TCC - Alienação Parental
TCC - Alienação Parental
TCC - Alienação Parental
UBERLÂNDIA - MG
2021
CLÁUDIA D’ANDREA RODRIGUES PINTO PINHO
UBERLÂNDIA - MG
2021
CLÁUDIA D’ANDREA RODRIGUES PINTO PINHO
COMISSÃO EXAMINADORA
________________________________________________________________________
Mariana Nascimento Santana Lelis
Especialista em Direito Societário
________________________________________________________________________
Aquila Priscila Souza Santos
Especialista em Direito do Trabalho e Processo do Trabalho
Especialista em Ciências da Religião
Dedico este trabalho a Deus que tem me
capacitado, e me dado forças para chegar até
aqui.
AGRADECIMENTOS
Em primeiro lugar, agradeço a Deus, pоr ter me dado saúde е força pаrа superar as
dificuldades.
À Faculdade Shalom de Ensino Superior, pela oportunidade de fazer о curso.
À minha orientadora professora e amiga, Maria Tereza Nascimento Maruyama Pinheiro,
pela paciência e carinho demonstrados todo tempo. Sempre dedicada e amorosa, auxiliando
sempre que requisitada. Pelo suporte no pouco tempo que lhe coube, pelas suas correções е
incentivos, por me motivar e acreditar em mim.
Agradeço а todos aos professores pоr me proporcionarem о conhecimento não apenas
racional, mas а manifestação do caráter е afetividade da educação no processo de formação
profissional, pela dedicação a todos nós, não somente pоr nos terem ensinado, mas por nos
terem feito aprender.
Ao meu esposo André Luis Pinho, companheiro de todas as horas, que mesmo nos
momentos mais difíceis me apoiou, incentivou e muito auxiliou durante todo curso. Pelo amor
e paciência, de todos os dias.
Às minhas filhas Leticia e Luiza, pelo amor incondicional, e pela compreensão em meus
momentos de ausência neste período.
Meus agradecimentos aos amigos de curso e ministério, companheiros de trabalho е
irmãos na amizade que fizeram parte da minha formação е que vão continuar presentes em
minha vida com certeza.
A todos que direta ou indiretamente fizeram parte da nossa formação, о meu muito
obrigado.
“O começo de todas as ciências é o espanto de as coisas serem o que são”
Aristóteles
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RESUMO
A animosidade exacerbada que passa a fazer parte das disputas conjugais se configura
como um dos motivos mais apontados como causa da alienação parental que nem sempre tem
origem apenas de parte de um dos genitores. Nesse contexto, a alienação parental tanto pode
ser provocada por um dos genitores como por outros membros da família, buscando criar
situações que promovam o afastamento emocional da criança do genitor alienado (PEREIRA;
CASAES, 2017).
Inserir a criança nos conflitos com o intuito de satisfazer a intenção de um dos
conjunges acaba resultando na implantação de falsas memórias. Além disso, pode fazerazendo
com que a criança passe a externar determinados sentimentos, entre os quais a culpa, a raiva, a
angústia e a tristeza, entre outros, sem conseguir lidar com as próprias emoções
(FIGUEIREDO; ALEXANDRIDIS, 2014; DIAS, 2008; 2011). A alienação parental, seria,
portanto, o resultado de uma influência psicológica negativa de um adulto alienante sobre os
filhos a fim de tumultuar a formação da percepção sócio afetiva da criança ou adolescente
(FIGUEIREDO; ALEXANDRIDIS, 2014; RANGEL; PEREIRA, 2009).
Com base nessas premissas, o objetivo deste trabalho foi analisar as consequências da
alienação parental na vida das crianças. Para isso, serão considerados dois enfoques, a saber: o
enfoque jurídico e sócio emocional, mas com ênfase especial no aspecto psicológico desse
fenômeno na vida das crianças.
A pesquisa foi realizada a partir de levantamento sistemático de literatura e buscou
aprofundar a discussão do tema e refletir sobre a importância de que as informações sobre a
alienação parental e seus malefícios sejam divulgados nos espaços de discussão familiar e
coletiva de forma a contribuir para a redução de sua ocorrência. Para a seleção do material de
referência foram realizadas buscas em em portais de periódicos científicos como o Scientific
Electronic Library Online (Scielo) e o Google Acadêmico, além de livros publicados sobre o
tema. Também serão utilizadas monografias, dissertações e teses publicadas nos portais das
instituições oficiais de ensino no Brasil, na Biblioteca Digital de Teses e Dissertações
(BDTD) e no Sistema de Publicação Eletrônica de Teses e Dissertações (TEDE).
A seleção das fontes e publicações atenderá a pesquisa nos portais e periódicos
destacados, utilizando-se da pesquisa booleana (através da combinação de palavras chave),
contemplando termos e conceitos centrais relacionados ao tema do estudo, tais como:
‘alienação parental’, ‘consequências da alienação parental’ ‘síndrome da alienação parental’,
‘proteção à criança’. No que diz respeito o método, a pesquisa em curso de caracteriza como
qualitativa, buscando examinar e refletir sobre as percepções a fim de obter um entendimento
das atividades sociais e humanas desenvolvidas sobre o tema (COLLIS, HUSSEY, 2005).
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Lei nº 6.515/1977 (BRASIL, 1977).
4
Lei nº 8.069/90 (BRASIL, 1990).
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Lei nº 11.698/2008 (BRASIL, 2008).
6
Lei nº 10.406/2002.
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aptidão para garantir aos filhos o afeto no que se refere ao genitor e o grupo familiar, saúde,
segurança e educação, sendo responsável ao genitor que não detiver a guarda a
obrigatoriedade de supervisão do atendimento do interesse dos filhos (BRASIL, 2002).
Corrêa (2016) aponta que, como consequência da referida lei, começou a surgir
problemas relacionados ao exercício da posse exclusiva, especialmente pelo não atendimento
de aspectos essenciais postulados na legislação para atendimento das necessidades da criança
e do adolescente. Entre esses problemas, era cada vez mais visível, segundo a autora, o
fenômeno da alienação parental.
Devido a essa especificidade, emergiu, portanto, a necessidade de que fosse criada
uma lei específica que permitisse o enfrentamento do problema e a regulamentação de
dispositivos que pudessem barrar a ocorrência desse tipo de desajuste nas famílias,
extremamente prejudicial à criança, de forma preventiva e com caráter multidisciplinar.
A denominada Lei da Alienação Parental, Lei nº 12.318/2010, apresenta nove
dispositivos legais que vão destacar, entre outros aspectos, o conceito legal adotado,
exemplos de atos de alienação parental, a necessidade de avaliação biopsicossocial e
psicológica, as normas a serem executadas do ponto de vista judicial, assim como as
consequências do ato (BRASIL, 2010).
Face ao exposto, na próxima seção serão discutidos os aspectos relevantes da referida
lei, sob a perspectiva do atendimento às necessidades da criança e das consequências da
alienação parental para esses indivíduos.
2.1 A Lei de Alienação Parental sob a perspectiva dos danos e das necessidades das
crianças
A prática da alienação parental provoca nos filhos dos genitores alienantes, além do
dano moral e que trata a legislação vigente, malefícios que operam nas dimensões
psicológicas e afetivas desses indivíduos e dos demais atingidos pelas consequências dessas
ações, podendo deixar marcas profundas na vida e nas relações de todos os envolvidos
(SOUZA, 2017; FIGUEIREDO; ALEXANDRIDIS, 2014).
Dias (2016, p. 438) ao apontar os efeitos danosos da alienação parental afirma que
A Lei nº 12.318/2010 destaca em seu artigo 2º que a alienação parental pode ser
definida como:
No artigo 3º a referida lei aponta que a prática de alienação parental fere um direito
fundamental7 da criança ou adolescente no que diz respeito à convivência familiar saudável,
prejudicando o afeto intrínseco às relações entre criança e genitor e também com o grupo
familiar. Tal prática se configura, portanto, como abuso moral contra a criança, se
constituindo, ainda, como um descumprimento de deveres que são inerentes à autoridade
parental ou aqueles que decorrem de tutela ou guarda.
Dentre as formas exemplificadas na legislação, está disposto que, além de atos que
sejam declarados pelo juiz como alienação parental ou mesmo constatados através de perícia,
que sejam praticados de forma direta por um dos genitores ou através do auxílio de terceiros
podem ser elencados: a) a realização de campanha que desqualifique a conduta de um dos
genitores no exercício da paternidade ou maternidade; b) o ato de dificultar o exercício da
autoridade parental; c) dificultar o acesso de um dos genitores de exercer contato com a
criança ou adolescente; d) dificultar o exercício do direito de convivência familiar; a omissão
deliberada de informações relevantes sobre a criança, dentre as quais as informações médicas,
escolares e alterações de endereço; e) a apresentação de falsa denúncia contra um dos
genitores, contra familiares deste a fim de dificultar a convivência desses com a criança ou
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Direitos fundamentais são “todas aquelas posições jurídicas favoráveis às pessoas que explicitam, direta ou
indiretamente, o princípio da dignidade humana, que se encontram reconhecidas no teto da Constituição formal
(fundamentalidade formal) ou que, por seu conteúdo e importância, são admitidas e equiparadas, pela própria
Constituição, aos direitos que esta formalmente reconhece, embora dela não façam parte (fundamentalidade
material” (CUNHA JÚNIOR, 2008)
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Um dos aspectos relevantes dessa avaliação se apoia no fato de que a mesma deverá
ser realizada por profissional ou por equipe multidisciplinar habilitados, com efetiva
comprovação da aptidão para diagnosticar casos de alienação parental (ANDRADE, 2013).
De acordo com Andrade (2013), essa exigência quanto à possibilidade de intervenção
de equipe multidisciplinar acaba se configurando como um instrumento importante da análise
de cada caso, pois permite vislumbrar perspectivas diversas e complementares, possibilitando
maior eficácia na resolução dos conflitos.
Conforme disposto em Brasil (2010), em caso de comprovação da alienação parental,
independente da responsabilização civil ou criminal, o juiz poderá, entre outras
determinações: a) ampliar o regime de convivência familiar da criança com o genitor
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criando situações que têm como objetivo dificultar ao máximo ou impedir o contato do ex-
cônjuge com o(a) filho(a).
Esse comportamento desencadeia uma campanha de desmoralização total do ex-
parceiro na qual o genitor alienante passa a monitorar o tempo e os sentimentos da criança,
afastando-a de alguém que ama e gerando contradição de sentimentos e destruição de
vínculos entre genitor(a) e filho(a). A criança passa, então, a se identificar com o genitor
patológico e torna-se órfã do genitor alienado (DIAS, 2016).
É importante ressaltar os impactos dessas atitudes no processo de construção da
autoestima da criança inclusive. No processo de desvinculação da relação entre genitor
alienado e criança, diversos elementos emergem e são potencialmente danosos à criança que
é susceptível de culpabilização, especialmente por não ter maturidade suficiente para
compreender as entrelinhas do processo.
Oliveira (2015, p. 9-10) destaca a diferença conceitual existente entre alienação
parental e síndrome de alienação parental, afirmando que que existe uma ligação íntima entre
essas duas definições, embora sejam, de fato, complementares e seus conceitos não se
confundam.
Nessa perspectiva, de acordo com a autora supracitada, alienação parental pode ser
definida como “a desconstituição da figura parental por parte de um dos genitores ante o(s)
filho(s), de modo a marginalizar a visão dos filhos sobre o pai ou a mãe” e, assim, um dos
genitores torna o outro estranho à criança, afastando-o do seu convívio.
Já a Síndrome de Alienação Parental, essa ocorre quando os genitores ou pessoas
próximas à criança ou adolescente influenciam de forma negativa a formação psicológica da
criança, induzindo o menor a criar obstáculos e recusar a presença de um dos genitores.
Percebe-se, portanto, que enquanto a alienação parental se enquadra no rol dos
processos, a síndrome da alienação parental é compreendida como consequência da primeira,
como o reflexo das ações que foram executadas para promover o afastamento entre criança e
genitor alienado.
Assim, de acordo com Oliveira (2015), pode-se afirmar que a alienação parental cria
um afastamento no qual o menor é agente passivo da ação de um adulto, ao passo que a
síndrome de alienação parental atua para tornar o menor um agente ativo da dissolução do
vínculo e do convívio familiar. Logo, a síndrome de alienação parental abrange tanto os
efeitos emocionais quanto as condutas comportamentais desencadeadas “na criança ou
adolescente que é ou foi vítima desse processo, de tal forma estas são consideradas como
sendo as sequelas que são deixadas pela Alienação Parental” (OLIVEIRA, 2015, p.10).
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Dias (2016, p. 438) afirma que a síndrome da alienação parental acaba, inclusive, por
implantar falsas memórias na criança ou no adolescente e, assim, entre “relações falseadas,
sobrecarregadas de imagens parentais distorcidas e memórias inventadas” a alienação
parental “vai se desenhando: pais riscam, rabiscam e apagam a imagem do outro genitor na
mente da criança”.
Assim, ao levar a cabo uma lavagem cerebral no menor, o genitor alienante
compromete a imagem que o filho tem do outro ao narrar fatos que não ocorreram ou que
ocorreram de forma diversa do que é dito pelo alienador (DUARTE, 2011).
As consequências das escolhas do genitor alienante possivelmente irão interferir na
vida da criança de forma permanente, tendo em vista que o resultado da desconstrução de
memórias e construção de memórias falsas podem embasar as escolhas que direcionarão o
futuro dessa criança
Dias (2016) destaca que quando ocorre o caso de as acusações de um dos genitores
serem verdadeiras, a criança já pode ser considerada como vítima de abuso emocional, o que
per si, traz uma série de consequências devastadoras. Em sendo falsas as acusações, o abuso
emocional é ainda mais significativo, colocando em risco desenvolvimento sadio da criança.
Para Figueiredo e Alexandridis (2014, p. 40), o fenômeno da alienação parental se
apresenta tão amplo quanto a
Para Rangel e Pinheiro (2010), além da depressão, uma série de outros distúrbios
podem ser elencados como consequência da alienação parental, a exemplo de: nervosismo,
ansiedade; crises de pânico; tendência ao abuso de álcool e drogas; pensamentos suicidas;
baixa autoestima; perda de apetite; perturbação do sono; desinteresse pelos estudos; dislexia;
irritabilidade; déficit de concentração e dificuldade de estabelecimento de vínculos afetivos
estáveis na vida adulta.
Ao tratar das consequências de situações estressantes na vida de uma criança, Miller
(2003) afirma que estas podem provocar alterações significativas nas suas atividades
cotidianas, citando como exemplo que o divórcio dos pais pode causar sintomas semelhantes
à depressão.
Tendo em vista todos os argumentos apresentados, comprova-se o imenso prejuízo
emocional, social, familiar, jurídico e psicológico que a alienação parental pode provocar na
vida de uma criança, desestabilizando-a completamente não apenas nessa fase da vida, mas
estendendo-se os seus efeitos nocivos a toda a vida do indivíduo, podendo inclusive, levá-lo
ao suicídio.
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
The present work discusses the theme of parental alienation from the perspective of the
consequences that this decision on the part of one of the parents has for the child's life. The
relevance of discussing this theme goes through the need to address the impacts that changes
in family models have brought to the relationships between children and their parents,
especially when considering children who are children of separate couples and the complexity
that is part of it. of these new family arrangements. Thus, among the objectives, in addition to
addressing the concept of parental alienation in literature and legislation, it is intended to
analyze how the construction of the legal system on the subject took place and to analyze the
consequences that parental alienation has for the life of the child. child, understood here as a
subject of rights whose full assistance must be guaranteed. Thus, the problem that gave rise to
this work starts from the following question: what consequences can parental alienation have
on the life of the child who suffers this violence from one of the parents? For that, we started
from a methodology that characterizes this work as a qualitative research, supported by
bibliographic and documentary review. For the development of the work, the works of authors
that are relevant to the discussion of the topic today are considered, such as Dias (2007;
2016); Figueiredo and Alexandridis (2014); Souza (2017); Oliveira (2015) and Duarte (2011),
as well as the legislation that deals with the theme and related subjects. The results showed
that the parental alienation and the syndrome that is triggered by this behavior on the part of
one of the guardians of the child brings an infinity of harm, be it in the family, be it in the
affective and emotional aspect, or with regard to the legal bias and especially from the
perspective of psychological damage that can extend throughout the individual's life.
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REFERÊNCIAS
BRASIL. Lei nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Institui o Código Civil. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/L10406compilada.htm. Acesso em: 12 mar.
2021.
BRASIL. Lei nº 11.698, de 13 de junho de 2008. Altera os arts. 1.583 e 1.584 da Lei no
10.406, de 10 de janeiro de 2002 – Código Civil, para instituir e disciplinar a guarda
compartilhada. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2008/lei/l11698.htm. Acesso em: 12
mar. 2021.
BRASIL. Lei nº 12.318, de 26 de agosto de 2010. Dispõe sobre a alienação parental e altera
o art. 236 da Lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2010/lei/l12318.htm. Acesso em: 12
mar. 2021.
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DIAS, M. B. Incesto e Alienação Parental: realidades que a justiça insiste em não ver. São
Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2007.
DIAS, M. B. Manual de Direito das Famílias: de acordo com o novo CPC. 11 ed. São
Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2016.
LEITE, E. O. Alienação Parental: Do mito à realidade. Revista dos Tribunais. São Paulo:
Editora Revista dos Tribunais, 2015.