDA E OUTRAS ESTRATÉGIAS POSITIVAS. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 55
Encerramento do módulo. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 60
Referências. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 61
Minicurrículo das autoras . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 65
Material de apoio. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 68
Curso de Aperfeiçoamento em Saúde Mental
e Atenção Psicossocial de Adolescentes e Jovens
apresentação do módulo
Olá! Seja bem-vindo a mais uma etapa dessa jornada! da sua escola. Entretanto, na história de Ana, uma coordenadora
Nessa nova parada, nosso objetivo é ajudar você a identificar pedagógica da escola soube como acolhê-la, ou seja, teve uma
as necessidades psicossociais de crianças e adolescentes que escuta sensível e comprometida para o que se passava naque-
estão em situação de sofrimento e realizar os primeiros socorros le momento, fornecendo os primeiros cuidados, indispensáveis
psicológicos. Talvez, no seu dia a dia, você se depare com mui- para circunstâncias como essa. Venha conosco e vamos apren-
tas Anas e com certeza já se perguntou o que pode fazer para der um pouco sobre como você também pode ajudar os jovens
ajudá-las, tanto de forma presencial quanto remota. Assim como da sua comunidade!
no caso apresentado, nesse momento, aí próximo a você, exis-
tem muitas crianças e jovens vivenciando sofrimentos psíquicos
que se manifestam em comportamentos que colocam a vida
deles em risco, como: uso abusivo de drogas, bulimia, anorexia,
automutilação e tentativas de suicídio. Neste módulo, enfatizare-
mos os dois últimos. Talvez, você tenha muitas dúvidas e até se
sinta incapaz e paralisado, sem saber o que fazer diante de tantos
casos. E agora? O que fazer?
Serviços que acolham o público infantil e jovem seguem Portanto, inicialmente, é preciso compreender que a saú-
premissas semelhantes e devem levar em consideração as parti- de engloba o bem-estar físico, psíquico e emocional, não sendo
cularidades dessas etapas da vida, que não são poucas. apenas a ausência de doenças. Para isso, faremos algumas con-
ceituações importantes e, em seguida, refletiremos sobre vários
aspectos da saúde: desde os primeiros cuidados na urgência
Veremos a seguir que não existe uma abordagem
dessas crianças e adolescentes até as possibilidades de constru-
única para tratar dos impasses das crianças e dos jo-
ções de saídas coletivas para esses casos que serão abordados
vens, assim como não há uma boa abordagem sem
nas circunstâncias de crise e urgência.
um cuidado integral de saúde, ou seja, sem um olhar
mais ampliado que inclua os aspectos sociais, culturais,
políticos, entre outros.
Para as crianças e adolescentes, além de ser um local de Nos últimos anos, esse cenário foi inesperadamente al-
aprendizagem de conteúdos e conceitos, a escola também é um terado. Como uma espécie de pesadelo ou história de terror, a
espaço que contribui para a socialização e promoção da cidada- pandemia de Covid-19 gerou insegurança, medo, angústias e
nia. Quando a família é ausente ou disfuncional, a escola serve muitas mortes. As medidas de distanciamento social tiraram dos
como local de refúgio e apoio, longe das dificuldades familiares. jovens as experiências de convivência com amigos e sociedade
Além dela, outros lugares, como centros de convivência, praças em geral e aumentaram o tempo de convivência com a família,
e espaços de lazer, instituições religiosas, entre outros, são espa- suscitando as dificuldades inerentes a essa convivência (DA
ços ocupados pelos jovens, onde aprendem a ser e a conviver. MATA et al., 2021). O distanciamento social também gerou ou-
tros desafios, como: a incerteza quanto ao futuro, à doença e à
morte; dificuldades acadêmicas e de adaptação ao estudo on-li-
ne; problemas financeiros; e insegurança alimentar. Além disso,
a mudança repentina do ensino presencial para o ensino remoto,
sem o preparo e as condições adequadas, somada à longa du-
ração da pandemia, fez com que as crianças e os adolescentes
entrassem em grande sofrimento.
Observe, a seguir, algumas falas de crianças e adolescen- Antes mesmo da pandemia de Covid-19, a saúde mental
tes de alguns países da América Latina sobre esse período (UNI- dos jovens já vinha chamando a atenção e gerando preocupa-
CEF, 2021): ções. De acordo com o relatório Situação Mundial da Infância
2021 (UNICEF, 2021), quase um em cada seis meninas e meni-
“Não poder ver seus amigos causa depressão porque nos entre 10 e 19 anos de idade, no Brasil, tem algum transtorno
falar em uma tela não é a mesma coisa – você não tem a
mental. Nessa idade, esse grupo está mais exposto ao risco de
mesma conexão que vê-los pessoalmente.” (Menina mais
automutilações, depressão e suicídio. Conforme Botega (2023),
nova, Jamaica).
em cada 100 habitantes, 17 têm ideação suicida, com pensa-
mentos de acabar com a própria vida, 5 chegam a elaborar um
“Fico muito triste e depois começo a tremer, começo a fi-
plano suicida, 3 tentam o suicídio e apenas 1 entre esses três é
car sem ar e depois começo a chorar, tipo sem conseguir
atendido em um pronto-socorro. Esses dados são preocupantes,
segurar... pareço um zumbi e não tenho mais nada para
pois revelam que o número de pessoas que precisam da nossa
fazer ou tento levantar meu ânimo, mas até que eu durma
isso não vai acontecer.” (Menina mais nova, Chile).
ajuda é muito maior do que aqueles que chegam até os serviços
de saúde. Ou seja, a coisa está feia! E, por isso, precisamos de
todos envolvidos no enfrentamento desse desafio.
“[Pais invalidando nossas experiências] acontece muito.
Por exemplo... uma pessoa conta [aos] pais [sobre] seus Identificar sinais precoces de sofrimento psíquico, no
problemas, e os pais podem dizer: ‘...Você não tem dívida contexto de vida da criança e do adolescente, pode impedir a
ou nada para ficar triste’, e coisas assim.” (Menino mais escalada da crise, bem como possibilitar o início do cuidado
novo, Chile). necessário o mais precocemente possível, protegendo a saúde
do jovem e potencializando os cuidados o mais rápido possível.
“Quando eu era mais jovem, expressava muito mais meus
Como vimos no caso de Ana, é muito importante refletirmos so-
sentimentos, mas eles não eram validados quando eu ti- bre como podemos fornecer os primeiros cuidados psicológicos
nha 13, 14 anos. Eu poderia dizer: ‘Tenho depressão ou em momentos de crise, quando as crianças e os adolescentes
me sinto triste’, e eles diriam: ‘Não, você não sabe o que estão colocando suas vidas em risco, principalmente com com-
sente porque tem 12 anos’.” (Menina mais velha, Chile). portamentos de automutilação e tentativas de suicídio.
Fonte: Unicef (2021). Disponível em: https://www.unicef.org/media/108126/file/SOW- Uma primeira forma é a observação durante a convivên-
C-2021-Latin-America-and-the-Caribbean-regional-brief.pdf. Acesso em: 10 nov. 2022. cia. Nesse contexto, você pode identificar alguns sinais e mu-
danças no comportamento da criança ou adolescente, como
Como você viu anteriormente, o suicídio é um problema Geralmente, o suicídio é visto como uma maneira de acabar com
social que existe há muitos séculos, inclusive atingindo crian- a dor. Ocorre uma espécie de restrição mental em que a pessoa
ças e adolescentes, mas habitualmente era abordado de uma enxerga o suicídio como a única forma de resolver a situação,
forma silenciosa, tímida e delicada, tanto pelo tabu que envolve de acabar com o sofrimento que ela está vivenciando (BOTEGA,
o assunto, quanto pelo constrangimento causado em familiares 2023). Há níveis relacionados ao suicídio, que vão desde a exis-
que perderam alguém por suicídio. Hoje, por ser um indicador tência de ideias sobre o ato, como pensamentos de morrer, até
em constante crescimento, tornou-se um grande problema de planos muito elaborados de tirar a própria vida. No Quadro 1, há
saúde pública, sendo necessário conversar sobre o assunto em uma descrição de cada nível (BOTEGA, 2023) e a definição de
todos os espaços possíveis e com a ajuda de todas as áreas do automutilação (ARATANGY, 2017).
conhecimento.
Intenção suicida Ter o desejo de se matar e alguma intenção de agir Pensamentos como: “Eu não aguento mais. Tô sur-
conforme esse desejo. tando. Preciso pôr um fim nessa minha dor”.
Plano suicida A maneira como pretende executar o suicídio: dia, Pensamentos como: “Não vejo solução. É melhor
local, horário, método etc. Quanto maior a letalidade acabar com isso logo”; “Vou colocar um fim na mi-
do método, ou seja, a chance de morrer, e o conheci- nha dor”.
mento sobre isso, mais preocupante é.
Pesquisa sobre formas de fazer, conversa com pes-
soas sobre o tema, planeja como fazer.
Tentativa de suicídio Comportamento não fatal dirigido a si mesmo, poten- A tentativa pode ter sido feita por ingestão de me-
cialmente nocivo, com qualquer intenção de morrer. dicamentos, um nó em corda que se desfez, al-
Uma tentativa de suicídio pode ou não provocar feri- guém que salvou a pessoa antes da morte.
mento.
Suicídio Quando a pessoa tem êxito e consegue se matar. Os meios mais letais envolvem arma de fogo e en-
forcamento.
Fonte: Botega (2023) e Aratangy (2017).
Já os comportamentos autolesivos, também conhecidos tampouco com doenças. De acordo com alguns estudos sobre
como automutilação, envolvem machucar partes do corpo de a adolescência, alguns comportamentos e características dessa
forma intencional, mas não têm o intuito de causar dano letal. etapa da vida são: insegurança, busca de sensações, impulsivi-
Podem ser: leves, quando as lesões são realizadas com pouca dade e agressividade, que seriam consequências das mudanças
frequência e têm baixa gravidade; moderadas, quando as le- biológicas e hormonais que acontecem nesse momento da vida
sões são graves a ponto de a pessoa precisar de ajuda médica; e (GOMES, 2017). Em outras palavras, a adolescência é uma fase
graves, quando as lesões são feitas com frequência e têm maior em que ocorrem muitas mudanças, o que nem sempre é vivido
gravidade, causando prejuízos às pessoas, como os machuca- sem conflitos.
dos no corpo e o isolamento dos grupos de pertença. As auto-
Contudo, a palavra crise é muito utilizada na área da
lesões geralmente têm impacto negativo na saúde mental do
saúde, especialmente para designar situações de intenso sofri-
próprio indivíduo e envolvem: punir-se por algo que acredita ter
mento e de gravidade significativa (ALKMIM, 2010). As mudan-
feito de errado e regular as emoções intensas e geralmente desa-
ças abruptas de comportamento decorrentes de sofrimento ou
gradáveis. A pessoa faz isso tanto porque, após se cortar, sente
prejuízo ajudam a entender melhor essa comparação, como:
um alívio, uma sensação de anestesia, como porque a dor desvia
um adolescente que sempre ficou irritado em determinadas si-
o foco das emoções desagradáveis. As autolesões também têm
tuações passa a ter comportamentos de raiva e agressividade
um impacto nas relações interpessoais, ou seja, as outras pesso-
mais intensamente, ameaçando machucar os colegas, animais e
as se preocupam e dão mais atenção, portanto pode trazer um
a si próprio. Essa mudança pode ser um sinal de que esse ado-
senso de pertencimento. Existem grupos e comunidades que se
lescente está em crise. Assim, o próprio jovem é usado como
relacionam justamente por compartilharem esses temas, como
parâmetro de comparação, ou seja, é preciso conhecer a história
as adolescentes que Ana encontrou na internet (QUESADA et al.,
dele para identificar quando as mudanças ocorreram e em qual
2020).
intensidade.
As situações descritas configuram o auge do sofrimento.
Podemos sugerir como indicadores “normais” as mudan-
No entanto, como perceber que a criança ou o adolescente pre-
ças de comportamento, o aparecimento da tristeza, a queda no
cisa de ajuda? Como diferenciar comportamentos típicos dessa
rendimento escolar, entre outros. No que se refere ao suicídio,
fase de situações de crise? Como a palavra crise é muito utilizada
um risco baixo envolve ausência de tentativa anteriores e, caso
no contexto da adolescência, é necessário esclarecer que ques-
ocorram ideias desse tipo, elas são passageiras e geram ansieda-
tões pontuais e certos comportamentos típicos desse momen-
de, perturbação. Além disso, se há um transtorno mental prévio,
to de vida não devem ser confundidos com situações de crise,
os sintomas são leves e o jovem tem vida e apoio social (BOTE-
GA, 2023). A música Eu sou um fracasso, de Bia Marques (https:// com/watch?v=7yIlon_oGnI, disponível em 11 out. 2022) retrata
www.youtube.com/watch?v=Z3qzsaim-AA, disponível em 11 out. um nível um pouco mais intenso de sofrimento: “não faz sen-
2022) mostra o início de uma crise, a sensação de estar só e de ser tido a vida que eu carrego”; “não sei mais se eu vivo por mim
um fracasso, assim como a desesperança de ser compreendida. mesmo”; “parece que estou perdido nesse mundo sem saída,
Por outro lado, cita lembranças de bons momentos, bem como onde a única opção é uma escolha suicida”. Nela, encontramos
alguma rede de apoio: “Mas pelo menos sei que com você posso alguns indícios de já ter havido uma tentativa anterior de sui-
contar”. cídio: “me olhando no espelho meu passado me atormenta. O
porquê eu fiz aquilo? Talvez ninguém entenda”. Apesar da su-
Com relação aos indicadores médios, “complicados”,
posta tentativa de suicídio anterior e de a pessoa considerar o
é preciso observar se os pensamentos negativos são persis-
suicídio como uma opção real e como a solução, identifica-se
tentes, mesmo que não envolvam a intenção de tirar a própria
uma rede de apoio: “Agradeço aos amigos por estarem ao meu
vida ou machucar alguém, se as autoagressões estão presen-
lado”, e a ambivalência, indicando, além do desejo de morrer,
tes e com qual frequência e gravidade, se tem algum histórico
uma esperança para viver.
de tentativa de tirar a própria vida, se há isolamento, piora no
rendimento escolar e falas de desesperança. Quanto ao risco Músicas, como a citada acima, falam de desesperança,
de suicídio, é moderado se há diagnóstico de depressão ou ideação suicida, sentimentos de vazio e temas afins. Apesar de
transtorno bipolar, se os pensamentos de suicídio são fre- serem impactantes, elas também podem ajudar a nos aproximar
quentes, se o suicídio parece ser a solução e se a pessoa conta da dor de nossas crianças e adolescentes para que possamos
ou não com apoio social. Em um risco moderado de suicídio, a compreender como eles se sentem. Além disso, as músicas po-
pessoa não é impulsiva, não faz uso ou abuso de drogas e não dem ser usadas para suscitar discussões sobre suicídio com os
tem um plano para se matar (BOTEGA, 2023). A música RAP - adolescentes, especialmente os que representam nível baixo e
me sinto perdido, nossos sentimentos (https://www.youtube. moderado de ideação.
Como indicadores altos, ou “casos graves”, devem ser De acordo com Franzin, Reis e Neufeld (2017), o que
verificadas a existência de tentativas anteriores de suicídio e a costuma desencadear uma crise na infância e na adolescência são
dependência de álcool ou de outras drogas. Nesse cenário, o jo- problemas na família, na escola ou piora de uma psicopatologia
vem em crise não vê saídas. Há um plano definido de se matar e já existente, como depressão. A seguir serão listados alguns sinais
ele já pensou em formas de fazer isso, além de já ter providencia- que podem indicar que o adolescente está em crise, sempre
do o que precisa para o ato (BOTEGA, 2023). levando em consideração como ele era habitualmente, como
está agora e a frequência e intensidade dos comportamentos:
FRASES QUE PODEM SINALIZAR PENSAMENTOS SUICIDAS
- Comportamento agressivo e violento, como quebrar ou jogar
“Quero acabar com o sofrimento”. coisas, gritar, xingar ou desafiar adultos;
“Vou deixar de ser um problema para minha família ou - Tentativa de suicídio, tomando remédios, jogando-se de luga-
meus amigos”. res altos, enforcando-se, usando arma de fogo ou de outras ma-
neiras;
“Eu ando pensando besteira”.
- Machucar a si mesmo se beliscando, cortando-se, batendo em
“Acho que minha família ficaria melhor se eu não estivesse
aqui”. si mesmo;
“Estou com pensamentos ruins”. - Começar a usar álcool, cigarro ou outras drogas em excesso;
“Eu não aguento mais”. - Desregulação emocional, ou seja, choro difícil de controlar ou
ficar irritado com facilidade e com frequência, assim como falta
“As coisas não vão dar certo. Não vejo saída”.
de paciência.
“Eu preferia estar morto”.
No caso de Ana, o sentimento de culpa pela morte do
“Vou desaparecer”. pai, a falta que sentia dele, a baixa autoestima, o desconforto que
“As pessoas acham que depressão é frescura. Depois que a sentia em casa pela presença do padrasto, a falta de opções de
pessoa se mata vão ver o que é frescura”. lazer, o afastamento da amiga Karen e as críticas da mãe foram
fazendo com que ela ficasse cada vez mais distante, sentindo-se
“Vou sumir”.
ainda mais sozinha. Ana começou a ficar muito irritada, sem pa-
“Em breve isso tudo vai acabar!” ciência (a irritabilidade frequente e intensa é um sintoma impor-
Fique de olho: sinais de alerta e fatores de risco para automu- infância que são sinais de alerta envolvem: traumas psicológicos,
tilação e ideação/tentativa de suicídio como negligência e violência sexual, física ou emocional; rela-
ções familiares disfuncionais; depressão ou dependência de ál-
A depressão é um importante fator de risco tanto para a
cool e de outras drogas em um ou ambos os pais.
automutilação quanto para o suicídio. Reconhecer que a criança
ou o adolescente está em um quadro depressivo é importante Analisando esses fatores de risco, pode-se verificar que
para fornecer suporte e fazer os encaminhamentos necessários. Ana tinha vários deles: pode-se pensar em relações familiares
O vídeo Um cachorro preto chamado depressão (https://www. disfuncionais (pai era alcoolista e faleceu e Ana se sentia culpa-
youtube.com/watch?v=6RIu4a7hdAA, disponível em 11 out. da pela morte dele; a mãe era crítica e distante emocionalmente;
2022) ilustra os sintomas do transtorno. Entre os jovens, em vez Ana tinha sensação de desconforto na presença do padrasto);
de tristeza, pode aparecer com maior frequência a irritabilidade, Ana mantinha contato pela internet com outras meninas que se
como no caso de Ana. Entre crianças de 6 a 8 anos, é comum cortavam; após o namoro da amiga Karen, Ana isolou-se em casa
queixas somáticas, como dor de cabeça e dor de barriga. Em e na escola, não tinha amigos e ainda lidava com uma queda no
adolescentes, as notas na escola podem cair e haver mais fome rendimento escolar. Ana não gostava de sua aparência nem de
e sono (AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION, 2014). seu corpo, portanto desenvolveu baixa autoestima, e suas baixas
notas pareciam confirmar suas dúvidas sobre seu próprio valor.
Aratangy (2017) explica que transtornos mentais (como
Ana apresentava muitos sintomas de depressão que poderiam
depressão e presença de um trauma), vivências difíceis na in-
ter sido reconhecidos, caso os pais e educadores soubessem
fância, características pessoais e aspectos sociais são fatores de
identificá-los.
risco para automutilação e ideação suicida. Com relação aos as-
pectos sociais, é preciso prestar atenção: se a criança ou o ado- Conforme Botega (2023), o suicídio pode acontecer tam-
lescente está se isolando em demasia, tanto da família como de bém de forma impulsiva, não planejada, em uma situação de so-
amigos; se está sofrendo bullying (ver módulo 3); se tem em seu frimento intenso (por exemplo, descobrir que a pessoa amada
histórico de navegação na internet busca de informações sobre está com outra pessoa ou estar diante de um evento inespera-
automutilação e/ou suicídio; e se tem pessoas conhecidas e/ do, como a prisão dos pais, a morte repentina de uma pessoa
ou próximas que se mutilam e/ou também apresentam ideação querida ou a descoberta de uma doença grave) com um meio
suicida. Quanto às características pessoais, destacam-se a im- letal disponível (arma, veneno, medicamentos, entre outros). O
pulsividade e a instabilidade emocional, distorções na imagem impulso de cometer suicídio pode ser transitório e durar alguns
corporal, pessimismo, insegurança e baixa autoestima e dificul- minutos ou horas. Acalmando-se a crise e ganhando-se tempo,
dades de se relacionar e de regular as emoções. As vivências na é possível diminuir o risco. Por isso, é muito importante que, nes-
sas situações, os jovens recebam os primeiros socorros psicoló- • Descuido com a aparência;
gicos pelas pessoas que os acompanham, mesmo que não se-
• Perda ou ganho de peso;
jam profissionais de saúde mental. Essa ação rápida é essencial
para preservar a saúde e a vida do jovem em sofrimento. • Mudança no padrão de sono, ou seja, dormir mais do que es-
tava habituado ou ter dificuldade para dormir ou ainda acor-
Dessa forma, com o objetivo de prevenir o suicídio de
dar de madrugada e não conseguir dormir mais;
adolescentes, Botega (2023) sugere orientar os pais a tirar de
casa ou esconder elementos que possam ser usados no ato sui- • Comentários autodepreciativos persistentes (por exemplo,
cida, como armas, facas, cordas e medicamentos, que devem “sou uma pessoa ruim”; “ninguém vai querer namorar uma
ficar em local que a pessoa não consiga acessar, de preferência pessoa como eu”; “eu sou um peso para os outros”; “só faço
trancado, e com alguém responsável por administrá-los). O autor as pessoas sofrerem”);
também recomenda prestar atenção ao adolescente que geral-
• Comentários negativos sobre o futuro, desesperança;
mente demonstra alguns sinais de alerta relacionados ao risco
de suicídio. Alguns desses sinais são: • Disforia marcante (combinação de tristeza, irritabilidade e
acessos de raiva);
• Mudanças importantes no jeito de ser ou na rotina;
• Comentários sobre morte, sobre pessoas que morreram e in-
• Comportamento ansioso, agitado ou deprimido;
teresse por essa temática;
• Piora no desempenho na escola, no trabalho e em outras ati-
• Doação de pertences que valorizava;
vidades em que costumava ter bons resultados;
• Expressão clara ou velada de querer morrer ou pôr fim à vida.
• Afastamento de família e de amigos;
Na história que vimos anteriormente, Ana passou a demons- ca, gay, bissexual ou transexual; e sofrer discriminação devido
trar bastante irritabilidade, isolou-se e tinha pensamentos mui- à orientação sexual e à identidade de gênero (BOTEGA, 2023).
to depreciativos sobre si: “Eu sou tão magra. Com 14 anos não Nesse último caso, o sofrimento e a ideação suicida também es-
tenho peito, não tenho bunda. Quem vai gostar de mim? Meu tão relacionados à vivência de preconceito e da falta de aceita-
cabelo parece uma vassoura. Nada que eu faço dá jeito nele”. ção da família.
Ela também deixou de fazer coisas de que gostava, como ir à
Existem ainda os fatores que aconteceram perto da ten-
praça (nesse caso, foi um dos fatores que desencadeou o início
tativa ou da ideia de suicídio, que chamamos de fatores preci-
da depressão) e gravar vídeos e postar no TikTok (consequên-
pitantes, por exemplo: exposição a casos de suicídio ou tenta-
cia da depressão). Em sua fala, ela expressa muitos sinais de seu
tivas de suicídio, conflitos familiares, separação dos pais, morte
sofrimento psíquico, os quais resultam em comportamentos que
de um genitor, rompimento de namoro, bullying e cyberbullying,
talvez possam ser vistos pelos adultos como rebeldia ou agressi-
dificuldades escolares, ações disciplinares e problemas legais,
vidade. Toda essa mudança revelava seu grito por socorro, que
sentir-se desonrado ou ter muita vergonha de algo sobre si (por
só foi ouvido tardiamente.
exemplo, ter uma foto de si nu circulando em WhatsApp) e ter
Os fatores de risco de comportamento podem estar re- fácil acesso a um meio letal (BOTEGA, 2023).
lacionados a eventos de vida que contribuíram em longo prazo
A automutilação é um fator de risco para o suicídio, pois
para o risco de suicídio, por exemplo: abuso físico na infância,
é como se uma primeira barreira tivesse sido transposta, isto é, a
violência sexual, abuso de substâncias psicoativas (álcool, ma-
de machucar o próprio corpo, tornando mais fácil uma nova ten-
conha, entre outras); transtorno de estresse pós-traumático (de-
tativa. Destaca-se que os fatores listados, isoladamente, não são
corrente de assalto, estupro, de assistir violência doméstica etc.);
exclusivamente as causas de suicídios, mas as consequências
ter alguém na família que se suicidou; comportamento agressi-
que possam ter causado na vida da pessoa podem impulsio-
vo e/ou impulsivo (agir com frequência sem pensar, às vezes até
ná-la a ter comportamentos de risco. Além disso, é importante
com consequências ruins); perfeccionismo; transtorno depres-
saber que, em geral, a pessoa com ideação suicida tem tanto o
sivo; automutilação; ter tentado suicídio antes; ter sido interna-
desejo de morrer, para acabar com a dor, como o desejo de viver,
do em uma clínica psiquiátrica recentemente; sentir-se enclau-
mostrando uma ambivalência. O apoio social e emocional tem
surado, sem conexão ou um peso; desesperança; transtorno de
como objetivo aumentar o desejo de viver.
identidade de gênero (ter um desconforto com o próprio gênero,
sentindo-se inadequado quando assume esse papel social, e
se identificar com o gênero oposto); identificar-se como lésbi-
Proposição 6 ? passo é abordar, perguntar, querer saber o que está acon-
Por que conversar sobre automutilação e ideação suici- tecendo de maneira acolhedora, empática, dizendo para o
da é importante? Como podemos fazer isso? adolescente que tem percebido algumas coisas e que está
preocupado com ele, que está ali para ajudar e que podem
pensar juntos em saídas para esse sofrimento. Validar o so-
Feedback positivo: frimento e querer saber do que se trata para tentar ajudar
são instrumentos muito valiosos e que qualquer um pode
Poder falar sobre a dor e o sofrimento que está sentindo, ao
utilizar!!
mesmo tempo que quem escuta dá espaço para que o jo-
vem possa falar e se mostra disponível para acolher, ajuda
muito na prevenção desses comportamentos e na possibi-
lidade de as pessoas que sofrem buscarem ajuda. Uma das
primeiras coisas que podemos fazer para ajudar quem está Feedback orientador:
sofrendo – e, por isso, automutilando-se – e está com pensa- É mito achar que conversar sobre suicídio pode desenca-
mentos suicidas é nos informar, buscar informações confiá- dear intenções de tirar a própria vida. Diversos estudos vêm
veis sobre o suicídio, sobre automutilação e sobre crianças e demonstrando a importância de conversar abertamente e o
adolescentes em sofrimento. Querer se informar de maneira mais empaticamente possível com os jovens que lidam com
correta, ou seja, sem informações equivocadas e estigmati- a automutilação e a ideação suicida. A Organização Mundial
zadas, é o primeiro passo. Quando lançamos mão dessas in- da Saúde (OMS), com o objetivo de prevenir e reduzir os ín-
formações, ficamos mais atentos aos comportamentos das dices de suicídio, criou a campanha Setembro Amarelo. Essa
pessoas ao nosso redor, passamos a considerar importante campanha visa dar informações e criar ações para a preven-
qualquer comportamento diferente do habitual, não consi- ção ao suicídio. Existe um material complexo e bem elabora-
deramos mais esses comportamentos como algo que “vai do para ajudar na conscientização e formação das pessoas
passar” nem ficamos mais deduzindo o que pode ser. Tendo sobre a temática. O dia Mundial de Prevenção ao Suicídio é
essas informações, vamos querer aprofundar no que pode o dia 10 de setembro, mas as ações ocorrem durante todo
estar acontecendo, porque sabemos que pode ser algo gra- o ano. Para mais informações sobre as ações do Setembro
ve e que essa pessoa pode estar precisando de ajuda. Outro Amarelo, acesse o site: https://www.setembroamarelo.com/.
A seguir, algumas perguntas que podem ajudar a abor- Na história de Ana, a coordenadora Letícia abordou tanto
dar o assunto. Sempre que uma resposta for positiva, faz-se uma a automutilação como os pensamentos suicidas. Primeiramente,
nova pergunta (BOTEGA, 2023): ela pediu calma à diretora Marli e solicitou que a deixassem sozi-
nha com a adolescente. Em seguida, Marli acompanhou a mãe
de Ana, dona Arlete, até a sala ao lado, onde permaneceram du-
- Alguma vez você já pensou que seria melhor morrer? Já
rante toda a conversa entre Letícia e Ana. Quando estavam so-
pensou em tirar a própria vida?
zinhas, com privacidade e em um ambiente favorável, Letícia e
- Como são esses pensamentos? Ana se sentaram uma do lado da outra e conseguiram iniciar um
diálogo respeitoso. A abordagem da coordenadora foi comple-
- Esses pensamentos te assustam? Você consegue afastá-
tamente diferente da de Marli, que havia tratado Ana como uma
-los?
adolescente inconsequente e que precisava de um puxão de
- Quando esses pensamentos começaram? orelha! Ao contrário, Letícia se mostrou disponível e interessa-
da em ouvir da própria adolescente o que estava acontecendo
- Você pensou em como se matar? Chegou a procurar infor-
com ela, não demonstrando nenhum tipo de julgamento moral
mações sobre como fazer isso?
e preconceito diante dos comportamentos da adolescente nem
- O que motivou a escolha desse método para se matar? a forçando a mostrar as cicatrizes que tinha, o que possibilitou
que Ana falasse sobre si e sobre o que estava acontecendo em
- Você tem acesso a esse método?
sua vida.
- Você chegou a pensar em um local e em uma data para se
matar?
Proposição 7 ? fre por qualquer motivo”, “brigou com a namoradinha e
agora está aí sofrendo”. Isso faz com que o adolescente se
Qual a diferença entre uma abordagem agressiva e uma
torne mais arredio, acuado, recusando qualquer possibili-
abordagem acolhedora? Tem diferença?
dade de fala e ajuda. Estamos chamando de abordagem
sensível e acolhedora aquela que quer de verdade saber
Feedback positivo: o que está acontecendo. A pessoa interrompe o que ela
estiver fazendo para escutar, saber do que se trata do pró-
Ao utilizar o acolhimento e a escuta qualificada, você ajuda-
prio adolescente, sem responder pelo outro e sem trazer
rá a proporcionar um início de intervenção sensível e que
frases prontas e preconceituosas sobre a adolescência,
possibilita outras entradas de ajuda. Com isso, será possível
automutilação e pensamentos suicidas. Só conseguimos
a entrada de outros profissionais e de equipes multidiscipli-
abordar de maneira acolhedora quando queremos saber
nares, assim como ações com as famílias e comunidade.
do adolescente o que ele tem para dizer. Só assim é pos-
sível que ele se abra, sinta-se seguro para dizer o que está
acontecendo, o que tem feito e o que tem pensado.
Feedback orientador:
Há muita diferença. Estamos chamando de abordagem
agressiva a abordagem feita de forma ríspida, que muitas
vezes envolve toque no corpo do adolescente que está
passando pela situação, gritos, conclusões precipitadas e
preconceituosas (“adolescente só faz isso para chamar a
atenção”, “suicídio é um ato de fraqueza”) e resposta sem o
conhecimento do que está acontecendo. Geralmente, essas
posturas acontecem na frente de outras pessoas. Quem está
na situação de sofrimento é exposta, ficando mais vulnerá-
vel ainda. Outra forma equivocada de abordagem é a que
tenta naturalizar e/ou minimizar o sofrimento. A pessoa que
faz essa abordagem acha que o adolescente “é assim mes-
mo, cheio de crise e frescura”, “não quer saber de nada”, “so-
No caso de Ana, a motivação principal que levou ao di- As seguintes perguntas podem ser feitas:
álogo da adolescente com a coordenadora Letícia foi a auto-
• Machucar-se faz com que você se sinta melhor?
mutilação. A fala sobre os pensamentos de morte e as ideações
suicidas vieram depois. Cabe destacar, como já falamos anterior- • Que tipo de situação ou coisas fazem você pensar em se ma-
mente, que a pessoa que se automutila não quer acabar com a chucar?
própria vida, mas usar essa ação para aliviar alguma dor emo-
• Quando você começou esse comportamento? Sabe dizer
cional ou desconforto ou para impactar, de alguma maneira, o
por quê?
ambiente ao seu redor, seja para obter atenção e apoio nas re-
des sociais, seja para sentir-se pertencente a um grupo que tem • Quais motivos, nessa época, fizeram você considerar a possi-
a mesma prática. Contudo, no caso de Ana, há um agravamento bilidade de fazer a automutilação?
contínuo dos comportamentos de risco, já que, além das auto-
• Qual a função da automutilação em sua vida atualmente?
mutilações, ela apresenta também pensamentos de morte e von-
tade de morrer. • Em quais regiões do seu corpo você costuma se machucar?
Assim, Aratangy (2017) pontua que, de forma semelhante • Que objetos você geralmente usa para fazer essas lesões?
ao que acontece nos casos de ideação e tentativa de suicídio,
• O que você faz para cuidar de seus ferimentos?
na automutilação, em geral, há um transtorno mental, bem como
outros fatores de risco. Ao identificar que o adolescente está se • Alguma vez você se machucou mais gravemente do que pla-
cortando, o autor sugere que a pessoa comece a conversa so- nejava?
bre automutilação de forma respeitosa e sem julgamentos. Você
• Seus ferimentos já infeccionaram?
pode iniciar com falas como: “Estou preocupado/a com você e
gostaria de ajudá-lo/a”; “Estou preocupado/a com você”; “Tenho • Você já procurou ajuda médica por causa de seus ferimen-
visto cicatrizes em seus braços e pensei se você não estaria pro- tos?
vocando esses ferimentos”; “Se eu estiver certo/a, gostaria que
você soubesse que pode falar sobre isso comigo”; “Se você não
quiser falar para mim, eu espero que encontre alguém em quem
confie para conversar” (ARATANGY, 2017, p. 39).
A automutilação pode ser vista como uma dificuldade em • Cuidar de animal de estimação, cozinhar, ler, ouvir música,
regular emoções intensas, isto é, é a forma que o adolescente tocar instrumento;
encontrou para lidar com a dor. Aratangy (2017) nos dá algumas
• Praticar atividade física;
dicas sobre como auxiliar o adolescente em um desses momen-
tos, especialmente quando ele sente o desejo de se automutilar. • Escrever pensamentos e sentimentos em um diário.”
Essas dicas têm o objetivo de aplacar a crise temporariamente,
Ao serem identificados, na escola, muitos casos de ado-
até que os cuidados de longo prazo possam ser acionados, por-
lescentes que se cortam ou que têm ideação suicida, é possível
que é preciso intervir naquilo que está na base da automutilação,
se inspirar no projeto do Centro Educacional Gesner Teixeira, es-
conforme visto anteriormente nos fatores de risco para a automu-
cola pública na Cidade Nova DVO, no Gama, a 42 km do centro
tilação. Portanto, as ações a seguir visam tão somente amenizar
de Brasília, conforme noticiado na mídia. Mediante pedido de
o desejo e o impulso de se machucar enquanto uma intervenção
ajuda de uma estudante, a escola se propôs a fazer uma ação.
mais global e especializada não é iniciada (ARATANGY, 2017, p.
A adolescente convidou para ação amigas e outras pessoas co-
44-45):
nhecidas da escola que ela sabia que se cortavam ou que tinham
• “Escrever na própria pele com caneta (estímulo tátil sem cau- ideação suicida. Foram desenvolvidas: rodas de conversas, ini-
sar danos à pele); cialmente direcionadas para os estudantes com depressão, que
se autolesionavam e que tinham ideação suicida, e posterior-
• Esfregar borracha nos locais em que costuma se machucar
mente ampliadas para outros temas em saúde mental, como os
(estímulo tátil sem causar danos à pele);
casos de bulimia, anorexia, timidez. Também envolveu os familia-
• Segurar uma pedra de gelo ou esfregá-la nas áreas em que res que se dispuseram a participar.
costuma se machucar (estímulo físico e desconforto, sem
causar danos à pele); Saiba mais
Para saber um pouco mais sobre o projeto no
• Escrever, desenhar ou pintar, quando o adolescente gosta
Gama, acesse este link ou clique no ícone ao lado.
dessas atividades; clique e
acesse
“Pode falar!” – vamos falar sobre isso? e sobre quanto é importante estarmos atentos aos sinais que o
corpo e a mente podem expressar quando não estamos bem.
Muitos elementos do plano de segurança foram trabalha-
dos com Ana pela coordenadora Letícia: ela falou sobre o CVV, le- O canal Pode Falar, então, surge com a proposta de ouvir o que
vantou possibilidades de ações que a adolescente poderia fazer os adolescentes e jovens estão sentindo em razão das suas per-
para regular as emoções decorrentes da crise e analisou com Ana cepções e permite que todos os usuários desse serviço se ex-
os motivos para viver. Letícia percebeu que Ana precisava falar e pressem sem medo e se sintam seguros e confiantes para desa-
ouviu com toda a atenção e carinho possível. Às vezes, as pesso- bafar. Isso é possível porque o adolescente pode escolher não
as só precisam falar, só precisam ser ouvidas. Percebendo isso, a se identificar, ou seja, muitas vezes, a pessoa que realiza a escu-
coordenadora pedagógica indicou para Ana o canal Pode Falar. ta não sabe sequer a cidade ou o estado de onde o jovem fala.
Esse canal é uma iniciativa que surgiu com a proposta de oferecer Além disso, não há a garantia de que a mesma pessoa atenda o
escuta acolhedora a adolescentes e jovens que precisam falar so- jovem caso ele ligue mais de uma vez.
bre seus sentimentos, mas não confiam em outras pessoas para
O atendimento do canal conta com um grupo de volun-
isso, têm medo do que vão ouvir e não querem se expor.
tários e está disponível 24 horas por dia por meio de chat. Caso
Muitas vezes, o jovem não consegue reconhecer uma o adolescente sinta a necessidade de falar mais especificamente
pessoa do seu círculo social em que possa confiar para com- sobre o seu sofrimento, ele pode ser encaminhado para um pro-
partilhar seu sofrimento. Em outras situações, as pessoas não fissional especializado em saúde mental. O Pode Falar tornou-se
expressam seus sentimentos por terem medo de julgamentos. um programa durante a pandemia, em 2020. O atendimento in-
A fala permite ao ser humano expressar suas percepções sobre dividual funciona em regime de plantão e conta com muitos e
si mesmo e/ou sobre o que está a sua volta. Os sentimentos tra- importantes parceiros. As mesmas instituições realizam a super-
duzem as percepções do que acontece com o corpo enquanto visão técnica de suas respectivas equipes. Existe um cronogra-
uma emoção ocorre. A palavra sentir, etimologicamente, traduz ma com todos os horários, e essa iniciativa está sendo abraçada
essa ideia de dar sentido a algo que ocorreu ou ocorre no corpo por diferentes universidades públicas. É importante ressaltar que
(SOUZA et al., 2020). não é um atendimento psicológico, mas todos os atendentes
estão preparados, pois recebem treinamentos sobre diferentes
O curta animado da ALIKE: https://www.youtube.com/
temas em saúde mental. Você pode saber mais sobre o projeto
watch?v=K4Foovfdb-E&t=3s, que permite várias reflexões sobre
clicando no link: https://www.podefalar.org.br/.
a educação e o trabalho, também nos possibilita refletir sobre a
importância das emoções, as diferentes formas de se expressar
O acolhimento e a escuta: apenas esses espaços são responsáveis por esse acolhimento e
intervenção. Além disso, essas questões não vão surgir apenas
Proposição 10 ?
Você sabia que a forma de acolher e de escutar quem
está em sofrimento psíquico pode ajudar muito mais do
que se imagina?
Feedback positivo:
A forma como acolhemos o sofrimento do outro e como es-
cutamos (sem julgamento) pode ajudar muito as pessoas
com sofrimento psíquico. O fato de você se propor a ouvir
e compreender a dor alheia pode fazer toda a diferença, e
essa sensibilidade não se restringe apenas aos profissionais
de saúde. Lembre-se de que alguns atendimentos consi-
derados menos graves podem ser realizados nas escolas,
centros comunitários e ONGs ou, ainda, pelos serviços da
Atenção Primária, como as Unidades Básicas de Saúde.
Feedback orientador:
O Ministério da Saúde lançou, em 2009, a cartilha Humaniza
SUS com o objetivo de orientar as pessoas sobre maneiras
de cuidar utilizando tecnologias simples e acessíveis a to-
dos. Operando com o princípio da transversalidade, o Hu-
maniza SUS lança mão de ferramentas e dispositivos para
consolidar redes, vínculos e a corresponsabilização entre
usuários, trabalhadores e gestores. Ao direcionar estratégias
e métodos de articulação de ações, saberes e sujeitos, po-
de-se efetivamente potencializar a garantia da atenção inte-
gral, resolutiva e humanizada (BRASIL, 2009).
- Tranquilizar o adolescente, dizendo que ele está seguro e que No caso de Ana, quando Letícia, a coordenadora peda-
estamos ali para ouvi-lo. É possível dizer: “Eu imagino que aconte- gógica da escola, ouviu o relato de Mara, mãe de Mônica (colega
ceu algo muito ruim que te deixou assim. Estou aqui para te ajudar. de sala de Ana), que falou sobre os comportamentos de se cortar
Você pode me dizer o que está acontecendo para que eu possa te de Ana, ela se preocupou e foi conversar com a mãe de Ana e
ajudar? Você pode confiar em mim”; com a própria Ana. Ela usou, nesse momento, dois recursos mui-
to valiosos: o acolhimento e a escuta.
- Levá-lo para um lugar confortável, calmo e seguro, porém que
não seja isolado; sem objetos que o adolescente possa usar para Acolher tem vários significados: aceitar, dar ouvidos, dar
se machucar ou para machucar outras pessoas (tanto objetos que crédito, admitir, receber, agasalhar, entre outros, e pode ser visto
podem perfurar, como que podem ser jogados). Pode-se pergun- como ato ou efeito de aproximação, de “estar com” ou “estar per-
tar ao adolescente se ele se sente confortável no local; to de” (CUNHA, 2014). Pensar no acolhimento dessa forma per-
mite-nos pensá-lo como uma ação que difere de apenas cumprir
- Conversar com ele com tom de voz suave, mantendo certa distân-
um protocolo ou técnica quando alguém chega a um serviço
cia para que ele não se sinta intimidado;
solicitando alguma ajuda, sendo o conceito de triagem o mais
- Ficar sempre de frente para ele, deixar as mãos visíveis e manter apropriado nesse contexto, e às vezes as pessoas o confundem
movimentos tranquilos; com o de acolhimento. Enquanto a triagem segue um formulário
e um protocolo, cumprindo objetivos específicos e criando uma
Feedback orientador:
O trabalho em rede transcende nomear serviços e pessoas.
Significa juntar-se a todas as outras pessoas e serviços exis-
tentes no território que poderão complementar o cuidado
e ajudar na melhora do sofrimento psíquico das crianças e
adolescentes, cada qual com o seu conhecimento, tecno-
logia e, principalmente, interesse e disponibilidade. Em ou-
tras palavras, fazer um trabalho em rede não é encaminhar
a criança e/ou adolescente para outros serviços ou espe-
cialidades nem simplesmente se propor a escutar e ajudar.
Significa unir forças e conhecimentos que possam colabo-
rar para a melhora na qualidade de vida dessas crianças e
adolescentes.
A escuta qualificada é, então, uma ferramenta que toda cuidado das crianças e adolescentes também foi se expandindo.
pessoa pode desenvolver e não é uma exclusividade do médi- A escola, por exemplo, é um lugar de protagonismo na vida de
co, nem do psicólogo, nem de qualquer outro profissional. Toda crianças e adolescentes e pode realizar importantes projetos no
pessoa pode ouvir atentamente e com interesse alguém que cuidado à saúde mental dessa população. Cid et al. (2019) refor-
muitas vezes está precisando falar. Maynart et al. (2014) esclare- çam que a escola é um dos principais contextos da vida de crian-
cem que a escuta qualificada é uma ferramenta leve que envolve ças e adolescentes na atualidade, tendo, assim, um caráter psicos-
o diálogo, o vínculo e o acolhimento, favorece a compreensão social relevante que deve ser assumido e explorado.
do sofrimento psíquico considerando a própria pessoa, valori-
As crianças e adolescentes percebem a escola como um
za as experiências e atenta para suas necessidades e diferentes
ambiente de convivência, de manifestação de vínculos afetivos,
aspectos que compõem seu cotidiano. Nesse caminho, Santos
comunitários e de relações sociais (SOUZA; PANÚNCIO-PINTO;
(2019) assinala que a escuta qualificada se constitui em uma fer-
FIORATI, 2019). O ambiente escolar propicia condições de ob-
ramenta capaz de revolucionar a lógica tradicional do cuidado
servação e acompanhamento do desenvolvimento das crianças,
em saúde mental no âmbito da Atenção Primária.
bem como o acompanhamento da sua saúde física e mental (FI-
Em um primeiro momento, podemos achar que isso é GUEREDO; ABREU; SOUZA, 2021). A escola é uma das institui-
fácil ou que todos fazem isso de alguma forma, mas não! Até ções que podem despertar a curiosidade por coisas novas e por
pouco tempo, quando alguém falava que não estava bem, que projetos de vida. Assim como as UBS, a escola pode contar com
estava triste, que não queria mais viver ou tivesse algum com- todos os profissionais que fazem parte da equipe de cuidadores,
portamento diferente do que a sociedade impõe como sendo o desde o porteiro até o diretor.
certo, esse alguém era colocado nos lugares que tratavam essas
Nesse sentido, a escola pode inserir no Projeto Pedagó-
pessoas como “loucas”. Nesses lugares, conhecidos como ma-
gico ações que promovam e previnam o sofrimento psíquico.
nicômios, as pessoas não eram ouvidas, não podiam falar, nem
Também pode criar parcerias e projetos com outros setores e dis-
mesmo com os profissionais. Hoje, temos os espaços de trata-
ponibilizar atividades que agradem as crianças e os adolescen-
mento, que têm uma lógica completamente diferente da época
tes, assim como espaços que ofereçam às crianças, adolescen-
dos manicômios. São espaços mais humanizados, que acolhem
tes e jovens a oportunidade de expressar seus sentimentos sem
e escutam as pessoas que sofrem.
terem medo. Aliás, é importante que os educadores incluam os
Após vários movimentos que buscaram por direitos da po- estudantes no planejamento e desenvolvimento dessas ações,
pulação, como a Constituição de 1988, a reforma sanitária, a refor- sendo essa uma potente parceria. Enfim... todos nós podemos
ma psiquiátrica e o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), o ajudar! Todos podemos desenvolver atitudes, como o acolhi-
Feedback orientador:
A escuta qualificada tem potencial terapêutico quando rea-
lizada e contribui para a melhoria da atenção centrada na
pessoa com transtorno mental. Podemos permitir que a pes-
soa se expresse e consiga verbalizar seu sofrimento, que se
sinta segura e confiante durante sua fala. Podemos fazê-la
Proposição 12 ? perceber que seus problemas podem ser solucionados ou,
A escuta é muito mais potente do que se possa imaginar! ao menos, pormenorizados. O falar é terapêutico e contribui
Quanto uma simples escuta pode ajudar? para a melhora da dor emocional.
A escuta qualificada, quando compreensiva, paciente dades e peculiaridades. Ao acolher e escutar os jovens, a pessoa
e acolhedora, tem um grande potencial para ajudar a prevenir, deve percebê-los como um todo e, mesmo quando procurada
tratar ou diminuir sofrimentos que apresentam indicadores que pelo adoecimento – no caso de Ana, por algo grave e com risco
podem ser considerados “normais”, “complicados” ou como –, deve saber que, para além dos comportamentos que causam
“casos graves”. A partir do momento que você passa a ouvir a uma estranheza e aflição que podem fazer a pessoa se perguntar
pessoa com atenção, carinho, respeito e sem julgamento, você “o que vou fazer com isso?”, existe uma pessoa com história e ex-
tem grande chance de criar um vínculo na relação, que faz toda periências e todas as questões que a vida pode provocar.
a diferença. Por meio da escuta qualificada é possível construir
Como você já pode deduzir, posturas preconceituosas e
um vínculo na relação de quem está falando com quem está
autoritárias, como as de Marli, provocam um distanciamento dos
ouvindo. Por meio da escuta é possível ouvir o ser humano para
jovens, como aconteceu com Ana. Ela tenta se afastar para que
além de suas palavras. A pessoa passa a ser ouvida também por
Marli nem mesmo consiga tocar nela. Outro fator que pode difi-
seus gestos, emoções etc.
cultar a criação do vínculo com o adolescente é a falta de privaci-
dade. Não haver no local um espaço privado para falar de si, de
suas questões, pode levar o jovem a se esquivar completamente.
A reação da diretora Marli não é diferente da de outras muitas
pessoas. Geralmente, os profissionais que atendem as pessoas
que tentam cometer suicídio carregam consigo alguns precon-
ceitos ou não são preparados para o acolhimento, fatores que
atrapalham o atendimento das pessoas com sofrimento psíquico.
Vidal e Gontijo (2013) descrevem que nem sempre as equipes
aproveitam a oportunidade para acolher as pessoas que tentam
o suicídio, seja pelas características do serviço de emergência,
Fonte: Pixabay seja por despreparo e dificuldade para lidar com pacientes com
ideação suicida, e, como consequência, os jovens percebem
Maynart et al. (2014) comentam que, a partir do momento esse comportamento dos profissionais de forma negativa, levan-
que se realiza uma escuta qualificada, é possível perceber a sen- do a respostas negativas quanto ao cuidado oferecido.
sibilidade do ser humano e os resultados diretos no seu tratamen-
Letícia, a coordenadora pedagógica da escola, desem-
to. O acolhimento e a escuta ao adolescente têm suas particulari-
penhou muito bem sua escuta: ela conseguiu criar condições
para que Ana pudesse desabafar, conversar e abrir seu coração Além da escuta qualificada, a coordenadora Letícia de-
contando sobre os seus sentimentos e aquilo que estava lhe cau- monstra uma comunicação não violenta (CNV), isto é, um jeito de
sando dor. Em nenhum momento a coordenadora julgou, brigou conversar com as pessoas buscando compreendê-las e desen-
ou diminuiu o sofrimento de Ana. Pelo contrário, durante a escuta, volver colaboração. A CNV envolve expressar “como eu estou”,
nem mesmo quis apresentar uma saída rápida e imediata do tipo sem culpar ou criticar. Ela também engloba receber, de forma
“não fique assim”, “deixa disso”. Ao contrário, Letícia conseguiu empática, “como você está”, sem recriminar ou criticar. Ela se
perceber quais eram os indicadores que poderiam levar Ana a constitui de quatro componentes:
pensar em desistir de viver. Além disso, pediu que Arlete, mãe de
1. Observações: o que eu vejo e ouço que contribui ou não para
Ana, e Marli, a diretora, as deixassem a sós, dando privacidade
o meu bem-estar. Em vez de interpretações, busco descrever o
para que Ana pudesse dizer o que a afligia. “Quando a escuta é
que vi ou ouvi;
permeada de liberdade de expressão, torna-se decisiva para o
tratamento” (MAYNART et al., 2014, p. 303). 2. Sentimentos: como me sinto em relação ao que observo;
A escuta acolhedora fortalece os laços vinculares. A pes- 3. Necessidades: o que eu preciso ou o que é importante pra
soa em sofrimento consegue expressar seu sofrimento, suas an- mim;
gústias, suas necessidades, seus medos, suas dúvidas e seus
4. Ações concretas que eu gostaria que ocorressem, isto é,
afetos. Com relação à saúde mental, proporciona a sensação de
como eu gostaria que você agisse (ROSENBERG, 2006).
alívio e contribui para a elaboração de estratégias para resolução
dos conflitos (MAYNART et al., 2014; SANTOS, 2019). Uma escuta
aberta e sincera pode ajudar a identificar os indicadores de sofri-
mento que podem levar a pessoa a atentar contra a própria vida
por estar sofrendo. É preciso estar disponível para ouvir o ado-
lescente e o jovem por estarem em uma fase peculiar do desen-
volvimento, como apontado no módulo 1, e ações que ajudem
a se sentirem seguros e acolhidos podem prevenir ou diminuir o
sofrimento.
“Filha, tenho percebido que você anda mais quieta, tem “Mãe, eu tenho reparado que, quando começo a falar
conversado menos e passado mais tempo no quarto” – coisas do meu dia ou sobre como estou me sentindo,
OBSERVAÇÃO. você me ouve um pouco e logo começa a fazer algu-
ma coisa, como olhar no celular ou arrumar a louça”
– OBSERVAÇÃO.
“Eu fico com medo de estar acontecendo algo ruim com
“Eu me sinto triste e que não sou importante para
você que esteja te afastando” – SENTIMENTOS.
você” – SENTIMENTOS.
Outro elemento que favorece a comunicação e diminui sentindo alguma emoção, estar ao lado dela, dando apoio, sem
conflitos é a empatia. Ela pode ser dividida em duas formas: em- julgá-la, apenas acolhendo e mostrando que estou disponível
patia cognitiva e empatia afetiva. caso ela precise (VAN LISSA; HAWK; MEEUS, 2017).
A empatia cognitiva envolve distanciar-se do calor da dis- Esses exemplos nos fazem compreender que a empatia
cussão e considerar a perspectiva do outro, isto é, pensar sobre pode ser desenvolvida e que, além de trabalhar essa habilida-
os motivos que podem levar a outra pessoa a se sentir de uma de com os adolescentes, podemos envolver os pais, visto que,
determinada maneira, por exemplo: um pai proíbe o filho de ir a muitas vezes, eles demonstram dificuldade em ouvir o ponto de
uma festa a que a maioria dos amigos da escola vai. Empatia cog- vista dos filhos. Dessa maneira, diminuir-se-iam as sensações de
nitiva seria o adolescente refletir sobre os motivos pelos quais o desamparo e solidão vivenciadas pelos jovens, que tendem a se
pai disse não: medo de que o filho use drogas, dificuldade para relacionar a comportamentos autolesivos e ideação suicida. Se
buscá-lo no final da festa, véspera de um dia de prova etc. Por o diálogo, por meio da escuta empática e CNV, acalmou o ado-
outro lado, o pai poderia buscar compreender por que aquela lescente, sugere-se pedir autorização a ele para chamar os pais
festa é importante para o filho: a maioria dos amigos estará lá, para explicar o que está acontecendo ou, ao menos, dizer que o
sentir que o pai confia nele, encontrar a pessoa que está queren- adolescente precisa de ajuda. Em seguida, é importante realizar
do namorar etc. A empatia cognitiva pode reduzir o comporta- o encaminhamento para o local apropriado, conforme a dificul-
mento negativo, promover a escuta e ajudar as pessoas a alcan- dade (Unidade de Pronto Atendimento – UPA, Unidade Básica de
çarem resultados benéficos para ambos os lados. Também inibe Saúde – UBS, hospitais, Centro de Atenção Psicossocial Infanto-
a escalada agressiva (falar mais alto, gritar, jogar coisas etc.) em juvenil – CAPSi, avaliação com psiquiatra, indicação para psico-
resposta à provocação e aumenta a sensibilidade interpessoal. terapia, entre outros).
Em 2011, o Ministério da Saúde, por meio da Portaria MS/ pelos estabelecimentos públicos e privados de saúde e ensino.
GM no 104, de 25 de janeiro (BRASIL, 2011) (https://bvsms.sau- A lei determina ainda que, “nos casos que envolverem criança
de.gov.br/bvs/saudelegis/gm/2011/prt0104_25_01_2011.html, ou adolescente, o conselho tutelar deverá receber a notificação”
disponível em 11 out. 2022), estabeleceu a definição e relação (BRASIL, 2019).
de doenças, agravos e eventos em saúde pública que deveriam
ser notificados obrigatoriamente e estabeleceu fluxo, critérios,
responsabilidades e atribuições aos profissionais e serviços de
saúde. Letícia explicou para Ana que a notificação compulsória é
a comunicação obrigatória à autoridade de saúde, que é realiza-
da por profissionais ou responsáveis pelos estabelecimentos de
saúde, públicos ou privados, sempre que há suspeita ou certeza
de doença, agravo ou evento de saúde pública, e ressaltou que,
no caso de crianças e adolescentes, a notificação é obrigatória.
Esse documento pode ainda ajudar com informações e indicar
riscos aos quais as pessoas estão expostas.
o cuidado: a Clínica Ampliada, preciso estar aberto a acolher o sofrimento, a ouvir com interesse
e a construir saídas coletivas. O cuidado passa a ser ampliado e
o Projeto Terapêutico Singular compartilhado com todos os atores, como as famílias, os jovens,
os educadores, as instituições, entre outros atores, que se cor-
e o Apoio Matricial
responsabilizam pelo cuidado. O objetivo é buscar a ajuda em
outros setores, assumindo os limites do conhecimento dos pro-
fissionais e das tecnologias por eles utilizadas (BRASIL, 2007).
A clínica ampliada é uma das diretrizes da Política Nacio-
nal de Humanização (PNH). Entre os principais objetivos da clíni- Vários serviços, profissionais e pessoas que compõem
ca ampliada está o de evitar formas de cuidado que restringem o território podem ajudar, e muitas estão bem próximas a nós,
excessivamente algum conhecimento ou dimensão, como os como os serviços e as pessoas que compõem a Rede de Aten-
aspectos biológicos. Ela busca promover a articulação dos sabe- ção Psicossocial (RAPS) (descrita no módulo 4), de Educação, de
res envolvidos, considerando todos os aspectos que envolvem Segurança Pública, de Assistência Social, além das lideranças
o ser humano: os biológicos, os individuais, a integralidade e a comunitárias e até mesmo os jovens. Nessa direção, Sundfeld
determinação social dos fenômenos da saúde e doença, ou seja, (2010) explica que a noção de território é fundamental para as
engloba o todo. Nesse caminho, propõe um cuidado alinhado ações de promoção de saúde, pois não se restringe a um espaço
entre a comunidade, os cuidadores e o ser humano que está sen- geográfico ou a uma área física delimitada. Em outras palavras,
do cuidado, garantindo seu papel ativo na construção e direcio- trata-se de um espaço habitado, marcado pela subjetividade hu-
namento do seu próprio tratamento (BRASIL, 2009). mana, pelas relações afetivas, relações de pertencimento (SUN-
DFELD, 2010).
Curvo et al. (2018) referem que a ampliação da clínica
permite que os sujeitos que estabelecem a relação de cuidado, A clínica ampliada promove, portanto, tanto a articulação
tanto os profissionais quanto os usuários dos serviços de saúde, e o diálogo entre diferentes saberes para a compreensão dos
sejam considerados como seres em processo, singulares, que se processos de saúde e adoecimento como a inclusão dos usuá-
transformam nos encontros que estabelecem. Além do mais, aju- rios como cidadãos participantes das condutas em saúde, inclu-
da a integrar outros profissionais, serviços e pessoas que estão sive da elaboração de seu projeto terapêutico, e não desvaloriza
dispostos a acolher quem está em sofrimento, tornando-se, as- nenhuma abordagem disciplinar. Ao contrário, busca integrar
sim, uma clínica ampliada e compartilhada. Dessa forma, todos várias abordagens para possibilitar um manejo eficaz da comple-
xidade do trabalho em saúde, que é necessariamente transdisci- cesso é importante para que a pessoa que está recebendo o cui-
plinar e, portanto, multiprofissional (BRASIL, 2009). Nesse viés, a dado perceba que pode ter sua identidade de volta, que pode
clínica ampliada permite compartilhar e ampliar o cuidado e as escolher fazer as coisas de que gosta e aos poucos ir incluindo
possibilidades e integra serviços e pessoas visando à melhora outras atividades que ajudem no cuidado.
na qualidade de vida de quem é cuidado. Propõe um cuidado
O PTS é um conjunto de propostas de condutas terapêu-
focado na corresponsabilização de todos e engloba os diferen-
ticas articuladas para um sujeito individual ou coletivo, resultado
tes aspectos da pessoa que está sendo cuidada: “Clínica do su-
da discussão coletiva de uma equipe interdisciplinar, com apoio
jeito: essa é a principal ampliação sugerida” (CAMPOS; AMARAL,
matricial, se necessário (SILVA et al., 2013). Nessa direção, o
2007, p. 852).
Apoio Matricial é pensado como uma possibilidade de ampliar o
Outra tecnologia importante no cuidado é o Projeto Tera- cuidado, pois propõe um cuidado supervisionado sem anular ou
pêutico Singular (PTS) (https://www.scielo.br/j/reben/a/BCtyHw- excluir nenhum participante do contexto. Assim, o “apoio” passa
C4h9TFqfNKVtfTKLw/?format=pdf&lang=pt, disponível em 11 a ser compreendido como uma tecnologia de gestão denomina-
out. 2022), que pode ser entendido como uma estratégia de cui- da “apoio matricial”, que une o processo de trabalho em equipes
dado que articula e integra um conjunto de ações que resulta da de referência (BRASIL, 2009).
construção em grupo de uma equipe multidisciplinar que obser-
O apoio matricial (https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publi-
va as necessidades e expectativas da pessoa ou da comunidade
cacoes/guia_pratico_matriciamento_saudemental.pdf, dispo-
para a qual está sendo proposto (BRASIL, 2007). O PTS envolve
nível em 11 out. 2022) amplia a rede de serviços substitutivos,
um conjunto de propostas e condutas terapêuticas articuladas
colabora com as pessoas e diferentes lugares que disponibilizam
para atender quem precisa de cuidado, família ou coletividade.
o cuidado, ajuda a melhorar o andamento das ações que foram
Tem como objetivo elaborar estratégias de cuidado, contando
pensadas como propostas de atenção e contribui com o apren-
com os recursos da equipe, do território, da família e do próprio
dizado de quem cuida, com o objetivo de ampliar o acesso e os
sujeito, e envolve uma pactuação entre esses mesmos atores
cuidados em saúde mental (CONSELHO FEDERAL DE PSICO-
(HORI; NASCIMENTO, 2014).
LOGIA, 2022). Assim como as outras tecnologias disponíveis, o
Essa tecnologia coloca a pessoa que precisa de cuidado apoio matricial é o envolvimento de outros serviços do território
como protagonista das decisões dos encaminhamentos. Letícia no cuidado. Esse apoio técnico pode ser encontrado nos servi-
conseguiu iniciar a elaboração do PTS junto com Ana quando ços que realizam o atendimento e acompanhamento das pesso-
perguntou do que gostava. Propôs adotar o cachorrinho, retor- as em sofrimento mental. Os profissionais podem capacitar ou-
nar a fazer os vídeos no TikTok e retomar as amizades. Esse pro- tros agentes e ampliar o acesso e os cuidados em saúde mental.
Além de capacitar, essa técnica também inova a forma de cuidar. que realmente acontece. No entanto, o mais importante é apren-
Você pode solicitar apoio de profissionais dos serviços que reali- der, é ter o conhecimento para que você possa saber o que fazer,
zam o cuidado em saúde mental e incluir no projeto terapêutico e isso faz toda a diferença.
singular atendimentos compartilhados. Além de facilitar o apren-
Lembre-se de que você tem em suas mãos fortes tecno-
dizado, contribui para o cuidado do adolescente/jovem quando
logias que podem ajudar quem precisa. Não tenha medo! Ao
você perceber situações que vão gerar insegurança, quando
utilizar o acolhimento, a escuta qualificada, a clínica ampliada, o
não souber o que fazer. Algumas ações conjuntas podem incluir
projeto terapêutico singular e o apoio matricial, você se empode-
discussão do caso, leituras, análises de discursos, ações interse-
rará, ou seja, desenvolverá e aprimorará habilidades importantes
toriais, entre outras. Você pode pedir ajuda a outros profissionais
para o cuidado de quem precisa.
para poder ajudar a pessoa que você está atendendo. Uma boa
forma de começar é organizando um encontro, uma reunião para Nesse sentido, o curta animado A Lua (disponível em:
se conhecerem e conversarem sobre as situações vivenciadas https://youtu.be/MJC9mYJfUPk) nos permite refletir sobre a pos-
no território (RIGOTTO; SACARDO, 2020). Você pode saber um sibilidade de realizar um trabalho em equipe em que cada um
pouco mais sobre o assunto lendo a cartilha da PNH, disponível pode colaborar com a tecnologia que tem, de que se apropria,
no link a seguir: https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/cli- e, assim, todos são importantes no processo de cuidado; e nos
nica_ampliada_2ed.pdf ensina a perceber a importância da escuta quando a criança ou
o adolescente têm algo a nos dizer, até mesmo nos ensinar. Por
É importante ressaltar que todas as tecnologias leves
vezes, não escutamos o que as crianças e os adolescentes têm a
apresentadas até aqui compõem as diretrizes da Política de Hu-
nos dizer e acabamos ignorando o seu conhecimento, suas per-
manização do SUS, contudo precisamos alertar que muitas ve-
cepções.
zes não são utilizadas e, quando isso ocorre, podem gerar certas
dificuldades de acesso ao cuidado em saúde mental. Não esta-
mos querendo dizer com isso que não adianta tentar. NÃO! NÃO
MESMO! Não se trata disso. O que estamos querendo é esclare-
cer ou mesmo subsidiar as suas ações no cuidado da criança e
do adolescente caso você se depare com algumas dificuldades
existentes no fluxo de funcionamento dos atendimentos em saú-
de mental. Geralmente, deparamo-nos com encaminhamentos
permanentes. Às vezes, pode acontecer de a pessoa ser encami-
nhada de um lugar para o outro sem ter sua demanda atendida, o
Módulo: Cuidados psicossociais nas adolescências e juventudes
49
Curso de Aperfeiçoamento em Saúde Mental
e Atenção Psicossocial de Adolescentes e Jovens
O fortalecimento de vínculos: guns dos membros da família, em especial com a criança e com
o adolescente que estão tendo comportamentos de risco. Entre-
familiares e comunidade chem em seu próprio mundo. A tendência a ficar mais fechados
e reclusos e a busca de refúgio nos próprios pensamentos e nas
redes sociais se fazem muito presentes, fazendo com que o di-
O momento da infância e da adolescência não afeta ape-
álogo com os familiares seja desafiador, mas ainda assim muito
nas os indivíduos que estão passando por ele, mas também todo
importante, “pois é justamente nesse período que eles mais ne-
o entorno deles, pois afeta as pessoas que convivem diretamente
cessitam da orientação e da compreensão dos pais, sendo que
com as crianças e os adolescentes, principalmente a família, e os
todo o legado que a família transmitiu aos mesmos desde a infân-
locais que eles frequentam cotidianamente, em especial o pró-
cia continua sendo relevante” (PRATA; SANTOS, 2007, p. 254).
prio território e as escolas. A infância e a adolescência dos filhos
influenciam diretamente o funcionamento familiar, constituindo- Além da família, conviver com pessoas da comunidade,
-se, portanto, processos que demandam um conhecimento do ocupar os espaços de lazer e ter amizades é considerado saudá-
que pode estar acontecendo com aquela criança e adolescente vel para todos nós. E claro que o diálogo também pode ocorrer
naquele momento de vida para que a convivência não se torne nesses espaços de convívio, como a escola, que tem uma im-
o tempo todo difícil, conflituosa e dolorosa tanto para as crian- portância significativa na vida de crianças e jovens. Assim, temos
ças e adolescentes quanto para seus familiares, já que “a família sempre que pensar, quando estamos acolhendo uma criança ou
não é constituída pela simples soma de seus membros, mas um um adolescente, que ele não está sozinho, porque existem ou-
sistema formado pelo conjunto de relações interdependentes no tras pessoas que se relacionam com ele.
qual a modificação de um elemento induz a do restante, transfor-
mando todo o sistema” (PRATA; SANTOS, 2007, p. 253). Dessa forma, cabe destacar que o acolhimento exclusi-
vo a crianças e a adolescentes se mostra insuficiente quando
Assim, uma ferramenta importante, tanto no contexto fa- existem demandas que envolvem várias esferas, como a saúde
miliar quanto em outros, é o diálogo. A escuta acolhedora pode mental, abuso sexual, violências, entre outros. No caso de Ana,
contribuir para a diminuição de conflitos entre os jovens e os fa- foram fundamentais o acolhimento e a escuta de Arlete, sua mãe,
miliares e ajudar a esclarecer o que está acontecendo com al- uma mulher que também já havia sofrido e ainda sofria diversas
Para esse fortalecimento de vínculos, existe o Serviço de Oficinas com Famílias: as oficinas com famílias têm por intuito
Convivência e Fortalecimento de Vínculos (SCFV), que está vin- suscitar reflexão sobre um tema de interesse das famílias, como
culado ao CRAS e é um serviço ofertado de forma complementar vulnerabilidades e riscos ou potencialidades identificados no
ao trabalho social que o território oferece para as famílias. É reali- território, contribuindo para o alcance de aquisições, em espe-
zado no Serviço de Proteção e Atendimento Integral às Famílias cial o fortalecimento dos laços comunitários, o acesso a direitos,
(PAIF) e no Serviço de Proteção e Atendimento Especializado às o protagonismo, a participação social e a prevenção de riscos.
Famílias e Indivíduos (PAEFI). Entende-se que é fundamental for-
Ações Comunitárias: são ações de caráter coletivo voltadas
talecer a função protetiva da família, que é entendida como um
para a dinamização das relações no território. Têm escopo maior
lugar de cuidado, proteção, afetos, construção de identidades e
que as oficinas com famílias por mobilizarem um número maior
vínculos relacionais e de pertencimento, mas sem perder de vis-
de participantes e terem a necessidade de agregar diferentes
ta que ela pode também ser espaço de reprodução de desigual-
grupos do território a partir do estabelecimento de um objetivo
dades e de violência (CADERNO DE ORIENTAÇÕES, 2016).
comum (CADERNO DE ORIENTAÇÕES, 2016).
Os termos “fortalecer”, “prevenir” e “promover” estão
presentes nos objetivos e na própria descrição desses serviços,
destacando o caráter preventivo e antecipatório a situações de
riscos e vulnerabilidades desses serviços e tentando oferecer
às famílias uma forma de atendimento que engloba todos os
seus membros. Além da proteção, é importante reconhecer as
potencialidades de cada família, com o intuito de “fortalecer os
recursos disponíveis das famílias, suas formas de organização,
participação social, sociabilidade e redes sociais de apoio, en-
tre outros, bem como dos territórios onde vivem” (CADERNO DE
ORIENTAÇÕES, 2016, p. 12).
Projetos de vida e outras nais. Alguns jovens nem pensam em fazer faculdade, seja por-
que moram em uma cidade pequena que não tem universidade,
estratégias positivas seja porque acreditam que não vão passar no vestibular em uma
instituição pública, seja ainda porque precisam trabalhar para
Projeto de vida e identidade caminham juntos e constro- ajudar a família financeiramente. A opção de um curso técnico
em-se mutuamente. O ideal é que esses projetos possam ser cons- também pode não ser viável, e a entrada no mercado de trabalho
truídos desde a infância e se tornem mais robustos a partir da ado- pode ocorrer muito cedo. Em termos de escola e comunidade, é
lescência em virtude de novas demandas do sujeito. Ao longo da importante que os jovens conheçam as oportunidades de que
vida, esses projetos são redimensionados e modificados para se dispõem, por exemplo: muitas universidades públicas usam sis-
adequarem à história individual e coletiva de cada um e às novas tema de cotas para ingresso e oferecem subsídio para inscrição
relações em grupo que surgem pela vida. Como pode ser pensa- no vestibular e bolsas que auxiliam na permanência do estudan-
do um projeto de vida? Ele se organiza em torno de objetivos que te na universidade; e financiamentos estudantis para faculdades
são significativos, tanto para as pessoas quanto para o que elas particulares. Há ainda a possibilidade de estudar em outros pa-
percebem como necessário para o mundo em que vivem. Com íses. Oferecer ao jovem possibilidades para além daquelas ime-
isso, planejam e motivam ações, levando aquele que está desen- diatas que ele conhece é importante. Outros desafios atravessam
volvendo o projeto de vida a tomar decisões, formular objetivos a vida financeira, moradia, a forma de viver e com quem viver, e
de curto prazo e se engajar nas atividades necessárias para sua todas essas discussões podem acontecer durante o desenvolvi-
concretização (ARAÚJO; ARANTES; PINHEIRO, 2020). mento dos projetos de vida.
Os projetos de vida já estão sendo aplicados na área da Outro importante desafio dessa fase do desenvolvimento
educação, fazendo parte do projeto curricular das escolas em é consolidar um senso de pertencimento, isto é, sentir que é acei-
toda a educação básica, especialmente a partir das reformas to, que é parte de um grupo. Nem sempre isso ocorre na família,
recentes nas diretrizes curriculares. O desafio é trabalhar para especialmente se as escolhas pessoais ou a identidade de gê-
construir o processo de autonomia e de desenvolvimento de nero destoam das expectativas dos pais. Também é um desafio
identidade e motivações na vida das crianças e adolescentes. encontrar um par romântico, constituindo-se como uma preocu-
pação muito importante nessa fase do desenvolvimento. Dificul-
Um dos grandes desafios enfrentados nos últimos anos dades nesses aspectos podem desencadear instabilidades nos
da adolescência envolve a descoberta e perspectiva da profis- adolescentes, como visto no caso de Ana, que se sentia só em
são, o que o adolescente almeja de futuro em termos profissio- casa e na escola e não se sentia atraente.
Além disso, é importante que aqueles que atuam com “Do que você mais gosta? Descreva suas experiências mais pra-
crianças e adolescentes os auxiliem na identificação de suas for- zerosas”;
ças e habilidades e os estimulem a usá-las nas tarefas do dia a dia.
“Em que você é bom? Descreva as experiências que desperta-
Você pode conhecer um pouco mais esse assunto no podcast/ví-
ram o melhor em você”;
deo disponível a seguir (https://www.youtube.com/watch?v=j7u-
AbkZUzzE, disponível em 11 out. 2022). Perguntas como as que “Quais são suas aspirações para o futuro?”;
estão a seguir nos ajudam a identificar as forças de assinatura e
“O que faz com que um dia seja satisfatório para você?”;
podem ajudar você no diálogo com os jovens (RASHID; SELIG-
MAN, 2019, p. 48): “Que experiências lhe dão um sentimento de autenticidade?”;
Emoções positivas relacionadas ao passado envolvem do a essa amizade foram fatores cruciais para o desenvolvimento
serenidade, orgulho, contentamento, satisfação; relacionadas e manutenção do quadro depressivo da jovem. Por outro lado,
ao presente envolvem saborear, isto é, prestar atenção àquilo de a aproximação de Mônica foi fundamental para que Ana rece-
positivo que está acontecendo e sentir-se grato; relacionadas ao besse ajuda. Muitas vezes, os jovens têm dificuldades em fazer
futuro envolvem segurança, fé, confiança, esperança e otimismo. novos amigos, às vezes porque são tímidos, às vezes porque se
Emoções positivas estão relacionadas à satisfação nas relações, sentem inadequados, sem as qualidades necessárias para que
longevidade, resiliência, além de trazerem benefícios para a saú- alguém goste deles. Pensar em lugares e atividades para que
de física e mental. Podemos pensar em ações, atividades e pes- eles possam descobrir interesses em comum e estreitar laços au-
soas que nos despertam emoções positivas e buscar que acon- xilia nesse aspecto.
teçam com maior frequência (RASHID; SELIGMAN, 2019).
Além do modelo PERMA, Seligman também desenvol- Uma atividade para compreender o senso de propósito de cada
veu um modelo que avalia aspectos positivos da personalida- um é proposta por Rashid e Seligman (2019):
de das pessoas (https://www.viacharacter.org/survey/account/
Pense antecipadamente na sua vida como gostaria que
register?registerPageType=popup). Pesquisando diversas cul- ela fosse e como você gostaria de ser lembrado pelas
turas, ele chegou a 24 forças de assinatura, distribuídas entre 6 pessoas que lhe são mais próximas. Que realizações e/
virtudes. No vídeo Quais são as 24 forças de caráter, é possível ou forças pessoais elas mencionariam sobre você? O que
conhecer todas elas. No link a seguir (https://www.youtube.com/ você gostaria que fosse o seu legado? Quando terminar,
leia o que escreveu e pergunte a si mesmo se você tem
watch?v=lCUa9hG7Qo0, disponível em 11 out. 2022), é possível
um plano para criar um legado que seja não só realista,
que o adolescente faça um teste que foi validado empiricamente mas também dentro de suas condições de realizar. Quan-
para conhecer as principais forças de caráter pessoais. do terminar de escrever, deixe de lado essa folha e guar-
de-a em um lugar seguro. Leia novamente daqui a um ou
Rashid e Seligman (2019) sugerem alguns exemplos que
cinco anos. Pergunte a si mesmo se você fez progresso
podem promover propósito e significado: identificar formas ino- em direção aos seus objetivos e revise-os (RASHID; SE-
vadoras de aumentar a doação para pessoas que precisam; in- LIGMAN, 2019, p. 257).
vestir em pessoas, em talentos que podem promover mudanças
Realização envolve crescimento pessoal e interpesso-
positivas no mundo; envolver-se politicamente para defender
al. Na medida em que usamos nossas forças de assinatura nas
uma causa social importante; tornar-se mentor de pessoas des-
ações que desempenhamos, que descobrimos nosso senso de
favorecidas; contribuir para uma causa que possa trazer confor-
propósito e vamos em busca deles, temos a oportunidade de
to aos necessitados. Algumas pessoas, inclusive jovens, podem
ampliar nosso senso de realização.
nos inspirar com os seus sensos de propósito. Você pode conhe-
cer alguns exemplos nos vídeos disponíveis a seguir: Ana precisa aprender a gostar de si mesma. Para isso,
precisa fazer as pazes com o corpo e o cabelo. O padrão branco
Malala Yousafzai – Mulheres Fantásticas
de beleza faz com que aquelas pessoas que não se encaixam
#1 | Malala Yousafzai (https://www.youtu-
nele se sintam insatisfeitas com seus corpos e, em muitos casos,
be.com/watch?v=aIUvH5b0A_8, disponí-
feias e inadequadas. É preciso mostrar outras formas de beleza, e
vel em 11 out. 2022)
a escola pode iniciar um projeto para empoderar as alunas, traba-
Greta Thunberg – Discurso na íntegra de lhando a diversidade de diferentes maneiras, desde a diversida-
Greta Thunberg nas Nações Unidas (ht- de estética, como os diferentes tipos de corpos e belezas, até a
tps://www.youtube.com/watch?v=mbnR- diversidade sexual, incluindo as identidades de gênero, a orien-
Greta Thunberg. Fonte: Wiki-
media Commons v81s_9Q, disponível em 11 out. 2022) tação sexual, além da diversidade religiosa, entre outras. Assim,
Módulo: Cuidados psicossociais nas adolescências e juventudes
58
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2022. -regional-brief.pdf. Acesso em: 18 nov. 2022.
material de apoio
1 Título do material
Escuta qualificada como ferramenta de humanização do cuidado em
saúde mental na Atenção Básica
Link https://apsemrevista.org/aps/article/view/23/22
Contribuições do material para o estudo do tema O material orienta sobre a importância e os objetivos da notificação.
Link http://portalsinan.saude.gov.br/notificacoes#
material de apoio
3 Título do material Saúde mental de crianças e adolescentes no contexto escolar
Sinopse, resumo, contexto, referência 06, Ed. 08, Vol. 05, pp. 86-103. Agosto de 2021. ISSN: 2448-0959.
https://www.nucleodoconhecimento.com.br/psicologia/criancas-no-
Link -contexto
https://revistas.ufg.br/interacao/article/view/1509/1496
material de apoio
4 Título do material Pode Falar
Esse Canal foi criado pensando em ajudar jovens que precisam ser
ouvidos e não conseguem ou não querem se expressar facilmente
Contribuições do material para o estudo do tema com quem conhecem. Por ser gratuito e confidencial, os jovens podem
acessá-lo e relatar o que estão sentindo e serem ouvidos sem qualquer
julgamento.
Link https://www.podefalar.org.br/
Link https://www.youtube.com/watch?v=Z3qzsaim-AA
material de apoio
6 Título do material Música: “RAP – me sinto perdido/Nossos sentimentos
Link https://www.youtube.com/watch?v=7yIlon_oGnI
material de apoio
7 Filme:
Link
material de apoio
8 Título do material “Um cachorro preto chamado depressão”
Link https://www.youtube.com/watch?v=6RIu4a7hdAA
material de apoio
9 Título do material Reportagem sobre o Centro Educacional Gesner Teixeira (Gama-DF)
https://plenarinho.leg.br/index.php/2019/09/setembro-amarelo-escuta-e-
Link
-acolhimento-mudam-rotina-de-uma-escola/
material de apoio
10 Título do material Dr. Martin Seligman e a psicologia positiva
Link https://www.youtube.com/watch?v=j7uAbkZUzzE
material de apoio
11 Título do material TED: estudo de Harvard sobre felicidade. O que faz uma boa vida?
No caso de Ana, ver-se sozinha, sem a amiga com quem saía aos finais
de semana, sem ninguém com quem estar no horário do recreio, em
uma família em que não se sentia vista, ouvida e segura, foram fatores
Contribuições do material para o estudo do tema primordiais para o desenvolvimento e manutenção da depressão,
automutilação e ideação suicida. Assim, após contida a crise, seria
importante auxiliar Ana a desenvolver novas amizades, ampliando a rede
de apoio, além de fortalecer a relação dela com a mãe.
Link https://www.youtube.com/watch?v=d52BStMyOMw
material de apoio
12 Malala Yousafzai - Mulheres Fantásticas #1 | Malala Yousafzai
Título do material Greta Thunberg - Discurso na íntegra de Greta Thunberg nas Nações
Unidas
O vídeo pode ser o ponto de partida para inspirar Ana a descobrir quais
são as suas forças e como aplicá-las no dia a dia. Passada a crise, é hora
Contribuições do material para o estudo do tema
de iniciar o planejamento de um projeto de vida para Ana, reforçando
aquilo de que ela já dispõe.
https://www.youtube.com/watch?v=aIUvH5b0A_8
Link
https://www.youtube.com/watch?v=mbnRv81s_9Q
material de apoio
13 Título do material Quais são as 24 forças de caráter?
Contribuições do material para o estudo do tema Os temas trazidos pela psicologia positiva podem ser inseridos após a
crise ter cessado, no momento em que está sendo construído o projeto
de vida. O segundo vídeo traz uma aula que promove reflexões sobre
como desenvolver as forças de caráter/assinatura.
https://www.youtube.com/watch?v=lCUa9hG7Qo0
Link
https://www.youtube.com/watch?v=6nFqtwFYnsI&t=1622s
Link https://www.youtube.com/watch?v=K4Foovfdb-E&t=3s
material de apoio
15 Título do material Curta animado A Lua da Disney Pixar
Link https://youtu.be/MJC9mYJfUPk
16 Título do material
COMUNICAÇÃO NÃO VIOLENTA: O Que é, Benefícios e Como Praticar |
Marshall Rosenberg
Link https://www.youtube.com/watch?v=uofE9CnWDYU