TCC - Renan Rodrigues Silva - Final

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U F R N

DEFICIÊNCIAS NO PLANEJAMENTO E EXECUÇÃO DE


OBRAS NO CAMPUS CENTRAL DA UFRN

RENAN RODRIGUES SILVA

TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO


(MODALIDADE - MONOGRAFIA)

NATAL-RN
2016
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE
CENTRO DE TECNOLOGIA
DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA CIVIL

RENAN RODRIGUES SILVA

DEFICIÊNCIAS NO PLANEJAMENTO E EXECUÇÃO DE


OBRAS NO CAMPUS CENTRAL DA UFRN

Trabalho de Conclusão de Curso na modalidade


Monografia, submetido ao Departamento de
Engenharia Civil da Universidade Federal do Rio
Grande do Norte como parte dos requisitos
necessários para a obtenção do Título de Bacharel
em Engenharia Civil.

Orientador (a): Prof.ª Dr.ª Jaquelígia Brito da Silva


Coorientador (a): Eng.ª Fernanda Karolline de
Medeiros

NATAL/RN, 01 DE JUNHO DE 2016.


AGRADECIMENTOS

Em primeiro lugar a Deus, que me deu saúde e coragem para concluir mais uma etapa em
minha vida e por permitir dar essa vitória a minha mãe.
À Wilma Raimundo da Silva, mãe, por sempre está ao meu lado, pelos conselhos e
ensinamentos, pela luta de sempre proporcionar o melhor para nossa família.
À minha esposa, Rosana, pelo companheirismo e incentivo.
Ao meu pai, Marcos, minhas irmãs Marília (Lila) e Mariana, aos meus avôs e avós, a toda
à minha família.
À Terezinha Amaro (Tete) e José Raimundo (vô Zezé), que contribuíram muito para que
eu pudesse está aqui.
Às professoras Jaquelígia Brito da Silva e Fernanda Karolline de Medeiros, pelas
orientações deste TCC e por sempre atenderem as minhas dúvidas.
RESUMO

DEFICIÊNCIAS NO PLANEJAMENTO E EXECUÇÃO DE OBRAS NO


CAMPUS CENTRAL DA UFRN

O presente trabalho visa aprofundar a temática sobre as deficiências em obras públicas,


com foco em empreendimentos realizados no campus central da Universidade Federal do Rio
Grande do Norte, UFRN.
Em virtude de problemas relacionados a contratos públicos, como superfaturamento e erros
de projetos, expostos cotidianamente à sociedade, é necessário justificar que não só a empresa
prestadora de serviços tem responsabilidade sobre esses problemas, como também os órgãos
gerenciadores contribuem.
Nesse sentido, torna-se necessário demonstrar como a falta de planejamento é capaz de
prejudicar a realização de um empreendimento público, principalmente antes do início dos
serviços. Para isso, foram estudadas três vertentes principais: deficiências de projetos, falhas em
orçamentos e a dificuldade de se entregar uma obra no prazo.
Ao final do estudo, percebeu-se que as obras analisadas apresentam diversas falhas nos
orçamentos, principalmente no que se refere a quantitativos e ausência de serviços. Nenhuma das
obras analisadas conseguiu ser entregue dentro do prazo estipulado, onde todas tiveram
prorrogação. A incompatibilidade entre projetos foi a principal causa das deficiências presentes
nos projetos das obras verificadas.

Palavras chave: obras públicas, planejamento, projetos, orçamento, prazo.


ABSTRACT

DEFICIENCIES IN THE PLANNING AND EXECUTION OF WORKS ON


THE CENTRAL CAMPUS OF UFRN

This work aims to deepen the theme of the deficiencies in public works, with a focus on
developments carried out in the central campus of the Federal University of Rio Grande do Norte,
UFRN.
Because of problems related to public procurement, such as overbilling and project errors,
exposed daily to society, it is necessary to justify not only the service company has responsibility
for these problems, as well as the managers contribute organs.
In this sense, it is necessary to demonstrate how the lack of planning is able to prejudice
the achievement of a public enterprise, especially before the start of services. For this, we studied
three main areas: design flaws, failures in budgets and the difficulty of delivering a project on
time.
At the end of the study, it was realized that the works have analyzed several flaws in
budgets, especially with regard to quantitative and lack of services. None of the analyzed works
could be delivered within the stipulated time, where all had extension. Incompatibility between
projects was the main cause of the deficiencies present in the projects of the works verified.

Keywords: publics works, planning, projects, budget, period.


Dedico este trabalho a toda minha família,
pois a família é a base de tudo.
ÍNDICE GERAL

CAPÍTULO I - INTRODUÇÃO ....................................................................................................... 1

1.1 – Objetivos .................................................................................................................................. 2

1.1.1 – Objetivo geral ........................................................................................................................ 2

1.1.2 – Objetivos específicos ............................................................................................................ 2

1.2 – Estrutura do trabalho ................................................................................................................ 2

CAPÍTULO II – OBRAS PÚBLICAS E PLANEJAMENTO ......................................................... 4

2.1 – Definição .................................................................................................................................. 4

2.2 – Etapas de uma obra pública ..................................................................................................... 4

2.2.1 – Fase preliminar à licitação .................................................................................................... 4

2.2.2 – Fase interna da licitação ........................................................................................................ 5

2.2.3 – Fase externa da licitação ....................................................................................................... 6

2.2.4 – Fase contratual ...................................................................................................................... 7

2.2.5 – Fase posterior à licitação ....................................................................................................... 8

2.3 – Fiscalização .............................................................................................................................. 8

2.3.1 – Superintendência de Infraestrutura (SIN) ............................................................................. 9

2.4 – Incorporação do planejamento em obras públicas ................................................................. 10

2.4.1 – Benefícios do planejamento em obras públicas .................................................................. 11

2.4.2 – Problemas ocasionados pela falta de planejamento ............................................................ 12

CAPÍTULO III – DEFICIÊNCIAS DE PROJETOS ...................................................................... 14

3.1 – Projeto x Compatibilização .................................................................................................... 14

3.2 – Técnicas de compatibilização de projetos .............................................................................. 16

3.2.1 – Extranets .............................................................................................................................. 16

3.2.2 – Sobreposição de projetos .................................................................................................... 16

3.2.3 – Listas de checagem ............................................................................................................. 17


3.3 – Problemas gerados pelas deficiências de projetos ................................................................. 17

CAPÍTULO IV – FRAGILIDADE DOS ORÇAMENTOS ........................................................... 19

4.1 – Orçamento de obras públicas .................................................................................................. 19

4.2 – Responsabilidade do engenheiro orçamentista ...................................................................... 20

CAPÍTULO V – ATRASOS EM OBRAS ..................................................................................... 23

5.1 – Atrasos ................................................................................................................................... 23

5.2 – Atrasos em obras públicas ...................................................................................................... 23

5.3 – Responsabilidade dos atrasos ................................................................................................. 24

5.4 – Penalidades pelo atraso de obras ............................................................................................ 25

CAPÍTULO VI – METODOLOGIA .............................................................................................. 27

6.1 – Caracterização da pesquisa .................................................................................................... 27

6.2 – Coleta e tratamento dos dados ............................................................................................... 27

CAPÍTULO VII – RESULTADOS E DISCUSSÕES .................................................................... 29

7.1 – Deficiências de projetos ......................................................................................................... 29

7.1.1 – Obra: Complementação da obra de ampliação do pavilhão administrativo do CCHLA para


a instalação do LABPLAN e do curso de Gestão em Políticas Públicas e de Língua Espanhola .. 29

7.1.2 – Obra: Reforma e ampliação do prédio para abrigar atividades de pesquisa e pós-graduação
do Centro de Biociências ................................................................................................................ 31

7.1.3 – Obra: Construção do Laboratório de Estudos Sismológicos (LabSis) ................................ 35

7.2 – Fragilidade dos orçamentos ................................................................................................... 37

7.3 – Atrasos em obras .................................................................................................................... 39

CAPÍTULO VIII – CONSIDERAÇÕES FINAIS .......................................................................... 41

REFERÊNCIAS .............................................................................................................................. 43
LISTA DE FIGURAS

Figura 2.1 – Organograma SIN-UFRN ............................................................................................. 9

Figura 2.2 – Consequências da falta de planejamento .................................................................... 13

Figura 3.1 – Funções da compatibilização ...................................................................................... 15

Figura 3.2 – Causas de patologias em construções ......................................................................... 17

Figura 4.1 – Ausência de identificação em planilha orçamentária de obra da UFRN .................... 21

Figura 5.1 – Responsabilidade de atrasos em obras públicas ......................................................... 24

Figura 7.1 – Escada do LabPlan ...................................................................................................... 29

Figura 7.2 – WC deficiente do LabPlan .......................................................................................... 30

Figura 7.3 – Projeto de instalações elétricas do LabPlan – detalhe dos reservatórios .................... 30

Figura 7.4 – Projeto de arquitetura do LabPlan – detalhe corte EF ................................................ 31

Figura 7.5 – Janela J01 no subsolo do Centro de Biociências ........................................................ 31

Figura 7.6 – Projeto de arquitetura do Centro de Biociências – detalhe planta baixa do subsolo .. 32

Figura 7.7 – Projeto de arquitetura do Centro de Biociências – detalhe corte AA ......................... 32

Figura 7.8 – Projeto de instalações elétricas do Centro de Biociências – tomadas em conflito com
esquadria J05 ................................................................................................................................... 33

Figura 7.9 – Projeto de arquitetura do Centro de Biociências – planta de cobertura com destaque
da marquise metálica ....................................................................................................................... 33

Figura 7.10 – projeto de drenagem pluvial do Centro de Biociências – destaque da marquise


metálica ........................................................................................................................................... 34

Figura 7.11 – Projeto de arquitetura do Centro de Biociências – detalhe planta baixa do pavimento
superior ............................................................................................................................................ 34

Figura 7.12 – Projeto de combate a incêndio do Centro de Biociências – detalhe planta baixa do
pavimento superior .......................................................................................................................... 35

Figura 7.13 – Acesso ao elevador do LabSis .................................................................................. 35


Figura 7.14 – Sobreposição de projeto de combate a incêndio com instalações elétricas na
circulação do 2º pavimento do LabSis ............................................................................................ 36

Figura 7.15 – Projeto de arquitetura do LabSis – detalhe planta baixa térreo ................................ 36

Figura 7.16 – Projeto de instalações elétricas do LabSis – detalhe planta baixa do térreo ............. 37
LISTA DE QUADROS

Quadro 4.1 – Margem de erro de orçamentos segundo o TCU ...................................................... 19

Quadro 4.2 – Verificação da existência da autoria em orçamentos de obras da UFRN ................. 21

Quadro 5.1 – Descrição de infrações .............................................................................................. 26

Quadro 6.1 – Obras utilizadas para análise ..................................................................................... 28

LISTA DE TABELAS

Tabela 5.1 – Grau para aplicação de multas ................................................................................... 26

Tabela 7.1 – Análise de orçamentos de obras no campus central da UFRN .................................. 38

Tabela 7.2 – Relação entre quantidade de serviços e acréscimo de valores ................................... 39

Tabela 7.3 – Estudo de atraso em obras no campus central da UFRN (em meses) ........................ 39
1

CAPÍTULO I – INTRODUÇÃO

A Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) é, pela terceira vez seguida, a
melhor universidade do Norte e Nordeste, segundo o Índice Geral de Cursos (IGC), indicador de
qualidade de instituições de ensino superior (CASTRO, 2015).
O trecho da reportagem do jornal Tribuna do Norte expõe em poucas linhas o resultado do
processo de expansão que vivencia a UFRN nos últimos anos. Para isso, foi necessário adotar
algumas medidas, entre as quais podemos destacar o aumento do número de vagas, melhoria na
qualidade do ensino e incentivo ao desenvolvimento científico.
Para o desenvolvimento das ações de expansão da UFRN, as instalações físicas são
consideradas fatores essenciais. As que já existiam no campus central não eram suficientes para
atender a demanda de alunos e serviços, ou seja, havia a necessidade de novas construções e
melhoria do que já era utilizado.
Entre os anos de 2011 e 2014 foram mais de 100 obras executadas, totalizando
investimentos na ordem de R$ 148 milhões (CASTRO, 2015).
Por se tratarem de obras de interesse público, é necessário que haja um planejamento
adequado e fiscalização frequente, até por envolver valores vultosos Para isso a Superintendência
de Infraestrutura, SIN, conta com engenheiros e arquitetos para dar suporte.
No entanto, ainda é possível notar algumas deficiências no processo de execução de obras
no campus central da UFRN. Verifica-se que há uma fragilidade na etapa de planejamento e
concepção das obras que influenciam diretamente na execução dos serviços.
A construção civil tem exercido papel importante nos últimos anos como um dos ramos
que impulsionam a economia do nosso país, não só pela realização de obras particulares, mas
ações desenvolvidas pelos governos a nível municipal, estadual e, principalmente, federal têm
contribuído bastante para esse papel de destaque. Algumas medidas tomadas pelo governo têm
assumido papel importante, como, por exemplo, a realização de obras de infraestrutura por meio
do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), programas sociais como o Minha Casa, Minha
Vida (MCMV) no intuito de minimizar o déficit habitacional da nossa população, medidas
econômicas como a desoneração da folha de pagamento para fomentar a contratação de mão-de-
obra, a realização de grandes eventos como a Copa do Mundo e as Olimpíadas.
Com esse aumento na execução de obras custeadas por órgãos públicos passou a ser mais
rotineira a divulgação de problemas que norteiam a relação entre contratantes e contratados. No
2

entanto, a falta de informações ou conhecimentos técnicos direciona parte da sociedade a crer que
as construtoras sempre utilizam de má fé na realização de contratos públicos, o que não é verdade.
A falta de planejamento pode ser apontada como a principal responsável pelo aparecimento
de problemas na execução de empreendimentos públicos. Isso é notório quando se faz uma análise
mais profunda sobre os processos de contratação, qualidade de projetos e coerência dos
orçamentos. Um exemplo é a construção do prédio que abrigará os Laboratórios das Novas
Engenharias no campus central da UFRN, que passou por mais de um processo licitatório e até os
dias atuais não iniciou sua operação. Seguindo essa linha de pensamento, realizamos um estudo
sobre as deficiências no planejamento e execução de obras no campus central da UFRN.

1.1 - Objetivos
1.1.1 - Objetivo geral
Analisar as deficiências presentes no planejamento e execução de obras no campus central
da UFRN, com focos em projetos, orçamentos e prazos.

1.1.2 - Objetivos específicos


 Compreender o processo de concepção de uma obra pública;
 Verificar os benefícios gerados pela incorporação do planejamento e os problemas
ocasionados pela sua ausência;
 Mostrar as deficiências presentes desde a elaboração dos projetos até o recebimento
da obra, com base em empreitadas no campus central da UFRN.

1.2 - Estrutura do trabalho


Esta monografia é composta por oito capítulos elaborados de forma a levar o leitor à
compreensão dos aspectos referentes ao estudo das deficiências no planejamento e execução de
obras no campus central da UFRN, com foco em projetos, orçamento e cumprimento de prazos.
O primeiro capítulo faz uma apresentação geral do tema e discute alguns aspectos
correlatos relevantes. Traz, ainda, os objetivos e estrutura do trabalho.
No segundo capítulo, a fundamentação teórica relacionada às obras públicas e
planejamento é apresentada. Nele são discutidas definições, procedimentos para contratação,
benefícios e problemas ocasionados pela incorporação do planejamento em obras públicas.
No terceiro capítulo é feita uma exposição sobre as deficiências de projetos analisando-se
definições e o papel da compatibilização na eliminação de falhas em projetos.
3

No quarto capítulo, são descritas as recomendações sobre orçamentos públicos, bem como
a responsabilidade dos autores.
O quinto capítulo comenta sobre os atrasos em obras públicas e também as situações em
que as responsabilidades dos atrasos podem ser imputadas aos empreiteiros ou não.
O sexto capítulo apresenta a metodologia utilizada no estudo do tema.
O capítulo sete trata das discussões e análises dos resultados da pesquisa, com discussões
auxiliadas por figuras, tabelas e quadros.
O capítulo oito dispõe sobre as considerações finais do estudo realizado.
4

CAPÍTULO II – OBRAS PÚBLICAS E PLANEJAMENTO

2.1 - Definição
A obra pública é responsável por gerar uma intervenção espacial sob os domínios do Poder
Público, no intuito de satisfazer uma necessidade da sociedade.
Segundo a Lei nº 8.666/93, também chamada de Lei das licitações, “obra pública é toda
construção, reforma, fabricação, recuperação ou ampliação de um bem público, a ser realizado no
âmbito dos poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, bem como nos
órgãos da Administração Pública Direta e Indireta”.
A realização de forma direta ocorre quando a obra é feita pelo próprio órgão ou entidade da
Administração, por seus próprios meios. Indireta quando a obra é contratada com terceiros por
meio de licitação (TCU, 2010).

2.2 - Etapas de uma obra pública


A contratação de obras públicas é um procedimento formal, executado em etapas
sucessivas de forma a buscar uma proposta que seja considerada a mais vantajosa,
financeiramente, para a administração pública.
A proposição de um empreendimento público implica na necessidade da realização de uma
série de estudos e análises preliminares que possam subsidiar as tomadas de decisões. Nesse
momento, o planejamento das ações no processo de contratação e o conhecimento da legislação
que regulamenta o assunto serão importantes para o êxito do empreendimento (TCU, 2010).
O Tribunal de Contas da União apresenta etapas a serem realizadas para a adequada
execução indireta de uma obra pública, na seguinte sequência:

2.2.1 - Fase preliminar à licitação


Nesta etapa é importante que sejam verificadas alternativas técnicas e econômicas levando-
se em consideração áreas com localizações diferentes e metodologias construtivas distintas. É
interessante ponderar custos, condições do terreno, acessos viários, utilização de materiais caros
ou de difícil aquisição, atendimento de concessionarias de água, esgoto, luz e telefonia, e etc. Esse
estudo preliminar é necessário, principalmente, para analisar a viabilidade da continuação das
fases posteriores (TCU, 2010).
Em virtude da preocupação com a questão ambiental é fundamental o estudo dos aspectos
ambientais, como necessidade de desmatamento, contaminação do solo, disposição de resíduos.
5

Além do estudo de viabilidade e dos aspectos ambientais, a fase preliminar deve ponderar
sobre o anteprojeto. Nesta fase são definidas disposições físicas (arquitetônicas) e componentes
estruturais e de instalações. O grau de detalhamento não é suficiente para um procedimento
licitatório, mas permite uma primeira estimativa de prazo para a obra, uma vez que já devem ser
analisadas as etapas construtivas e traçado um cronograma macro de execução (TCU, 2010).

2.2.2 - Fase interna da licitação


A fase interna compreende um conjunto de providências preliminares que devem ser
adotadas antes da publicação do certame (edital).
Os principais procedimentos são a elaboração do projeto básico completo, obtenção das
licenças ambientais, a definição do valor do empreendimento, a confecção do edital, a autuação do
processo correspondente e a indicação dos recursos orçamentários para custear as despesas.
De acordo com o art. 6º, inciso IX da Lei nº 8.666/93:
“Projeto Básico - conjunto de elementos necessários e suficientes, com nível de
precisão adequado, para caracterizar a obra ou serviço, ou complexo de obras ou
serviços objeto da licitação, elaborado com base nas indicações dos estudos
técnicos preliminares, que assegurem a viabilidade técnica e o adequado
tratamento do impacto ambiental do empreendimento, e que possibilite a avaliação
do custo da obra e a definição dos métodos e do prazo de execução, devendo
conter os seguintes elementos:
a) desenvolvimento da solução escolhida de forma a fornecer visão global da obra
e identificar todos os seus elementos constitutivos com clareza;
b) soluções técnicas globais e localizadas, suficientemente detalhadas, de forma a
minimizar a necessidade de reformulação ou de variantes durante as fases de
elaboração do projeto executivo e de realização das obras e montagem;
c) identificação dos tipos de serviços a executar e de materiais e equipamentos a
incorporar à obra, bem como suas especificações que assegurem os melhores
resultados para o empreendimento, sem frustrar o caráter competitivo para a sua
execução;
d) informações que possibilitem o estudo e a dedução de métodos construtivos,
instalações provisórias e condições organizacionais para a obra, sem frustrar o
caráter competitivo para a sua execução;
e) subsídios para montagem do plano de licitação e gestão da obra,
compreendendo a sua programação, a estratégia de suprimentos, as normas de
fiscalização e outros dados necessários em cada caso;
f) orçamento detalhado do custo global da obra, fundamentado em quantitativos de
serviços e fornecimentos propriamente avaliados.”
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A necessidade de licença ambiental será verificada em função do projeto básico mediante


consulta as resoluções do Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama) nº 001/86 e nº 237/97
e da Lei nº 6.938/81. No caso de ser exigida, deve-se observar a necessidade da obtenção da
licença prévia, de instalação e de operação (TCU, 2010).
O valor do empreendimento, representado por meio do orçamento, deve traduzir em termos
quantitativos e financeiros os serviços que serão contratados, servindo como base para que a
Administração pondere os critérios de aceitabilidade de preços globais e unitários do edital.
É fundamental que o órgão contratante preveja os recursos orçamentários específicos que
assegurem o pagamento das obrigações decorrentes de obras ou serviços a serem executados no
curso do exercício financeiro, de acordo com o cronograma físico-financeiro presente no projeto
básico (TCU, 2010). De acordo com os art. 58, 59 e 60 da Lei nº 4.320/64, os serviços somente
poderão ser autorizados mediante existência de credito orçamentário, devidamente empenhado.
O edital deve contemplar as regras fundamentais do processo, com as exigências que serão
impostas aos interessados. Dentre as informações expostas deve haver tipo de modalidade, regime
e tipo de licitação, regras de julgamento e anexos.

2.2.3 - Fase externa da licitação


Representa o período da publicação do edital da licitação até a assinatura do contrato.
Deverá ser dada ampla divulgação ao edital, com o intuito de aumentar o número de licitantes. A
Lei nº 8.666/93 no seu art. 21 estabelece que avisos contendo resumos dos editais devam ser
publicados em Diários Oficiais e em jornais diários de grande circulação.
Após a habilitação das propostas, segue-se para a abertura das propostas de preços.
Durante está fase verifica-se a existência de inexequibilidade, para que não haja problema com
propostas contendo valores extremamente baixos. Os recursos poderão ser interpelados no prazo
recursal de cinco dias úteis, a contar da intimação do ato ou da lavratura da ata (TCU, 2010).
Por fim, ocorre a homologação do resultado do certame, sendo reconhecida a legalidade do
procedimento licitatório, não havendo nenhum óbice a contratação. Após a homologação,
acontece a adjudicação, onde a autoridade competente atribui ao licitante vencedor o objeto da
licitação (TCU, 2010).
7

2.2.4 - Fase contratual


Concluída a fase de licitação, após a seleção da melhor proposta, surge a etapa de
contratação, que se inicia com a assinatura do contrato e termina com o recebimento do objeto da
licitação.
É importante destacar que a Administração não pode celebrar contrato sem observar a
ordem de classificação das propostas ou com terceiros estranhos ao procedimento licitatório, sob
pena de nulidade do contrato (TCU, 2010).
Ao decorrer da execução dos serviços pode ser verificada a necessidade de alterações
contratuais. Contudo, essas modificações não podem ser entendidas como atos necessários a
corrigir grandes falhas de projeto ou especificações de serviços, até mesmo por que a Lei de
licitações exigiu para o início do procedimento a existência de projeto básico que caracterizasse
com precisão necessária e suficiente o que seria contratado (Altounian, 2011). Dessa forma, os
contratos administrativos podem ser alterados unilateralmente pela Administração ou por acordo
das partes.
A Lei nº 8.666/93 estabelece em seu art. 65, alínea l, § 1º, que “O contratado fica obrigado
a aceitar, nas mesmas condições contratuais, os acréscimos ou supressões que se fizerem nas
obras, serviços ou compras, até 25% (vinte e cinco por cento) do valor inicial atualizado do
contrato, e, no caso particular de reforma de edifício ou de equipamento, até o limite de 50%
(cinquenta por cento) para os seus acréscimos.” O que acontece é que alguns orçamentistas se
confiam nesses percentuais de aditivos, aceitando como uma forma de margem que pode cobrir
erros nos orçamentos. Os acréscimo denominados de excedentes referem-se à quantidade de
unidades de serviços a mais do que o previsto na planilha orçamentária. Os serviços extras
correspondem aos serviços que deverão ser executados, porém não estão contemplados no
orçamento. Serviços com supressões são aqueles cujas quantidades a serem executadas são
menores que as previstas em orçamento.
O contrato deverá especificar em suas cláusulas a forma de pagamento à contratada. A
medição dos serviços executados será baseada em registros de levantamentos e cálculos
necessários. Somente poderão ser considerados para efeito de pagamento nas medições os serviços
efetivamente executados. Para isso, a empresa prestadora de serviços deverá apresentar a fatura
emitida com base nas medições dos serviços (TCU, 2010).
O recebimento da obra deve ocorrer em duas etapas, conforme o art. 73 da Lei de
licitações: provisoriamente e definitivamente. O recebimento provisório é realizado pelo
responsável por seu acompanhamento e fiscalização, ou seja, pelo profissional que acompanhou
8

todo o período de execução da obra. O recebimento definitivo é feito por servidor ou comissão
devidamente designada e capacitada por profissionais técnicos, mediante termo circunstanciado.
Caso haja a constatação de vícios, defeitos ou incorreções, a empresa contratada deverá sanar o
problema mediante prazo estipulado pela comissão, como determina o art. 69 desta Lei (TCU,
2010).

2.2.5 - Fase posterior à licitação


Concluída a obra, inicia-se a operação do empreendimento. Apesar de ser concretizado o
recebimento definitivo, a empresa contratada deve garantir os serviços prestados.
O art. 618 do Código Civil estabelece a responsabilidade do empreiteiro em responder
“durante o prazo irredutível de cinco anos, pela solidez e segurança do trabalho, assim em razão
dos materiais, como do solo”. No entanto, o dono da obra perderá esse direito senão propuser a
ação contra o empreiteiro no prazo de até cento e oitenta dias a partir do surgimento do vicio ou
defeito (TCU, 2010).

2.3 - Fiscalização
A Resolução 1.010/2005 do CONFEA estabelece em seu anexo I que a fiscalização é
“atividade que envolve a inspeção e o controle técnicos sistemáticos de obra ou serviço, com a
finalidade de examinar ou verificar se sua execução obedece ao projeto e as especificações e
prazos estabelecidos”. A Lei nº 8.666/93 em seu art. 13 caracteriza a fiscalização, supervisão ou
gerenciamento de obras ou serviços, como um serviço técnico profissional especializado (TCU,
2010).
O fiscal deve ter registro habilitado no CREA, registrar ART (Anotação de
Responsabilidade Técnica) específica do serviço, além de adotar ferramentas que materializem o
controle da obra ou serviço, seja por meio de livros ou registro de atividades. Permite-se que o(s)
autor(es) do(s) projeto(s) possam agir na fiscalização, supervisão ou gerenciamento,
exclusivamente a serviço da Administração interessada, como afirma o art. 9º da Lei de licitações
(TCU, 2010).
Em obras e serviços públicos, a fiscalização é de grande relevância, já que os recursos
públicos investidos devem ser utilizados seguindo os princípios da economicidade, eficiência e
eficácia.
Em seu art. 70, a Lei de licitações estabelece a responsabilização do fiscal em contratos
públicos: “O contratado é responsável pelos danos causados diretamente à Administração ou a
9

terceiros, decorrentes de sua culpa ou dolo na execução do contrato, não excluindo ou reduzindo
essa responsabilidade a fiscalização ou o acompanhamento pelo órgão interessado”.

2.3.1 – Superintendência de Infraestrutura (SIN)


A SIN integra a estrutura da Universidade Federal do Rio Grande do Norte como órgão
suplementar. Resulta da fusão de dois órgãos extintos: Escritório Técnico-Administrativo (ETA) e
Prefeitura do Campus Universitário (PCU). Essa união ocorreu em virtude da crescente demanda
provocada pelo crescimento da UFRN.
Dentre suas atribuições destacam-se:
 Executar projetos e obras de reforma, de restauração, de reparo, de modificação, de
paisagismo e de manutenção dos prédios da universidade;
 Administrar e operar os serviços referentes às instalações elétricas, hidráulicas e
mecânicas;
 Administrar e operar os serviços técnicos de comunicação;
 Conservar áreas verdes e logradouros;
 Manter a fiscalização das obras e serviços.
Abaixo segue o organograma da SIN.
Figura 2.1: Organograma SIN-UFRN.

Fonte: http://www.infra.ufrn.br/pagina.php?a=apresentacao
10

De todas as diretorias que integram a SIN, podemos considerar a DPO – Diretoria de


Projetos e Obras – como a que mais interage com o tema desse trabalho.
A Diretoria de Projetos e Obras atua diretamente na coordenação do planejamento, da
execução e da avaliação das atividades da Diretoria; discute e orienta a elaboração de projetos de
arquitetura e engenharia; aprovar, em primeira instância, a elaboração de projetos, inclusive
especificações técnicas pertinentes; orientar e aprovar custos de obras e serviços de arquitetura e
engenharia, orçamento, laudos e pareceres técnicos; distribui e acompanha a fiscalização de obras
e serviços de engenharia; autoriza a realização de medições de obras e serviços de engenharia e
aprova, em primeira instância, o respectivo pagamento; articula as ações de elaboração de
projetos, orçamento e fiscalização; assessora o Superintendente nos assuntos relativos a projetos e
obras, auxiliando-o na tarefa de coordenar e superintender os trabalhos das diversas áreas do
Órgão.
Esta Diretoria conta com secretaria, que além das atividades comuns da função, atua no
atendimento às empresas e auxilia nos assuntos referentes à parte de licenciamento de obra; com
uma coordenadoria de projetos; além das áreas de arquitetura, engenharia, orçamento e
fiscalização.

2.4 - Incorporação do planejamento em obras públicas


Segundo Goldman (1997), “o planejamento constitui em um dos principais fatores para o
sucesso de qualquer empreendimento”.
Na construção civil, a importância do tema planejamento decorre da constatação de que
muitos empreendimentos executados no país não passam por uma devida análise prévia, o qual
possibilitaria mitigar diversos riscos no processo de sua execução.
O adequado planejamento de uma obra pública envolve a necessidade de recursos humanos
qualificados, por se tratar de um trabalho complexo, envolvendo e integrando diversas áreas de
conhecimento. Nesse caso, surge o perfil do engenheiro planejador. É um profissional que atua de
maneira mais aprofundada e estratégica que o engenheiro chamado de “tocador de obra”, devendo
aplicar os conhecimentos inerentes à Engenharia Civil e atuando como um gerente de projetos.
Cleland (2002) lembra que os gerentes de projetos e outros profissionais que atuam nessa área
dependem de quatro competências: conhecimento, destreza, habilidade e motivação.
Atualmente muito se questiona sobre a falta de planejamento na execução de obras
públicas, o que gera situações de obras em ritmo lento ou até mesmo paradas. Muitas vezes há a
interpretação de que a culpa é apenas da empreiteira. Errado. O poder público também tem seu
11

papel nessa situação. Ausência de licenças, falta de recursos, deficiências de projetos, falhas em
orçamentos são alguns dos fatores que convergem para a geração dos problemas, que poderiam
nem existir caso o planejamento fosse realizado de forma correta e no período certo.
O sucesso de um empreendimento público está associado a diversos pontos. O
planejamento pode contribuir atribuindo da seguinte forma:
 Adequada caracterização da obra, com todos os elementos constitutivos necessários
para definição da estrutura analítica da obra e consequente definição de pacotes de
trabalho;
 Definição de cronograma físico e físico-financeiro com relação dos serviços
previstos;
 Avaliação do suprimento dos principais insumos para a execução da obra e definição
do planejamento de compra e entrega dos materiais na obra para cumprimento do
cronograma físico proposto;
 Avaliação do tipo de obra e em que grau de detalhamento foi desenvolvido o projeto.
Estes fatores serão preponderantes para a definição do regime de contratação: se por
preço unitário, preço global, empreitada integral ou contratação integrada;
 Definição de custos por meio de planilha detalhada. Os preços deverão ser
compostos por pacotes de trabalho, ou seja, por item em que seja possível uma
adequada mensuração de custos, prazos e insumos;
 Devida análise ambiental, com o desenvolvimento do estudo e relatório de impacto
ambiental. Como resultado é necessário, no mínimo, a apresentação da licença
ambiental prévia.

2.4.1 - Benefícios do planejamento em obras públicas


O planejamento bem elaborado de um projeto constitui num elemento primordial para o
sucesso de uma obra, tanto na etapa de concorrência quanto no início e durante todo o período da
execução, pois assegura com base nas premissas assumidas uma probabilidade favorável com
relação aos resultados esperados.
Sendo o planejamento realizado desde as primeiras fases da concepção da empreitada,
dificilmente haverá transtornos de custo, prazo e qualidade dos serviços a serem executados.
Quando há o conhecimento pleno do que será executado, é possível detectar situações
desfavoráveis e inibi-las ou reduzir as chances de ocorrência (Mattos, 2010).
12

Na maioria das vezes os problemas presentes na execução de obras públicas decorrem da


falta de ações de planejamento muito antes do início do serviço. O sucesso de uma empreitada
pública associada a ações de planejamento possibilitam:
 Evitar revisões em projetos: isso gera desconforto e prejuízo, uma vez que atrasa o
serviço, implica retrabalho e até formação de estoque de materiais;
 Serviços de qualidade: isso ocorre em função de bons projetos, que apresentam
especificações coerentes, além de um orçamento sólido que seja baseado em preços
de mercado;
 Valor global coerente com os custos empenhados: quando os quantitativos do
orçamento conferem com as quantidades reais executadas, inibe-se a necessidade de
aditivos, evitando o famoso “jogo de planilha”.

2.4.2 - Problemas ocasionados pela falta de planejamento


A deficiência do planejamento pode trazer consequências desastrosas para uma obra, por
extensão, para a empresa que a executa. Não são poucos os casos conhecidos de frustações de
prazo, estouros de orçamento, atrasos injustificados, indisposição do construtor com seu cliente
(contratante) e até mesmo litígios judiciais para recuperação de perdas e danos (Mattos, 2006).
O ideal seria que toda obra pública fosse licitada com o projeto executivo. O projeto básico
muitas vezes deixa vazios, falta com especificações, apresenta erros de cotas. Essas deficiências
de projeto afetam diretamente todo o processo de concepção da obra. Projetos mal elaborados, não
compatibilizados, influenciam na qualidade dos serviços, elaboração do orçamento e previsão de
prazo. E esses erros influenciam, e muito, a execução de uma obra (Mattos, 2010).
O orçamento frágil, em virtude da qualidade do projeto, pode gerar um custo adicional da
obra. Consequentemente o prazo previsto para a conclusão da obra não será cumprido. A Figura
2.2 apresenta algumas consequências da falta de planejamento.
13

Figura 2.2: Consequências da falta de planejamento.

Orçamento
frágil

Qualidade dos Falta de Descumprimento


serviços Planejamento de Prazo

Qualidade dos
Projetos

Fonte: Autor.
Ferreira (2001) apresenta as falhas de planejamento na construção civil como sendo:
 Informação incompleta sobre o projeto;
 Orçamento executivo não detalhado e subestimado;
 Desconhecimento dos critérios de aplicação das técnicas construtivas;
 Falta de comunicação e integração da equipe de trabalho;
 Abandono prematuro do estudo previamente elaborado;
 Visão de curto prazo;
 Desconhecimento das técnicas de planejamento e/ou mau uso dessas técnicas.
14

CAPÍTULO III – DEFICIÊNCIAS DE PROJETOS

Os projetos utilizados em obras de construção civil podem apresentar deficiências que


afetam diretamente a execução dos serviços. Por exemplo, a ausência de informações técnicas,
inexistência de memorial descritivo, erros de cotas e incompatibilidade de projetos.

3.1 - Projeto x Compatibilização


De acordo com a NBR 13.531/95, a elaboração de um projeto é definida como a
antecipação da fabricação do objeto a ser projetado, que no caso se trata de edificações, sendo
respeitados todos os princípios técnicos existentes em arquitetura e engenharia. Ela descreve as
fases de projetos desde a sua etapa inicial, do levantamento topográfico até o projeto para
execução.
A norma NBR 5.674/2012 faz uma abordagem sobre o projeto afirmando que se trata de
uma atividade que descreve graficamente ou textualmente um serviço ou obra de arquitetura ou
engenharia, atribuindo suas características técnicas, econômicas, financeiras e legais.
O projeto é uma tarefa complexa que visa alcançar soluções funcionais e econômicas, além
de corresponder às necessidades de seu cliente e se ajustarem coerentemente ao meio ambiente.
Exige o conhecimento de elementos, técnicas, e estilos, de tal forma que consiga combinar
a forma e a função para atingir os efeitos esperados.
Projeto não é apenas apresentar um desenho, mas sim todas as suas especificações e ideias
que levam à criação do desenho.
Ao longo dos anos, em virtude das mudanças econômicas vividas, as empresas passaram a
terceirizar alguns projetos e gerenciar apenas os principais. Isso fez surgir à necessidade da
compatibilização de projetos, ou seja, verificar a relação que há entre os projetos de tal forma que
os mesmos possam ocupar o mesmo espaço de maneira harmoniosa sem que ocorram conflitos
entre eles.
Para Limmer (1996), o que se pode observar tanto na execução quanto no gerenciamento
da maior parte das construções é a predominância de um sistema informal. Não há, entre as várias
equipes participantes do processo, a integração mínima e necessária para racionalizar os
procedimentos de implementação do projeto.
Com base na evolução dos métodos construtivos e dos métodos de concepção de projetos,
destaca-se a importância de se explorar ao máximo o tempo na hora da concepção, para que se
15

evitem problemas futuro nas fases posteriores, buscando assim uma melhoria contínua na
qualidade, além da economia de tempo e insumos.
A compatibilização de projetos deve ser uma das etapas obrigatórias de qualquer projeto. É
uma ferramenta que está diretamente ligada ao tamanho, complexidade e valor de investimento
dos empreendimentos. Quanto maior o projeto, maiores serão o tempo e os recursos utilizados
para compatibilizar, maior complexidade entre as áreas a serem compatibilizadas, arquitetura,
estrutura e instalações.
Segundo Ávila (2011), à medida que as etapas de projeto avançam, menor é o poder de
antecipação dos problemas no canteiro de obra, já que algumas falhas e incompatibilidades serão
detectadas apenas durante a construção. Dessa forma, análises mais aprofundadas nas etapas
iniciais do projeto tendem a gerar maior economia a construção.
Este procedimento deve ser realizado no âmbito da coordenação de projetos, com o intuito
de conciliar física, geométrica, tecnológica e produtivamente os componentes que interagem nos
elementos verticais e horizontais das edificações. Estes procedimentos constituem-se num
importante fator de melhoria da construtibilidade e da racionalização construtiva por promover a
integração dos diversos agentes e especialidades com a produção (Salgado, 2007).
Esse processo contempla diversas ações a serem desenvolvidas, como mostra a Figura 3.1.
Figura 3.1: Funções da compatibilização.

Compatibilização

Compatibilizar Integrar
Avaliar
Compatibilização nas fases Integração dos projetos,
Avaliação das soluções de estudos preliminares,
propostas das soluções e das
anteprojeto e projeto especificações técnicas
executivo

Fonte: Autor.
A compatibilização, num sentido mais amplo, não ocorre isoladamente. São necessárias
ferramentas que a viabilizem. Estas ferramentas podem ser chamadas de “Técnicas de
Compatibilização”, e são estratégias adotadas que facilitam o trabalho do profissional responsável
pela compatibilização. Atualmente existem algumas técnicas bem difundidas no ramo do
gerenciamento de projetos, tais como o uso de extranets, a sobreposição de projetos e o uso de
listas de checagem (“check-lists”).
16

3.2 - Técnicas de compatibilização de projetos


3.2.1 - Extranets
Extranet ou Project Web pode ser definida, de forma genérica, como uma rede de
computadores que usa a tecnologia da internet para compartilhar dados, cujas informações serão
gerenciadas durante a fase de execução do empreendimento.
As extranets vêm sendo utilizadas na construção civil de modo a otimizar o trabalho do
coordenador de projetos. De acordo com Soibelman e Caldas (2000), os membros envolvidos no
projeto se comunicam através de e-mails e de um ambiente colaborativo, onde cada agente tem
acesso individual e controlado, tendo a possibilidade de transferir e compartilhar arquivos, sendo
possível acompanhar um projeto desde seu planejamento até a sua concepção. Além se suprir as
necessidades inter organizacionais, a ferramenta ainda tem a função de um arquivo virtual, que
armazena o banco de dados de uma construção. Há, no entanto, problemas de superlotação de
informações, o que gera a necessidade de melhor organizar os dados do projeto.

3.2.2 - Sobreposição de projetos


A sobreposição de projetos é uma técnica de apoio à coordenação utilizada para verificar a
compatibilidade entre projetos de diversas especialidades. O pressuposto do projeto simultâneo
tem por objetivo integrar o desenvolvimento do produto ao desenvolvimento dos outros processos
envolvidos por intermédio da cooperação entre os diversos agentes, segundo Fabrício (2002).
Algumas empresas utilizam ferramentas de última geração para viabilizar a sobreposição
de projetos, principalmente com o advento da tecnologia da informação. Uma alternativa é o uso
do modelo 3D integrado e/ou único de projeto, como pode ser observado por meio do uso da
plataforma Revit. Esse software permite a integração para três níveis de projetos: o de arquitetura,
o de estrutura e o de instalações prediais.
Entretanto, persiste o uso de técnicas relativamente atrasadas, comparando prancha por
prancha e detectando visualmente as incompatibilidades. Ferreira (2001) ressalta as limitações da
representação 2D na compatibilização em projetos. Segundo eles, a análise da representação 2D
apresenta problemas como visão espacial restrita, ambiguidade, generalização e simbolismos
empregados, o que gera erros de construtibilidade, especificação e compatibilização.
Para Júnior (2000), há uma grande necessidade de um maior envolvimento do projetista na
interferência da sobreposição de projetos, principalmente de arquitetura e estrutura. Com pequenas
modificações coerentes na concepção arquitetônica e estrutural, consegue-se lograr uma economia
de até 20% do custo total da estrutura.
17

3.2.3 - Listas de checagem


Compreende a ferramenta utilizada na coordenação de projetos que tem como objetivo a
revisão das atividades do projeto, em todas as suas etapas. É uma lista que contempla informações
que devem ser lembradas e observadas pelo responsável da atividade.
Pode auxiliar como método de prevenção de problemas ou interferências antes da obra ser
iniciada, uma vez que a lista de projetos apresenta todos os requisitos necessários para diminuir ou
até mesmo extinguir possíveis erros.
Em geral, as listas de checagem, ou check-lists, são elaboradas baseando-se em erros já
ocorridos e experimentados, o que permite um maior grau de confiabilidade. Desse modo, torna-se
possível utilizar soluções que tiveram sucesso anteriormente.

3.3 - Problemas gerados pelas deficiências de projetos


Sendo a fase de projeto pouco explorada, os projetos são entregues para a fase construtiva
com deficiências de informações, ocasionando perda de eficiência na execução e prejuízos nas
características do produto que foi idealizado. Isso é constatado com o grande número de patologias
dos edifícios e os gastos com retrabalho, como demonstra Figura 3.2.
Figura 3.2: Causas de patologias em construções.

Fonte: http://ibape-rs.org.br/2013/06/patologia-da-construcao-civil-principais-causas/
As anomalias que surgem durante o ciclo de vida de uma obra ocorrem essencialmente de
falhas na coordenação. Isso encaminha para um custo elevado de desperdícios, originados pela
falta de racionalização. A ausência desse controle gera superdimensionamento dos sistemas,
paradas e retrabalhos por interferências de projetos, informações incompletas ou incorretas.
18

O projeto realizado sem a perspectiva da execução da obra pode apresentar uma série de
deficiências. Luiz Fernando Heineck, Ana Maria Delazari Tristão e Renato Neves, ao buscarem a
origem dos problemas que ocorrem na execução da obra, apontam para algumas deficiências que
ocorrem nos projetos. A maior parte destas deficiências se refere ao conteúdo das informações do
projeto, como a falta de justificativa para as soluções adotadas, a inexistência de memorial
descritivo, discriminações técnicas e especificações de materiais, as referências a normas sem
explicar seu conteúdo os erros de cotas, níveis e alturas, a falta de correspondência entre
discriminações e memoriais e a inexistência de informações sobre como obter componentes pouco
usuais.
19

CAPÍTULO IV – FRAGILIDADE DOS ORÇAMENTOS

4.1 - Orçamento de obras públicas


A planilha orçamentária das obras e serviços de engenharia constitui fator fundamental não
só para o sucesso da contratação, mas também para o sucesso da execução. Um orçamento bem
elaborado representa boa parte do caminho para que a contratação seja feita com preços
compatíveis com os praticados no mercado, evitando a existência de sobrepreços, mas, ao mesmo
tempo, garantindo ao contratado uma justa remuneração.
Segundo André Pachíoni Baeta, autor do livro Orçamento e Controle de Preços de Obras
Públicas, os principais erros cometidos na elaboração de um orçamento de obra pública são:
I. Erros nos cálculos dos quantitativos de serviços;
II. Ausência ou omissão de serviços ou quantitativos essenciais para a conclusão da
obra;
III. Estimativa de preços não condizentes com a realidade de mercado;
IV. Uso inadequado de composições de custo obtidas em sistemas referenciais.
A fragilidade do orçamento é diretamente ligada à qualidade dos projetos. Para isso, a
resolução 361/91 do CONFEA, Conselho Federal de Engenharia e Agronomia, estabelece que se o
orçamento for baseado em um bom projeto básico, o custo total da obra deve apresentar uma
margem de erro de mais ou menos 15%.
De acordo com o Tribunal de Contas da União, a margem de erro de um orçamento na
construção civil varia em função da precisão do projeto. O Quadro 4.1 demonstra como isso
ocorre.
Quadro 4.1: Margem de erros de orçamentos segundo o TCU.
Tipo Precisão Margem de erro Projeto Elementos necessários
 Área construída
Avaliação Baixa 30% Anteprojeto  Padrão de acabamento
 Custo unitário básico
 Plantas especiais
Orçamento
Média 10 a 15% Projeto básico  Especificações básicas
sintético
 Preços de referência
 Plantas detalhadas
Orçamento
Alta 5% Projeto executivo  Especificações completas
analítico
 Preços negociados
Fonte: http://portal2.tcu.gov.br/portal/pls/portal/docs/2057620.PDF.
20

O orçamento analítico compreende o detalhamento de todas as etapas do empreendimento,


resultando na confiabilidade do preço apresentado, considerando todos os recursos e variáveis
mensurados por custo direto, custos indiretos acrescidos de BDI, formando assim o preço de
venda (Valentini, 2009).
O orçamento sintético compreende o resumo do orçamento analítico expresso através das
etapas com valores parciais ou grupos de serviços, com seus respectivos totais e o preço do
orçamento da obra (Tisaka, 2011).
Ainda segundo Tisaka, especialista em orçamentos, na grande maioria das obras públicas,
há a necessidade de aditivos contratuais tanto de preços quanto de prorrogações de prazos. Isso
pode decorrer de projetos básicos mal feitos, incompletos ou deficientes, o que leva à necessidade
de alterar esses projetos tanto no que se refere às especificações quanto nos seus quantitativos.

4.2 - Responsabilidade do Engenheiro orçamentista


A Lei Federal nº 5.194/66, que regula o exercício das profissões de Engenheiro, Arquiteto
e Engenheiro-Agrônomo, dispõe em seus vários artigos argumentos que disciplinam a
responsabilidade de autoria de orçamentos. Entre outras menções, a Lei dispõe:
“Art. 12 – Na União, nos Estados e Municípios, nas entidades autárquicas, paraestatais e de
economia mista, os cargos e funções que exijam conhecimentos de Engenharia, Arquitetura e de
Agronomia, relacionados conforme o disposto na alínea “g” do art. 27, somente poderão ser
exercidos por profissionais habilitados de acordo com esta Lei”.
“Art. 13 – Os estudos, plantas, projetos, laudos e qualquer outro trabalho de engenharia, de
arquitetura e de agronomia, quer público, quer particular, somente poderão ser submetidos ao
julgamento das autoridades competentes e só terão valor jurídico quando os seus autores forem
profissionais habilitados de acordo com a Lei”.
“Art. 14 - Nos trabalhos gráficos, especificações, orçamentos, pareceres, laudos e atos
judiciais, é obrigatória, além de assinatura, precedida do nome da empresa, sociedade, instituição
ou firma a que pertencer, a menção explícita do título profissional que os subscrever e do número
da carteira referida no art. 56”.
Um Auto de Infração poderá ser lavrado por parte da fiscalização do CREA ou até a
nulidade do certame em virtude do descumprimento de dispositivos legais, como embasa o art. 15
da Lei.
“Art. 15 – São nulos de pleno direito os contratos referentes a qualquer ramo de
engenharia, arquitetura ou da agronomia, inclusive a elaboração de projeto, direção ou execução
21

de obras, quando firmado por entidade pública ou particular com pessoa física ou jurídica não
legalmente habilitada a praticar a atividade nos termos desta Lei”.
O art. 1º, 2º e 3º da Resolução nº 307/86 do CONFEA, em conjunto com o Parágrafo 1º do
art. 2º e 4º da Lei nº 6.496/77 imputa o recolhimento de ART – Anotação de Responsabilidade
Técnica – de execução do orçamento pelo ocupante de cargo e função de orçamentista, ficando
sujeito às penalidades da Lei pelo seu não cumprimento. A falta de ART sujeitará o profissional
ou a empresa à multa prevista na alínea “a” do art. 73 da Lei nº 5.194/66, como prevê o art. 3º
(Tisaka, 2011).
Porém, o que se observa é que a maioria das licitações públicas omite a autoria dos
orçamentos, eximindo os profissionais das responsabilidades com relação aos critérios técnicos,
fiscais e mercadológicos do seu conteúdo. Isso pode ser visto na Figura 4.1.
Figura 4.1: Ausência de identificação em planilha orçamentária de obra da UFRN.

Fonte: https://sipac.ufrn.br/public/jsp/portal.jsf.
O Quadro 4.2 apresenta o resulta da busca por identificação de autoria em planilhas
orçamentárias de processos licitatórios de obras no campus central da UFRN.
Quadro 4.2: Verificação de existência da autoria de orçamentos em obras da UFRN.
Obra Processo Identificação
Reforma do prédio da reitoria 23077.053569/2012-21 Não
Reforma e ampliação da subestação abrigada da reitoria 23077.045065/2013-19 Não
Urbanização do entorno do parque poliesportivo do campus central 23077.031991/2013-15 Não
Reservatório elevado para zona central – R10 23077.029275/2013-60 Não
Reforma do bloco VI 23077.058941/2014-58 Não
Reforma de um banheiro – Pavilhão administrativo do CCSA 23077.010191/2013-52 Não
Mudança de inclinação do telhado na oficina mecânica do NTI 23077.016436/2012-74 Não
Construção do instituto do cérebro 23077.009773/2012-13 Não
Reforma dos laboratórios de restauração e informática da BCZM 23077.021141/2012-10 Não
Reestruturação elétrica da editora da UFRN 23077.031695/2015-78 Não
Fonte: https://sipac.ufrn.br/public/jsp/portal.jsf.
22

No entanto, a UFRN não é a única instituição pública a omitir a autoria dos orçamentos.
Verificou-se que obras do Ministério Público do Estado do Rio Grande do Norte também
apresentam essa deficiência. Por outro lado, constatamos que algumas instituições, entre elas
prefeituras, como a de São Gonçalo do Amarante/RN, e o Instituto Federal de Educação, Ciência e
Tecnologia do Rio Grande do Norte, apresentam em seus orçamentos analíticos a identificação do
responsável técnico, como foi verificado mediante consulta de planilhas nos sites das instituições
referenciadas.
23

CAPÍTULO V – ATRASOS EM OBRAS

5.1 - Atrasos
O atraso em obras geralmente é uma consequência do não cumprimento de
responsabilidades e prazos de conclusão que foram previstos para os serviços. Funciona como um
indicador de competitividade, onde os atrasos que afetam o tempo de duração de um
empreendimento servem como indicador de eficiência ou falta dela.
Em maio de 2013, o então Ministro Aldo Rebelo comentou sobre o atraso em obras para a
copa do mundo e olimpíadas: “O atraso é um de nossos problemas civilizatórios, faz parte de
nossa cultura. Até reunião ministerial atrasa no Brasil”.
Paulo Skaf, presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), diz que
o que falta não é dinheiro, mas excelência em gestão pública (Época, 2013).
Ainda hoje muitas obras no Brasil encontram-se atrasadas. Esses atrasos são vistos como
acontecimentos que repercutem de maneira negativa para o desempenho e desenvolvimento da
obra, em virtude do não cumprimento de prazos, assim como em decorrência das despesas
acrescidas.
O atraso sistemático de obras no Brasil se deve a vários fatores, independentemente do
porte, sendo que o prejuízo não é apenas para a construtora, mas para o país em geral.
Chuvas, problemas de licenciamento, desapropriações, insipiência do planejamento, falhas
de projetos, deficiência de mão de obra e os erros no gerenciamento de obras podem ser apontadas
como as principais causas que atuam no retardo da entrega de obras.

5.2 – Atrasos em obras públicas


Uma palavra resume a origem do problema de atraso nas obras públicas no nosso país:
planejamento. Ou melhor, a falta dele.
O planejamento na etapa de concepção é essencial para que o empreendimento público
transcorra sem problemas. Tanto a fase interna, como a externa e a contratual devem ser
suficientemente responsáveis, evitando a possibilidade de ações que prejudiquem a realização da
obra. Todas as atividades que são desenvolvidas para a realização do certame devem ser
incorporadas na ação do planejamento. Recursos financeiros, projetos, orçamento, editais e
licenças precisam ser gerenciados para que haja o sucesso do empreendimento.
O fator projetos é responsável direto pelos atrasos em obras. As constantes modificações e
ausência de informações dificultam o andamento da execução dos serviços. Na maioria das vezes,
24

essa falta de qualidade é resultado da pressa pela elaboração. Os projetos, que deveriam ser feitos
com antecedência, são feitos em cima da hora. Assim, é inevitável que não haja atraso, porque a
construtora não consegue tocar a obra.

5.3 – Responsabilidades dos atrasos


A atribuição de responsabilidade de atrasos não é um ponto comum na relação contratante
e contratado. Na maioria das vezes a empresa prestadora de serviços é apontada como a
responsável pelos atrasos.
Os atrasos ocorridos que se originam de fatores pertinentes à fase anterior ao início dos
serviços é de responsabilidade do órgão público contratante.
Na fase de construção, os atrasos podem ser de responsabilidade do empreiteiro ou não,
como mostra a figura abaixo.
Figura 5.1: Responsabilidade de atrasos em obras públicas.

Prorrogação
graciosa
Não imputável
ao empreiteiro
Prorrogação
Responsabilidade legal
de atrasos
Imputável ao
Multa
empreiteito

Fonte: Autor.
Na ocasião em que o atraso não seja imputável ao empreiteiro, ou seja, a situação que
provocou o atraso não foi de responsabilidade dele, existe a possibilidade de prorrogação graciosa
e legal. A graciosa consiste em conceder uma extensão no prazo e o pagamento das atividades em
atraso. Normalmente essas prorrogações ocorrem em função do atraso de atividades que não
estavam contempladas no planejamento original da obra. Enquanto isso, na prorrogação legal se
concede ao empreiteiro um aumento do prazo e custos em virtude do atraso verificado. O atraso
não decorre de culpa do empreiteiro, mas é diferente da prorrogação graciosa devido não existir
entendimento entre as duas partes envolvidas. Nesse caso, pode haver disputa judicial quando não
houver o consentimento entre as partes.
25

Há casos em que a responsabilidade do atraso da obra pode ser imputável ao empreiteiro,


resultando na aplicação de multa pela quantidade de trabalhos em atraso. Para isso, a multa deve
está associada a atrasos não desculpáveis, ou seja, provenientes da ação do empreiteiro. O valor é
calculado tendo como base a quantidade de prejuízos que o contratante a de pagar por cada dia de
atraso em relação à data de conclusão prevista no cronograma (Mattos, 2010).

5.4 – Penalidades pelo atraso de obras


As duas principais formas de aplicação de penalidades quando ocorre o atraso em obras,
sendo de fato comprovada a responsabilidade da construtora, são as sanções e a aplicação de
multa. As sanções podem impedir que determinadas construtoras sejam contratadas para a
execução de obras públicas. Já a multa consiste em penalizar financeiramente a empresa, de
acordo com o grau e motivo do atraso.
Nas minutas de contratos, a UFRN dispõe de uma cláusula que imputa ao empreiteiro a
multa, sendo representada da seguinte forma:
I. Multa compensatória de 0,33% (trinta e três centésimos por cento) por dia de
atraso, na entrega de material ou execução de serviços, calculado sobre o valor
correspondente à parte inadimplente, até o limite de 9,9%, que corresponde até 30
(trinta) dias de atraso;
II. Multa compensatória de 10% (dez por cento) por dia de atraso, na entrega de
material ou execução de serviços, calculado sobre o valor correspondente à parte
inadimplente, a partir do 31º (trigésimo primeiro) dia de atraso;
III. Multa de mora 5% (cinco por cento) sobre o valor total do contrato/nota de
empenho, por descumprimento do prazo de entrega, contado a partir do 1º
(primeiro) dia de inadimplência, sem prejuízo da aplicação do disposto nos incisos
I e II deste Subitem;
IV. 15% (quinze por cento) sobre o valor de sua proposta final vencedora, em caso de
recusa injustificada do adjudicatário em assinar o contrato ou retirar o instrumento
equivalente, dentro do prazo estabelecido pela Administração, recusa parcial ou
total na entrega do material, recusa na conclusão do serviço, ou rescisão do
contrato/nota de empenho, calculado sobre a parte inadimplente;
V. 15% (quinze por cento) do valor do saldo a ser executado limitado ao mínimo de
1% do valor total da obra/serviço, ou o que for maior, pela inexecução parcial da
obra/serviço;
26

VI. 20% (vinte por cento) sobre o valor do contrato/nota de empenho, pela inexecução
total do contrato.
Além do referenciado nos itens descritos, a multa pode ser atribuída a outros graus de
infração, como mostra a Tabela 5.1 e o Quadro 5.1.
Tabela 5.1: Grau para aplicação de multas.
Grau Correspondência
01
0,5% do valor do CONTRATO
02
0,6% do valor do CONTRATO
03
0,7 % do valor do CONTRATO
04
1,0 % do valor do CONTRATO
Fonte: https://sipac.ufrn.br/public/relObraPublic.do
Abaixo, a descrição da situação para cada grau de infração.
Quadro 5.1: Descrição de infrações.
Item Descrição Grau
Ocorrência de dano físico, lesão corporal ou de
01
consequências letais a funcionários da contratada ou a 04
terceiros;
02
Fornecer informação falsa. Por ocorrência. 03
03 Não providenciar substituto para o responsável técnico
02
pela equipe de serviços. Por ocorrência.
04 Manter a documentação de habilitação desatualizada.
01
Por item e por ocorrência.
Deixar de cumprir quaisquer dos itens do Edital e seus
05 Anexos, mesmo que não previstos nesta tabela de
01
multas, após reincidência formalmente notificada pelo
fiscalizador. Por ocorrência.
Deixar de substituir prestador que tenha conduta
06
inconveniente ou incompatível com suas atribuições. 01
Por prestador a partir da notificação do fiscal.
Deixar de cumprir com quaisquer obrigações
07
trabalhistas em relação aos empregados envolvidos na 01
execução deste contrato. Por dia.
Fonte: https://sipac.ufrn.br/public/relObraPublic.do
27

CAPÍTULO VI – METODOLOGIA

6.1 - Caracterização da pesquisa


Após um período de estágio em obras no campus central da UFRN, foi possível perceber
que boa parte dos problemas relacionados aos projetos, orçamentos e prazos poderiam ser
resolvidos se houvesse uma maior atenção à etapa de planejamento durante a concepção das obras.
Para analisar isso, o trabalho estuda as deficiências no planejamento e execução de obras
no campus central da UFRN, com foco nesses três aspectos: projetos, orçamento e prazos.
Dessa forma, o estudo analisou algumas obras executadas no campus central da UFRN
entre os anos de 2010 e 2015, com faixa de valores de R$ 500.000,00 à R$ 5.000.000,00.

6.2 – Coleta e tratamento dos dados


Mediante consulta ao Sistema Integrado de Patrimônio, Administração e Contratos
(SIPAC) foi possível selecionar algumas obras executadas no campus central da UFRN, com
valores e período de execução de acordo com o que foi citado anteriormente. Todas essas obras a
empresa em que estagiei participou das licitações.
Selecionadas as obras, obtivemos os dados de projetos e orçamentos a partir do endereço
eletrônico da Superintendência de Infraestrutura da UFRN e por meio de contato com as
construtoras. Os dados referentes a prazos foram obtidos por meio do portal SIPAC.
Para o estudo das deficiências de projetos foram selecionadas três obras, sendo duas
edificações com quatros pavimentos e uma edificação com três pavimentos, sendo um subsolo. A
análise dos projetos foi feita mediante a leitura e interpretação das informações contidas nas
pranchas, verificando possíveis erros de simbologia, cotas e ausência de especificações técnicas.
Além disso, foi realizado o estudo da compatibilidade entre projetos, sendo a sobreposição de
projetos a técnica utilizada.
A análise de orçamentos e cumprimento de prazos foi baseada no estudo de quatro obras
de tipologias distintas. Trata-se de uma obra de construção de muros de arrimo, construção de uma
quadra coberta, construção de uma edificação com quatro pavimentos e construção de um galpão
em estrutura pré-moldada. Por meio da análise de serviços extras, excedentes e com supressão foi
possível comparar se os orçamentos elaborados pela UFRN estão em acordo com o que
recomenda a literatura. Complementando isso, verificou-se o aspecto de cumprimento de prazos
dessas quatro obras citadas.
28

Apenas na obra de Construção do Laboratório de Estudos Sismológicos (LabSis) foi feito o


estudo de projetos, orçamento e prazo. Nas demais ou foram estudados os projetos ou orçamento e
prazo, como mostra o Quadro 6.1
Quadro 6.1: Obras utilizadas para análise.
Obra Projetos Orçamento Prazo
Construção do LabPlan X
Reforma e ampliação do prédio do
X
Centro de Biociências
Construção do Laboratório de
X X X
Estudos Sismológicos
Construção do Depósito de Materiais
X X
Descartados
Construção Quadra Coberta do NEI X X
Construção de Muros de Arrimo X X
Fonte: Autor.
29

CAPÍTULO VII – RESULTADOS E DISCUSSÕES

7.1 – Deficiências de projetos


A grande quantidade de obras executadas no campus central da UFRN nos últimos anos
gerou uma demanda por muitos projetos sejam eles de arquitetura, estrutura, instalações prediais e
outros. Com tantos projetos sendo elaborados, quase que ao mesmo tempo, o aparecimento de
falhas fica mais suscetível.
Cabe destacar que a Superintendência de Infraestrutura da UFRN não apresenta em seu
quadro de profissionais uma equipe técnica que seja responsável pelo gerenciamento de projetos
Para demonstrar essa situação realizamos a análise de projetos de três edificações de forma
a expor algumas deficiências de projetos. Tais divergências são responsáveis por gerar problemas
de comprometimento de orçamento, retrabalho, perca de tempo, que somados contribuem para o
não cumprimento dos prazos de execução das obras. No caso do estudo da compatibilização de
projetos utilizou-se o método da sobreposição de projetos.

7.1.1 – Obra: Complementação da obra de ampliação do pavilhão administrativo do CCHLA para


a instalação do LABPLAN e do curso de Gestão em Políticas Públicas e de Língua Espanhola.
A escada do prédio do LabPlan, Figura 7.1, demonstra algumas inconformidades, como:
ausência de sinalização tátil de alerta no início e término, descontinuidade dos corrimãos laterais
com interrupção no patamar, falta de prolongamento de pelo menos 30 cm antes do início e após o
término do corrimão lateral, infringindo recomendações da NBR 9050/2004.
Figura 7.1: Escada do LabPlan.

Fonte: SIN (adaptado).


30

Os lavatórios de deficientes, masculino e feminino, Figura 7.2, de todos os quatro


pavimentos do edifício não apresentam dispositivo sonoro para sinalização de emergência, caso o
usuário precise, quando, por exemplo, ele cair do assento sanitário. (Recomendações NBR
9050/2004. Ano da elaboração do projeto de arquitetura foi 2011).
Figura 7.2: WC deficiente do LabPlan.

Fonte: SIN (adaptado).


O projeto de instalações elétricas da casa de máquinas/reservatórios, Figura 7.3, mostra a
existência de uma luminária de forro, segundo a legenda, no centro do ambiente destinado aos
reservatórios. No entanto, o projeto de arquitetura por meio do corte EF, Figura 7.4, mostra que
esse ambiente não possui laje de cobertura. Ou seja, a falta de compatibilização dos projetos gerou
o acréscimo de uma luminária de valor R$ 179,61, além de eletrodutos e cabeamento.
Figura 7.3: Projeto de instalações elétrico LabPlan – detalhe dos reservatórios.

Fonte: SIN (adaptado).


31

Figura 7.4: Projeto de arquitetura LabPlan – detalhe corte EF.

Fonte: SIN (adaptado).

7.1.2 – Obra: Reforma e ampliação do prédio para abrigar atividades de pesquisa e pós-graduação
do Centro de Biociências.
Entre as plantas baixas do projeto de arquitetura e o projeto de instalações elétricas, Figura
7.5, há uma divergência na presença da janela J01, o que pode ser observado ao realizarmos a
compatibilização de projetos por meio da leitura de pranchas.
Figura 7.5: Janela J01 no subsolo do centro de biociências.

Fonte: SIN (adaptado).


32

O detalhe da planta baixa do subsolo, Figura 7.6, mostra a janela J05 na sala laboratório de
informática e pós-graduação.
Figura 7.6: Projeto de arquitetura do centro de biociências – detalhe planta baixa subsolo.

Fonte: SIN (adaptado).


Segundo o quadro de esquadrias, essa janela possui largura de 2,0 m e altura de 3,0 m. No
entanto, o pé-esquerdo é de 3,18m, como mostra a Figura 7.7, mas quando retiramos a altura da
viga V113, 60 cm de acordo com o projeto de estrutura, restam apenas 2,58 m de altura livre, o
que inviabiliza a aplicação da esquadria J05.
Figura 7.7: Projeto de arquitetura do centro de biociências – detalhe corte AA.

Fonte: SIN (adaptado).


33

O projeto de instalações elétricas do subsolo, Figura 7.8, mostra três tomadas baixas
locadas onde há a janela J05. Porém, essa esquadria ocupa a altura total do seu vão, como descrito
anteriormente, e, dessa forma, não seria possível seu uso nessa posição.
Figura 7.8: Projeto de instalações elétricas do centro de biociências – tomadas em conflito com esquadria
J05.

Fonte: SIN (adaptado).


A análise das plantas de cobertura do projeto de arquitetura, Figura 7.9, e de drenagem
pluvial, Figura 7.10, mostra uma divergência sobre o direcionamento do caimento do telhado da
marquise metálica na entrada da edificação. A observação dos projetos gera uma dúvida, pois
ambos apresentam elementos suficientes que resguardam o que é mostrado.
Figura 7.9: Projeto de arquitetura do centro de biociências – planta de cobertura com destaque da marquise
metálica.

Fonte: SIN (adaptado).


34

Figura 7.10: Projeto de drenagem pluvial do centro de biociências – destaque da marquise metálica.

Fonte: SIN (adaptado).


De acordo com o projeto de combate a incêndio, Figura 7.12, no pavimento superior existe
um shaft por onde passa a tubulação de alimentação de hidrante (HI-1) e outras instalações. Mas,
esse shaft não está previsto de acordo com o projeto de arquitetura, Figura 7.11.
Figura 7.11: Projeto de arquitetura do centro de biociências – detalhe planta baixa do pavimento superior.

Fonte: SIN (adaptado).


35

Figura 7.12: Projeto de combate a incêndio do centro de biociências – detalhe planta baixa do pavimento
superior.

Fonte: SIN (adaptado).

7.1.3 – Obra: Construção do laboratório de estudos sismológicos (LabSis).


Segundo a NBR 9050/2004, no acesso aos elevadores deverá existir sinalização tátil de
alerta. Porém, isso não foi constatado no projeto de arquitetura, como mostra a Figura 7.13.
Figura 7.13: Acesso ao elevador LabSis.

Fonte: SIN (adaptado).


36

A sobreposição do projeto de combate a incêndio (vermelho) com o de instalações elétricas


(azul) na circulação do 2º pavimento, Figura 7.14, demonstra que a posição dos chuveiros
automáticos, sprinklers, coincide com a posição das luminárias de forro.
Figura 7.14: Sobreposição de projeto de combate a incêndio com instalações elétricas na circulação do 2º
pavimento LabSis.

Fonte: SIN (adaptado).


A análise dos projetos de arquitetura, Figura 7.15, e instalações elétricas, Figura 7.16, do
pavimento térreo expõe a incompatibilidade do sentido de abertura da porta de acesso à sala suja.
Além disso, o projeto de arquitetura mostra duas paredes separadas por uma junta de
movimentação, diferente do que ocorre no projeto de instalações elétricas.
Figura 7.15: Projeto de arquitetura LabSis – detalhe planta baixa térreo.

Fonte: SIN (adaptado).


37

Figura 7.16: Projeto de instalações elétricas LabSis – detalhe planta baixa térreo.

Fonte: SIN (adaptado).


Como podemos observar, a maior parte das deficiências de projetos analisadas referem-se
a incompatibilidades entre projetos. Através da sobreposição, seja por meio de software ou análise
de prancha por prancha, essas falhas poderiam ser minimizadas ou até eliminadas.
Essas incompatibilidades que surgem muitas vezes só são percebidas durante a fase de
execução dos serviços. Se houvesse mais integração entre os responsáveis pela elaboração dos
projetos, esses problemas poderiam ser solucionados antes do início dos serviços.
Conforme o grau da falha no projeto, ela vai demandar uma resposta como solução. Muitas
vezes essa resposta não vem de forma imediata. Há erros que precisam de uma análise mais
completa, principalmente quando há a necessidade de se verificar outros projetos.
Conforme foi dito, a UFRN não dispõe de uma equipe específica para o gerenciamento de
projetos. Porém, por ser constituída por diferentes profissionais de engenharia e arquitetura, é
viável, e necessário, a formação de uma equipe integrativa para o estudo completo dos projetos
das obras, antes mesmo da publicação dos editais, até para poder corroborar para uma melhor
elaboração dos orçamentos.

7.2 – Fragilidades de orçamentos


Como descreve o item 8.1 do capítulo 8, o orçamento pode apresentar uma margem de
erro, que varia em função da qualidade do projeto. Dessa forma e considerando que a grande
maioria das obras licitadas pela UFRN dispõe de projeto básico, seria consensual que a margem de
erro dos orçamentos alcançasse o valor máximo de 15%, como estabelece o TCU e a resolução
361/91 do CONFEA.
38

Após a análise de algumas obras executadas no campus central da UFRN entre 2010 e o
início do ano de 2016, escolhemos quatro com diferentes tipologias para realizar o estudo. Nota-se
uma incompatibilidade com relação ao que se comenta na literatura. A Tabela 7.1 mostra o
resultado da análise de orçamentos das obras estudadas.
Tabela 7.1: Análise de orçamentos de obras no campus central da UFRN.
Valor Serviços Serviços Supressão Acréscimo
Obra Valor (R$)
medido (R$) excedentes (R$) extras (R$) (%) (%)
Construção do Depósito
de Materiais 531.478,39 531.478,07 110.963,12 21.591,78 Zero 24,94
Descartados
Construção do
Laboratório de Estudos 2.444.583,61 2.365.555,24 392.206,61 115.348,03 3,23 20,76
Sismológicos
Construção Quadra
691.561,26 674.150,13 115.327,22 44.209,86 2,52 23,07
Coberta do NEI
Construção de Muros de
906.000,00 895.309,75 Zero Zero 1,18 Zero
Arrimo
Fonte: https://sipac.ufrn.br/public/jsp/portal.jsf.
Observa-se que tanto as recomendações do TCU, como as citações da resolução do
CONFEA não são cumpridas, na maioria dos casos analisados.
Por exemplo, a obra denominada de Construção do Laboratório de Estudos Sismológicos
por ser uma edificação com quatro pavimentos, com vários tipos de projetos, diversos materiais e
serviços a executar, deveria apresentar uma proporção de aditivos superior a todas as outras obras
exemplificadas. No entanto, nota-se que isso não ocorre de fato.
As obras de Construção da Quadra Coberta do NEI e Construção do Depósito de Materiais
Descartados, que apresentam menor quantidade de projetos e de serviços, de acordo com a
planilha orçamentária, possuem aditivos superiores à obra de Construção do Laboratório de
Estudos Sismológicos. Na construção do Depósito de Materiais Descartados, o percentual de
aditivos ficou muito próximo do limite estabelecido pela Lei 8.666/93, caso ultrapassasse os 25%
seria necessário outro processo licitatório.
Em resumo, não há uma relação direta entre porte de obra e valores de acréscimo no
orçamento, como demonstra a Tabela 7.2.
39

Tabela 7.2: Relação entre quantidade de serviços e acréscimo de valores.


Quantidade de Acréscimo
Obra Valor (R$)
itens de serviços (%)
Construção do Depósito de
531.478,39 52 24,94
Materiais Descartados
Construção do Laboratório de
2.444.583,61 383 20,76
Estudos Sismológicos
Construção Quadra Coberta do NEI 691.561,26 165 23,07
Construção de Muros de Arrimo 906.000,00 34 Zero
Fonte: https://sipac.ufrn.br/public/jsp/portal.jsf.

7.3 – Atrasos em obras


A obra que durante sua fase de concepção apresenta divergências de informações, falta de
planejamento, projetos de má qualidade, orçamento com erros, provavelmente sofrerá
consequências negativas e uma delas será o retardo da entrega.
Nas análises realizadas, itens 7.1e 7.2, em obras executadas no campus central da UFRN,
notou-se que a falta de planejamento fez com que os projetos apresentassem erros,
incompatibilidades. Se o projeto apresenta falhas, provavelmente o orçamento apresentará erros,
seja de quantitativos ou ausência de serviços. Ou seja, é uma relação de causa e consequência,
onde a falta de planejamento induz a projetos com deficiências, que por sua vez influenciam nos
orçamentos e somando a outros fatores chegamos ao ponto de que o prazo previsto para conclusão
da obra dificilmente será cumprido. Observemos a Tabela 5.
Tabela 7.3: Estudo de atrasos em obras no campus central da UFRN (em meses).
Obra Prazo Inicial Prazo Final Atraso
Construção do Laboratório de Estudos Sismológicos 15 21 6
Construção Quadra Coberta do NEI 8 17 9
Construção do Depósito de Materiais Descartados 8 12 4
Construção de Muros de Arrimo 6 9 3
Fonte: https://sipac.ufrn.br/public/relObraPublic.do
Os motivos que proporcionam o atraso na entrega de uma obra são os mais diversos,
ocasionados por fatos inesperados, mas também por contribuição dos órgãos e das prestadoras de
serviços. No entanto, cabe ao órgão contratante dispor de meios que diminuam as possibilidades
desses atrasos.
Nas obras citadas acima, as empresas responsáveis pela execução elencam alguns fatores
que convergem para o retardo nas entregas. Falta de quitação de medições - que afetam no
pagamento de funcionários e compra de materiais, chuva, atraso de fornecedores, problemas com
40

empresas prestadoras de serviços, sem contar os atrasos por revisões de projeto ou a falta de
alguns desses, além da espera por aprovação de serviços excedentes e extras.
Como expresso no Capítulo V, a universidade, bem como outros órgãos públicos, dispõe
de instrumentos legais para penalizar as empresas que não cumprem os prazos previstos. No
entanto, nenhuma das construtoras responsáveis pela execução dessas quatro obras teve alguma
penalidade. Isso reforça a ideia de que a própria instituição, de certa forma, admite esses abusos de
prazo, onde na verdade deveria haver um maior rigor no cumprimento de prazos, o que seria
conveniente para todas as duas partes.
41

CAPÍTULO VIII – CONSIDERAÇÕES FINAIS

A execução de obras públicas sempre levanta questionamentos na sociedade, tendo em


vista o histórico de problemas vivenciados e noticiados pelos meios de comunicação. A
indignação é grande quando observamos obras abandonadas, atrasadas, com valores muito acima
do que se previam.
Na verdade, o direcionamento de culpados deve ser analisado de forma mais profunda, não
analisando apenas a situação, mas os motivos que impulsionaram para o aparecimento desses
problemas. Algumas vezes as próprias empresas prestadoras de serviços contribuem para a
geração de problemas quando deixam de atender suas funções ou até quando tentam ludibriar os
órgãos públicos. Em outras situações as instituições são responsáveis. Mas, também há casos em
que a culpa nem é da contratada e nem da contratante, pois uma obra não é imune a situações
adversas, a exemplo: fatores climáticos, economia, greves.
Foi visto que os principais empecilhos surgem antes mesmo do início da execução dos
serviços nos canteiros de obras, a partir de uma palavra chave: planejamento.
Os projetos, por meio da ausência ou divergência de informações e incompatibilidades
entre si, demonstram a necessidade de uma maior dedicação ao seu gerenciamento. Por mais
simples que seja a deficiência no projeto, gera uma dúvida, implicando diretamente na qualidade
do orçamento e execução dos serviços. Dessa forma, surge a necessidade de uma maior integração
entre os projetistas, uma vez que quanto mais bem elaborados os projetos, maiores serão as
chances de sucesso da obra.
Os orçamentos analisados demonstram algo preocupante quando comparamos ao que se
recomenda como margem de erros pela literatura. Três das quatro obras analisadas apresentam
aditivos de serviços excedentes e extras acima dos 20%, ou seja, próximos ao limite de 25% para
novas construções. Esses valores decorrentes das falhas de orçamentos em conjunto com os
problemas de projetos convergem para a situação do atraso na entrega das obras, onde foi
verificado através do fato de que nenhuma das obras estudadas terem sido entregues nos prazos
estipulados.
Cabe destacar que as deficiências encontradas em obras executadas no campus central da
UFRN são as mesmas que podemos observar nas mais diversas obras públicas realizadas no
Brasil. A falta de planejamento é um dos problemas responsáveis por onerar as obras e impedir a
entrega no tempo certo.
42

Por fim, esse estudo permitiu mostrar que as deficiências presentes na execução de
empreitadas no campus central da UFRN são fatores que podem ser mitigados ou eliminados. O
corpo técnico que compõe a SIN tem capacidade de melhorar os procedimentos de planejamento
para que projetos e orçamentos estejam prontos e coerentes antes mesmo de se iniciar os serviços.
43

REFERÊNCIAS

[1] ALTOUNIAN, Cláudio Sarian. Obras Públicas: licitação, contratação, fiscalização e


utilização. Prefácio Marcos Vinicios Vilaça. 2. ed. rev. e ampl. 4. reimp. Belo Horizonte: Fórum,
2011.

[2] Associação Brasileira de Normas Técnicas - ABNT. NBR 9.050/2004. Acessibilidade a


edificações, mobiliário, espaços e equipamentos urbanos. Rio de Janeiro: ABNT, 2004.

[3] Associação Brasileira de Normas Técnicas - ABNT. NBR 13.531/1995. Elaboração de


projetos de edificações – Atividades técnicas. Rio de Janeiro: ABNT, 1995.

[4] Associação Brasileira de Normas Técnicas - ABNT. NBR 5.674/2012. Manutenção de


edificações – Requisitos para o sistema de gestão de manutenção. Rio de Janeiro: ABNT,
2012.

[5] ÁVILA, Vinícius Martins. Compatibilização de projetos na construção civil [manuscrito]:


estudo de caso em um edifício residencial multifamiliar. Monografia apresentada ao Curso de
Especialização em Construção Civil da Escola de Engenharia UFMG - 2011. 84 f.

[6] BAETA, André Pachioni. Orçamento e Controle de Preços de Obras Públicas. 1.ed. São
Paulo: PINI, 2012. 460 p.

[7] BRASIL. Lei n° 4.320, de 17 de março de 1964. Estatui Normas Gerais de Direito Financeiro
para elaboração e controle dos orçamentos e balanços da União, dos Estados, dos Municípios e do
Distrito Federal. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L4320.htm. Acesso em:
14 de out. 2015.

[8] BRASIL. Lei n° 5.194, de 24 de dezembro de 1966. Do Exercício Profissional da


Engenharia, da Arquitetura e da Agronomia. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L5194.htm. Acesso em: 20 de out. 2015.

[9] BRASIL. Lei n° 5.674, de 16 de dezembro de 1971. Define a Política Nacional de


Cooperativismo, institui o regime jurídico das sociedades cooperativas, e dá outras providências.
Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L5764.htm. Acesso em: 20 de out. 2015.

[10] BRASIL. Lei n° 6.938, de 31 de agosto de 1981. Dispõe sobre a Política Nacional do Meio
Ambiente, seus fins e mecanismos de formulação e aplicação, e dá outras providências.
Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L6938.htm. Acesso em: 25 de out. 2015.

[11] BRASIL. Lei n° 8.666, de 21 de junho de 1993. Institui Normas Para Licitações e Contratos
da Administração Pública e dá Outras Providências. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L8666cons.htm. Acesso em: 25 de out. 2015.

[12] CASTRO, Saulo. UFRN segue caminho de crescimento em obras de infraestrutura e


ensino. Portal No Ar. Natal, 24 de janeiro de 2015. Disponível em: http://portalnoar.com/ufrn-
segue-caminho-de-crescimento-em-obras-de-infraestrutura-e-ensino/. Acesso em: 08 de out. 2015.

[13] CIMINO, J.R. Planejamento e execução de obra. 1.ed. São Paulo: PINI, 1987.
44

[14] CLELAND, David I. et al. Gerência de projetos. Rio de Janeiro: Reichmann e Affonso
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[15] CONAMA – Conselho Nacional do Meio Ambiente. Resolução nº. 001, 23 Janeiro de 1986.
Disponivel em: http://www.mma.gov.br/port/conama/res/res86/res0186.html. Acesso em: 03 de
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[16] CONAMA – Conselho Nacional do Meio Ambiente. Resolução nº. 237, 19 Dezembro de
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[17] CONFEA – Conselho Federal de Engenharia, Arquitetura e Agronomia. Resolução nº. 307,
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http://normativos.confea.org.br/ementas/visualiza.asp?idEmenta=355&idTipoEmenta=5&Numero
=. Acesso em: 06 de Jan. de 2016.

[18] CONFEA – Conselho Federal de Engenharia, Arquitetura e Agronomia. Resolução nº. 361,
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[19] CONFEA – Conselho Federal de Engenharia, Arquitetura e Agronomia. Resolução nº. 1.010,
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[20] CONFEA – Conselho Federal de Engenharia, Arquitetura e Agronomia. Lei 6.496, 7


Dezembro de 1977. Disponivel em: http://normativos.confea.org.br/downloads/6496-77.pdf.
Acesso em: 10 de Jan. de 2016.

[21] FABRÍCIO, M.M. Projeto simultâneo na construção de edifícios. 2002. Tese (Doutorado)
– Escola Politécnica, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2002.

[22] FERREIRA, Fernanda Maria Pinto Freitas Ramos. Benefícios da Aplicação da Ferramenta
CPM no Planejamento Operacional e no Controle Físico da Produção na Indústria da
Construção Civil Subsetor de Edificações. São Paulo: 150p. Tese (Mestrado) Escola
Politécnica, Universidade de São Paulo, 2001.

[23] GOLDMAN, P. Introdução ao planejamento e controle de custos na construção civil


brasileira: a estrutura de um setor de planejamento técnico. 3ª ed. São Paulo: Ed. Pini Ltda,
1997.

[24] JÚNIOR, C. A importância das fôrmas para a qualidade da obra. TOR Engenharia, 2000.
Disponível em: http://www.tqs.com.br/jornal/consulta/entrevistas/ent_clelio.htm. Acesso em 04 de
Jan. de 2016.

[25] HEINECK, Luiz Fernando e TRISTÃO, Ana Maria Delazari e NEVES, Renato. Problemas
em uma Empresa de Construção e em seus Canteiros de Obras. In Artigos sobre Qualidade e
Produtividade na Construção Civil. Florianópolis: publicação interna da Empresa Júnior de
Engenharia de Produção - EPS / UFSC, 1995.
45

[26] LIMMER, Carl Vicente. Planejamento, orçamento e controle de projeto e obras. Rio de
Janeiro: Livros Técnicos e Científicos Editora, 1996.

[27] MATTOS, A. D. Como preparar orçamento de obras. São Paulo: Pini, 2006.

[28] MATTOS, Aldo Dórea. Planejamento e Controle de Obras. São Paulo: Pini, 2010.

[29] MEC aponta a UFRN como a melhor do Norte/Nordeste. Disponivel em:


http://tribunadonorte.com.br/noticia/mec-aponta-ufrn-como-a-melhor-do-norte-nordeste/301997.
Acesso em: 13 de Dez. 2015.

[30] Por que tudo atrasa no Brasil. Disponivel em:


http://revistaepoca.globo.com/tempo/noticia/2013/05/por-que-tudo-atrasa-no-brasil.html. Acesso
em: 14 de Dez. 2015.

[31] SALGADO, Mônica Santos. Gestão do Processo de Projeto na Construção do Edifício –


revisão 1. Apostila. GEPARQ – Grupo de Pesquisa Gestão em Projetos de Arquitetura, Programa
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do Rio de Janeiro, 2007.

[32] SOIBELMAN, L; CALDAS, C. H. S. O uso de extranets no gerenciamento de projetos: o


exemplo norte americano. Anais ENTAC, 8º, Salvador, 2000.

[33] TCU. Licitações e contratos: orientações e jurisprudência do Tribunal de Contas da


União. 4. ed. Brasília : TCU, Secretaria Geral da Presidência, Senado Federal, Secretaria Especial
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[34] TISAKA, M. Orçamento na construção civil: consultoria, projeto e execução. 2. ed. São
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[35] VALENTINI, J. Metodologia para elaboração de orçamento de obras civis. 2009.


Monografia (Especialização em Construção Civil) – Escola de Engenharia, Universidade Federal
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http://www.cecc.eng.ufmg.br/trabalhos/pg1/Monografia%20Joel.pdf. Acesso em 12 de Dez. de
2015.

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