Dissertacao
Dissertacao
Dissertacao
INSTITUTO DE GEOCIÊNCIAS
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM GEOGRAFIA –
ANÁLISE AMBIENTAL
Belo Horizonte
Abril, 2012
Manuela Corrêa Pereira
Belo Horizonte
Abril, 2012.
Dissertação de mestrado intitulada “Aspectos genéticos e morfológicos das cavidades
naturais da Serra da Piedade – Quadrilátero Ferrífero/MG”, de autoria da aluna Manuela
Corrêa Pereira, avaliada e aprovada pela banca examinadora constituída pelos seguintes
professores:
________________________________________________________________
Orientador: Prof. Dr. André Augusto Rodrigues Salgado
Depto. de Geografia – IGC/UFMG
__________________________________________________________________
Prof. Dr. Antônio Pereira Magalhães Júnior
Depto. de Geografia – IGC/UFMG
________________________________________________________________
Prof. Dr. Luiz Eduardo Panisset Travassos
Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais
Av. Presidente Antônio Carlos, 6.627 – Belo Horizonte, MG – 31270-901 – Brasil – tel:
(31) 3409-5112 – fax: (31) 3409-5490.
Dedico este trabalho aos meus pais Soledade e Geraldo e as
minhas irmãs Fernanda e Juliana.
AGRADECIMENTOS
A Deus.
A minha família: meu pai Geraldo, minha mãe Soledade e minhas irmãs, Juliana e
Fernanda, por todo apoio moral e financeiro durante este período.
Ao José Renato, pelo companheirismo, amizade e paciência.
A Bruna, Lila, Rafa, Renata, Jose, Ju, Leilane e Angélica pela amizade em todos os
momentos.
A Irmã Rosa, pelas orações.
Agradeço ao meu orientador, Dr. André Salgado, pela orientação, prazos e críticas.
Ainda agradeço ao meu co-orientador Dr. Joel Rodet, que contribuiu de forma significativa
para a elaboração desta dissertação.
Aos espeleólogos Luciano Faria e Roberto Cassimiro pelos ensinamentos básicos de
espeleologia. Em especial, agradeço ao Luciano Faria por ter sugerido a Serra da Piedade
como área de estudo desta dissertação.
Ao Instituto de Geociências e ao Programa de Pós-Graduação em Geografia pela
oportunidade de cursar o mestrado.
Ao CNPQ, pelo fomento através de bolsa de mestrado, essencial para a realização do
curso.
Ao Santuário Nossa Senhora da Piedade e ao ICMBIO, pela autorização de pesquisa e
apoio. Ao Observatório Astronômico da UFMG, pelo alojamento.
Aos funcionários do Santuário Nossa Senhora da Piedade “Seu” Zacarias e Vanda e ao
Reitor Padre Nédio, pelo apoio e incentivo.
A Mônica, Lúcio, Luana, Aline Silva, Lucrecia, Virginia, Pablo, “Seu” Zacarias, Ju,
Leilane, Jose, Baiano, Dani, Aline Guerra, Leda, Rafael, Alessandra, Eduardo, Fred, Thomas,
Bia, Letícia, Renzo, Fabri e Tati pelo apoio e/ou discussões em campo. Agradeço também a
todos os alunos da disciplina Geomorfologia Cárstica pelas discussões em campo e pelo
auxílio na topografia. Desde já peço desculpas se deixei de mencionar algum nome, mas
adianto que a ajuda, em campo, de todos vocês foi imprescindível.
Em especial agradeço a Leda Zogbi, pela elaboração dos mapas da Gruta da Macumba
e da Gruta da Piedade, ao Rafael Camargo pela elaboração do mapa da Gruta do Triângulo e
ao Frederico Gonçalves pela elaboração do mapa da Gruta do Chuveirinho. Ainda agradeço a
Alice Bessa pela elaboração de alguns mapas desta dissertação.
Por fim, agradeço aos amigos de mestrado Breno, Jojô, Joana, Justine, Yuri, Luizão,
Ivana, Letícia Augusta, Fred, Jose, Ju, Alessandra, Haddad e Leilane, pelos momentos de
descontração e de construção do conhecimento. Ainda agradeço a todos os professores e
funcionários do IGC, pois foram eles, que construíram desde a graduação, o alicerce que me
capacitou a realizar este trabalho.
RESUMO
The academic studies about natural cavities developed on banded iron formations and
ironcrust, in the Quadrilátero Ferrífero – Minas Gerais, are rare. On the other hand, this region
has a high speleological potential. Within this context, the Serra da Piedade’s natural caves
have been studied in this research, which has as main objective register and classifies these
cavities according to their genetics aspects; as well as analyzes their distribution over relief.
The methodological procedures were: (i) literature review; (ii) partitioning of relief; (iii)
cavities prospection, mapping and description of the physical aspects (insertion in the
landscape, geology, passages morphology, hydrology, clastic deposits, chemical deposits and
solution features); (iv) relationship between the cavities and the following parameters:
horizontal projection, slope, cavities altitude, geology and escarpment; and (v) analysis of
results. The results obtained shows that there are three types of cavities: (i) cavities formed by
voids between boulders, (ii) caverns with karst features, and (iii) caverns where it was not
possible to constant morphokarstic evidences. In general, the cavities formed by voids
between boulders are found in higher levels. Caves where it was not possible to constant
morphokarstic evidences are poorly developed and located at one of the lowest altitude and
slop classe. The most of karstic caves are well developed, located at one of the lowest altitude
and slop class and at plateaus’ boundary. However, the largest cavern is not inserted in this
compartment. It can be concluded that there are processes of karstification in caves and
surface features developed on itabirite and iron crust.
Figura 1.2: Mapa da Gruta Capão Xavier I, desenvolvida sobre o minério de ferro. Nesta
caverna constata-se seções triangulares e padrão predominantemente retilíneo,
seguindo o bandamento da rocha ou de juntas. .....................................................24
Figura 1.3: Mapa da Gruta Capão Xavier II, desenvolvida sobre a canga. Nesta caverna
constatam-se seções irregulares e padrão predominantemente globular. ..............24
Figura 1.4: (A) cavidade formada através de processos exógenos, onde o substrato subjacente
à canga é lateralmente erodido; (B) cavidade formada por processos endógenos,
onde o itabirito sofre processos de dissolução.......................................................25
Figura 1.5: Mapa demonstrando a localização das cavernas do banco de dados do CECAV no
Quadrilátero Ferrífero, onde se observa a predominância de ocorrência das
cavidades nas rochas do Grupo Itabira, onde estão os itabiritos. ..........................26
Figura 2.5: Ao fundo observa-se vegetação mais densa, remanescente de floresta tropical. Já
em primeiro plano, observa-se vegetação mais rasteira, que pode ser denominada
como campo ferruginoso, devido ao substrato. .....................................................42
Figura 2.6: Ao fundo observa-se uma área degradada pela mienração, que não foi recuperada
e está no interior da área tombada da Serra da Piedade.........................................42
Figura 2.9: Perfil N-S da Serra da Piedade, onde observa-se o contraste entre as vertentes
norte e sul,, assim como a presença da canga na vertente norte............................46
Figura 2.10: Mapa Geomorfológico da região da área tombada da Serra da Piedade. ............47
Figura 4.1: Contextualização das unidades de relevo levantadas no perfil Norte-Sul da Serra
da Piedade..............................................................................................................53
Figura 4.2: Mapa litológico da área em estudo. A segunda litologia representada na legenda
foi mapeada através de dados coletados em campo.O formato da primeira litologia
da legenda (canga) não é fiel à realidade constatada em campo. ..........................53
Figura 4.3: Mapa hispsométrico, onde é possível constatar que a área em estudo está inserida
entre as cotas de 1360 metros e 1776 metros (patamar altimétrco, onde localiza-se
a igreja da área em estudo). ...................................................................................54
Figura 4.4: Mapa de declividade da área em estudo. Através das classes de declividade,
constata-se que a escarpa sul possui áreas mais declivosas, quando comparada
com a escarpa norte. ..............................................................................................55
Figura 4.5: Imagem de satélite da área em estudo e suas unidades de relevo ..........................55
Figura 4.6: (A) Vista da unidade de relevo crista, onde avista-se o complexo arquitetônico da
Serra da Piedade; (B) Vista da escarpa sul, onde na porção superior da foto,
constata-se a unidade crista e (C) Capela Nossa Senhora da Piedade, localizada no
ponto altimétrico mais elevado da Serra da Piedade (1.776 metros).....................56
Figura 4.7: (A) e (B) Escarpa sul, caracterizada por ser abrupta e pela presença de
afloramentos de itabirito; (C) A porção nordeste da escarpa sul possui um relevo,
relativamente mais suave. Ao fundo observa-se estrada desativada construída pelo
ex-reitor do Santuário. ...........................................................................................57
Figura 4.8: (A) Afloramentos de itabirito na porção oeste da unidade escarpa norte. (B)
Matacões de itabirito presentes na porção leste da unidade escarpa norte. (C)
Escarpa norte, caracteizada pela presença de itabiritos, matacões e blocos desta
litologia. .................................................................................................................58
Figura 4.9: (A) Estrada situada na escarpa norte que dá acesso ao Complexo Arquitetônico da
Serra da Piedade. (B) Na porção direita da foto, constata-se infra-estrutura
instalada num pequeno platô de canga presente na porção extremo oeste da
unidade escarpa norte. ...........................................................................................59
Figura 4.10: (A) Em primeiro plano, escarpa norte, em segundo plano platô inferior e em
terceiro plano planalto inferior. (B) Em primeiro plano, escarpa norte, em segundo
plano platô superior e em terceiro plano planalto inferior.....................................60
Figura 5.3: Conduto arredondado com a presença de uma fissura entre o itabirito (não foi
possível afirmar se este itabirito estava in situ, ou se consiste em um matacão) e a
canga detrítica........................................................................................................64
Figura 5.4: (A) e (B) Domos formados no teto da Gruta do Cascalhinho; e (C) pendente,
forma relíquia que indica a coalescência de condutos, através do processo de
dissolução. .............................................................................................................65
Figura 5.5: (A) Entrada da porção leste da Gruta da macumba, com formato que se assemelha
ao semi-oval. (B) Entrada da porção central da Gruta da Macumba, que possui o
formato semi-circular e (C) reentrância na porção sudeste da Gruta da Macumba,
que foi utilizada como um altar ornamentado com flores de plástico, velas, copos
de plástico, garrafas quebradas, etc., utilizados em ritos religiosos. .....................66
Figura 5.6: (A) Fratura localizada no interior da cavidade; (B) Paleopiso, principal feição que
caracterizou a Gruta da Macumba como cárstica; (C) Feição côncava abaixo do
paleo-piso; (D) Espeleotemas precipitados abaixo da feição que se assemelha a
um altar da Figura 5.5-C........................................................................................67
Figura 5.7: Mapa da Gruta da macumba, onde é constatada a presença de paleo-piso na porção
sul da cavidade e condutos irregulares. .................................................................68
Figura 5.8: (A) Clarabóia presente no teto da Gruta de mesmo nome; (B) Conduto irregular da
Gruta da Clarabóia e (C) Entrada da Gruta da Clarabóia. .....................................70
Figura 5.9: (A) Interior da Gruta das Latinhas, onde é possível observar sedimentos finos e
grosseiros. (B) Fissuras presentes no interior da Gruta das Latinhas (C) Entrada da
Gruta da Latinha, que aparenta ter o formato triangular. ......................................71
Figura 5.10: (A) Entrada da Gruta do conduto I (B) Entrada da Gruta do Conduto II. ...........72
Figura 5.11: (A) Entrada da Gruta do morcego, que possui formato irregular; (B) Interior da
Gruta do Morcego, onde é possível constatar a presença do itabirito, da canga
detrítica e de um matacão abatido de canga; (C) Entrada da Gruta pequena, que
possui formato irregular e é caracterizada pela presença da canga detrítica e do
itabirito...................................................................................................................74
Figura 5.13: Entrada da Gruta do desisto, caracterizada por ser de difícil acesso. ..................76
Figura 5.14: (A) Entrada da Gruta do Chuveirinho; (B) A linha tracejada amarela indica o
contato entre a canga detrítica e o itabirito da Formação Cauê, presente no final do
salão do contato; (C) Blocos de canga no salão do sapo e conduto irregular que
conecta o salão do sapo ao salão principal; e (D) Cúpulas presente no teto do salão
do sapo. ..................................................................................................................78
Figura 5.15: (A) Pequeno canal intermitente presente no salão principal; (B) As setas azuis
indicam o resquício de um possível paleopiso presente no salão da capa; (C)
Pequena bacia presente no salão da capa, caracterizada por represar a água da
chuva, que por sua vez utiliza das descontinuidades presentes entre os detritos da
canga para ter acesso ao interior da caverna; e (D) Irregulariedades no teto, coluna
e pendente de teto presentes no salão do contato. .................................................79
Figura 5.16: Planta baixa da Gruta do Chuveirinho .................................................................80
Figura 5.17: (A) Entrada da Gruta do capim e (B) Sedimentos finos, grosseiros e reentrâncias
estão presentes no interior da Gruta do Capim......................................................81
Figura 5.19: (A) Matacões presentes no salão dos matacões; (B) Pequena bacia presente no
salão da bacia, que possui sedimentos finos carreados pelas águas temporárias dos
canais de drenagem; (C) Sedimentos finos que podem ser alóctones, provenientes
dos canalículos e carreados pelos canais de drenagem intermitentes; (D)
Sedimentos no teto da Gruta do Triângulo, feição que pode evidenciar que a
mesma estava preenchida; logo infere-se que a mesma sofreu paragênese; (E)
Paleopiso, principal feição que caracteriza a Gruta do Triângulo como cárstica;
(F) Concavidade no teto desenvolvida sobre o itabirito. .......................................85
Figura 5.21: Localização das cavidades na porção superior da unidade de relevo Escarpa
Norte. .....................................................................................................................87
Figura 5.22: (A) Porção da cavidade GP(11) que é formada por um matacão de canga; (B)
Coralóides formados no teto de itabirito da caverna GP(11); (C) Sedimentos
grosseiros de canga e itabirito presentes no chão da caverna GP(11); e (D)
Processo de desplacamento do itabirito, que foi favorecido pelo seu bandamento
desta litologia.........................................................................................................88
Figura 5.24: (A) Contato entre a canga detrítica e o itabirito da Formação Cauê no Salão
Arredondado; (B) Feição alveolar localizada no Salão Arredondado; (C)
Pendentes localizados no final do Conduto Calibrado; e (D) Conduto Calibrado,
onde é possível constatar o formato tubular e a presença de blocos de canga. .....92
Figura 5.25: (A) Entrada principal da Gruta da Piedade, localizada no Nível 0; (B) Queda
d’água intermitente presente no salão principal da Gruta da Piedade; (C) Entrada
do conduto “sem piedade”, que conecta o salão principal, situado no Nível 0, aos
demais salões do Nível +1; (D) Feição que se assemelha à uma cúpula presente no
teto do conduto “sem piedade”, no interior desta feição é possível notar um buraco
arredondado que dá acessos aos salões do Nível +1; (E) Feições que aparentam
ser pendentes de teto no conduto “sem piedade”; e (F) Contato evidente entre a
canga e o itabirito no conduto “sem piedade”. ......................................................93
Figura 5.26: (A) Espeleotemas do tipo coralóide formados no itabirito dobrado (B) Pequenas
bacias perenes que aparentam terem sido formadas por processos de dissolução.94
Figura 5.27: (A) Conduto dos Matacões, caracterizados por apresentar matacões de
significativas dimensões. (B) Pendente presente no salão do Pendente; (C) Fissura
presente no conduto que dá acesso ao Salão do Pendente; (D) Canga caracterizada
por apresentar uma alta densidade de detritos; (E) Itabirito descaracterizado e
friável, já que não apresenta a banda silicosa que faz parte de sua composição
original...................................................................................................................96
Figura 5.28: (A) Conduto de formato semi-circular que conecta o Salão Principal ao Salão dos
Morcegos; (B) Canal de drenagem intermitente presente no Salão dos Morcegos;
(C) Conduto que possui sua gênese associada aos planos de acamamento do
itabirito...................................................................................................................98
Figura 5.29: (A) Côncavidade presente no teto do conduto do perigo; (B) Conduto semi-oval,
caracterizado por possuir uma litologia bastante intemperizada; (C) Alvéolos
presentes na Entrada 13 do Salão do Alívio; (D) Salão Puro Ferro, aparenta ter
sido formado por um matacão de itabirito.............................................................99
Figura 5.30: (A) Forma alveolar localizada na parede do Salão da Botinha; (B)Teto do Salão
do Paredão, que aparenta ser um matacão de itabirito; (C) Depósitos finos
presentes no interior do salão do fim, estes sedimentos aparentam ter sua gênese
associada à banda silicosa do itabirito, que foi lixiviada; e (D) Conduto irregular,
que também é a entrada para o salão do fim........................................................100
Figura 5.31: (A) Entrada da Gruta do Colchão e abrigo presente na sua parte externa e (B)
Interior da Gruta do Colchão. ..............................................................................101
Figura 5.32: As setas vermelhas indicam as fraturas presentes no exterior das grutas, já as
setas amarelas indicam os vazios ou condutos que podem ter sido gerados por
estas fraturas. (A) Gruta da Estrada I e (B) Gruta da Estrada II. .........................103
Figura 5.33: Localização das cavidades na porção inferior da unidade de relevo Escarpa
Norte. ...................................................................................................................104
Figura 5.34: (A) Entrada das Gruta dos Romeiros, formada pela sobreposição de matacões de
itabirito; (B) Alguidar (prato de barro utilizado em rituais religiosos) na entrada da
Gruta dos Romeiros e (C) Teto de itabirito da cavidade GP(15). .......................105
Figura 5.35: Localização das cavidades na porção ocidental da unidade de relevo Escarpa
Norte. ...................................................................................................................106
Figura 5.36: (A) Gruta do Eremita, formada pela sobreposição de matacões de itabirito e (B)
Placa que indica a entrada da Gruta do Eremita. .................................................107
Figura 5.37: (A) A Gruta do Banheiro foi desenvolvida na ruptura do relevo, que possui
escarpa sem continuidade lateral expressiva; (B) Fratura presente na entrada da
Gruta do Banheiro................................................................................................108
Figura 5.39: (A) A Gruta da Placa azul está localizada na ruptura do relevo; e (B) Estreito
conduto desenvolvido no itabirito da Gruta da Placa Azul. ................................111
Figura 5.40: “Gruta dos Milagres” localizada na Escarpa Sul da Serra da Piedade, o círculo
vermelho indica o tanque de alvenaria que acumula a água “milagrosa”. ..........112
Figura 6.1: Relação entre o número de cavernas de cada classe e as classes de projeção
horizontal: classe 1 ( 0 – 15 metros), classe 2 (16 – 30 metros), classe 3 (31 – 45
metros) e classe 4 (acima de 45 metros)..............................................................119
Figura 6.2: Relação entre a porcentagem de cavernas presentes em cada classe de projeção
horizontal: classe 1 ( 0 – 15 metros), classe 2 (16 – 30 metros), classe 3 (31 – 45
metros) e classe 4 (acima de 45 metros)..............................................................119
Figura 6.3: Relação entre o número de cavernas de cada classe e as classes de declividade:
(classe 1: 0-10%; classe 2: 10-20%; classe 3: 20-30%; classe 4: 30-40%; classe 5:
40-50% e classe 6: 50-90%). ...............................................................................121
Figura 6.4: Relação entre a porcentagem de cavernas presentes em cada classe de declividade:
(classe1: 0-10%; classe 2: 10-20%; classe 3: 20-30%; classe 4: 30-40%; classe 5:
40-50% e classe 6: 50-90%). ...............................................................................122
Figura 6.6: Relação entre o número de cavernas de cada classe e as classes de hpsometria:
classe 1: 1360-1420 metros; classe 2:1420-1480 metros; classe 3: 1360-1420
metros; classe 4: 1540-1600 metros; classe 5: 1600-1680 metros e classe 6: acima
de 1680 metros.....................................................................................................125
Figura 6.7: Relação entre a porcentagem de cavernas presentes em cada classe de declividade:
classe 1: 1360-1420 metros; classe 2:1420-1480 metros; classe 3: 1360-1420
metros; classe 4: 1540-1600 metros; classe 5: 1600-1680 metros e classe 6: acima
de 1680 metros.....................................................................................................126
Figura 6.9: Relação entre o número de cavernas de cada classe e a litologia. .......................129
Figura 6.10: Relação entre a porcentagem de cavernas presentes em cada classe e a litologia.
.............................................................................................................................129
Figura 6.11: Imagem de satélite onde estão contextualizadas a unidades de relevo da área de
estudo e duas cavidades: (A) Gruta do Chuveirinho, caverna com feições
cársticas, localizada numa escarpa com continuidade lateral expressiva, que
consiste na borda do platô inferior; (B) Gruta da Placa Azul, caverna sem feições
cársticas, localizada numa escarpa com continuidade lateral pouco expressiva, que
por sua vez está situada no interior da unidade crista..........................................131
Figura 6.12: Relação entre o número de cavernas presentes em cada classe e a tipologia da
escarpa na qual estão inseridas. ...........................................................................131
Figura 6.13: Relação entre a porcentagem de cavernas presentes em cada classe e a tipologia
da escarpa na qual estão inseridas. ......................................................................132
Tabela 6.1: Relação entre as classes de declividade e o tipo de relevo (esta classificação
utilizou de forma adaptada a classificação realizada por SANTOS et al. 2005). 120
Tabela 6.3: Relação entre os tipos de cavernas da Serra da Piedade e suas respectivas classes
que predominaram nos quesitos: projeção horizontal, declividade, hipsometria,
litologia e escarpa. ...............................................................................................133
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO ......................................................................................................................18
3 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS......................................................48
3.1 Revisão Bibliográfica..................................................................................................48
3.2 Etapa de campo...........................................................................................................48
3.3 Análises Cartográficas e dos Resultados ..................................................................50
CONCLUSÕES.....................................................................................................................140
REFERÊNCIAS ...................................................................................................................142
ANEXOS ...........................................................................................................................1429
INTRODUÇÃO
1
Este croqui foi encontrado no acervo do Santuário Nossa Senhora da Piedade. Entretanto, o mesmo não possui
data. Desse modo, infere-se que foi elaborado entre 1913 e 2000, data de nascimento e de óbito do Frei Rosário
Joffily.
2
Centro Nacional de Pesquisa e Conservação de Cavernas.
18
2) Descrição dos aspectos físicos e antrópicos presentes no interior das cavidades:
inserção na paisagem, geologia, morfologia dos condutos, hidrologia, depósitos clásticos,
depósitos químicos, feições de dissolução e uso humano das cavidades.
3) Com base na descrição dos aspectos físicos, reconhecimento dos aspectos genéticos
das cavidades naturais e classificação das mesmas de acordo com sua gênese.
4) Relação entre as classes das cavidades e os seguintes parâmetros: projeção horizontal,
declividade, hipsometria, litologia e tipologia da escarpa.
19
1 CAVIDADES EM FORMAÇÕES FERRÍFERAS E CANGA
20
1.2 A ocorrência de cavernas em formações ferríferas no Brasil e no mundo
21
Figura 1.1: Localização e altimetria do Quadrilátero Ferrífero no Estado de Minas Gerais e suas
divisões municipais.
22
conduto. De maneira geral, é relatado que estas cavernas apresentam um único conduto e que
não possuem dimensões superiores a 15 metros de desenvolvimento.
Já as cavernas de dissolução ocorrem sob a canga no contato com o itabirito da
Formação Cauê. Para Simmons (1963) a morfogênese dessas cavidades está relacionada ao
teor de minerais solúveis e pela disposição do acamamento do itabirito. De modo geral, as
cavernas desta tipologia apresentam salões e condutos que se assemelham aos encontrados em
rochas carbonáticas. Simmons (1963) relata que algumas delas podem atingir 100 metros de
desenvolvimento linear.
Por fim, Simmons (1964) relata a ocorrência de leucophosphite3 em uma caverna da
Serra do Tamanduá. Para o autor, o fosfato foi formado através da reação de soluções aquosas
provenientes do guano de morcegos com óxidos de ferro presentes nas paredes das cavernas
em formações ferríferas.
Desde a grande contribuição de Simmons (1963) para a espeleologia do Quadrilátero
Ferrífero/MG, estudos posteriores de maior relevância vieram ocorrer apenas no início do
século XXI, por iniciativa dos autores Augusto Auler e Luis Piló. Dentre estes estudos
destacam-se os que foram realizados na Mina de Capão Xavier, no Quadrilátero Ferrífero/MG
(PILÓ & AULER, 2005). Neste estudo, é considerada a ocorrência de cavernas tanto em
canga como no itabirito. Em relação à gênese dessas cavidades é analisada a ocorrência de
processos químicos endógenos seguidos de erosão mecânica, assim como de processos apenas
erosivos. Dentre as grutas analisadas, apenas duas, Capão Xavier I e II (Figuras 1.2 e 1.3), se
assemelham às cavernas de dissolução descritas por Simmons (1963). Já as grutas III, IV, V e
VI que se encontram encaixadas na borda de rupturas de declive na vertente, se assemelham
às “cavernas de erosão” descritas pelo referido autor.
As grutas Capão Xavier I e II foram desenvolvidas sobre o minério de ferro e sobre a
canga, respectivamente. Pilo; Auler (2005) relatam que a primeira possui padrão planimétrico
mais retilíneo e as seções transversais e longitudinais apresentam uma geometria mais
triângular. Já a segunda apresenta padrão planimétrico de formato globular e as seções dos
condutos são irregulares.
3
Fosfato raro, representado pela fórmula: (K, NH4) (Al, Fe)2 (PO4)2 2H2O.
23
Figura 1.2: Mapa da Gruta Capão Xavier I, desenvolvida sobre o minério de ferro. Nesta caverna
constata-se seções triangulares e padrão predominantemente retilíneo, seguindo o bandamento da
rocha ou de juntas.
Fonte: Piló & Auler (2005)
Figura 1.3: Mapa da Gruta Capão Xavier II, desenvolvida sobre a canga. Nesta caverna constatam-se
seções irregulares e padrão predominantemente globular.
Fonte: Piló & Auler (2005).
24
Quanto às hipóteses estabelecidas para a gênese destas cavernas, foi considerado que a
formação inicial de zonas de alta porosidade no interior das jazidas de minério de ferro foi
favorecida pela ocorrência de minério de ferro do tipo dolomítico, gerando zonas de alta
permeabilidade. Sendo assim, comprova-se a dissolução como um processo significativo na
gênese das cavidades. Porém, para Pilo; Auler (2005) houve uma segunda etapa na
espeleogênese destas cavidades. Esta segunda etapa estaria relacionada à erosão mecânica que
conectou as cavidades com a superfície e as expandiu.
Outro estudo realizado no Quadrilátero Ferrífero foi o de Stávale (2007). A autora
analisou possibilidades de gênese para as cavernas em minério de ferro presentes no Parque
Estadual do Rola Moça, situado na porção ocidental do Quadrilátero Ferrífero/MG. Dentre os
resultados obtidos, constatou-se que as cavernas do Parque estavam localizadas em rupturas
litológicas e inseridas no contato ou próximas da canga com outra litologia, pertencente à
Formação Cauê, Formação Batatal ou Formação Gandarela (STÁVALE, 2007).
Paralelamente, este estudo concluiu que a maior parte das cavidades analisadas tinha gênese
erosiva, formada por processos exógenos (Figura 1.4-A). Entretanto, algumas poucas,
sobretudo as de grandes dimensões, tinham na dissolução química um importante processo
para a sua formação (Figura 1.4-B).
Figura 1.4: (A) cavidade formada através de processos exógenos, onde o substrato subjacente à canga
é lateralmente erodido; (B) cavidade formada por processos endógenos, onde o itabirito sofre
processos de dissolução.
Fonte: Stávale (2007)
25
Quadrilátero Ferrífero/MG. Através deste mapeamento foi constatado que grande parte das
depressões estava sobre o itabirito (Formação Cauê e/ou Canga). Além disso, estes autores
levantaram hipótese de gênese para estas depressões como sendo paleocarstes, onde a
intemperização do itabirito dolomítico, no processo de formação da canga, também gerou as
depressões.
Em relação à localização das cavernas do Quadrilátero Ferrífero, a base de dados do
CECAV apresentada no mapa a seguir (Figura 1.5) demonstra claramente que grande parte
das cavidades deste domínio geológico foi desenvolvida sob rochas do Grupo Itabira. Este
grupo é composto por itabiritos, dolomitos ferruginosos e filitos hematíticos
Figura 1.5: Mapa demonstrando a localização das cavernas do banco de dados do CECAV no
Quadrilátero Ferrífero, onde se observa a predominância de ocorrência das cavidades nas rochas do
Grupo Itabira, onde estão os itabiritos.
Fonte: Pereira & Souza (2009).
O distrito ferrífero da Serra dos Carajás situa-se no sul do Estado do Pará nos
municípios de Marabá e São Félix do Xingu. Quanto à geologia, as jazidas deste distrito estão
estratigraficamente situadas na formação Carajás, constituída basicamente por formações
26
ferríferas bandadas e intercaladas entre duas seqüências vulcânicas básicas, formando um
sinclinório de orientação geral E-W. Essas três unidades posicionadas no intervalo
Arqueano/Proterozóico Inferior. (COELHO, 1986).
Esta região, devido à grande densidade de cavernas e feições doliniformes, foi
interpretada por Barbosa et al. (1966) como predominantemente calcária. Tolbert et al. (1971)
efetuou um levantamento mais detalhado sobre a geologia, através de vários trabalhos de
campo realizados na Serra dos Carajás. Neste trabalho é relatada a presença de pequenos
lagos sobre a canga, cuja gênese está associada a processos de dissolução. O autor ainda relata
a presença de grandes cavernas formadas a partir da lixiviação da rocha subjacente à canga
(minério, filito ou xisto), especialmente na borda de platôs.
A partir da década de 80, os estudos espeleológicos acerca das cavernas sob formações
ferríferas, no Pará, se tornaram cada vez mais freqüentes. Em 1985, iniciou-se o
cadastramento destas cavidades, através da iniciativa do Museu Paraense Emílio Goeldi, com
a participação do Grupo Espeleológico Paraense (PINHEIRO et al, 1985; MOREIRA et al
1986; PINHEIRO; MAURITY, 1988 apud MAURITY et al, 2005). Ainda nesta mesma
década, é relatado por Maurity; Pinheiro (1985) aspectos geoespeleológicos em quatro
cavernas na Serra Norte, além de estabelecer hipóteses sobre a gênese destas cavidades.
Já Maurity; Kotschoubey (2005) realizaram um estudo mais detalhado sobre as
cavernas e dolinas do Platô N1 da Serra dos Carajás. Neste estudo os autores utilizaram
análises mineralógicas que subsidiaram hipóteses mais embasadas sobre a gênese destas
feições. Foi concluído que o desenvolvimento das feições estudadas foi controlado por fatores
estruturais e pela existência de zonas de baixa densidade.
A partir dos anos 2000, concomitantemente com o avanço e desenvolvimento da
mineração no estado do Pará, os estudos e registros de cavernas aumentaram
consideravelmente, sobretudo os realizados por consultorias para o setor privado. Destaca-se
o levantamento espeleológico realizado pelo Grupo Espeleológico de Marabá - GEM, por
meio de convênio com a casa de cultura de Marabá e a Vale, onde foram registradas mais de
1100 cavidades na região. (PILÓ; AULER, 2009).
Pilo; Auler (2009) realizam um breve panorama geoespeleológico das cavernas da
região de Carajás. De modo geral, é relatado que as cavernas inseridas no substrato
ferruginoso são de pequenas dimensões, sendo que em torno de 70% das cavidades já
exploradas, estão no intervalo de 20-30 m de projeção horizontal e apresentam padrão de
câmeras irregulares e, em menor proporção, o padrão de câmeras retilíneas. Os autores ainda
remetem a gênese destas cavidades aos processos de mineralização da formação ferrífera, que
27
gera zonas de alta porosidade. Posteriormente, o material friável resultante é transportado,
através de processos similares ao do piping.
28
mudanças climáticas. Desse modo, a dissolução foi favorecida em períodos úmidos, pois a
água subterrânea alcalina obteve contato com a rocha superficial. Já os processos de colapso
foram favorecidos em períodos secos. Para o autor, agentes biológicos também contribuíram
para a gênese destas feições, já que aceleraram o processo de intemperismo da sílica, silicatos
e óxidos de ferro, minerais que compõem a rocha e a laterita da região.
McFarlane e Twidale (1987) já consideram cársticas feições desenvolvidas em rochas
não carbonáticas. Quanto à gênese de feições cársticas desenvolvidas em terrenos lateríticos,
os autores supõem que a ação de microorganismos pode ser essencial para que haja a
dissolução e formação destas feições neste litotipo.
O termo “karst”, que significa campos de pedras calcárias, foi utilizado pela primeira
vez para denominar uma paisagem constituída de calcário maciço com feições
geomorfológicas peculiares à região Reka na Eslovênia (CHRISTOFOLETTI, 1980). Esta
paisagem, assim como a da região de Sete Lagoas, pode ser classificada como
tradicionalmente cárstica por apresentar características que satisfazem as diversas
denominações existentes sobre este termo. Entretanto, por não haver um consenso sobre os
critérios que determinam uma paisagem cárstica, se torna difícil classificar paisagens que
possuem tais feições e que não estão, predominantemente, situadas em rochas carbonáticas
como o calcário.
White (1988) acredita que o principal aspecto de uma paisagem cárstica é que o
processo de dissolução seja o principal agente geomórfico do relevo. Além disso, o autor
considera que, no carste, o transporte de massa em solução seja mais importante que por
outros processos. Logo, White (1988) admite que o relevo cárstico possa ocorrer em outras
litologias além das de origem carbonática. Ford; Williams (1989) considera que a hidrologia
em subsuperfície é o que potencializa a formação de uma paisagem cárstica, sendo ela uma
importante evidência para a classificação deste tipo de relevo. Jennings (1985) também
considera que a dissolução pode não ser o fator predominante, mas é o fator mais importante
para a formação desta paisagem, pois é através dela que ocorre o alargamento dos pequenos
condutos em subsuperfície, causando aumento da permeabilidade da rocha. Hardt & Pinto
(2009) também propõe uma discussão acerca do conceito e defende que as formas cársticas
29
são geradas quando o papel da dissolução é fundamental (embora não necessariamente
predominante).
Baseando-se na literatura pode-se considerar que o processo denominado carstificação
ocorre tanto em rochas carbonáticas quanto nas não-carbonáticas. Desse modo, para esta
pesquisa entende-se como carstificação o processo de dissolução de minerais presentes em
qualquer tipo de rocha, logo este processo é fundamental para gênese de feições cársticas.
A cavidade investigada por Simmons (1963) na Serra do Tamanduá - Quadrilátero
Ferrífero/MG na qual foi constatado que 50% do itabirito original foi dissolvido pode ser
considerada como resultado de processos de carstificação. Sobretudo em razão de que, através
dos minerais constatados na análise mineralógica, Simmons (1963) supõe que a alta
porosidade deste itabirito está associada ao fato desta rocha ter sido altamente dolomítica.
Logo o processo de carstificação desta rocha é justificado pela presença de minerais que
compõem uma rocha de caráter dolomítico, como é o caso da maghemita e magnetita.
Já alguns autores como Boyé; Pascual (1977), e Bowden (1980), apesar de
considerarem processos de dissolução fundamentais para a gênese das cavidades em
formações ferríferas, ainda os denominam como pseudocársticos. A relevância deste processo
também é relatada por Maurity; Kotschoubey (2005), para o autor a gênese das cavernas em
ferro da Serra dos Carajás/PA está associada à formação de zonas de baixa densidade, que por
sua vez é gerada por três diferentes estágios (Figura 1.6). No primeiro estágio a água utiliza
das fissuras e fraturas presentes na crosta laterítica, favorecendo o desenvolvimento de vazios
e mobilizando elementos como o Fe e o Al. No segundo estágio, há o encontro do fluxo
lateral da água (que percola no contato da crosta com o saprólito) com as soluções de Fe e Al.
Nesta fase há precipitação da goethita, hematita e gibbsita nas fissuras e fraturas do topo da
zona saprolítica, onde forma-se um sistema reticular denso, predominantemente, caolinítico.
A sílica deste sistema reticular será lixiviada e a alumina evoluirá para um produto gibbsítico
poroso e friável. As partículas mais finas de gibbsita serão removidas, aumentado os vazios na
interface crosta-saprólito, logo formam-se zonas de baixa densidade caracterizadas por uma
estrutura residual denominada “box-work”. Por fim, no último estágio, há o desenvolvimento
da zona de baixa densidade e formação das cavidades.
30
Figura 1.6: Evolução da zona de baixa densidade na interface crosta-saprólito e formação de
cavidades no platô N1 da Serra dos Carajás/PA.
Fonte: Maurity & Kotschoubey (2005)
31
Grande parte dos autores remete o processo de “piping” à pelo menos uma das etapas
da gênese de cavidades em formações ferríferas. Pipes são dutos ou passagens tubulares
formadas no solo ou na rocha que podem variar o diâmetro, conforme a ocorrência de fatores
que favoreçam este processo. Alguns fatores que podem condicioná-lo são abordados por
Bull; Kirkby (1997): gradiente hidráulico elevado, presença de íons solúveis no solo,
ocorrência de períodos de seca prolongados que favorecem a ocorrência de fissuras e às
chuvas intensas e irregulares que reativam percolações concentradas subsuperficiais. Este tipo
de processo que, atua ou atuou em cavidades em formações ferríferas, já foi relatado por
Tricart (1972) onde são descritos túneis (pipes) na República dos Camarões. McFarlane
(1976) também constatou a presença de cavidades subverticais ou “pipes” na África e na
Austrália. Além disso, Bowden (1980) relata que as cavidades encontradas em Serra Leoa são
geradas pelo processo “piping”, que por sua vez foi condicionado pelo rebaixamento do nível
de base.
Além dos estudos acima apresentados, diversos autores associam a gênese de
cavidades ao piping tanto em rochas ferríferas, como no quartizito e no arenito. Em muitos
trabalhos é relatado que esta fase de remoção mecânica é a mais significante para a
morfologia da caverna.
Já Rodet (2011), acredita que para gerar a forma “pipe”, mais do que a ação mecânica
da água, necessita-se compreender as fases incipientes que condicionarão esta ação
hidrodinâmica. Desse modo, o intemeperismo químico concentrado precederá esta fase,
conforme o desenho esquemático abaixo (Figura 1.7):
32
1- Primocarste: Fase na qual a rocha sofre intemperismo químico. Num primeiro momento, a
rocha perde massa, mas não perde volume, portanto este é denominado isoalterite. Posteriormente,
ocorre o momento da alloalterite, há perda da massa e volume.
2- Nesta fase há transição do momento de alloalterite para o momento paragenético. A
paragênese consiste no momento no qual há ação freática nos vazios gerados pela alloalterite. Estas
formas são típicas de dissolução como o tubo ou “pipe”.
3- Transição da dinâmica paragenética para dinâmica singenética. A dinâmica singenética
corresponde à fase vadosa.
4- Fase na qual predomina a dinâmica singenética.
Observa-se que para Rodet (2011) a forma “pipe” pode está associada à processos de
carstificação, ou seja, processos onde o intemperismo químico concentrado favorecerá a
formação de vazios na rocha, que serão ampliados e moldados conforme a ação freática
(paragênese).
Apesar do referencial teórico sobre cavidades em formações ferríferas ser escasso e de
difícil acesso, buscou-se neste capítulo abordar as bibliografias que de alguma forma se
referem a este tipo de cavidade. Além disso, buscou-se discutir sobre processos que podem
estar relacionados à gênese destas cavidades, como o processo de carstificação, por exemplo.
33
2 O QUADRILÁTERO FERRÍFERO/MG E A SERRA DA PIEDADE
34
Figura 2.1: Geologia e localização da Serra da Piedade e do Quadrilátero Ferrífero.
Fonte: Adaptado de ALKIMIM & MARSHAK, S. (1998)
36
deste Grupo é composta por quartzitos na base e no topo, metaconglomerados na base e filitos
originados de depósitos aluviais e fluviais na porção intermediária (IBID, 1969).
O clima regional do Quadrilátero Ferrífero, de modo geral, pode ser classificado como
tropical semi-úmido, pois apresenta duas estações bem definidas: inverno (seco) e verão
37
(chuvoso). Entretanto, devido ao expressivo gradiente altimétrico, as áreas mais elevadas
possuem temperaturas mais amenas. A temperatura média anual situa-se em torno de 20º C e
a precipitação média varia entre 1.300 mm, na porção leste, a 2.100 mm, na poção sul, em
Ouro Preto (HERZ, 1970). Assim como o relevo, a vegetação também acompanha o substrato
geológico, logo predominam-se os campos rupestres e de altitude nas terras altas e as savanas
(cerrados) e florestas semideciduais nas terras baixas (LAMOUNIER et al. 2010).
O relevo do Quadrilátero Ferrífero/MG consiste em superfícies topograficamente
elevadas em contraste com terras mais rebaixadas. Os patamares mais elevados situam-se em
torno de 2.000 m, na Serra do Caraça e os mais rebaixados podem alcançar 600 metros, como
no município de Sabará.
A morfologia desta província geológica é condicionada pela litoestrutura. Logo, o fato
mais evidente deste relevo regional é a erosão diferencial. Neste contexto, quartzitos e
itabiritos, por serem as rochas de maior resistência, constituem o substrato das terras altas.
Xistos-filitos e granitos-gnaisses, por apresentarem menor resistência frente à erosão e ao
intemperismo, constituem o substrato, respectivamente, das terras médias e baixas
(SALGADO et al. 2004, 2007a, 2008).
Outro importante fator controlador do relevo são as cangas que estão presentes nas
porções mais elevadas do relevo. Assim é possível concluir que nas áreas onde as capas de
canga estão presentes (geralmente no topo das vertentes), o relevo evolui por backwearing
(retração lateral da vertente) de modo que os xisto-filitos são erodidos a uma velocidade
maior e as cangas sofrem colapso devido à erosão do substrato subjacente (SALGADO et al.
2007b). Apesar de o itabirito possuir considerável resistência, este processo também pode
ocorrer no contato da canga com esta rocha ferruginosa.
De um modo geral, os solos do Quadrilátero Ferrífero/MG são condicionados pelo
material de origem associado à topografia, logo predominam solos pouco evoluídos, tais
como Cambissolos e Neossolos Litólicos. Segundo CARVALHO et al. (2010), esses solos
apresentam caráter perférrico, relacionados a três principais materiais de origem: itabiritos,
dolomitos ferruginosos e rochas básico‑ultrabásicas. Tendo em vista a falta de aptidão
agrícola destes solos, a agricultura é pouco expressiva no contexto produtivo desta região.
Entretanto, o setor minerário seguido pelo turismo e pela indústria (sobretudo a siderurgia e
metalurgia) são as atividades produtivas de maior destaque.
38
2.2 A Serra da Piedade
A Serra da Piedade situa-se entre 19º 48’ e 19º 50’ de latitude sul, e entre 43º 39’ e 43º
42’ de longitude oeste. Ela está localizada entre os municípios de Sabará e Caeté, sendo seu
principal acesso as rodovias BR 381 e MG 435 (Figura 2.3).
39
longo do século XX, lutou pelo tombamento do Santuário da Serra. Este frei pressionou pela
criação da Lei nº 25, de 30 de novembro de 1937, que organizou a proteção do patrimônio
histórico e artístico. Entretanto, somente em 1956, o Conjunto Arquitetônico e Paisagístico do
Santuário de Nossa Senhora da Piedade foi tombado pelo IPHAN (Instituto do Patrimônio
Histórico, Artístico Nacional) através do processo nº 526-T-55 (MINAS GERAIS, 2004).
Atualmente, a Serra da Piedade possui três tombamentos: municipal, estadual e federal
(Figura 2.4). O Tombamento Federal foi revisto e atualizado em 2010 e agora abrange uma
área de 1,9 mil hectares. Conforme a extensão do polígono protegido, ficam incorporadas as
áreas tombadas pelo Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico (IEPHA/MG) e
pelo município. Além disso, este tombamento inclui o perfil da Serra da Piedade, recursos
hídricos, biodiversidade, aspectos cênicos e o entorno nas cidades históricas de Sabará, Caeté
e Raposos, todas localizadas na região metropolitana de Belo Horizonte (WERNEK, 2010).
Além dos três tombamentos, a Serra da Piedade também possui Áreas de Proteção
Ambiental (APAs), que funcionam como uma zona de amortecimento entre as áreas tombadas
e as áreas desprotegidas: APA Descoberto, APA Ribeirão Ribeiro Bonito e APA Águas da
Serra da Piedade. A última destaca-se por abranger uma área que envolve o conjunto cultural,
arquitetônico, paisagístico e natural da Serra da Piedade e foi criada pelo projeto de Lei
Municipal nº 022/2003, no município de Caeté/MG (Figura 2.4).
O clima da Serra da Piedade é classificado como tropical semi-úmido e tropical de
altitude, nas cotas altimétricas mais elevadas. A média da temperatura do mês mais frio é de
18ºC e do mês mais quente 22ºC, entretanto, a média da temperatura anual do topo da serra é
de 16ºC (VIANELLO; MAIA, 1986). No que tange às características pluviométricas, destaca-
se a ocorrência de chuvas orográficas, provocadas pela barreira montanhosa da Serra. Estas
chuvas ocorrem, principalmente, na vertente sul.
40
Figura 2.4: Localização dos tombamentos e da APA Águas Serra da Piedade.
Fonte: Movimento S.O.S. Serra da Piedade.
41
Figura 2.5: Ao fundo observa-se vegetação mais densa, remanescente de floresta tropical. Já em
primeiro plano, observa-se vegetação mais rasteira, que pode ser denominada como campo
ferruginoso, devido ao substrato.
Foto: Manuela Corrêa Pereira
Figura 2.6: Ao fundo observa-se uma área degradada pela mineração, que não foi recuperada e está no
interior da área tombada da Serra da Piedade.
Foto: Manuela Corrêa Pereira
42
2.2.1 Geologia e Geomorfologia
A geologia da Serra da Piedade pode ser resumida em: canga; Formação Sabará
(Grupo Sabará); Formação Cercadinho (Grupo Piracicaba); Formação Cauê (Grupo Itabira);
Formação Moeda (Grupo Caraça); Grupo Nova Lima; rochas graníticas, gnáissicas e
pegmatíticas; e diques metabasico (Figura 2.8). As rochas graníticas e gnáissicas, por serem
pouco resistentes à erosão, ocupam os patamares altimétricos mais rebaixados, tanto da
vertente norte como da vertente sul da região da área em estudo (Figura 2.8). Os xistos e
filitos do Grupo Nova Lima ocupam as porções intermediárias da vertente sul (Figura 2.8) e
contrastam com os itabiritos da Formação Cauê. Estes últimos, por serem mais resistentes aos
processos intempéricos, ocupam os patamares altimétricos mais elevados (Figura 2.8). Já a
vertente norte apresenta tanto o itabirito, nas porções elevadas, como os xistos e filitos das
Formações Cercadinho e Sabará, nas porções intermediárias (Figura 2.8).
A canga é a litologia que mais se destaca das demais por ser mais resistente aos
processos intempéricos. Rizzini (1976) citado por Bueno (1992) diferencia a canga da Serra
da Piedade em duas tipologias: canga couraçada, localizada acima de 1200 metros e formada
por sesquióxido de ferro e canga nodular localizada em altitudes inferiores a 1000 metros.
Segundo o autor, a canga couraçada apresenta fendas e pequenas cavidades. Esta tipologia de
canga está presente, sobretudo na vertente norte (Figura 2.8).
Quanto à geologia estrutural, há falhas tanto a norte como a sul da área de estudo. As
falhas do tipo “empurrão” estão presentes somente na porção meridional da área em estudo
(Figura 2.8). Ainda é possível constatar que as cangas e os itabiritos da Formação Cauê estão
localizados na aba do sinclinal invertido, que por sua vez é denominado Sinclinal Piedade.
Além disso, também é evidente o registro da ação dos eventos tectônicos nos itabiritos da
Serra da Piedade: o Transamazônico e o Brasiliano. Isto ocorre em razão das rochas
metamórficas apresentarem um comportamento plástico, logo sofrem dobramentos, sendo
possível observar pequenas falhas de gravidade (SCILIAR, 1992) (Figura 2.7).
43
Figura 2.7: Bloco de Itabirito dobrado.
Foto: Manuela Corrêa Pereira
44
Figura 2.8: Mapa geológico da região da área em estudo.
Fonte: LOBATO et al. (2005)
45
Figura 2.9: Perfil N-S da Serra da Piedade, onde observa-se o contraste entre as vertentes norte e sul,,
assim como a presença da canga na vertente norte.
Fonte: BUENO (1992)
46
Figura 2.10: Mapa Geomorfológico da região da área tombada da Serra da Piedade.
Fonte: Marent; Salgado (2010).
47
3 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
4
Os platôs de canga possuem um tipo de vegetação mais rasteira que se contrasta com a vegetação mais densa,
que tem como substrato as rochas da Formação Cauê e da Formação Cercadinho.
48
Na etapa de prospecção foi realizado um reconhecimento preliminar destas cavidades
e identificação das suas coordenadas UTM e altitude (o DATUM utilizado foi SAD 69 e o
aparelho é o GPS da marca Garmin, modelo oregon 550). Tendo em vista o grande número de
cavidades formadas pela sobreposição de blocos e matacões, foram contabilizadas somente
aquelas que apresentam desenvolvimento superior a cinco metros. Já as cavernas formadas in
situ, foram levantadas as que possuem desenvolvimento superior a dois metros.
Além disso, buscou- se nomear as cavidades com a sigla GP (Gruta da Piedade) e seu
respectivo número, por exemplo, GP (47). A ordem da numeração das cavernas coincide com
a ordem na qual foram encontradas. Desse modo, em muitos grupos, a numeração das
cavidades não aparenta seguir uma ordem lógica, pois estas foram encontradas em dias
diferentes. Em muitas cavidades, além da sigla “GP” e do número, também fui atribuído um
nome relacionado às características encontradas no interior dessas. Por exemplo, a GP (3)
também foi denominada como Gruta da Macumba, por apresentar artefatos que remetem a
este tipo de religião de matriz africana.
A projeção horizontal das cavernas levantadas baseou-se no método de
descontinuidade adotado por Silva (2004). Este dado morfométrico foi obtido por meio de
medidas realizadas em campo, onde utilizaram-se trena a laser e trena tradicional de 20
metros. Salienta-se que as medidas obtidas em campo foram aproximadas tendo em vista que
o objetivo do levantamento destes dados é apenas estabelecer uma comparação entre o
desenvolvimento das cavidades da Serra da Piedade.
Para as cavernas formadas in situ e que aparentavam ter projeção horizontal superior a
30 metros, foram realizados mapeamentos topográficos, cujo grau de precisão e detalhamento
variou entre os graus 2C e 5D5. A topografia destas cavidades foi realizada por equipes
compostas por membros do Grupo Meandros Espeleo Clube e por alunos do curso de
Geomorfologia Cárstica, ministrado pelo Professor Dr. Joel Rodet. Os instrumentos utilizados
nesta etapa foram bússola, clinômetro, trena a laser, papel milimetrado, dentre outros.
Após a prospecção, o reconhecimento preliminar destas cavidades e a etapa de
mapeamento, foram analisados aspectos morfológicos como feições cársticas presentes no
interior das cavernas formadas in situ e feições cársticas superficiais. Além disso, buscou-se
caracterizar os aspectos físicos presentes no interior das cavidades formados in situ como:
inserção na paisagem, geologia, morfologia dos condutos, hidrologia, depósitos clásticos,
depósitos químicos e feições de dissolução. Ainda foram registrados aspectos que
5
Esta metodologia foi criada pelo British Cave Research Association para diferenciar os graus de precisão e
detalhamento dos mapas topográficos de cavernas.
49
caracterizassem algum tipo de uso da cavidade, como por exemplo, a presença de utensílios
utilizados em rituais religiosos, lixo, pixações etc. Para estas descrições foi formulada uma
ficha de caracterização que se encontra em anexo.
50
encontrar ou interpretar formas de dissolução. Entretanto, estas cavidades foram formadas in
situ, ou seja, sua gênese não está associada à sobreposição de blocos.
Por fim, no capítulo 6, buscou-se estabelecer uma relação entre as cavidades
classificadas no capítulo 5 e os dados das características ambientais obtidas em campo e
gabinete: desenvolvimento (projeção horizontal), declividade, hipsometria, litologia e escarpa.
Para uma melhor análise, os parâmetros supracitados foram subdivididos em classes.
A projeção horizontal foi subdivida em quatro classes de desenvolvimento: classe 1 ( 0 – 15
metros), classe 2 (16 – 30 metros), classe 3 (31 – 45 metros) e classe 4 (acima de 45 metros).
A declividade foi subdivida em seis classes: classe 1 (0-10%), classe 2 (10-20%), classe 3
(20-30%), classe 4 (30-40%), classe 5 (40-50%) e classe 6 (50-90%). Os intervalos
altimétricos foram subdivididos da seguinte forma: classe 1 (1.360-1.420 metros), classe 2
(1.420-1.480 metros), classe 3 (1.480-1.540 metros), classe 4 (1.540-1.600 metros), classe 5
(1.600-1.680 metros) e classe 6 (acima de 1.680 metros). Em campo, pode-se agrupar e
classificar a(s) litologia(s) presentes no interior das cavidades da seguinte forma: canga
detrítica; canga detrítica/itabirito; matacões de itabirito; e canga detrítica/itabirito/matacões de
itabirito. Por fim, classificou-se a escarpa presente nas cavidades situadas na ruptura do
relevo, logo foram criadas três classes: cavidades com continuidade lateral expressiva,
cavidades com continuidade lateral pouco expressiva e cavidades que não estão situadas na
ruptura do relevo. Desse modo, foi possível constatar se existe alguma relação entre os
parâmetros supracitados, assim como traçar um perfil das características ambientais das
cavidades da Serra da Piedade.
51
4 COMPARTIMENTAÇÃO GEOMORFOLÓGICA DA ÁREA DE ESTUDO
52
Crista
Escarpa
norte
Platôs
escalonados Escarpa
sul
Planalto
inferior
Figura 4.1: Contextualização das unidades de relevo levantadas no perfil Norte-Sul da Serra da
Piedade.
Figura 4.2: Mapa litológico da área em estudo. A segunda litologia representada na legenda foi
mapeada através de dados coletados em campo.O formato da primeira litologia da legenda (canga) não
é fiel à realidade constatada em campo.
53
Figura 4.3: Mapa hispsométrico, onde é possível constatar que a área em estudo está inserida entre as
cotas de 1.360 metros e 1.776 metros (patamar altimétrico, onde localiza-se a igreja da área em
estudo).
54
Figura 4.4: Mapa de declividade da área em estudo. Analisando as classes de declividade, constata-se
que a escarpa sul possui áreas mais declivosas, quando comparada com a escarpa norte.
4.1 Crista
55
a igreja antiga (ermida), igreja nova, restaurante, lanchonete, observatório astronômico, dentre
outros.
Figura 4.6: (A) Vista da unidade de relevo crista, onde avista-se o complexo arquitetônico da Serra da
Piedade; (B) Vista da escarpa sul, onde na porção superior da foto, constata-se a unidade crista e (C)
Capela Nossa Senhora da Piedade, localizada no ponto altimétrico mais elevado da Serra da Piedade
(1.776 metros).
Fotos: A(s) autoria(s) das fotos 4.5 A e 4.5 B não foi encontrada(s). Entretanto as mesmas foram
retiradas no site: http://www.caetemh.com. Já a foto 4.6 C foi realizada pela autora desta dissertação.
A escarpa sul possui uma declividade mais acentuada quando comparada à escarpa
norte, sendo nítido o contraste entre a canga e os itabiritos da Formação Cauê, assim como
entre os itabritos e os xistos do Grupo Nova Lima (Figuras 4.2 e 4.4). As classes de
declividade desta escarpa variam entre 30 e 50%. Entretanto, na porção nordeste desta
unidade, o relevo é mais suave e as classes de declividade variam entre 10% e 30% (Figuras
4.4 e 4.5). Tal fato pode ser justificado pela presença da canga nesta porção (Figura 4.2). Esta
unidade de relevo está localizada entre 1.480 e 1.680 metros de altitude (Figura 4.3). Ela é
caracterizada pela presença de afloramentos de itabiritos (Figura 4.7-A).
56
Devido ao seu caráter abrupto, é restrito qualquer tipo de uso e ou ocupação nesta
unidade de relevo, inclusive o seu acesso é vedado aos visitantes da Serra da Piedade.
Entretanto, na porção nordeste desta unidade de relevo, é possível constatar uma estrada
desativada, que foi construída pelo Frei Rosário Joffily (1913-2000), ex-reitor do Santuário da
Serra da Piedade (Figura 4.7-B).
A B
Figura 4.7: (A) e (B) Escarpa sul, caracterizada por ser abrupta e pela presença de afloramentos de
itabirito; (C) A porção nordeste da escarpa sul possui um relevo, relativamente mais suave. Ao fundo
observa-se estrada desativada construída pelo ex-reitor do Santuário.
Fotos: 4.7 A- Manuela Corrêa Pereira; 4.7 B- Sem autoria; e 4.7 C- Roberto Cassimiro.
A escarpa norte, situada entre 1.420 e 1.700 metros de altitude, é relativamente mais
suave quando comparada à escarpa sul (Figura 4.1). Tal fato pode estar associado à presença
de capas de canga, conforme constatado no mapa geológico (Figura 4.2). Nesta escarpa
predominam as classes de declividade que variam entre 20% e 40%. Através de análises
realizadas em campo e após a interpretação dos mapas geológico e de declividade, verificou-
se que na porção oeste desta unidade predomina um relevo mais abrupto (30 a 40% de
57
declividade, Figura 4.4). Além disso, predominam afloramentos de itabirito. Já na porção leste
desta unidade, verifica-se a presença da canga, logo a declividade do relevo é mais suave,
predominando a classe de 20 a 30% de declividade. Em campo, verifica-se que esta porção é
caracterizada pela presença de afloramentos de itabirito, mas também por blocos e matacões
desta litologia. Ainda na porção extremo oeste desta unidade de relevo verifica-se pequenas
áreas planas que são sustentadas pela canga (Figuras 4.2 e 4.4).
A estrada que dá acesso ao Complexo Arquitetônico da Serra da Piedade está
localizada nesta unidade de relevo. Além disso, na porção extremo oeste desta unidade, existe
uma infra-estrutura composta por lanchonete e banheiros que atendem aos visitantes, quando
o acesso à unidade crista é vetado.
A B
Figura 4.8: (A) Afloramentos de itabirito na porção oeste da unidade escarpa norte. (B) Matacões de
itabirito presentes na porção leste da unidade escarpa norte. (C) Escarpa norte, caracteizada pela
presença de itabiritos, matacões e blocos desta litologia.
Fotos: 4.8 A e C- Manuela Corrêa Pereira; e 4.8 B- Luciano Faria.
58
A B
Figura 4.9: (A) Estrada situada na escarpa norte que dá acesso ao Complexo Arquitetônico da Serra
da Piedade. (B) Na porção direita da foto, constata-se infra-estrutura instalada num pequeno platô de
canga presente na porção extremo oeste da unidade escarpa norte.
Fotos: Luciano Faria
59
Planalto inferior
Platô inferior
Escarpa Norte
Planalto inferior
Platô superior
Escarpa Norte
Figura 4.10: (A) Em primeiro plano, escarpa norte, em segundo plano platô inferior e em terceiro
plano planalto inferior. (B) Em primeiro plano, escarpa norte, em segundo plano platô superior e em
terceiro plano planalto inferior.
Fotos: Manuela Corrêa Pereira
Por fim, a área de estudo engloba parte do planalto inferior que tem como substrato os
filitos da Formação Cercadinho (Figura 4.2). Este planalto está em contato com as bordas dos
platôs e, na área de estudo, situa-se entre 1.360 e 1.560 metros de altitude (Figuras 4.3 e 4.4) e
predomina a classe de declividade que varia entre 10% e 20%.
A vegetação desta unidade de relevo se difere das demais unidades descritas. Nesta
unidade constata-se uma mata fechada de grande porte arbóreo que contrasta com a vegetação
rasteira, dos campos ferruginosos presentes nas unidades platôs escalonados e escarpa norte
(Figura 4.10).
60
5 DESCRIÇÃO DAS CAVERNAS DA SERRA DA PIEDADE
O Grupo 1 é composto por oito cavidades que estão situadas na borda do Platô
Superior e também na ruptura do relevo (Figura 5.1). Nesta unidade foram encontradas duas
cavidades classificadas como cavernas com evidências cársticas e seis cavidades classificadas
como cavernas sem evidências cársticas (Figura 5.1). Segundo o mapa geológico da
Quadrícula da Serra da Piedade (LOBATO et al., 2005), as cavidades deste grupo estão
situadas no contato da canga com a o itabirito da Formação Cauê.
6
Cavernas em tálus, cavernas sem feições cársticas e cavernas com feições cársticas.
61
Figura 5.1: Contextualização das cavidades na unidade Platô Superior.
A cavidade foi denominada “Cascalhinho” devido ao nome local dado ao platô no qual
está situada. A Gruta do Cascalhinho é a primeira cavidade, no sentido W-E, que se insere na
borda deste platô (Figuras 5.1 e 5.2). A caverna apresenta duas entradas. A entrada da porção
oeste desta cavidade é caracterizada por ser de difícil acesso, ou seja, possui a entrada estreita
para a passagem humana. Já a entrada da porção leste da cavidade é caracterizada pela
presença de matacões e blocos de canga, que também são recorrentes em seu interior.
62
Figura 5.2: Entrada da Gruta do Cascalhinho, localizada na ruptura do relevo.
Foto: Tatiana Souza
63
Canga detrítica
Itabirito
Figura 5.3: Conduto arredondado com a presença de uma fissura entre o itabirito (não foi possível
afirmar se este itabirito estava in situ, ou se consiste em um matacão) e a canga detrítica.
Foto: Manuela Corrêa Pereira
64
A B
Figura 5.4: (A) e (B) Domos formados no teto da Gruta do Cascalhinho; e (C) pendente, forma
relíquia que indica a coalescência de condutos, através do processo de dissolução.
Fotos: Manuela Corrêa Pereira e Tatiana Souza.
65
Gruta, possui o formato semi-oval e dá continuidade a um conduto de formato tubular (Figura
5.5-A e Figura 5.7).
De modo geral, a litologia constada em campo consiste na canga do tipo detrítica e no
itabirito. Mais uma vez não foi possível afirmar se o itabirito presente no interior desta
cavidade estava in situ ou se sofreu processos de vertente, sendo um matacão que cimentou
com os demais clastos da canga detrítica. A medida que se adentra a caverna, nota-se que a
matriz, na qual os detritos que compõem a canga estão imersos, fica mais esbranquiçada. A
cavidade apresenta muitas fraturas em toda sua extensão (Figura 5.6-A).
A B
Figura 5.5: (A) Entrada da porção leste da Gruta da macumba, com formato que se assemelha ao
semi-oval. (B) Entrada da porção central da Gruta da Macumba, que possui o formato semi-circular e
(C) reentrância na porção sudeste da Gruta da Macumba, que foi utilizada como um altar ornamentado
com flores de plástico, velas, copos de plástico, garrafas quebradas, etc., utilizados em ritos religiosos.
Fotos: Manuela Corrêa Pereira
66
A B
C D
Figura 5.6: (A) Fratura localizada no interior da cavidade; (B) Paleopiso, principal feição que
caracterizou a Gruta da Macumba como cárstica; (C) Feição côncava abaixo do paleopiso; (D)
Espeleotemas precipitados abaixo da feição que se assemelha a um altar da Figura 5.5-C.
Fotos: Manuela Corrêa Pereira
67
Figura 5.7: Mapa da Gruta da Macumba, onde é constatada a presença de paleopiso na porção sul da
cavidade e condutos irregulares.
68
5.2.3 Gruta da Clarabóia
A Gruta da Clarabóia recebeu tal denominação devido ao vazio no teto gerado pelo
colapso de um bloco de canga que compunha o platô superior (Figura 5.8-A). Esta é a terceira
cavidade, no sentido W-E, que se insere na borda da unidade platô superior (Figura 5.1). A
caverna apresenta apenas uma entrada (Figura 5.8-C). Os condutos e a entrada que compõem
esta cavidade possuem o formato irregular (Figura 5.8-B e 5.8-C).
De modo geral, a litologia verificada em campo consiste na canga do tipo detrítica e
pelo itabirito. Mais uma vez, não foi possível afirmar se este itabirito está in situ ou se é um
matacão que cimentou com os demais clastos que compõem a canga detrítica.
Em campo, constatou-se que a cavidade não apresenta nenhum tipo de ação
hidrológica perceptível. Entretanto, vale ressaltar que a prospecção e descrição desta caverna
foram realizadas no período seco.
Quanto aos depósitos clásticos constatou-se que estes possuem granulometria que
varia de sedimentos finos até os mais grosseiros: seixo, bloco e matacão. A litologia dos
sedimentos mais grosseiros é representada pela canga detrítica, proveniente de abatimentos da
canga que compõe o platô superior, que por sua vez é o teto desta caverna.
Por fim, vale registrar que a Gruta da Clarabóia sofreu degradação humana, pois no
seu interior foi possível constatar a presença de latas, copos, pedaços de garrafas plásticas,
dentre outros.
69
A
B
Figura 5.8: (A) Clarabóia presente no teto da Gruta de mesmo nome; (B) Conduto irregular da Gruta
da Clarabóia e (C) Entrada da Gruta da Clarabóia.
Fotos: Manuela Corrêa Pereira e Mônica Correia.
Tabela 5.4: Coordenadas, Altitude, Projeção Horizontal e Classificação da Gruta das Latinhas
A Gruta das Latinhas recebeu tal denominação devido à presença de antigas latas de
cerveja presentes no seu interior. Esta é a quarta cavidade, no sentido W-E, que se insere na
borda da unidade Platô Superior (Figura 5.1). A caverna apresenta uma entrada que aparenta
ter o formato triangular (Figura 5.9-C). Já os demais condutos desta cavidade são irregulares e
estão associados a fissuras de aparência atectônica, que são recorrentes nesta caverna (Figura
5.9-B).
70
De modo geral, a litologia constada em campo consiste na canga do tipo detrítica e o
itabirito. Como nas demais cavidades, não foi possível afirmar se este itabirito está in situ ou
se é um matacão que cimentou com os demais clastos que compõem a canga detrítica.
Não foi possível constatar nenhuma ação hidrológica perceptível. Entretanto, vale
ressaltar que, assim como a Gruta da Clarabóia, a prospecção e descrição desta cavidade
foram realizadas no período seco.
Quanto aos depósitos clásticos constatou-se que estes possuem granulometria que
varia de sedimentos finos até os mais grosseiros, seixo, bloco e matacão (Figura 5.9-A). A
litologia dos sedimentos mais grosseiros é representada pela canga detrítica.
Assim como a Gruta da Clarabóia, a Gruta das Latinhas também sofreu degradação
humana. No seu interior foi possível constatar a presença de latas, copos, vidros e pedaços de
alguidar7, que indicam que a cavidade foi utilizada com algum tipo de finalidade religiosa.
Figura 5.9: (A) Interior da Gruta das Latinhas, onde é possível observar sedimentos finos e grosseiros.
(B) Fissuras presentes no interior da Gruta das Latinhas (C) Entrada da Gruta da Latinha, que aparenta
ter o formato triangular. Fotos: Manuela Corrêa Pereira e Mônica Correia.
7
Bacia de barro usada para rituais de Umbanda e Candoblé.
71
5.2.5 Gruta do Conduto I e Gruta do Conduto II
A B
Figura 5.10: (A) Entrada da Gruta do conduto I (B) Entrada da Gruta do Conduto II.
Fotos: Manuela Corrêa Pereira
72
5.2.6 Gruta Pequena e Gruta do Morcego
Tabela 5.6: Coordenadas, Altitude, Projeção Horizontal e Classificação da Gruta Pequena e da Gruta
do Morcego
73
itabirito
canga
matacão de
canga
A B
canga
itabirito
Figura 5.11: (A) Entrada da Gruta do morcego, que possui formato irregular; (B) Interior da Gruta do
Morcego, onde é possível constatar a presença do itabirito, da canga detrítica e de um matacão abatido
de canga; (C) Entrada da Gruta pequena, que possui formato irregular e é caracterizada pela presença
da canga detrítica e do itabirito.
Fotos: Manuela Corrêa Pereira e Mônica Correia.
O Grupo 2 é composto por sete cavidades que estão situadas na borda do Platô Inferior
e também na ruptura do relevo (Figura 5.12). Nesta unidade foram encontradas duas
cavidades classificadas como cavernas com evidências cársticas e cinco cavidades
classificadas como cavernas sem evidências cársticas. Segundo o mapa geológico da
Quadrícula da Serra da Piedade (LOBATO et al., 2005), as cavidades deste grupo estão
situadas no contato da canga com a o itabirito da Formação Cauê.
74
Figura 5.12: Localização das cavidades na unidade de relevo Platô Inferior.
Projeção
Leste Norte Altitude Horizontal
Cavernas (metros) (metros) (metros) (metros) Classificação
Gruta Pequena Caverna sem feições
II 638566 7808289 1.412 4 cársticas
Caverna sem feições
Gruta do Desisto 638588 7808289 1.415 2 cársticas
75
canga indicam que a gênese destas cavidades está atrelada ao colapso da canga, que gerou o
vazio no interior das mesmas.
Figura 5.13: Entrada da Gruta do desisto, caracterizada por ser de difícil acesso.
Foto: Manuela Corrêa Pereira
76
ferruginosa e estão densamente distribuídos (grande número de detritos por área). É possível
visualizar o bandamento dos blocos de itabirito que compõem a canga. Já nos dois últimos
salões, visualiza-se o contato entre a canga detrítica e o itabirito da Formação Cauê (Figura
5.14-B). Em todos os salões foi possível constatar gotejamento durante o período chuvoso,
entretanto, no período seco a caverna não apresenta nenhum tipo de ação hidrológica
perceptível.
No salão do sapo é possível observar fissuras entre os matacões de itabirito e os
demais detritos que compõem a canga. Os condutos que compõem este salão, assim como os
demais condutos que compõem a cavidade, apresentam formato irregular (Figura 5.14-C). No
chão do salão, predominam sedimentos finos, mas também é marcante a presença de matacões
de canga. Ainda neste salão, é possível constatar no teto e nas paredes feições que se
assemelham a cúpulas que foram formadas na canga detrítica (Figura 5.14-D). Entretanto,
estas feições não possuem um grau de arredondamento para que sejam classificadas como
cársticas.
A presença de um canal intermitente (Figura 5.15-A) e de uma pequena bacia que
represa a água durante o período chuvoso são as principais características físicas do salão
principal (Figura 5.16). Além disso, também foi possível constatar a presença de colunas
residuais e cúpulas, estas últimas se assemelham às encontradas no salão do sapo. Quanto aos
depósitos clásticos foi observada a presença de sedimentos finos, principalmente, no interior
da bacia, além de blocos de canga nas demais partes do salão principal.
No salão da capa, foi possível observar o contato entre a canga detrítica e o itabirito da
Formação Cauê. Além disso, foi possível evidenciar a principal feição que caracteriza esta
cavidade como cárstica, um paleopiso (Figura 5.15-B e Figura 5.16). Neste salão, também
constatou-se a presença de uma bacia caracterizada por represar a água que entra na caverna
durante o período chuvoso, nela também constatou-se a presença de sedimentos finos. Estes
sedimentos podem ser alóctones (provenientes dos canalículos, que podem conectar o
ambiente exterior à cavidade) ou autóctones (provenientes da banda silicosa do itabirito)
(Figura 5.15-C). Neste salão, assim como no salão principal e no salão do contato é recorrente
a presença de colunas e pendentes. Estes últimos podem ter sido originados pelo colapso
mecânico e/ou pela dissolução das porções inferiores das antigas colunas (Figura 5.14-D).
Por fim, o salão do contato, em sua porção final, é caracterizado pelo contato nítido
entre a canga detrítica e o itabirito da Formação Cauê (Figura 5.14-F). Na porção oeste deste
salão é possível evidenciar um ressalto, que apresenta gotejamento constante durante o
77
período chuvoso. Já na porção leste, mais uma vez é verificada uma pequena bacia que
aparenta represar a água durante os meses chuvosos.
Canga detrítica
Canga detrítica
Itabirito
Itabirito
B
B
A
C DD
Figura 5.14: (A) Entrada da Gruta do Chuveirinho; (B) A linha tracejada amarela indica o contato
entre a canga detrítica e o itabirito da Formação Cauê, presente no final do salão do contato; (C)
Blocos de canga no salão do sapo e conduto irregular que conecta o salão do sapo ao salão principal; e
(D) Cúpulas presente no teto do salão do sapo.
Fotos: Manuela Corrêa Pereira.
78
A B
C D
Figura 5.15: (A) Pequeno canal intermitente presente no salão principal; (B) As setas azuis indicam o
resquício de um possível paleopiso presente no salão da capa; (C) Pequena bacia presente no salão da
capa, caracterizada por represar a água da chuva, que por sua vez utiliza das descontinuidades
presentes entre os detritos da canga para ter acesso ao interior da caverna; e (D) Irregulariedades no
teto, coluna e pendente de teto presentes no salão do contato.
Fotos: Manuela Corrêa Pereira
79
Figura 5.16: Planta baixa da Gruta do Chuveirinho
80
difícil acesso (Figura 5.17-A). A litologia desta cavidade consiste na canga do tipo detrítica
composta por fragmentos mal selecionados que variam do tamanho de seixo até bloco. A
cavidade não apresenta nenhum tipo de ação hidrológica visível. Quanto aos depósitos
químicos e clásticos, foram observados espeleotemas do tipo coralóide no seu interior, além
de sedimentos finos e detritos de canga que variam do tamanho de seixo até bloco (Figura
5.17-B).
No interior desta cavidade foi constatada a presença de descontinuidades que podem
ter colaborado para sua gênese. Outro aspecto constado no seu interior foi a presença de
reentrâncias nas laterais desta cavidade, que podem ser uma evidência da ação dissolutiva da
água (Figura 5.17-B). Apesar dessas evidências, a cavidade não foi classificada como cárstica,
pois suas formas não são tão nítidas como as formas encontradas nas demais cavernas que
obtiveram tal classificação.
A B
Figura 5.17: (A) Entrada da Gruta do capim e (B) Sedimentos finos, grosseiros e reentrâncias estão
presentes no interior da Gruta do Capim.
81
densamente distribuídos (grande quantidade de detritos por área). No seu interior foi possível
constatar sedimentos finos e grosseiros. A cavidade não possui nenhum tipo de ação
hidrológica perceptível.
Tabela 5.11: Coordenadas, Altitude, Projeção Horizontal e Classificação da Gruta do Bloco Abatido
82
Figura 5.18: Entrada da Gruta do Bloco Abatido.
Foto: Manuela Corrêa Pereira
83
Além disso, em alguns salões é possível notar a presença do itabirito. Quanto aos aspectos
hidrológicos, foram constatados a presença de gotejamentos durante o período chuvoso,
canais de drenagem intermitente e condensação.
Para melhor descrevê-la, a Gruta do Triângulo foi subdividida em sete partes: salão
dos matacões, salão da bacia, salão dos canalículos, setor oeste, setor leste, salão do paleopiso
e salão final. (Figura 5.20). O salão dos matacões é caracterizado pela presença de matacões e
blocos (Figura 5.19-A). A litologia destes depósitos é a canga detrítica. Entretanto, na porção
inferior de alguns matacões de canga é possível visualizar o bandamento do itabirito, o que
pode indicar um possível contato entre estas duas litologias. Já o salão da bacia é
caracterizado pela presença de feições arredondadas. Dentre estas feições destaca-se uma
pequena bacia, que aparenta represar a água durante o período chuvoso (Figura 5.19-B e
Figura 5.20). Nesta bacia verifica-se a presença de sedimentos, que podem ter sido carreados
pelo canal de drenagem intermitente que se origina no salão dos canalículos (Figura 5.20). O
salão da bacia é ainda caracterizado pela presença de reentrâncias nas paredes e por uma
feição que pode representar o estágio inicial de um paleopiso.
O terceiro salão, denominado salão dos canalículos, é caracterizado pela presença de
pequenos canais que fazem conexão com o ambiente exterior à cavidade (Figura 5.20). Logo,
os sedimentos finos presentes neste salão e nos demais salões à jusante podem ter origem
alóctone, assim como podem ter sidos transportados pelo canal de drenagem presente neste
salão (Figura 5.19-C e Figura 5.20).
Nos setores leste e oeste predominam sedimentos finos e ainda é possível constatar
canais de drenagem intermitente. No final do setor oeste é possível constar a presença do
itabirito no teto, este itabirito aparenta estar in situ. Já no setor leste foi encontrada uma
porção sedimentos presos ao teto desta cavidade (Figura 5.19-D). Este fato pode ser
interpretado como indício de que a mesma estava entupida por estes sedimentos, ou seja,
sofreu processos de carstificação. Já o salão do paleopiso, apresenta a principal feição que
caracteriza a Gruta do Triângulo como cárstica: um paleopiso (Figura 5.19-E).
Por fim, no salão final nota-se que pela primeira vez o itabirito é predominante em
relação à ocorrência da canga. Este salão é caracterizado pela presença de blocos e matacões
cobertos por uma capa. Aparentemente, a capa que envolve estes sedimentos possui a mesma
composição mineral da capa que está sobre o paleopiso. Neste salão também foi possível
notar concavidades no teto, que foram formadas sobre o itabirito (Figura 5.19-F).
84
A B
C D
E F
Figura 5.19: (A) Matacões presentes no salão dos matacões; (B) Pequena bacia presente no salão da
bacia, que possui sedimentos finos carreados pelas águas temporárias dos canais de drenagem; (C)
Sedimentos finos que podem ser alóctones, provenientes dos canalículos e carreados pelos canais de
drenagem intermitentes; (D) Sedimentos no teto da Gruta do Triângulo, feição que pode evidenciar
que a mesma estava preenchida; logo infere-se que a mesma sofreu paragênese; (E) Paleopiso,
principal feição que caracteriza a Gruta do Triângulo como cárstica; (F) Concavidade no teto
desenvolvida sobre o itabirito.
Fotos: Manuela Corrêa Pereira
85
Figura 5.20: Planta baixa da Gruta do Triângulo.
O Grupo 3 é composto por onze cavidades que estão situadas na porção superior da
unidade de relevo denominada Escarpa Norte. Nesta porção foram encontradas: uma cavidade
86
classificada como caverna com evidências cársticas, três cavidades classificadas como
cavernas sem evidências cársticas e sete cavidades classificadas como cavidades em tálus
(Figura 5.21). Segundo o mapa geológico da Quadrícula da Serra da Piedade (LOBATO et al.,
2005), as cavidades deste grupo estão situadas na canga. Entretanto, em campo constatou-se
que as cavidades em tálus são formadas por matacões e blocos de itabirito; as cavidades sem
evidências cársticas são formadas, majoritariamente na canga, mas apresentam pequenas
porções de desenvolvimento no itabirito; e a caverna com feições cársticas é formada tanto na
canga e no itabirito, como por matacões desta última litologia.
Figura 5.21: Localização das cavidades na porção superior da unidade de relevo Escarpa Norte.
Tabela 5.13: Coordenadas, Altitude, Projeção Horizontal e Classificação das cavernas em tálus do
Grupo 3.
Projeção
Leste Norte Altitude Horizontal
Cavernas do Grupo 3 (m) (m) (m) (m) Classificação
GP(11) 638623 7808102 1493 14 Caverna em tálus
GP(12) 638623 7808106 1502 6 Caverna em tálus
GP(17) (Gruta do Bloco) 638499 7808086 1517 6 Caverna em tálus
GP(23) 638284 7808015 1529 12 Caverna em tálus
GP(34) 638849 7808030 1523 5 Caverna em tálus
GP(35) (Gruta da
Árvore Seca) 638869 7808027 1526 8 Caverna em tálus
GP(36) 638903 7807880 1572 5 Caverna em tálus
A B
C D
Figura 5.22: (A) Porção da cavidade GP(11) que é formada por um matacão de canga; (B)
Espeleotemas formados no teto de itabirito da caverna GP(11); (C) Sedimentos grosseiros de canga e
itabirito presentes no chão da caverna GP(11); e (D) Processo de desplacamento do itabirito, que foi
favorecido pelo seu bandamento desta litologia. Fotos: Manuela Corrêa Pereira e Leilane Sobrinho.
88
5.4.2 Gruta da Piedade
A cavidade foi denominada “Gruta da Piedade” por ser a Gruta de maior projeção
horizontal encontrada na área de estudo, logo a cavidade recebeu a mesma denominação da
Serra que abriga o Santuário Nossa Senhora da Piedade.
A Gruta da Piedade insere-se na porção superior da unidade Escarpa Norte (Figura
5.20). Esta cavidade destaca-se, pois além de apresentar uma considerável projeção horizontal
(Tabela 5.14), também apresenta um expressivo desnível de 39 metros. Devido a este
acentuado desnível a Gruta da Piedade foi subdividida em cinco níveis altimétricos: nível -1,
nível 0, nível +1, nível +2 e nível +3 (Figura 5.23). Mais um dado que retrata a complexidade
da Gruta da Piedade são as 15 entradas identificadas ao longo do mapeamento topográfico
(Figura 5.23).
Para realizar a caracterização desta cavidade, buscou-se descrever os principais
aspectos, processos e feições identificados ao longo da etapa de campo. Logo, os níveis que
compõem esta cavidade foram subdivididos em salões e condutos. Foram descritos somente
os salões e condutos que apresentavam feições e processos representativos e/ou relevantes
para o tema desta dissertação.
O nível -1 é composto pelo salão arredondado, salão da placa, salão do rizotema, salão
das saídas 4 e 5, salão dos blocos abatidos e conduto calibrado (este conduto foi representado
na porção superior do mapa, como demonstra a linha tracejada em azul e o quadro de mesma
cor, Figura 5.23).
O salão arredondado, diferente dos demais salões e condutos localizados neste nível, é
caracterizado pela presença de sedimentos finos no chão, além disso, observa-se o contato
entre o itabirito e canga detritica (Figura 5.24-A). Neste salão também foi possível constatar
feições de formato alveolar, que aparentam ter sua gênese associada a processos de dissolução
(Figura 5.24-B).
O salão da placa está localizado a oeste do salão arredondado (Figura 5.23). Este salão
aparenta ter sua gênese associada ao desplacamento do itabirito, pois no chão é possível
89
constatar a presença de placas desta litilogia. No chão deste salão também é possível observar
o predomínio de depósitos do tamanho de bloco a matacão.
A oeste e a norte do salão das placas, estão localizados, respectivamente, o salão do
rizotema e o salão das saídas 4 e 5. Estes salões são caracterizados por ter uma declividade
acentuada e pela presença de depósitos grosseiros, onde predominam o tamanho de bloco e
matacão.
Por fim, o Conduto Calibrado possui um formato tubular, que aparenta ter sido
formado por processos de piping (este conduto foi representado pela linha tracejada azul e
pelo quadro de mesma cor, na Figura 5.23 e Figura 5.24-D). Este conduto pode ter sido fruto
de processos de carstificação. Nele é possível evidenciar a presença de depósitos grosseiros de
canga, principalmente, do tamanho de matacões. Além disso, a principal feição cárstica
encontrada neste conduto são pendentes (Figura 5.23 e Figura 5.24-C).
90
Figura 5.23: Planta baixa da Gruta da Piedade. 91
CANGA
ITABIRITO
A B
C D
Figura 5.24: (A) Contato entre a canga detrítica e o itabirito da Formação Cauê no Salão
Arredondado; (B) Feição alveolar localizada no Salão Arredondado; (C) Pendentes localizados no
final do Conduto Calibrado; e (D) Conduto Calibrado, onde é possível constatar o formato tubular e a
presença de blocos de canga.
Fotos: Manuela Corrêa Pereira e Thomas Corrêa.
92
A B
C
C
C
D
CANGA
ITABIRITO
E F
Figura 5.25: (A) Entrada principal da Gruta da Piedade, localizada no Nível 0; (B) Queda d’água
intermitente presente no salão principal da Gruta da Piedade; (C) Entrada do conduto “sem piedade”,
que conecta o salão principal, situado no Nível 0, aos demais salões do Nível +1; (D) Feição que se
assemelha à uma cúpula presente no teto do conduto “sem piedade”, no interior desta feição é possível
notar um buraco arredondado que dá acessos aos salões do Nível +1; (E) Feições que aparentam ser
pendentes de teto no conduto “sem piedade”; e (F) Contato evidente entre a canga e o itabirito no
conduto “sem piedade”.
Fotos: Manuela Corrêa Pereira, Leda Zogbi e Roberto Cassimiro.
93
Os salões que compõem o Nível +1, representados no quadrado vermelho da Figura
5.23, têm sua gênese associada à sobreposição de matacões de itabirito, ou seja, estes salões
não foram formados in situ. As feições em destaque nesta porção da cavidade são os
espeleotemas e as pequenas bacias de dissolução. Os espeleotemas encontrados são do tipo
coralóide (Figura 5.23 e Figura 5.26-A) e foram formados sob os matacões de itabirito, que
compõem os tetos e as paredes dos salões representados neste quadro. Geralmente este tipo de
espeleotema é encontrado próximo às entradas que permita a circulação de ar. No caso deste
salão os coralóides encontram-se próximos à entrada número 9 (Figura 5.23). Já as pequenas
bacias são formadas sobre os blocos de itabirito, presentes no chão desta parte da cavidade
(Figura 5.26-B). A gênese destas bacias pode estar associada a processos de dissolução, sendo
que o principal agente, a água, provém dos vazios presentes entre os matacões de itabirito que
formaram este setor.
Figura 5.26: (A) Espeleotemas do tipo coralóide formados no itabirito dobrado (B) Pequenas bacias
perenes que aparentam terem sido formadas por processos de dissolução.
Fotos: Manuela Corrêa Pereira
94
+2. Nesta dissertação são descritos o conduto da minhoca e os salões do pendente e final, por
apresentarem feições interessantes e representativas para este setor da caverna. O conduto da
minhoca foi formado na canga detrítica, caracterizada por apresentar um grande número de
detritos por área (Figura 5.27-B). No final deste conduto é possível notar a presença do
itabirito descaracterizado, já que o mesmo apresenta somente a banda de hematita (Figura
5.27-C). Desse modo, infere-se que a banda silicosa foi lixiviada, fato indicativo de processos
de dissolução. Vale ressaltar que no chão deste conduto é possível constatar a predominância
de sedimentos finos e espeleotemas formados sob o itabirito.
O salão do pendente foi formado na canga detrítica que apresenta detritos que variam
do tamanho de seixo até bloco. No chão deste salão predominam-se sedimentos finos,
entretanto, é possível notar a presença de depósitos grosseiros do tamanho de seixo a bloco.
Este salão recebeu tal denominação por apresentar um pendente (Figura 5.27-D), que está ao
lado de um conduto de formato semi-circular com a presença de uma fissura (Figura 5.27-E).
Por fim, o salão final apresenta a mesma litologia do salão do pendente. Entretanto, no final
deste salão, é possível constatar a presença de itabirito, que aparenta estar sofrendo processos
de desplacamento. Este salão também apresenta gotejamento.
95
A
B CC
B
D E
Figura 5.27: (A) Conduto dos Matacões, caracterizados por apresentar matacões de significativas
dimensões. (B) Pendente presente no salão do Pendente; (C) Fissura presente no conduto que dá
acesso ao Salão do Pendente; (D) Canga caracterizada por apresentar uma alta densidade de detritos;
(E) Itabirito descaracterizado e friável, já que não apresenta a banda silicosa que faz parte de sua
composição original.
Fotos: Manuela Corrêa Pereira.
96
Ao retornar à entrada principal da cavidade, que no mapa está representada pelo
número 1, nota-se um ressalto na porção sudeste desta entrada que dá acesso aos condutos e
salões desta porção (Figura 5.23). Após ultrapassar este ressalto, observa-se um conduto semi-
circular (Figura 5.28-A) com reentrâncias que formam pequenos salões arredondados. Este
conduto foi formado, predominantemente, na canga detrítica. Entretanto, em alguns destes
pequenos salões laterais, nota-se a presença do itabirito. O final deste conduto dá acesso a um
salão amplo que foi denominado salão dos morcegos, devido ao grande número destes
animais que ocupam este salão (Figura 5.23). Neste salão foi possível observar tanto a
presença da canga detrítica como a do itabirito. A matriz que envolve os detritos da canga
varia da coloração esbranquiçada a avermelhada, já a granulometria destes detritos variam do
tamanho seixo a bloco.
Quanto aos aspectos hidrológicos, observaram-se canais de drenagem intermitente
(Figura 5.28-B) e gotejamento durante o período chuvoso. Já no que se refere aos depósitos
clásticos, observaram-se tanto sedimentos finos, como sedimentos grosseiros, que variam do
tamanho de seixo até matacão. Já quanto aos depósitos químicos, observaram espeleotemas
do tipo coralóide.
Ao longo do salão dos Morcegos foram observadas concavidades no teto, mas não foi
possível afirmar se as mesmas sofreram processos de dissolução. Além disso, observou-se que
os dois primeiros condutos da porção oeste deste salão, tiveram sua gênese associada aos
planos de acamamento do itabirito (Figura 5.28-C).
97
A
C
B
Figura 5.28: (A) Conduto de formato semi-circular que conecta o Salão Principal ao Salão dos
Morcegos; (B) Canal de drenagem intermitente presente no Salão dos Morcegos; (C) Conduto que
possui sua gênese associada aos planos de acamamento do itabirito.
Fotos: Manuela Corrêa Pereira.
O conduto do perigo está localizado próximo aos condutos condicionados pelos planos
de acamamento do itabirito (Figura 5.23). Neste conduto, observam-se feições côncavas no
teto que se assemelham a domos. Entretanto, por ter um caráter irregular estas feições não
receberam tal denominação (Figura 5.29-A). Este conduto possui o formato semi-oval e foi
desenvolvido na canga detrítica, que está bastante intemperizada (Figura 5.29-B).
Já o conduto do parto dá acesso ao salão do alívio, onde está presente a entrada de
número 13, localizada no Nível +2 (este salão está representado pela linha tracejada rosa e
pelo quadro de mesma cor na Figura 5.23). O salão do alívio parece ter sua gênese associada à
sobreposição de matacões de itabirito, no chão predominam depósitos grosseiros que variam
do tamanho seixo até matacão. Na entrada 13, observa-se a presença de alvéolos
desenvolvidos no itabirito (Figura 5.29-C).
O conduto puro ferro dá acesso ao salão homônimo. Este salão aparenta ter sido
formado por um grande matacão de itabirito, ou seja, teve a sua gênese associada a processos
de coluvionamento (Figura 5.29-D). Os depósitos clásticos deste salão são,
98
predominantemente, do tamanho de matacão. Estes depósitos aparentam terem sido
originados do próprio desplacamento do matacão de itabirito que formou este salão. Neste
salão também foram observados depósitos químicos do tipo coralóides.
A B
C D
Figura 5.29: (A) Côncavidade presente no teto do conduto do perigo; (B) Conduto semi-oval,
caracterizado por possuir uma litologia bastante intemperizada; (C) Alvéolos presentes na Entrada 13
do Salão do Alívio; (D) Salão Puro Ferro, aparenta ter sido formado por um matacão de itabirito.
Fotos: Manuela Corrêa Pereira e Joseane Biazini.
A sul da entrada 13 há condutos que darão acesso ao salão da botinha, que está
localizado num patamar mais elevado, o Nível +3 (este salão está representado pela linha
tracejada rosa e pelo quadro de mesma cor na Figura 5.23). O salão da botinha aparenta ter
sua gênese associada à sobreposição de matacões de itabirito. No final deste salão observa-se
a presença da entrada de número 14 (Figura 5.23). Outra feição de destaque são formas
alveolares presentes nas paredes deste salão (Figura 5.30-A)
O salão do paredão também aparenta ter sua gênese associada a processos de
coluvionamento do itabirito. No final deste salão avista-se um paredão íngreme que dará
acesso à entrada 15 (ver quadro rosa da Figura 5.23 e Figura 5.30-B). No chão deste salão
99
observa-se o predomínio de depósitos grosseiros de itabirito do tamanho de seixos à matacão.
Estes sedimentos possuem origem tanto autóctone, proveniente do próprio desplacamento do
tálus de itabirito que formou o salão, como alóctone, proveniente dos detritos dos
afloramentos de itabirito localizados à montante da entrada 15. No teto, observam-se
depósitos químicos do tipo coralóides.
O salão do fim está localizado a sudeste da entrada 15 (ver quadro rosa da Figura
5.23). Nele predominam depósitos finos. Estes sedimentos podem ter sido originados da
banda silicosa do itabirito (Figura 5.30-C). Este salão tem como substrato tanto o itabirito,
como a canga detrítica. Os condutos são irregulares (Figura 5.30-D), há gotejamento durante
o período chuvoso e concavidades no teto que se assemelham a domos.
A B
C D
C D
Figura 5.30: (A) Forma alveolar localizada na parede do Salão da Botinha; (B)Teto do Salão do
Paredão, que aparenta ser um matacão de itabirito; (C) Depósitos finos presentes no interior do salão
do fim, estes sedimentos aparentam ter sua gênese associada à banda silicosa do itabirito, que foi
lixiviada; e (D) Conduto irregular, que também é a entrada para o salão do fim.
Fotos: Manuela Corrêa Pereira e Joseane Biazini.
100
5.4.3 Gruta do Colchão
A B
Figura 5.31: (A) Entrada da Gruta do Colchão e abrigo presente na sua parte externa e (B) Interior da
Gruta do Colchão.
Fotos: Luciano Faria.
101
5.4.4 Gruta da Estrada I e Gruta da Estrada II
Projeção
Horizontal
Cavernas Leste (m) Norte (m) Altitude (m) (m) Classificação
Gruta da Estrada Caverna sem feições
I 638963 7807787 1.641 6 cársticas
Gruta da Estrada Caverna sem feições
II 638495 7807882 1.621 4 cársticas
102
A B
Figura 5.32: As setas vermelhas indicam as fraturas presentes no exterior das grutas, já as setas
amarelas indicam os vazios ou condutos que podem ter sido gerados por estas fraturas. (A) Gruta da
Estrada I e (B) Gruta da Estrada II.
Fotos: Manuela Corrêa Pereira.
O Grupo 4 é composto por cinco cavidades que estão situadas na porção inferior da
unidade de relevo denominada Escarpa Norte (Figura 5.33). Nesta porção, todas as cavidades
encontradas foram classificadas como cavidades em tálus. Segundo o mapa geológico da
Quadrícula da Serra da Piedade (LOBATO et al., 2005), as cavidades deste grupo estão
situadas na canga. Entretanto, em campo constatou-se que estas cavidades foram formadas
pela sobreposição de matacões e blocos de itabirito (Figuras 5.34-A e 5.34-C).
Dentre as cavidades do Grupo 4, destaca-se a Gruta dos Romeiros pelo seu caráter
religioso. Essa caverna também foi indicada no croqui do Frei Rosário Joffily e pela
facilidade de acesso, vem sendo alvo de grande fluxo de turistas/religiosos. Foram
encontradas algumas imagens religiosas associadas ao rito católico e também alguidares
quebrados na entrada relacionados a ritos de umbanda e candomblé (Figura 5.34-B).
103
Figura 5.33: Localização das cavidades na porção inferior da unidade de relevo Escarpa Norte.
Tabela 5.17: Coordenadas, Altitude, Projeção Horizontal e Classificação das Cavernas do Grupo 4:
Projeção
Cavernas do Leste Norte Altitude Horizontal
Grupo 4 (m) (m) (m) (m) Classificação
Gruta dos Caverna em
Romeiros 638599 7808255 1.422 19 tálus
Caverna em
GP14 638416 7808197 1.436 14 tálus
Caverna em
GP15 638416 7808188 1.435 6 tálus
Caverna em
GP24 637959 7808111 1.436 9 tálus
Caverna em
GP25 637950 7808051 1.610 8 tálus
104
A
Figura 5.34: (A) Entrada das Gruta dos Romeiros, formada pela sobreposição de matacões de
itabirito; (B) Alguidar (prato de barro utilizado em rituais religiosos) na entrada da Gruta dos
Romeiros e (C) Teto de itabirito da cavidade GP(15).
Fotos: Luciano Faria
O Grupo 5 é composto por sete cavidades que estão situadas na porção ocidental da
unidade de relevo denominada Escarpa Norte (Figura 5.35). Nesta porção foram encontradas:
uma cavidade classificada como caverna sem evidência cárstica e seis cavidades classificadas
como cavidades em tálus (Figura 5.35 e Tabela 5.18). Segundo o mapa geológico da
Quadrícula da Serra da Piedade (LOBATO et al., 2005), as cavidades deste grupo estão
situadas no itabirito da Formação Cauê. Entretanto, em campo constatou-se que a cavidade
sem evidências cársticas foi formada na canga detrítica. Já as cavidades em tálus foram
formadas pela sobreposição de matacões de itabirito.
105
Figura 5.35: Localização das cavidades na porção ocidental da unidade de relevo Escarpa Norte.
106
Tabela 5.18: Coordenadas, Altitude, Projeção Horizontal e Classificação das Cavernas do Grupo 5:
Projeção
Leste Norte Altitude Horizontal
Cavernas do Grupo 5 (m) (m) (m) (m) Classificação
Gruta do Eremita 638244 7807710 1.683 7 Caverna em tálus
GP19 638227 7807710 1.689 6 Caverna em tálus
GP20 638181 7807754 1.658 5 Caverna em tálus
GP21 638060 7807765 1.632 5 Caverna em tálus
GP48 638143 7807804 1.729 11 Caverna em tálus
GP49 637809 7807641 1.580 5 Caverna em tálus
A
Figura 5.36: (A) Gruta do Eremita, formada pela sobreposição de matacões de itabirito e (B) Placa
que indica a entrada da Gruta do Eremita.
Fotos: Roberto Cassimiro
107
A Gruta do banheiro está localizada próxima a uma trilha e situa-se na ruptura do
relevo (Figura 5.37-A). No seu interior observaram-se detritos humanos como pedaços de
pano, plásticos e fezes.
Segundo o mapa geológico da Quadrícula da Serra da Piedade (LOBATO et al.,
2005), a litologia desta cavidade é o itabirito da Formação Cauê. Entretanto, em campo,
constatou-se que a Gruta do Banheiro foi desenvolvida na canga, que é composta por detritos
que variam do tamanho seixo a bloco. A cavidade apresenta um único conduto de formato
irregular e não apresenta nenhum tipo de ação hidrológica visível ou depósitos químicos.
Quanto aos sedimentos clásticos foram observados detritos de canga do tamanho de seixo a
bloco, assim como sedimentos finos. No exterior da Gruta, é possível visualizar fraturas
(Figura 5.37-B). A gênese desta cavidade pode estar associada a abatimentos da canga. Estes
abatimentos podem estar condicionados por estas fraturas.
Figura 5.37: (A) A Gruta do Banheiro foi desenvolvida na ruptura do relevo, que possui escarpa sem
continuidade lateral expressiva; (B) Fratura presente na entrada da Gruta do Banheiro.
Fotos: Manuela Corrêa Pereira.
108
5.7 Grupo 6: cavidades da unidade Crista
O Grupo 6 é composto por três cavidades que estão situadas na unidade de relevo
crista. Nesta porção foram encontradas: uma cavidade classificada como cavernas sem
evidências cársticas e duas cavidades classificadas como cavidades em tálus (Figura 5.38 e
Tabelas 5.20 e 5.21). Segundo o mapa geológico da Quadrícula da Serra da Piedade
(LOBATO et al., 2005), a cavidade GP(47) está situada no itabirito da Formação Cauê e as
cavidades GP(37) e Gruta da Placa Azul estão situadas na canga. Entretanto, em campo
constatou-se que a cavidade GP(37) foi formada pela associação de blocos de itabirito com
afloramentos desta mesma litologia. Além disso, a cavidade denominada Gruta da Placa Azul,
além da canga, também apresenta itabirito no seu interior.
109
5.7.1 Cavernas em tálus do Grupo 6:
Tabela 5.20: Coordenadas, Altitude, Projeção Horizontal e Classificação das Cavernas do Grupo 6:
Tabela 5.21: Coordenadas, Altitude, Projeção Horizontal e Classificação da Gruta da Placa Azul:
A Gruta da Placa Azul recebeu tal denominação devido a uma placa, desta cor,
localizada próxima à sua entrada. Esta cavidade localiza-se na ruptura do relevo (Figura 5.39-
A). A cavidade foi formada, predominantemente, na canga detrítica, que apresenta detritos
que variam do tamanho de seixo a bloco. Entretanto, na porção sul desta cavidade, é possível
constatar a presença de dois estreitos condutos que foram desenvolvidos no itabirito (Figura
5.39-B).
Esta cavidade também apresenta fraturas que podem ter condicionado o abatimento de
parte dos depósitos clásticos presentes na gruta. Dentre estes depósitos clásticos, destaca-se
110
um grande matacão de canga presente no interior da cavidade. Não foi possível identificar
depósitos químicos, tampouco atividade hidrológica na Gruta da Placa azul.
A B
Figura 5.39: (A) A Gruta da Placa azul está localizada na ruptura do relevo; e (B) Estreito conduto
desenvolvido no itabirito da Gruta da Placa Azul.
Fotos: Manuela Corrêa Pereira.
O Grupo 7 é composto por nove cavidades que estão situadas na unidade de relevo
Escarpa Sul. Nesta porção, todas as grutas foram classificadas como cavidade em tálus
(Figura 5.41 e Tabela 5.22). Segundo o mapa geológico da Quadrícula da Serra da Piedade, as
cavidades estão situadas no itabirito da Formação Cauê (LOBATO et al., 2005). Em campo
constatou-se que todas as cavidades foram formadas pela associação de matacões de itabirito
com afloramentos desta mesma litologia.
As cavidades presentes nesta unidade de relevo encontram-se bem preservadas da
degradação humana devido ao relevo abrupto que dificulta o acesso a esta escarpa. Entretanto,
apesar desta feição não ter sido contabilizada como cavidade para esta pesquisa, a “Gruta dos
Milagres” é um grande atrativo para os romeiros da Serra da Piedade (Figura 5.40). Este
paredão foi, popularmente, denominado “Gruta dos Milagres” ou “Milagres”, pois os
romeiros acreditam que a água que ali goteja possui propriedades curativas para os enfermos e
serve como prevenção aos que dela bebessem (CASSIMIRO et al. 2011).
111
Figura 5.40: “Gruta dos Milagres” localizada na Escarpa Sul da Serra da Piedade, o círculo vermelho
indica o tanque de alvenaria que acumula a água “milagrosa”.
Foto: Manuela Corrêa Pereira.
112
Tabela 5.22: Coordenadas, Altitude, Projeção Horizontal e Classificação das Cavernas do Grupo 7:
Projeção
Cavernas do Leste Norte Altitude Horizontal
Grupo 7 (m) (m) (m) (m) Classificação
GP38 638749 7807536 1.655 6 Caverna em tálus
GP39 638738 7807554 1.653 6 Caverna em tálus
GP40 638675 7807545 1.673 15 Caverna em tálus
GP41 638658 7807551 1.670 6 Caverna em tálus
GP42 638762 7807419 1.666 18 Caverna em tálus
GP43 638547 7807574 1.558 16 Caverna em tálus
GP44 638882 7807396 1.553 5 Caverna em tálus
GP45 638905 7807375 1.560 26 Caverna em tálus
GP46 638865 7807421 1.567 15 Caverna em tálus
O Grupo 8 é composto por duas cavidades que estão situadas na porção oriental da
unidade de relevo Escarpa Sul. Ambas foram classificadas como cavernas sem evidências
cársticas (Figura 5.42 e Tabelas 5.23 e 5.24). Segundo o mapa geológico da Quadrícula da
Serra da Piedade, estas cavidades estão situadas no itabirito da Formação Cauê (LOBATO et
al., 2005). Entretanto, em campo constatou-se que ambas foram, predominantemente,
formadas na canga detrítica, sendo que a Gruta dos Monges apresenta pequenas porções
desenvolvidas no itabirito.
113
Figura 5.42: Localização das cavidades na porção oriental da Escarpa Sul.
A Gruta dos Monges é composta por três entradas que estão localizadas na borda de
uma antiga estrada sem pavimentação (Figura 5.43-B). Esta Gruta já foi indicada num croqui
elaborado pelo Frei Rosário Joffly. Neste croqui, o ex-reitor do santuário indica que esta
Gruta está próxima a um grande rochedo (Figura 5.43-A).
A Gruta dos Monges foi desenvolvida na canga detrítica, composta por detritos que
variam do tamanho de seixos a matacão. Nota-se que alguns matacões de itabirito estão
imersos nesta canga, já em alguns setores não foi possível afirmar se o itabirito estava in situ
ou se consiste em matacões desta litologia que cimentaram com os demais detritos da canga.
114
Os depósitos clásticos desta cavidade são, predominantemente, de canga e variam do tamanho
de calhau a matacão (Figura 5.43-C).
Também foi possível notar fraturas que aparentam ser atectônicas, o que pode ter
contribuído com processos de abatimentos no interior da gruta. Além disso, constatou-se
gotejamento no período chuvoso e depósitos químicos do tipo coralóides.
C
B
Figura 5.43: (A) Grande rochedo descrito pelo ex-reitor Frei Rosário e constatado em campo; (B)
Entradas da Gruta dos Monges; e (C) Depósitos de granulometria grosseira presentes no interior da
Gruta dos Monges.
Fotos: Manuela Corrêa Pereira e Roberto Cassimiro.
5.9.2 GP (27)
115
abatimentos. Quanto à atividade hidrológica, a gruta apresenta gotejamento durante o período
chuvoso.
Tabela 5.24: Coordenadas, Altitude, Projeção Horizontal e Classificação da Gruta da Piedade (27).
116
6 CONTEXTO DAS CAVIDADES NO RELEVO DA SERRA DA PIEDADE
118
Figura 6.1: Relação entre o número de cavernas de cada classe e as classes de projeção horizontal:
classe 1 ( 0 – 15 metros), classe 2 (16 – 30 metros), classe 3 (31 – 45 metros) e classe 4 (acima de 45
metros).
Figura 6.2: Relação entre a porcentagem de cavernas presentes em cada classe de projeção horizontal:
classe 1 ( 0 – 15 metros), classe 2 (16 – 30 metros), classe 3 (31 – 45 metros) e classe 4 (acima de 45
metros).
119
6.2 Cavernas X declividade
Tabela 6.1: Relação entre as classes de declividade e o tipo de relevo (esta classificação utilizou de
forma adaptada a classificação realizada por SANTOS et al. 2005).
Segundo a classificação de Santos et. al. (2005), a maioria das cavidades da Serra da
Piedade está situada num relevo ondulado (Tabela 6.1 e Figura 6.4-D). Apesar desta
classificação, o relevo das cavidades que estão situadas nesta classe é, relativamente, suave
(Figura 6.5). Como abordado ao longo do capítulo 4, a Serra da Piedade, assim como as
demais serras do Quadrilátero Ferrífero, é caracterizada por possuir um relevo movimentado.
120
Desse modo, na área de estudo, predominam as classes 3 e 4 (Figura 6.5), que correspondem,
respectivamente, a um relevo forte ondulado e montanhoso (Tabela 6.1). Entretanto,
especialmente as cavernas formadas in situ estão preferencialmente nas bordas dos platôs
escalonados, unidade de relevo que tende a ser plana (Figura 6.5). Já as cavidades em tálus
estão mais aptas a se formarem num relevo mais movimentado (Figura 6.4 e 6.5). Tal fato
ocorre, pois muitas destas cavidades foram formadas pela associação de matacões de itabirito
com o afloramento desta mesma litologia. Logo, estes matacões são sustentados pelo
afloramento de itabirito, isto ocorre em todas as cavernas da escarpa sul e em algumas
cavernas da escarpa norte, especialmente, aquelas localizadas nas classes de declividade mais
acentuada (Figura 6.5).
Baseando-se no parâmetro declividade, pode-se inferir que, de modo geral, as
cavidades da Serra da Piedade estão inseridas num relevo ondulado (Tabela 6.1 e Figura 6.4-
D), mas que é, relativamente, suave (Figura 6.5). Portanto, as cavidades com feições cársticas
e as cavidades sem feições cársticas são as classes de caverna mais representativas, em termos
de declividade, para a Serra da Piedade. Já que, respectivamente, 100% e 55% de suas
cavidades estão situadas na classe 2 (10-20%) de declividade (Figura 6.4-B 6.4-C E 6.4-D).
14
12
número de cavidades
10
0
classe 1 classe 2 classe 3 classe 4 classe 5 classe 6
cavernas em tálus cavernas sem evidências cársticas cavernas com evidências cársticas
Figura 6.3: Relação entre o número de cavernas de cada classe e as classes de declividade: (classe 1:
0-10%; classe 2: 10-20%; classe 3: 20-30%; classe 4: 30-40%; classe 5: 40-50% e classe 6: 50-90%).
121
A- Cavidades em tálus B- Cavidades sem feições cársticas
Figura 6.4: Relação entre a porcentagem de cavernas presentes em cada classe de declividade:
(classe1: 0-10%; classe 2: 10-20%; classe 3: 20-30%; classe 4: 30-40%; classe 5: 40-50% e classe 6:
50-90%).
122
Figura 6.5: Mapa de declividade onde estão contextualizadas as cavidades, as unidades de relevo e as classes de declividade.
123
6.3 Cavernas X hipsometria
124
Tabela 6.2: Classes de hipsometria da área de estudo.
9
8
número de cavidades
7
6
5
4
3
2
1
0
classe 1 classe 2 classe 3 classe 4 classe 5 classe 6
cavernas em tálus cavernas sem evidências cársticas cavernas com evidências cársticas
Figura 6.6: Relação entre o número de cavernas de cada classe e as classes de hipsometria: classe 1:
1.360-1.420 metros; classe 2: 1.420-1.480 metros; classe 3: 1.480-1.540 metros; classe 4: 1.540-1.600
metros; classe 5: 1.600-1.680 metros e classe 6: acima de 1.680 metros.
125
A- Cavidades em tálus B- Cavidades sem feições cársticas
Figura 6.7: Relação entre a porcentagem de cavernas presentes em cada classe de declividade: classe
1: 1.360-1.420 metros; classe 2: 1.420-1.480 metros; classe 3: 1.480-1.540 metros; classe 4: 1.540-
1.600 metros; classe 5: 1.600-1.680 metros e classe 6: acima de 1.680 metros.
126
Figura 6.8: Mapa hipsométrico da área de estudo, onde estão contextualizadas as cavidades, as unidades de relevo e as classes de hipsometria.
127
6.4 Cavernas X litologia
8
Nesta classe também foram agrupadas as cavidades onde não foi possível afirmar, em campo, se o itabirito
estava in situ ou se consiste em matacões desta litologia, que cimentaram com os demais clastos da canga
detrítica. Entretanto, segundo o mapa da Quadrícula da Serra da Piedade, as cavidades estão situadas neste
contato.
9
Tal fato é evidente, pois pela própria denominação do termo “cavernas em tálus”, já infere-se que as mesmas
foram formadas por blocos ou matacões de alguma litologia.
128
número de cavidades 35
30
25
20
15
10
5
0 canga detrítica
detrítica/itabirito
detrítica/itabirito/mat
matacões de
acões de itabirito
itabirito
canga
canga
cavernas em tálus cavernas sem evidências cársticas cavernas com evidências cársticas
Figura 6.10: Relação entre a porcentagem de cavernas presentes em cada classe e a litologia.
129
6.5 Cavernas X escarpa
130
Figura 6.11: Imagem de satélite onde estão contextualizadas a unidades de relevo da área de estudo e
duas cavidades: (A) Gruta do Chuveirinho, caverna com feições cársticas, localizada numa escarpa
com continuidade lateral expressiva, que consiste na borda do platô inferior; (B) Gruta da Placa Azul,
caverna sem feições cársticas, localizada numa escarpa com continuidade lateral pouco expressiva,
que por sua vez está situada no interior da unidade crista.
30
25
número de cavernas
20
15
10
0
Cavidades com continuidade Cavidades com continuidade Cavidades que não estão
lateral expressiva lateral pouco expressiva localizadas na ruptura
cavernas em tálus cavernas com evidências cársticas cavernas sem evidências cársticas
Figura 6.12: Relação entre o número de cavernas presentes em cada classe e a tipologia da escarpa na
qual estão inseridas.
131
A- Cavidades em tálus B- Cavidades sem feições cársticas
Figura 6.13: Relação entre a porcentagem de cavernas presentes em cada classe e a tipologia da
escarpa na qual estão inseridas.
Neste tópico, buscou-se traçar um perfil das cavidades da Serra da Piedade. Para isso,
elaborou-se um quadro contendo as classes de cavernas (cavidades em tálus, cavidades sem
feições cársticas, cavidades com feições cársticas e o total de cavidades da Serra da Piedade) e
as classes dos parâmetros analisados10 (projeção horizontal, declividade, hipsometria, litologia
e escarpa) (Tabela 6.3).
10
Neste quadro foi representado somente a classe de cada parâmetro que predominou para cada tipologia de
cavidade.
132
Tabela 6.3: Relação entre os tipos de cavernas da Serra da Piedade e suas respectivas classes que
predominaram nos quesitos: projeção horizontal, declividade, hipsometria, litologia e escarpa.
134
7 FEIÇÕES CÁRSTICAS DA SERRA DA PIEDADE
11
Resultante da alteração da rocha.
12
A paragênese é uma dinâmica de escoamento, que condiciona a evolução de uma galeria, agindo no seu
próprio entupimento por ação química e acumulação sedimentar (RENAULT, 1968). Desse modo, o
preenchimento encontrado na Gruta do Triângulo é uma relíquia, já que os demais sedimentos podem ter sofrido
ação química, pois foram dissolvidos ou carreados por esta ação freática.
135
Feições que se assemelham a paleopisos foram constatadas nas cavernas denominadas
Gruta da Macumba, Gruta do Triângulo e Gruta do Chuveirinho. Estas feições podem indicar
que estas cavidades sofreram duas fases de formação, comprovando a presença de dois níveis
na cavidade.
Feições denominadas domos foram encontradas na Gruta do Cascalhinho. Este tipo de
feição pode indicar um período freático da cavidade. Desse modo, houve aumento de CO2,
possibilitado pelo contato entre a água e o ar. Logo, houve um intenso intercâmbio
geoquímico entra o ar carregado deste gás e a rocha. O resultado desta ação corrosiva pode ser
evidenciado nas formas circulares e côncavas encontradas no teto desta Gruta.
Feições como alvéolos estão presentes tanto na entrada da Gruta da Piedade como no
interior da mesma. Alguns autores associam a presença de alvéolos na entrada das cavidades
com a ação de agentes orgânicos (Willems et al., 2002). Entretanto, tais feições também são
encontradas em seu interior. Desse modo, estes alvéolos podem ser vistos como elementos
originais que com a coalescência, resultam em tubos (pipes) e anastomoses.
Por fim, pendentes foram encontrados na Gruta da Piedade e do Cascalhinho. Esta
feição relíquia pode ter indicado a ação dissolutiva da água, que colaborou com a coalescência
de dois condutos. Piló (2000) considera que esta forma residual é típica do processo
paragenético, onde o resultado é a ampliação do conduto pré-existente de forma ascendente.
136
Figura 6.40: Kaminitzas encontradas na Serra.
137
canga detrítica com o itabirito da Formação Cauê13. Este contato também foi constatado em
todas as cavidades com feições cársticas. Já grande parte das cavernas sem evidências
cársticas do platô inferior, foi formada na canga detrítica. Apesar deste fato, deve-se
considerar que o itabirito, em comparação é uma rocha menos resistente aos processos
intempéricos, logo esta litologia pode não estar mais presente nestas cavidades por ter sido
lixiviada.
As demais cavidades sem feições cársticas14 aparentam ter sua gênese atrelada a
processos de abatimentos. No seu interior foram constatados blocos e matacões de canga e
fraturas que aparentam ser atectônicas. O abatimento destes sedimentos clásticos pode ter sido
favorecido por estas fraturas. Este processo também foi constatado por Pilo; Auler (2009) nas
cavidades em canga da Serra dos Carajás. Para estes autores estas fraturas foram denominadas
como juntas de alívio de pressão, que influenciam a ocorrência de movimentos de massa e
frentes de alteração química da rocha.
13
Conforme abordado ao longo do capítulo 6, em algumas destas cavidades não foi possível afirmar se o itabirito
estava in situ ou se consiste em um matacão que cimentou com os demais clastos da canga detrítica.
14
Estas cavidades não estão localizadas nas bordas dos platôs, portanto estão localizadas na escarpa com
continuidade lateral pouco expressiva (rever capítulos 6 e 7).
138
Serra da Piedade, apesar das cavernas cársticas terem obtido tal denominação, estas cavidades
também sofreram processos erosivos.
Por fim, as cavidades cársticas da Serra da Piedade, se assemelham as cavidades
classificadas como endógenas por Stávale (2007)15. Entretanto, as cavidades formadas por
processos exógenos, não foram encontradas na área em estudo16.
15
Para esta autora, este tipo de cavidade é caracterizado por possuir grandes dimensões e processos de
dissolução associados a sua gênese.
16
Para esta autora, cavidades exógenas ocorrem graças ao processo de retração lateral da vertente, onde o
itabirito subjacente à canga é erodido e esta carapaça sustenta o teto da cavidade.
139
CONCLUSÕES
140
Espera-se também, que este trabalho desperte o interesse de outras áreas relacionadas
aos estudos espeleológicos, além da geociências. As cavernas em minério de ferro/itabirito e
canga da Serra da Piedade podem conter informações preciosas para a biologia, arqueologia,
paleontologia, história e estudos religiosos, que não foram abordados nesta dissertação.
141
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ANEXOS
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