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65 - São Geraldo Majella

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S.

GERARDO ou

GERALDO MAJELLA

EDITORIAL MISSÕES

CUCUJÃES
Autor: Rafael Maria López - Melús SÃO GERARDO MAJELA
Título original: San Gerardo Mayela

©Apostolado Mariano - Sevilla


A vida de São Gerardo ou Geraldo, como tradu­
Tradução: P. Januário dos Santos
zem os brasileiros, é um encanto. Parecem páginas
arrancadas às Florinhas de São Francisco.
Muito perto da povoação de Gerardinho, como
era tratado por todos na meninice e adolescência,
há uma capelinha chamada Capotinanho, onde se
venera uma devota imagem da Virgem Maria com
um belo Menino Jesus nos braços.
Os pais do pequeno Gerardo educaram-no
Reservados todos os direitos para Portugal e países de expressão portuguesa pela
EDITORIAL MISSÕES numa intensa piedade e numa fervorosa devoção
Apartado 40 - 3721-908 VILA DE CUCUJÃES à Virgem Maria.
Quando tinha apenas cinco anos Gerardinho
costumava frequentar esta ermida, umas vezes
acompanhado e outras sozinho.
Composição e Impressão
Certa ocasião estava de joelhos rezando a Nos­
Escola Tipográfica das Missões - Cucujães
sa Senhora quando viu, como a coisa mais natural
deste mundo, o Menino Jesus descer dos braços
Janeiro de 2007
de sua Mãe e pôr-se a brincar com ele. Os dois
ISBN 978-972-577-271-3
amiguinhos passaram bastante tempo brincando a
diversos jogos. No fim, o Menino ofereceu-lhe um
Depósito Legal 252276/06 pequeno pão de farinha muito branca que Gerardi­
nho levou alegremente para a Mãe.

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Este facto repetiu-se bastantes vezes. lntrigada
com o caso, certo dia, uma das irmãs quis segui-lo
para ver se era verdade, e, de longe, presenciou,
com grande admiração, toda a encantadora cena.
Gerardinho limitava-se a dizer à mãe:
- "Mamã, este pãozinho foi-me oferecido por
um menino que brinca sempre comigo e que é fi­
lho de uma mulher belíssima. Ele também é muito
formoso".
1 A irmãzinha não pôde conter as lágrimas e
chorou de emoção. Correu para junto da mãe e
contou-lhe tudo quanto tinha visto na capelinha de
Capotinanho.
Não havia dúvidas. O seu irmão Gerardo era
um santinho pois o Menino Jesus brincava com ele
como com o seu melhor amigo.

DISTINGUE-SE NA DOUTRINA

No reino de Nápoles, na província de Potenza,


há uma pequena povoação que se chama Muro
Lucano. Aqui, do casamento de Domingos Majella
e Benta Galella, nasceu Gerardo. Teve mais três
O Menino Jesus pôs-se a brincar com ele... irmãs. Os pais educaram-no cristãmente. O seu

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AB
pai era alfaiate e a mãe, além das tarefas próprias
da casa, fazia uns campitos que possuíam como
pequenos agricultores.
Gerardo frequentou a escola desde muito pe­
quenino, mas teve de a abandonar aos doze anos
porque, com a morte do pai, foi obrigado a ajudar a
economia da casa, que não era nada desafogada.
Na escola era muito querido - o mais querido
de todos- pelo professor. E isto por dois motivos:
porque era o melhor e o mais obediente e porque
era mais aplicado que todos os companheiros.
Sobretudo numa disciplina distinguia-se mais
que os outros: no Catecismo, que sabia de cor e
explicava como uma pessoa adulta.
Muitas vezes o mestre ficava admirado como
aquele menino já lhe fazia perguntas tão sérias e
difíceis para a compreensão de um menino da sua
idade. E, principalmente, com as explicações tão
elevadas que lhe dava.
Também era o companheiro mais apreciado por
todos os condiscípulos que ficavam sempre conten­
tes com a sua companhia. Todos o convidavam para
jogar e sentiam-se orgulhosos em ser seus amigos.
Na escola era muito queridoporque era estudioso e obediente.

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A PRIMEIRA COMUNHÃO

Gerardo progredia rapidamente nos estudos


mas teve que interrompê-los, ao ficar órfão de pai,
para ganhar dinheiro e assim ajudar na economia
da casa.
Mas antes, na casa de Domingos e Benta houve
um grande acontecimento que o pai, bom cristão,
ainda teve a dita de viver: a Primeira Comunhão do
pequeno Gerardo.
Quando tinha sete anitos, um dia quis introdu­
zir-se furtivamente na fila dos que passavam para
comungar. O sacerdote que distribuía a Sagrada
Comunhão olhou-o com rosto severo .. . e passou
à frente. O pequeno Gerardo ficou muito triste e
deu-o a conhecer ao seu querido amigo Jesus. Este
premiou-o dizendo-lhe:
- "Não temas, esta noite enviarei o Arcanjo São
Miguel a trazer-te a Sagrada Comunhão". Esta foi
a sua Primeira Comunhão.
A segunda não foi menos milagrosa. Estava
absorto em oração, falando com Jesus, quando o
mesmo Jesus lhe perguntou:
- "Gerardo, tens muita vontade de Me receber Gerardo recebeu a Primeira Comunhão aos dez anos...

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dentro de ti como fazem os adultos?" de ser uma boa pessoa e bom mestre. Mas tinha
- "Sim, Jesus, Tu bem sabes que tenho uma com ele um oficial que era exactamente o contrário:
ardente vontade de Te receber. " mau génio, iracundo, blasfemo . . .
E o próprio Jesus deu-lhe a Santíssima Euca­ Gerardo teve que o aguentar até ao limite das
ristia. suas forças para poder aprender e assim tomar
Mas a Primeira Comunhão, a que oficialmente conta da oficina que o pai lhe tinha deixado. Este
lhe permitia sentar-se já com os adultos à Mesa oficial aproveitava todas as ocasiões que se lhe ofe­
do Altar, recebeu-a quando tinha dez anos, coisa reciam para mortificar o pobre Gerardo: castigava­
nada usual naqueles tempos em que a Primeira -o , repreendia-o, dava-lhe empurrões, maltratava-o
Comunhão se fazia normalmente aos doze anos quanto podia. Gerardo, em troca, obedecia-lhe,
ou ainda mais tarde. respeitava-o e procurava fazer o melhor que podia
E o que mais espanta: ele continuava com gran­ quanto lhe mandava.
de ânsia de receber Jesus todos os dias. Permiti­ Por isso, com toda a razão, colocaram uma vis­
ram-lhe que o fizesse duas vezes por semana. tosa lápide de mármore por cima da porta da que foi
A sua alegria quando chegava esse dia era a oficina de Pannuto: "Aqui foi a oficina de Pannuto,
incontível. . . da qual Gerardo fez uma escola de virtudes".
Talvez tenha passado nesta oficina de alfaiataria
APRENDIZ DE ALFAIATE e de santidade uns três anos. Durante eles foi-se for­
jando no espírito de sacrifício e de santa paciência,
Quando o pai, Domingos Majella, morreu deixou virtudes em que Gerardo sempre se distinguiu.
apenas a pequena oficina de alfaiataria. Não havia Passados alguns anos, depois de bem prepa­
mais ninguém a ganhar para sustentar a família.. rado, tomou conta da alfaiataria paterna em que se
Por isso, Benta, sua mãe, colocou-o como aprendiz distinguiu pela sua honradez, pela perícia na arte
em casa de um tal Martinho Pannuto, que tinha fama da tesoura e da agulha, e, sobretudo, na virtude da

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caridade em que já brilhava.
Durante este tempo começou também a fazer
grandes milagres a que não dava nenhuma impor­
tância. Mais ainda: via-os como algo natural mas
as pessoas tinham-nos como autênticos portentos
sobrenaturais.

PREPARANDO O CAMINHO

A vida de Gerardo ia ser muito breve e, por isso,


era preciso aproveitá-la bem.
Ele continuava trabalhando quanto lhe era pos­
sível por crescer em santidade amando o Senhor e
servindo os seus irmãos.
Gerardo não tinha nascido para este mundo e,
por isso, todos os que com ele conviviam denotavam
nele algo nada comum e, por mais que procurasse
ocultá-lo, apareciam todos os dons sobrenaturais
com que o Senhor tinha adornado a sua alma.
Ele só se sentia alegre quando podia estar
perto de Jesus ou dos seus servidores. Para isso
via que o caminho mais seguro era abraçar a vida
religiosa. Assim o manifestou em várias ocasiões
O oficial da alfaiataria aproveitava todas as ocasiões para
humilhar o pequeno Gerardo. a diferentes pessoas mas parece que ninguém lhe

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ligava importância.
·Tinha um tio carnal que era provincial dos reli­
giosos capuchinhos e pediu-lhe para ser admitido
na Ordem. Ao ver que Gerardo não gozava de
saúde robusta, pensando que não seria capaz de
observar a regra tão dura da sua Ordem, pediu-lhe
que desistisse deste sonho.
Vendo que as portas do convento �e lhe fecha­
vam, chegou ao seu conhecimento que o bispo de
Lacedónia, Mons. Albini, precisava de um criado.
Porque era doente e possuía um temperamento
muito irascível, ninguém aguentava mais de um mês
ao seu serviço. O nosso Gerardo de tal forma se
dedicou a ele e com tanta humildade aceitou toda a
espécie de impropérios .. . que o acompanhou com
grande caridade até à morte, que aconteceu três
anos depois de ter entrado ao seu serviço.
Durante este tempo aconteceu aquele famoso
milagre realizado por São Gerardo: estava um dia
tirando água de um poço quando lhe caiu a chave
do palácio. Gerardo não se perturbou. Atou uma
imagem do Menino Jesus a uma corda e desceu­
-a até ao fundo do poço para que lhe apanhasse
Atou uma imagem do Menino Jesus a uma corda, e desceu-a até
a chave. Assim o fez o Menino Jesus obediente à ao fundo do poço.. .

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voz do amigo. Ainda hoje se chama a este poço o
Poço de Gerardito.

SALTOU PELA JANELA

O Senhor chama quem quer e quando quer. . .


Gerardo conhecia que o Senhor o chamava. Ele
batia à porta mas esta não se abria.
lnclusivamente a própria mãe opunha-se te­
nazmente porque julgava que o filho não era para
essa vida e porque, por outro lado, precisava dele
para que, por seu intermédio, entrassem algumas
moedas naquele lar . . .
Em 1749, quando Gerardo tinha 23 anos, che­
garam à sua pequena povoação uns missionários
redentoristas fundados pelo Bispo de Santa Águeda
dei Gotti, Santo Afonso Maria de Ligório. O director
deste grupo de 15 missionários era o Padre Cafaro,
venerável redentorista, não muito fácil de convencer.
O jovem Gerardo procurou ganhar a simpatia da­
queles jovens missionários para que o admitissem
entre eles como um religioso mais. O Padre Cafaro
não lhe ligou importância. Mais ainda: disse-lhe que
O jovem Gerardo fez uma corda com os lençóis e...
a sua vocação era permanecer no mundo e fazer desceu pela janela...

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1 6-
bem no mundo. seguiu que o seu Pároco lhe entregasse a chave da
A mãe de Gerardo, temendo que ele fosse com igreja para poder entrar quando quisesse.
os missionários, não pensou noutra coisa se não Se as paredes daquela igreja pudessem falar
fazer o que faziam as mães com os filhos e as es­ revelar-nos-iam imensos segredos!. . . Fechava a
posas com os maridos no tempo de São Bernardo: porta e ali rezava, se disciplinava, cantava e até
fechou-o num quarto. Mas o Senhor, quando tem dormia muito à vontade porque sabia que Alguém
os seus planos, leva-os até ao fim. O jovem Gerar­ velava pelo seu sono.
do fez uma corda com os lençóis e, agarrando-se Em certa ocasião Jesus falou-lhe do sacrário e
a ela, desceu pela janela . . . juntou-se ao grupo de disse:
redentoristas e, por fim, o padre Cafaro não pôde - i Louquinho! Louquinho!".
fazer mais nada senão aceitá-lo entre os seus pen­ A isto Gerardo respondeu:
sando que aquilo duraria muito pouco tempo. Mas - "Mais louco és Tu, Jesus, que estás aí encer­
não foi assim. rado por meu amor".
Gerardo abraçou em cheio a vida de Irmão Quando lhe levantaram a calúnia, de que fa­
Redentorista e foi sempre muito querido por todos. laremos mais adiante, o maior castigo que lhe foi
Tornou-se um exemplo para Irmãos e Sacerdotes. imposto e o que mais o magoou foi, sem dúvida
alguma, a proibição que lhe fez Santo Afonso de
"LOUQUINHO! LOUQUINHO!" não se aproximar da comunhão até nova ordem.
Um dia chegou um Padre redentorista de fora
Já recordámos atrás quanto ele amava Jesus e disse-lhe:
Eucaristia. O seu grande amor à Virgem Maria e à - Irmão Gerardo, ajude-me à Missa.
Eucaristia eram tudo para ele. - Não posso, Padre. Lamento muito.
Já antes de ingressar na vida religiosa passava - Mas . . . como?! Não és tu Frei Gerardo. . . de
noites inteiras de vigília diante do sacrário. Até con- Jesus?

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- Sim, Padre, mas não posso ajudar-lhe nesta
ocasião.
- Bem, já sei que estás proibido de comungar . ..
mas não estás proibido de ajudar à missa. . .
- Perdoe-me, Padre, mas não posso, porque se
lhe for ajudar à Missa, quando chegar ao momento
da comunhão e vir Jesus nas suas mãos, ninguém
me poderá deter e . . . irei roubá-lo. . .

SE VIESSE O IRMÃO GERARDO ...

O nosso herói tinha pedido ao Senhor a graça de


se parecer com Ele na sua Paixão . . . como veremos
mais adiante. O Senhor foi duramente caluniado.
O Irmão Gerardo queria parecer-se com o Mestre
também neste particular.
E chegou a hora. Era uma ex-freira. Uma jovem
que perdeu a cabeça e acusou o nosso Irmão daqui­
lo que nem sequer em sonhos tinha passado pela
sua mente: de um deslize contra a santa pureza que
ele amava com toda a sua alma angelical para mais
e melhor se parecer com a Virgem Maria . . .
Mas como a calúnia era tão clara e tão exactos
Mais louco és Tu, Jesus, que estás aí encerrado por meu amor! os pormenores, o P. Afonso não teve outro remédio

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senão encerrá-lo numa espécie de cárcere' para
cumprir o merecido castigo.
Gerardo tinha aprendido muito bem o valor da
obediência que é muito maior até que o do próprio
sacrifício, apesar dele também ser era sumamente
devoto de toda a espécie de mortificações.
Os próprios superiores deviam estar atentos
para ver o que mandavam ao Irmão Gerardo pois
ele tomava tudo ao pé da letra como sucedeu em
certa ocasião quando alguém lhe disse:
- Anda! Mete-te no forno!
Ele estava disposto a fazê-lo se não tivesse apa­
recido alguém a dizer-lhe que não fizesse tal coisa.
Estava ele ainda no cárcere, qua.1do, um dia, o
Padre Afonso pensava de si para consigo:
- Eu ficaria absolutamente seguro da sua ino­
cência se ele, neste momento, se apresentasse aqui
diante de mim.
Ainda estava a pensar nisto quando se abriu
a porta e, com grande admiração de todos, ele se
aproximou do Santo e lhe disse:
- Padre, que deseja de mim pois me chamou?
Santo Afonso levantou-se e manifestou em pú­
blico o que acabava de acontecer, declarando que
Padre, que deseja de mim pois me chamou?
o Irmão Gerardo era totalmente inocente. . .

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A SUA LOUCURA PELA MÃE

A terna e filial devoção para com a Virgem Maria


vinha-lhe já desde a meninice. A sua boa mãe tinha­
-lhe inculcado um profundo amor pela Mãe do Céu.
Este amor, que ia crescendo de dia para dia,
chegou ao cume ao vestir a sotaina de redentorista
e ao passar alguns anos ao lado do fundador, Santo
Afonso Maria de Ligório, que foi um dos santos mais
devotos da Virgem Maria e dos que melhor e mais
escreveram sobre Ela.
Gerardo deu graças ao Senhor e à Mãe do Céu
pela graça que lhe concederam de poder vestir a
sotaina religiosa no próprio dia de Nossa Senhora
do Carmo, 16 de Julho de 1752.
Desde criança usava o Escapulário do Carmo e
sempre procurou cumprir com as obrigações a que
se tinha comprometido.
Contam os seus biógrafos que quando chega­
vam as festas da Virgem Maria ele se enchia de
alegria e animava os outros a celebrá-las com toda
a gratidão e grande júbilo.
Desde menino recorria à Virgem Maria com
grande confiança em todas as necessidades e ta- Gerardo tinha uma terna e filial devoção a Nossa Senhora.

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lava com Ela como com o melhor amigo ou com a
mais terna Mãe. Não tinha segredos para com Ela.
Confiava-lhe todos os problemas e assuntos.
Quando realizava os maiores milagres tirava-lhes
toda a importância porque não era ele quem os fazia
mas a Virgem Maria a quem tinha recorrido.
Estava unido por uma terna e puríssima amizade
às religiosas carmelitas para as quais encaminhou
muitas e selectas vocações e não há dúvida de
que elas também colaborariam para que Gerardo
aumentasse e vivesse esta grande devoção à Vir­
gem Maria.

CARIDADE SEM LIMITES

Fizemos nas páginas anteriores esta afirmação


extraída do seu Processo de Beatificação: a carida­
de foi a sua virtude preferida e a que mais praticou
ao longo de toda a vida.
A maior parte dos seus milagres foram feitos a
favor dos outros e para tirar de algumas dificuldades
pessoas necessitadas. Assim, por exemplo, aquele
famoso milagre, quando estando um dia em Nápo­
les, lhe disseram que uma terrível tormenta tinha Atirou-se à água como estava vestido. . .

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arrebatado uma embarcação com os seus pas­ Todos os pobres que batiam à portaria do con­
sageiros a bordo, que, de certeza, estavam todos vento sabiam que o Irmão Gerardo seria o seu
afogados. Ao ouvi-lo, sem pensar duas vezes, ati­ socorro e consolo . . .
rou-se à água como estava vestido e perdeu-se no
meio das ondas embravecidas até arrastar a barca A PAIXÃO DE CRISTO E A SUA
para a terra puxando-a como se fosse um pacote de
pouco peso e salvando todos os tripulantes e tudo Foram três as principais devoções que ao longo
o que nela levavam. de toda a vida praticou o nosso Irmão Gerardo: a
Passou por diversos conventos, para onde foi Eucaristia, a Virgem Maria e a Paixão do Senhor.
destinado pela obediência, deixando um rasto de Ele conhecia muito bem, pelo menos na prática,
santidade, de trabalho e de fiel observância. Só de a doutrina que recorda S. Paulo de "completar no
uma coisa tinham medo os Padres administradores: nosso corpo o que falta à Paixão de Cristo". O Irmão
que deixasse yazia a despensa ou o celeiro. Quando Gerardo procurava sempre reflectir em si mesmo a
chegavam os pobres costumava entrar na despensa imagem do Cristo Paciente. Procurava reproduzir na
e acabar com tudo . . . sua vida todos os tormentos da Paixão e Morte do
Mas não ern detrimento da própria comunidade. Senhor. Para isso aplicava a si mesmo disciplinas
Antes pelo contrário. Assim o demonstrou o P. Caio­ até derramar sangue por Jesus Cristo.
ne que viu, maravilhado, que quanto mais coisas e Mesmo antes de ser redentorista, já procurava
móveis o Irmão Gerardo dava aos pobres . . . mais ganhar a amizade dos rapazes para que lhe dessem
se enchiam os depósitos da comunidade. pancadas e lhe batessem com fúria levando-os a
Sentia um afecto especial por uma categoria de acreditar que lhe faziam um grande favor em vez
pessoas: os mais pobres e os mais doentes. Para de lhe causarem dor.
eles nunca regateava horários ou gastos. Quando, durante três anos, esteve ao serviço
Tudo era para eles e por eles. do singular bispo de Lacedónia, Mons. Albini, con-

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seguiu dos outros criados esta mesma graça: a de
que todos os dias o açoitassem barbaramente e que
proferissem contra ele toda a espécie de impropé­
rios, para assim se assemelhar mais e melhor ao
Salvador Paciente, ao Servo de Javé.
Até conseguiu que, mais de uma vez, o arrastas­
sem pelas ruas empedradas de Muro, sua aldeiazi­
ta. Até teve, certa ocasião, a grande alegria de ser
crucificado à imitação do Mestre, numa Sexta-feira
Santa, na representação de um acto teatral. Mas
pediu aos que faziam de soldados que o atassem
e cravassem de veras para que a cena resultasse
mais real.
Ainda se conservam em Nocera Pagani as estre­
las de ferro e os pungentes cilícios com um pequeno
dístico que informa o piedoso visitante: "Disciplina e
cilícios usados por São Gerardo Majella" . . .

SANTO AOS 29 ANOS

O Irmão Gerardo não era para este mundo. Por


isso, tendo terminado o sermão que o bom Deus lhe
tinha confiado, levou-o para o céu, para junto d'Eie.
O Irmão Gerardo penitenciava-se até derramar sangue
O seu corpo era todo caridade e só desejava
por Jesus Cristo.

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gastar-se pelo Senhor e pelos irmãos.


A última comunidade redentorista que se enri­
queceu com o exemplo das suas virtudes foi a de
Mater Domini em que deixou um sulco de grande
caridade. Ele era o encarregado da portaria onde
espantava os que conviviam com ele pela doçura do
trato e ardente caridade que manifestava para com
todos. Tanto se divulgou a fama da sua caridade e
santidade por aquela região que todos o conheciam
como o "pai dos pobres".
Foi chamado por Deus quando contava apenas
vinte e nove anos, seis meses e sete dias.
A morte, como a vida do Irmão Gerardo, foi fruto 1

de uma obediência cega, pronta e sobrenatural. De


facto, foi este voto que o levou ao sepulcro. Apesar
de estar doente e com uma febre altíssima, saiu
a mendigar pelas ruas, como determinavam as
regras. Pouco depois de sair, sofreu um ataque de
hemoptises e teve de regressar urgentemente para
o seu convento de Mater Domini, já só para morrer.
Em 16 de Agosto, em pleno verão quente italiano,
quando o calor aperta que não é brincadeira, voou
para o céu. A sua morte foi como a sua vida: plácida,
doce, rodeada de êxtase . . . sorridente.

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