Universidade de Brasília Faculdade de Educação Programa de Pós-Graduação em Educação
Universidade de Brasília Faculdade de Educação Programa de Pós-Graduação em Educação
Universidade de Brasília Faculdade de Educação Programa de Pós-Graduação em Educação
FACULDADE DE EDUCAÇÃO
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO
BRASÍLIA
2021
CLEONICE PEREIRA DO NASCIMENTO BITTENCOURT
BRASÍLIA
2021
CLEONICE PEREIRA DO NASCIMENTO BITTENCOURT
Banca Examinadora
A DEUS por ter me sustentado até aqui minha MÃE que fez-me acreditar que eu teria
um lugar no mundo e que posso quando desejo.
À amiga Katilen Vicente Machado Squarisi pela escuta e cuidado diante dos afetos
de angústia, e incertezas em nossa trajetória.
Aos colegas do grupo de pesquisa Diálogos em Sociologia Clínica pela escuta, leituras
e espaço de fala.
The COVID-19 Pandemic made an impact in all dimensions such as social life along with
educational matters in children from 0 to 3 years old in Brazil and around the world, introducing
them even more on the digital world as well on the educational environment through virtual
ambience to care-educate and play. The objective of this research is to analyze the use of
DICT’s as virtual space and its possible implications plus effects on the relationships between
people that work on care-educate and play with infant and children at school during pandemic
time, as a reference from the emergency project “ESCOLA EM CASA -DF” and virtual spaces
in a public school from the education network of Distrito Federal – DF. Coming from the
hypothesis: the dyad childhood and digital technology induce effects and implications on the
constitution of a social and educative link from the subjects involved in the educative context
of children from 0 to 3 years old, from care-educate and play when the relations occur on the
virtual spaces of DICT’s in a critical social situation during the pandemic. The empiric research,
in a qualitative approach deriving from the perspective of Psychoanalysis and Education, had
place in a study of multiple case with participants-subjects (6 teachers, 3 mothers, and 3
children) and presents comprehension of the senses of the narratives reveled on observation,
conversation, interview, and digital games answered by the kids. The data gathered were
analyzed taking into consideration care-educate and play matters, organizing them in three (3)
moments: Moment to See, Moment to Comprehend and Moment to Accomplish. The analyses
showed that the DICT’s made possible a virtual space destined to coming and goings on the
relationships between the subjects that constitute the triad care-educate and play, where the
voice, the look and the word made sense, easing the challenges and the malaise with effects on
social and educational link. This study also evinced the impact of emergency public politics
together with normative regarding the teaching, the child, and the families with relevant
implications involving socioeconomics circumstances and exclusion due to decreased
purchasing power of technologic artifacts with unpreventable difficulties of access on virtual
space in the classroom. Important establish the feeling of absence of the physical school plus
socialization in the interest the infant who occasionally expresses it. Therefore, although the
issues and in front of the Freudian impossibility concerning education, as DICT’s were virtual
spaces relevant for sustaining the educative relationships in context of the emergency during
the COVID-19 Pandemic.
Keywords: childhood and DICT’s; child from 0 to 3 years old; COVID-19 Pandemic; care-
educate - play.
LISTA DE FIGURAS
Dar início a uma pesquisa requer um encontro do pesquisador consigo mesmo e com
suas próprias memórias. Assim sendo, há nesse encontro um pouco das minhas histórias de
infância, no campo educativo como discente e docente, sem linearidade. Aqui farei um recorte
no tema infância, o meu desejo de ir à escola, a distância geográfica dos espaços
institucionais educativos e a presença das TDICs como marcas de memórias educativas e
docentes (ALMEIDA, 2002, 2004, 2010; ALMEIDA; BITTENCOURT, 2018;
BITTENCOURT et al., 2021).
Assim sendo, ao propor uma pesquisa que aborda as relações dos sujeitos com bebês e
crianças bem pequenas e as TDICs como espaço virtual, sustentando-os no campo educativo na
situação social crítica de pandemia, retorno ao meu período de infância vivenciada em cenário
rural nos anos 80, quando socialmente o contexto brasileiro nas décadas de 1980 e 1990 esteve
permeado pelos eventos históricos das Diretas-Já e a instituição do Estado Democrático de
Direito (1988). Infância marcada pelas vozes do rádio, quando por meio dele ouvíamos notícias
e informações cotidianas, dentre elas sobre o acesso à educação, destacando que o preparo para
o vestibular foi realizado com o apoio do programa de televisão Telecurso para o Segundo Grau,
ou seja, reconheço que o rádio e a TV contribuíram em minha formação sociopolítica. Entende-
se, portanto, que infâncias são marcadas pela história social e política que dita as subjetividades
“a cada cultura ou época” (MEZAN, 2002, p. 265), alterando “o laço social” e “- a vida entre
os homens.” (LAJONQUIÈRE, 2006, p. 92).
Sendo assim, minha infância foi permeada pela escuta de histórias ao cair da tarde, entre
brincadeiras de perna de pau e escolinha, cantigas de roda, cuidado com plantas e animais, e o
sonho de ir à escola, pois o município de residência não oferecia acesso à educação infantil,
portanto, tendo que aguardar os 7 longos anos para finalmente ter acesso à escola. Logo, nos
mudamos para outro estado, já que era preciso estar mais perto da escola. Meu pai era
17
trabalhador rural, então continuamos morando no meio rural e a distância da escola continuou
marcando minha infância, minha adolescência, enfim, toda a minha trajetória educativa.
No Ensino Fundamental, estudei em escolas localizadas em regiões rurais (2) e urbanas
de diferentes cidades, nos últimos 4 anos fazendo uso de transporte devido às longas distâncias
com as intempéries e particularidades do meio rural, especialmente, no período de chuvas.
No Segundo Grau, atual Ensino Médio, cursei o Magistério na Escola Normal de
Brazlândia, e na ocasião participei, como observadora, do Projeto Permanente de Alfabetização
e Educação Básica para Jovens e Adultos no Distrito Federal, resultado de Convênio entre a
SEDF, a FE/UnB e o Centro de Educação Paulo Freire (CEPAFRE), com atuação e intervenção
em Círculo de Cultura (FREIRE, 1991). Assim, com os jovens e adultos participantes entendi
a “educação como prática de liberdade” desde que o acesso seja possível. Ressalta-se que os
jovens e adultos que ali participaram eram trabalhadores rurais com mais de 17 anos, e em suas
histórias as palavras e discursos circulavam em torno da queixa da distância entre suas casas e
a escola, motivo da desistência de muitos na infância e na adolescência.
Em 1997, realizei minha primeira atividade como docente no campo educativo com
crianças de 0 a 3 anos, uma experiência singular que deu sentido à escolha profissional após ter
sido aprovada em concurso público para docente da Educação Básica na Secretaria de Educação
do Distrito Federal (SEDF).
As primeiras experiências na modalidade de Educação Especial com crianças
diagnosticadas como autistas foi no ano de 1998, início também do Curso de Graduação em
Pedagogia na Faculdade de Educação - Universidade de Brasília (UnB). Na escola, encontrei
Manuela, uma criança sorridente que estava em sua primeira experiência escolar aos 9 anos,
pois somente havia sido matriculada após a visita do Projeto “A ESCOLA BATE À SUA
PORTA”, política pública de acesso à escola, na qual, por incentivo de minha mãe, fui
voluntária por diversas vezes, pois se eu havia sonhado com a minha entrada na escola, não
poderia conceber que crianças ficassem fora dela.
Manuela era a filha mais nova de um casal de idosos; a primeira filha tinha prévia
avaliação de atraso no desenvolvimento e Manuela era considerada autista, justificativa para
que as crianças se encontrassem fora do espaço escolar. A situação não nos causará
estranhamento à época, pois, como voluntária do Programa, em nossas visitas havíamos
encontrado situações similares ou piores. Manuela apenas emitia sons vocalizados e
isoladamente, interagindo pouco com o outro. Em nossos “encontros” (CHARCZUK, 2020, p.
3) e desencontros, ficou claro, para mim, que no campo educativo de fato me interessa a criança-
sujeito, ou seja, aquele “atravessado pela linguagem, tomado pelo desejo de um Outro e
18
que tem por objetivo interiorizar a oferta de cursos de educação superior por meio da EaD com
prioridade para a formação de professores da educação básica das redes de ensino pública do
País e com o propósito de redução das desigualdades de acesso (BRASIL,2006). A professora
foi orientadora do meu mestrado e doutorado.
Assim, em 1999, atuei na Educação Infantil por meio do Programa Educação Precoce -
(0 a 3 anos), concluí a graduação em 2002 com o Trabalho Final de Curso (TFC) intitulado “A
autoestima da criança de 0 a 3 anos - uma reflexão da prática pedagógica”
(BITTENCOURT,2002), desenvolvido a partir do incômodo com a situação de uma criança
que, aos 2 anos, a partir da entrada na creche, apresentou ausência de fala. Nas atividades de
cuidar-educar-brincar, estabelecemos uma relação singular, como se Artur encontrasse em mim
“algo” da figura materna. Nossa relação se deu por encontro de significantes que somente para
Artur e eu tinham “valor de signos linguageiros [...] com sentido de palavra” (DOLTO, 2018,
p. 13).
Na Educação Precoce também me encontrei com Paula, recém-matriculada no programa
com encaminhamento justificado pela Síndrome de Pfeiffer que, após 8 meses de internação e
diversas cirurgias, chegou à escola sem aceitação de toque ou qualquer outro contato. Estava
sempre chorosa e, nessa trajetória, a mãe não aceitava a troca de professoras, de uma experiente
por outra recém-chegada e, segundo ela, “muito nova” para trabalhar com crianças. Isso me
afetou? Claro que sim! Porém, instigou-me a ir além e buscar caminhos para “conquistar” Paula,
que após 2 meses direcionou-me o primeiro sorriso, e daí por diante vi a mãe abandonar a
cadeira de uso frequente nos atendimentos, pois não se aproximava em nossas atividades
mesmo com os insistentes convites para participar conosco, porém a cada conquista de Paula
vibrávamos juntas e agora nós duas brincávamos com a criança compartilhando o mesmo
colchonete. Juntas acompanhamos a trajetória de Paula em suas internações, eu orientava suas
ações mesmo quando a criança estava hospitalizada. Infelizmente, quando Paula tinha 4 anos,
recebi uma ligação comunicando que ela havia falecido após a sétima cirurgia, porém com ela
aprendi que não importa se a criança no contexto educativo apresenta resistência, pois uma
história prévia precisa ser considerada, bem como a trajetória de sua família.
Em 2003, com o nascimento do primeiro filho, busquei alternativas para continuar
estudando e trabalhando, além de cuidar dele. Assim, como já havia conhecido a educação a
distância em uma disciplina da graduação, nos estudos de extensão e pós-graduação lato sensu,
realizei estudos por meio dessa modalidade. A primeira especialização em Educação Especial
teve ênfase em inclusão (2006), e o trabalho de conclusão foi intitulado “A inclusão na primeira
infância”, cujo objetivo foi estudar a inclusão da criança de 0-3 em pequenos grupos no
20
1 INTRODUÇÃO
nasce imersa no “mundo digital” (DUNKER, 2021), inseridas por adultos e em alguns
momentos percebidas como causa de mal-estar na cultura reconhecida por Freud: “Essas coisas
- que, através de sua ciência e tecnologia, o homem fez surgir na Terra, [...] essas vantagens ele
as pode reivindicar como aquisição cultural sua” (FREUD, 1930, p. 18), ou seja, tanto podem
ser consideradas aquisições culturais do homem em busca de “uma possível perfeição dos
indivíduos, dos povos, ou da humanidade como um todo” (FREUD, 1930, p. 20) quanto causa
de mal-estar, tendo em vista os “ aspectos característicos da civilização”:
Neste sentido, a tecnologia como aquisição cultural na pandemia foi recurso utilizado
para mantermos conexão comunicando-nos com o mundo externo, pessoal, social e
profissional. Importante lembrar que “O desenvolvimento da civilização impõe restrições a ela”
(FREUD, 1930, p. 21) e a pandemia ditou o isolamento social e os relacionamentos sociais
(FREUD, 1930, p. 20).
Nos anos de 2020 e 2021, bebês e crianças pequenas (0 a 3 anos) e suas famílias nos
contextos brasileiro e mundial (CHARCZUK, 2021; GJELAJ et al., 2020; ORNELLAS, L.;
ORNELLAS, M. ,2020; ROMERO-TENA; LOPEZ-LOZANO; GUTIERREZ, 2020; VAN
DER WESTHUIZEN; HANNAWAY, 2021; YE, XIA, JIANG, 2021) foram afetados pela
pandemia da COVID-19, com efeitos em todos os cenários da vida pessoal, social e educativa.
Vimos os sujeitos que compõem a tríade educativa (docente, mãe e criança) fazerem uso das
TDICs para se relacionarem sem limites geográficos, destacando-se, para isso, o uso de
Smartphones e Notebooks. Entende-se que a experiência levou à construção de novos modos
de se relacionar e interagir.
A tríade cuidar-educar-brincar é base subjetivante, tendo em vista as relações
constitutivas dos sujeitos envolvidos no contexto educativo de 0 a 3 anos com seus cuidadores,
familiares e docentes. Na pandemia, a escola, que ocupa o primeiro lugar social habitado pela
pequena criança, reconfigurou-se nos espaços virtuais de apoio para presentificar e fazer
circular o discurso.
Entendemos ser possível circular a linguagem das relações que afetam o sujeito (ELIA,
2010) e o constitui humano. Neste sentido, “o sujeito é efeito da linguagem” (RUBIM, 2007;
SANTOS, 2016) e “O Outro está lá antes do sujeito e é a própria mãe que o sustenta” (COSTA,
2010, p. 65).
25
mínimo de dano, e apesar das “disposições constitucionais” é improvável que o mesmo método
seja bom para “todas as crianças” (FREUD, 1996[1933], p. 147, grifo nosso).
Em casa, diante do isolamento e da emergência mundial e ante o “dever” do exercício
da docência, professores, crianças e famílias, para além de suas obrigações em casa e com o
trabalho, foram envolvidos também por conteúdos latentes, haja vista o discurso social que
envolve a época, que se centra: em medo, perda da vida, morte, luto, conflitos, faltas e outros
afetos.
Destaca-se que o período de interrupção do ano letivo, que iniciara poucos dias antes no
ano de 2020, deixou o sentimento de inconclusão, do não feito e de uma falta-a-ser (LACAN,
1958 [1998]) afetado pelo sintoma de angústia da época.
Para tratar de uma tese que envolve as relações dos sujeitos no campo educativo com
bebês e crianças bem pequenas, que se configura a partir da orientação de políticas públicas
educacionais no Brasil e em alguns países e de que o processo educativo envolve a tríade:
família, docente crianças, tendo como cenário social o contexto de uma situação crítica de
pandemia, recorremos às ideias freudianas na crença de que estamos diante de uma realidade
que se tornou nossa inimiga e fonte de sofrimento com grandes impactos na variedade do
“mundo humano e sua vida mental” (FREUD, [1930-1929], p. 2), assim, as proposições
freudianas causadoras de sintomas de sofrimento no ensaio Mal-estar na Civilização são
retomadas:
a) o próprio corpo;
b) o mundo externo;
c) os relacionamentos entre os homens.
Diante da situação crítica da pandemia e dos ensinamentos freudianos de que só nos
tornamos humanos nas relações, nesta tese nos interessam as relações estabelecidas entre os
sujeitos no campo educativo com bebês e crianças pequenas quando submetidos aos espaços
virtuais das TDICs. Assim, apresenta-se a questão norteadora:
Quais os efeitos e implicações na constituição do laço social e educativo dos sujeitos
envolvidos no contexto educativo da criança de 0 a 3 anos, ao cuidar - educar - brincar, quando
as relações ocorrem nos espaços virtuais em situação social crítica de pandemia?
Aponta-se, como ponto de reflexão na tese, que
as funções educativas de cuidar, educar e brincar com crianças da primeiríssima
infância, submetidas às TDICs diante da situação social crítica da pandemia, provocaram
ressonâncias e efeitos nos modos de brincar e se relacionar, com possíveis entraves nas
27
1.1 Objetivos
Analisar o uso da TDICs como espaço virtual e possíveis implicações e efeitos nas
relações dos sujeitos que operam as funções de cuidar-educar-brincar com bebês e crianças bem
pequenas em instituição escolar no contexto da pandemia.
a. observar a ação dos sujeitos na função docente ao usar as TDICs e Ambientes Virtuais
de Aprendizagem com crianças de 0 a 3 anos diante da situação social crítica de
pandemia;
b. compreender as relações de docentes, famílias e crianças na presença do uso das
TDICs como espaços virtuais para brincar e se relacionar em contexto educativo e
social;
c. discutir os impactos das políticas públicas educacionais na ação docente ao usar as
TDICs com crianças de 0 a 3 anos.
1 https://escolaemcasa.se.df.gov.br/
28
docentes e as famílias, em que, a partir das situações educativas, nos posicionamos para olhar
a ação dos sujeitos tendo as TDICs como espaços virtuais na relação para cuidar-educar-brincar.
Logo, vimos os sujeitos em suas funções buscando meios para atender ao outro, utilizando o
olhar e a voz na tentativa de, de algum modo, se encontrarem, dando sustentação (holding) uns
aos outros em presença e ausência, configurando-se a transferência no ato educativo.
Logo, no TEMPO DE COMPREENDER: TDICs, o brincar e as relações subjetivas
no campo educativo de 0 a 3 anos, colocar-se no lugar dos sujeitos para pensar e tentar
compreender, porém sabendo que “pode reduzir-se ao instante do olhar, mas esse olhar, em seu
instante, pode incluir todo tempo necessário para compreender” (LACAN, [1945]1998c, p.
205), assim, tendo a clareza de que nossas análises ocorrem em nosso tempo. E vimos que o
brincar e as brincadeiras tendo as TDICs como espaços virtuais para as relações em campo
educativo, em outra base discursiva, possibilitaram o laço e a transmissão.
Ao final, apresentamos o capítulo “Tempo de concluir”: políticas públicas
educacionais e as TDICs no campo educativo com crianças de 0 a 3 anos, cuidar-educar -
brincar na pandemia 2021. Com a evolução na aplicação das vacinas para controle da
pandemia da COVID -19, acompanhamos os sujeitos - participantes transitando do ensino on-
line para o híbrido, com outras orientações ditando as relações, portanto, temos um
apressamento, para não nos perdemos na análise quando o tempo que dita o caminho é de
concluir. Desse modo, foi relembrado o período inicial da pandemia em 2020 a partir da
epígrafe de Tolfo (2019) que já enunciara um “apressamento” no tempo da infância ditada,
segundo a autora, pelo uso massivo das TDICs por crianças, e a busca pelo “ensinamento” que
levou gestores a repetirem o feito por ocasião da situação emergencial pandêmica. Concluímos
que o uso das TDICs nas relações educativas com a criança pequena para cuidar-educar-brincar
na pandemia de 2020 - 2021 foi um elemento importante e mal necessário às relações amorosas,
que o primordial no laço social são “as relações” e no laço educativo é o amor, que não dita
distâncias, conforme relato da DOCENTE C ao narrar o que escutou das crianças sobre as
aulas virtuais.
“Eu não quero essa aula aqui não, essa aula é chata! Eu quero te beijar!”
Por fim, as considerações, comunicando que os espaços virtuais configurados em salas
virtuais possibilitaram a linguagem do encontro de afetos, de desejos, sustentando as relações
para cuidar-educar-brincar com os bebês e crianças bem pequenas e que, ainda que não sejam
o ponto ótimo (FREUD, 1996[1933], p. 147), marcam a memória dos sujeitos-participantes da
pesquisa, bem como desta pesquisadora.
30
Esta seção apresenta apontamentos sobre educação de bebês e crianças bem pequenas
(0 a 3 anos), termo utilizado para clarear a especificidade necessária na educação de bebês e
crianças bem pequenas. De acordo com a BNCC (2018), bebês são crianças de 0 a 1 ano e 6
meses, e crianças bem pequenas de 1 ano e 7 meses até 3 anos e 11 meses, considerando as
ressonâncias das políticas públicas para a educação infantil, consolidando-se no direito ao
atendimento educativo desde o nascimento, a partir da creche, e reconhecendo que as ideias ao
longo do tempo não seguem “uma lógica linear e mecânica” (LAJONQUIÈRE, 2010, 2017, p.
20).
Discute-se a evolução histórica que evidencia avanços na visão de infância e de criança,
cuidar-educar-brincar a partir dos documentos normatizadores como as Diretrizes Curriculares
Nacionais para a Educação Infantil (BRASIL, 2010) e a Base Nacional Comum Curricular
(BNCC, 2017), especialmente, quanto à orientação para o uso das Tecnologia Digital da
Informação e Comunicação com a criança pequena, considerando-a em suas múltiplas
linguagens e que, nesta tese, é reconhecida como espaço de discursos que sustentou as
atividades sociais e educativas no contexto da pandemia 2020-2021. Opta-se pelo termo por
entender que no período de pandemia foi espaço da comunicação entre os sujeitos que compõem
o campo educativo com a criança pequena.
Nessa perspectiva, apresentamos os trâmites do projeto emergencial “Escola em Casa -
DF” adotado pelo Governo do Distrito Federal para dar andamento ao Ensino Remoto ou
Educação On-line, com apoio do Google for Education e suas ferramentas de comunicação e
aprendizagem - Google Classroom e seus recursos de interação. Posteriormente, apresentamos
a Política Pública Educação Precoce (DISTRITO FEDERAL, 2019, 2020i) como cenário de
atendimento dos sujeitos-participantes e, ao final, a descrição da compreensão de infância e
criança na teoria psicanalítica a partir de autores clássicos e contemporâneos, com recorte para
as contribuições no campo educativo com crianças, sobretudo, suas abordagens no que se refere
à constituição subjetiva, ao parâmetro de análise, à estratégia e linguagem, aos dispositivos de
acesso e escuta e ao lugar que ocupa na relação adulto-criança.
Nessa perspectiva, a Constituição Federal do Brasil, de 1988, em seu artigo 205, Seção
I, assegura que a educação é direito de todos e dever do Estado e da família, e será promovida
e incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa,
seu preparo para o exercício da cidadania e da sua qualificação para o trabalho.
Porém, o acolhimento das crianças mais novas (KUHLMANN JÚNIOR, 2000) em
instituições educacionais de Educação Infantil até 1996 acontecia apenas a partir da educação
pré-escolar (4 a 6 anos), e as crianças de 0 a 5 anos eram atendidas no campo da assistência
social e saúde. As oriundas de famílias com melhor poder aquisitivo recebiam acompanhamento
no campo educacional do setor público e de algumas instituições privadas, enquanto as mais
pobres, filhos e filhas de mães trabalhadoras, dependiam exclusivamente da assistência social,
ou seja, umas se situavam no campo do cuidar e educar (intelecto), e outras limitavam-se ao
cuidar (corpo), conforme a condição social familiar.
Mais à frente esses conceitos serão abordados, referenciando-se no aporte teórico de
opção e no contexto da pandemia, levando-se em conta que “É a escuta das demandas de nosso
tempo que mantém o nosso saber vivo e criativo, obrigando-nos a dar conta do sofrimento e da
miséria que se apresentam diante de nós, enquanto algo desconhecido e que nos questionam
eticamente”. (BROIDE, 2019, p. 8).
Neste sentido, é significativo nos lembrarmos de que a psicanálise, desde Freud, habita
o campo social e reconhece o campo educativo como um espaço social em que a criança
pequena é inserida. Historicamente, destaca-se o trabalho de Sabina Spielrein no Jardim de
Infância psicanalítico em Moscou (CROMBERG, 2008, p. 31), denominado “Casa das Crianças
de Moscou”, teve fundação em 19 de agosto de 1921, com 30 crianças de 1 a 5 anos, de diversas
origens sociais (MANIAKAS, 2019, p. 131).
No Brasil, a educação de bebês e crianças bem pequenas, iniciou-se com os movimentos
sociais da “luta pela creche” inspirados pela Declaração Universal da Criança e do Adolescente
em 1959, pela Constituição Federal do Brasil (BRASIL, 1988) e pelo Estatuto da Criança e do
Adolescente (BRASIL, 1990), culminando na mudança e nos posicionamentos que
asseguravam o direito social à creche, e que esta seria um espaço educativo para todas as
crianças. A partir desse marco histórico, os conceitos de cuidar e educar ocuparam lugar de
centralidade no campo educativo.
Assim, diversas leis provocaram alterações nas diretrizes e bases da educação nacional
no Brasil (BRASIL, 1996)2e outras3 determinaram a obrigatoriedade da Educação Infantil
2
Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996.
3
Lei nº 11.700, de 13 de junho de 2008 e Lei nº 12.796, de 4 de abril de 2013.
34
desde a fase pré-escolar até os 4 anos (BRASIL, 2008), estendida para as crianças de 0 a 5 anos
de idade (BRASIL, 2013) em creches (0 a 3 anos) e pré-escolas (4 a 5 anos). Nesta lei, observa-
se a oferta do atendimento educacional especializado para todos os níveis, etapas e modalidade,
assim como o reconhecimento do direito à educação para as crianças de 0 a 3 anos como
primeira etapa da educação básica, porém, apenas após garantia do ensino no nível fundamental
(6 a 14 anos) e segunda etapa da educação infantil (4 a 5 anos).
Ainda mais, nesta tese, evidenciamos outra lei que incide sobre a educação de 0 a 3 anos
com alterações na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (BRASIL, 1996), a Lei nº
13.632, de 6 de março de 2018, que dispõe sobre a educação ao longo da vida, que se refere à
exigência de a educação especial ser ofertada desde a educação infantil, estendendo-se para
toda a vida, nessa lei, destaca-se o direito à educação e aprendizagem ao longo da vida e incide
sobre a Educação de Jovens e Adultos (EJA). A Educação Especial, que configurando-se como
Atendimento Educacional Especializado, acolhe estudantes com deficiência, transtornos
globais do desenvolvimento, altas habilidades e superdotação em todas as etapas de ensino
(BRASIL, 1996, 2013, 2020d).
No entanto, após longos anos de movimento para a inclusão de todos os estudantes dessa
modalidade nas escolas regulares de ensino, reconhecemos como retrocesso a Política Nacional
de Educação Especial (BRASIL, 2020d) que dá ênfase à manutenção das escolas
especializadas, justificada para atendimento aos estudantes “que não se beneficiam, em seu
desenvolvimento, quando incluídos em escolas regulares inclusivas e que apresentam demanda
por apoios múltiplos e contínuos” (BRASIL, 2020d).
Analisa-se que essa e outras proposições são inerentes à política de extrema-direita
adotada pelo governo do presidente Jair Bolsonaro, que se desdobram em movimento
segregatício dos estudantes que, ao olhar do outro, são considerados ineficientes. É importante
registrar nossa atuação profissional em ações e movimentos que propiciaram a Educação
Inclusiva, desde 1998, com presença ativa em debates, seminários e outros movimentos que se
mobilizam para assegurar a participação do aluno como sujeito no mundo desde a primeiríssima
infância (0 a 3 anos). Pensamos que nessa fase a criança já deve estar no mundo social,
assegurado pelas instituições educativas, fazendo-se ator de sua própria história.
Destaca-se que somos testemunha de nossa própria história e da história de muitas
crianças e famílias que, por meio de ações inclusivas desde os pequenos grupos no contexto da
Educação Precoce, garantiram sua inclusão da educação infantil até a universidade.
Entende-se que são imprescindíveis à sustentação e à manutenção de políticas públicas
educacionais, verdadeiramente equitativas, como responsabilidade do estado de direito a partir
35
Historicamente, a Educação Infantil sempre foi pensada pelos adultos. Nessa proposta,
a criança é tomada como centro do planejamento das ações educativas com reconhecimento de
que se constitui como sujeito histórico e social. Das diretrizes curriculares, interessa-nos o
reconhecimento da criança como sujeito e produtora de saberes, das relações sociais e
significações, além da visão ampla sobre o cuidar, o educar e o brincar junto aos professores e
às suas famílias. Ainda que em nossas pesquisas, para a construção do quadro teórico, tenhamos
encontrado diversas referências ao termo “professoras”, temos a decisão ética em manter
professores fazendo referência a todo sujeito que ocupa a função docente com os bebês e as
crianças bem pequenas (0 a 3 anos).
2.1.3 Os bebês e as crianças bem pequenas na Base Nacional Comum (BNCC, 2017)
A BNCC, desde a Educação Infantil, faz referência sobre a interação entre os grupos:
familiar, social e cultural e as TDICs centrada em princípios democráticos e de esclarecimentos
frente à cultura e ao mundo digital, uma vez que “Ao aproveitar o potencial de comunicação do
universo digital, a escola pode instituir novos modos de promover a aprendizagem, a interação
e o compartilhamento de significados entre professores e estudantes.” (BRASIL, 2018).
Os aspectos da interação em todos os campos a partir das TDICs, que envolvem os
sujeitos na relação triangular cuidar, educar e brincar nos interessa, assim também na
modalidade de Educação Especial, no âmbito do Atendimento Educacional Especializado no
contexto da Educação Infantil com bebês e crianças bem pequenas (0 a 3 anos).
Desde a Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência pela ONU em 2011,
observamos grandes avanços na oferta de educação inclusiva para pessoas com deficiências.
No Brasil, a Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva
(BRASIL, 2008) e o Atendimento Educacional Especializado (AEE), de 2011, apresentam
disposição sobre a educação especial e o atendimento educacional especializado, determinando
que a matrícula, preferencialmente, ocorra na rede regular em todos os níveis de ensino, dentre
eles na Educação Infantil - creche.
Destaca-se neste trabalho a adaptação das situações educativas que, devido às diferenças
e às singularidades das crianças, necessitam crer em suas possibilidades e suas potencialidades,
considerando sua história de vida desde as primeiras relações e “experiências de nascimento do
indivíduo" (WINNICOTT, 1990, p. 170-171) às interações, os saberes, o campo histórico,
social e educativo em que ele se insere.
contribui para a resistência ao que chamam de “tratamento”. Crê-se que no campo educativo o
sujeito seja atendido em sua singularidade e situação social (CARNEIRO; COUTINHO, 2014,
p. 2) e não em suas deficiências ou suas eficiências numa visão global do desenvolvimento e
dos aspectos inconscientes da relação educativa (FRANCO; ALBUQUERQUE, 2010, p. 175).
Assim, nesta tese não colocaremos em evidência a deficiência ou as eficiências, o que nos
importa é a criança-sujeito que comparece nesse campo educativo.
Cuidar das crianças no seu todo exige também uma perspectiva de desenvolvimento,
e a humildade de reconhecermos a nossa inevitável incompetência para resolver o
problema, ou a parte mais importante do problema. Para assim podermos aceitar que
40
A tecnologia digital, termo presente na BNCC é utilizado por diversos autores, nesta
tese utiliza-se também “tecnologias digitais”, TDICs, ou Tecnologias digitais de Informação e
Comunicação, é abordada nos documentos orientadores, desde a DCNEI (2009), é
compreendida como elemento que possa sustentar situações pedagógicas que favoreçam as
crianças na “imersão em diferentes linguagens” como: “utilização de gravadores, projetores,
computadores” máquinas fotográficas e outros recursos tecnológicos e midiáticos (BRASIL,
2009, p. 25-27).
A Base Nacional Comum Curricular - BNCC (BRASIL, 2018) e Diretrizes Curriculares
Nacionais (DCNEI), reconhecem que no contexto escolar as Tecnologias Digitais da
Informação e Comunicação (TDICs) estão presentes no trabalho, na comunicação e
possibilitam aos sujeitos “se relacionar”, aprender e apoiar professores e alunos nas práticas de
41
4
Portaria nº 343, 17 de março de 2020; Portaria nº 345, de 19 de março de 2020; Portaria nº 395, de 15 de abril de
2020; Portaria nº 473, de 12 de maio de 2020; Portaria nº 544, de 16 de junho de 2020.
42
espaço utilizado. Destaca-se que as atividades pedagógicas propostas “podem ser mediadas ou
não por tecnologia de informação e comunicação, principalmente, quando o uso de tecnologias
digitais não for possível” (BRASIL, 2020b, p. 6). É importante registrar que poucas ações foram
realizadas no âmbito do governo federal para apoio às crianças, aos jovens e às famílias
excluídas desse processo, o que tem se reiterado na história da educação de muitos brasileiros,
ou seja, a ausência do poder público na oferta de acesso às TDICs para os estudantes e suas
famílias, acentuando ainda mais a situação social crítica da pandemia.
A seguir, apresenta-se quadro com as alternativas propostas pelo CNE (BRASIL,2020b)
para continuidade das atividades educativas.
Até o início da pandemia, na Educação Infantil, não havia “previsão legal nem
normativa [...] para oferta de educação a distância, mesmo em emergência” (BRASIL, 2020b,
p. 6) ante os entraves para uma previsão de reposição do atendimento a esse público específico:
5
BRASIL, (2020b, 2020e, 2020f, 2020g, 2020h).
43
Guia de orientação aos pais no qual sejam incluídas Orientações de acesso síncrono ou
informações quanto aos cuidados com a higiene e alimentação assíncrono.
das crianças
2.2.2 Infância e tecnologia digital: as políticas educacionais para o trabalho docente com
bebês e crianças bem pequenas na rede de ensino pública do Distrito Federal no
período de pandemia
6
Decreto nº 40.509, de 11 de março de 2020; Decreto nº 40520, de 14 de março de 2020; Decreto nº 40.583, de 1º
de abril; Decreto nº 40.817, de 22 de maio de 2020; Pareceres nº 47/2020-CEDF; nº 004/2020-PROEDUC.
44
7
Portaria nº 129/2020-SEDF
45
para crianças com deficiência e situação de risco. Nas estratégias de trabalho pedagógico pode-
se incluir o acolhimento ou holding das famílias em respeito às suas singularidades com
destaque para a dialogicidade, a escuta, as interações e o respeito à cultura familiar (SOEIRA,
2015, p. 50).
Tratar das relações dos sujeitos com a criança que se relaciona com a tecnologia digital,
diante da infância do nosso tempo, requer que retornemos à noção de infância na teoria de
referência.
O termo infância apresenta-se diferenciado como uma categoria social (ARIÈS,1981;
KUHLMANN JÚNIOR, 1998; SARMENTO, 2002), estrutural(QVORTRUP, 2010)“condição
da criança” (KUHLMANN JÚNIOR, 1998, p. 31), invenção da Modernidade (POSTMAN,
1999), oriundas de “práticas e discursos” (SARMENTO, 2002, p. 20) e produto de um “discurso
histórico” que também vai “deixando marcas” (KUHLMANN JÚNIOR, 1998, p. 31), “gera
efeitos diferenciais a partir de seu ingresso em uma significativa cadeia biográfica e coletiva
(MINNICELLI, 2009, p. 180) e onde há representação na relação adulto-criança (FREITAS;
KUHLMANN JÚNIOR, 2002).
Freud ([1916-1917]-1996); ([1925;1937]-1996),([1932-1933]-1996);(1934-1938/1996)
não tratou do termo infância em si, até porque foi estruturado socialmente a posteriori, no
entanto, apresenta considerações sobre a criança que desde a infância se constitui
psiquicamente, em especial, o educar e o brincar.
Por outro lado, Lacan oferece a visão de que o infans, “sem palavras” é marcado pelo
significante, o Outro e está na linguagem, pontuando:
Nesta seção apresenta-se quadro com a visão dos autores clássicos sobre a criança a
partir da perspectiva da psicanálise; interessa-nos também suas percepções sobre a constituição,
as estratégias e as parâmetro de análise para acesso, escuta e visão sobre o lugar que o adulto
posiciona a criança nos contextos socioculturais, com recorte para o campo educativo.
8
Professora e pioneira na psicanálise com crianças.
9
Análise de um sonho de um menino de cinco anos. A vida psíquica da criança – um estudo psicanalítico. A
psicanálise da criança e a Pedagogia. Sobre a Técnica da Psicanálise de Crianças.
47
deduzi que as crianças se recusam a crer na teoria da cegonha e que, a partir dessa
primeira decepção, começam a desconfiar dos adultos e a suspeitar que estes lhe
escondem algo proibido, passando como resultado a manter em segredo suas
investigações posteriores. Com isso, entretanto, a criança experimenta o seu primeiro
‘conflito psíquico’, pois certas concepções pelas quais sente uma preferência
instintual não são consideradas corretas pelos adultos e contrapõem-se a outras
defendidas pela autoridade dos mais velhos, as quais, entretanto, não lhe parecem
aceitáveis. (FREUD, [1976] /1996, p. 136).
10
Contribuições para o conhecimento da psique infantil. Os ensaios sobre a origem da linguagem na criança.
Algumas analogias entre o pensamento da criança com o dos afásicos e com o pensamento subconsciente.
Origem das palavras infantis mamãe e papai – sobre o problema da origem e desenvolvimento da linguagem.
11
Segundo Cromberg (2012), Piaget, em conferência, faz citação a um colega, em que sua intenção em publicar o
trabalho em conjunto.
12
Influenciou Françoise Dolto, Maud Mannoni e Jenny Aubry.
13
Fantasias e devaneios diurnos de uma criança espancada.War and children. Crianças sem lar.
49
Observa que não se trata de três infâncias, muito menos de três tipos de crianças, mas
escreveu – “a jogada era e continua sendo - pensar a infância como um operador discursivo que
amarra ou articula a vida adulta com as crianças e são três os componentes:
crianças e adultos habitam mundos diferentes mesmo que pisem um mesmo e único
planeta. Tal coisa não deve nos surpreender, pois o transcorrer do tempo é irreversível.
No seio dessa irreversibilidade a criança cavouca um lugar para si num mundo que já
não é mais o adulto. Em outras palavras, ela se separa do adulto no instante mesmo
em que ambos se encontram (LAJONQUIÈRE, 2016a, p. 81).
De outro modo, ao tratar de infância, Kupfer reconhece a escola como lugar social e vê
a criança como “um sujeito que pode dizer” (KUPFER; BERNARDINO; MARIOTTO, 2014,
p. 16) de si, assim como Dolto (2005, 2018), entendendo que “com a criança, tudo deve ser dito
por meio de palavras para que o agir seja educativo” (DOLTO, 2018, p. 62), ou seja, para as
autoras, a criança pode se posicionar no campo educativo diante dos adultos que a acolhem.
Dos autores que escreveram ou desenvolveram trabalhos com crianças, Hermine Von
Hug-Hellmuth propunha confluência entre a psicanálise e as influências pedagógicas, assim
como Anna Freud. Por outro lado, Freud, contrariando a concepção de infância moralizante
sustentada por diversos educadores e pensadores, entre eles Santo Agostinho, proferiu que “pais
– educadores, professores, pessoas escolhidas como modelos ideais [...] seguem os preceitos de
seus próprios superegos ao educar as crianças” (FREUD, [1933, 1932] /1996, p. 46) e agem
com uma “força repressora” (FREUD, [1933,1932] /1996, p. 39).
Seja qual for o entendimento a que possam ter chegado entre si o seu ego e o seu
superego, são severos e exigentes ao educar os filhos. Esqueceram as dificuldades de
sua própria infância e agora se sentem contentes com identificar-se eles próprios,
inteiramente, com seus pais, que no passado impuseram sobre eles restrições tão
severas. Assim, o superego de uma criança é, com efeito, construído segundo o
modelo não de seus pais, mas do superego de seus pais; os conteúdos que ele encerra
são os mesmos, e torna-se veículo da tradição e de todos os duradouros julgamentos
de valores que dessa forma se transmitiram de geração em geração.
3 ESTADO DO CONHECIMENTO
reconhecer a singularidade dos temas e, afinal, estabelecer relações com a produção de outros
autores. (FERREIRA, 2002; ROMANOWSKI; ENS, 2006; MINUSI et al., 2018).
Neste estudo, optou-se por levantar produções científicas relacionadas ao tema Infância
e Tecnologia inicialmente a partir do Portal de Periódicos CAPES/MEC14. O interesse basilar
orientou-se por estudos desenvolvidos na área da Educação a partir das bases de dados: ERIC15,
Rede Scielo16, Scopus17, Redalyc18.
Intencionou-se saber se os espaços virtuais das TIDCs trazem ressonâncias nas relações
do cuidar-educar-brincar no campo educativo de 0 a 3 anos. Analisou-se o uso das TIDCs e
Ambientes Virtuais de Aprendizagem como espaço virtual, e os efeitos e implicações nas
relações dos sujeitos que operam a função de cuidar-educar -brincar com crianças de 0 a 3 anos
em instituição escolar no contexto da pandemia, sustentando-nos no “encontro ou
(des)encontro” (ORNELLAS, L.; ORNELLAS, M., 2020, p. 33) entre a psicanálise e a
educação.
Inicialmente, no levantamento dos artigos, objetivou-se compreender a visão dos
pesquisadores em relação ao tema intencionando encontrar retorno às seguintes questões:
1) O que incide na relação adulto-criança quando a díade infância e tecnologia têm sido
abordadas nas pesquisas com e sobre o contexto educativo da criança de 0 a 3 anos?
2) Que configurações e efeitos são apontados na dimensão sociocultural?
3) O que prevalece no discurso dos pesquisadores pós-escuta dos sujeitos implicados no
campo educativo?
Reconhece-se que as leituras ofereceram contribuições para compreender as relações de
docentes, famílias e crianças quanto ao uso das TDICs como espaço das relações, do discurso
ao brincar e relacionar-se em contexto educativo e social (Objetivo 3).
Nesse sentido, o levantamento na Biblioteca Digital Brasileira de Teses e Dissertações
(BDTD), Scopus19, Redalyc20e ERIC21 e Rede SciELO22resultou no quantitativo a seguir.
14
Disponível em: https://www-periodicos-capes-gov-br.ezl.periodicos.capes.gov.br
15
Educational Resources Information Centre - Institute of Education Sciences do US Department of Education -
http://www.eric.ed.gov/
16
Scientific Electronic Library Online - Scientific Electronic Library Online – https://scielo.org/pt/
17
SciVerse Scopus – maior banco de dados com avaliação por pares - https://www.scopus.com/
18
Sistema de Información Científica Redalyc - Red de Revistas Científicas de América Latina y el Caribe, España
y Portugal - https://www.redalyc.org/
19
Scopus - https://www.scopus.com
20 Redalyc - https://www.redalyc.org
21 ERIC - https://eric.ed.gov
22 Rede SciELO - Scientific Electronic Library Online - https://www.scielo.org
53
BDTD 5
2324252627
SciElo 9
ERIC2829303132 4
Scopus33 13
Redalyc 4
Fonte: Elaboração própria.
23
Filtro 1: Desde 2017, Education, Digital technology AND early childhood education (4).
24
Filtro 2: Desde 2017, Education, Digital technology AND early childhood education AND 0 a 3 Years (0).
25
Filtro 3: Desde 2020, Education, digital technology, AND pandemic (4) textos.
26
Filtro 4: Desde 2020, Education, TICs e EducaçãoInfantil” AND Covid-19 (0).
27
Filtro 5: Desde 2020, Education Remote learning AND Covid-19 (3) repetidos nos descritores anteriores.
28
Filtro 1: Desde 2017, Artigos de periódicos, Educação Infantil, Educação pré-escolar, Jardim de Infância.
29
Filtro 2 Desde 2020, COVID-19, Educação Infantil, Educação pré-escolar (3).
30
Filtro 3: Remote learning AND Covid-19 Desde 2017, COVID-19, Artigos de periódicos, Educação Infantil,
Educação pré-escolar (4).
31
Filtro 4: Digital technology AND earlychildhoodeducation AND 0 a 3 Years - Educação Infantil, Educação pré-
escolar, Jardim de Infância (2).
32
Filtro 5: digital technology AND pandemicsAND COVID-19(4) Desde 2017, Educação Infantil, Educação pré-
escolar (1), excluídos (3) repetidos em outros descritores.
33
Na base de dados Scopus, foi necessário delimitar a área de estudos para ciências sociais, psicologia, artes e
humanidades.
54
envolvendo exclusivamente
ensino de línguas;
disponibilizados em mais de
uma base.
os espaços institucionais (família, escola, trabalho etc.) confinado e cerceado pelo medo e
desamparo.
De acordo com Broide, J. e Broide, E. (2015, p. 71),
Com isso, são necessárias várias renúncias pressupondo uma organização social que,
nos tempos atuais, seria a Lei e o Estado. São exatamente essas renúncias em nome
do coletivo que causam mal-estar na civilização e que estão no tempo presente
enquanto sintomas e ambiguidades nos vínculos e nas relações sociais.
Quadro 6 - Organização das pesquisas conforme a natureza, ano, título, autor(es) e instituição
Natureza
Nº Ano Título Autor(es) Instituição
da pesquisa
Universidade
Webcomic a infância do Brasil: as ANJOS, Fabio
Tecnológica
01 Dissertação 2017 mediações culturais entre Augusto
Federal do
tecnologia e quadrinhos Venâncio dos.
Paraná
Universidade
O uso das tecnologias digitais com SILVA, Patrícia
02 Tese 2017 Federal do Rio
crianças de 7 meses a 7 anos: Fernanda da.
Grande do Sul
como as crianças estão se
57
Observa-se que há uma pequena produção no período demarcado, a maioria três (3) em
2017 e duas (2) em 2019. A pesquisa de Anjos (2017) tratou sobre a tecnologia na infância com
foco na tecnologia e adaptações na linguagem e na interação do leitor, e sua análise trouxe a
tecnologia como técnica, contrapondo-se à nossa pesquisa.
O trabalho de Oliveira (2019), apesar dos alunos de 5 a 7 anos, foi mantido por tratar da
cultura na infância e trazer a escuta com pais e professores. No entanto, temos clareza da
especificidade que envolve bebês e crianças bem pequenas no campo educativo.
Destaca-se, nas pesquisas, a visão dos pesquisadores em relação à posição dos sujeitos
envolvidos (pais, professores e alunos) quanto ao uso da tecnologia pela criança, que foi
categorizada em três (3) diferentes temáticas: Tecnologia, infância e sua dimensão
sociocultural; Tecnologia, infância e o campo educativo; Tecnologia, infância e a criança na
visão do adulto: a voz dos pesquisadores.
Sobre a relação com o outro, seu semelhante, Lacan ([1968-1969]2008) dizia que o
Outro (inconsciente) está presente. É no outro que se encontra o eu ideal que se espelha, porém
não se iguala, reconhecendo que “o eu ideal é constituído pelos ideais do Outro, ou seja, pelos
significantes recalcados no inconsciente que foram ditados e exigidos que assim eu fosse.”
(QUINET, 2012, p. 12). De outro modo, indagamos: a afirmação de Figueiredo (2017, p.06)
sobre “a pauperização dos vínculos” pode afetar a experiência com o “outro”
(HOMRICH,2016, p.154) e o Outro?
Em estudo teórico, Tolfo (2019) trata do uso das tecnologias digitais como “pressão”
dos tempos atuais e dos adultos e suas influências no livre brincar e movimentar-se. Indica
que a conexão e o monitoramento da criança a torna mimada e incide sobre a escolarização
precoce. Considera o brincar como forma de expressão da criança (WINNICOTT, 1971).
Silva (2017), com base na Epistemologia Genética de Piaget, e apoiando-se nas provas
piagetianas e nos recursos tecnológicos por meio do Método Clínico Piagetiano, desenvolveu
pesquisa com crianças de 7 meses a 7 anos, verificando suas percepções, apropriações,
atrativos, riscos e benefícios. Concluiu que o mundo virtual oferece oportunidade de
aprendizagem não formal, ou seja, aprender fazendo sem sequência prévia.
Por outro lado, Oliveira (2019, p. 8), a partir da perspectiva teórica da Sociologia da
Infância, ao abordar a infância e a relação com a tecnologia, escutou crianças de 5 a 7 anos,
sugere que as crianças se socializam por meio do “contexto tecnológico”, empoderam-se,
interpretam informações e saberes, levando seus pares e adultos a novas interpretações e
“mudando a visão do mundo adulto sobre elas.”
“intermediar e proporcionar” o uso sem que seja utilizado apenas como brinquedo (SILVA,
2017, p. 25).
Em contraponto, Silva (2017) adverte que o uso da tecnologia por crianças pequenas é
controverso e divergente, haja vista ser possível pecar pela falta ou excesso. Portanto, indica
que crianças menores de 3 anos são capazes de perceber o objeto escondido, os efeitos sonoros,
a mudança de interface, as cores, as formas, bem como apagar e fazer desenhos e tocar a tela.
Nesse viés, sugere que propiciam “socialização e conexão” no “vínculo familiar” e os pais a
consideram como cultura de aprendizagem que envolve o lúdico e as brincadeiras.
Figueiredo (2017) posiciona-se como uma das pesquisadoras a questionar o uso da
tecnologia por crianças, referenciada na teoria crítica de Ardono e Horkheimer (1985) e na
psicanalítica (KEHL, 2003), trazendo preocupação sobre a incidência do seu uso nos espaços
de “entretenimentos” e lazer. Entende que pode ter consequências psicossociais sobre as
crianças pela não experiência do ócio e tédio, sem possibilidades de compartilhar os olhares e
os próprios brinquedos, com risco ao isolamento.
Consideramos que a cultura da infância está cada vez mais afetada pelo uso das TDICs
sem retorno, com incidências nas relações dos sujeitos que cuidam, educam e brincam. No
trabalho de Oliveira (2019), destaca-se o protagonismo da criança e a “visão do adulto” em
relação às tecnologias, bem como a sua incidência nas culturas infantis (CORSARO, 2011).
Entende-se que Figueiredo (2017) e Silva (2017) se contrapõem na medida em que um
critica as ações da indústria cultural, e a outra traz a visão a partir da escuta dos pais e o
entendimento da criação de uma cultura de aprendizagem. Encontramos ressonância com
Oliveira (2019), ao dizer que o olhar dos adultos está focado no aprendizado da criança
incidindo na cultura infantil. Compreende-se que esse pensamento e essas crenças têm efeitos
nas relações do cuidar-educar-brincar, notadamente, quando brincar com as TDICs entra em
jogo, que do ponto de vista do adulto pode ser visto como um “trampolim” para o futuro
(TOLFO, 2019), enquanto para a criança pode ser apenas um entretenimento.
Pode-se concluir que nas pesquisas e nas produções desenvolvidas sobre essa temática
as posições dos pais e dos professores são frequentes e mais valoradas em detrimento à opinião
das crianças, ou seja, “Fala-se muito dela, mas não se fala com ela” (DOLTO, 2005, p. 135),
percepção que produz ressonâncias no outro e afeta o Outro.
Para finalizar esta seção, breve excerto do texto de Tolfo (2019) “Primeiras indagações”,
anunciando que: “O medo havia tomado conta de todos, as ruas tornaram-se ‘vazias de
crianças’, a corrida para buscar o ‘ensinamento’ se tornou mais incessante, enfim tudo se
modificou, ano após ano” (TOLFO, 2019, p. 12). O trecho faz-nos retornar a março de 2020,
60
quando as palavras da autora ecoaram no Brasil e no mundo devido à situação social crítica da
pandemia, que foi considerada por Carreteiro (2020, p. 17) como uma “força de ruptura”
remodeladora nos campos social, institucional e familiar.
Dos trabalhos na BDTD, os que mais se aproximam de nossas concepções tratam a
cultura que ressoa nos campos social, familiar e educativo, como também no brincar, apoiados
nas ideias de Kehl e Winnicott. Entendemos que o brincar é parte integral da cultura da infância
e é essencial para a constituição da criança.
Diante disso, a seguir analisaram-se artigos disponibilizados na Rede SciELO
intencionando ampliar o escopo.
Quadro 7 - Organização das pesquisas conforme a Rede de pesquisa, ano, título, autor(es) e
país
Rede de
N. Ano Título Autor(es) Instituição
Pesquisa
Sustentar a Transferência no
SciELO
1 2020 Ensino Remoto: docência em CHARCZUK, Simone Bicca. Brasil
tempos de pandemia
Trabalho remoto, saúde
SciELO
2 2021 docente e greve virtual em SOUZA, Kátia R. et al. Brasil
cenário de pandemia
Como os professores MARSHALL, David T.;
SciELO
3 2020 experimentaram a transição SHANNON, David M.; LOVE, EUA
do Savanna M.
61
Ênfase especial foi dada ao estudo de Bautista Díaz et al. (2019) que, em período pré-
pandêmico a partir do pós-conflito político colombiano, propuseram o desenvolvimento de
Ambiente Virtual de Aprendizagem na plataforma Moodle. O Moodle é uma plataforma de
código aberto, responsivo, amplamente utilizado nos ensinos ofertados pela modalidade de
EaD, Educação On-line e Ensino Remoto no período pandêmico. Nessa intervenção
disponibilizaram também aulas off-line, devido a dificuldades de acesso à internet e aplicativo
móvel (APP) aberto, para apoiar, em campo educativo rural, crianças que ficaram privadas dos
estudos ao longo da situação social crítica. Intencionando “resignificarem a experiência “de
los niños” com o uso das tecnologias digitais no conflito armado colombiano, identificaram
diminuição na exclusão digital, na comunicação e reconfiguração do território. Por se tratar de
ambiente rural, há o uso “del espacio y relaciones sociales determinadas por la interacción
com la naturaleza y la armonía com los demás pobladores.” (BAUTISTA et al., 2019, p. 367).
Os autores concluem, ainda, que “el trabajo com los niños es um paso importante para
construir una cultura de paz” (BAUTISTA et al., 2019, p. 373). As tecnologias digitais, no
estudo, são sugeridas para fomentar a educação midiática, a ludicidade e a mediação.
Ainda que os autores façam referência à Educação Infantil, as idades “del niños”, não
são reveladas, porém, nos permitem refletir sobre experiências pós-situação social crítica, além
de que, na pesquisa de campo desta tese, encontramos casos semelhantes aos apresentados.
Inclusive um dos responsáveis, que desejou participar conosco da pesquisa, desistiu pelas
dificuldades tanto para assinar o termo de consentimento livre e esclarecido quanto pela
constante ausência no acompanhamento das atividades síncronas devido às falhas na conexão
por sua morada se localizar em região rural.
O estudo de Silva Júnior et al. (2019), no Brasil, abordou o uso de um aplicativo para
crianças da Educação Infantil com objetivo de detecção dos problemas na leitura. Rodríguez
(2019), na Espanha, apresentou-nos um estudo sobre os blogs e websites de centros educativos
de 3 a 6 anos, com o objetivo de analisar se tinham ressonância com a comunidade educativa.
A autora identificou a cultura do compartilhamento de materiais, porém, o foco dos dois estudos
são as ferramentas digitais.
Díaz Bernal (2019, p. 239) tratou do controle e da vigilância na infância, a partir do
conceito de tecnodependência, e indica ainda uma nova cultura para pensar a “educación
infantil y la educación mediadas por una cibercultura”. Sugere que “quanto mais próximo o
sujeito está do virtual, talvez mais distante do real.”
Por fim, os trabalhos de Charczuk (2020); Marshall, Shannon e Love (2020); Souza et
al. (2020), com análises e reflexões sobre o período pandêmico a partir das primeiras
63
multidisciplinares. (SOUZA et al.,2020). O fato é que a transição foi dada por experiências e
afetos negativos ou positivos que deixaram marcas ao educar. Dos estudos, podemos destacar
a construção de comunidades virtuais de aprendizagens em rede (KENSKI, 2001; PALLOFF;
PRATT, 2002) nas quais um aprendeu com o outro.
Os fatores e as preocupações sobre interação e comunicação destacam-se em todos eles,
inclusive, reafirmado pelos participantes (alunos, pais e professores); especificamente,
houveram reclamações sobre a realização de atividades síncronas “em tempo real”.
Entende-se que a situação social crítica demandou ações emergenciais em todos os
aspectos da vida social que se deram na “crise” pandêmica, afetando “todos os aspectos da vida
social” (LÉVY, 1992, p. 4) dentre eles o educacional, com produção de sintomas, preocupações
em relação ao futuro diante do poder devastador de um vírus que ameaça nossos corpos
(FREUD, 1929/1996a) impondo-nos o “isolamento” físico com repercussões também nas
relações humanas.
A seguir apresentam-se os artigos lidos e analisados na base de dados ERIC.
Quadro 8 - Artigos analisados conforme base de dados, ano, título, autor e país de origem
Base de
Nº Ano Título Autor(es) País
dados
VARTIAINEN,
Henriikka;
Aprendizagem conectada com
LEINONEN,
01 ERIC 2019 ferramentas de mídia no jardim de Finlândia
Teemu;
infância: um caso ilustrativo36
NISSINEN,
Sarah.
VISKOVIĆ,
Ivana; SUNKO,
Brincadeira de criança - a opinião do Dalmácia
02 ERIC 2019 Esmeralda;
educador (Croácia)
MENDEŠ,
Branimir.
BARNETT,
Aprendizagem doméstica e
Steven; JUNG,
participação na pré-escola de crianças Estados
03 ERIC 2020 Kwanghe;
pequenas: Experiências durante a Unidos
NORES,
pandemia
Milagros.
Os efeitos do COVID-19 na educação
e cuidados na primeira infância: JALONGO, Estados
04 ERIC 2021
pesquisa e recursos para crianças, Mary Renck. Unidos
famílias, professores e educadores
Fonte: Elaborado pela autora, com base na ERIC (2017 a 2021).
36
O foco do estudo foi também relacionado a percepção dos professores sobre o uso, portanto, no desenrolar das
experiências, os alunos e os familiares foram ouvidos.
65
O autor destaca as dificuldades dos pais na compreensão das tarefas encaminhadas pelos
professores sem concluí-las, acesso aos materiais, limites para sustentar o desenvolvimento
social e emocional (JALONGO, 2021, p. 17) com imensa perda para as crianças da primeira
infância. Recomenda que o campo da Educação Infantil e do cuidado precisam estar no
panorama educacional internacional, abandonando as vagas intenções dos direitos e das
políticas para a criança.
Barnett, Jung e Nores (2020) discorreram sobre o que chamam de “mudanças caóticas”
na Educação Infantil de 3 a 5 anos, com rupturas em suas atividades a partir da visão das
famílias que se posicionaram sobre as atividades e os cuidados com as crianças que participaram
dos Jardins de Infância. Devido à especificidade da pesquisa no período, algumas crianças
foram atendidas por ensino remoto. Os resultados indicam maior apoio dos pais à aprendizagem
em detrimento dos estudantes que não estavam matriculados.
Dos estudos, nota-se que mesmo no período pré-pandêmico, na relação educativa, as
famílias são convocadas (VARTIAINEN; LEINONEN; NISSINEN, 2019, p. 18) a discorrerem
sobre o uso da tecnologia digital por crianças, que podem ser ofertadas pelo adulto com
propósito educativo. Porém, observaram que a criança construíra uma relação prazerosa
aproveitando para fantasiar e brincar. Indicam ainda que as funções de cuidar e educar aliam-
se ao ato de brincar com a criança pequena mesmo no período pandêmico.
As pesquisas de Barnett, Jung, Nores (2020) e Jalongo (2021) aconselham que o olhar
das políticas educacionais para a criança nos níveis nacional e internacional deve avançar para
além do período pandêmico, prevendo que possam ocorrer perdas afetivas, sociais e educativas.
Das produções, percebeu-se que os pais envolvidos pelas atividades domésticas e suas
funções laborais econômicas nos períodos pré-pandêmico e pandêmico não dispõem de tempo
para brincar com as crianças pequenas.
períodos de 2020 e 2021. Em sua maioria, apresentaram dados coletados por meio de
questionários e/ou acompanhamento nas salas virtuais (KIM, 2020) com expressiva produção
no período inicial da pandemia.
Quadro 9 - Artigos analisados conforme base de dados, ano, título, autor e país de origem
Base de
N. Ano Título Autor(es) País
dados
Aprendizagem online
de crianças pequenas
durante a pandemia DONG, Chuanmei; CAO,
01 SCOPUS 2020 China
de COVID-19: Simin; LI, Hui.
crenças e atitudes
dos pais chineses
Um exame do
comportamento
parental em país com
crianças em idade TOSUN, N.; MIHCI, C. Turquia
02 SCOPUS 2020
pré-escolar no
contexto da
aprendizagem ao
longo da vida
Aprendizagem e
ensino online durante
a Covid-19:
03 SCOPUS 2020 experiências de KIM, Jinyoung. EUA
alunos e professores
em uma prática de
educação infantil
Ensino on-line de
emergência:
primeiros passos de DININGRAT, Syaiputra
educação infantil Wahyuda Meisa; NINDYA,
04 SCOPUS 2020 Indonésia
percepção de barreira Meyga Agustia; SALWA,
e competência Salwa.
pedagógica dos
professores
Primeira infância e
bloqueio: o desafio
de construir uma
Rede Virtual de
Apoio Mútuo entre CANO HILA, Ana Bélen;
05 SCOPUS 2021 Crianças, Famílias e ARGEMÍ-BALDICH, Espanha
Escola para Rafael.
Educação
Sustentável e
aumentando Seu
Bem-estar
Integração de
tecnologia dos
professores e adoção
de aprendizagem à
06 SCOPUS 2021 RAHMADI, Imam Fitri. Indonésia
DISTÂNCIA entre a
crise Covid-19: uma
reflexão para o
futuro otimístico
Os problemas MONTEIRO, R.; ROCHA,
07 SCOPUS 2021 Portugal
emocionais e N. B.; FERNANDES, S.
68
comportamentais de
bebês e crianças com
menos de 7 anos
estão relacionados ao
tempo de exposição
durante o
confinamento da
doença por
coronavírus em
2019? Um Estudo
Exploratório em
Portugal
Educação infantil de
qualidade para todos
SPITERI, J. Malta37
08 SCOPUS 2021 e a crise da Covid-
19: um ponto de
vista
Integração de
tecnologia para HU, Xinyun; CHIU, Ming
crianças pequenas Ming; LEUNG, Wai Man
09 SCOPUS 2021 Hong Kong
durante a COVID- Vivienne; YELLAND,
19: Rumo ao futuro Nicola.
ensino online
Ensino remoto de
emergência durante a
pandemia COVID- MISIRLI, Ozge;
10 SCOPUS 2021 Turquia
19: experiências e ERGULEC, Funda.
perspectivas dos
pais.
Teorizando
Ferramentas Digitais:
RAI, Prabhat; FLEER,
Constituição Mútua Austrália
11 SCOPUS 2021 Marilyn; FRAGKIADAKI,
da Pessoa e Digital
Glykeria.
em um PlayWorld
conceitual
Cooperação (digital)
com pais em creches
durante a pandemia COHEN, Franziska;
12 SCOPUS 2021 corona. Push de OPPERMANN, Elisa; Alemanha
digitalização ou ANDERS, Yvonne.
oportunidade
perdida?
Fonte: Elaborado pela autora, com base no SCOPUS (2017 a 2021).
Kim (2020), nos Estados Unidos, traz reflexão e relato de experiência com professores
em formação nas atividades síncronas, acompanhando estudantes em ensino remoto no período
de pandemia. Utilizaram vídeos gravados para posterior observação e análise. O autor destaca
a possibilidade de ensinar alunos-professores on-line, sendo possível realizar o ensino e a
interação com as crianças.
Cohen, Oppermann e Anders (2021), na Alemanha, ao investigarem professores e
gestores, entendem que a cooperação parental é positiva em resposta às atitudes dos
37
Artigo de reflexão.
69
Por outro lado, em consonância com a visão de Monteiro, Rocha e Fernandes (2021),
consideramos que o tempo de tela “é modesto” comparado às variáveis sociodemográficas e de
confinamento que impactaram os comportamentos e as emoções, a partir da percepção dos pais
de crianças de 6 meses aos 6 anos e 12 meses em Portugal.
O estudo de Spiteri (2021), em Malta, aproxima-se ao nosso ao abordar uma reflexão
sobre a EI-Educação Infantil, e o cuidado, indicando que as políticas educacionais e curriculares
aproveitem a experiência, e no pós-pandemia possam aproveitar o uso das tecnologias digitais.
Hu et al. (2021) apresentaram relato sobre a prática com e de educadores da Educação
Infantil em Hong Kong. Destaca-se, nesse estudo, a abordagem sobre a “interação humana on-
line”, sobretudo com a conclusão de que os educadores pouco utilizaram as ferramentas que
possibilitam a relação síncrona em tempo real com falta de atividades práticas, brincadeiras e
ludicidade. Sugerem que a não participação dos pais afeta a aprendizagem on-line.
Por outro lado, Diningrat, Nindya e Salwa (2020), na Indonésia, levantaram a percepção
de professores sobre as adaptações e competências. Advertiram sobre a limitação na conexão
da banda larga e segurança on-line, limitações para o feedback com os estudantes, qualidade do
conteúdo, diferenças de gênero e tecnologia, design instrucional, qualificação profissional.
Misirli e Ergule (2020), na Turquia, pesquisaram a opinião dos pais de crianças de 36 a
72 meses em Jardins de Infância, tendo por objetivo a proposta de uma formação educacional
digital para pais. Os resultados preconizam a não disposição dos pais em participar de programa
para formação. Concluem que esses pais que se negam apresentam “atitude parental
digital insatisfatória”. O que pode significar que conceitos importantes para proteção à criança
com pegadas digitais, cyberbullyng são vistos em detrimento da importância que dão ao tempo
de tela, o que enfraquece o conceito de parentalidade digital, ou seja, ações que cerceiam o
espaço cibernético, a exploração social e econômica, permitindo que a criança se posicione
criticamente diante das tecnologias digitais. Os autores propõem que as questões de gênero
podem ter influenciado os resultados, indicando maior participação de sujeitos do sexo
masculino na pesquisa. Entende-se que questões culturais do país podem ter afetado a opinião
dos autores e vice-versa.
Rahmadi (2021), na Indonésia, traz a descrição e a reflexão sobre a integração das
tecnologias digitais no ensino a distância por professores. Em destaque, o processo de ensino e
os níveis de adoção das ferramentas digitais. Conclui-se que diversos recursos foram adotados,
sendo os smartphones os mais populares, que o WhatsApp e o Zoom apoiaram o ensino síncrono
e que a comunicação se deu basicamente pelo WhatsApp. O Google Classroom foi o Ambiente
71
Quadro 10 - Artigos analisados conforme base de dados, ano, título, autor e país de origem
Base de
N. Ano Título Autor(es) País
dados
Educação Infantil, políticas
202 COUTINHO, A. S.; CÔCO, Brasi
01 REDALYC governamentais e mobilizações
0 V. l
em tempos de pandemia
Escola da pequena Infância e MACEDO, N. A.;
202 Brasi
02 REDALYC alguns paradoxos no contexto da PESSANHA, F. N. L.;
0 l
pandemia da COVID-19 ALENCAR, C. S.
GUIZZO, Bianca Salazar;
202 A reinvenção do cotidiano em MARCELLO, Fabiana de Brasi
03 REDALYC
0 tempos de pandemia Amorim; MÜLLER, l
Fernanda.
Fonte: Elaborado pela autora, com base no Redalyc (2017 a 2021).
72
b) Do trabalho docente
Nota-se, nesta categoria, a evidência de carga e sobrecarga com excesso de trabalho dos
profissionais em todas as instâncias do processo educativo on-line, levando a repercussões na
saúde por dificuldades na organização do trabalho, no uso das TIDCs com novas configurações
no trabalho docente.
74
campo da educação discorrem sobre o uso das tecnologias digitais na infância e por crianças de
0 a 3 anos.
permitem perceber o que podemos chamar de o mito da eterna presença, haja vista que se pego
o smartphone e posso chamar o outro, não existirá falta, porém, recomendaque não há
completude nas relações.
Retornando às concepções de Turkle (2004), entende-se que, no contexto atual, os
celulares vêm se posicionando como objetos transicionais, lembrando Winnicott (1971, p. 11)
ao sugerir “as outras coisas importantes” na observação desses objetos:
natureza do objeto
Diante disso, o que os docentes podem fazer com essa constatação quando os bebês e
crianças bem pequenas estão inseridos no campo educativo? Dito de outro modo, como os
sujeitos que ocupam a função de cuidar, educar e brincar estão percebendo essa experiência?
Com essas questões procuramos compreender o Trabalho Docente com a criança
pequena e as questões que brotaram dele diante da situação social crítica de pandemia, em
destaque para subjetivação, cuidado e emancipação, dada “a função de quem ensina”
(LACAN, 1953/1988, p. 239).
Tratar do trabalho docente a partir deste tema nos remete a diversas questões que
envolvem a docência com crianças, especialmente, em primeiríssima infância, entendida por
alguns autores como uma função constituída pelo cuidar, educar e brincar, ou seja, em que
“outras dependem”, “e é nela que melhor se inscreve o valor da experiência” (LACAN,
1953/1988, p. 241).
Retornamos aos pensadores que produziram suas obras a partir dos acontecimentos do
século XX para trazer à reflexão o tema da docência apoiada no uso das tecnologias digitais
para cuidar, educar e brincar com crianças de 0 a 3 anos em 2020-2021.
Trata-se, nesta seção, dos elementos que fizeram borda no trabalho docente com bebês
e crianças bem pequenas, retomam-se ideias de autores centenários para pensar a experiência
educativa de professores, crianças e suas famílias na situação crítica da pandemia da COVID-
19, levando todos os sujeitos implicados nesse processo às questões já apontadas por Hannah
Arendt no século XX: O que podemos aprender com a crise que aflige a humanidade? Que
trajetórias serão possíveis diante da necessidade do isolamento físico recomendado pela
Organização das Nações Unidas - ONU (2020)?
Para além destas questões, outras permearam o imaginário de todos os humanos
convocados, em contexto mundial, a se isolarem fisicamente uns dos outros. Diante da dúvida
que assola nossa época fomos tomados, especialmente os adultos, por afetos de mal-estar que
resultaram em questionamentos sobre como cuidar - educar -brincar diante da situação social
crítica mundial. A questão desdobra-se em outras: como introduzir os bebês e as crianças bem
pequenas no mundo social propiciado há bem pouco tempo pelo contexto educativo da
primeiríssima infância?
78
Rinaudo (2002), ao tratar das relações dos professores e dos alunos com a tecnologia,
destaca o elemento angústia produzido como um sentimento de mal-estar por parte dos
educadores. Belloni (2001, 2006, 2009, 2010), Belloni e Gomes (2008), no campo da
sociologia, concluiu que adultos (pais e professores) têm dificuldades de estabelecer relações
com as crianças inseridas no mundo digital causando conflitos de gerações conscientes e
inconscientes. Pensamos que as tecnologias digitais apenas reforçam, entre educadores e
alunos, a impossibilidade do seu ofício (FREUD, 1923/1996) de educar. Retornamos a Lacan
(1953/1988, p. 241) para dizer que a função de quem ensina se inscreve no valor da experiência
e “Se a negligenciamos, oblitera-se o sentido de uma ação que só extrai seus efeitos do sentido,
e as regras técnicas, ao se reduzirem a receitas, suprimem da experiência qualquer alcance de
conhecimento e mesmo qualquer critério de realidade”.
Em trabalho docente com crianças de 0 a 3 anos por mais de 20 anos, tenho percebido
um movimento de mudanças nas formas de brincar e escolha do brinquedo, como se configurou
no período da pandemia. Os mordedores, bonecos e bonecas oferecidos pelos adultos à criança
intencionando oferecer aprendizagem lúdica, dialógica e relacional foram trocados por
celulares, tablets e computadores.
Jerusalinky (2017, p. 44) observa que desde cedo os bebês e as crianças bem pequenas
são colocados no mundo digital, desde a ecografia digital, os estímulos sonoros e outros.
Entende-se que, ao chegar ao campo educativo, já estão submersos no mundo digital, eletrônico
e virtual.
Cremos que, na função docente com bebês e crianças bem pequenas, o cuidar- educar e
brincar são sustentados pelas tecnologias digitais e estão em jogo, como já foi dito por Freud,
também os impossíveis do ato de educar, bem como as “relações” com o outro que envolvem
subjetividade e mal-estar dos sujeitos. Como expresso por Freud (1996 [1927-1931]) em “O
Mal-Estar na Civilização”, com destaque para o sofrimento que afeta os humanos:
O sofrimento nos ameaça a partir de três direções: de nosso próprio corpo, condenado
à decadência e à dissolução, e que nem mesmo pode dispensar o sofrimento e a
ansiedade como sinais de advertência; do mundo externo, que pode voltar-se contra
nós com forças de destruição esmagadoras e impiedosas; e, finalmente, de nossos
relacionamentos com os outros homens. (FREUD, [1927-1931]/1996, p. 49).
80
Nesta seção, temos por objetivo discorrer sobre as funções de cuidar, educar e brincar,
considerando o Ambiente Virtual de Aprendizagem como espaço das relações. Para tanto,
apresentam-se os conceitos de cuidar, educar e brincar nas políticas e legislações sobre a
Educação Infantil. Em sequência, apresentamos recortes de autores que se dedicaram a
pesquisar a partir do aporte teórico da psicanálise e da educação.
3.3.4 Cuidar, educar e brincar: a docência com bebês e crianças bem pequenas
A tríade cuidar, educar e brincar está presente no campo da Educação Infantil desde as
Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil (2009), propondo ao educador que
enfatize as interações e as brincadeiras tendo o cuidado como indissociável do processo
educativo (BRASIL, 2009, p. 19) na docência com bebês e crianças bem pequenas (0 a 3 anos)
e permitindo “compartilhar e complementar a educação e o cuidado das crianças com as
famílias” (BRASIL, 2009).
Portanto, a trajetória construída para esse caminho perpassa pela história da concepção
de Criança, Infância, Educação, Educação Infantil e Creche (ARIÈS, 1981; BRASIL, 1988,
1996, 2009, 2012, 2016, 2019; JOSIOWICZ, 2020).
Ao abordar os temas cuidar, educar e brincar apoiamo-nos em autores que
desenvolveram pesquisas a partir da psicanálise em contexto educativo. Os trabalhos de Becker,
Bernardie e Martins (2013); Fonseca (2018); Guerrero e Deyra (2019); Oliveira, Donelli e
81
Charczuk (2020); e Oliveira e Viviani (2019) trazem os conceitos de cuidar, educar e brincar
no campo educativo.
Coloca-se em evidência o trabalho de Fonseca (2018) com a discussão sobre a
construção do laço educador-bebê tecido no ato de “Educar, Cuidar e Brincar”
(FONSECA,2018, p.1556), ressaltando que ocorra “como única ação no trabalho educativo”
(FONSECA,2018, p.1555). Nessa perspectiva, vislumbram-se aproximações possíveis com a
questão da tese.
As funções educativas de cuidar, educar e brincar com crianças da primeiríssima
infância, submetidas às tecnologias digitais diante da situação social crítica da pandemia,
trazem ressonâncias e efeitos nos modos de brincar e se relacionar, com possíveis entraves nas
relações dos sujeitos e produção de mal-estar docente na constituição do laço social. Conforme
figura a seguir:
Figura 6 - Relações dos sujeitos ao cuidar, educar e brincar nos espaços virtuais das TDICs
Nesse sentido, apresenta-se a visão do cuidar, educar e brincar com bebês e crianças
bem pequenas a partir de conceitos apresentados pelos autores que se norteiam pela teoria que
nos sustenta.
Para Freud e Lacan, o educar está no campo da impossibilidade, pois como Freud (1925,
p. 1) proferiu, há três profissões impossíveis: educar, curar e governar, porém ele reconhece o
valor social do ato de educar no contexto educativo. Em 1933, discorre sobre o superego como
“representante de todas as restrições morais” com forte influência nos sujeitos “autorizados” a
“educar as crianças” (FREUD, 1933, p. 3), sendo exigentes e até severos.
Entende-se que incidem sobre a educação das crianças os restos do passado da infância
de pais e educadores, baseados em valores que são repassados de “geração em geração”, o que
é considerado por Freud (1925/1996, p. 46) como um dado para “compreensão do
comportamento social da humanidade”. A expressão freudiana nos ajuda a compreender a
posição em que os adultos colocam as crianças quando opinam e apresentam sua percepção
sobre o uso das tecnologias digitais no contexto educativo (CHAUDRON, 2015 et al.; DONG;
CAO; LI, 2020; TOLFO, 2019), especialmente, em período pré-pandêmico, como constatado
no trabalho de Tolfo (2019) no qual a autora afirma que os pais defendem o uso das tecnologias
83
digitais por crianças visando um “trampolim” para o futuro. Em destaque, os valores dos pais
incidindo sobre o social.
Lacan (2005), ao tratar do educar parafraseando Freud, diz que governar, analisar e
educar estão dentre esses impossíveis. Preconiza que as pessoas autorizadas a educar não têm
ideia do que seja, pois não sabem “muito bem o que querem fazer quando educam. Tentam,
assim mesmo, ter uma pequena ideia, mas raramente refletem sobre ela” e quando postos nessa
posição se inquietam e passam pela angústia (LACAN, 2005, p. 58) ao pensar sobre.
Lajonquière (2004, p. 4), ao tratar do termo Educar, pontua que “Educar é transmitir
marcas simbólicas que possibilitem ao pequeno sujeito usufruir um lugar no campo da palavra
e da linguagem a partir do qual seja possível se lançar às empresas impossíveis do desejo”.
Oliveira, Donelli e Charczuk (2020, p. 1), ao versarem sobre o cuidar e educar a partir
da percepção de educadoras de creche, consideram que os discursos científicos atravessam as
concepções e atitudes dos participantes, sendo necessário “afinar a relação entre cuidar e educar
para se sustentar uma prática subjetivante no espaço escolar infantil”.
Sommerhalde e Alves (2012, p. 241) ressaltam que educar dá a entender “o trabalho
com e entre pessoas” diante do ato interativo e relacional (PEREIRA, 2012) e envolve desejo,
interesses, identificações das figuras parentais (FREUD, 1921/1996) transferidos a outras
pessoas, em que um tem necessidade do outro, ou seja, o laço social. Para Mariotto (2009,
p.129), há uma junção dos atos de cuidar, educar e prevenir como função na subjetivação de
bebês no campo da creche.
Por outro lado, Dolto (2018, p. 6) nos alertou que educar perpassa também por
possibilitar a autonomia da criança. Winnicott (2001) propôs que nas práticas do cuidar estão o
holding, que é o ato de segurar e sustentar o bebê, o halding, ou seja, o ato de manipular o
object-presenting – apresentar objetos. Estão entre as práticas do cuidar: tornar seguro,
proteger, firmar, conter, tranquilizar, conservar e apoiar (WINNICOTT, 1990, 1999, 2001).
3.3.6 O cuidar
Trazemos para a tese a visão de Dunker (2020, p. 57) sobre o cuidar e o educar da
criança pequena.
Quando a criança é muito pequena ela precisa ser cuidada, para então, a partir de certo
momento, passar a ser educada. O cuidado pertence ao familiar, às relações viscerais
e privadas, que nos fazem amar a quem nos protege do desamparo. A educação
começa com a saída da família, a entrada no espaço e nas regras do universo público,
que nos fazem respeitar a lei e a nos reconhecer como sujeitos separado do Outro.
Mas esta separação não é feita de fronteiras, pois entre o cuidar e o educar existem
84
litorais como o lúdico, o estético, nos quais criamos zonas de intimidade. São lugares
de indeterminação, pois nelas se compartilham não saberes e riscos.
seus cuidadores dando acesso aos sujeitos submetidos à linguagem social e à história
contemporânea, com possibilidades de expressar-se por novas linguagens, uma vez que:
Se o corpo da criança hoje não pode mais se expressar da mesma forma que outrora –
ele está muito mais cercado e prisioneiro -, em contrapartida, o espírito pode libertar-
se e construir mundos, brincando com um computador. A telemática não está a serviço
das crianças? (DOLTO, [1908-1988] / 2005, p. 6).
A observação de Dolto nos faz pensar em outras possibilidades para sustentar nossas
ideias na compreensão de que ao adentrar nesse campo de pesquisa com essa interrogação
passamos a ter uma responsabilidade com todos os sujeitos envolvidos na tríade educativa com
a pequena criança, ainda mais em tempos pandêmicos; nossa entrada também se sustenta nessa
interrogação sem intenção de quaisquer julgamentos.
Retornamos aos resultados das pesquisas desenvolvidas por Dong; Cao e Li (2020);
Misirli e Ergulec (2021); e Tolfo (2019), quando analisam as crenças e percepções dos pais
sobre o uso das TICs por crianças pequenas no período de pandemia, considerando a falta de
controle dos pais para com as crianças, justificada pelos autores ao considerarem a cultura dos
países dos quais os participantes são oriundos, e ponderam que a cultura do país possa interferir
na relação parental criança-adulto. Trataremos dessa questão adiante quando analisarmos os
dados da pesquisa de campo, fundamentalmente, a partir da ideia da “criança trifásica”
teorizada por Lajonquière (2010, 2014, 2015, 2021) como operadora do discurso que articula a
vida adulta com as crianças (LAJONQUIÈRE, 2021).
No processo do brincar, a criança revela-se subjetivamente e vai ao encontro do Outro,
já que o campo do Outro é o campo da cultura em seu tempo histórico na infância. Portanto,
temos, na história social e cultural das crianças na atualidade, as tecnologias digitais presentes
em contexto social e educativo. Freud (1920/1996) observou que ao brincar há o ato de
repetição, analisando-o como um jogo de “desaparecimento e reaparição” dos objetos. Destaca-
se que esse movimento de presença e ausência na “brincadeira completa” [...] “via-se apenas o
primeiro ato, que era repetido incansavelmente como um jogo em si, embora sem dúvida, o
prazer maior estivesse no segundo ato” (FREUD, 1920/1996, p. 26).
Acrescenta-se que ao brincar a criança é carregada de emoções, “criação poética” e sabe
distingui-la da realidade. Seus objetos e situações imaginadas são visíveis e reais. E completa
dizendo que o “brincar da criança é determinado por desejos: de fato, por um único desejo - que
auxilia o seu desenvolvimento -, o desejo de ser grande e adulto” (FREUD, [1906-1908] /1996,
p.79) portanto, joga. Ao longo de seu crescimento abdica dos objetos reais e fantasia. “Constrói
castelos no ar, cria o que chamamos de devaneios.” (FREUD, [1906-1908] /1996, p. 79).
86
Portanto, para Freud a criança deseja ser grande como o adulto, logo, as brincadeiras e jogos
são expressos pelo desejo da criança de reproduzir o que conhece da vida dos adultos revelado
nas relações de fantasia.
A constatação freudiana deu-se a partir da observação de uma criança de 1 ano e meio,
considerada “obediente conscientemente”, que não chorava na ausência de sua mãe apesar da
grande ligação e cuidados que a mãe lhe dedicava. Porém, tinha como hábito apanhar objetos e
jogá-los para longe emitindo constantemente e sonoramente “o-o-o-o”, demonstrando interesse
e satisfação (FREUD, 1920, p. 26). Freud concluiu que, para o garotinho, os brinquedos eram
utilizados apenas para “brincar de ir embora com eles”. Teoria reforçada na observação:
Nota-se, então, que com o uso do brinquedo suportava-se a ausência da mãe, com o jogo
a criança dava início à entrada na cultura por meio da renúncia à sua satisfação. Destacam-se,
nesse processo, a repetição e a fantasia propiciadas pela brincadeira. Em acréscimo à análise
freudiana, Lacan (1953-1954/1998, p. 320) diz que “o momento em que o desejo se humaniza
é também aquele em que a criança nasce para a linguagem”. Lacan nos ajuda a compreender as
relações entre o brincar e a linguagem, quando a criança se põe em palavras fazendo laço com
o Outro. No entanto, mais adiante, Lacan (2005, p. 35) nos diz que, no desaparecimento do
brinquedo, “Essa repetição primitiva, essa escansão temporal, faz com que a identidade do
objeto seja mantida na presença e na ausência, dando a exata significação do símbolo”.
Winnicott (2001) é lembrado pelas importantes contribuições sobre o ato do brincar
como processo subjetivante do sujeito criança que se refletirá por toda a vida. Inclusive sua
visão de que o adulto também pode ser analisado ao brincar, e a importância dos “fenômenos
transicionais”, e de sua forte convicção de que “Brincar é fazer”, condutor dos relacionamentos
grupais, forma de se comunicar consigo e com os outros.
Para Mariotto (2009, p. 142), o brincar subjetiva a criança e “se não há brincar, um
sujeito se cala”; em complemento, Pesaro et al. (2018, p.14) sugerem que ao brincar há
constituição do laço emocional, e é preciso que pais e filhos compartilhem esses momentos.
As mudanças no brincar e o uso dos brinquedos são entendidos por Almeida e Costa
(2016) e Souza (2021) quando tratam do brincar na clínica psicanalítica e que se aproximam de
87
nossa tese entendendo que as tecnologias digitais adentram o cotidiano infantil fazendo “função
simbólica estruturante e de desenvolvimento saudável para o sujeito” (ALMEIDA; COSTA,
2016, p. 160) e mostram-nos que o essencial é o brincar e “um suporte estruturante da cadeia
significante” (SOUZA, 2021, p. 99).
Finalizando a seção, esclareceremos, ao leitor, os caminhos construídos para entrar no
campo de pesquisa inspirados em escritos de Lajonquière: “cabe-nos interrogar qual lugar o
mundo adulto reserva hoje nos seus sonhos a esses seres pequenos que chamamos crianças”
(LAJONQUIÈRE, 2016b, p. 83). Inspiramo-nos nas ideias do autor e na nossa percepção a
partir dos resultados encontrados nos trabalhos dos pesquisadores que se dedicaram a estudar o
tema infância e tecnologia. Partimos do cenário mundial da situação social crítica da pandemia
da Covid-19, 2020-2021, que resultou na transição da escola presencial para os ambientes
virtuais, e na massiva inserção de crianças tão pequenas ao uso de tecnologias digitais e nos
perguntamos: que lugar foi dado pelos adultos às pequenas crianças ao exercerem suas ações e
funções ao educar, ao cuidar e ao brincar no campo educativo?
Inicia-se este capítulo com a epígrafe acima, além de trazer o título de um artigo de
Alexandre Sayad, jornalista, educador, diretor da ZeitGeist -Education, Culture and Media e
presidente da aliança mundial da Unesco para educação midiática (UNESCO MIL Alliance),
publicado no blog Olhar Pedagógico, na Revista Educação, em fevereiro de 2021: “Tecnologia
digital não é ferramenta, mas linguagem”, com o subtítulo “Num mundo de conexões, a
educação formal ainda precisa compreender as relações”. (SAYAD, 2021). Sayad, inspirado
por Levy, diz que “A educação formal e seus currículos necessitam superar a visão
‘instrumentalista’ sobre a tecnologia.” (SAYAD, 2021).
A partir da ideia de que tecnologia não é ferramenta, e considerando as relações como
fator primordial, Imbert (2003, p. 91) traz a importância das relações, do “face a face os corpos”
e o imaginário como imagem de si e do outro, mediados pelo simbólico.
88
e cenário que sustenta a rede de relações dos sujeitos que operam nas instâncias simbólicas e
socioculturais com produção de subjetividades.
Lévy (2007) traz à discussão os impactos das tecnologias na interação e na corporeidade
do humano, submetido ao simbolismo do virtual e do “estar juntos”, “o nós”. A linguagem, para
o autor, caracteriza um tempo não real, aberto e que se apresenta em fala.
Por conseguinte, nossas ideias dizem-nos do encontro possível dos “nós” via Ambientes
Virtuais de Aprendizagem e tecnologias digitais que produzem comunicação e linguagem, onde
existe produção dos discursos revelados nas “fraturas dos enunciados” (KUPFER, 2010, p.
270).
Lembra-nos a máxima lacaniana que “o inconsciente é estruturado como uma
linguagem”(LACAN,1981, p.135) e é na linguagem que se produz o sujeito produto dos
discursos do Outro, tão bem-posicionado por Kupfer (2010, p. 270):
assegura uma margem para além da vida. É aquela em que esse ser investe na posição de
significante o próprio corpo. O corpo é o pivô do ser” (LACAN, 1960/1998, p. 241).
Quando tratamos de linguagens nas relações da tríade professora, mãe e crianças nos
espaços virtuais das tecnologias digitais, entendemos que
Toda relação a dois é sempre mais ou menos marcada pelo estilo imaginário. Para que
uma relação assuma seu valor simbólico, é preciso haver a mediação de um terceiro
personagem que realize, em relação ao sujeito, o elemento transcendente graças ao
qual sua relação com o objeto pode ser sustentada a certa distância (LACAN,
1953/2005, p. 33).
A figura abaixo descreve basicamente esse processo da relação marcada pelo estilo
imaginário que se dá pelo processo inconsciente.
de vista da autora, nos interessa singularmente sua posição ao dizer que a resposta dos pais
perante a experiência é o que embala a resposta da criança, ou seja, “Olham para os pais. Se
estiverem bem, ficarão bem.” As palavras da autora ressoam em nosso trabalho contribuindo
em nossas interpelações, especialmente, ao considerarmos a posição lacaniana de que a criança
é sempre o objeto a, e que “O Sujeito é o que está por trás dos atos humanos, sendo que, às
vezes, está em contradição: querer não é desejar.” (KUPFER, 2020). Assim, é o espaço que se
situa a escola articulando o desejo e a lei que está no campo do impossível, levando ao mal-
estar estruturante da civilização (da cultura), então, a escola, como um dos elementos da cultura,
contribui para suportar o mal-estar. Assim será possível pensar que a Escola Virtual, remota,
on-line ancorada nos Ambientes Virtuais de Aprendizagem e estrutura das tecnologias digitais
contribuiu como suporte para o mal-estar?
(LIMA, 2012, p. 28), a linguagem que possibilitou a cultura circular, diríamos o encontro de
linguagens, de discursos que envolvem sujeitos.
Na posição de Pessoa (2021, p. 286), “os filhotes humanos, desde seu nascimento,
recebem dos adultos em seu entorno, e por um longo período, um banho de significantes que
lhes deixam marcas, as quais carregam por toda a vida”. Cremos, assim, que as pequenas
crianças da geração pandemia possuem outra história e terão de se haver com outros
significantes e marcas no pós-pandemia, se houver.
Defende-se, nesta tese, que a linguagem possível foi a linguagem das relações que
afetam o sujeito enquanto humano. Ainda que com o suporte das tecnologias digitais para
sustentá-las, por meio de falas portadoras de “objetivos, aspirações e fantasias” daqueles que
estão incumbidos dos cuidados com a criança” (PESSOA, 2021, p. 287).
Portanto, para tratar desse sujeito partícipe no invólucro das relações tecnologizadas
(RUBIM, 2007; SANTOS, 2016), produzindo uma linguagem que faz efeito, uma vez que “ o
sujeito é efeito da linguagem”, nos apoiamos em Lacan e outros autores para tratar desse sujeito,
tendo em vista o sujeito constituído na relação com o Outro, especialmente, quando tratamos
sobre a criança pequena na relação educativa com os sujeitos que exercem a função de cuidar -
educar-brincar, crendo que “O Outro está lá antes do sujeito e é a própria mãe que o
sustenta”(COSTA, 2007, p. 65).
Para Cabas (2009, p. 25), a produção freudiana é uma teoria crítica que trata do sujeito
permanente e presente. Uma teoria que produziu um “saber sobre o sentido, o alcance, a meta
e a razão do ato. Do ato enquanto humano”. Em Lacan o conceito de sujeito é ponto central e
compõe a estrutura.
objeto(a)
sintoma(S1)
saber(S2)
Desse modo, para Freud o objeto foi o inconsciente, para Lacan, o sujeito e, para nós,
as relações tecnologizadas. Juntamo-nos à teoria freud-lacaniana para tentar apresentar a nossa,
94
diante da subjetividade do nosso tempo (BIRMAN, 1999) em contexto de uma situação social
crítica (BROIDE, 2016) de saúde pública que impacta as relações dos sujeitos no cuidar –
educar-brincar de bebês e crianças bem pequenas nos espaços das tecnologias digitais. Tendo
por base nossa opção teórica, abordaremos o sujeito que está envolvido nessa relação tríade,
também inconsciente:
família
criança
professores
Portanto, o sujeito do qual tratamos é singular e é social, está no interior das relações
humanas, conforme propõe Cabas (2009, p. 29): “a obra freudiana é tida como um marco, uma
referência que sinaliza que a introdução do sujeito é uma dimensão sine qua non, absoluta,
necessária, para toda e qualquer consideração sobre a natureza do ato humano.” E acrescenta
que “enquanto o inconsciente é freudiano, o sujeito é lacaniano”.
Nesta tese, sustentamo-nos no conceito de sujeito lacaniano para compreender os
diferentes lugares que a criança pequena ocupa na estrutura que envolve criança, TDICs,
docente e família em contexto educativo diante de uma situação social crítica de pandemia, e a
estruturação da criança nessa relação consciente e inconsciente frente ao desejo do grande
Outro.
95
SITUAÇÃO
SOCIAL
CRÍTICA DE
PANDEMIA
Docentes =
função
docente Família cuidar-
cuidar -
Bebês e crianças educar-brincar
educar-brincar bem pequenas
Desejo do Outro
brincar
Ambiente
Virtual de TDICs (espaço
Aprendizagem de
(função linguagem?)
social)?
Nesse viés, acrescenta-se que a opção de pesquisa empírica com enfoque qualitativo
justifica-se pelo importante papel conferido à interpretação (GIL, 2010, p. 177), possibilitando
o estudo de caso exploratório e etnográfico definido por Godoy (1995) como compreensão do
fenômeno que envolve seres humanos e suas relações em diferentes ambientes. O estudo de
caso etnográfico enfatiza a cultura de grupos e organizações (GIL, 2009, p. 50), e pode ser
classificado como sociológico por estudar as relações dos sujeitos em instituições sociais como
família e escola (GIL, 2009, p. 51), como também de casos múltiplos nesta tese, pois abordou
mais de um caso para investigar o “fenômeno”.
Pesaro et al. (2018, p. 14) apresentam estratégia de trabalho em grupo interativo com
pais e bebês no campo educativo como “um espaço para a produção de narrativas dos pais sobre
seus filhos” em 3 momentos distintos, considerando a experiência e o saber dos pais sobre os
filhos e a oferta de um espaço de reflexão e escuta permitindo reposicionamento de seus
discursos e suas funções parentais. O trabalho das autoras possibilitou-nos compreender e
vivenciar a singularidade da pesquisa com esses sujeitos, concomitantemente às narrativas, ao
trabalho em grupos e aos discursos produzidos.
Enfim, optou-se por trabalhar com as turmas dos docentes que se disponibilizaram à
participação, sem se ater aos critérios prévios estabelecidos e, assim, duas turmas foram
acompanhadas: a primeira com 14 estudantes e 2 docentes, a segunda com 17 estudantes e 2
docentes.
o uso do recurso de áudio no WhatsApp, enviando pequenos vídeos e áudios para as professoras
devido ao fato de residirem em meio rural e sem acesso à internet.
Fonte: https://br.freepik.com/38
38
Disponível em: https://br.freepik.com/fotos-premium/mae-empresaria-e-menina-feliz-olhando-para-um-
computador-tablet-sentado-na-mesa-de-um
restaurante_16655777.htm#page=1&position=0&from_view=detail#&position=0&from_view=detail
106
39 Os dados do PIAR foram coletados referentes aos meses de março a julho de 2020.
40 A turma TA teve as atividades pedagógicas acompanhadas pelas docentes A e AF.
108
Recurso digital de Televisão, computador, Televisão, telefone Televisão, telefone fixo, celular
acesso celular e pacote de fixo, celular com com acesso à internet (Wi-Fi).
dados. acesso à internet (Wi-
Fi).
Canais de interação Facebook, Youtube, Facebook, Youtube Facebook, Youtube, WhatsApp,
e comunicação WhatsApp, Instagram. WhatsApp, Instagram. Instagram.
Subsídio de apoio Auxílio emergencial ou Auxílio emergencial Oito famílias recebem
financeiro benefício de prestação ou benefício de emergencial ou benefício de
governamental continuada ou prestação continuada prestação continuada ou
Bolsa-Família. ou
Bolsa-Família.
Bolsa-Família.
Espaço físico de Uma família declarou Uma família declarou Uma família declarou não ter
apoio para as não ter espaço. não ter espaço. espaço.
situações educativas
Habitação Até 7 pessoas com Até 9 pessoas com Até 9 pessoas com animal de
animal de estimação. animal de estimação. estimação.
Acometido pela Três famílias tiveram Duas famílias tiveram Três famílias.
COVID-19 casos. casos.
Dificuldades quanto Sem dificuldades. Sem dificuldades; Uma família declarou estar
ao isolamento quatro famílias não tendo dificuldades com “Uso
responderam. de máscara em criança de 3
anos”.
Sobre a criança em Não conseguiram Dificuldades em Três famílias tiveram
isolamento estabelecer rotina; estabelecer rotina. dificuldades em estabelecer
alterações diversas em rotina e seis famílias declaram
seus comportamentos. alteração significativa em seus
comportamentos.
Escuta livre sobre os Dificuldades em relação Sem Dificuldade dos pais em cuidar
afetos e manifestos a deslocamentos, compartilhamento. da criança e desenvolver suas
do isolamento social financeiras, mudanças de atividades profissionais no
comportamento por parte período de isolamento e duas
das crianças e “enjoos”. (2) delas reconheceram
dificuldades financeiras para
assistir às necessidades básicas
da família.
No total, 46 famílias compõem as três turmas, e nota-se semelhança quanto aos dados
sociodemográficos. A maioria dos alunos (14) foram encaminhados à Educação Precoce por
diagnóstico prévio de Prematuridade, ou seja, os bebês nascidos antes de 37 semanas.
Importante considerar que 6 famílias declararam que o adulto responsável por acompanhar a
criança em seu atendimento poderia ter dificuldade para compreender o uso das tecnologias
digitais como ferramentas de áudio, “não sabe ler” (TC), “dificuldades em usar tecnologias de
forma geral (TC)”.
Sobre o acesso aos recursos digitais, a televisão está presente na residência de 41
famílias dentre as 46 que responderam. Destaca-se que a “Escola em Casa - DF”, projeto para
o ensino remoto na Rede Pública de Ensino do Distrito Federal, iniciou as atividades com alguns
109
programas na TV, no entanto, nenhuma das famílias declarou ter participado. O uso do celular
com internet (smartphone) foi apontado por todas as famílias (46), enquanto o WhatsApp
apresentou-se como o maior recurso digital utilizado para a comunicação em rede Wi-Fi (43)
famílias.
Em narrativa por meio de escuta livre sobre as dificuldades enfrentadas no período de
isolamento de março a julho, 46 famílias apontaram os problemas financeiros, a necessidade de
deslocamento para consultas, as mudanças de comportamento por parte das crianças, inclusive,
os episódios de “enjoos” devido ao isolamento social (TA).
Acerca dos problemas financeiros enfrentados pelas famílias, Jalongo (2021) refletiu
sobre a ausência dos serviços de proteção por parte dos órgãos governamentais no contexto da
pandemia, como a falta de recursos para ofertar o cuidado e o apoio em casa para as crianças,
tendo em vista ser necessário aliar trabalho e outros cuidados com a casa e a criança. Conforme
dito: “eu trabalho na loja o dia todo e eu estudo à noite (MÃE, B)”.
Retorna-se ao trabalho de Carreteiro (2020, p. 19) sobre o imaginário do cuidado, na
pandemia, o qual aborda o cuidado como sendo de “si e do outro”. Ressalta que devido às
condições necessárias de afastamento social, a “sociabilidade “e comunicação como forma de
segurança se deu “virtual ou a distância”, porém, devido às difíceis condições sociais e
econômicas, algumas pessoas foram excluídas desse processo. Desse modo, percebe-se que por
dependerem de pacotes de dados móveis para acompanharem as atividades com suas crianças,
as famílias, por suas condições financeiras, muitas vezes, dependendo dos subsídios
governamentais, encontram-se em dificuldades para acompanhar as atividades. Emblemática
situação ocorreu quando o governo do Distrito Federal liberou o aplicativo “Escola em casa –
DF”, já que, em alguns momentos, os seus celulares não suportavam o aplicativo, conforme
relata a mãe MB: “o meu celular ele deu umas travada esses dias aí ele apagou algumas coisas”.
Nota-se, nesse processo, que as condições de vulnerabilidade social que cercam as
famílias não ocorreram pela crise pandêmica, mas, inegavelmente, foram acentuadas. Diante
dessa situação social crítica, concordamos com Hannah Arendt (1957, p. 2): “Ora, a crise força-
nos a regressar às próprias questões e exige de nós respostas, novas ou antigas, mas, em
qualquer caso, respostas sob a forma de juízos diretos”. Entendemos que mais do que nunca a
crise pandêmica acentuou ainda mais a condição de vulnerabilidade das famílias com limitações
e repercussões nas funções de cuidar, educar - brincar com suas crianças.
A seguir, a descrição dos docentes participantes da pesquisa, apresentando sua
formação, tempo de docência com bebês e crianças bem pequenas e a descrição das tecnologias
110
Perante o exposto, cabe-nos informar que, ao longo de nossa participação nas salas, as
docentes tiveram em suas famílias situações de infecção pela COVID-19, com dois
111
41 As imagens foram retiradas da plataforma Bing e disponibilizadas pelo sistema Creative Commons de dados
públicos.
114
CRIANÇA, A
MÃE, A
TURMA DOCENTES, A e AB
A
CRIANÇA, B
CRIANÇAS, B e C
TURMA MÃES, B e BC
B DOCENTES, B e BA
TURMA DOCENTES C e CA
C
vista que apenas docentes mulheres participaram da pesquisa. Justificativa necessária, pois uma
das conquistas de nossa atuação na política pública da educação precoce é também a
participação docente de homens como parceiros de trabalhos atuando com as crianças.
Encontramos em Broide, J. (2015, p. 77) apoio para melhor compreender a transferência
no espaço social da escola - configurado como virtual, onde foi possível o “encontro criativo”
produtor de discursos, pois
Neste sentido, percebemos que os encontros nos espaços dos ambientes virtuais e
digitais possibilitaram, para além de outras questões, que os sujeitos implicados no processo
educativo de fato colocassem em palavras seus medos, inseguranças e angústias, entendendo
que “A palavra, tal como agulha e linha, tece o encontro entre as pessoas e permite a construção
de caminhos alternativos” (BROIDE, J., 2015, p. 77). E assim, as docentes, as mães e as
crianças fizeram e teceram passagens alternativas para cuidar, educar e brincar. Os caminhos
construídos pelos sujeitos implicados nessas funções repercutiram, subjetivamente, tanto sobre
eles quanto no espaço social virtualizado da escola, nomeado “Escola em Casa - DF”.
Reconhecidamente, inscreveu-se o pilar da tese: as funções educativas do cuidar,
educar - brincar de/e com crianças de 0 a 3 anos nos espaços das Tecnologias Digitais de
Informação e Comunicação - TDICs produzem ressonâncias e efeitos nos modos de atuar
e se relacionar com possíveis entraves na produção de mal-estar docente e constituição do
laço social e educativo.
Para tanto, nas aproximações iniciais com os sujeitos das turmas TA, TB e TC,
intencionou-se conhecer os discursos a partir das funções que ocupam na relação tríade,
lembrando que “o inconsciente é o discurso do Outro. O inconsciente participa do Outro,
enquanto lugar de engendramento do discurso, do sujeito e do desejo” (FERREIRA, 2002, p.
120) e nosso entendimento é que os discursos circularam frente ao desejo do Outro adulto
(docente e mães) com repercussões institucionais.
Em outras palavras, para construção e interpretação dos dados nos sustentamos em 3
tempos: ver, compreender e concluir a partir dos eixos de análise que norteiam os objetivos da
tese.
117
Cuidar
Educar
Brincar
Esclarecemos que para compor o corpus da pesquisa, foram utilizados como critérios
de exclusão:
a) famílias residentes em zona rural com dificuldades de acesso à internet;
b) conjunturas avaliadas, com as docentes, como não adequadas à entrada de um
terceiro, como situações em que famílias se encontravam acompanhadas pelo
Conselho Tutelar; famílias com crianças em dificuldades na adaptação inicial;
famílias em situação de conflito.
Nas semanas seguintes estendemos o convite aos pais e responsáveis que
acompanhavam a criança no momento da aula. Muitas eram avós, tias, em maioria mães.
Iniciamos com o aceite dos responsáveis de quatro (4) crianças, porém, ao longo do processo,
reconhecendo as dificuldades das famílias para assinatura no formulário on-line dos termos de
livre consentimento esclarecido, definimos o corpus da pesquisa com a participação de três
turmas, três crianças, três mães e seis docentes.
Descreveremos as cenas conforme as situações educativas, considerando responder ao
primeiro objetivo e à questão norteadora: foi possível exercer a função docente por meio das
TDICs e ambientes virtuais de aprendizagem?
Observar a ação dos sujeitos na função docente ao usar as TDICs e Ambientes Virtuais
de Aprendizagem com crianças de 0 a 3 anos frente à situação social crítica de pandemia
(Objetivo.01).
Entendemos como Mariotto (2017, p. 35) que nas relações educativas há possibilidade
de se estabelecer laços, pois na tríade que envolve a docência com a primeira infância esse laço
se estabelece com relativa frequência – ato que inscreve marcas, portanto há transmissão. Nas
palavras da autora:
Nesse sentido, para apresentar o caso múltiplo das turmas, recorremos aos três tempos
lacanianos, tendo em vista a situação de isolamento social ou de aprisionamento em que todos
sonhamos sair do lugar de “prisioneiros” para a liberdade total.
119
Reconhecemos que os três tempos determinam a lógica que abarca as relações dos
sujeitos ao cuidar, educar e brincar atravessados pelas TDICs. Lembramos ao leitor que o sujeito
do qual falamos para além de suas ações/funções conscientes apresenta-se também
inconsciente, conforme nossa opção teórica. Entende-se que os espaços virtuais possibilitaram
discursos e sentidos para sustentar o invólucro psíquico do ato educativo (BLANCHARD-
LAVILLE, 2005, p. 263). Assim, entramos em cena para ver, compreender e concluir a
experiência temporal, lembrando que
a linguagem, o símbolo. O que nos falta também nos impulsiona: já que falta,
inventamos! Inventamos ficções, a ciência, a tecnologia e a arte, construímos e
destruímos civilizações, poluímos e despoluímos o meio ambiente, solucionamos e
criamos problemas. E nunca estamos satisfeitos, nunca paramos de desejar [...] E a
civilização não seria possível sem a linguagem. (LONGO, 2006, p. 16-17).
Longo (2006) nos permite compreender que os sujeitos envolvidos nas relações
educativas, ao encontro do Outro - a partir do desejo e da falta - buscaram nas TDICs suporte
para se colocar em palavras e discursos marcando os significantes subjetivantes da tríade cuidar,
educar e brincar.
Especialmente, os docentes em suas funções puseram-se a inventar e/ou criar no campo
educativo de 0 a 3 anos, fase em que, possivelmente, a criança não havia sido submetida às
TDICs para sustentar o cuidar, educar e brincar em contexto escolar. Desse modo, questiona-
se: inventar e/ou criar supriria, ainda que parcialmente, a falta, que falta? Para cumprir seus
deveres ou devir?
120
5.1.2 Das situações educativas - o que vimos e escutamos no encontro com e dos sujeitos:
cuidar - educar – brincar em cena
Optamos por trabalhar com os significantes cuidar e educar nesta seção, porém
entendemos que há junção entre um e outro, especialmente no campo da Educação Infantil, o
brincar completa a tríade: cuidar-educar-brincar.
Vimos as mães e as docentes trazerem, em suas falas, elementos como sobrecarga,
“grande demanda” em relação ao cuidado com as crianças e adequação das atividades
escolares e laborais do dia a dia em seus lares no período da pandemia. Apresentaram-nos um
discurso marcado por “um apressamento” que Dunker (2017, p. 122) nomeou discurso da
atualidade, marcado, segundo o autor, por uma característica da vida digital (DUNKER, 2017,
2021) que, ao nosso ver, atravessou o cotidiano dos sujeitos levando-os à sobrecarga, na medida
em que os docentes precisaram se adaptar ao cenário educativo digital -“aprender para fazer” -
(DOCENTE BA) e as mães conhecerem sobre como fazer uso das TDICs para apoiar e
acompanhar as situações educativas que envolveram o cuidar, educar e brincar com as crianças
pequenas por meio da “Escola em Casa – DF ”.
Carreteiro (2020, p. 19), ao tratar sobre o imaginário do cuidado no período da
pandemia, posiciona-se:
“esse tempo que eu tô em casa eu vou ter que dar um jeito de organizar. Tudo
corrido mesmo, infelizmente, não é um tempo totalmente de qualidade, é um
tempo e o espaço de tempo pequeno, mas que a gente tem né?” (MÃE, BA)
A mãe expressa preocupação como “tempo” não qualificável, “pequeno”, porém é o que
ela tem. Nesse discurso podemos escutar o posicionamento de um sujeito sobrecarregado e que
precisa, para além de todas as demandas, garantir um “tempo de qualidade” à pequena criança,
o que contradiz sua narrativa anterior ao se posicionar sobre o uso da tecnologia pela filha: ‘eu
não, eu não gosto, [...] tenho uma rotina extremamente puxada, na maioria das vezes eu abro
mão, digo para ela assistir para ver se eu consigo trabalhar e produzir um pouco mais”.
O discurso sobrecarregado evidencia a mãe posicionada numa retórica presente também
na fala de outras que, nesse período crítico, ajustaram suas atividades para “dar conta” do que
lhes foi atribuído, reconhecendo que uma mãe não exerce a maternagem apenas na pandemia.
Assim, temos a pandemia denunciando a história real de muitas mães que acabam por submeter
suas crianças pequenas ao uso das TDICs para, no cotidiano, “produzir um pouco mais”.
123
Em outro sentido, também foi possível identificar o uso das TDICs para “ocupá-las”
enquanto as famílias desenvolviam suas atividades laborais, silenciando-as diante da
“televisão, [..] eu tento ao máximo mesmo não deixar ela ficar muito, mas
acaba que fica.” (MÃE, BC)
Sabemos que é um processo limitante para a palavra da criança, pois, diante da televisão
cala-se e impõe o silenciamento para o outro presente na relação agravando-se, portanto, o que
consideramos o ponto optimum do processo de subjetivação da criança, quando de algum modo
pode fazer uso da palavra. Inspiramo-nos em Lanjonquière (1999, 2019) para interpelar sobre
que sonho os adultos imersos na “vida digital” têm para a criança ainda mais imersa na “vida
condominal” (DUNKER, 2017, 2020, 2021) agravada pelo isolamento físico ditado em tempos
de pandemia?
Percebe-se a cultura digital atravessando as relações e as formas de agir com a criança
pequena, porém a condição de objeto a sempre marca a relação adulto-criança. Ainda mais
quando as demandas social e política endereçadas aos adultos em “limitar” a criança ao uso das
TDICs com o ensino remoto dificultaram que a mãe ou responsável parental realizasse o
“controle” tendo em vista que o celular já estava em uso colocando a criança no que Dunker
(2021, p. 28) nomeia “acessibilidade digital”, que reconecta discursivamente famílias antes
separadas pela distância física, que cria uma geração com novos padrões relacionais.”
Conforme narrativa - “eu acho que às vezes ela também tá bem cansada, estressada também, aí
não atende os três [família] ela se mostra mais irritada e impaciente é porque assim, a gente
evita sair, a gente evita até muito tipo de aglomeração.” (MÃE, BA)
Essas ações, no isolamento social, demandaram ainda mais do adulto trazendo
“sobrecarga muito grande de estudos, meus estudos, dela, trabalho, casa que tudo junto é aquela
loucura” (MÃE, BA), em outras palavras, “o empreendedorismo combinado com suporte social
e a vida em forma de condomínio, combinados entre si acabam por estabelecer uma mutação
em nossas formas hegemônicas de sofrimento.” (DUNKER, 2021, p. 28) com empobrecimento
na ‘experiência social e subjetiva.” (DUNKER,2021, p.29), ao nosso ver depreciando as formas
de cuidar de si e do outro - um fazer sem sentir.
Winnicott (1975), em “O Brincar e a Realidade”, ressalta que o cuidado humano
perpassa pela “maternagem” suficientemente boa, que oferece sustentação (holding) e inclui os
pais e outras pessoas envolvidas. Gabeira e Zornig (2013, p. 144), ao tratarem do cuidado na
primeira infância em ambiente institucional, destacam a experiência subjetiva emocional que
afeta o bebê e o ambiente em que se encontram. Para as autoras, a ética do cuidado nos
124
ambientes coletivos e institucionais exige que os adultos estejam atentos às comunicações não
verbais traduzindo-as em “formas de cuidado” (GABEIRA; ZORNIG, 2013, p. 144), afetivos
e cognitivos. Assim, sendo reduzida a experiência dos sentimentos de inquietude e “mal-estar”
(GABEIRA; ZORNIG, 2013, p. 147). Neste sentido, em análise das vinhetas verificou-se das
docentes em suas funções preocupações e atenção às expressões de comunicação:
Ao se despediram da mãe e da criança por Na cena a criança CA olha e sorri para a tela
meio de gesto do tchau, a criança olha para a quando as docentes se despedem. As
tela, como se quisesse de algum modo capturá- docentes fazem o gesto de tchau, assim, CA
las para que ali permanecessem. Inferimos que leva a mão ao rosto tapando os olhos, como
Olhar havia expressão de desejo de que ali se estivesse constrangido. A mãe e as
permanecessem. Após iniciarem “cadê, docentes sorriem. Assim a cena se prolonga
achou?” simulando presença e ausência, a um pouquinho mais, pois as docentes
criança demonstra satisfação com as iniciam a brincadeira “cadê, achou?”
professoras entrando no jogo.
Por meio do olhar entendemos que houve o enlaçamento entre as docentes, a mãe e a
criança, e que pela “dialética do olhar “a transmissão aconteceu, ou seja, “Há uma dimensão do
olhar que nos enlaça” (LIMA, 2020, p. 19). Para Lacan, a “dialética do olhar”, sustenta-se onde
“o que conta não é que o outro veja onde estou, é que veja aonde vou, quer dizer, muito
exatamente, que veja onde não estou”. (LACAN, [1953-1954] /1986, p. 256).
Notadamente, quando a criança CA vira para a tela, após ser chamada pelo nome, sabe
que ali está “um objeto que me olha”, portanto, “Basta que me signifique” (LACAN, [1953-
1954] /1986, p. 246). Nas palavras do autor, “A partir do momento em que esse olhar existe, já
sou algo de diferente, pelo fato de que me sinto eu mesmo tornar-me um objeto para o olhar de
outrem. Mas, nessa posição, que é recíproca, outrem também sabe que sou um objeto que se
sabe ser visto.” Portanto, a criança toma seu lugar no campo intersubjetivo da tríade quando é
comunicada (voz) e pelo olhar de sua existência, diferenciando-se dos demais, assim com
possibilidades de subjetivação. Nos aproximamos de Akimoto (2021, p. 98) ao assegurar que
“A pulsão invocante, a mais próxima do inconsciente e do desejo, se configura sob uma
128
[...] e aí a surpresa maior é que a maioria dos pais tem vídeos sobre os filhos,
sabe né. Nesse período né, e assim o que mais preocupa, por exemplo um
vídeo que a mãe me mostrou ontem em que a filha se machuca e ela está na
câmera gravando [...] ela continua ali gravando. Eu fiquei assim... quando eu
recebi o vídeo eu me emocionei de falar, assim: - meu Deus ela só tem 2 anos
130
Autores como França e Rocha (2015), ao tratarem da ética do cuidado com base em
Winnicott e Ferenczi, destacam a posição intersubjetiva dos sujeitos como construtora do
cuidado na primeira infância. No relato da docente AB, observamos o uso da tecnologia
atravessando as relações, pois a mãe em sua função deseja apresentar ao professor o “sucesso”
do filho, que mesmo em distância geográfica foi bem-sucedido. A docente AB, por outro lado,
ressalta o cuidado primordial com a segurança e proteção no uso das tecnologias digitais com
e para as crianças pequenas.
Não pretendemos emitir juízo de valor quanto ao uso dos recursos da tecnologia digital
no trabalho com as crianças, tampouco colocar em discussão seus riscos ou benefícios (CRUZ
et al., 2020), pois buscamos compreender seu papel nos encontros e desencontros de sujeitos,
protagonistas do ato educativo ao cuidar-educar-brincar.
Outros meios também foram utilizados pelos pais para se manterem conectados com as
docentes, dentre os quais a comunicação nos grupos de WhatsApp das turmas, por exemplo:
Importante retomar que do ponto de vista da docência não se trata do dever e sim da
ética do cuidado, da ética do dever e do “devir adulto" (LAJONQUIÈRE, 2010, p. 217). Logo,
no “momento de ver”, reconhecendo que “Os enlaces ocorrem invariavelmente no campo do
simbólico, ou seja, não é possível pensar uma cria sapiens sem a linguagem, tampouco se pode
imaginar a linguagem sem o humano” (PESSOA, 2021, p. 287), compreendemos que não são
as ferramentas os determinantes das relações e sim o outro e Outros que se sustentaram por
meio dos espaços de comunicação e compartilhamentos.
131
Quadro 21 - Efeitos e implicações nas falas das docentes em relação ao trabalho com as
famílias
O lugar do adulto na função grandes demandas com trabalho e falta de “limite”, “desespero”
parental falta de tempo com a criança falta de rotina
O lugar do adulto na função incertezas, sobrecarga e a mal-estar
docente “reinvenção” do trabalho docente
Ao entrarem no campo educativo com as crianças pequenas nos espaços dos ambientes
virtuais de aprendizagem e TDICs, as docentes anunciaram que na pandemia, além do “medo”
que permeava o cenário mundial, outros afetos surgiram diante da demanda de trabalho. Assim
docentes e mães se expressaram:
Quadro 22 - Cuidar – Educar - Brincar – Entraves com as TDICS nos Momentos Iniciais da
Pandemia
Usar as TDICs nas brincadeiras e “Achei que não ia dar certo” Insegurança, incertezas, angústias,
interações propostas (DOCENTE, A) “reinvenção” do trabalho docente
Narrativa sobre a primeira entrada “Então, não foi boa, né?” Silenciamento
nas casas das famílias (DOCENTE, A)
Descrição sobre o interesse da “A criança vai lá no celular não Busca pela imagem de si e do outro
criança no uso do celular para deixa a gente ver a mãe”
brincar (DOCENTE, A)
Descrição de uma cena na qual - “Tá muito próximo o celular” Momento chistoso – o chiste
mãe e docentes tentam ajustam a (DOCENTE, A), “tem que quebrando a inibição
câmera do celular, para que todos distanciar mais” (DOCENTE,
pudessem se ver AB), “estamos de cabeça para
baixo” [risos], “levanta, tem que
posicionar” (DOCENTE, AB),
132
Pensamos a cena como um momento em que a criança faz relação com a própria imagem
na tela função especular, ao reconhecer sua imagem na câmera, “como tal sua imagem no
espelho” (LACAN, 1966, p. 96) onde por lá encontra-se com ela mesma, a mãe e as docentes,
pois na imagem
logo repercute, na criança, uma série de gestos em que ela experimenta ludicamente a
relação dos movimentos assumidos pela imagem com seu meio refletido, e desse
complexo virtual com a realidade que ele reduplica, isto é, com seu próprio corpo e
com as pessoas, ou seja, os objetos que estejam em suas imediações. (LACAN,
1966/1988, p. 96)
Na cena a docente A inicia as atividades com a criança que, próxima ao celular, com um brinquedo em suas mãos,
afasta-se da mãe e direciona-se ao Smartphone, oferecendo-o para as docentes ou, quem sabe, para a sua própria
imagem.
No início, as mães fizeram vídeos dizendo o que tinha em casa para a criança
brincar, orientamos com os brinquedos que tinham. A gente tá
ressignificando! Pega os brinquedos das crianças e orientamos. Esquece o
brinquedo como ele é... Dou a possibilidade e sugiro que crie em cima dele.
E no Meet, faço a atividade, explico como fazer em casa. Elas sempre
perguntam: é bola, boneca, encaixa, brincar com os irmãos, poucos têm
muitos recursos. A maioria tem uma mesinha, tem um cantinho, um bauzinho,
pedimos para organizar para ele saber onde está. Pedimos para deixar
brincar também que é necessário deixar a criança criar. Explicamos o que
eles poderiam explorar. (DOCENTE, C)
Percebe-se empenho das docentes para manter o vínculo entre escola, crianças e suas
famílias amparadas no desejo de cuidar-educar-brincar, tríade característica no processo
educativo da primeiríssima infância (0 a 3 anos). Apresenta-se, no quadro a seguir, uma das
estratégias desenvolvidas a partir da devolutiva dos pequenos vídeos:
Na cena a criança de 3 anos está deitada lateralmente e olhando para a tela de um Tablet acompanhada da
responsável, que não aparece na imagem, no entanto, afaga a cabeça da criança. Nota-se que a criança vê o vídeo
com atenção, passados alguns minutos diz: “da escola?” A responsável – mulher, diz: “é da escola né?”
Nota-se a destreza da criança no uso do Tablet, bem como identificação com a escola
por meio das situações educativas proporcionadas. Na interpelação da criança, percebe-se
vínculo com a instituição escola, ainda que os encontros com as docentes ocorram nos espaços
das TDICs.
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por “liberar” o tempo das crianças diante das telas, conforme narrativas da Mãe BA: “ela quer
assistir no celular e aí eu falei para ela que não ia deixar”, pois
[...] eu não gosto, mas por exemplo, como eu tenho uma rotina extremamente
puxada na maioria das vezes eu abro mão, digo para ela assistir para ver se
eu consigo trabalhar e produzir um pouco mais. Não que eu esteja certa, que
eu sei que não tá certo, mas como ela é a única criança em casa às vezes eu
tenho que ir por este caminho né? (MÃE, BA)
Essas narrativas remetem a Mendes (2020, p. 1): “As telas passaram a ocupar o lugar
dos pais” no cotidiano das crianças. O pensamento da autora é dissonante, parcialmente, do
nosso, apesar de encontrarmos também mães e docentes fazendo referência ao uso da tela no
período de pandemia alterando a rotina da criança pequena: “mas é isso eu tento não deixar
também, mas no atual momento, tento não deixar muito. Mas assistem Galinha Pintadinha, o
meu filho, ele gosta de animais, tipo boi. Tem o tal do Lucas Neto, agora né? Tá uma febre.”
(MÃE, BC)
O uso de tela por crianças já provocava preocupações para famílias, professores e
pesquisadores da infância, mas no período pandêmico, em todas as situações da vida social
crítica, o uso das TDICs exigiu ajustes inclusive no campo educativo da creche e das escolas,
trazendo novas configurações nas relações de cuidar-educar-brincar com incidências nas
funções docente e parental constituindo relações em presença e ausência. Ainda que não
estivessem juntos sincronicamente, no seu invólucro psíquico algo demarcava o encontro com
o Outro a partir da função que ocupa:
envolvendo as situações educativas de cuidar e educar. Para Dunker (2020, p. 123), a escuta
demanda “efeitos e palavras”. Porém,
É difícil escutar porque essa arte demanda que renunciemos ao exercício do poder
sobre os outros, mas também da glória das obras bem-feitas e reluzentes. O terceiro
motivo que torna escutar tão difícil é que a escuta começa pela escuta de si [...]. Logo
aprender a escutar é como aprender a perder [...]
Figura 24 - As relações educativas nos espaços virtuais das TDICs com a criança pequena na
pandemia
TDICs docente
espaço criança e
virtual família
Interessante pontuar que a escola como instituição social esteve presente tanto nos
imaginários dos adultos (docentes e mães) quanto das crianças, mesmo aquelas que nunca
frequentaram o ambiente físico da instituição, conforme relato: “conhecia pouco as crianças
anteriormente. Tem delas que não conhece a outra professora (educadora física) pessoalmente,
não faz diferença” (DOCENTE, C). Assim se expressou a MÃE, BA: “foi o primeiro ano dela,
então não deu tempo, ela nunca tinha ido para escola” ainda que seja possível pensar na força
do imaginário.
Nota-se o desejo de todos os envolvidos de retorno para o espaço físico da escola,
especialmente por entenderem, segundo Kupfer (2020), que houve prejuízos na socialização da
criança já que, ainda que as docentes tenham trabalhado com pequenos grupos nos espaços das
TDICs, houve muitos entraves com a internet de péssima qualidade. “Não consegui colocar as
internets são diferentes, um trava, e outros caem, aí quando você está explicando para um, o
que tá bem, o outro volta, um gritava - foi muito tumultuado” (DOCENTE, C). Segue o relato:
“Ô tia, eu quero ir lá para sala brincar” (DOCENTE, C). Depreende-se um discurso de quem
diz, isso aqui não tá bom, eu queria era mesmo ir lá para a sala brincar.
Em resposta ao nosso objetivo primeiro, observando-se docentes em suas funções,
percebeu-se ressignificação de seu trabalho na presença de situações e demandas que foram
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além dos atos de cuidar e educar crianças de 0 a 3 anos, do que se estabeleceu no contrato
laboral, desde a preocupação com o acesso dos estudantes ao ambiente virtual até equipamentos
que não ofereciam suporte ao aplicativo “Escola em Casa - DF” aos moradores da região rural.
Importante registrar que nos discursos compareceu o desejo de sustentar a transmissão,
a parentalidade, o professar, pois “todo aquele que professa se autoriza a professar de si mesmo
na sua relação com os outros [...]”. “Em se tratando de seres pequenos, estes prestarão seus
ouvidos conforme a posição que ocupem a respeito do mandato (inconsciente) recebido de seus
pais” (LAJONQUIÉRE, 2021, p. 35).
Nesse caso o desejo das docentes e famílias ao cuidar e educar fizeram ressonâncias
submetendo a pequena criança a seus desejos, especialmente o desejo de não a deixar fora do
pacto civilizatório (FREUD, 1930), sendo que mesmo diante de uma pandemia introduziram-
na na cultura garantindo-lhe, ainda que mínima, a entrada na cultura e a socialização por meio
das TDICs se não entre seus pares, por meio do encontro com as docentes.
A respeito do uso das TDICs por crianças bem pequenas e as relações dos sujeitos que
cuidam delas e as educam seja no campo educativo, parental ou social, notamos que no contexto
pré-pandêmico havia grandes preocupações com seu uso tendo em vista que poderia não ser
apropriado, havia possibilidade de desvios, entre outras preocupações. Por outro lado,
observamos ser necessário o uso das TDICs especificamente nas situações educativas que
envolveram a “Escola em Casa - DF”, tendo, por parte dos adultos, demandas para exercer “o
controle e vigilância parental, conforme propôs Díaz Bernal (2019) ainda no período pré-
pandêmico.
É importante reconhecer que as relações dos sujeitos foram reconfiguradas com
repercussões nos atos de cuidar e educar. As narrativas docentes e das mães nos levaram a
compreender que havia um profundo mal-estar diante das demandas que o trabalho remoto
provocou com intensa carga de trabalho e estudos para docentes e famílias.
Compreendemos, como Freud (1930/1996), que o mal-estar está presente em todas as
relações, uma vez que nele comparecem as forças repressoras que ditam os atos humanos. Ou
seja, na relação tríade de cuidar e educar bebês e crianças bem pequenas, para além das boas
intenções das docentes e seus pais, os significantes oriundos de suas funções foram
determinados.
Consideramos que o fato de a criança estar em casa, participando da “Escola em “Casa”
e utilizando TDICs não altera as relações adulto-criança, ainda que mais submetidas às
demandas dos pais, uma vez que não tiveram a presença de seus pares e docentes no espaço
físico da escola para, ainda que minimamente, fizessem o escape. Ou seja, que pudessem
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garantir, para si, um lugar longe dos seus pais. Portanto, os bebês e as crianças bem pequenas
continuaram submetidos ao desejo do Outro (adulto), conforme Dolto (2005, p. 09): “é um
escândalo para o adulto que o ser humano em estado infantil seja seu igual”.
Desse modo, nos períodos pré - pandêmico ou pandêmico, o uso das TDICs demandou
dos adultos que os “limitem” e os controlem independentemente do país em que habitem, seja
na China, no Brasil ou na Turquia.
O fato é que os pais perderam o apoio necessário para aliviar as tensões entre pais e
filhos, ou seja, o lugar social das crianças - o espaço físico da escola. Porém, por meio do
encontro nos espaços digitais, minimamente precisávamos garantir apoio uns aos outros, dando
possibilidade para cuidarmos uns dos outros. Assim sendo, entendemos que cuidar é educar e
educar é cuidar.
Constatamos que, com a entrada das docentes via ambientes virtuais para exercer suas
funções, as tensões foram aliviadas. Portanto, os cuidados, ainda que mínimos, fizeram efeito,
pois no encontro e desencontro:
Diante da situação social crítica de uma pandemia, vimos docentes apoiarem-se nas
famílias para exercerem o “poder e a arte” (ENRIQUEZ, 2001, p. 116) de professarem o ato da
docência nos espaços das TDICs, comunicarem o impossível de cuidar e o educar já que, no
exercício de suas funções (ofício), presentificaram-se em ato e palavras. Independentemente da
presença física, no invólucro psíquico da tríade, o importante foi estarem ali.
Desse modo seguimos para “O Tempo de Compreender” que pode se reduzir ao instante
do olhar, mas esse olhar, em seu instante, pode incluir todo o tempo necessário para
compreender”. (LACAN, 1949/1998. p. 2005).
A seguir apresentamos o segundo objetivo desta tese: compreender as relações de
docentes, famílias e crianças na presença do uso das TDICs como espaços virtuais para brincar
e se relacionar em contexto educativo e social (Objetivo.02).
140
Mariotto (2009, p. 27) para pensar que o espaço psíquico virtualizado das TDICs utilizadas
pelos pais e educadores permitiu a entrada da criança na cultura da escola com possíveis
“efeitos” subjetivantes. Nesta seção trataremos do “brincar” nessa perspectiva, iniciando com
a descrição da cena a seguir:
As docentes B e BA propuseram uma situação educativa em pequenos grupos com até
3 crianças, mediada sincronicamente, ou seja, em tempo real, pelo Google Meet. No entanto,
alguns entraves ocorreram, dentre eles atraso no tempo de conexão entre as famílias, articulação
entre o tempo para início da brincadeira e o seu desenvolvimento, quedas de transmissão
justificadas por conexão ruim da internet, ajustes de microfone – microfonia, dentre outros,
enfim, a atividade foi iniciada.
O jogo ocorreria entre as mães e as crianças ao mesmo tempo, cada uma em seu espaço
geográfico (casa). As docentes coordenavam o tempo de cada criança para jogar a bola, a mãe
para a criança e vice-versa (alternância). Assim, as crianças (3) e as mães ou responsáveis (3)
brincaram por mais de 10 minutos, juntas com as docentes coordenando o tempo de cada uma
– evocando e direcionando, nominalmente, a criança. Percebemos inquietação por parte das
crianças quando houve o encerramento da atividade. Nas cenas e conversas observamos:
❖ insegurança por parte das docentes quanto à permanência e/ou interrupção da
conexão para sustentar o tempo de condução da atividade;
❖ incerteza se mães e crianças iriam compreender a proposta;
❖ inibição por parte das crianças e mães.
Avatar ao outro. De outro modo, em nossa compreensão, nas situações educativas por nós
acompanhadas, a mãe ou responsável parece estar junto, mas no cenário escolar pré-pandêmico
descrito pela docente “[...] no presencial [a mãe] só devolve e só conversa,” ou seja, não está
junto.
Percebe-se um esvaziamento de sentido “do fazer” no contexto da experiência anterior
no ensino presencial - “ela [não] tá junto”. Para a docente o “estar juntos” faz sentido e é
significado, notadamente, se a mãe em seu discurso não se colocar a partir de um discurso vazio
de “só conversa”, mas fazer-se em presença, como aconteceu no trabalho remoto.
Apreende-se que há implicações para a docência e para a criança pequena quando a mãe
devolve um discurso para a docente em uma fala vazia, uma vez que, no compromisso de
realizar as brincadeiras em casa, a mãe não “tá junto”, ou seja, não está implicada.
Sabemos que o brincar é subjetivante para a criança e possibilita alívio das tensões, pois
“no brincar a pequena criança se ‘perde’” (WINNICOTT, 1971, p. 29), portanto sugere-se que
no “ensino remoto”, on-line ou a distância ocorrem prejuízos quanto à oportunidade para a
criança se encontrar sozinha com outros, seus pares ou educadores, assim como com seus
brinquedos manipulando-os em livre desejo, conforme narrativa:
concretizo minha ideia sobre a brincadeira, reivindicando que o brincar tem um lugar
e um tempo. Não é dentro, em nenhum emprego da palavra (e infelizmente é verdade
que a palavra "dentro" possui muitos e variados usos no estudo psicanalítico).
Tampouco é fora, o que equivale a dizer que não constitui parte do mundo repudiado,
do não-eu, aquilo que o indivíduo decidiu identificar (com dificuldade e até mesmo
sofrimento) como verdadeiramente externo, fora do controle mágico. Para controlar o
que está fora, há que fazer coisas, não simplesmente pensar ou desejar, fazer coisas
toma tempo. Brincar é fazer. (WINNICOTT, (1971[1975], p. 69)
O jogo foi disponibilizado a todas as crianças das turmas, e para a tese consideramos os
dados obtidos como complemento de análise na escuta das 3 crianças (CA, BA e BC)
participantes do caso múltiplo; os brinquedos foram apresentados na conversa com elas.
Apresentaremos o posicionamento de cada criança em relação às escolhas para brincar, a partir
do jogo e no momento de realização da entrevista com a mediação da mãe.
42 Apêndice G
145
43
https://www.youtube.com/c/luccasneto/about
146
O que quer que se diga sobre o brincar de crianças aplica-se também aos adultos;
apenas, a descrição torna-se mais difícil quando o material do paciente aparece
principalmente em termos de comunicação verbal. Sugiro que devemos encontrar o
brincar tão em evidência na análise de adultos quanto o é no caso de nosso trabalho
com crianças. Manifesta-se, por exemplo, na escolha das palavras, nas inflexões de
voz e, na verdade, no senso de humor (WINNICOTT, 1971[1975], p. 61).
Nas palavras de Dunker (2020, p. 126) “A escuta faz resistência ao mero funcionamento
das coisas, e à mera facilitação das trocas, no interior das quais, muitas vezes vamos nos
transformando em pessoas-coisas. Renunciar ao poder e encontrar o ponto de vulnerabilidade
de um laço social, é o ponto de partida da escuta.” Entendemos que no apressamento
(DUNKER, 2017) em busca do “‘ensinamento’” (TOLFO, 2019), as normas e decretos
provocaram a transformação “pessoas-coisas”, ocasionalmente, ao nosso ver, intensificando o
sentimento de mal-estar anunciado por Freud:
O sofrimento nos ameaça a partir de três direções: de nosso próprio corpo, condenado
à decadência e à dissolução, e que nem mesmo pode dispensar o sofrimento e a
ansiedade como sinais e advertências; do mundo externo, que pode voltar-se contra
nós com forças de destruição esmagadoras e impiedosas; e, finalmente, de nossos
relacionamentos com os outros homens. (FREUD, 1930/1996, p. 49).
Nesse sentido, reconhecemos que a psicanálise nos esclarece que o que afeta o
individual também repercutirá para a massa (coletivo). Desse modo, pensamos que, na
pandemia, afetos de mal-estar foram intensificados no campo educativo de 0 a 3 anos nacional
e internacionalmente e envolvendo todos os sujeitos.
Destaca-se, ainda, o impacto financeiro para as docentes e famílias para compra de
artefatos tecnológicos, sinal de internet para trabalhar, participar de reuniões ou cursos de
formação exigidos pela Secretaria de Educação. Acrescentam-se efeitos na organização
familiar, pessoal e laboral diária, buscando manter a acessibilidade para todos, evitando a
evasão escolar, nesse período determinada por diferentes fatores, dentre eles da gestão, ao
pensarmos que no campo institucional da escola articulam-se o desejo e a lei.
De acordo com Moretto (2019, p. 69) sobre as ações propostas em nome do cuidar e
educar:
Entende-se que, para além do campo educativo, o campo social que compõe o cenário
da escola também foi afetado, famílias queixaram-se de falta de apoio quanto aos recursos
financeiros na aquisição dos artefatos tecnológicos para apoiar os filhos na “Escola em Casa -
DF”, pois outras questões permearam o cenário escolar como a insegurança alimentar, por
estarem em condições financeiras precárias e outras situações, que ao nosso ver induziram ainda
mais ao desamparo, à exclusão e à precariedade nas situações socioeconômicas das famílias,
refletindo-se no processo de constituição da pequena criança, diante dos modos possíveis
(CHARCZUK, 2021) de cuidar-educar-brincar.
Importante destacar as orientações do CNE (BRASIL, 2020), dentre outras, da garantia
de não exclusão das crianças e suas famílias e apoio para acesso às TDICs, que não foram
cumpridas, ainda que docentes, famílias, movimentos sindicais e outros integrantes da base
151
social utilizassem as redes sociais para lutarem pela causa, como a greve virtual (SOUZA et al.,
2020).
Em nossa pesquisa encontramos declaração de dificuldades prévias das famílias para
compreender e utilizar os recursos das tecnologias digitais como áudio, “não sabe ler”
(TURMA, C) ou “dificuldades [...] de forma geral”. Foi emblemática a situação de quando o
governo do Distrito Federal liberou o aplicativo “Escola em casa - DF”, alguns celulares não
suportaram o aplicativo: “o meu celular deu uma travada [...] apagou algumas coisas”.
(DOCENTE, B).
Inferimos que a existência de políticas públicas educacionais que assegurem de fato o
acesso às TDICs desde o campo educativo ao social contribuirá para que, em situações
emergenciais como uma pandemia, a acessibilidade, a sustentabilidade, a equidade sejam
garantidas, permitindo-se assim sonhar um cuidar-educar-brincar com acolhimento de todos
que compõem a tríade educativa, também para além do campo institucional da escola,
permitindo um cuidado mais amplo.
Logo, para cuidar é preciso cuidar de si e do outro nas dimensões pessoal, de trabalho
e/ou política, rompendo com estratégias e ações de poder normatizadoras que levam ao
silenciamento da voz e da palavra em que pessoas possam tornar-se sujeitos, reduzindo, assim,
os afetos de mal-estar e “medo", embora saibamos que “não há regra de ouro que se aplique a
todos: todo homem tem de descobrir por si mesmo de que modo específico ele pode ser salvo”
(FREUD, 1930, p. 91) diante do pacto civilizatório.
Desse modo e em “Tempo de concluir”, entende-se que as políticas públicas
educacionais, ao recomendarem o uso das TDICs no campo educativo com crianças de 0 a 3
anos nos espaços institucionais para cuidar-educar-brincar na pandemia 2020 – 2021, fizeram
serviço triplo: o primeiro em dimensão macro para silenciar os sujeitos com sobrecarga de
trabalho, exclusão, acentuando as desigualdades sociais e controlando o outro nos espaços de
trabalho com tensões de mal-estar; o segundo como suporte às atividades educacionais,
pedagógicas e relacionais; e, por último, como um espaço virtual subjetivante das relações em
que os sujeitos puderam falar e se expressar cuidando uns dos outros, também aliviando as
tensões. Portanto, a utilização da TDICs, como elemento primordial na pandemia 2020 – 2021,
pode ser reconhecida como um mal necessário.
Enfim, para além do ambiente duro das TDICs, ao cuidar-educar-brincar em tempo de
pandemia, o elemento primordial do laço social foram “as relações amorosas [que]constituem
a essência da psique das massas.” (FREUD, 1821/1996, p. 30) e o elemento central do laço
educativo - o amor.
152
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Por outro lado, mesmo nos espaços das salas de aula virtuais foi possível acionar a
linguagem dos afetos, do cuidar-educar-brincar, garantindo a fala e a escuta por meio das
quais os sujeitos do e no campo educativo puderam discorrer sobre suas realidades e afetos
produzidos pela situação de isolamento físico, perdas, luto, mal-estar e angústias.
Em meio aos encontros e desencontros, também as docentes puderam ofertar a palavra
para as mães narrarem os acontecimentos de seu dia a dia envolvendo suas crianças e famílias,
sendo possível fazer circular a fala e as ressonâncias diante da experiência subjetiva apresentada
na fala “implicada” aos sujeitos partícipes desse processo perante a singularidade de cada um.
Vimos, em contexto pandêmico, o sujeito produto da linguagem, do desejo e da insatisfação,
no encontro com o Outro, revelar-se humano, sensível e amoroso.
Entende-se que diante dos afetos de mal-estar proporcionado pelo isolamento
físico/social da pandemia e entraves da impossibilidade do educar, os sujeitos encontraram-se
para falar sobre as dúvidas, incertezas e sofrimentos pelos quais toda humanidade vem
passando. É possível reconhecer que, mesmo em salas de aula virtualizadas, os sujeitos, apesar
do isolamento, ainda se dispuseram ao encontro com o mundo externo, garantindo os
“relacionamentos com os outros homens” (FREUD, 1930, p. 9-10).
Compreende-se que nas relações de docentes, famílias e crianças nos ambientes digitais
e virtuais de aprendizagem, apesar do “impossível de educar” freudiano, algum cuidado foi
possível, elaborando-se, de certo modo, as preocupações e presentificando-se sujeitos de desejo.
Em outras palavras, nas relações educativas aflorou o desejo de acionar a linguagem, haja vista
que, para Dolto (2018, p. 10), “tudo é linguagem”, e que para a pequena criança vislumbrou-se
a mais fundamental – o brincar.
Na pesquisa de campo verificou-se que laços se constituíram diante do desejo de
ensinar, vincular-se e cuidar das barreiras e entraves com as tecnologias digitais, reiterando-se
a linguagem como produtora de humanidade.
As docentes estiveram preocupadas e sobrecarregadas, estudando diferentes maneiras
para propor ações de apoio às famílias no desenvolvimento das atividades numa tentativa de,
na turma, conjugar o “nenhum a menos”, convocando as famílias e as crianças para colocarem
em palavras seus desejos e os afetos de mal-estar causados pela pandemia.
Para além de outros assuntos que despontaram nesta tese, verificou-se, que ao cuidar e
educar utilizando os recursos das TDICs, as docentes pensaram e criaram caminhos para dar
continuidade à docência, ainda que submetidas às normatizações que impactaram e provocaram
afetos de mal-estar tanto para os adultos quanto para os pequenos envolvidos no ato, com efeitos
na dimensão subjetiva do seu trabalho.
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Das relações constituídas na tríade despontou, ao nosso ver, um saber fazer, na medida
em que as docentes aprenderam para fazer e para apoiar, cuidadosamente, as mães não
alfabetizadas digitalmente, o que implicou um novo modo de cuidar-educar-brincar, quando em
jogo também esteve o cuidado de quem cuida para juntas sustentarem a tríade cuidar-educar-
brincar, ainda mais que na escuta cuidaram para que o outro pudesse também cuidar de si.
Logo, vimos que no encontro, o Outro, para além da pandemia, inseriu a pequena criança
na linguagem, no mundo, ofertando-lhe significantes para que, mesmo a distância, de algum
modo adentrasse o mundo social e que, minimamente, estivesse na presença de outros adultos
e outras crianças.
Por fim, entende-se que o discurso que brotou no e dos sujeitos no cenário da pandemia
marcou a sua subjetividade e nos apresentou os caminhos percorridos nos atos de cuidar e
educar crianças para além das telas de cristal líquido. A linguagem que ditou a ocasião
inscreveu-se nos afetos de humanidade e na utopia de “sonhar” as crianças em nosso país.
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183
APÊNDICE
184
Assinatura do participante
Brasília,__de__de 2020.
186
Este documento foi elaborado em duas vias, uma ficará com o/a pesquisador/a.
Assinatura do participante
Brasília,__de__de 2020.
188
Eu, , autorizo a
utilização da imagem e do som de voz de , na
qualidade de participante/entrevistado(a) no projeto de pesquisa intitulado “INFÂNCIA E
TECNOLOGIA DIGITAL: novas configurações na constituição e relações dos sujeitos em
contexto atual e posterior à Pandemia”, sob responsabilidade de Cleonice Pereira do
Nascimento Bitencourt, vinculada ao Programa de Pós-Graduação em Educação da
Faculdade de Educação da Universidade de Brasília. A imagem e o som de voz de
________________________podem ser utilizados e analisados somente para fins de
pesquisa e em discussões acadêmicas sobre o uso da tecnologia digital por crianças e bebês
da creche e a constituição e relação dos sujeitos. Tenho ciência de que não haverá
divulgação da imagem nem do som de voz de
____________________________por qualquer meio de comunicação, seja ele televisão,
rádio ou internet, exceto nas atividades vinculadas ao ensino e à pesquisa, explicitadas acima.
Para garantia do sigilo, propõe-se a utilização do recurso de borramento para que as crianças
não sejam identificadas. Tenho ciência também de que a guarda e demais procedimentos de
segurança com relação às imagens e aos sons de voz são de responsabilidade da pesquisadora
responsável. Deste modo, declaro que autorizo, livre e espontaneamente, o uso para fins de
pesquisa, nos termos acima descritos, da imagem e som de voz de , sob minha
responsabilidade. Este documento foi elaborado em duas vias, uma ficará com a
pesquisadora responsável pela pesquisa e a outra comigo, como adulto
responsável por .
Assinatura do participante
Assinatura do(a) pesquisador(a)
Brasília,__de __de 2020.
189
Termo de Autorização para Utilização de Imagem e Som para fins de pesquisa - pais e
professores
Brasília,__de__de 2020.
190
APÊNDICE E - TALE
Brasília,__de__de 2020.
192
Brasília,__de__de 2020.
194
Participantes: responsáveis pelos bebês e crianças bem pequenas (pais e outros familiares
cuidadores)
1)Neste período de isolamento social, qual tem sido a rotina do(a) seu(sua) filho(a)?
4)Quando ele(ela) está brincando sozinho(a), ele(ela) brinca de que e com o quê?
6) Quando você está desenvolvendo atividades domésticas ou pessoais, com quem e com o
que o(a) seu(sua) filho(a) brinca?
Participantes: professores
1)Neste período de isolamento social, você tem acompanhado e conversado com os pais dos
seus alunos sobre o período de isolamento social?
3)Você sabe de quais brincadeiras seu aluno tem participado neste período?
4)Você sabe se quando o seu aluno está brincando sozinho, ele brinca de que e com o quê?
5) Você sabe, quando ele está brincando com alguém, com quem e como brinca?
6) Você tem acompanhado seu aluno neste período? Qual contato você tem? Quais foram as
orientações da instituição educativa a respeito do acompanhamento do seu aluno? E no âmbito
da escola da Secretaria de Estado de Educação?