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Arnaldo de França Caldas Junior – Professor Adjunto da Disciplina de Pacientes Especiais do Depar-
tamento de Clínica e Odontologia Preventiva e do Programa de Pós-Graduação em Odontologia da
Universidade Federal de Pernambuco. Email: caldasjr@alldeia.com.br
Prof. Dr. Arnaldo de França Caldas Junior - Programa de Pós-Graduação em Odontologia do Centro
de Ciências da Saúde da Universidade Federal de Pernambuco. Av. Prof. Moraes Rego, 1235 - Cida-
de Universitária, Recife - PE - CEP: 50670-901. Telefone: (81) 21267509. Emails: caldas-
jr@alldeia.com.br / arnaldo.caldas@ufpe.br
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Resumo
Descritores: Midazolam, sedação consciente, pessoas com deficiência, administração oral, adminis-
tração intravenosa.
Abstract
The practice of conscious sedation has increased the possibility of an effective care in dentistry, as
excessive emotional tension during the care is a major difficulty for disabled people or those with
fear / phobia. In this sense, these strategies to relieve emotional stress are important and one of the
most challenging of these is the pharmacological approach through conscious sedation. The mida-
zolam (MDZ) which is a potent sedative with anxiolytic and amnestic properties, although it has its
advantages, is a drug with strong action on the central nervous system, circulatory and respiratory,
requiring monitoring of vital functions for safer action. The objective of this study is to describe a
clinical case using conscious sedation with MDZ orally and intravenously, establishing important
clinical considerations for its use.
Key words: Midazolam, conscious sedation, disabled persons, oral administration, intravenous ad-
ministration.
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Introdução
Uma importante parcela da população não possui a capacidade cognitiva e habilidade adapta-
tiva necessária para lidar com o tratamento odontológico e, portanto, apresentam dificuldades no
acesso aos cuidados terapêuticos ou preventivos. Estas dificuldades são intensificadas nos pacientes
com comprometimento cognitivo, no entanto, outros com deficiências não cognitivas, além dos que
à problemas de saúde oral ou patologias não diagnosticadas. Para estes indivíduos um protocolo de
sedação consciente pode melhorar a experiência do tratamento, influenciando nos níveis de ansieda-
O uso da sedação consciente é uma das áreas mais amplamente discutidas e regulamentadas
em odontologia. Nos últimos 20 anos tem crescido o número de publicações que prestam orientação,
diretrizes e parâmetros clínicos para a prática (SHAPIRA et al., 2004). A sedação consciente é esco-
lhida por não necessitar de respiração artificial, além de manter os reflexos de deglutição e tosse dos
odontológico vêm evoluindo e mudando a cada dia, principalmente em relação aos protocolos farma-
cológicos. Essa evolução constante tem disponibilizado no mercado uma gama de medicamentos que
promovem, cada vez mais, uma diminuição dos efeitos colaterais, ao mesmo tempo em que
proporcionam a obtenção de resultados clínicos satisfatório (NÓIA et al., 2011). Narcóticos, hipnóti-
ma tentativa de encontrar um regime de sedação ideal, que pode ser usado para a maioria das situa-
ções clínicas. Entre eles está o midazolam (MDZ) já bastante conhecido pelos profissionais e litera-
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O MDZ é um benzodiazepínico de curta ação, com propriedades ansiolíticas, sedativas, hip-
nóticas, relaxante muscular e marcada propriedade amnésica. Na prática clínica, é amplamente utili-
zado para a hipnose, sedação consciente, indução anestésica e pós-operatória (de longo prazo), espe-
cialmente em pacientes de terapia intensiva. Após a administração oral em seres humanos é rapida-
do pelo CYP3A4 (GUO et al., 2011), que é um sistema de enzimas responsáveis pelo metabolismo
primário de 25% de todos os fármacos utilizados clinicamente (BRILL et al., 2014). Algumas vanta-
gens do MDZ incluem a sua solubilidade em água, início rápido, ação anticonvulsivante, produção
O objetivo deste trabalho é descrever um caso clínico utilizando a sedação consciente com o
uso do MDZ e anti-histamínicos (anti-H1) por via oral e intravenosa, estabelecendo importantes con-
Revisão de Literatura
As drogas sedativas são administradas através de várias vias, tais como oral, por inalação, na-
sal, intramuscular, subcutânea e intravenosa. Todas estas vias têm certas vantagens e desvantagens
A utilização de técnicas de sedação por via oral pode proporcionar uma alternativa útil. A
pré-medicação oral com benzodiazepínicos já está em uso difundido na medicina para pacientes pe-
diátricos (WILSON et al., 2002). Segundo Malamed (2012) essa a via apresenta diversas vantagens
tais como a aceitabilidade quase universal, facilidade de administração, baixo custo, incidência e
gravidade de reações adversas reduzidas. Por outro lado, apresenta um grande inconveniente que é o
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longo período de latência (período após administração do medicamente e antes do seu efeito deseja-
do), além de sua absorção irregular ou incompleta pelo trato gastrointestinal (MALAMED, 2012).
Da mesma forma, a sedação intravenosa (IV) também tem sido usada na odontologia há mui-
tos anos. Tem como vantagens o seu início de ação rápido, possibilidade de controlar a dose a ser
administrada (titulação), apresenta um período de recuperação mais curto, efeitos colaterais de náu-
seas e vômitos mais raros (MALAMED, 2012). As poucas desvantagens da técnica são a necessida-
de de venopunção e suas possíveis intercorrências, a monitoração deve ser mais intensa e a recupera-
ção completa não acontece de maneira rápida, necessitando de um acompanhante para o paciente
(MALAMED, 2012).
O MDZ pode ser administrado por via oral, intramuscular, intravenosa, sublingual, intranasal
e retal. Por via oral pode ser utilizado em doses de 7,5 mg a 15 mg, 30 minutos antes do procedimen-
to. Para uma sedação intravenosa mais profunda são utilizadas doses de 0,05 a 0,15 mg/kg (NÓIA et
al., 2011).
A popularidade do MDZ é resultado de seu curto início de ação. Este benefício supera seus
efeitos colaterais potenciais que incluem, entre outros, ansiedade pós-anestésica, diplopia, amnésia,
soluços, raiva e distúrbios do sono (KALIBATIENĖ et al., 2012), além de agitação incontrolável de
uma parte do corpo, enrijecimento e espasmos dos braços e pernas e agressão (CABRERA et al.,
2010). Esta excitação paradoxal ocorre em menos de 1% dos pacientes que recebem o MDZ, os quais
podem ser revertidos com o flumazenil, droga antagonista benzodiazepínica, evitando o aumento do
nível de sedação (CABRERA et al., 2010). Graves efeitos colaterais são raros, e o MDZ, quando não
está combinado com outros medicamentos sedativos, não produz efeitos respiratórios significativos
(KALIBATIENĖ et al., 2012). Entretanto, cuidados pré-sedação devem ser tomados, dentre eles, a
história médica pregressa detalhada, o registro dos sinais vitais, tais como, a pressão arterial, satura-
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ção de oxigênio e frequência cardíaca antes, durante e após o procedimento (LEPERE; SLACK-
SMITH, 2002).
Outros fármacos muito utilizados para a sedação consciente são os anti-H1. Eles são drogas
lipofílicas (1a geração) ou lipofóbicas (2a geração) e classificadas em diferentes grupos de acordo
com sua estrutura química. Os anti-H1 clássicos apresentam diversos efeitos adversos em decorrên-
cia das suas ações nos receptores muscarínicos (ação anticolinérgica), serotoninérgicos, adrenérgi-
cos, entre outros. Os anti-H1 de primeira geração são rapidamente absorvidos e metabolizados e,
devido a sua estrutura molecular lipofílica, cruzam mais facilmente a barreira hematoliquórica, li-
gando-se, assim, aos receptores H1 cerebrais e originando seu principal efeito adverso que é a seda-
Relato de caso
LSA, sexo masculino, 20 anos, com peso de 110Kg e 1m e 80cm de altura e com o diagnóstico neu-
rológico de Transtorno do Espectro do Autismo (Figura 1). Procurou atendimento na Clínica de Pa-
mestre do ano de 215, acompanhado por uma tia e por sua genitora que relataram queixa de dor de
origem odontogênica em região maxilar, do lado esquerdo. Ao exame intrabucal, com muita dificul-
dade na abordagem ao paciente, observou-se a presença de uma raiz residual do elemento 25. De
acordo com a família, havia histórico de episódios de edema na região e não conseguiram tratamento
em Unidades de Saúde da Família porque o paciente não cooperava para o atendimento. Durante a
social, uso estereotipado e repetitivo da linguagem e que não permitia a aproximação de pessoas es-
tranhas. Nesta sessão foram solicitados exames de hemograma completo, coagulograma e glicemia
em jejum. Durante a anamnese, a genitora relatou que LSA permitia, apenas, coleta de sangue e inje-
ções venosas e musculares. Ainda nesta primeira consulta, após a verificação dos sinais vitais, oxi-
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metria e pressão arterial, foram administrados 2 (dois) comprimidos de Dramin B6 (50 mg de dime-
vas. Após 1 hora da administração das medicações, não se observou o efeito desejado, impossibili-
manteve-se a mesmas dosagens de Hidroxizina e do Dramin B6. No entanto, o efeito desejado não
foi alcançado.
Na terceira consulta, optou-se pela sedação através da via endovenosa e, após a avaliação dos
sinais vitais e verificação dos exames laboratoriais, foi injetado 3 ml de Midazolam de 5 mg (Figura
2). Ao término da administração do benzodiazepínico, foi observado o efeito sedativo. O paciente foi
colocado na cadeira odontológica e realizada a contenção física através do uso de faixas. Foram ad-
residual com o paciente em completa sedação consciente (figura 3). Durante o procedimento, os pa-
râmetros de oxigenação sanguínea e pressão arterial foram verificados (Figura 4), não sendo obser-
vadas variações, além da observação de resposta adequada aos estímulos aplicados para se analisar a
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Discussão
ente, sendo classificada pela American Society of Anesthesiologists - ASA em 2002, como mínima,
moderada e profunda. Nas duas primeiras o paciente responde a comando verbal e estimulação tátil
paciente não responde facilmente a comando verbal, mas responde a estímulos dolorosos. A função
Segundo Chen et al. (2015) a técnica sedativa ideal seria aquela que aumentasse o limiar de
paciente. Além disso, sendo rentável, segura e previsível, permitindo uma recuperação pós-
Antes da administração do protocolo medicamentoso para este paciente, uma avaliação das
suas condições sistêmicas foi realizada durante a anamnese, que incluiu a análise da história médica
e odontológica completa, bem como seu comportamento social. Além disso, este paciente foi avalia-
do de acordo com o Sistema de Classificação do Estado Físico proposto pela Associação Americana
de Anestesiologia (ASA) como ASA II. Os pacientes que são ASA I (paciente saudável normal) ou
II (paciente com uma doença sistêmica leve) podem ser considerados candidatos para sedação cons-
ciente em ambulatório. Pacientes em ASA III (paciente com doença sistêmica grave que limita suas
atividades, mas não é incapacitante) e classe IV (um paciente com uma doença sistêmica incapaci-
tante que é uma ameaça constante à vida) representam problemas especiais e requerem uma conside-
ração individual, devendo serem tratados em ambiente hospitalar, envolvendo a assistência de médi-
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cos, quando apropriado (HALLONSTEN et al., 2007). O paciente classificado como ASA V é aque-
A utilização do protocolo proposto para a sedação consciente para este paciente foi iniciada
Dimenidrinato) por via oral. Essa associação de hidroxizina com o midazolam como protocolo de
sedação para tratamento odontológico, tem sido proposto na literatura (LIMA et al.,2003). A Hidro-
anestésica devido aos seus efeitos neurológicos (MISTRALETTI et al., 2013). Seu efeito sedativo
aparece bastante tarde, mas dura o tempo suficiente para o procedimento odontológico demorado.
Quando é administrado juntamente com MDZ, funcionando como um suplemento, atua como um
proposto para o paciente LSA foi a sedação por via oral, no entanto, depois de dois ajustes de dose,
sem sucesso, preferiu-se a administração endovenosa. O insucesso com o uso da via oral para a seda-
ção aconteceu, provavelmente, por que o MDZ está sujeito a metabolismo hepático e intestinal pelo
CYP3A (DE WILDT et al., 2002) (metabolismo de primeira passagem), diminuindo a sua biodispo-
nibilidade. Sendo assim, a superioridade do MDZ administrado na forma intravenosa tem como uma
completa da dose proposta, comparativamente às do MDZ oral (FONTANINI et al., 2013). Ainda
segundo (KLEIN et al., 2011) o MDZ oral é um dos agentes sedativos mais comumente utilizados
do confiável devido ao metabolismo hepático de primeira passagem e por sua baixa eficácia relatada.
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É de extrema importância que o Cirurgião-Dentista, no momento da anamnese, conheça todas
as medicações que são utilizadas pelo paciente e a posologia utilizada. Para este caso apresentado,
Cloridrato de Biperideno (antiparksoniano). Desta forma, tem sido relatado na literatura uma impor-
tante interação entre a Carbamazepina e Midazolam quando administradas pela via oral. Essas drogas
competem pela mesma via metabólica e, portanto, a duração e o nível da sedação serão diminuídos
Conclusão
Para esse caso descrito houve a combinação de dois importantes fatores que interferiram no
de da droga, ambas explicadas pelo metabolismo hepático, o que resultou no insucesso da ação dese-
jada. Por outro lado, com a infusão venosa do MDZ, o efeito sedativo ideal foi alcançado, proporcio-
O uso do MDZ associado aos Anti-histamínicos para sedação consciente durante o atendi-
mento odontológico é seguro, ressaltando-se os cuidados pré, peri e pós-sedação como imprescindí-
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Figura 1 - Paciente an-
tes da sedação.
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Figura 4 - Verificação da oximetria e
frequência cardíaca durante o proce-
dimento.
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