O PADRAO-OURO E A CRISE DE 1929-Sem Autores
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O PADRAO-OURO E A CRISE DE 1929-Sem Autores
Autor1
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RESUMO
O capitalismo do final do século XIX e início do século XX apresentou algumas
características sui generis que permitiram afirmações de que se tratava de uma
nova etapa de seu desenvolvimento. Dentre os elementos distintivos, cita-se o
funcionamento do padrão-ouro, que assegurava a conversibilidade das moedas
em ouro e trouxe relativa estabilidade para o funcionamento da economia
internacional. Tem-se como objetivo do trabalho resgatar o processo histórico
do funcionamento do padrão-ouro, com ênfase nos acontecimentos da
economia americana e desdobramentos para os países capitalistas. O nível da
pesquisa foi o descritivo e o procedimento técnico utilizado foi a pesquisa
bibliográfica. Quanto a forma de abordagem, utilizou-se a abordagem de cunho
quali-quantitativo. Os resultados sugerem que o colapso do padrão-ouro, em
função da Primeira Guerra Mundial, elevou a instabilidade no cenário
econômico internacional e as iniciativas para restaurá-lo não foram condizentes
com a nova realidade econômica do pós-Primeira Guerra Mundial. Ademais, a
insistência em mantê-lo operacional, após o crash de 1929, foi determinante
para o efeito contaminação, o espraiamento geográfico e a intensidade da
crise.
PALAVRAS-CHAVE: Padrão-ouro. Primeira Guerra Mundial. Crise de 1929.
Efeito contaminação.
ABSTRACT
Capitalism at the end of the 19th century and the beginning of the 20th century
presented some sui generis characteristics that allowed affirmations that it was
a new stage of its development. Among the distinctive elements, mention is
made of the functioning of the gold standard, which ensured the convertibility of
currencies into gold and brought relative stability to the functioning of the
international economy. The objective of this work is to rescue the historical
process of the functioning of the gold standard, with emphasis on the events of
the American economy and developments for the capitalist countries. The
research level was descriptive and the technical procedure used was
bibliographical research. As for the approach, the qualitative and quantitative
approach was used. The results suggest that the collapse of the gold standard,
due to the First World War, increased the instability in the international
economic scenario and the initiatives to restore it were not consistent with the
new economic reality of the post-First World War. Furthermore, the insistence
on keeping it operational after the 1929 crash was decisive for the
contamination effect, geographic spread and the intensity of the crisis.
KEYWORDS: Gold standard. First World War. Crisis of 1929. Contamination
effect.
1
Identificação. E-mail: xxxxxx.
2
Identificação. E-mail: xxxxxx.
1 INTRODUÇÃO
3
“[O] capitalismo [é] uma força constantemente revolucionária da história mundial, uma força
que reformula de maneira perpétua o mundo, criando configurações novas e, com frequência,
sobremodo inesperadas” (HARVEY, 2006, P. 176).
4
O capitalismo tende a elevar a concentração da produção e do capital, substituindo a livre
concorrência pelos monopólios capitalistas e, em seu estágio superior, exacerba o papel do
capital financeiro (LÊNIN, 2011). A exuberância da financeirização representa o “[...] ‘sinal de
outono’ dos grandes desenvolvimentos capitalista [...]” (ARRIGHI, 1996, p. 166).
5
Vale salientar que, a Divisão Internacional do Trabalho (DIT) que se estabeleceu no período
decorreu do papel que a Inglaterra passou a desempenhar na economia internacional, como
centro importador de matérias primas e fábrica do mundo. A partir do sucesso industrial de
países como Alemanha, França, EUA, etc., foi que as rivalidades se intensificaram e acabaram
por precipitar a Primeira Guerra Mundial (PGM).
6
O modelo teórico dominante, até a década de 1930, partia do princípio que a economia se
encontra em equilíbrio, sendo que eventuais desvios em seu curso normal logo seriam
corrigidos pelos mecanismos de mercado e, novamente, convergiria para o restabelecimento
do equilíbrio.
da concentração e centralização de capitais (capitalismo monopolista), a
intensificação da financeirização da economia, a partilha do mundo e a
escalada nas rivalidades entre os países que culminaram na Primeira Guerra
Mundial (PGM), dentre outros aspectos, denotam como o capitalismo
apresentava um estágio mais avançado do seu desenvolvimento (LÊNIN, 2011;
BEAUD, 1999).
Outro aspecto do capitalismo no período foi a intensificação do comércio
internacional, em que a aceleração foi facilitada pela implementação do
padrão-ouro. O Sistema Monetário Internacional (SMI), sustentado pelo
padrão-ouro, foi responsável por assegurar as condições para a aceleração
das relações econômicas no período.
A operacionalização do padrão-ouro se deu pelo poder econômico
exercido pela Inglaterra, país pioneiro na utilização da moeda com lastro em
ouro, isso por que os países ansiosos para ampliar as relações comerciais com
os ingleses passaram a adotar o padrão monetário de seu interesse. A origem
e difusão do padrão-ouro a partir da Inglaterra não promove tantos
questionamentos, mas não existe consenso quanto ao início e período de
vigência do padrão-ouro (GONTIJO, 2014; COSTA, 2017).
Para Eichengreen (2000), o padrão-ouro começou em 1870; já Serrano
(2002) entende que começou no ano de 1815; Saez e Saez (2013), consideram
que o padrão-ouro vigorou somente no período de 1870 até 1914; Yeager
(1976) e Condliffe (1950) defenderam que o padrão-ouro funcionou apenas no
período de 1897 até 1914. Ou seja, com exceção de Serrano (2002), verifica-se
que o funcionamento do padrão-ouro ficou circunscrito ao período das últimas
décadas do século XIX até a deflagração da PGM.
Após o período de grandes dificuldades econômicas no final do século
XIX, de 1873 até 1896, ocorreu um período de intenso crescimento econômico
na primeira década do século XX, e essa fase de exuberância do capitalismo
foi correlacionada aos supostos benefícios de funcionamento do padrão-ouro.
Por outro lado, a Grande Depressão de 1873-1896 e a escalada de
rivalidades econômicas, que culminaram na PGM, também ocorreram no
período de primazia do padrão-ouro, mas sem despertar grandes debates
teóricos no período.
O sucesso econômico da Belle Époque, o poder que a Inglaterra exercia
sobre a dinâmica capitalista e a defesa dos mercados autorregulados 7
(dominância teórica do liberalismo clássico) foram determinantes para que os
diversos países buscassem salvaguardar o padrão monetário e também
serviram como estímulos para tentar sua restauração no pós-PGM.
As condições econômicas do pós-PGM eram muito distintas, com
destaques para a destruição da capacidade industrial dos países diretamente
envolvidos no conflito, os milhões de mortes de jovens, destruição da
infraestrutura civil e, evidentemente, a deterioração geral da situação
econômica. Ademais, a hegemonia inglesa não tinha como ser restaurada em
decorrência da ascensão econômica dos EUA.
Não obstante, os esforços de reconstrução foram superpostos às
medidas para restabelecimento do padrão-ouro e as ações implementadas
passaram, grosso modo, por pressões deflacionistas, em especial, com
reduções salariais (reduções de custos) para resgatar algum nível de
competitividade no comércio internacional. Evidentemente, que esse tipo de
medida passou a gerar enormes descontentamentos na classe trabalhadora,
mas sem prejuízo de seu uso, cada vez mais recorrente.
Acrescente-se que o aumento da competição internacional impunha
novas rodadas de medidas deflacionistas e também ao uso recorrente de
medidas protecionistas, cujo resultado mais evidente foi a impossibilidade de
adoção de medidas colaborativas e coordenadas entre as autoridades dos
7
“Os modelos neoclássicos hipotético-dedutivos são castelos matemáticos erguidos sobre o ar
e que não têm utilidade prática, a não ser para justificar mercados auto-regulados e eficientes,
ou, em outras palavras, agir como metaideologia. Esses modelos tendem a ser radicalmente
irreais na medida em que presumem, por exemplo, que não possa haver insolvências, ou que a
moeda não precise ser considerada, ou que os intermediários financeiros não têm papel a
representar nos modelos, ou que o preço de um ativo financeiro reflete todas as informações
disponíveis relevantes para seu valor etc. etc. Escrevendo sobre o estado da ciência
econômica após a crise, The Economist observou que ‘os economistas podem ver-se
seduzidos por seus modelos, enganando-se ao pensar que o que o modelo exclui não tem
importância’. E se a teoria financeira neoclássica levou a enormes erros financeiros, a
macroeconomia neoclássica é simplesmente inútil. A percepção deste fato - da inutilidade dos
modelos macroeconômicos neoclássicos - levou Gregory Mankiw a escrever, depois de dois
anos como presidente do Conselho de Assessores Econômicos da Presidência dos Estados
Unidos, que, para sua grande surpresa, ninguém em Washington usava as idéias que ele e
seus colegas ensinavam na Academia; o que os formuladores de políticas usavam era ‘uma
espécie de engenharia’ - uma soma de observações práticas e regras inspiradas por John
Maynard Keynes. Considero esse artigo a confissão formal do fracasso da macroeconomia
neoclássica. Paul Krugman foi direto ao ponto: ‘a maioria dos macroeconomistas dos últimos
trinta anos foi espetacularmente inútil na melhor das hipóteses e positivamente danosa na pior
delas’” (BRESSER-PEREIRA, 2010, p. 64).
países europeus. Ademais, o Banco da Inglaterra, fiel zelador do padrão-ouro
até a PGM, não tinha reservas de ouro para restaurar a conversibilidade da
Libra e menos ainda para prover o fluxo de capitais de antes da guerra.
A economia americana, que saiu fortalecida após a PGM, restaurou o
padrão-ouro ainda em 1919, a Inglaterra em 1925, a França em 1928, além de
ações no mesmo sentido em praticamente todos os países mais relevantes no
capitalismo mundial (BEAUD, 1999). Assim, num cenário completamente
diferente daquele que vigeu até a PGM, ocorreu o restabelecimento do SMI do
padrão-ouro.
Ocorre que o novo país hegemônico do capitalismo, os EUA, não
assumiu o papel que a Inglaterra desempenhou como hegemon, inclusive por
que o Banco Central americano (Federal Reserve – FED) não contava com os
instrumentos e a experiência necessária para atuar como fez o Banco da
Inglaterra.
O fato é que quando eclodiu a crise de 1929 não se verificou uma
reação vigorosa por parte das autoridades americanas, mas o efeito
contaminação foi intenso, dado o papel central que a economia americana
tinha no capitalismo mundial. Ademais, entende-se que o restabelecimento do
padrão-ouro reduziu a capacidade de intervenção do FED e demais
autoridades monetárias e contribuiu para o espraiamento geográfico e para o
nível de intensidade da crise pós-1929.
Afinal, o restabelecimento do padrão-ouro no pós-PGM foi um fator
complicador para o funcionamento do capitalismo no período e contribuiu para
potenciar os desdobramentos da crise de 1929? Tem-se como objetivo do
trabalho resgatar o processo histórico do funcionamento do padrão-ouro, com
ênfase nos acontecimentos da economia americana e desdobramentos para os
países capitalistas.
O nível da pesquisa foi o descritivo e o procedimento técnico utilizado foi
a pesquisa bibliográfica, que é aquela elaborada a partir de materiais já
publicados. Quanto a forma de abordagem, utilizou-se a abordagem de cunho
quali-quantitativo.
Além desta breve introdução, o trabalho conta com mais cinco seções. A
seção 2 traz elementos sobre o contexto histórico antecedente à crise de 1929,
com ênfase no funcionamento do Sistema Monetário Internacional (SMI). A
seção 3 apresenta o contexto histórico de ascensão e colapso do padrão-ouro
em função da Primeira Guerra Mundial e o cenário de maior instabilidade
econômica. A seção 4 apresenta o contexto histórico, do pós-Primeira Guerra
Mundial, com maior detalhamento sobre a economia dos EUA. A seção 5
aborda a resistência do padrão-ouro e as repercussões da crise de 1929. Por
fim, a seção 6 se destina as considerações finais do trabalho.
8
“[...] no início dos anos 1970 [o padrão dólar-ouro] deu lugar a um sistema no qual dólares
totalmente inconversíveis (fiduciário ou mandatário) passaram a estar no centro do sistema de
reservas global – ainda que em potencial concorrência com outras moedas –, com flutuações
da taxa de câmbio entre as principais moedas. Os membros do FMI foram então autorizados a
adotar qualquer regime cambial que escolhessem, desde que evitassem ‘manipular’ suas taxas
de câmbio – termo que não possui, até agora, definição clara.” (OCAMPOS, 2011, p. 59).
sujeita a taxas de juros elevadas por um longo período. Tais taxas
podem ter efeitos negativos sobre o nível de investimento, o mercado
imobiliário, os custos do serviço da dívida pública e a estabilidade dos
bancos comerciais. Qualquer um desses efeitos pode minar os
esforços para adquirir reputação de mantenedor de regras monetárias
sólidas. (EICHENGREEEN, 1995, p. 57).
Acrescente-se que:
De mais a mais, [...], se, por um lado, ‘as mudanças [no volume] da
circulação [monetária resultantes da entrada/saída de ouro]
produziam as mudanças na renda e nos preços requeridas para
ajustar o balanço de comércio’, por outro lado, ‘na medida em que
uma determinada variação das reservas [de ouro monetário]
requeriam uma mudança múltipla nas obrigações bancárias, o
processo normalmente envolvia uma variação nos termos em que os
bancos emprestavam ou da taxa de desconto’ [...]. Não foi sem
9
“Aplicada à balança comercial, essa teoria significa que os seus desequilíbrios, na medida em
que implicam no aumento ou na redução do montante de dinheiro em circulação, se
autoeliminam através da variação dos preços internos em relação aos preços do resto do
mundo.” (GONTIJO, 2014, p. 255). “Mais exatamente, um superávit na balança de comércio
exterior significaria entrada de ouro, pois no padrão-ouro a taxa de câmbio era fixa ou variava
dentro de uma banda estreita (entre os ‘pontos do ouro’) em torno à taxa de câmbio de
paridade, determinada pela relação entre os pesos em ouro fino das diferentes moedas. O
aumento das reservas de ouro, por sua vez, induzia os bancos a expandir a oferta de moeda e
o conseqüente ‘aumento da quantidade de moeda em circulação eleva[ria] o nível de preços
internos, o que afeta[ria] negativamente o saldo comercial externo da economia’ (GONTIJO,
2014, p. 255-6).
motivo, pois, que ‘de acordo com a abordagem tradicional, um
declínio (aumento) do estoque doméstico de moeda levava a uma
elevação (queda) da taxa de juros e, consequentemente, atraía
[repulsava] fundos do [para o] exterior’ [...] (GONTIJO, 2014, pp. 256-
7).
16
“[...] a [f]é no poder do padrão ouro era inquestionável. Era o selo do retorno à ‘normalidade’;
os desequilíbrios nos balanços internacionais seriam prontamente corrigidos pelos processos
‘automáticos’ de ajustamento do sistema, ainda que fosse reconhecido que poderia haver
tensões e dificuldades no período de transição” (GONTIJO, 2016, p. 09).
EUA conseguiam manter a conversibilidade do dólar, tinha-se o câmbio
flutuante nos países da Europa, com fortes flutuações cambiais, mesmo
considerando os esforços para restaurar a conversibilidade (GONTIJO, 2016).
O gráfico 1, a seguir, mostra a evolução no número de países que
restabeleceram o padrão-ouro a partir da década de 1920.
17
No contexto histórico, somente no pós-Segunda Guerra Mundial se apresentou uma nova
perspectiva de criar um sucessor do padrão-ouro.
de ouro; o aumento do endividamento; o clima de desconfiança, rivalidade e
revanchismo entre as naçoes, aspecto que impedia quaisquer atuações
coordenadas etc.
Não obstante, os países da Europa perseguiram a retomada do padrão-
ouro e obtiveram êxito parcial, com a Inglaterra, em 1925, e a França em 1928,
dentre outros que recuperaram a conversibilidade das moedas ao longo da
decada de 1920, muitos dos quais adotando medidas recessivas, como
redução de salários para aumentar a competitividade das economias no
mercado internacional. Contudo, as experiências não se sustentaram e, no
início da década de 1930, consumou-se o abandono do padrão-ouro.
Já no período de 1928 a 1938 a produção industrial, o consumo e os
níveis de emprego tiveram reduções muito acentuadas. Foi um período de
grandes perdas econômicas e de acelerado empobrecimento de parcela
considerável da população (SILVA, 2010). Além da grande destruição,
novamente, proveniente de conflagração numa guerra mundial 18.
O balanço geral da economia dos EUA, considerando o período a partir
da PGM até o final da década de 1920, foi que o país alcançou, e consolidou, a
condição de nova potência do capitalismo mundial; tornou-se a nova fábrica do
mundo capitalista ainda antes da Guerra, mas se beneficiando da destruição
das principais economias da Europa; tornou-se a principal nação credora;
afirmou o estilo de vida americano como padrão comportamental desejado e;
difundiu os ideais do liberalismo econômico, como caminho para o progresso
material (MAZZUCCHELLI, 2009).
É importante destacar que, conforme Mazzucchelli (2009), após a PGM,
ocorreu uma retomada de valores considerados tradicionais por parte da
população americana, afirmando-se o estabelecimento de estratégias
econômicas mais arrojadas e alinhadas aos cânones do liberalismo econômico
e de incentivo à iniciativa privada, especialmente, ao longo da década de 1920.
Não obstante, os EUA, no plano internacional, mantinham-se firme no
estabelecimento de medidas protecionistas. A política tarifária foi um
instrumento muito utilizado em favor dos interesses econômicos do país e o
18
A sucessão de acontecimentos críticos: crise de 1929; Grande Depressão e Segunda Guerra
Mundial adiaram quaisquer expectativas de reestruturação do SMI.
relacionamento econômico que se entendia toleravel era com os países da
América Latina, nos termos expressos pela Doutrina Monroe.
A criação do Federal Reserve Bank (o banco central dos EUA,
popularmente conhecido como FED), ocorreu no governo do presidente
Woodrow Wilson, constituindo-se num evento importante na economia
americana. A Lei da Reserva Federal (Federal Reserve Act) foi aprovada pelo
Congresso americano, em 1913, e significou a principal medida para
estruturação do sistema financeiro no país, implicando na criação de novas
linhas de financiamento e crédito.
A criação tardia do FED é apontada como a principal razão para a city
londrina permanecer como centro financeiro mundial, mesmo quando os EUA
já tinham se tornado a principal potência industrial do capitalismo. Assim, no
imediato pós-PGM, o sistema financeiro americano nao tinha a maturidade
necessária para suceder o papel desempenhado pelo Banco da Inglaterra,
além de não se interessar no restabelecimento e salvaguarda do padrão-ouro
(ARRIGHI, 1996).
De outro lado, o clima de euforia e de crença no êxito dos mercados
autorregulados levaram ao afrouxamento da capacidade de intervenção do
Estado na economia, notadamente num momento em que alguns aspectos
deveriam merecer maior capacidade de regulação pública (contenção da
euforia) e ajustes macroeconômicos ativos para reduzir o endividamento
público, enfrentar o crescimento desbalanceado dos setores econômicos: forte
expansão da produção industrial (tendência à superprodução), queda de
preços de produtos agropecuários e redução de salários (problemas
distributivos que se acumularam e acabaram por comprometer o motor do
crescimento econômico, fortemente centrado no mercado interno)
(MAZZUCCHELLI, 2009).
O quadro 2 apresenta o funcionamento do SMI antes da crise de 1929.
19
Todos os indicadores econômicos considerados no período corroboram a denominação de
Grande Depressão: “O PIB nominal nos Estados Unidos caiu de US$ 103,7 bilhões em 1929
para US$ 56,4 bilhões em 1932, recuperando-se para US$ 101,3 bilhões apenas em 1939”
(MAZZUCCHELLI, 2008, p. 63).
se deteriorou rapidamente, sem que medidas econômicas mais incisivas
fossem adotadas.
O aumento da taxa de redesconto realizada pelo FED incentivou ações
de mesmo caráter nos demais países e o resultado foi a paralisação do fluxo
de capitais. No geral, as medidas praticadas foram de caráter deflacionista,
com implicações recessivas, e aumento do protecionismo.
Vale ressaltar que, num primeiro momento, os países evitaram
desvalorizações monetárias, posto que esse tipo de medida representava o
abandono ao padrão-ouro e assim a ideia de preservação do SMI trouxe
implicações graves para a produção e para o emprego.
Além das medidas de viés contracionista e que reduziram ainda mais a
liquidez monetária, deve-se considerar a falta de iniciativas do FED para
preservação do sistema bancário americano. Assim, as falências de bancos
levou ao comprometimento do sistema de crédito e intensificou uma verdadeira
corrida bancaria, potenciando ainda mais os efeitos da crise.
A desestabilização da principal economia capitalista do planeta levou
inúmeros países a abandonar a conversibilidade das moedas à medida que as
reservas de ouro se exauriam. Ficou evidente que, diante da grave crise, a
solução convencional de usar medidas deflacionistas não seriam viáveis,
inclusive pela maior resistência oferecida pelos sindicatos de trabalhadores,
especialmente na Europa.
Assim, países como Inglaterra e Alemanha abandonaram o padrão-ouro
ainda em 1931 e vislumbraram perspectivas de recuperação mais rapidamente
do que aqueles países que insistiam em preservar o padrão-ouro e adotar
medidas contracionistas. O padrão-ouro foi abandonado pelos EUA em 1932,
ademais também aumentou o protecionismo e instituiu o New Deal, com
Roosevelt (BEAUD, 1999).
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS