AleÌ M Da RazaÌ o - Daniel Shapiro e Roger Fisher 6
AleÌ M Da RazaÌ o - Daniel Shapiro e Roger Fisher 6
AleÌ M Da RazaÌ o - Daniel Shapiro e Roger Fisher 6
SOBRE OS AUTORES
Roger Fisher ensinou negociação na Harvard Law School, onde atuou como
Samuel Williston Professor of Law Emeritus e diretor do Harvard Negotiation
Project. Em seus quarenta anos de estudo, escrita e ensino sobre o tema, ele
desenvolveu o conceito de negociação baseada em interesses e prestou
consultoria em conflitos comerciais e internacionais. Além de assessorar os
governos iraniano e norte-americano durante as negociações para a libertação
dos diplomatas dos EUA em Teerã, ele colaborou no processo implementado
com sucesso pelo presidente Carter nas negociações de Camp David entre o
presidente Sadat, do Egito, e o primeiro-ministro Begin, de Israel. Na África do
Sul, ele aconselhou o governo da minoria branca e o Comitê de Negociação do
Congresso Nacional Africano antes das negociações constitucionais que levaram
ao fim do apartheid. Além disso, atuou como assessor de três países da América
Central em uma medida de pacificação regional anterior ao Tratado de
Esquipulas II e colaborou com o presidente do Equador em um processo de
negociação que resolveu uma longa disputa em torno da fronteira entre
Equador e Peru.
Daniel Shapiro (Ph.D.), diretor associado do Harvard Negotiation Project, é
professor da Harvard Law School e do departamento de psiquiatria da Harvard
Medical School/McLean Hospital. Doutor em psicologia clínica e especialista em
psicologia de negociação, ele coordena a International Negotiation Initiative, um
projeto ligado à Harvard que desenvolve estratégias predominantemente
psicológicas para reduzir os níveis de violência etnopolítica. Ele também atua
como professor na Sloan School of Management, do Massachusetts Institute of
Technology, e ensina negociação a executivos e diplomatas. Com grande
experiência em questões internacionais, ele já colaborou na formação de
membros do parlamento sérvio, negociadores do Oriente Médio, políticos
macedônios e altos funcionários dos EUA. Durante a guerra da Bósnia, ele
promoveu cursos sobre gestão de conflitos na Croácia e na Sérvia. Com
financiamento da Soros Foundation, ele desenvolveu um programa de
gerenciamento de conflitos que agora alcança quase 1 milhão de pessoas em 25
países.
junho•2021
Clube SPA
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Introdução
Não podemos parar nossas emoções
como não podemos parar nossos pensamentos.
Nosso desafio é aprender a encorajar emoções proveitosas
nas pessoas com quem negociamos — e em nós mesmos.
V
ocê negocia todos os dias: ao escolher um restaurante para jantar, ao
definir o valor que pagará por uma bicicleta usada, ao demitir um
empregado. E você sente emoções o tempo todo, tanto positivas (como
alegria e satisfação) quanto negativas (como raiva, frustração e culpa).
Ao negociar com outras pessoas, como você deve lidar com essas emoções —
as delas e as suas? Por mais que você tente ignorá-las, as emoções não
desaparecerão. Elas podem ser um fator de distração, provocar tristeza e
arruinar um contrato, ou desviar sua atenção de uma questão importante e
urgente. No entanto, em negociações formais e informais, há muitos fatores a
serem analisados, e não é possível avaliar todas as emoções, as suas e as das
outras pessoas, para se chegar a uma decisão pertinente. Já é bem difícil
administrar as suas próprias emoções.
O Além da Razão propõe uma forma de lidar com esse problema. Você
aprenderá uma estratégia para gerar emoções positivas e administrar as
negativas. Suas emoções e as das outras pessoas não estarão mais no controle,
tornando suas negociações mais fluidas e eficazes. Essa eficiente estratégia
pode ser aplicada até nas negociações mais complexas — com um colega difícil,
com um cliente complicado ou com sua esposa ou esposo.
Como o Além da Razão trata de emoções, nós (Roger e Dan) incluímos uma
dimensão pessoal no texto. Descrevemos vários exemplos tirados das nossas
vidas e dos nossos muitos anos de experiência com negociação. Ao longo desse
período, desenvolvemos teorias diferentes e preparamos pessoas de todas as
classes sociais, de negociadores do Oriente Médio a casais, de executivos a
universitários.
Este livro é produto das nossas pesquisas e do nosso aprendizado. Ele
desenvolve o conteúdo de Como chegar ao sim: Como negociar acordos sem fazer
concessões, a obra coescrita por Roger que se tornou a base do processo de
negociação baseada em interesses, amplamente utilizado hoje em dia. Nesse
processo, os negociadores obtêm os melhores resultados quando compreendem
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os interesses uns dos outros e colaboram para produzir um acordo que atenda a
esses interesses da melhor maneira possível. (Para mais informações, veja os
Sete Elementos da Negociação no Capítulo de Conclusão.) Mas muitas críticas
apontaram que, embora a mensagem do Como chegar ao sim fosse eficaz, a obra
quase não explicava como lidar com emoções e problemas de relacionamento
em negociações difíceis. Esta é nossa tentativa de abordar esses pontos com
maior profundidade.
Este livro não teria sido possível sem a contribuição do professor Jerome D.
Frank, já falecido, que nos apresentou. Sua intuição lhe sugeriu uma possível
sinergia entre “um negociador interessado em psicologia” e “um psicólogo
interessado em negociação”. Ele tinha razão, e aqui gostaríamos de agradecê-lo.
Trabalhamos juntos neste livro ao longo de cinco anos. Demoramos bem
mais do que o previsto, em parte porque gostamos muito de conversar e
aprender um com o outro. Agora entendemos muito mais sobre a dinâmica
emocional da negociação do que sabíamos individualmente há alguns anos.
Neste livro, queremos transmitir aos leitores parte do nosso entusiasmo com
essas ideias.
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I
O Panorama da Situação
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CAPÍTULO 1
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Esse companheirismo também serve como uma rede de segurança que nos
permite divergir uns dos outros, pois sabemos que, mesmo que o clima fique
tenso, os envolvidos estarão lá amanhã para lidar com a situação.
As emoções positivas não aumentam necessariamente sua
vulnerabilidade a investidas hostis. Embora elas ajudem a produzir acordos
mutuamente satisfatórios, você corre o risco de se sentir tão à vontade a ponto
de fazer concessões insensatas e agir com confiança excessiva. Não
recomendamos inibir emoções positivas, mas use sua razão e sua intuição antes
de tomar decisões. Antes de se comprometer com um acordo, avalie se ele
atende aos seus interesses. Estabeleça padrões de equidade. Em uma
negociação, determine cada alternativa para o acordo e use essas informações
com inteligência.
A Tabela 1 compara os efeitos das emoções positivas e negativas em uma
negociação, com base nos sete elementos principais do processo de negociação
indicados no Capítulo de Conclusão.
TABELA 1
EFEITOS COMUNS DE ALGUMAS EMOÇÕES
Elementos de Características de Emoções
Características de Emoções Negativas
Negociação Positivas
Relacionamento Uma relação tensa e marcada pela desconfiança Uma relação operacional e baseada em
cooperação
Interesses Interesses ignorados; foco em exigências Diálogo aberto sobre os interesses e desejos
extremas; nenhuma ou algumas concessões dos envolvidos
depois de muita resistência
Opções Duas opções: a nossa ou a deles Criação de muitas opções viáveis para
atender aos interesses de todos
Legitimidade Um conflito de vaidades para determinar por Uso de persuasão criteriosa para indicar por
que estamos certos e por que eles estão errados que uma opção é mais oportuna que outra
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MAAN (Melhor Rejeição de um acordo viável mesmo quando Compromisso com o melhor acordo possível
Alternativa a um nossa MAAN é pior desde que seja melhor do que nossa MAAN
Acordo Negociado)
Compromissos Sem acordo; compromissos confusos ou Obrigações bem formuladas, com indicações
inviáveis claras, operacionais e realistas
Arrependimento pelo acordo (ou pela recusa Satisfação, apoio e defesa do acordo
em fechá-lo)
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Por outro lado, quando você sente emoções positivas, seus pensamentos
focam ideias e boas opções para você e para as outras pessoas. Com pouco
receio de sofrer investidas, seu raciocínio fica mais aberto, criativo e flexível.
Sua tendência não é rejeitar ideias, mas inventar opções viáveis.
As emoções atuam sobre seu comportamento. Praticamente todas as
emoções motivam ações. Se você for extrovertido, talvez sinta um impulso físico
de abraçar as outras pessoas. Se estiver com raiva, pode sentir vontade de bater
nelas.
Geralmente, você consegue se conter antes de executar uma ação lamentável.
Mas, quando sentimos uma emoção forte, nossa faculdade de raciocinar
criteriosamente desacelera e nos sentimos impotentes diante da emoção.
Nesses momentos, a capacidade de censurar os pensamentos e avaliar possíveis
ações fica gravemente limitada. Você então diz e faz coisas das quais se
arrepende depois.
Encarar as Emoções de Frente? É complicado.
Em geral, recomenda-se que os negociadores fiquem atentos às emoções (deles
e das outras pessoas) e as encarem de frente. Há pessoas que têm um talento
natural para lidar diretamente com emoções, e a maioria pode melhorar seu
desempenho nessa área. Se um negociador fica irritado constantemente, por
exemplo, ele pode desenvolver habilidades para identificar e administrar essa
raiva.
No entanto, mesmo para um psicólogo ou psiquiatra qualificado, é assustador
encarar emoções de frente no momento em que elas ocorrem. E lidar
diretamente com as emoções é especialmente complexo em negociações, que
exigem tempo para a avaliação de opiniões divergentes sobre questões
substantivas e sobre o processo de trabalho coletivo. Às vezes, parece que você
está andando de bicicleta, fazendo malabarismo e falando em um celular, tudo
ao mesmo tempo.
Encarar cada emoção de frente, quando ela ocorre, é muito trabalhoso. Em
uma negociação, é preciso identificar traços de emoções em si e nos outros o
tempo todo. Você está suando? Eles estão de braços cruzados? Você tem que
deduzir as muitas emoções específicas sentidas por você e pelas outras pessoas.
(Confira a lista de estados emocionais na Tabela 2 a seguir; pense no tempo
necessário para ler essa lista e no tempo necessário para identificar as suas
emoções e as das outras pessoas.) Você tem que bolar palpites fundamentados
sobre as possíveis causas, que podem ser diversas e pouco claras. A outra
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pessoa está chateada por conta de algo que você disse — ou por causa de uma
briga familiar que teve esta manhã?
TABELA 2
ESTADOS EMOCIONAIS
Emoções Positivas Emoções Negativas
Animado Culpado
Contente Envergonhado
Satisfeito Humilhado
Entusiasmado Constrangido
Alegre Arrependido
Jovial
Encantado Invejoso
Extasiado Ganancioso
Aborrecido
Orgulhoso Ressentido
Bem-disposto Desdenhoso
Feliz
Exultante Impaciente
Empolgado Irritado
Radiante Zangado
Efusivo Furioso
Revoltado
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Aliviado
Tranquilo Intimidado
Sossegado Preocupado
Relaxado Surpreso
Paciente Temeroso
Sereno Apavorado
Calmo Horrorizado
Otimista Triste
Impressionado Pessimista
Maravilhado Desalentado
Inconsolável
Você tem que definir uma conduta, seguir essa linha de ação e, em seguida,
avaliar o impacto emocional desse comportamento em si e na outra pessoa. Se
observar emoções negativas e fortes, elas muito provavelmente se
intensificarão bem rápido.
As emoções costumam ser contagiosas. Mesmo que você converta sua
frustração em interesse ativo, a outra pessoa provavelmente continuará
reagindo à sua indignação de alguns minutos atrás. O impacto de uma emoção
negativa perdura por muito tempo depois de ela ter passado. Se a emoção for
forte e problemática, você correrá um grande risco de perder o controle.
É daí que vem a pergunta central deste livro: Como o negociador deve lidar
com as emoções interativas, essenciais e dinâmicas dos envolvidos no processo?
Como não é realista adotar uma postura de observar, compreender e encarar
essas emoções de frente no momento em que elas ocorrem, qual é a melhor
reação possível?
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1 Como estratégia geral, as emoções positivas são mais viáveis do que as emoções negativas para
estabelecer ligações e colaborações em uma negociação. No entanto, taticamente, até mesmo a raiva
(uma emoção negativa) pode levar duas pessoas a resolverem suas diferenças e voltarem a cooperar. E,
sem dúvida, sentimentos negativos como a tristeza podem aproximar as pessoas que os compartilham.
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CAPÍTULO 2
Em vez de se deixar levar pelas emoções (tanto suas quanto das outras
pessoas), concentre-se na causa delas.
Os principais interesses são necessidades humanas importantes em
praticamente todas as negociações. Embora geralmente não sejam expressas,
elas são tão reais quanto nossos interesses tangíveis. Até mesmo negociadores
experientes não costumam perceber como esses interesses motivam suas
decisões.
Os principais interesses são uma plataforma eficiente para lidar com
emoções sem se deixar levar por elas. Este capítulo explica como utilizá-los.
Apreço
Seus pensamentos, sentimentos e ações são Seus pensamentos, sentimentos e ações são
depreciados. reconhecidos e valorizados.
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Associação
Você é tratado como um adversário e afastado. Você é tratado como um colega.
Autonomia
Sua liberdade para tomar decisões é cerceada. As outras pessoas respeitam sua liberdade para
decidir questões importantes.
Status
Sua posição relativa é considerada inferior. Sua posição é conceituada e apreciada.
Função
Sua função atual e suas atividades não são Você se sente gratificado, pois define sua função
gratificantes do ponto de vista pessoal. e suas atividades.
Não há uma separação total entre esses cinco principais interesses. Cada um
deles tem uma função específica ao incitar emoções, mas elas formam misturas,
combinações e fusões. Juntos, esses interesses fornecem uma descrição mais
exata do conteúdo emocional de uma negociação do que individualmente. Os
principais interesses são como o instrumental do Quinteto para Piano e Sopros,
de Mozart. Não existe uma fronteira definida entre as partes do piano, do oboé,
do clarinete, do fagote e da trompa. Juntos, os cinco instrumentos expressam
mais fielmente a harmonia e o ritmo da música do que cada instrumento
individual.
Cada principal interesse deve ser atendido em proporção adequada, nem
muito nem pouco. Há três padrões para determinar se nossos interesses estão
sendo administrados de forma eficaz, com base em nossa percepção sobre a
conduta das outras pessoas em relação a eles:
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das áreas estruturais, fale ou aja para elevar ou reduzir o status, a associação, a
autonomia, o apreço e a função do negociador. Você obterá emoções positivas.
Os principais interesses também canalizam suas emoções em uma direção
positiva. Você pode reduzir a pressão de uma decisão importante ao evocar sua
autonomia para aceitar ou rejeitar o acordo com a outra equipe. Ou talvez possa
elevar seu status compartilhando com outras pessoas uma importante área de
conhecimento.
Mais importante, quando atendemos aos principais interesses de modo
proativo, evitamos as emoções negativas geradas quando os ignoramos. (A
alegria vivenciada quando respiramos é inversamente proporcional ao
desespero que sentimos quando estamos nos afogando.)
RESUMO
Os principais interesses são necessidades humanas importantes em
praticamente todas as negociações. Em vez de encarar a dinâmica acelerada de
dezenas de emoções (suas e das outras pessoas), direcione seu foco para cinco
interesses principais: apreço, associação, autonomia, status e função. Utilize
esses interesses como alavancas para estimular emoções positivas em si e nos
outros. Além disso, você também pode utilizá-los como uma lente para
determinar qual interesse ainda não foi atendido e se adaptar para abordar essa
questão.
Se, por um lado, os principais interesses são bastante simples e podem ser
usados imediatamente, por outro, também são sofisticados e aplicáveis a
situações complexas. Uma negociação envolvendo vários atores e altos riscos
exige uma compreensão avançada dos cinco principais interesses.
Os capítulos a seguir analisam em profundidade o poder de cada interesse
principal e explicam como usá-los como uma lente para compreender e uma
alavanca para melhorar a negociação.
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II
Tome a Iniciativa
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CAPÍTULO 3
A
nos atrás, Roger foi a Tbilisi para orientar os cidadãos da Ossétia do Sul
e o governo da Geórgia (uma ex-república soviética). No seu último dia
na região, ele saiu para fazer compras. Ao passar por uma galeria na
principal rua da cidade, ele viu um escultor trabalhando arduamente em uma
pequena bandeja de madeira. Alguns produtos dele estavam à venda. Roger
parou para observá-lo. Em sua memória, a interação ficou gravada da seguinte
forma:
Entre os itens expostos, fiquei mais interessado pela bandeja que o escultor
estava criando. Então, perguntei: “Quanto custa?”
“Ainda não terminei”, ele respondeu.
“Quando vai acabar?”, perguntei, sentindo uma leve onda de impaciência.
“Vai demorar mais alguns dias. Você poderá comprá-la depois.”
“Quero comprar a bandeja agora, mesmo que ainda não esteja concluída.
Qual é o valor do produto inacabado?” (Obviamente, eu esperava um
desconto.)
“O item não está à venda agora”, ele respondeu.
A rispidez da resposta me irritou. Eu havia expressado meu interesse no
trabalho dele e queria comprar a bandeja inacabada, e ele nem ao menos
considerou a oferta. Ele mal me deu atenção. Senti um impulso de
desqualificar seus produtos, de xingá-lo e de sair dali. Mas, em vez disso,
respirei fundo. Percebi que estava me sentindo depreciado. Desrespeitado.
Humilhado.
Até que a ficha caiu. O escultor provavelmente também se sentia
depreciado. Talvez meu comportamento não tivesse sido melhor que o dele.
Eu não expressara nenhum apreço por ele nem por suas opiniões. As
emoções dele talvez fossem bem-parecidas com as minhas.
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“Para vender a bandeja agora”, o escultor disse, “o preço teria que ser
maior.”
“Por quê?”, perguntei, surpreso.
Ele se voltou para mim, sorriu e disse: “Se eu vendesse a bandeja hoje, não
teria o prazer de terminá-la.”
Foi a minha vez de sorrir. “Viajo amanhã de manhã. Gostei da bandeja.
Admiro seu trabalho. E agora, mais do que nunca, quero a bandeja como
recordação do escultor que se orgulha do seu ofício e da satisfação que
obtém com ele.”
Ele sorriu novamente, mas não disse nada.
“Considerando a minha viagem iminente”, perguntei, “você honraria um
forasteiro com o favor de vender a bandeja hoje, inacabada, pelo mesmo
preço de uma finalizada?”
Depois de pensar um pouco, ele aceitou minha oferta.
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OBSTÁCULOS AO APREÇO
Na maioria das negociações, três grandes obstáculos inibem sentimentos
mútuos de apreço. Primeiro, às vezes, não compreendemos o ponto de vista dos
interlocutores. Defendemos nossas opiniões, mas não entendemos os
argumentos dos outros. Enquanto eles falam, nossa mente foca as ideias que
queremos comunicar. Quando não são ouvidos, eles não se sentem
compreendidos.
Segundo, quando discordamos do que a outra pessoa está dizendo, às vezes
criticamos o mérito dos seus argumentos e ações. Partimos da premissa de que
parte do trabalho do negociador consiste em rebaixar o outro lado. Geralmente,
procuramos os pontos fracos nos argumentos que escutamos e ignoramos o
mérito deles. No entanto, todos veem o mundo através de sua lente pessoal e se
sentem desvalorizados quando sua versão não é reconhecida ou é descartada.
Se, depois de várias semanas elaborando uma proposta, só ouvimos críticas dos
interlocutores, muitas vezes nos sentimos desanimados e irritados.
Terceiro, há casos em que não comunicamos o mérito que identificamos nos
pensamentos, sentimentos e ações das outras pessoas. Quando só ouvimos
críticas dos interlocutores às nossas ideias, pensamos que nossa mensagem e o
mérito dela não foram compreendidos. Então, discutimos com mais intensidade
ou desistimos.
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mesmo que você entenda seus pontos de vista, ainda terá que escutá-las. Então,
prepare-se para ouvir.
Durante a negociação, há várias técnicas de escuta ativa que melhoram sua
capacidade de compreender os interlocutores. Aqui, citamos duas das mais
importantes:
Além da letra, ouça também a “música”. O processo de compreensão não se
restringe a ouvir cada uma das palavras ditas. É importante que o ouvinte
assimile o ambiente, o clima, o caráter, a atmosfera e o tom emocional que
contextualizam as palavras.
Quando ouvimos uma música, não prestamos atenção só na letra. Também
escutamos a melodia que embala as palavras. Se uma batida em um tambor
transforma uma canção de amor sentimental em um grito de guerra angustiado,
um tom emocional pode confirmar as palavras do negociador ou refutá-las.
Imagine alguém gritando: “Eu não estou com raiva!”
Fique atento às “metamensagens”. Quando escutamos nossos
interlocutores, às vezes percebemos mensagens escondidas em outras. Essas
metamensagens implícitas são muito comuns. Por exemplo, durante um jantar,
o anfitrião confere o relógio e diz: “Me diverti tanto que nem percebi que era tão
tarde.” A maioria dos convidados rapidamente capta a metamensagem do fim
da festa.
Muitas vezes, as metamensagens indicam a disposição de uma pessoa:
favorável, indecisa ou contrária às ideias em debate. Um modo fácil de detectar
metamensagens é prestar atenção às palavras enfatizadas. As quatro frases a
seguir contêm as mesmas palavras, mas cada uma delas sugere um significado
diferente. As possíveis traduções estão ao lado.
Eu gostei dessa proposta. [Mas os outros negociadores são contra.]
Eu gostei dessa proposta. [Sou totalmente a favor da ideia.]
Eu gostei dessa proposta. [Achei melhor que as outras.]
Eu gostei dessa proposta. [Mas só isso; não estou apoiando.]
Não ignore a indecisão e a resistência. A linguagem corporal pode expressar
algo totalmente diferente do que é dito pelas palavras. Quando captamos as
metamensagens e as mensagens confusas, apreciamos melhor os outros pontos
de vista.
Identifique o Mérito nos Pensamentos, Sentimentos e Ações das
Outras Pessoas
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Pensa
Pontos de vista “Embora eu discorde da sua conclusão, percebo o valor do seu ponto
de vista.”
Sente
Principais interesses “Acho compreensível que você não queira ser excluído da reunião de
amanhã.”
Faz
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você não julga quem está certo ou errado, mas define o mérito de todos os
argumentos.
Ao atuar como mediador, primeiro defina por que a opinião do seu
interlocutor sobre um assunto tem importância pessoal e é persuasiva para ele.
Quais convicções e raciocínios baseiam essa visão? Talvez você discorde da
outra pessoa em um ponto, mas pode encontrar mérito no raciocínio e nas
convicções que fundamentam essa conclusão. Depois de encontrar o mérito,
você poderá dizer:
Compreendo [seu ponto de vista] e aprecio [seu raciocínio e suas convicções].
Confira o exemplo de uma líder do movimento pró-escolha que busca o
mérito no ponto de vista de um líder do movimento pró-vida. Ela
provavelmente não encontrará valor na opinião do líder de que o aborto
deveria ser ilegal. Mas ela pode identificar o mérito em algumas das razões e
convicções que fundamentam essa postura. Ela poderá dizer:
Entendo quando você diz que a vida começa na concepção. [Ela demonstra
compreensão.]
E, a partir dessa convicção estrutural, percebo o valor na sua defesa do
que considera uma criança inocente. [Ela demonstra que vê o mérito no
raciocínio do interlocutor.]
O apreço não deve ser objeto de barganha. De fato, esse interesse perde
muito valor quando a expressão do meu apreço depende da expressão do seu
apreço. Se o líder pró-vida passasse pelo mesmo processo — encontrando e
expressando o mérito no raciocínio da líder pró-escolha —, cada lado se sentiria
apreciado. E nenhum deles mudaria suas convicções básicas sobre o aborto. De
fato, os líderes podem até esclarecer e reforçar ainda mais seus pontos de vista.
Portanto, quando identificam o mérito no raciocínio do interlocutor, os líderes
podem, ao mesmo tempo, discordar e cooperar. Por exemplo, eles podem iniciar
um projeto em conjunto para reduzir a incidência de gravidez indesejada.
Pode haver explicações persuasivas para sua indisposição em identificar o
mérito em outras visões. Encontramos duas. Primeiro, isso vai de encontro às
suas convicções religiosas. Segundo, expressar esse mérito pode facilmente ser
mal interpretado por seus amigos, familiares ou eleitores. Eles podem pensar
que, ao identificar o mérito, você está concordando com ideias que, na verdade,
rejeita.
Comunique Sua Compreensão
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Somos bons amigos há muito tempo, e sei como é difícil para você ver o meu
estado atual. Também sei do seu empenho em me proteger e garantir que eu
não me coloque em situações muito estressantes. Além disso, estou ciente de
que, como presidente regional, você precisa zelar pelos interesses da
empresa. Idealmente, as pessoas devem exercer suas funções diárias com
eficiência. Então, imagino como essa situação é difícil para você. Por isso,
marquei esse encontro, para que nós, sem nenhum compromisso,
pudéssemos analisar as opções de que dispomos.
Com essa argumentação, Mark demonstra que compreende o ponto de vista
de Sam sem fazer nenhuma concessão. Na verdade, ele reconhece a
preocupação de Sam com seu bem-estar e as atribuições profissionais dele. Seus
argumentos reforçam o tom positivo da conversa e viabilizam um resultado que
atenderá aos interesses de Mark, Sam e da empresa.
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escritório no final da manhã. Mas, nesse horário, você já leu todos os telegramas
enviados por Washington de madrugada e os relatórios das missões e definiu os
próximos passos. Além disso, você trabalha até altas horas. Estamos aqui, e já
são 20h30 ‘da tarde’, como você diz.”
Talvez o embaixador Harriman tivesse aprendido desde menino a arrumar a
cama e realizar outras tarefas sem esperar nenhum agradecimento. Mas, não
obstante, ele também precisava de apreço. Mais tarde, já adulto, ele não
expressava seu apreço pelos outros porque não esperava recebê-lo de ninguém.
Experimente o Exercício de Inversão de Papéis
Para demonstrar apreço pelo ponto de vista do interlocutor, tente o Exercício
da Inversão de Papéis. Convoque um colega para ajudá-lo a entrar no papel da
pessoa que receberá seu apreço. Você deve se “transformar” nessa pessoa. Seu
colega pode fazer perguntas para ajudá-lo a entender a perspectiva do seu
interlocutor.
“Qual aspecto [do papel] você acha mais importante?”
“Quais são os itens que mais lhe interessam?”
“Claro, dinheiro é importante, mas diga outras coisas que você também acha
essenciais: Respeito? Aceitação? Ser ouvido?”
Responda cada pergunta na primeira pessoa com outra voz. Por exemplo,
diga: “Fico chateado quando minhas opiniões são ignoradas.” Use a inversão de
papéis logo no início para que seu colega o ajude a entrar no papel de alguém
que você gostaria de agradecer.
Dan se lembra de como a inversão de papéis ajudou uma mãe a lidar com um
difícil conflito conjugal. Quando seu filho, já adulto, telefonou dizendo que
estava voltando para a cidade, “Ana” não pensou duas vezes antes de dizer:
“Você não gostaria de ficar conosco até encontrar um lugar para morar?” Na
época, ela não fazia ideia de que isso colocaria em risco seu segundo casamento,
que já durava quinze anos. Quase sem fôlego de tanta animação, Ana deu a boa
notícia ao seu marido, “Joe”. Para sua surpresa, ele ficou furioso com o convite.
“Por que você não fica feliz com essa notícia?”, ela perguntou.
“Não quero que ele fique aqui sem data de saída”, ele disse. “Ele já foi
embora. Agora é nossa vez de ficar juntos.”
“Ele não vai morar aqui para sempre”, Ana disse.
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“Conheço o tipo; ele vem de mala e cuia”, Joe disse. “Mas ele já tem quase
trinta anos, já é adulto…”
“Você tem alguma coisa contra nossa família?”, Ana perguntou. “Será
porque ele é meu filho e não seu?”
“Não, não estou nem aí para isso! Ele já passou da idade de morar aqui.”
Naquele instante terrível, Ana sentiu que aquele não era o homem com quem
se casara, o bom pai com quem criara os filhos dela e dele. Ficou irritada e
confusa, pois parecia que devia escolher entre o marido e o filho. Então,
levantou-se e saiu do quarto.
A tensão aumentou. A vida a dois passou a ser quase intolerável. Eles
começaram a gritar um com o outro, algo que nunca ocorrera antes. Ana
abordou Dan em busca de conselhos, lhe explicou a situação, e eles tentaram
definir um processo para sair do dilema:
Eu disse: “Joe e você parecem dois navios fazendo uma travessia à noite.
Vocês não entendem o ponto de vista um do outro. Por isso, ambos se
sentem depreciados.”
Ela concordou e perguntou: “Mas o que eu posso fazer nesse caso?”
Eu disse: “Ambos querem que esse relacionamento funcione. Primeiro,
tente demonstrar apreço pela perspectiva do Joe. Vamos fazer um exercício
para ajudá-la com isso.” Pedi que ela respondesse a três perguntas como se
fosse o Joe. A seguir, estão os questionamentos e as descobertas dela.
1. “Será que Joe acha que você não o compreende? O que ele pensa
sobre isso?” Ana admitiu que agia como se o filho fosse só dela. Ela
acusara Joe de não se importar com o filho porque ele não era seu pai
natural (“Será porque ele é meu filho e não seu?”). Ela defendeu seu
ponto de vista e não se esforçou para entender o dele.
2. “Qual é o mérito do ponto de vista de Joe?” Ana se imaginou no
lugar de Joe. Ela concluiu que a possibilidade de ter um filho em casa
talvez tivesse lembrado Joe da responsabilidade constante de cuidar
das crianças em todos os aspectos, ensinando habilidades como andar
de bicicleta e ler um livro. Naquele momento, Joe provavelmente
queria ter poucas obrigações “extras” para aproveitar o tempo com
sua esposa.
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Então, Ana tentou expressar apreço pelo seu ponto de vista. Ela concluiu que
as pressões associadas às suas funções como esposa e mãe evocavam duas
missões: apoiar seu filho e cuidar do seu casamento. Ela encontrou o mérito no
seu ponto de vista: estava tentando cuidar do seu filho e do seu marido no plano
emocional. Ela queria que Joe comunicasse sua compreensão sobre os interesses
dela e o respectivo mérito.
Essa preparação ampliou a compreensão de Ana sobre o conflito. Em vez de
criticar o marido, ela agora estava disposta a escutar e entender. Para mudar o
tom da negociação, ela fez uma pergunta simples: “Preciso da sua ajuda para
compreender. Qual é a sua opinião sobre tudo isso?”
Ana fez seu questionamento e, sem julgar, escutou a resposta. Ela soube que
seu marido adotava uma postura defensiva em relação ao casamento dos dois.
Joe ansiava pelo momento em que a casa se tornaria só deles e pelas “infinitas”
horas que passariam juntos. Ela soube também que seu marido teria
dificuldades para dividir o tempo dela com um filho adulto vivendo sob o
mesmo teto.
Depois que ela passou a escutar o marido e a comunicar sua compreensão até
ele se sentir ouvido, o tom da interação mudou. Joe percebeu que sua esposa o
amava intensamente e que ela apreciava o tempo que ele dedicava
exclusivamente para o casal. Ele compreendeu que ela se sentia obrigada, como
mãe, a ajudar o filho, que terminara recentemente com a namorada. Além disso,
ele descobriu como ela sentia falta de atuar como mãe e de vê-lo exercendo o
papel de pai para seus filhos.
Não havia soluções fáceis para esses problemas, mas eles começaram a
colaborar na negociação. Suas conversas se tornaram uma fonte de aprendizado
para ambos. Algum tempo depois, eles definiram com sucesso um acordo para
que o filho morasse na casa deles por um mês, tempo suficiente para encontrar
um apartamento.
Prepare uma Lista de “Boas Perguntas” para Conhecer as
Perspectivas do Outro
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barganha pelo apreço: “Só vou expressar apreço se ele também fizer isso.” Mas,
como vimos antes, isso não funciona, pois o apreço deve ser sincero. É comum
se desconfiar do apreço que só é demonstrado quando requisitado.
Não desanime. Há muitas opções para ajudar as outras pessoas a entenderem
o que você está dizendo, identificarem o mérito e comunicarem sua
compreensão. Confira algumas a seguir:
Ajude as Outras Pessoas a Entenderem Seu Ponto de Vista
Se você acha que as outras pessoas não estão entendendo sua mensagem, tome
uma atitude.
Proponha um intervalo específico para falar com seus interlocutores.
Mencione um ponto específico sobre o qual você gostaria de falar com eles.
Roger lembra um caso em que três minutos fizeram toda a diferença.
John Laylin era sócio do escritório de advocacia Covington & Burling, onde
trabalhei muitos anos como associado. Ele e eu elaboramos um rascunho de
uma carta que seria enviada por um cliente no Paquistão a uma autoridade
indiana. Lemos e comentamos nossos respectivos textos. O Sr. Laylin optou
pelo seu esboço. Para mim, ele não entendeu por que eu achava sua versão
ruim. Eu lhe disse que deveríamos aproveitar o meu texto. Ele respondeu
que não, que o escolhido era o dele, e perguntou se eu tinha alguma sugestão
de alteração.
Pedi três minutos para explicar o que estava errado no rascunho dele. Ele
resistiu, mas acabou pegando seu relógio de bolso, que colocou na mesa a
sua frente, e disse: “Tudo bem. Você tem três minutos.” Eu só havia falado
por dois minutos quando ele me interrompeu, perguntou por que eu não
tinha sido tão claro antes e atirou sua versão no lixo. Em seguida,
começamos a trabalhar no meu esboço.
Fui ouvido. Expus meus argumentos e fui persuasivo.
Adapte a mensagem para ser ouvido. Nos Estados Unidos, a palavra
ambulância aparece de trás para frente no capô das ambulâncias. Assim, os
motoristas leem a palavra corretamente quando olham pelo retrovisor. Muito
inteligente, a pessoa que concebeu essa ideia pensou da seguinte forma: “Como
adaptar a mensagem para que ela seja compreendida pelos outros motoristas?”
Em uma negociação, você deve formular a mensagem de modo
compreensível para seus interlocutores. Por exemplo, você diz aos seus
colaboradores novatos que dará uma comissão de 5% sobre cada venda. Essa
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concessão é muito generosa, mas muitos deles entenderão que você está
ficando com 95% de tudo e definirão o ato como ganancioso. Sua mensagem e
sua intenção não foram comunicadas com clareza.
Emoções muito intensas (da sua parte e do outro lado) dificultam a
comunicação da mensagem. Por exemplo, quando você está com raiva, sente o
impulso de culpar os interlocutores pelos seus sentimentos negativos. “Estou
irritado porque você não me consultou antes de assinar o contrato.” Não culpe
ninguém, pois eles só ficarão na defensiva. A capacidade de eles escutarem
diminuirá, pois passarão o tempo todo bolando argumentos para provar que
eles estão certos e você está errado. Ninguém mais conseguirá trabalhar de
forma coesa em equipe.
Em vez disso, comunique sua raiva como parte de uma mensagem voltada
para o futuro. Convença seu interlocutor de que você está expressando irritação
para alterar futuras interações. “Estou irritado — e estou demonstrando isso —
porque, futuramente, quero ser consultado antes de assinarem contratos que
também criem obrigações para mim.” No longo prazo, suas chances de receber
apreço tendem a aumentar se você quiser ser ouvido não só para ganhar
simpatia, mas para desencadear mudanças com sua mensagem.
Ajude as Outras Pessoas a Identificarem o Mérito nos Seus
Pensamentos, Sentimentos e Ações
Existem opções ao seu alcance para ajudar as outras pessoas a identificarem o
mérito no seu ponto de vista e na sua experiência emocional.
Incentive seu interlocutor a identificar o mérito do seu ponto de vista. Em
vez de apontar o mérito, faça perguntas. A outra pessoa deve ponderar sobre o
mérito. Você pode dizer: “Talvez eu não tenha sido suficientemente claro
quanto à minha perspectiva. Você acha minhas opiniões sobre essas questões
relevantes e persuasivas? Por quê?”
Utilize uma metáfora envolvente. Você se sente irritado quando alguém
deprecia sua experiência emocional. Talvez seus interlocutores finjam que
ignoram sua frustração ou tentem abafar suas emoções com as queixas deles.
Como incentivá-los a encontrar o valor da sua experiência emocional?
Para aliviar as tensões, uma abordagem eficaz consiste em usar uma
metáfora na conversa. A metáfora permite que as pessoas falem sobre suas
experiências emocionais em comum de maneira indireta e implícita. Evite dizer:
“Estou aflito com essa situação, frustrado com você, incomodado com meus
colegas e bastante desanimado.” Em vez disso, fale sobre sua experiência
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mesmo. Como elas comunicariam o valor por suas ações e opiniões? Ouça essa
voz.
Pense e, quando for o caso de se autoelogiar, faça isso. Seja honesto consigo
mesmo. Não custa nada. Na verdade, fazer uma autoavaliação sincera deve ser
motivo de orgulho. O resultado dela pode ser uma confirmação sólida das suas
opiniões ou uma avaliação sincera de que, nesse ponto, suas ideias ainda são
muito incipientes e devem ser repensadas criteriosamente. Se você for honesto
ao apreciar as ideias do outro negociador — tanto suas possíveis falhas quanto
seus méritos — e analisar os méritos e possíveis deficiências das suas ideias
com igual rigor, todos estarão melhor preparados para chegar a um acordo
eficiente.
Talvez você não tenha nenhum interesse em construir um relacionamento de
longo prazo com o outro negociador. Naturalmente, ao expressar apreço por
ele, sua opinião pode mudar. De qualquer modo, uma boa compreensão sobre si
mesmo e sobre o outro negociador facilitará a colaboração entre vocês e a
efetivação do acordo.
RESUMO
O apreço é um principal interesse. Todos querem se sentir compreendidos,
valorizados e ouvidos. Quando se sentem apreciadas de modo honesto, as
pessoas tendem a colaborar sem demonstrar hostilidades.
Para expressar apreço:
Talvez você discorde do ponto de vista da outra pessoa. Tudo bem. Mas você
deve compreendê-lo e identificar seus possíveis méritos.
O capítulo sobre o apreço vem logo no início do livro porque nos sentimos
gratificados emocionalmente quando somos apreciados por nossas
personalidades e ações. Além disso, é importante expressar apreço por nossa
demanda emocional ligada à associação, autonomia, status e função. Nos
próximos capítulos, explicamos como podemos lidar com essas quatro
demandas estruturais.
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CAPÍTULO 4
N
o início da formação de negociadores, geralmente propomos o
Exercício da Quebra de Braço. Certa vez, recebemos um grupo de 30
participantes, todos experientes em comércio exterior. Eles formaram
duplas e receberam instruções para se sentarem um de frente para o outro, com
os cotovelos direitos sobre a mesa. Cada participante tinha que segurar a mão
direita do parceiro com sua mão direita, e ganhariam um ponto sempre que a
parte de trás da mão do parceiro tocasse a mesa. O objetivo era acumular o
maior número de pontos durante o exercício, e os participantes foram
orientados a não se importar com os pontos obtidos pelos parceiros e a ficar de
olhos fechados.
“Preparar. JÁ!”
Durante dois minutos, as duplas suaram a camisa enquanto os participantes
tentavam empurrar a mão direita do parceiro contra a mesa. Mas, apesar de
todo o esforço e da resistência dos colegas, quase ninguém conseguiu mais do
que dois pontos.
Só houve uma exceção. Um participante percebeu, logo de cara, que o
objetivo era acumular o maior número de pontos — sem se importar com os
pontos obtidos pelo parceiro. Então, em vez de forçar a mão do colega, ele a
colocou na mesa e cedeu um ponto rápido e fácil para o parceiro, que ficou
surpreso; em seguida, ele ganhou um ponto rápido e, depois, cedeu outro ponto
ao colega. Sem trocar nenhuma palavra, os dois parceiros, com os cotovelos
sobre a mesa, começaram a virar rapidamente suas mãos entrelaçadas,
acumulando uma grande quantidade de pontos.
Interrompemos o exercício e pedimos que os participantes informassem ao
grupo o número de pontos obtidos. Nenhum deles acumulara mais de 3 pontos,
exceto pela dupla que havia colaborado e obtido mais de 20 pontos
individualmente.
Ao analisarmos o exercício, observamos que, apesar do uso recorrente da
palavra parceiro e de os participantes terem sido orientados claramente a não
ligarem para os pontos obtidos pelos colegas, praticamente todos partiram da
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premissa de que os outros indivíduos nas duplas eram seus adversários. Esse
antagonismo instintivo dominou o pensamento deles e os impediu de
conquistar o maior número possível de pontos.
A premissa de que o outro negociador é um adversário prevalece em muitas
negociações. Em geral, essa ideia impede que os envolvidos tenham a melhor
performance possível durante o processo.
O PODER DA ASSOCIAÇÃO
Os negociadores sempre se deparam com as diferenças, reais ou aparentes, uns
dos outros. Nosso objetivo é encarar essas divergências de forma satisfatória e
com o mínimo de desperdício de tempo e recursos. Esse processo só é
implementado com eficácia quando colaboramos. Ao somarmos nossa
inteligência e nossa percepção, ficamos mais bem preparados para gerar um
resultado mutuamente satisfatório.
Essa cooperação depende, em grande parte, da associação. Como principal
interesse, a associação indica nossa ligação com uma pessoa ou grupo. Trata-se
do espaço emocional entre nós e eles. Quando nos sentimos associados a uma
pessoa ou grupo, quase não percebemos a distância emocional que nos separa
deles. A sensação é de “proximidade”.
Quando nos sentimos associados, fica muito mais fácil colaborar. Passamos a
ver nosso interlocutor não como um estranho, mas como um membro da
“família”. Tendemos a cuidar das outras pessoas, proteger seus interesses e
zelar pelo seu bem-estar. Há menos resistência diante de novas ideias e mais
abertura a novas perspectivas. A lealdade inspira honestidade e a busca por um
acordo mutuamente benéfico, intensificando nosso comprometimento com a
execução dos termos pactuados.
A associação se baseia em ligações honestas. Isso só ocorre quando nosso
bem-estar é objeto de uma preocupação sincera, sem motivação puramente
financeira. Vigaristas e operadores de telemarketing tentam forjar uma
associação para ganhar dinheiro. Mas, assim que percebemos a indiferença
deles, geralmente desligamos o telefone.
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Mesmo que haja conexões anteriores entre vocês, existem outras formas de
estabelecer uma conexão com seus colegas.
Desde o início, trate o outro negociador como colega. Não permita que a
suposta estrutura da negociação — baseada no senso comum sobre como
negociadores devem se comportar — limite sua capacidade de ser construtivo.
Confira estas ações simples para criar afinidades:
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determinar a distância pessoal que nos separa do interlocutor, talvez não seja
possível definir se estamos nos aproximando ou nos distanciando dele.
Por exemplo, dois irmãos discordam sobre a opção de colocar a mãe deles em
um lar para idosos. A divergência os distancia. Se eles não pararem para pensar
e determinar uma forma de melhorar sua conexão pessoal, talvez não consigam
apoiar um ao outro enquanto acompanham o declínio da saúde da mãe.
A distância emocional ideal entre os negociadores pode ser comparada à
distância física entre porcos-espinhos que tentam se aquecer em uma noite fria.
Eles se aproximam, mas não ficam tão próximos a ponto de se ferirem nos
espinhos um do outro. Em geral, a proximidade emocional é indicada pela
distância física que mantemos em relação às pessoas; abraços e beijos
demonstram uma maior proximidade emocional, enquanto um aceno frio e um
rápido aperto de mão revelam uma maior distância emocional. Compreender os
sinais físicos da distância emocional pode ajudá-lo a avaliar seu nível de
associação em relação à outra pessoa e a determinar o risco de ultrapassar
limites pessoais e exagerar na aproximação.
Confira estas quatro táticas para estabelecer conexões pessoais:
1. Priorize contatos pessoais em vez de usar telefone, computador ou e-
mail. Conversas diretas são mais eficazes em reduzir a distância pessoal do que
as interações por e-mail, mensagens ou telefone. Quando você conhece alguém
pessoalmente, fica mais difícil estereotipá-lo e lhe atribuir ideias equivocadas.
Seja entre israelenses e palestinos, funcionários e gerentes ou locatários e
inquilinos, a interação pessoal humaniza as partes envolvidas na negociação e
revela mais informações sobre o contexto. Quando as pessoas forem à sua sala,
evite usar sua mesa como uma barricada. O ex-secretário de Estado Dean
Acheson tinha o hábito de se levantar e passar para uma cadeira mais próxima
do visitante. A mesa de Roger fica de frente para as estantes de livros na parede;
assim, ele pode girar facilmente a cadeira, cumprimentar o visitante e convidá-
lo a se sentar em uma cadeira próxima. Sem a barreira da mesa, pode ser bem
mais fácil estabelecer uma conexão pessoal.
Quando conhecemos nosso interlocutor em pessoa, é possível continuar
desenvolvendo a associação mesmo que as próximas interações não sejam
presenciais. Isso porque já teremos captado o lado humano da outra pessoa, o
que facilita a compreensão do seu tom de voz pelo telefone e o significado das
suas palavras em uma carta.
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Contudo, caso haja divergências, é mais eficiente lidar com elas diretamente
do que por uma série de e-mails. Encarar seus problemas pessoalmente reduz o
risco de falhas de comunicação. Os indivíduos comunicam seus sentimentos por
meio da linguagem corporal, do tom da voz e do conteúdo da mensagem.
Durante uma reunião pessoal, o volume da sua voz pode aumentar ou diminuir
para indicar a intensidade dos seus sentimentos; não há esse tipo de controle
em um e-mail.
2. Converse sobre temas que você acha importantes. Outra forma de
estabelecer uma conexão pessoal é conversar sobre itens que achamos
importantes. Temas inofensivos como trânsito e clima não ofendem ninguém
nem revelam muito sobre nós. No entanto, as conversas de baixo risco tendem a
reduzir bem pouco a distância pessoal.
Geralmente, conversas sobre temas pessoais são mais reveladoras — e
deixam as pessoas mais vulneráveis e sensíveis a indiscrições —, mas trazem
excelentes oportunidades para desenvolver a proximidade. Há muitos tópicos
propícios à associação, como questões familiares e financeiras, reações
emocionais diante de um tema, dúvidas sobre o futuro profissional e dilemas
éticos.
Ao abordar esses temas, pedir conselhos é uma boa maneira de iniciar a
conversa. “Não consigo de jeito nenhum fazer meus colegas chegarem
pontualmente às reuniões. Você tem alguma sugestão? Como você lida com
isso?” Compartilhar seus erros, pontos fracos e hábitos ruins também pode
aproximá-lo emocionalmente das outras pessoas.
Estabelecer limites de confidencialidade pode mitigar o risco das conversas
propícias à associação. Antes de receber conselhos do outro negociador para
lidar com um problema pessoal ou profissional, diga, por exemplo: “Você
poderia me orientar em uma questão pessoal? Tudo bem se essa conversa ficar
só entre nós?” Depois de uma conversa sobre um tema pessoal, você pode dizer:
“Vamos deixar esse assunto só entre nós, que tal?”
A Tabela 6 lista alguns tópicos que podem intensificar a associação e temas
mais “seguros”, que criam um maior espaço emocional quando a conversa
começar a soar um pouco estranha ou ameaçar ultrapassar limites
desconfortáveis para você ou para outra pessoa.
TABELA 6
TÓPICOS QUE INFLUENCIAM A ASSOCIAÇÃO
Assuntos Propícios à Associação que Reduzem a Assuntos Seguros que Preservam a
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Família Clima
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e não fazer novos amigos nem resolver problemas familiares. Estabeleça uma
conexão pessoal suficiente para inspirar confiança mútua e lidar com
problemas em conjunto e com eficácia.
Se as tentativas de desenvolver sua associação resultarem em uma
aproximação excessiva, existe a opção de recuar. Talvez você tenha ido longe
demais. Vez ou outra, todos sentem vontade de manter uma distância pessoal
maior em relação às outras pessoas. Queremos tempo para nós mesmos, para
relaxar, para pensar, para ficar sozinhos. Se a conversa ficar pesada, íntima,
próxima ou pessoal demais, sempre é possível abordar um “assunto seguro” ou
fazer uma pausa e iniciar outra atividade.
Ao construir uma associação com uma pessoa em quem você não confia
totalmente, restrinja as informações que serão compartilhadas com ela. Imagine
um colega próximo que tem várias qualidades maravilhosas, mas é adepto de
fofocas de escritório. Nessa situação, não fale com ele sobre os problemas da
empresa se não quiser que seus colegas saibam. Ainda assim, você pode
estreitar sua associação com ele fazendo confidências sobre seus problemas
conjugais, informações que, na sua opinião, ele manterá em sigilo.
4. Mantenha contato. Finalmente, para consolidar sua conexão pessoal, fale
de vez em quando com a outra pessoa, mesmo se ela trabalhar em outra
organização. A associação não é um fenômeno estático. Ela muda com o tempo.
Como a maioria dos relacionamentos pessoais, a associação também precisa de
manutenção frequente. Você não pode ignorar seu cônjuge e esperar uma
associação tão intensa quanto a que vocês tiveram no passado. Para preservar
sua associação, é necessário dar atenção ao lado humano das pessoas. Por
exemplo, convide um membro da equipe para almoçar, pergunte como ele está,
como vão os filhos dele etc.
Facilitando a Construção de uma Conexão Pessoal
Apesar de conhecermos o valor de uma conexão pessoal, não nos dispomos a
construí-la. Sem base para criar confiança, ficamos apreensivos com a
possibilidade de truques do outro lado. E mesmo quando confiamos nos
interlocutores, nossos colegas e eleitores podem nos criticar.
Há três maneiras de facilitar a construção de uma conexão pessoal: promover
reuniões fechadas, reformular a imagem de um conflito perante o público e
organizar subcomissões para abordar questões específicas.
Roger aplicou algumas dessas táticas em uma negociação trabalhista
bastante complexa. Isso ocorreu quando ele trabalhava com o vice-presidente
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ser feito com uma imagem deles sentados lado a lado, cooperando em uma
questão que diz respeito a ambos.2 Eles também podem escrever um artigo de
jornal ou criar e distribuir um e-mail com um texto sobre a meta de resolver
problemas juntos.
Organize subcomitês para trabalhar com questões específicas.
Reformular a imagem pública não era oportuno para os líderes do sindicato e
da administração, cujo maior receio era revelar sua conexão pessoal e correr o
risco de alienar suas bases de apoiadores. Nesses casos, há opções para reduzir
a cisão estrutural entre os grupos. É possível, por exemplo, criar subcomitês
para lidar com benefícios, salários, estabilidade e outras questões controversas.
O subcomitê deve incluir representantes dos trabalhadores e da administração
que, juntos, criarão formas inovadoras de lidar com o ponto focal do grupo. As
reuniões devem ser fechadas, e nenhum compromisso expressivo deve ser
pactuado. Sem a pressão de assumir compromissos definitivos, os participantes
ficam estruturalmente ligados como uma equipe de inovadores voltados para a
resolução de um problema em comum. Com o tempo, o trabalho desses comitês
pode reduzir a cisão estrutural e gerar recomendações que facilitarão a tomada
de decisão colaborativa.
Além disso, os líderes podem sempre renomear seu processo de negociação.
Comumente, os funcionários e a administração utilizam a abordagem conhecida
como negociação coletiva para lidar com suas divergências. Mas, nessa acepção,
a negociação surge como um processo antagônico, calcado na ideia de toma lá
dá cá. “Só aumentaremos o valor dos benefícios se vocês reduzirem as horas de
férias reivindicadas.” Então, basta mudar o nome para negociação baseada em
interesses ou solução conjunta de problemas para destacar que a associação
entre os negociadores não precisa ser baseada em antagonismo.
Uma associação forte pode levar a decisões erradas. Um colega pode usar a
pressão do grupo para nos influenciar a fazer algo. Os adolescentes usam essa
tática para pressionar os amigos a beber ou fumar cigarros. “Todo mundo fuma.
Toma aí, acende um.” Da mesma forma, o outro negociador pode usar a
associação que tem com você para pressioná-lo a fechar um acordo.
Como seu colega e amigo de longa data, meu pedido não é nenhum sacrifício.
Então, que tal dizer sim?
Você está sob pressão emocional, e a proposta de acordo pode até ser boa. Na
verdade, talvez ela seja excelente. Mas, antes de seguir o que dizem suas
ligações pessoais e sua associação emocional, pare um pouco. Ouça o que sua
mente diz sobre o acordo. De fato, memorize uma ou duas frases para lidar com
esse tipo de pressão:
Não prometo nenhuma posição favorável com antecedência. Mas, já que você
me pediu, vou olhar de novo com a mente aberta e falar com você pela
manhã.
Tomar uma decisão ruim traz repercussões negativas para você e, muitas
vezes, para o outro lado. Se você for enganado e acabar comprando um carro
incompatível com as necessidades da sua família, provavelmente se
arrependerá da compra. O carro pode não ser tão bom quanto você imaginou,
então você se repreende duramente por ter sido ludibriado. Para o revendedor,
a situação também não é muito confortável. Ele pode perder futuros clientes se
você falar sobre seu arrependimento para outras pessoas, maculando a
reputação dele.
Antes de tomar uma decisão, ouça sua razão — sua mente. Se você estiver
pensando em comprar um carro novo, primeiro pesquise informações básicas
sobre os modelos mais interessantes: O que a Consumer Reports diz sobre a
segurança, o consumo, a durabilidade e a garantia do veículo? Na internet, quais
são os preços de venda dos diferentes modelos? Qual é a MAAN — sua Melhor
Alternativa a um Acordo Negociado? Se você não fechar um acordo com o
revendedor, qual é sua outra opção? Que carro você comprará e a que preço? E
quanto custaria esperar mais algumas semanas para comprá-lo?
Também Ouça Seus Instintos
Você não precisa suspeitar excessivamente de todas as pessoas com quem
interage. Na verdade, desconfiar de todo mundo muito provavelmente reduzirá
seu poder de negociar com base na associação. Mas fique esperto. Antes de
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tomar uma decisão importante, não dê ouvidos apenas à sua razão; ouça
também seus sentimentos.
Seja quem for que tenha influenciado a decisão — um amigo, um anúncio ou
um comercial de TV —, os sentimentos transmitem muitas informações úteis.
Isso geralmente se aplica a comprar um carro novo, procurar um emprego,
demitir um colaborador ou contratar um novo funcionário. E, comumente, você
aprende bastante prestando atenção ao seu corpo ao tomar decisões
importantes. Pedir orientações a outras pessoas pode ser de grande ajuda, mas
também há muito o que aprender quando refletimos sobre nossos sentimentos.
Então, relaxe, não se apresse e pondere sobre questões como:
RESUMO
Com uma associação consistente, a colaboração fica mais frequente e produtiva.
A associação se baseia em dois aspectos:
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1 Os principais interesses podem ser desejos universais. Mas, geralmente, as táticas aplicáveis a cada
interesse estão ligadas a culturas específicas. Uma cultura coletivista, por exemplo, pode considerar um
insulto quando um colega novato sugere um tratamento informal a um profissional mais velho e
experiente, usando apenas o nome. Não analisaremos essas variações culturais neste livro, mas o leitor
deve ter em mente que talvez precise adaptar algumas das táticas indicadas aqui à sua cultura.
2 Por exemplo, na página 193 há uma fotografia do presidente Jamil Mahuad, do Equador, e do
presidente Alberto Fujimori, do Peru, colaborando para resolver uma questão de fronteira.
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CAPÍTULO 5
Respeite a Autonomia
Amplie a Sua (e Não Restrinja a das Outras Pessoas)
P are de ler este livro. (Agora!) Talvez você queira mesmo guardar este livro na
estante, mas muito provavelmente não quer que ninguém lhe mande fazer isso.
E com razão. Quando mandamos você fazer algo, restringimos sua autonomia —
sua liberdade de tomar e influenciar decisões.
Todos querem ter um nível adequado de autonomia. Imagine que você esteja
sendo algemado por um policial; as algemas restringem o uso das suas mãos.
Elas restringem sua autonomia, mesmo que você não queira fazer nada com as
mãos agora.
Quando nós exercemos muita autonomia, nossas ações às vezes passam a
impressão de restringirem a autonomia das outras pessoas. Vamos conferir o
caso de “Elizabeth”, uma experiente advogada corporativa que se envolveu em
uma negociação que, à primeira vista, seria apenas uma “aquisição simples e
consensual”:
Cheguei ao Aeroporto O’Hare junto com dois advogados para nossa primeira
reunião com John, o advogado da outra parte. Ele estava sozinho. E pareceu
surpreso e aparentemente bastante frustrado quando viu os dois jovens
advogados que me acompanhavam.
“Pensei”, ele disse, “que esta seria só uma reunião preliminar entre nós,
para fins de apresentação e elaboração de planos com base na proposta de
agenda que lhe enviei. Agora, estamos claramente diante de uma longa
negociação.”
“Mas”, eu disse, “foram meus dois colegas aqui que prepararam a versão
preliminar para o acordo definitivo. Quero contar com a presença deles
durante a nossa conversa.”
“Versão do acordo definitivo!”, ele exclamou. “Isso soa terrivelmente
agressivo. Você está trazendo sua equipe e uma versão do acordo? Isso tudo
antes mesmo de nos conhecermos? De qualquer forma, minha esposa está
nos esperando para jantar hoje à noite; lá poderemos conversar.”
“Jantar? Desculpe, eu não sabia disso. Tenho outros planos.”
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“Tenho que ligar para minha esposa e cancelar o jantar”, ele disse. “Então,
quero convidá-la agora para uma reunião pessoal na Sala de Conferências B,
que reservei no andar de cima. Lá, poderemos deliberar sobre a
possibilidade de expandir a reunião e chamar seus dois colegas.”
“De acordo”, respondi.
“No entanto”, ele disse, “eu não sei se, no momento, há uma sala maior
disponível”.
Evidentemente, a negociação não começou com o pé direito. Ao que parece,
nenhum dos negociadores havia determinado que decisões poderiam ser
tomadas de modo adequado sem o envolvimento do outro. Até mesmo em
questões banais de logística, as emoções podem se expandir rapidamente.
Geralmente, isso não ocorre porque alguém toma uma decisão errada, mas
porque a decisão é tomada sem o conhecimento do outro. Como negociador,
prepare-se para lidar com problemas se uma decisão sua, com efeitos sobre a
outra pessoa, tiver alguma destas respostas:
“Não concordei com isso!”
“Não fui consultado!”
“Nem fui informado!”
Costumamos ficar ofendidos quando limitam o escopo de nossa autonomia
de modo inadequado. Às vezes, somos pressionados a aceitar a demanda do
outro: “Essa é a nossa última oferta — é pegar ou largar.” Em outros casos,
limitam nosso raciocínio: “Nem pense em desistir desse acordo.” Também
tentam nos dissuadir de sentir certas emoções: “Não fique triste por não ter
fechado o acordo. Deixa pra lá.”
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tomador das decisões, por exemplo, que domínio temos sobre a negociação?
Como veremos, não ter autoridade também traz poder.
Restringimos a Autonomia das Outras Pessoas
Quando nossa autonomia colide com a autonomia da outra pessoa, parece que
estamos andando em um campo minado sem nenhum mapa. Em se tratando de
autonomia, um passo em falso pode arruinar toda a negociação. Quando o
interlocutor percebe que sua autonomia foi restringida, tende a ter menos
confiança em nós, rejeitar nossas ideias (úteis ou não) e se dedicar bem pouco a
implementar o “nosso” acordo.
Então, para estimular emoções positivas, você deve:
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BEHESHTI: “Você não vê? O seu governo não está entendendo a questão?”
ROGER:“Não posso falar pelos Estados Unidos, mas eu não entendo. Por que
as sanções podem desestabilizar a região?”
BEHESHTI: “Para permitir a importação e a exportação de itens vetados pelas
sanções, os agentes públicos dos dois lados da fronteira recebem
propinas. Enquanto essa situação perdurar, nós e os governos vizinhos
vamos exercer cada vez menos controle sobre as áreas de fronteira.”
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1. Defina os participantes.
Selecione de seis a doze pessoas com conhecimento sobre o tema e diferentes pontos de vista;
Se os participantes tiverem opiniões fortes sobre o tema, considere a opção de incluir um facilitador.
2. Explore os interesses.
Os participantes de cada “lado” elaboram em grupo a melhor estimativa possível dos interesses do
outro lado;
Os dois lados compartilham suas listas e pedem feedback e “correções” um para o outro.
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Expresse a mensagem: “Nada do que for dito nesta fase implicará em um compromisso.”;
Os participantes geram ideias que atendam aos interesses centrais do grupo como um todo;
Liste todas as ideias em um flip chart para que todos possam vê-las.
4. Refine as opções.
Todos os participantes apontam as ideias que melhor atendam aos interesses do grupo como um todo;
O grupo seleciona uma lista menor de opções que mereçam uma análise mais profunda;
Os participantes simplificam cada ideia até a palavra “sim” se tornar uma resposta suficiente e realista.
Se alguns dos participantes forem decisores, peça orientação a eles: “Existe algo que podemos fazer
para facilitar o seu sim?”.
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sentir mais confiantes e expansivos na própria sala, e nós podemos sair quando
quisermos. Não é desconcertante o conteúdo da decisão, mas sim a forma como
ele foi obtido. Fomos incluídos ou excluídos do processo? A resposta dessa
pergunta provavelmente influenciará não apenas nossos sentimentos em
relação à decisão, mas também o que sentimos em relação ao trabalho com a
outra pessoa.
Vamos conferir um episódio vivenciado por Roger e sua esposa, Carrie,
enquanto dirigiam até o norte de Vermont, onde ocorreria a festa de aniversário
de um amigo. Pouco depois de saírem, eles pararam para comprar duas plantas
caras a fim de presentear seus anfitriões. A caixa apontou que, naquele dia, os
clientes que comprassem acima de US$25 receberiam uma dúzia de rosas como
bônus especial. Roger propôs que ela registrasse as duas plantas como duas
vendas e lhes desse duas dúzias de rosas grátis. Ela concordou, e Roger recebeu
os dois bônus.
Ele ficou para pagar as plantas enquanto Carrie atravessava a rua levando as
rosas. A caminho do carro, ela encontrou, por acaso, alguns amigos que a
ajudaram com as flores. Quando Roger alcançou o grupo e se dispôs a carregar o
ramo de rosas que uma amiga de Carrie segurava, ele ficou sabendo que sua
esposa lhe dera a dúzia de rosas que eram “dele”. Ele sorriu e disse: “Ótimo.”
Mas se sentiu irritado.
De volta à estrada, Roger quis descobrir por que estava tão irritado com a
decisão da esposa. Dar as flores à amiga era um gesto perfeitamente razoável.
Se tivesse sido consultado, ele certamente teria achado uma boa ideia. Mas ele
não fora consultado, e, na sua opinião, as duas dúzias de rosas eram claramente
o resultado da iniciativa e da dedicação que empregara na negociação com a
caixa. Carrie decidira unilateralmente se desfazer de metade das flores sem
pensar que ele poderia ter um plano para elas.
Roger concluiu que estava frustrado porque a ação da sua esposa havia
restringido sua autonomia. O destino das rosas, na visão dele, cabia a ele — que,
no mínimo, deveria ter sido consultado. Depois que ele compreendeu a fonte da
irritação, sua raiva se dissipou.
Se as pessoas ficam emocionalmente abaladas com algo tão irrelevante, é
fácil entender como uma decisão tomada unilateralmente por alguém pode
perturbar tanto um negociador. A decisão pode ser sobre o local da reunião, o
horário de início, os sanduíches do almoço e o horário de encerramento. As
emoções negativas podem vir à tona não como um efeito do conteúdo da
decisão, mas como resultado da ação unilateral do negociador.
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A decisão talvez não tenha um impacto imediato sobre uma pessoa, mas pode
afetar intensamente a vida dela de várias formas. Por exemplo, um funcionário
cheio de amargura diz: “Acabei de fazer uma segunda hipoteca. A empresa está
afundando, e meu emprego também. Por que a diretoria não me avisou com
antecedência? E o que devo dizer hoje aos meus subordinados, aflitos com seu
futuro profissional?” Quando acometem um certo número de funcionários, a
ansiedade e o ressentimento produzem uma força de trabalho desmotivada e,
às vezes, uma empresa falida.
Portanto, respeitar a autonomia dos interessados invisíveis é uma boa
prática. É muito difícil negociar com milhares de eleitores ou funcionários. Pode
até ser complexo negociar férias em uma família cheia de crianças. No entanto,
você deve poder consultá-los e, em todo caso, informá-los regularmente sobre
as decisões em análise no momento.
Consulte os interessados. Peça feedback aos interessados sobre as decisões
que serão tomadas. Por exemplo, crie um sistema por meio do qual os
interessados possam enviar suas sugestões por e-mail para um local central,
colocar recomendações em uma caixa de sugestões ou encaminhar suas ideias
para um agente específico. Você também pode criar um comitê de consulta de
interessados. Por exemplo, imagine que o CEO de uma rede nacional de
farmácias esteja negociando novas políticas para as lojas com os executivos das
filiais. Antes de qualquer decisão, o CEO pode criar um comitê de consulta
formado por caixas, farmacêuticos, profissionais de marketing e gerentes de
lojas. Os membros do comitê serão orientados pelo CEO a solicitarem feedback
aos seus colegas sobre as principais questões em negociação e informar suas
conclusões ao comitê. Vários comitês podem ser criados pelo país, e uma lista
com recomendações pode ser encaminhada ao CEO.
Como em todo sistema, é improvável obter feedback de todos os
interessados, mas você pode criar uma atmosfera inclusiva para a tomada de
decisões. As pessoas devem sentir que têm influência sobre o tema, mesmo que
não estejam a cargo da decisão definitiva.
Informe os interessados. Para respeitar sua autonomia, informe os
interessados sobre as decisões sempre que possível, especialmente sobre os
processos decisórios em curso, se for o caso. Se isso não for viável, informe-os
sobre as decisões logo depois de tomá-las.
Por exemplo, a rede de farmácias precisa modificar suas políticas para se
adequar a novos regulamentos governamentais. O CEO é um profissional
inteligente e consulta os advogados e os altos executivos da empresa, mas não
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autonomia, criando um clima tenso que só piorava. Que orientação podemos lhe
dar para que ela lide de maneira mais eficaz com a autonomia?
No Momento
Elizabeth está se dedicando ao máximo para preservar seu relacionamento
profissional com John durante essa interação inesperadamente estressante. Ela
está ouvindo em vez de ficar calada, emburrada, se afastar ou acusá-lo de estar
dificultando o processo. Ela afirmou que deseja incluir seus dois colegas na
interação e que tem outros planos para aquela noite. No entanto, seu diálogo
com John parece estar saindo do controle. Ambos estão reagindo às palavras um
do outro. Mal-entendidos e desconfiança estão se acumulando.
Primeiro, Elizabeth pode usar a autonomia para desacelerar sua mente. Antes
de dizer ou fazer qualquer coisa, ela precisa parar um pouco e respirar fundo.
Ela pode se desculpar, sair por um momento e se dirigir ao banheiro, onde
passará alguns minutos definindo um modo de recolocar a negociação nos
trilhos.
Uma rápida análise de uma checklist dos principais interesses logo mostrará
que Elizabeth restringiu a autonomia de John. Ela o surpreendeu com seus dois
colegas, seus planos para o jantar e sua versão para o acordo definitivo.
Nenhuma dessas decisões está “errada”, mas Elizabeth parece ter invadido
áreas que John considera parte do escopo da sua autonomia.
Elizabeth pode pedir desculpas pela confusão e comunicar a John suas boas
intenções, reconhecendo o impacto emocional de ter restringido a autonomia
dele:
Desculpe se minhas ações criaram algum mal-entendido. Eu só estava
tentando ser útil. Ainda assim, eu certamente deveria ter comunicado que
estava trazendo dois colegas e uma versão preliminar do acordo.
Para avançar com a negociação, Elizabeth pergunta: “Vamos fazer uma
programação para o resto dia? O que você sugere?”
Ela seria sensata se ouvisse atentamente e apreciasse suas ideias,
comunicando o mérito que identificar nelas. Se ele não apresentar ideias, ela
poderá propor uma agenda viável e condizente com a autonomia de ambos:
Não pretendo fechar nenhum acordo hoje. Estou mais interessada em
explorar opções que atendam aos seus interesses e aos nossos. Então, que tal
você ler a versão que trouxemos para identificar pontos de discussão?
Podemos incluir ou retirar os itens que você apontar. Depois, durante a
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RESUMO
Todos desejam ter um nível adequado de autonomia. Quando alguém restringe
nossa autonomia — intencionalmente ou não —, tendemos a sentir emoções
negativas. Quando nossa autonomia é respeitada, tendemos a nos sentir
conectados. Ao negociar, tome a iniciativa:
Amplie sua autonomia. Com autoridade ou não, você sempre pode fazer
recomendações e sugerir a definição de opções antes de decidir. O
brainstorming em grupo é um processo prático que visa a criação de
opções mutuamente benéficas.
Evite restringir a autonomia da outra pessoa. Antes de decidir, você
pode consultar um colega e os interessados invisíveis. Para determinar
a autoridade da tomada de decisão, você pode trabalhar com seus
colegas para implementar o sistema de baldes ICN: quais questões você
deve decidir sozinho? Consultar antes de decidir? Negociar? Ao
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CAPÍTULO 6
Reconheça o Status
Valorize as Posições de Destaque Quando Merecidas
U
m homem de meia-idade deu entrada em um hospital, reclamando de
dores no peito. O médico determinou que o paciente só corria um leve
risco de ataque cardíaco, então o levaram ao centro de cuidados básicos
e conectado a um monitor cardíaco. Uma enfermeira acompanhou o aparelho
durante a noite.
De manhã, um jovem médico entrou no quarto, conferiu o histórico do
paciente e conversou com ele por alguns minutos. A enfermeira lhe disse:
“Observei ritmos cardíacos incomuns por volta da meia-noite. Talvez seja o caso
de mandá-lo para a unidade de terapia intensiva.”
“O paciente disse que se sente melhor esta manhã”, respondeu o médico. “E
eu não vejo nenhum motivo para mandá-lo para a UTI por causa de alguns
ritmos incomuns.”
“Mas, doutor, eu recomendo…”
“Quantos pacientes com problemas cardíacos você já tratou?”, o médico
perguntou. “Examinei o paciente, dei o diagnóstico e defini o plano de
tratamento. Agora, você pode preencher os formulários.”
A enfermeira ficou em silêncio. Ela se sentiu constrangida por ter
comunicado informações aparentemente pouco úteis e se irritou com o desdém
do médico por sua sugestão. Quando o médico já estava de saída, ela lembrou
que, no meio da noite, o paciente sentira uma forte dor no peito que chegava até
o braço, mas decidiu que não adiantava contar isso ao médico. Ele já havia
tomado sua decisão.
No final das contas, o médico insistiu no seu diagnóstico, e a enfermeira não
disse mais nada. Horas depois, o paciente sofreu uma parada cardíaca
fulminante, e a equipe de ressuscitação demorou dez minutos para chegar à
enfermaria. O paciente sobreviveu, mas passou a depender de aparelhos para
sobreviver.
Por que essa breve interação teve um resultado tão ruim? O status, um dos
principais interesses, oferece uma resposta. O status indica a nossa posição em
relação à posição das outras pessoas. Quando nosso status é minimizado, às
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Educação;
Informática;
Experiência empresarial;
Habilidades técnicas;
Raciocínio estrutural;
Habilidade gastronômicas;
Conexões;
Posição moral;
Habilidades sociais;
Experiência de vida;
Insight emocional;
Diferentes habilidades profissionais;
Força;
Habilidades atléticas.
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paciência ou seu senso de humor. Lembre-se de que você pode obter mais
status a cada interação se aprender com a experiência.
Depois de uma negociação difícil, aproveite suas conquistas e analise as
lições que aprendeu. Orgulhe-se do status obtido nos campos substantivos
dominados e do status social eventualmente acumulado. Aprecie suas ações e
restaure seu ânimo ao exercer atividades que confirmem seu status, como
praticar um esporte com um colega e cozinhar com seus amigos.
No entanto, às vezes, a outra parte diz ou faz algo que reduz indevidamente
seu status. Nesse caso, é importante que suas áreas de status elevado sejam
compreendidas pelas outras pessoas para que você não se sinta rebaixado nem
desanimado. Para isso, defina sua função.
Vamos conferir o exemplo de uma jovem advogada em sua reunião com um
dos sócios seniores de outra firma. Ela chegou alguns minutos mais cedo à sala
de reuniões e encontrou um sócio sênior de uma das partes sentado à mesa
principal, lendo suas anotações. Sem olhar para ela, ele disse: “Senhorita, você
pode me trazer uma xícara de café? Preto, sem creme nem açúcar.”
A jovem advogada corou. Uma enchente de perguntas inundou sua mente.
“Será que basta lhe dizer que não sou secretária? Ou devo explicar que, hoje em
dia, há muitas advogadas no mercado? Ou devo pegar a xícara de café para só
depois o repreender pelo erro?” Ela não queria que ele ficasse constrangido se
estivesse errado, mas também não queria parecer fraca nem banana. Ela
respondeu:
Peço desculpas por não ter me apresentado. [Ela demonstra cortesia ao supor
que teria sido confundida sem querer com a secretária pelo sócio sênior.] Sou
Sarah Jones, advogada da firma Smyth, Wilcox e Adams. [Ela define sua
função.] Como já estamos aqui, podemos conversar sobre o tema de que
trataremos esta manhã. [Ela estabelece seu comportamento profissional na
função.] Em todo caso, primeiro pegarei café para nós. Os donuts estão ali,
fique à vontade. E, se pegar um para você, pegue outro para mim também.
[Ela indica que eles compartilham um status como colegas que colaboram
para lidar com as questões que se apresentam.]
A jovem advogada assumiu a responsabilidade pelo lapso na identificação,
fez sua apresentação e se dispôs a pegar café para ambos. Em vez de marcar
pontos, ela demonstrou profissionalismo e companheirismo ao sugerir que,
como ambos já estavam lá, poderiam trocar ideias sobre a negociação. Além
disso, ela indicou seu status compartilhado pedindo que ele cuidasse dos donuts
enquanto ela pegava café.
É importante ressaltar que a questão emocional pode estar relacionada com
o status social ou um status específico, mas raramente ou nunca é uma boa ideia
tentar se destacar jogando contra os outros. Defina sua função para as outras
pessoas e atue profissionalmente. Em vez de competir por status, respeite o
status dos outros e comunique o seu.
Tome Cuidado com o Transbordamento de Status
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Você pode responder: “Obrigado, sem dúvida, vou pensar nisso. Mas você
pode me ajudar a explorar outras opções, de acordo com meus interesses.
Queremos um carro seguro, com espaço suficiente para equipamentos de
camping e econômico. Quais são as alternativas?”
Ao reconhecer o status específico do outro negociador, você pode mudar a
autopercepção dele, trocando um adversário disposto a tudo por uma venda
por um especialista de status elevado que colabora para definir a decisão que
melhor atenderá aos interesses nos quais você é o especialista.
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DE VOLTA AO HOSPITAL
Agora, vamos rever o caso do hospital, citado no início do capítulo. O clima ficou
tenso entre a enfermeira e o médico, e o paciente sofreu uma parada cardíaca
fulminante. O que deu errado? Que orientação podemos dar à enfermeira, ao
médico e à administração do hospital?
Orientação à Enfermeira
A interação começou com o pé direito. A enfermeira comunicou ao médico as
observações que fizera na noite anterior. Quando ele questionou seu domínio
sobre a área (“Quantos pacientes com problemas cardíacos você já tratou?”), ela
aceitou a avaliação dele. Mas, por se sentir irritada e inútil, a enfermeira decidiu
não fornecer mais informações ao médico.
A cultura hospitalar oferece aos médicos um status social elevado, mas a
enfermeira não percebeu que, em várias áreas importantes de status específico,
ela superava o médico. Em vez de se conformar estritamente com a situação, ela
poderia fazer uma reflexão a fim de determinar essas áreas de excelência
pessoal. Por exemplo, ela já trabalhava no hospital havia mais de vinte anos, o
que lhe atribuía um status específico associado à experiência de identificar
sintomas em pacientes. Além disso, ela passou um tempo razoável conversando
com o paciente em questão, observando seu monitor cardíaco e examinando
seu histórico; foi assim que ela obteve um status específico associado ao
conhecimento individualizado da saúde física e mental do paciente.
Ela poderia ter reconhecido que essas áreas de status são importantes — e
extremamente relevantes — para as demandas específicas do paciente. Ela
adquiriu informações que precisavam ser comunicadas e tinha a obrigação de
comunicá-las devido à sua função. Ela não deveria ter deixado o status social do
médico intimidá-la a ponto de reter informações relevantes, e poderia ter dito:
“Doutor, antes do seu diagnóstico, preciso transmitir algumas informações
importantes. Não podemos ignorar esses dados.”
Para mitigar sua irritação, ela poderia ter se colocado no lugar do médico.
Provavelmente, seu status social elevado encobria a insegurança típica de um
jovem médico, novo naquele setor e recém-saído da faculdade de medicina. Essa
noção poderia ter impedido que as possíveis inseguranças dele alterassem o
humor da enfermeira. Em vez de sentir raiva do médico, ela poderia ter
demonstrado compaixão por seus lapsos pessoais.
Orientação ao Médico
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O ofício do médico não é fácil. Ele tem que estar em dez lugares ao mesmo
tempo, e os pacientes e a equipe o procuram sempre para obter decisões
inteligentes e bem informadas. Como era novo no hospital, o médico
provavelmente queria criar uma reputação de competente e ser respeitado. Mas
sua idade, cerca de metade da idade dos muitos médicos e enfermeiras do local,
não facilitava isso.
O médico esteve com o paciente por alguns minutos, leu seu histórico e
concluiu que o problema cardíaco dele não era grave. Ele ficou irritado quando
a enfermeira sugeriu a opção de encaminhar o paciente para a unidade de
terapia intensiva. Provavelmente, ele se sentiu diminuído com esse comentário,
achando que a enfermeira estava tentando demonstrar sua competência
superior em situações como essas.
No entanto, ele errou ao supor que era “infalível” devido ao seu alto status
social. Esse é um caso clássico de transbordamento de status. Em vez de
perceber o alto status específico da enfermeira para lidar com o problema
cardíaco do paciente, ele agiu como se fosse superior em todos os aspectos, não
a escutou nem fez boas perguntas. Além disso, ele presumiu incorretamente que
conhecia todos os fatos importantes relacionados à saúde do paciente.
Compreensivelmente, o médico também estava muito ocupado, mas os 30
segundos necessários para escutar a enfermeira poderiam ter evitado o ataque
cardíaco do paciente.
No futuro, o médico seria mais inteligente ao reconhecer que seu ofício exige
uma relação de colaboração com as enfermeiras. Não se trata de uma
competição por status, mas de uma associação entre colaboradores para ajudar
os pacientes. Em vez de atribuir uma função servil à enfermeira, ele deve
reconhecer suas importantes áreas de status específico. Não é necessário
rebaixá-la. De fato, ao apreciar a perspectiva dela, ele pode construir uma
ligação, melhorar a comunicação e incrementar o tratamento do paciente.
Orientação aos Administradores do Hospital
Em um nível mais amplo, uma hierarquia de status social muito arraigada no
sistema hospitalar exige uma intervenção de grande escala. Um pequeno grupo
de funcionários (talvez uma combinação de administradores, médicos,
enfermeiros e outros membros da instituição) pode desenvolver e promover
políticas que orientem os serviços para o paciente, ajudando a equipe a
reconhecer o interesse compartilhado mais importante no hospital: melhorar o
bem-estar do paciente. Com reuniões frequentes e a valorização dos diferentes
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status específicos dos indivíduos, a equipe médica pode obter mais conquistas
do que com a cultura de intimidação.
RESUMO
Você não precisa competir por medalhas e elogios para provar que é um bom
negociador e uma pessoa digna. Seu status social pode ser inferior ao de uma
estrela de cinema ou de um CEO, mas você tem muitas áreas de status
específicos superiores. Descobrir seus pontos fortes pode demorar um pouco,
mas eles existem em todos nós. Com um pouco de preparação, você poderá
identificar e aperfeiçoar suas áreas de alto status social e específico e
desenvolver novas áreas a fim de promover negociações com mais confiança.
Como cada indivíduo tem várias áreas de status elevado, ninguém precisa
competir por status. Aprecie o status elevado dos outros quando ele for
relevante e merecido e tenha orgulho das suas áreas de conhecimento e
conquistas. Brigar por aprovação exige muita audácia, mas ficar satisfeito com
quem você é e valorizar suas contribuições para a negociação demandam tanta
audácia quanto. Se você apreciar honestamente seu status, não se preocupará
com o que os outros pensam de você. Por outro lado, não custa nada reconhecer
o status das outras pessoas. E, se você tratá-las com o devido respeito, elas
geralmente o respeitarão.
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CAPÍTULO 7
T
odos querem exercer uma função pessoalmente gratificante. Não
queremos passar dias e noites desempenhando papéis falsos nem
tentando ser algo que não somos. Em uma negociação, desempenhar um
papel insatisfatório pode causar ressentimento, raiva e frustração.
Essa era a situação de “Ryan” quando pediu orientações a Dan sobre como
negociar sua próxima avaliação de desempenho. Ele explicou que havia se dado
mal na sua última avaliação:
Eu estava nervoso quando entrei na sala do chefe para fazer a avaliação de
desempenho. Meu bônus anual depende de uma boa avaliação, mas tenho
pavio curto.
“Sente-se”, o chefe disse, apontando para uma cadeira do outro lado da
mesa.
Tentei determinar se o chefe estava de bom ou mau humor, porque essa
informação indicaria se a reunião seria fácil ou complexa. Sua expressão
parecia sombria e séria, o que não era nada bom.
Então, ele disse: “Obviamente, nesta reunião, vamos tratar da sua
avaliação de desempenho. De modo geral, sua performance nos últimos 12
meses foi aceitável. Alguns aspectos podem melhorar, mas vamos começar
com as boas notícias…”
Ele listou vários pontos positivos da minha trajetória no ano passado, mas,
sinceramente, não escutei nada. Eu queria mesmo era saber dos aspectos
que poderiam “melhorar”.
Só me sentei quando ele começou a falar sobre esse tópico. A partir daí, o
clima ficou tenso.
“Para começar,” ele disse. “Adote um processo de trabalho melhor. Você
esqueceu de escrever um memorando no mês passado para o nosso
principal cliente. Por sorte, não o perdemos.”
“Mas escrever o memorando não era minha responsabilidade”, eu disse.
“Além disso, enviei pelo menos dez memorandos antes do prazo.”
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Por um lado, claro, você está no palco. Você está desempenhando o papel de
si mesmo, mas essa função não é uma simulação. É para valer. É você quem está
ali, sem se passar por outra pessoa.
Roger e Dan exercem muitas funções, como professores, maridos, autores,
colegas, proprietários e negociadores. Em cada um desses papéis, eles são quem
eles são e não personagens em uma peça. Eles adaptam cada função para afastar
todo constrangimento e passar a ter orgulho delas. Não estão interessados em
ficar satisfeitos com sua performance dramática, mas com a realidade do que
fazem e do que já fizeram. Eles querem exercer funções gratificantes.
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Acadêmico Enfermeira
Ator Pai/Mãe
Analista Político
Chef Recrutador
Filho Cientista
Cliente Vendedor
Médico Irmão
Executivo Aluno
Advogado Caminhoneiro
Gerente Autor
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subordinado, considere a opção de ter uma conversa para definir seus papéis e
as respectivas atividades deles.
Em caso de atritos com o outro negociador, você pode executar esse processo
pelo ângulo dele e definir alternativas para deixar seu papel mais gratificante.
Use sua imaginação e liste as atividades que ele deseja realizar. O que ele não
faz, mas talvez queira fazer? Quais atividades deixariam o papel dele mais
gratificante? Converse com ele sobre suas ideias, mas ofereça sugestões; evite
fazer críticas ou exigências.
Aprecie os Papéis Convencionais das Outras Pessoas
Um papel gratificante pode ocupar um lugar importante em nossas vidas. Nossa
identidade fica intimamente associada ao papel e a tudo o que ele traz — o
status, o poder, a associação. Perder esse papel às vezes parece uma mutilação.
Por isso, fazemos de tudo para evitar a frustração.
Vamos conferir o caso de John Moore, um empresário que tocava uma rede
de estações de rádio. Ele estava interessado em comprar uma estação e tinha
que negociar com os dois proprietários: um investidor e o gerente. O investidor
possuía dois terços da estação e concordara em vendê-la a um preço que John
considerara razoável, mas o gerente estava cobrando o mesmo valor pelo seu
terço da estação.
Roger soube desses fatos durante um almoço com John, quando perguntou ao
seu amigo se ele tinha algum problema de negociação em que Roger pudesse
ajudar.
ROGER: Por que o gerente quer tanto dinheiro?
JOHN:Não sei, acho que ele é só ganancioso. Existe uma solução para a
ganância?
ROGER: Ele é casado? Tem filhos?
JOHN:O que isso tem a ver? Sim, ele é casado. Na sala dele, há uma
fotografia da esposa com dois meninos — com idades para frequentar a
sétima e a oitava séries — vestidos com uniformes de futebol.
ROGER: O que a esposa dele faz?
JOHN:É sério isso? Bem, eu sei o que ela faz. Ela atua no conselho escolar.
Certa vez, quando eu estava na estação, ela ligou. Houve uma reunião do
conselho, e ele teve que ir para casa a fim de cuidar dos filhos.
ROGER: A cidade tem outras estações de rádio?
JOHN: Não.
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ROGER:Você o conhece, eu não. Talvez você tenha razão. Mas veja o que ele
acha de pegar um pouco de dinheiro agora e continuar como gerente e
dono de um quarto da estação.
Cerca de dez dias depois, John ligou para Roger: “Você não vai acreditar.
Ele adorou a ideia.”
Nessa situação, Roger considerou as questões financeiras em jogo e as
demandas pessoais do gerente. Ele fez perguntas para determinar como o
gerente percebia a situação e concluiu que o outro provavelmente não estava
preocupado só com dinheiro, mas também em manter suas funções
gratificantes.
Com a venda da estação, muitos papéis do gerente poderiam se tornar
insatisfatórios. Ele ainda seria um bom marido? (Sua esposa talvez ficasse
magoada com a decisão de sair de uma comunidade da qual ela participava
ativamente.) Um bom pai? (As crianças poderiam ficar irritadas e apreensivas
diante da possibilidade de estudar em uma nova escola, onde teriam que fazer
novos amigos.) Um bom gerente? (Ele administrara a estação de rádio durante
muitos anos, provavelmente considerava esse papel como parte da sua
identidade e lhe atribuía significado.) Um bom empreendedor? (Talvez ele
tivesse tido sentimentos conflitantes em relação à busca por uma nova estação e
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um novo investidor para ajudá-lo com a aquisição. Sua estação de rádio era
bem-sucedida, mas e se os novos empreendimentos fracassassem?)
O que parecia ganância para John era, para o gerente, um desejo de manter
seus papéis gratificantes como um bom marido, um bom pai, um bom gerente e
um bom empreendedor. Então, diante de uma oferta que considerava esses
fatores, não surpreende que o gerente tenha “adorado” a ideia.
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atuar como um acomodador. Com sua parceira ou seu parceiro, você pode
desempenhar o papel de solucionador de problemas.
Em geral, as pessoas dão pouca atenção aos papéis temporários, mesmo que
eles sejam os papéis mais acessíveis. Ninguém os atribui. Você pode optar por
exercê-los à vontade. Durante uma breve conversa, um gerente pode
desempenhar o papel temporário de solucionador de problemas, ouvinte,
conselheiro e defensor. Enquanto isso, o papel convencional dele permanece o
mesmo. A Tabela 10 indica alguns papéis temporários que você pode
desempenhar ao negociar.
TABELA 10
PAPÉIS TEMPORÁRIOS COMUNS
Orador Vítima
Ouvinte Agressor
Colaborador Colega
Acomodador Facilitador
Moderador Anfitrião
“Palhaço” Convidado
Aprendiz Avaliador
Defensor Assessor
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elaborar sua avaliação. Além disso, ele não escutou ativamente os comentários
positivos do chefe sobre seu trabalho. Mesmo que discordasse da avaliação,
Ryan poderia ter escutado e tentado compreender a perspectiva do chefe. Se o
chefe perceber que sua mensagem foi plenamente captada, ficará mais inclinado
a ouvir Ryan.
Após a reunião, Ryan poderia ter enviado uma carta ou e-mail breve para o
chefe apontando o que aprendeu no encontro, como as sugestões dele foram
úteis e o que estaria fazendo para mudar sua conduta. Ele também poderia
perguntar se o chefe estaria disposto a marcar sessões de feedback mais
frequentes. Essas medidas podem melhorar seu desempenho profissional e o
relacionamento dele com o chefe, que se sentiria apreciado por suas opiniões.
Associação
Ryan e o chefe interagiram como adversários. Ryan chegou à reunião em
guarda, preparado para a “surra” emocional do chefe. Suas defesas psicológicas
estavam ativadas, e ele estava pronto para qualquer “ataque” direcionado a ele
ou ao seu desempenho. O chefe também pareceu estar na defensiva quando
apontou os problemas para Ryan e se recusou a reconhecer o ponto de vista
dele. O comportamento de ambos foi mais bélico do que pedagógico e não
contribuiu para estabelecer um relacionamento positivo.
Teria sido melhor estabelecer um tom amistoso para que Ryan e o chefe
encarassem juntos o desafio de aumentar a eficiência da sua organização.
Ambos têm interesse em promover a missão da empresa. Em vez de rejeitar o
feedback negativo do chefe, Ryan pode reformular o comentário de modo que
consolide a associação entre eles. Quando o chefe diz que ele precisa de um
processo de trabalho melhor para lidar com os memorandos, Ryan pode
responder da seguinte forma:
É verdade que não terminei o memorando no prazo, mas não quero
negligenciar as demandas dos clientes. Estou tentando equilibrar minha vida
pessoal e profissional. Podemos conversar alguns minutos sobre alternativas
para que eu passe mais tempo com minha família e aumente minha
produtividade? Pensei em criar o hábito de verificar o correio de voz do
trabalho assim que chegasse em casa. Se surgisse algo urgente, eu poderia
cuidar da questão imediatamente. Posso conversar com a minha esposa para
definir a situação das crianças no caso de uma emergência profissional. Você
tem mais sugestões?
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Se fizesse sua lição de casa, Ryan poderia descobrir se o chefe tinha filhos ou
não. Se ele fosse viúvo e tivesse três filhos, Ryan poderia tentar estabelecer uma
conexão pessoal em torno das funções compartilhadas de pais e funcionários da
organização, perguntando: “Como você conseguiu criar três filhos e avançar na
carreira?” Mas ele só deve fazer essa pergunta se estiver sinceramente
interessado na resposta. Caso contrário, ele não construirá uma associação
autêntica. A maioria das pessoas percebe bem a diferença entre associação e
manipulação.
Autonomia
Ryan restringiu indevidamente sua autonomia durante a reunião. Ele definiu
que o feedback do chefe correspondia à “verdade”. Sempre que discordava do
feedback, Ryan vivenciava uma onda de emoções e gritava: “Eu não sou assim!”
Ryan se daria melhor se pensasse com mais autonomia. Ele poderia
considerar os comentários do chefe como propostas para reflexão com sua
esposa, seus colegas e, talvez em outro momento, com o próprio chefe. Em vez
de ficar na defensiva durante a reunião, ele poderia escutar o chefe de forma
mais objetiva. Depois, poderia decidir, no conforto da sua sala ou da sua casa, se
era esquecido, se precisava de um processo de trabalho melhor ou se o tempo
que dedicava à organização era insuficiente.
E se Ryan discordasse de alguns aspectos da avaliação do chefe? Ele tem
autonomia para escolher suas batalhas, mas não precisa afirmar essa
autonomia tratando de questões fúteis e sem nenhum impacto sobre seu futuro
na organização. (O problema do memorando é tão importante assim?) Se os
comentários do chefe forem significativos, Ryan poderá fazer perguntas para
obter mais informações e, em seguida, explicar sua perspectiva para o chefe.
Como é o chefe quem encaminha a avaliação para a organização, Ryan acha
que não tem nenhuma autonomia na reunião. Isso não é verdade. Ele tem
autonomia para sugerir ideias e transmitir informações sobre seu desempenho.
Antes da reunião, Ryan poderia elaborar um memorando descrevendo suas
áreas de melhor desempenho e os pontos em que precisa melhorar e
encaminhá-lo ao chefe. O memorando talvez alivie um pouco do estresse que
aflige o chefe devido à sua grande autonomia na avaliação. Ryan também tem a
liberdade de fazer algumas perguntas a fim de melhorar seu desempenho
profissional e determinar as orientações estratégicas da organização.
Status
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RESUMO
Em uma negociação, sempre temos que fazer algo, mas geralmente é você quem
define como executará suas tarefas. Você é livre para ampliar as atividades de
seu papel convencional. Em quase todos os papéis, há aspectos chatos,
monótonos, frustrantes e demorados. Defina seu papel de forma mais estrita,
limitando-o às suas obrigações ou às expectativas da outra pessoa. Por outro
lado, você também pode adaptar as atividades do seu papel. Além disso,
podemos escolher papéis temporários que consolidem nossas posições e
estimulem o trabalho em equipe.
Adaptar seu papel pode ser cansativo, mas não desista. Tente uma, duas
vezes. Com o tempo, você aprenderá a modificá-lo de acordo com seus critérios.
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III
Orientações Adicionais
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CAPÍTULO 8
Se estiver irritado, conte até dez antes de falar; se estiver furioso, comece a
xingar.MARK TWAIN
P
ara lidar com emoções, sempre recomendamos que você aja de modo
construtivo. Em vez de classificar as emoções, diagnosticar suas causas e
determinar o que fazer, as pessoas geralmente podem conter suas
emoções negativas com emoções positivas. Para isso, você precisa expressar
apreço, criar associação, respeitar a autonomia, reconhecer o status e escolher
papéis gratificantes.
No entanto, o comportamento das outras pessoas pode ser estimulado por
emoções fortes e negativas — como raiva, medo e frustração. Elas podem se
recusar a escutá-lo, parar de falar e sair da sala. As emoções fortes também
influenciam o seu comportamento. Você pode ficar irritado e ruminar as ações e
os comentários dos outros. Sem o devido cuidado, essas emoções muito
provavelmente se intensificarão e dificultarão a efetivação de um acordo
inteligente.
Não é difícil se deparar com emoções fortes, tanto positivas quanto negativas.
Então, cuide delas antes que essas emoções prejudiquem sua capacidade de
negociar.
UM BOM EXEMPLO
A rede nacional de fast-food “Burger Brothers” estava negociando com os donos
do “Super Sox”, um time bastante popular. Quase dois anos antes, “Sandra”,
advogada e coproprietária do time, e “Bill”, advogado da rede de fast-food,
haviam fechado um acordo comercial com a seguinte disposição:
A Burger Brothers concordou em pagar ao Super Sox US$20 milhões pelo
direito de usar o logotipo do time nos seus copos e embalagens de papel
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outra equipe fala mais alto ou olha para o outro lado, como se ela não tivesse
nenhuma importância. Ela fica cada vez mais irritada e preocupada com a falta
de reconhecimento do outro líder. Essa visão de túnel prejudica sua capacidade
de pensar claramente sobre as questões substantivas em jogo e de propor ideias
— uma perda para ela e para os outros negociadores.
Além disso, as emoções fortes aumentam sua vulnerabilidade e podem
dominá-lo. Quanto maior a intensidade das emoções, maior o risco de agir de
forma lamentável. Nesses casos, você tende a não pensar nas consequências do
seu comportamento, especialmente nos efeitos de longo prazo. Em um acesso
de raiva, por exemplo, você pode insultar seu companheiro ou companheira (e
acabar dormindo no sofá) ou abandonar uma reunião (frustrando seu chefe e
sua esperança daquela tão sonhada promoção).
Para piorar, as emoções se reforçam mutuamente. Sua raiva pode estimular a
raiva da outra pessoa, e a raiva dela pode ser facilmente assimilada por você. As
emoções fortes e negativas são como uma bola de neve: crescem à medida que
avançam. Mas, quando você lida com essas emoções — as suas e as dos outros
— logo no início, é mais fácil impedir que elas prejudiquem seu desempenho.
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Quando enfim relaxamos, temos que decidir o que fazer com as emoções
vivenciadas. As emoções fortes tendem a ser reativadas quando não
entendemos suas causas, mas às vezes é difícil descobrir a causa de uma
emoção. As emoções fortes e negativas nos informam quando um interesse não
foi atendido, mas não apontam para nenhum interesse específico. As emoções
tendem a perdurar até compreendermos sua mensagem. Só quando
entendemos essa informação — e sua relação com a situação atual — podemos
promover ações corretivas.
Pense nos Principais Interesses como Possíveis Estímulos
Uma emoção forte pode ter muitas causas. Ficamos frustrados com a ausência
de boas opções, com a fome, com a falta de sono e com a diferença
intransponível entre o dinheiro que podemos gastar em um item e o preço
exigido pelo vendedor.
Além disso, uma emoção forte geralmente é estimulada por um dos
principais interesses. Quando notar uma frustração despontando em você ou
em outra pessoa, faça uma rápida análise dos cinco principais interesses.
Responda às seguintes perguntas: “Essa emoção forte pode estar sendo
desencadeada por um dos principais interesses? Qual? Quais ações ou
comentários são prejudiciais a esse interesse?”
Faça Perguntas para Confirmar Suas Premissas
Mesmo que você tenha certeza sobre as causas das emoções fortes da outra
pessoa, questione suas premissas. Deixe suas anotações de lado por um
momento, olhe para ela e pergunte: “Você ficou chateado com algo que eu disse
ou fiz?”
Muitas vezes, achamos que sabemos a verdade sobre os sentimentos de uma
pessoa — mas, de fato, estamos redondamente enganados. Em um encontro da
sua turma, Roger ouviu de um colega de Harvard uma história que ilustra bem
as consequências de uma premissa equivocada:
Já passava da meia-noite quando minha esposa me acordou, reclamando de
uma dor aguda no lado direito do corpo. A área estava sensível, ela tinha
uma febre leve, e achei que se tratava de apendicite. Pelo telefone, acordei
um cirurgião conhecido, descrevi a situação e lhe pedi que nos encontrasse
no hospital.
Ao perceber quem eu era, ele disse para eu não me preocupar. “Sua esposa
deve tomar uma aspirina e voltar para a cama”, sugeriu.
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O médico tinha certeza de que não era apendicite. Eu lhe apontei minhas
preocupações e perguntei por que ele estava tão certo de que não se tratava
disso. Ele disse que estava totalmente desperto e a par da situação. Além
disso, afirmou que era ele o médico, não eu, e que todos devíamos voltar
para a cama.
Ao pressioná-lo, descobri que a forte confiança do cirurgião se baseava em
uma premissa. Ele se lembrou de que havia retirado o apêndice da minha
esposa cinco ou seis anos antes. Por isso, ele disse: “Nenhuma mulher tem
um segundo apêndice.”
Eu lhe disse que isso era verdade, mas que alguns homens tinham uma
segunda esposa. Então, que tal se ele nos encontrasse no hospital?
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sentem cada vez mais no direito de se sentirem frustrados. Esse processo pode
facilmente levar a uma explosão de emoções.
Priorize a compreensão e não a acusação. Conforme suas emoções se
intensificam, admita sua vontade de culpar alguém por esse turbilhão
emocional. Você pode murmurar para um colega: “A culpa é sua por não termos
encaminhado a proposta no prazo!” Ou você se culpa: “Como eu pude ser tão
burro a ponto de não ter checado o envio da proposta no prazo?”
Em todo caso, jogar a culpa nos outros não ajuda em nada. Normalmente, isso
leva a um ciclo descendente de desculpas, críticas e emoções negativas.
Como alternativa, tente entender a “mensagem” implícita nas suas emoções,
o que pode ser difícil quando você está muito agitado (nesse caso, primeiro
relaxe). Mas, se estiver em condições, analise os principais interesses que
podem ter estimulado essas emoções. Talvez você se sinta um pouco melhor ao
compreender a causa da sua frustração ou a dos outros. No mínimo, você
determinará seu incômodo e poderá adotar uma ação corretiva.
Vamos conferir como Louise se sai ao aplicar essa recomendação. Antes de
John chegar, ela dedica alguns minutos a compreender seus sentimentos fortes
e negativos e conclui que sua autonomia foi restringida por aquela série de
atrasos sem nenhuma explicação prévia. Ela fica animada com essa
compreensão e percebe um certo alívio na tensão. Quando John chega, ela
expressa claramente suas preocupações. Em vez de reclamar (“Você é um
irresponsável! Não trouxe as crianças no horário combinado!”), ela diz: “Estou
chateada. Para mim, havíamos combinado o horário de retorno das crianças. Eu
me enganei? Saí mais cedo de uma reunião só para estar aqui na hora marcada.”
Depois de ouvi-lo, ela resolve obter mais informações e pergunta: “Como você
percebe a situação? Você tem alguma sugestão para reduzir a ocorrência de
incômodos desse tipo?”
Ainda assim, há momentos em que as emoções são tão intensas que todos os
conselhos racionais do mundo parecem inúteis. Nesses casos, você só quer
desabafar. Faça isso, mas recomendamos cautela.
Ao desabafar, tenha cuidado para não criar mais justificativas para a sua
raiva. Quando conversar com alguém sobre suas emoções fortes e negativas,
reconheça que você se arrisca a criar novas justificativas para a sua raiva.
Talvez seu interlocutor não ache os motivos da sua frustração razoáveis, mas
você provavelmente sustentará suas motivações. Quanto mais você justificar
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para me ouvir? Quero a sua opinião, pois acho que não estou percebendo muito
bem a situação.”
Desabafe como se estivesse do outro lado. Ao desabafar consigo mesmo ou
com um colega próximo, tenha cuidado para não piorar a situação. Nesses casos,
é uma boa ideia desabafar como se você estivesse no outro lado. O que o outro
negociador diria? Como ele descreveria o conflito? Ao desabafar colocando-se
no lugar do outro, você passa a compreender melhor a perspectiva do seu
interlocutor e, consequentemente, aplaca alguns dos seus sentimentos mais
fortes.
Escreva uma carta para a pessoa que o irritou, mas não a envie. Às vezes,
é impossível ou inviável recorrer ao auxílio de terceiros para lidar com nossas
emoções fortes, mas você pode abordar suas emoções sozinho. Após a
negociação ou durante uma pausa, uma boa opção é escrever uma carta ou e-
mail para a pessoa que, em sua opinião, o magoou. Descreva o impacto do
comportamento dela sobre você e inclua uma seção com alternativas para
avançar na negociação. Mas não envie a carta imediatamente — tire um ou dois
dias para pensar e determinar se enviá-la será vantajoso para os seus
propósitos na negociação. Você também pode compartilhar a carta e sua
experiência com um colega de confiança e pedir a opinião dele sobre o tema.
Propósito 2: Informar às Outras Pessoas a Respeito do Impacto
do Comportamento Delas sobre Você
Comunicar para a outra pessoa o impacto emocional das ações dela sobre você é
outro propósito da expressão das emoções fortes. Os comentários e ações do
outro negociador podem causar um impacto poderoso em suas emoções. Por
outro lado, ele pode demonstrar um maior apreço pela sua experiência
emocional se for informado claramente a respeito do efeito do comportamento
dele sobre você.
Confira este exemplo: um médico de meia-idade foi indicado para atuar como
supervisor de uma jovem estudante de medicina. Durante as reuniões de rotina
do hospital, ele testava os conhecimentos dela em anatomia. Quando ela errava,
ele tinha uma resposta sarcástica: “Estude mais!” Ela se sentia perseguida e
humilhada com os comentários do médico. Mas, em vez de presumir que as
intenções dele eram péssimas e desabafar, ela marcou uma reunião particular
com ele e calmamente o informou sobre o impacto dos comentários dele sobre
ela:
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irritado comigo, talvez ela aprecie melhor a minha situação. Posso descrever
alguns lapsos do Super Sox em relação aos seus compromissos de publicidade
junto à Burger Brothers. Também posso dizer a ela: “Eu disse ao meu chefe que
você é uma ótima parceira profissional. Ele concordou em dar prosseguimento
aos negócios com base nessa minha recomendação. Não gostei do que está
acontecendo. Fiquei constrangido.”
Meu propósito é influenciar o Super Sox? Sim. Quero expressar minhas
emoções com intensidade suficiente para comunicar à Sandra que a situação
deve ser abordada. O Super Sox deve melhorar sua atuação na campanha de
publicidade e, se for o caso, lidar com os lapsos organizacionais causaram o
problema.
Meu propósito é consolidar o relacionamento? Sim. Tenho uma grande
admiração pela Sandra nos níveis profissional e pessoal. Já trabalhamos bem no
passad e nosso relacionamento pode melhorar se eu tratá-la com respeito e
colaborar com ela para incrementar nosso desempenho. Resolveremos
diferenças críticas como bons amigos.
Baixando sua temperatura emocional. Dez minutos antes de encontrar
Sandra, Bill identifica um aumento na sua temperatura emocional, que se
aproxima do ponto de risco. Suas mãos estão suadas, e ele não está conseguindo
se concentrar porque está ansioso. Como planejado, ele respira três vezes, lenta
e profundamente, e se sente mais equilibrado depois disso.
Bill agora está pronto para a montanha-russa emocional da reunião. Ele sabe
o que fazer se as emoções dele ou as de Sandra dispararem e já determinou o
propósito de expressar suas emoções fortes. Sua preparação o ajudará na
reunião e aumentará sua confiança.
Conselhos para Sandra, Coproprietária do Super Sox
A orientação mais importante para Sandra é se preparar. Ela não sabe que está
prestes a entrar em um campo minado. Uma boa preparação pode protegê-la de
eventuais danos — e talvez ela até se dê bem na negociação.
Como coproprietária do Super Sox, Sandra tem a agenda cheia. Mas ela
identifica os pontos importantes que serão tratados na negociação com Bill e
dedica meia hora a se preparar para a ocasião. Ela passa 15 minutos analisando
os Sete Elementos da Negociação (veja no Capítulo de Conclusão) e sua
aplicação à situação atual. Os outros 15 minutos são destinados à preparação
para as emoções que poderão surgir durante o encontro.
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RESUMO
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CAPÍTULO 9
A Preparação
Prepare Seu Processo, Seu Conteúdo e Suas Emoções
U
m dia, por acaso, Roger percebeu que estava ao lado de um ex-aluno em
um voo de Nova York para Boston. Ele não se conteve e perguntou o
que advogado recordava do workshop de negociação de que
participara anos atrás. Depois de pensar um pouco, o ex-aluno disse que havia
aprendido e ainda se lembrava de três lições importantes:
Prepare-se.
Prepare-se.
Prepare-se.
Ele fora um bom aluno. Comumente, não otimizamos nossos pensamentos e
emoções por falta de preparação.
Há duas explicações básicas para a má preparação dos negociadores, até
mesmo dos mais experientes. Primeiro, às vezes eles não se preparam para a
negociação de forma estruturada. Eles partem da premissa de que a preparação
implica na leitura dos documentos pertinentes e na definição da reunião e do
valor que será exigido ou oferecido. No entanto, dominar o aspecto documental
da questão não é suficiente para preparar o negociador em seus objetivos de
estabelecer um processo de negociação eficiente, determinar os interesses dos
envolvidos e lidar com as emoções deles.
Segundo, os negociadores geralmente não dispõem de uma rotina para
aprender com as negociações anteriores. É difícil romper com velhos hábitos.
Ao negociar com um chefe, colega ou cônjuge, os negociadores tendem a
reproduzir comportamentos inúteis que provocam emoções problemáticas em
si mesmos e nas outras pessoas. Alguns negociadores chegam à reunião aflitos e
ansiosos; outros, excessivamente confiantes. Alguns negociadores se retraem
diante de uma rejeição; outros se retiram da sala. Em todo caso, os
negociadores não costumam aprender com as interações nem aplicar as lições
obtidas. O negociador raramente assume a culpa por uma reunião ruim; em vez
disso, ele atribui os maus resultados ao outro lado.
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1. Relacionamento. Como percebemos a relação entre os negociadores? Eles são adversários ou colegas?
Como gostaríamos que fosse esse relacionamento? Que medidas podemos adotar para melhorar esse
relacionamento? Devemos nos sentar lado a lado? Usar a mesma linguagem? Como podemos criar uma
ligação e estimular a receptividade?
2. Comunicação. Estamos escutando nossos interlocutores? Quais são seus principais pontos? Que pontos
devemos comunicar?
3. Interesses. Quais são, em ordem de importância, nossos interesses? Quais são os principais interesses do
outro lado? Quais dos nossos interesses são compatíveis com os deles? Quais dos nossos interesses são
antagônicos?
4. Opções. Quais possíveis pontos de convergência são aceitáveis para os dois lados?
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5. Critérios de justiça. Quais precedentes ou outros padrões de legitimidade podem persuadir todos os
envolvidos?
6. MAAN (Melhor Alternativa a um Acordo Negociado). Se não fecharmos um acordo com os outros
negociadores, o que faremos? Se eles não quiserem estabelecer nenhum compromisso, qual é a melhor
alternativa de evasão ao alcance deles?
7. Compromissos. Quais são os melhores compromissos que podemos negociar com o outro lado de forma
realista? Que compromissos estamos preparados para assumir a fim de chegar a um acordo? Formule
possíveis compromissos para cada lado.
Certa vez, quando ainda atuava como advogado, o juiz distrital federal
Gerhard Gesell comunicou aos seus associados mais novos que a firma havia
sido contratada para orientar o autor em uma ação antitruste. Eles deveriam
passar uma semana na biblioteca, pesquisando os precedentes e preparando a
argumentação do cliente.
Na semana seguinte, os jovens advogados voltaram, contentes e otimistas, e
disseram a Gesell que o caso era muito importante, que o autor tinha bons
argumentos a seu favor e que eles certamente ganhariam a ação.
Depois de ouvir um resumo dos bons argumentos a favor do autor, Gesell
disse a verdade aos advogados: de fato, a firma fora contratada pelo réu. Eles
não acreditaram e afirmaram que o caso do réu era terrível. Gesell lhes disse
para não se preocuparem. Logo eles constatariam que o caso do réu era
excelente, mas primeiro tinham que compreender a força das alegações do
autor.
Com isso em mente, eles começaram a trabalhar em prol do réu, que acabou
ganhando: os argumentos dos advogados foram potencializados pela sua
compreensão plena acerca dos méritos do caso apresentado pelo autor.
Por último, uma excelente atividade de preparação é escrever um
comunicado para os outros negociadores divulgarem aos apoiadores deles caso
aceitem as suas sugestões. Em geral, essa atividade indica quando nossas
exigências são inviáveis e destaca a importância do principal interesse
relacionado à associação do nosso interlocutor com seus apoiadores.
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1. Apreço
Você se sentiu compreendido, ouvido e valorizado pelo seu ponto de
vista?
O outro negociador se sentiu apreciado?
2. Associação
Você foi tratado como colega ou como adversário?
Na sua opinião, o outro negociador se sentiu tratado como um colega?
3. Autonomia
Você acha que sua autonomia foi restringida?
Na sua opinião, o outro negociador achou que a autonomia dele foi
respeitada?
4. Status
Você acha que o outro negociador respeitou seu status nas áreas
merecidas?
Você respeitou o status dele?
5. Função
Você está contente com as atividades que realizou ao exercer sua
função?
Você exerceu funções temporárias gratificantes e eficientes?
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RESUMO
A preparação melhora o clima emocional da negociação. Quando está bem
preparado, o negociador chega à reunião confiante em relação às questões
substantivas e ao processo e sabe como despertar emoções positivas nas
partes envolvidas.
Uma preparação eficiente abrange duas importantes atividades:
Criar um roteiro para a preparação. Você deve se preparar para
lidar com o processo, com as questões substantivas (ou conteúdo)
e com as emoções dos envolvidos na negociação.
Aprender com as negociações anteriores. A experiência só será útil
se for convertida em conhecimento. Depois da negociação, analise
o processo, o conteúdo e as emoções que marcaram a interação.
Determine as ações eficientes das partes envolvidas e os aspectos
que podem melhorar no futuro.
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CAPÍTULO 10
T
omei posse como presidente do Equador no dia 10 de agosto de 1998,
depois de atuar durante seis anos como prefeito de Quito, a capital do
meu país.
Minha principal meta como candidato era reduzir os níveis de pobreza e
desigualdade naquele país andino de 12 milhões de habitantes, do tamanho do
estado de Nevada. Para isso, a estratégia consistia em reproduzir nacionalmente
a política que eu aplicara com sucesso quando era prefeito de Quito, uma cidade
com 1,2 milhão de habitantes. “Prometer projetos viáveis, cumprir as
promessas e ficar perto das pessoas” era a minha fórmula. Durante meu
mandato como prefeito, a revista Fortune colocara Quito entre as dez cidades
latino-americanas que mais haviam melhorado a qualidade de vida dos seus
cidadãos.
No entanto, quando assumi a presidência, a economia equatoriana estava
entrando na que seria — sem dúvida — sua pior crise econômica no século XX.
Na mesma época, especialistas dos setores políticos, militares e diplomáticos
previam um conflito armado iminente e, talvez inevitável, com o Peru.
A TEMPESTADE PERFEITA
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Quem já leu o livro A Tormenta, ou viu o filme baseado nele, compreenderá bem
a situação do Equador em 1998 e 1999. O filme mostra como, em outubro de
1991, uma combinação singular de três eventos meteorológicos de grandes
proporções causou a tempestade mais intensa já registrada até então. Um
furacão vindo do Caribe convergiu com duas frentes do Canadá e dos Grandes
Lagos no oceano Atlântico. A tripulação de um pequeno barco de pesca de
Gloucester, no Massachusetts, ficou à mercê dessa tempestade em alto-mar.
Vamos à analogia. Entre 1998 e 1999, o Equador encarou uma combinação
de efeitos nunca vista antes naquele século:
definitivo com o Peru para reduzir o orçamento militar, investir nossos escassos
recursos em infraestrutura social e direcionar nossas energias para o
crescimento e o desenvolvimento do país.
A SITUAÇÃO ATUAL
A longa, complexa e triste história de conflitos com o Peru era uma ferida aberta
para os equatorianos. Eles se sentiam aviltados, pois haviam perdido seus
territórios legítimos para um vizinho poderoso, que contava com o apoio da
comunidade internacional.
Este era o cenário quando tomei posse:
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pacífica para o conflito, o país estava preparado para se defender até as últimas
consequências, se necessário.
Pelo chanceler Ayala, fiquei sabendo que quase todas as questões
controversas já haviam sido resolvidas pelas duas delegações diplomáticas. Só
faltava lidar com a disputa territorial em torno de Tiwintza, que apenas os
presidentes podiam decidir. Era necessário realizar a etapa final do nível mais
elevado do processo diplomático — algo que a imprensa chamava de
“Diplomacia Presidencial”.
Liguei para o professor Roger Fisher na Harvard Law School e o convidei
para viajar até Quito a fim de analisar a situação, propor abordagens e elaborar
uma estratégia de negociação junto com a equipe do governo equatoriano.
Logo que Roger chegou a Quito, começamos a trabalhar em várias linhas de
ação. Junto com os ministros da defesa e das relações exteriores, analisamos
minuciosamente os fatos militares e diplomáticos disponíveis no momento.
Para que todos ficassem alinhados, Roger promoveu uma pequena palestra
sobre os já clássicos Sete Elementos da Negociação e suas respectivas técnicas
de aplicação para alguns membros do governo e da equipe de negociação.
Devido ao clima tenso, era improvável que houvesse uma reunião entre os
dois presidentes. Mas, diante da possibilidade de um encontro com o presidente
Fujimori, Roger e eu analisamos formas de estabelecer uma relação profissional
mais próxima.
Os primeiros dois ou três dias em um novo emprego costumam ser agitados,
e a presidência não é exceção. Nossas reuniões eram geralmente interrompidas
por eventos urgentes. Realizamos algumas sessões em horários e locais
inusitados. Lembro de receber Roger no gabinete entre dois compromissos e,
novamente, na sala de jantar do palácio presidencial depois das 23h da noite.
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O ACORDO
O povo do Equador foi informado durante todo o processo de negociação. Como
os avanços foram evidentes, um círculo virtuoso logo substituiu o vicioso
anterior. A negociação caiu no gosto popular e passou a integrar os objetivos
nacionais, aumentando a participação. Todos queriam fazer parte do processo e
expressar suas opiniões. Os objetivos comuns reforçaram a confiança. Os atores
políticos começaram a apoiar a causa, pois compreenderam que os benefícios
superavam os riscos associados à representação da sociedade mobilizada pela
paz. A convicção em torno da possibilidade de uma solução negociada
substituiu o pessimismo histórico. O apoio massivo de todos os setores da
sociedade impulsionou o plano de ação inicial do governo. Embora o processo
de paz não tenha estabilizado a economia, a ameaça de guerra deixou de
agravar a situação econômica.
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IV
Conclusão
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Conclusão
S
entimos emoções o tempo todo. No entanto, durante a negociação,
ficamos com a cabeça tão cheia que acabamos lhes dando pouca ou
nenhuma atenção. Nossos pensamentos nos sobrecarregam, e nossas
emoções ficam sem nenhuma supervisão.
A maioria dos negociadores trata as emoções como um obstáculo ao
raciocínio objetivo. Por isso, não percebem a oportunidade proporcionada pelas
emoções positivas. Embora a Declaração de Independência destaque a
importância da “busca da felicidade”, há bem pouco consenso em torno desse
princípio.
Em caso de divergências, como nossa interação pode estimular emoções
positivas em todos os envolvidos? Nesse contexto, nosso livro propõe duas
ações importantes:
Primeiro, tome a iniciativa. Se você discorda de alguém, não espere até as
emoções surgirem para reagir.
Segundo, trabalhe com o interesse, não com a emoção. Em vez de
determinar todas as emoções e suas possíveis causas, priorize cinco interesses
universais que podem despertar boas emoções nas outras pessoas e em si
mesmo. Os principais interesses são:
As ideias explicadas neste livro não agem por conta própria. Elas devem ser
compreendidas e colocadas em prática por um ser humano. Suas ações têm que
atender aos seus principais interesses e aos das outras pessoas. Expresse
apreço. Construa um senso de associação. Respeite a autonomia e o status dos
indivíduos. Adapte os papéis para deixá-los mais gratificantes.
Estamos certos de que a aplicação inteligente dos principais interesses
melhorará a qualidade dos seus relacionamentos profissionais e pessoais. Você
poderá converter uma interação estressante em uma negociação baseada no
diálogo bilateral, no qual todos escutam, aprendem e respeitam uns aos outros.
Assim, seus resultados serão melhores. E, em vez de gerar ressentimento, o
processo disseminará esperança.
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V
O Último Tópico
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E
m seus diagnósticos, os médicos identificam a origem dos sintomas nas
principais áreas do corpo do paciente. A causa está no sistema digestivo,
no sistema circulatório, no sistema respiratório, no sistema nervoso ou
no sistema ósseo? Da mesma forma, em seu diagnóstico dos erros mais comuns
nas negociações, o Harvard Negotiation Project identificou os sete elementos
que formam a anatomia básica da negociação. No quadro a seguir, esses
elementos aparecem em negrito na coluna da esquerda. Além disso, há
sugestões de perguntas para o diagnóstico na coluna do meio e algumas
recomendações na coluna da direita.
Esses sete elementos compõem a estrutura de todas as negociações,
incluindo a “negociação baseada em interesses”, o método descrito em Como
chegar ao sim: Como negociar acordos sem fazer concessões, escrito por Roger
Fisher, William Ury e Bruce Patton (Nova York: Penguin, 1991). O quadro a
seguir não é tão rico em conteúdo quanto em Como chegar ao sim, mas
esperamos que ele dê uma ideia do livro aos leitores e inspire aqueles que ainda
não o leram a encontrar tempo para isso.
OS SETE ELEMENTOS:A ANATOMIA DA NEGOCIAÇÃO
Elemento Perguntas de Diagnóstico Recomendações
Relacionamento Como os negociadores percebem uns aos Construa uma ligação e um bom
outros? relacionamento profissional com os demais
negociadores. Colabore.
Interesses Os negociadores estão fazendo exigências e Respeite os interesses das outras pessoas.
afirmando suas posições enquanto mantêm seus Analise e informe seus interesses. (Você não
interesses reais em segredo? precisa revelar o valor que atribui aos seus
objetivos.)
Opções A negociação parece um jogo de soma zero em Sem assumir compromissos, promova debates
que cada lado precisa escolher entre ganhar ou criativos para definir formas de atender aos
perder? interesses legítimos de todos os envolvidos.
Legitimidade Ninguém liga para a justiça no processo? Os Pesquise e aplique padrões externos de
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negociadores estão barganhando com base no equidade que sejam persuasivos para todos os
que estão dispostos ou não a fazer? envolvidos.
MAAN (Melhor Os negociadores estão trocando ameaças sem Analise sua alternativa de evasão e a dos
Alternativa a um saber o que farão se não chegarem a nenhum outros negociadores. Admita que qualquer
Acordo acordo? acordo é melhor para todos do que sair da
Negociado) negociação de mãos abanando.
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Glossário
“Quando uso uma palavra”, Humpty Dumpty disse, em um tom um tanto quanto
desdenhoso, “ela significa exatamente o que eu quero que ela signifique — nem mais
nem menos”.
“A questão é”, Alice disse, “se você pode tirar tantos significados das palavras
assim”.
“A questão é”, Humpty Dumpty disse, “tirar o mais importante — só isso”.
—ALICE ATRAVÉS DO ESPELHO,LEWIS CARROLL
E
xistem literalmente centenas de definições para palavras como emoção
sugeridas por estudiosos. O pequeno glossário a seguir estabelece o
significado dos principais termos citados neste livro. Ele contém seções
— uma para as emoções, outra para os principais interesses.
junho•2021
Clube SPA
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