A Biodiversidade Explicada em 8 Pontos - 230821 - 075853
A Biodiversidade Explicada em 8 Pontos - 230821 - 075853
A Biodiversidade Explicada em 8 Pontos - 230821 - 075853
Thomas Lewinsohn
1. O que é biodiversidade?
- Qual é a região considerada: pode ser um ecossistema local (uma mata, um campo ou
rio); uma divisão política (um município, estado ou país); uma região ecológica, como um
bioma (como a Amazônia ou a Caatinga); ou uma região geográfica, como um continente
ou oceano.
Sim, o Brasil se destaca entre todos os países pela sua biodiversidade6. Um índice
comparativo entre países, bem conhecido, é baseado em grandes grupos bem
documentados (plantas, vertebrados terrestres e alguns invertebrados). Em cada grupo,
considera-se o total de espécies conhecidas, junto com a proporção de espécies exclusivas
do país (endêmicas). O Brasil lidera este ranqueamento dos países chamados de
megadiversos, com 48 pontos, seguido pela Indonésia (40) e Colômbia (36).
O inventário oficial brasileiro de plantas vasculares (musgos, samambaias e plantas
com sementes) é hoje de 37,7 mil espécies, ou 11% da flora mundial. Nenhum outro país
se aproxima dessa diversidade de plantas. A Colômbia e o México detêm cerca de 7% da
flora mundial cada um. O Brasil tem também o maior número de espécies de mamíferos
(722, 11,3% do total mundial conhecido), aves (1.924, 17,2% do mundo) e peixes de água
doce (3.467, 23,2% do mundo), entre outros grupos de organismos.
Outros países se destacam no número ou na proporção de espécies endêmicas. Por
exemplo, para os répteis, a Austrália tem a maior diversidade total (1.153 espécies, 11% do
mundo), das quais mais de 80% são endêmicas naquele país. Em Madagascar, 99% das
176 espécies de besouros cicindelídeos são endêmicas.
No mar, há maior dificuldade de delimitar politicamente os limites nacionais.
Colômbia, México e países da América Central defrontam tanto o Oceano Atlântico como o
Pacífico, e com isso têm potencialmente maior diversidade marinha que o Brasil.
O Brasil tem ainda hoje grandes extensões de biomas relativamente conservadas, e
muitas dessas áreas nunca foram exploradas por cientistas. Por isso, podemos afirmar com
segurança que a pesquisa futura só tenderá a destacar ainda mais o Brasil na
biodiversidade do planeta.
8. Que outros modos, além do número de espécies, devem ser usados para avaliar a
biodiversidade?
No início, indicamos que, por uma opção de enfoque, neste texto não examinamos
a diversidade genética (em cada espécie) nem a diversidade de ecossistemas e regiões.
São modos igualmente importantes de avaliar a biodiversidade e que respondem a outras
questões.
A contagem pura e simples de espécies é uma medida indispensável de
biodiversidade, mas tem limitações significativas. Antes de mais nada, essa medida dá o
mesmo valor (ou peso) a qualquer espécie do grupo que avaliamos. Em uma lista de
espécies de aves, o pardal e a arara-azul-de lear (uma das espécies brasileiras endêmicas
criticamente ameaçadas de extinção) contribuiriam igualmente para a biodiversidade. Se a
avaliação tiver o objetivo de estabelecer prioridades para a conservação de espécies, é
necessário introduzir outro critério, no caso, o risco de extinção (ou o valor de conservação)
de cada espécie.
Outros dois critérios são importantes e devem ser mencionados. Primeiro, cada
espécie tem uma posição na árvore de evolução da vida. Duas espécies podem estar mais
próximas ou distantes nessa árvore evolutiva. A diversidade filogenética agrega essas
distâncias ao número simples de espécies, sendo maior quanto maior for a separação
evolutiva entre as espécies. Como exemplo, no Equador, as comunidades de beija-flores
que vivem em florestas tropicais de baixa altitude têm maior diversidade filogenética que as
comunidades que vivem nas partes mais elevadas dos Andes. A diversidade filogenética é
um elemento importante para estratégias de conservação da biodiversidade. Ela também é
importante para avaliarmos o capital natural de um país, pois indica o estoque de
variabilidade genética e evolutiva, de onde podem surgir novos fármacos ou genes de
resistência para pragas agrícolas, por exemplo.
A diversidade funcional representa a variedade de características, em um grupo de
espécies, que influenciam, entre outros, a manutenção de ecossistemas e sua capacidade
de responder a alterações ambientais. Características funcionais de plantas incluem, por
exemplo, a capacidade de se recuperar após secas ou incêndios. Uma comunidade
funcionalmente diversa de plantas reúne espécies com adaptações fisiológicas e
reprodutivas distintas. A diversidade funcional é essencial para avaliar a eficiência de
ecossistemas em prover serviços ambientais9, e sua capacidade de adaptação a mudanças
climáticas. Embora a diversidade de espécies, a diversidade filogenética e a diversidade
funcional sejam inter-relacionadas, elas variam independentemente, medem aspectos
distintos da biodiversidade e respondem a perguntas diferentes16.
Para terminar, é importante desfazer a impressão, também bastante difundida, de
que a biodiversidade só diz respeito a ambientes e ecossistemas naturais em que a
influência humana é reduzida. Pelo contrário, todos os conceitos e medidas se aplicam
igualmente a ambientes modificados pela ocupação e pelas atividades humanas, incluindo
ecossistemas urbanos ou agrários, até os mais degradados. Mais que isso, o conceito
ampliado de biodiversidade hoje abrange culturas humanas e todo seu leque de
conhecimento e usos da diversidade natural.
Thomas Lewinsohn é biólogo pela UFRJ e doutor em Ciências pela Unicamp, onde é
professor titular (aposentado) de Ecologia. Desde 1990, participa de grandes programas
sobre diversidade no Brasil e no exterior. Recentemente, foi pesquisador da Fundação
Rockefeller na Itália e do Instituto de Estudos Avançados de Berlim, Alemanha.