A Fundacao Da Colonia Do Sacramento
A Fundacao Da Colonia Do Sacramento
A Fundacao Da Colonia Do Sacramento
2004
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Resumo
Este artigo visa realizar um estudo sobre os objetivos que levaram a Coroa portuguesa a estender os
seus domínios ao Rio da Prata com a fundação da Colônia do Sacramento, em 1680.
Palavras-chave
Limites, fronteira, expansão, Rio da Prata
A luta entre portugueses e espanhóis pela posse da América é tão antiga quanto a sua
descoberta, em 1492. Quando a frota de Cristóvão Colombo, de regresso à Espanha, aportou em
Lisboa, D. João II informou-lhe que as terras que acabara de descobrir pertenciam de direito a
Portugal. O rei português justificava sua pretensão através das bulas expedidas pelos papas Nicolau
V, Calixto III e Sisto IV e ainda, pelo Tratado de Alcáçovas, assinado pelas Coroas portuguesa,
castelhana e aragonesa em 1479.i
Porém, os Reis Católicos, nas Capitulações de Santa Fé, também declararam serem
senhores do Oceano Atlântico, conhecido então como “Mar Oceano”. Na verdade, ambas as
interpretações eram forçadas e davam ao Tratado de Alcáçovas um alcance que seus termos não
comportavam. Segundo o tratado, os reis de Castela e Aragão reconheciam para sempre, como
possessões portuguesas, os arquipélagos da Madeira, Açores e Cabo Verde e todas as ilhas e terras
descobertas e por descobrir na costa africana ao sul das ilhas Canárias que, por sua vez foram
reconhecidas como possessões espanholas. Não fora discutida em Alcáçovas a posse das terras que
porventura existissem a ocidente do “Mar Oceano”, problema que só se revelou a partir do regresso
de Colombo da sua primeira viagem à América.ii
Ao mesmo tempo em que D. João II entrou em negociações diretas com os Reis
Católicos para resolver a questão, ordenou a preparação de uma frota para mandar às terras recém-
descobertas. Por sua vez, Fernando de Aragão conhecia os direitos e privilégios concedidos aos
monarcas portugueses por diversas bulas papais com relação aos descobrimentos e por isso
aproveitou-se do fato do papa Alexandre VI ser de origem valenciana e que seus interesses políticos
e de engrandecimento familiar necessitavam da ajuda do Rei Católico.iii A influência dos espanhóis na
corte papal foi a responsável pela emissão do breve secreto Inter Coetera em 3 de maio de 1493, que
concedeu-lhes todo o poder, autoridade e jurisdição sobre as ilhas e terras descobertas por Colombo,
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ou que viessem a ser descobertas no futuro, desde que não estivessem dominadas por qualquer
príncipe cristão. Entretanto, dado que o caráter secreto do breve era ineficaz para fazer valer seus
direitos, Fernando V apelou novamente para o papa, enquanto tentava impedir o envio da frota
portuguesa.iv
Em resposta às pretensões dos Reis Católicos, Alexandre VI expediu, em fins de junho e
princípios de julho, as bulas Inter Coetera e Eximie Devotionis, datadas de 4 e 3 de maio,
respectivamente. A primeira concedia aos espanhóis todas as ilhas e terras firmes, descobertas e por
descobrir, na direção da Índia ou qualquer outra parte, para ocidente de uma linha traçada de pólo a
pólo, que passava cem léguas a ocidente das ilhas dos Açores e Cabo Verde. A segunda atribuía aos
mesmos, idênticos privilégios aos que tinham sido concedidos até então aos portugueses na costa
africana. Evidentemente, estas bulas papais não foram aceitas pelo soberano português, que recusou
nova intervenção papal duvidando da imparcialidade do pontífice, especialmente depois da emissão
da bula Dudum Siquidem, de 25 de setembro de 1493, que aumentava de forma notável as
concessões anteriores. Por isso procurou acertar uma solução para os limites através de negociações
diretas com os Reis Católicos. Dessas negociações originou-se o Tratado de Tordesilhas, assinado
pelos embaixadores espanhóis e portugueses em 7 de junho de 1494.v
Este tratado estipulara uma linha divisória que corria de pólo a pólo, passando a 370
léguas para poente do arquipélago de Cabo Verde, cabendo aos espanhóis as terras encontradas a
leste do meridiano enquanto que os portugueses ficavam com as que fossem encontradas a oeste do
mesmo. Embora a linha horizontal do Tratado de Alcáçovas fosse mais favorável à Coroa portuguesa,
a mesma acabou por aceitar a linha vertical das bulas papais com a condição da alteração da medida
de 100 para 370 léguas, o que garantiria o monopólio do acesso ao Cabo da Boa Esperança, já que
havia a necessidade de dar uma volta em forma de arco para chegar ao Índico.vi
Espanhóis e portugueses comprometiam-se a não fazer descobrimentos, conquistas ou
comércio na jurisdição alheia e, para efetuar a demarcação dos limites, concordaram em enviar,
dentro de dez meses, algumas caravelas com pilotos, astrólogos e marinheiros. Previa-se a hipótese
que a linha cortasse alguma ilha ou continente, e por isso o tratado estipulava que então se fizessem
alguns sinais, que continuariam pelo interior, para separar as duas demarcações.vii
Entretanto, problemas técnicos impediram a demarcação dos limites traçados em
Tordesilhas. O tratado se limitava a estabelecer uma linha imaginária que passaria 370 léguas a
ocidente das ilhas de Cabo Verde, porém não havia estabelecido de quais das ilhas deveria principiar
a contagem nem dizia respeito às dimensões da légua com a qual se faria a medição que, por sua
vez, estava comprometida pela inexistência de instrumentos adequados para calcular com rigor as
longitudes. Outro fator que também contribuiu para o malogro da demarcação foi o fato de que a
América não revelou seus tesouros nos primeiros anos do descobrimento, enquanto que a viagem de
Vasco da Gama revelara ao mundo a rota oriental para a Índia, atraindo as atenções das Coroas
ibéricas para o Oriente.viii
O debate sobre o traçado a linha de Tordesilhas seria retomado quando chegou à
Europa a notícia de que uma frota espanhola, capitaneada pelo português Fernão de Magalhães,
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no mesmo ano. A notícia da expedição portuguesa preocupou Fernando V que, em 1515, mandou
para o Atlântico sul uma expedição comandada pelo português, a serviço da Espanha, João Dias de
Solis. Composta de três navios, a expedição subiu o Rio da Prata até perto da foz do rio Uruguai,
onde Solis e alguns companheiros que desembarcaram com ele foram trucidados pelos indígenas.xvi
Os portugueses voltaram ao estuário platino em 1521-1522 sob o comando de Cristóvão
xvii
Jaques, enquanto os espanhóis marcaram sua presença na região com as expedições de
Magalhães em 1520, Caboto em 1526-1529 e Diogo García, em 1526-1529.xviii A disputa pelo Prata
era alimentada pelos relatos de viajantes e aventureiros que falavam de ricas terras desconhecidas
que chamavam de “Costa do Ouro e da Prata, serra da Prata, rio da Prata, rei Branco...”xix
O mais famoso desses aventureiros foi o português Aleixo Garcia, náufrago da
expedição de Solis, que partiu do litoral paranaense, em 1523, numa expedição rumo ao sertão com
quatro ou cinco outros náufragos e uns dois mil índios guaranis. A expedição cruzou o rio Paraná, na
altura do Iguaçú, e o Paraguai na região de Corumbá, atravessando o Alto Chaco até chegar até às
atuais regiões de Potosí e Sucre, onde saqueou algumas povoações incaicas. Embora Aleixo Garcia
tenha sido assassinado pelos índios no Paraguai, alguns de seus companheiros conseguiram chegar
à ilha de Santa Catarina com algumas amostras dos tesouros andinos.xx
As notícias sobre as fabulosas riquezas do Rio da Prata foram responsáveis pelo desvio
da rota da expedição de Giovanni Caboto, veneziano a serviço da Espanha que, em 1525, conseguiu
de Carlos V a autorização para atingir o Oriente através do estreito de Magalhães a fim de “hacer el
rescate y cargar los dichos navíos de oro, plata, piedras preciosas, perlas, droguería y especiería,
sedas, brocados y otras calesquier cosas de valor”.xxi Segundo Laguarda Trías, se não há indícios
suficientes que provem que Caboto partiu da Espanha decidido a não ir às Molucas, abundam os
testemunhos de que foi durante a escala de três meses que a sua frota fez numa feitoria portuguesa
em Pernambuco que o comandante resolveu alterar o destino da expedição. Nesta ocasião, o feitor
Manuel de Braga e o piloto Jorge Gomes, que havia participado da expedição de Cristóvão Jaques ao
Prata em 1521-1522, informaram a Caboto que aquele rio era o caminho natural para se chegar à
famosa Serra de Prata.xxii Indubitavelmente, a esperança de encontrar a fabulosa serra, a partir da
navegação do Rio da Prata, contribuiu para que o nome dado pelos portugueses ao rio suplantasse a
denominação Río de Solís, dada ao mesmo pelos espanhóis em homenagem ao seu suposto
descobridor
Visando assegurar o território que, segundo Tordesilhas, lhe pertencia, D. João III enviou
uma armada de cinco navios a fim de tomar posse das terras que descobrisse dentro da demarcação
portuguesa. A frota, sob o comando de Martim Afonso de Souza, partiu rumo ao Brasil em 3 de
dezembro de 1530. Ao chegar a Pernambuco, Martim Afonso enviou duas caravelas para explorar o
rio Amazonas e, com o resto da armada, continuou a sua viagem em direção ao sul. Embora, em fins
de outubro do ano seguinte, na entrada do estuário platino, uma tempestade provocasse o naufrágio
da nau capitânia, Martim Afonso e a maior parte da tripulação conseguiram salvar-se a nado. Devido
ao mau estado dos navios e aos fortes temporais que agitavam as águas do Prata, o conselho
convocado pelo capitão foi favorável ao retorno da expedição, sendo que o irmão de Afonso de
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Souza, Pero Lopes de Souza, foi encarregado de, com um bergantim tripulado por trinta homens, dar
prosseguimento à missão, colocando padrões nas margens do rio a fim de assegurar sua posse para
a Coroa portuguesa, concedendo-lhe um prazo de vinte dias para regressar. Pero Lopes e seus
homens deram então prosseguimento à viagem, costeando a margem norte do Prata, passando pela
enseada de Montevidéu e ao largo das ilhas de São Gabriel e Martim Garcia, chegando ao delta do
Paraná em 2 de dezembro de 1531. A viagem prosseguiu rio acima até o dia 11 do mesmo mês,
quando se iniciou o regresso após efetuar-se a instalação de dois padrões no lugar que os índios
identificaram como sendo a terra dos Carandins.xxiii
A expedição de Martim Afonso de Souza gerou protestos por parte do governo espanhol,
sendo que a imperatriz D. Isabel mandou seu embaixador em Lisboa pedir a D. João III que se
abstivesse de mandar novas expedições ao Rio da Prata, por ser notório que o dito rio ficava dentro
da demarcação de Castela. Para o Conselho das Índias, o único remédio para resolver a questão
seria o envio de uma armada para povoar a região platina. Seguindo esta política, em maio de 1534,
D. Pedro de Mendoza foi nomeado governador e capitão geral das províncias do Rio da Prata, no
mesmo ano em que D. João III iniciava a concessão de capitanias a fim de incentivar o povoamento
do Brasil.xxiv E, se a princípio, o rei de Portugal planejava fazer a distribuição das terras de
Pernambuco até o Rio da Prata, a concessão efetiva chegou somente ao atual estado de Santa
Catarina, embora tenha avançado bem além de Pernambuco, rumo ao norte.xxv
A expedição de Mendoza chegou ao Rio da Prata em 1536, onde fundou Buenos Aires
na margem direita e Corpus Christi e Buena Esperanza às margens do Paraná. No mesmo ano,
Mendoza enviou seu lugar-tenente, Juan de Ayolas, com 170 homens e três navios a procura da
lendária Serra de Prata. Juan de Salazar, mandado em socorro de Ayala, fundou, em 1537, a cidade
de Assunção, na margem esquerda do Paraguai, em frente à foz do rio Pilcomayo. Dessa nova base
saíram outras expedições exploradoras espanholas. Em fins de 1547, Martínez de Irala deixou
Assunção com 250 espanhóis e mais de dois mil índios rumo à Serra de Prata. Porém, foi grande a
desilusão de Irala ao constatar que a famosa serra já havia sido conquistada pelos espanhóis que
tinham vindo pelo norte. Identificara-se, afinal, a lendária serra com o Alto Peru, ou, mais
precisamente, com a região de Chuquisaca e Potosí.xxvi
Mesmo que a fundação de Assunção não implicasse na posse de grandes riquezas, sua
posição central bloqueou aos portugueses o acesso às riquezas peruanas ao mesmo tempo em que,
dali, os espanhóis poderiam coordenar um ataque contra as povoações da costa brasileira.xxvii De
fato, buscando uma ligação de Assunção com o mar, os espanhóis instalaram-se primeiro em Iguape
e depois em São Francisco do Sul e, mesmo que ambas as tentativas fossem impedidas pelos
portugueses, novas propostas foram feitas ao rei da Espanha no sentido de estabelecer-se um porto
em Santa Catarina: em 1607 pelo governador Hernandarias e, em 1631, pelo padre Diogo de Torres
Bollo.xxviii
A fim de deter a expansão espanhola, o governador-geral Tomé de Souza tentou impedir
a comunicação por terra entre São Vicente e Assunção. A fundação, no topo da serra, da vila de
Santo André da Borda do Campo provavelmente tinha como objetivo impedir esta comunicaçãoxxix
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que, entretanto, favorecida pela trilha utilizada pelos índios para suas incursões ao litoral, facilitou o
contato com os espanhóis do Paraguai.xxx Tomé de Souza também mandou derrubar os padrões
castelhanos que encontrou entre São Vicente e o Prata, mandando substituí-los por padrões
portugueses, ao mesmo tempo em que mandou buscar os povoadores de São Francisco, no atual
litoral catarinense, onde os espanhóis haviam-se instalado na tentativa de ligar o Paraguai ao
oceano.xxxi
Entretanto, na segunda metade do século XVI, a defesa, cada vez mais difícil, das
praças do Oriente e do Marrocos, a guerra africana e, por fim, a crise dinástica, absorveram as forças
e a atenção da Coroa portuguesa, dificultando a continuação da disputa da região platina com a
Espanha que, por sua vez, centralizava sua atenção nas minas peruanas. Assim, a região entre
Cananéia e o estuário platino ficou sem a ocupação efetiva de portugueses ou espanhóis por mais
algum tempo.xxxii
Mas, se a Coroa espanhola suspendeu sua política expansionista na América, entraram
em cena os jesuítas que, através das suas reduções, aumentaram a área sob o controle espanhol.
Há muito a missão do Paraguai estava nos planos dos jesuítas da província do Brasil, tendo início
efetivo em 1588, quando chegaram a Assunção os padres Ortega (português), Saloní (espanhol) e
Filds (irlandês), para dar início à evangelização dos guaranis. Em 1607, foi constituída a província
jesuítica do Paraguai, que, além do Paraguai propriamente dito, também abrangia as províncias de
Tucumán e do Rio da Prata. A ação dos missionários dirigiu-se a quatro pontos a partir de Assunção:
ao norte, o Itatim, no atual estado do Mato Grosso do Sul; a leste, o Guairá, correspondendo
aproximadamente ao atual estado do Paraná; e a sudoeste onde os rios Paraná e Uruguai mais se
aproximam, na atual província argentina de Misiones, e às margens do rio Jacuí, na província do
Tape, no atual estado do Rio Grande do Sul.xxxiii
Entretanto, a expansão espanhola sob o comando dos jesuítas foi barrada pelo
movimento bandeirante que surgiu no século XVI, na tentativa de encontrar metais preciosos, mas
que, no século seguinte, tomou o caráter predominante de caça ao índio. Rompendo com tradicionais
interpretações da historiografia, John Manuel Monteiro sustenta que o surto bandeirante de 1628-41
relaciona-se mais com o desenvolvimento da economia de abastecimento que então se desenvolvia
no planalto paulista do que com a demanda por escravos no litoral açucareiro, já que muitos dos
participantes das expedições ao Guairá dedicaram-se posteriormente à triticulturaxxxiv e também
devido ao fato que o auge da produção de trigo na região de São Paulo, ocorrido entre os anos 1630-
80, foi o período em que a concentração de escravos indígenas atingiu suas proporções mais
elevadas.xxxv
Os guaranis eram a presa preferida dos bandeirantes por vários fatores: eram
numerosos, dividiam-se em pequenas tribos, falavam a “língua geral do Brasil”, estavam no caminho
do Peru, e poucos espanhóis habitavam parte de suas terras. As missões jesuíticas estavam ainda
mais ameaçadas, “pois já reuniam e civilizaram as vítimas e porque a companhia - com o duplo
desígnio de afastar os neófitos dos encomenderos e servir à Espanha - avança as missões cada vez
mais para perto da costa e do domínio português”.xxxvi Até mesmo determinadas autoridades
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espanholas favoreceram o avanço dos bandeirantes sobre as reduções indígenas, como foi o caso do
governador do Paraguai, D. Luiz de Céspedes Xeria, acusado pela Real Audiência de Charcas de
trair o rei e a pátria ao permitir a entrada dos Bandeirantes no Guairá.xxxvii Na verdade, a instalação
dos jesuítas na região prejudicou a rede comercial existente entre paulistas e paraguaios que era
baseada na troca de produtos europeus e mesmo escravos africanos por indígenas e prata. Por isso,
desde o início da implantação das missões, os jesuítas contaram com uma forte animosidade, tanto
por parte dos colonos portugueses como dos espanhóis.xxxviii
Entre 1602 e 1623, diversas bandeiras devastaram o Guairá, mas a destruição completa
destas reduções foi causada pela grande bandeira de Raposo Tavares em 1628-1629. A devastação
continuou nos anos seguintes de 1630-1632, aniquilando até mesmo as cidades espanholas de
Ciudad Real e Vila Rica. Reunindo os índios sobreviventes, os jesuítas seguiram para o sul,
instalando-se às margens do rio Uruguai, de onde organizaram a criação das Missões do Tape, que
tiveram o mesmo fim das reduções do Guairá, pois foram abandonadas em 1639, após sofrer
constantes ataques dos bandeirantes.xxxix
As freqüentes depredações ocasionadas pelas bandeiras levaram o rei da Espanha a
autorizar a entrega de armas de fogo aos índios,xl que puderam adestrar-se nas artes da guerra entre
os anos de 1638 e 1639, quando o governador de Buenos Aires, Mendo de la Cueva, requisitou
alguns índios das reduções jesuíticas para participar de expedições punitivas contra tribos
insubmissas que inquietavam os habitantes de Corrientes e Santa Fé. Este foi o início de uma
mudança de atitude, pois, se antes os missioneiros haviam-se constituído somente num fator passivo
na defesa do território, a partir de então se transformaram numa força militar à disposição das
autoridades coloniais espanholas.xli A mudança foi sentida pelos paulistas em 1641, quando uma
bandeira foi derrotada pelos indígenas em Mbororé.
Com a Restauração, justificaram-se as bandeiras como um meio de expulsar os
espanhóis dos domínios portugueses, recebendo por isso o apoio da metrópole. Neste sentido, elas
foram novamente direcionadas para o sul, chegando a aproximar-se de Corrientes, em 1651, e de
Santa Fé, em 1660, planejando-se inclusive a conquista da cidade de Buenos Aires com a ajuda dos
bandeirantes.xlii Essa conquista era particularmente importante porque com ela os portugueses
dominariam o Rio da Prata e através dele obteriam o controle de toda a bacia platina.
Apesar da sua posição estratégica, Buenos Aires teve um início pouco promissor,
quando a estagnação econômica, somada às epidemias e aos ataques dos indígenas levaram ao
abandono da cidade em 1541, que, entretanto, voltaria a ser fundada novamente em 1580, por Juan
de Garay, a fim de facilitar o acesso do Paraguai ao mar. Apesar de ter sido cerceada no seu
desenvolvimento, devido à proteção da Coroa às rotas comerciais já estabelecidas, a cidade de
Buenos Aires tornou-se um importante centro comercial alimentado pelo contrabando. Não demorou
muito para que o eixo comercial que ligava o Brasil à América espanhola do Paraguai se deslocasse
para o Rio da Prata, trazendo como conseqüência a estagnação econômica e o declínio político de
Assunção,xliii cujas comunicações com o Peru eram dificultadas pelos problemas oferecidos na
travessia do Chaco.xliv
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afluíam à cidade na ocasião em que chegava a frota de Sevilha. Durante o período das feiras os
preços dos alimentos subiam descontroladamente e as doenças tropicais dizimavam a população e
os visitantes. Dali, as mercadorias eram transportadas em pequenas embarcações pelo rio Chagres
até Cruzes, onde eram transportadas em lombo de mulas até o Panamá, na costa do Pacífico. Do
Panamá, as mercadorias eram embarcadas para Callao, na costa peruana, onde chegavam depois
de três semanas de viagem. Daquele porto, as mercadorias, conduzidas por tropas de mulas,
chegavam a Lima e dali eram distribuídas a todos os recantos do Vice-Reino do Peru.li
A longa extensão da rota comercial, a diversidade dos meios de transporte empregados,
as inúmeras baldeações, a precariedade das vias, as taxas alfandegárias e as altas taxas de lucro
auferidas pelos comerciantes elevavam astronomicamente os preços das mercadorias que seguiam a
rota oficial de comércio. A norma das feiras do istmo foi sempre taxar o valor das mercadorias pelo
dobro de preço que tinham na Espanha. Para alguns gêneros, entretanto, lucros de 150, 300 e 500%
não eram raros.lii
Para defender seus lucros através da manutenção do monopólio do comércio, a exemplo
de seus colegas de Sevilha, os comerciantes de Lima reuniram-se numa corporação de mercadores
chamada consulado. Se, para a Coroa espanhola, o sistema monopolista facilitava a fiscalização,
para os comerciantes dos consulados representava a exclusão dos rivais, estrangeiros ou não, já que
os portos menores da Espanha e da América estavam rigorosamente proibidos de participar do
comércio atlântico.liii
Os habitantes de Buenos Aires eram os maiores prejudicados pelo monopólio comercial
dos comerciantes de Lima, pois, embora através de seu porto a comunicação com a Espanha era
muito mais fácil, eles estavam impedidos de comerciar diretamente com a metrópole. Todos os
contatos comerciais deveriam seguir a rota oficial de comércio que, como vimos, aumentava o valor
das mercadorias diversas vezes, alcançando preços proibitivos aos consumidores de Buenos Aires.
Se o regime monopolista era o responsável pelo encarecimento dos produtos importados pelas
colônias, a decadência do sistema de frotas, verificado a partir de 1620, piorou a situação, pois,
embora incapaz de suprir as necessidades dos colonos, a Coroa insistiu na sua manutenção.liv
A insistência tenaz das autoridades espanholas na manutenção da rigidez das rotas
comerciais tinha como objetivo o controle total do comércio com as suas possessões ultramarinas, já
que, reservando-se a exclusividade comercial, a metrópole buscava acumular capital às expensas
das economias coloniais. Segundo Fernando A. Novais “o comércio foi de fato o nervo da colonização
do Antigo Regime, isto é, para incrementar as atividades mercantis processava-se a ocupação, o
povoamento e a valorização das novas áreas”.lv
Apesar da legislação restritiva, os lucros do comércio ilícito eram muito altos para que os
setores mais empreendedores da sociedade colonial se submetessem às leis redigidas pelas
autoridades metropolitanas. Vários fatores predispunham a região platina a desempenhar um
importante papel no desenvolvimento do comércio ilícito: a posição atlântica afastada das rotas
oficiais, a vastidão do estuário que impedia uma vigilância eficiente, a relativa facilidade de acesso ao
interior através das vias fluviais, a grande necessidade da população em abastecer-se de bens
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Aqui, com 500 ducados uma pessoa pode ganhar 5.000 ducados no espaço de cinco meses (...) Um florete
que pode custar na Espanha 24 ou 25 reais, aqui se vende por 40 ou 50 ducados; uma rédea para cavalo
vende-se aqui por 15 ducados; uma fechadura custa, com a chave, 10 ducados (...); e tudo o mais na mesma
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proporção. Assim, 1.000 ducados de Espanha devem dar 10.000 ducados de lucro.
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de alguma potência estrangeira e então servir de ponta de lança para um ataque às minas de Potosí.
Esse argumento parece ter sido decisivo, pois, visando assegurar o desenvolvimento da cidade a fim
de atender às razões de ordem estratégica, Filipe III concedeu a Buenos Aires o direito de exportação
para o Brasil e a Guiné em 1602. Essa permissão foi prorrogada sucessivamente até 1618, quando
uma real cédula permitiu que dois navios por ano de no máximo cem toneladas, saíssem de Sevilha
para transportar mercadorias para o Rio da Prata, sendo que estavam autorizados a tocar os portos
brasileiros na ida, mas não na volta, a fim de impedir o fluxo de prata para o Brasil.lxii Eram os
chamados navíos de registro ou navíos de permiso. Porém, esses navios nem sempre chegavam a
Buenos Aires com regularidade.lxiii
Novas medidas na tentativa de impedir que o porto de Buenos Aires concorresse com os
monopolistas limenhos através do abastecimento das províncias do interior, foram oficializadas
através da real cédula de 07 de fevereiro de 1622, que proibiu a entrada de moedas de ouro e prata
na cidade e instituiu uma aduana seca em Córdoba que taxava as mercadorias entradas pelo porto
de Buenos Aires que seguiam para o Alto Peru em 50% do seu valor. Posteriormente, em 1690, a
aduana seca foi transferida para Jujuy, ao norte, na fronteira com o distrito mineiro do Alto Peru,
trazendo como conseqüência imediata a conquista do mercado de Tucumã pelo porto de Buenos
Aires.lxiv
Apesar das medidas repressoras, o contrabando, único meio de escapar às restrições ao
livre comércio, florescia em Buenos Aires, onde, durante o século XVII, segundo Lafuente
Machaín,“todos los habitantes se hicieron mercadores, unos a cara descubierta, y otros a ocultas,
mediante el contrabando realizado por cuenta y riesgo propio o consintiéndolo”.lxv Por vezes, o
comércio ilícito era incentivado pelos próprios governadores, que também participavam dos seus
lucros. Segundo Veiga Garcia, “a conivência das autoridades fazia do comércio ilícito a tônica da
economia portenha”.lxvi De fato, a corrupção chegou a tal ponto que, antes mesmo de deixar a
Espanha, Diego de Góngora, nomeado para governar Buenos Aires (1619-1623), já havia contatado
certos comerciantes portugueses para unir-se a eles no comércio ilícito no Prata.lxvii
Os interesses ligados ao contrabando eram tão fortes que quando chegavam ao Prata
governadores determinados a fazer cumprir a legislação de restritiva ao comércio ilícito, não tardavam
em sofrer a oposição do cabildo, pois, a lei na qual Filipe II autorizou a venda de determinados cargos
públicos possibilitou aos contrabandistas o acesso ao cabildo portenho, de onde podiam fraudar o
fisco com maior facilidade e preparar a resistência contra os governadores e oficiais reais que
pretendessem aplicar as ordens régias de repressão ao comércio ilícito.lxviii
Da participação no contrabando não estavam isentos nem mesmo os jesuítas, que
chegaram a convocar um juez conservador contra as atividades do pesquisador general, enviado a
Buenos Aires para investigar o envolvimento do governador Góngora com os contrabandistas
portugueses. Depois da morte do governador, em 1623, outro visitador, enviado pela Audiência de
Charcas, revelou que o procurador do colégio jesuítico de Buenos Aires, que tinha licença especial
para a compra de material de construção e escravos no Brasil, havia comprado mais do que a cota
permitida. No ano seguinte, foi apurado que um jesuíta atuava como agente dos contrabandistas
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5,5 pesos de prata por um peso de ouro, enquanto que na Europa e no Japão o peso de ouro valia 12
pesos de prata.lxxvi
Como a totalidade da prata importada do Japão, principal mercado de prata para os
portugueses no Oriente, destinava-se ao comércio com a China, havia escassez do metal na
metrópole e nos domínios ultramarinos. Portanto o contrabando com o Rio da Prata logo despertou o
interesse dos portugueses e já durante o século XVI, a Bahia exerceu a função de centro exportador
de produtos manufaturados para Buenos Aires, ao lado do Rio de Janeiro e de Pernambuco.lxxvii
Viajantes estrangeiros que passaram por Salvador observaram a grande quantidade de prata em
circulação na cidade. Desse comércio não ficava à margem o porto de São Vicente e a vila de São
Paulo, onde também circulavam as moedas espanholas.lxxviii
Além dos escravos africanos obtidos por via dos portos do Brasil, as principais
mercadorias brasileiras importadas por Buenos Aires eram produtos alimentícios de São Paulo e
açúcar e melado da Bahia e Pernambuco. De Portugal vinham pipas de sardinha, sal, pimenta,
azeite, vinhos, tecidos do norte da Europa, ferro, estanho, aço, instrumentos agrícolas, utensílios
domésticos e madeiras e móveis. Os principais meios de pagamento dessas mercadorias eram os
metais preciosos, exportados em forma de jóias, moedas ou barras. Completavam as remessas de
metal a exportação de farinha de trigo de Tucumã, carne salgada, couros e sebo para a fabricação de
velas.lxxix
François Pyrard, aventureiro francês que visitou a América do Sul durante o período da
União Ibérica, deixou-nos um interessante relato de como os contrabandistas burlavam a vigilância
dos agentes reais em Buenos Aires:
O Rio da Prata jaz a trinta e cinco graus da banda do sul da América, que é a mesma altura, pouco mais ou
menos, do Cabo da Boa Esperança; mas, os que ali vão, fazem-no secretamente e com temor, porquanto o rei
de Espanha tem defendido o tratado por estas partes, para não ser defraudado nos seus direitos; e todo o
dinheiro que se tira por esta via é tão secretamente que se não pode descobrir, pois a defesa é tão estreita que
leva à pena de morte. De sorte que para levarem o dinheiro, atam os sacos cheios dele às âncoras, e depois
de saídos os oficiais de el-rei, levantando as âncoras, o guardam, e assim todo o dinheiro que daquelas partes
se tira, é roubando e defraudando os direitos de el-rei de Espanha. E nem por isso deixam de tirar dali muito,
lxxx
porque todo o dinheiro que corre no Brasil e em Angola de lá vem.
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era mais fácil por Buenos Aires, onde, durante os primeiros tempos, não havia comissário do Santo
Ofício, que pelos portos caribenhos, severamente vigiados pela Inquisição. Uma alternativa à rota
marítima era o caminho terrestre, passando por São Paulo. Em 24 de dezembro de 1622, avisava-se
a Câmara de São Paulo da chegada de vinte e tantas pessoas no navio de Pedro de Carces que
pretendiam passar às colônias espanholas pelo caminho proibido. O grupo compunha-se de mulheres
disfarçadas de homens, e estes, de mulheres; leigos disfarçados de frades e padres fugidos de seus
misteres. Apesar do aviso, não se tomou nenhuma medida para vigiar o caminho para Assunção que
continuou a ser usado, pois informação parecida foi dada à mesma Câmara em primeiro de abril de
1623.lxxxiii
Entretanto, a imigração luso-brasileira não se dava somente em razão das perseguições
movidas pelo Santo Ofício, mas também por interesses econômicos, os quais motivavam até os
clérigos a aventurarem-se na América espanhola, pois, alegando a falta de bispo no Rio de Janeiro e
os perigos da navegação para a Bahia, muitos deles passavam a Buenos Aires para receberem ali a
sua ordenação. Enquanto alguns se estabeleciam na cidade, outros seguiam para o Peru “por ser a
terra mais rica”.lxxxiv Contudo, a forte presença dos cristãos novos marcava esta onda imigratória,
levando as autoridades espanholas a identificar todos os imigrantes luso-brasileiros como sendo
“judeus” ou “judaizantes”.lxxxv
Favorecidos, em certos aspectos, pela União Ibérica, mas ainda vítimas das
perseguições inquisitorias e sentimentos xenófobos, sobretudo depois de 1640, os cristãos novos
portugueses desempenharam importante papel na vida econômica da Venezuela, do Peru e do Rio
da Prata. Entretanto, a prosperidade alcançada por eles na América não deixou de suscitar invejas e
acusações como a de darem ajuda aos inimigos da Espanha a fim de minar o monopólio comercial da
Coroa.lxxxvi
De fato, a forte presença luso-brasileira no Prata alarmou a Coroa espanhola que, em
real cédula datada de 17 de outubro de 1602, ordenou a expulsão dos portugueses e demais
estrangeiros que houvessem entrado sem licença em seus domínios americanos. Em relação aos
portugueses, a referida real cédula declarava-os “gente poco segura en las cosas de nuestra santa fe
catolica, judaizantes”.lxxxvii Em nova real cédula, datada de 27 de outubro de 1603 e dirigida ao
governador da província do Rio da Prata, a Coroa espanhola insistiu no cumprimento do que fora
estabelecido na cédula de 1602, manifestando sua preocupação com relação a “algunos clerigos
portugueses, y que por estar esa gobernación llena de gente de esta nación y sospechosos en las
cosas de la fe”.lxxxviii Em obediência à cédula real, o governador Manoel de Frías expulsou da
província quarenta portugueses solteiros e aconselhou a instalação de um tribunal da inquisição em
Buenos Aires, conselho esse que foi renovado em 1610 pelo governador Martín Negrón.
Porém, o desejo das autoridades espanholas de expulsar os portugueses enfrentou a
oposição do cabildo de Buenos Aires que, como vimos, tinha importantes relações com os
contrabandistas. Em 03 de abril de 1605, o mesmo pediu a derrogação da lei de expulsão, pois
alegava que a população de origem luso-brasileira “se trata de un elemento de gran utilidad
14
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económica para la ciudad”.lxxxix O bispo D. Martín Ignacio de Loyola deu seu apoio à petição
apresentada pelo cabido alegando que:
no conviene se guarde el dicho auto cuando algunas cosas y en particular de los navíos de permisión y de los
portugueses casados, y de los que ha años están en esta tierra sirviendo en oficios mecánicos y de la
agricultura, porque de su cumplimimiento se seguirá la total destrucción de esta ciudad, en lo espiritual y
temporal, y de esta Gobernación y aún de la del Tucumán, lo cual contraviene directamente el fin de su
xc
Majestad, que es el bien y aumento de esta ciudad y su gobernación.
Nota-se que a importância econômica dos portugueses no Prata era de tal vulto que
levou o próprio prelado portenho a apoiar a sua causa, mesmo que sobre eles pesasse a então
terrível acusação de “judaizantes”. De fato, a maior parte dos imigrantes portugueses dedicava-se ao
comércio e aos ofícios manuais, gênero de trabalho que era desprezado pelos cristãos velhos,xci
preconceito que perdurou durante todo o período colonial, pois um jesuíta assim descreveu os
habitantes de Buenos Aires em meados do século XVIII:
En esta parte del nuevo mundo son tenidos como nobles, todos los que vienen de España, o sea, los blancos;
se les distingue de la demás gente en el lenguaje, en el vestido, pero no en la manutención y habitación, que
es la de mendigos; no por eso dejan su ufanía y su soberbia; desprecian todas las artes; el que algo entiende y
trabaja con gusto, es despreciable como esclavo; por el contrario, el que nada sabe y vive ociosamente, es un
xcii
caballero, un noble.
esta ciudad Señor por la mayor parte se compone de Portugueses sús hijos y descendientes y la ardiente
pasión de estes á los otros en que con poco disimulo se dan a conocer me hace desconfiar de que les den la
xcv
mano y mas estando los de la poblacion en distancia tan corta de ocho leguas.
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o mais terreno da boca do Rio [da Prata] para dentro, que fica para a parte do sul da linha de demarçaçaõ e
hade correr pelo interior da terra, pertence a Coroa, (...), e estas haõ de ser sempre realengas, sem terem outro
cx
dominio.
Embora os Corrêa de Sá nunca chegassem a tomar posse efetiva das terras concedidas,
a busca de metais preciosos incentivou o progressivo povoamento das terras ao sul de Cananéia.
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Assim, em 1648, surgiu Paranaguá; em 1658, São Francisco do Sul e, em 1668, Curitiba. No decênio
seguinte, o paulista Francisco Dias Velho requereu uma sesmaria na ilha de Santa Catarina, onde
desenvolveu lavouras e erigiu uma capela em honra a Nossa Senhora do Desterro. Entretanto, as
incursões dos corsários que freqüentavam a ilha causaram a morte de Dias Velho e levaram seus
dois filhos a refugiarem-se em Laguna, onde o vicentino Domingos de Brito Peixoto iniciara uma
povoação.cxi
O interesse pelo Rio da Prata continuava forte entre os luso-brasileiros, especialmente
entre os comerciantes sediados no Rio de Janeiro. Em várias ocasiões, desde 1640, a Câmara do
Rio pediu à Coroa que encontrasse um meio de reabrir o comércio com Buenos Aires a fim de aliviar
a pobreza dos habitantes da cidade.cxii Em 1669, o governador-geral do Brasil, Alexandre de Souza e,
em 1671, o do Rio de Janeiro, João da Silva de Souza, alertavam o príncipe regente sobre a
conveniência do povoamento das terras que até o Rio da Prata se achavam ermas. Silva de Souza
informou ainda que os habitantes de Buenos Aires (provavelmente os portugueses) solicitavam a
fundação de uma colônia nas proximidades da cidade a fim de se restabelecerem as ligações
comerciais com o Brasil. Uma informação de Matias de Mendonça, que estivera em Buenos Aires,
aconselhava a ocupação da ilha de Maldonado e a terra firme, onde se podia tirar grande quantidade
de couros.cxiii Outro fator de atração eram os boatos que corriam entre portugueses e espanhóis sobre
a existência de minas próximas ao Rio da Prata, que estariam sendo secretamente exploradas pelos
jesuítas.cxiv
Em fins de 1672, o rei prorrogou o governo de Silva de Souza por mais três anos para
que o mesmo passasse ao Prata a fim de fortificar um dos portos que parecesse mais apto para
assegurar o comércio com Buenos Aires: Maldonado, Montevidéu ou as ilhas de São Gabriel.
Recomendava ainda que seguisse para São Paulo e dali conduzisse 600 homens e os índios que
achasse necessário. Embora a expedição não se tenha realizado, os espanhóis tomaram
conhecimento dos planos dos lusitanos através de alguns seminaristas que foram ordenar-se em
Buenos Aires. Em carta de 13 de junho de 1673, o governador do Rio da Prata deu conta das
pretensões portuguesas à Coroa espanhola, salientando que a condição para a conservação de
Buenos Aires era permitir o comércio entre a cidade e o Rio de Janeiro argumentando “que los de
aqui son tan Portugueses como aquellos, por no aver seis casas que no les toque el serlos
enteramente, ó mas de la mitad”.cxv
A prudente, porém efetiva política de expansão rumo ao Prata que a Coroa portuguesa
adotou a partir da Restauração foi legitimada pela criação da diocese do Rio de Janeiro, uma
importante vitória diplomática do príncipe D. Pedro junto à Santa Sé. Já no memorial em que o Dr.
Lourenço de Mendonça, administrador eclesiástico do Rio de Janeiro, escreveu, por volta de 1630,
sobre a necessidade da criação de um bispado na cidade, descrevia a costa brasileira correndo da
boca do Rio da Prata até o cabo do Norte, na província do Maranhão e Rio das Amazonas.cxvi
Efetivamente, a Prelazia do Rio de Janeiro, criada em 19 de julho de 1576, tinha como limite sul o Rio
da Prata, o que foi confirmado um século depois, quando da criação do bispado do Rio, em 22 de
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novembro de 1676, pela bula Romani Pontificis, onde Inocêncio XI estabeleceu o alcance da nova
diocese que, do Espírito Santo seguia “até o Rio da Prata, pela costa marítima e pelo sertão”.cxvii
A confirmação, obtida através da bula que criara a diocese do Rio de Janeiro, de que o
território em litígio que corria de Cananéia ao Rio da Prata fazia parte do Brasil, legitimou a nova
tentativa de fundar uma povoação no Prata. Outro fator favorável à retomada pelos portugueses do
velho projeto de ocupar as margens do Rio da Prata foi a decadência da Espanha. De fato, o reinado
do último Habsburgo espanhol, Carlos II, el hechizado (1664-1700), pode ser descrito como “um
completo desastre, uma melancólica história de derrota militar, bancarrota da coroa, retrocesso
intelectual e fome generalizada”.cxviii A soma desse fatores, aliada à necessidade de metal precioso,
motivou a Coroa portuguesa a passar à ação.
Em 1677, D. Pedro II instruiu secretamente o tenente-general Jorge Soares de Macedo a
visitar Paranaguá para determinar o valor de supostas minas e prata e de lá passar ao Rio da Prata,
onde deveria erguer uma fortificação na ilha de São Gabriel.cxix Tendo chegado em São Paulo em fins
de 1678, a fim de arregimentar gente e mantimentos, Macedo foi informado pelos sertanistas de que
uma expedição ao Prata por terra seria impossível sem a demora de dois anos, o que contrariava a
sua intenção de cumprir com brevidade a sua missão.cxx
Em vista deste problema, Jorge Soares de Macedo optou pela viagem marítima e, a 10
de março de 1679, sob seu comando, partiram do porto de Santos sete sumacas rumo ao Rio da
Prata. Entretanto, por duas vezes, tempestades obrigaram a frota a regressar ao porto. Na terceira
tentativa, uma tempestade ainda maior dispersou a frota, sendo que quatro embarcações
conseguiram regressar a Santos enquanto outras três foram dar à ilha de Santa Catarina. Ainda
abatido pelo malogro da expedição, Macedo foi informado de que deveria seguir para o Rio de
Janeiro a fim de entrar em contato com o novo governador, D. Manoel Lobo, que entrementes havia
sido escolhido por D. Pedro para comandar a nova fundação.cxxi
A mal sucedida expedição de Jorge Soares de Macedo teve ainda outro resultado
negativo: serviu para alertar o governador do Rio da Prata, que mobilizou suas forças em Buenos
Aires, enviou patrulhas guarda-costas para vigiar as margens do Prata e solicitou o auxílio dos índios
missioneiros.cxxii O responsável pela quebra de sigilo fora João Peralta que, de menino, fora levado de
Vila Rica para São Paulo quando aquela povoação guairenha fora destruída pelos paulistas. Em
1639, quando deveria ter uns 43 anos, partiu de Itú com destino ao Paraguai, onde se refugiou, pois,
envolvido numa rixa, ferira Francisco Pedroso, destacado bandeirante. Em Assunção, informou o
governador a respeito da preparação da expedição de Jorge Soares de Macedo, que por sua vez
alertou o governador do Rio da Prata.cxxiii
D. Manuel Lobo tomou posse do governo do Rio de Janeiro a 9 de maio de 1679, dando
logo início à preparação da expedição que viria a fundar a Colônia do Sacramento. No afã de
conseguir seu intento com brevidade, o governador iniciou o recrutamento de todos os homens
disponíveis que encontrou: militares, operários aprendizes, negociantes, vagabundos e mesmo
presidiários, que se alistaram em troca do perdão de seus crimes. Embora, a princípio, os cariocas se
tivessem mostrado favoráveis à expedição, oferecendo dinheiro ao governador, recusaram-se a
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continuar a contribuição ao constatar que o peso da expedição caía unicamente sobre a sua
capitania.cxxiv A câmara queixou-se que o recrutamento ordenado por D. Manuel Lobo prejudicou
sensivelmente a economia do Rio de Janeiro pois, a fim de evitar o serviço militar, muitos agricultores
e operários fugiram para as matas, abandonando os engenhos.cxxv
Tendo fretado três charruas, o governador mandou carregá-las com todas as provisões
possíveis de serem encontradas no Rio de Janeiro. Dirigiu-se depois a Santos, onde o governador
Diogo Pinto do Rego ajudou no fornecimento dos mantimentos necessários à expedição. Mais duas
sumacas foram fretadas em Santos, de onde passaram a Cananéia para buscar farinha de mandioca.
Ao mesmo tempo, Jorge Soares de Macedo fora enviado à ilha de Santa Catarina, onde deveria
ordenar o corte de madeiras e a fabricação tijolos, telhas e cal para a construção da nova
povoação.cxxvi
Um cuidadoso estudo de Luís Ferrand de Almeida, baseado em fontes portuguesas e
espanholas, calculou o pessoal da expedição em cerca de 300 oficiais e soldados; 76 índios
(incluíndo mulheres e crianças); 51 negros (incluindo mulheres e crianças); 4 mulatos livres (incluindo
uma mulher); 4 sacerdotes; 3 mulheres brancas e um almoxarife. A frota partiu de Santos em 8 de
dezembro de 1679 e levou 23 dias até chegar a Maldonado, de onde prosseguiu a viagem até a ilha
de São Gabriel, aportando ali em 20 de janeiro de 1680.cxxvii
As autoridades de Buenos Aires não foram surpreendidas pelo estabelecimento dos
portugueses no Prata pois, como vimos antes, João Peralta alertara o governador do Paraguai sobre
a expedição de Jorge Soares de Macedo. Imediatamente o Superior das reduções jesuíticas e o
governador de Buenos Aires foram informados da notícia. Mas, apesar das medidas tomadas para a
vigilância da margem norte, a expedição de D. Manuel Lobo foi encontrada por acaso. Em 22 de
janeiro de 1680, um espanhol que tinha ido à ilha de São Gabriel em busca de lenha, viu os navios
portugueses e retornou a Buenos Aires para avisar as autoridades.cxxviii
Ao ter conhecimento da chegada dos portugueses, o governador D. José de Garro
enviou ao seu encontro uma comissão a fim de requerer ao comandante dos navios que
abandonasse as terras do rei de Espanha, pois se não o fizesse com toda a brevidade, usaria da
força para desalojá-lo da região. Embora D. Manuel Lobo tenha recebido os emissários espanhóis
com amabilidade, não deixou de demonstrar firmeza na discussão que se seguiu entre portugueses e
espanhóis sobre a posição em que a linha de Tordesilhas passava no sul da América, encerrando a
discussão com a afirmação de que sem a ordem expressa do príncipe regente não voltaria atrás um
passo.cxxix
Recusando as exigências dos espanhóis, D. Manuel Lobo prosseguiu nas obras da
fortaleza que denominou Sacramento, enquanto que à futura cidade que pensava em construir nas
proximidades denominaria Lusitânia.cxxx Não deixa de ser interessante a escolha do nome da
fortificação, que exaltava a religião católica enquanto que a futura cidade exaltaria a nacionalidade
portuguesa, duas forças a representar a vontade com que os portugueses tinham de estabelecer-se
definitivamente às margens do Rio da Prata.
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A fim de reforçar a nova povoação, D. Manuel Lobo não tardou em escrever ao Rio
pedindo reforços de gente e mantimentos. Porém era grande a dificuldade em recrutar novos efetivos
para Colônia, pois o Rio de Janeiro sofria com a carência de mão-de-obra. Em 26 de maio, os
vereadores cariocas escreveram ao governador que não poderiam mandar mais gente ao Prata pelo
prejuízo que tal fato acarretaria à agricultura da capitania e pediam-lhe que remetesse ao Rio os
homens que não eram necessários em Sacramento. A câmara não deixou de queixar-se ao rei, em 6
de junho, que o Rio de Janeiro era a única capitania que contribuíra para a fundação de Colônia,
sugerindo que novos auxílios podiam ser requisitados nas capitanias de Pernambuco, Bahia e São
Vicente. Em resposta, o rei ordenou que não mais se recrutassem os homens que trabalhassem nos
engenhos ou tivessem ofícios.cxxxi As reclamações da câmara do Rio eram injustas com a capitania
de São Vicente que, como vimos, também contribuiu com o esforço da fundação de Colônia, porém
as mesmas são reveladoras da escassez de mão-de-obra vivida pela cidade.
Entretanto, no Prata, a situação começava a ficar difícil para os portugueses, pois, vendo
que D. Manuel Lobo não abandonaria pacificamente o território ocupado, o governador Garro iniciou
os preparativos para o ataque, formando uma milícia em Buenos Aires e pedindo 50 homens e 300
cavalos ao governador de Santa Fé, 80 soldados de Corrientes, 300 de Tucumã e 3.000 índios das
missões jesuíticas. D. Manuel Lobo também fazia preparativos para a defesa enquanto esperava
pelos reforços do pessoal de Jorge Soares de Macedo e dos mantimentos que o mesmo deveria
trazer da ilha de Santa Catarina. Entretanto, devido a uma tempestade, a sumaca em que viajava
Macedo naufragou próximo ao cabo de Santa Maria em 24 de fevereiro. Se bem que toda a tripulação
se salvasse, não foi possível prosseguir a viagem na canoa que seguia junto com a sumaca. Por isso
Macedo e alguns de seus homens prosseguiram a viagem por terra até as proximidades de
Montevidéu, onde foram presos por uma patrulha de índios missioneiros, sendo remetidos para a
missão de Japejú e, posteriormente enviados presos a Buenos Aires.cxxxii
A desproporção entre os atacantes: 280 espanhóis e mais de três mil indígenas,
comandados pelo mestre de campo Antonio Vera y Mujica, contra pouco mais de 400 portugueses, e
destes, somente cerca de 300 militares, não deixava dúvidas quanto à vitória dos espanhóis, mesmo
porque os baluartes de terra somente podiam deter momentaneamente o assalto, mas não impedi-lo.
A defesa de Colônia ficara sob a responsabilidade do capitão Manuel Galvão, desde que uma febre
obrigara D. Manuel Lobo a permanecer na cama. Na madrugada de 7 de agosto iniciou-se o ataque
espanhol, que teve lances de heroísmo, como o do capitão Galvão que lutou até a morte, no que foi
seguido por sua mulher, Joana Galvão, que recusou a rendição e morreu em combate, brandindo a
cxxxiii
espada do marido, atuação que lembra as heroínas das praças do norte da África comentadas
cxxxiv
por Boxer.
Em carta ao príncipe regente, D. Manuel Lobo queixou-se da ferocidade dos índios
durante o assalto à cidadela. Acusou os jesuítas espanhóis de atiçar o ódio dos indígenas contra os
portugueses, dando-lhes repetidas ordens para que nenhum branco escapasse com vida, violência
que causou estranheza aos próprios espanhóis. Teriam sido cruelmente assassinados todos os
portugueses que não conseguiram refugiar-se na igreja, sob a proteção dos jesuítas portugueses e
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na casa de D. Manuel Lobo, cuja defesa tomou a seu cargo o comandante Vera y Mujica. Para provar
a intenção dos jesuítas de exterminar os portugueses, Lobo ressaltou que “a pesar de no matar a
ninguno de los negros ni los indios de los nuestros, en los blancos rendidos hicieron cruel estrago, no
escapando sexo ni edad”. A razão do massacre não passou desapercebida ao comandante
português, pois dizia que “influye en estos hombres el temor de que en la demarcación de estas
terras y en la parte que corresponde a V. A. quede una gran parte de sus reductos”.cxxxv
Segundo Luís Ferrand de Almeida 125 homens morreram em combate, 132 foram
aprisionados, 13 desertaram e cerca de 30 morrrem de doença.cxxxvi Os sobreviventes foram levados
prisioneiros a Buenos Aires e somente em 20 de setembro de 1680, em resposta às cartas de D.
Manuel Lobo, chegou a Colônia o reforço vindo do Rio de Janeiro, quando já fazia mais de um mês
que a fortaleza fora destruída pelos espanhóis. Antes de retornar ao Rio, com a autorização do
governador Garro, o capitão pôde comunicar-se com Lobo e levar um relato da tomada de Colônia.
Temendo que a população de origem lusa que vivia em Buenos Aires pudesse tentar libertar os
prisioneiros, Garro os oficiais portugueses para o Chilecxxxvii enquanto que Lobo, ainda doente, e mais
alguns de seus homens foram mandados para Córdoba. Com a notícia do armistício, D. Manuel Lobo
foi enviado a Buenos Aires, onde morreu em 13 de janeiro de 1683.cxxxviii
Parecia ter acabado melancolicamente o sonho da Coroa portuguesa de reabrir o
lucrativo comércio com o Rio da Prata e, ao mesmo tempo, aumentar seu poderio através do domínio
e exploração de uma vasta região ainda não ocupada por nenhuma potência européia. Entretanto, o
príncipe D. Pedro não aceitou pacificamente a destruição dos seus planos de recuperação econômica
do Reino através da exploração das riquezas coloniais. Confiante no apoio da França, ao mesmo
tempo em que se assegurava da neutralidade da Inglaterra, preocupada em equilibrar seus
interesses entre Lisboa e Madri, D. Pedro deu ordem para a mobilização das tropas portuguesas
junto à fronteira luso-espanhola. Negando-se a conceder audiência ao embaixador espanhol, o
príncipe regente enviou um ultimatum à Espanha que, dentro de quinze dias, teria de dar satisfação
do ocorrido, castigar o governador Garro, libertar os prisioneiros e devolver o território ocupado.cxxxix
A violenta reação de D. Pedro levava em consideração a fraqueza da Espanha, recém
saída de uma guerra desastrosa contra a França, pela qual teve de ceder-lhe o Franco-Condado e
várias cidades em Flandres no tratado de paz assinado em Nimègue, em 1678.cxl Efetivamente, a
Coroa francesa não tardou em apoiar as pretensões portuguesas a fim de criar novas dificuldades à
Espanha, sua tradicional inimiga. Luís XIV prometeu “que o Príncipe Regente receberia de El-Rei
Católico toda a satisfação pretendida, mas se o negócio tivesse conseqüências, não perderia as
ocasiões que se oferecessem de fazer alguns serviços a Sua Alteza”.cxli
Embora a Coroa espanhola fosse obrigada a ceder à pressão luso-francesa através da
devolução do território da Colônia do Sacramento, segundo o Tratado Provisional de 1681, foram
bastante difíceis os primeiros anos que se seguiram ao restabelecimento dos portugueses em
Colônia em 1682. Às restrições do governo de Buenos Aires, que procuravam impedir o contrabando
e a exploração do gado selvagem que abundava nos campos da margem norte do Rio da Prata, se
somaram a corrupção generalizada que marcou o governo de Cristóvão Ornelas de Abreu (1683-
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Bourbons à maior parte das demais nações européias, entre as quais Portugal, resultando na
capitulação de Colônia frente ao governador de Buenos Aires, em setembro de 1761. Pelo Tratado de
Paris, assinado em fevereiro de 1763, a influência da Inglaterra, novamente líder vitoriosa de outra
liga contra Espanha e França, obrigou a Coroa espanhola a devolver Colônia aos portugueses.
Entrementes, uma nova guerra entre Espanha e Portugal, desta vez sem a participação
dos seus poderosos aliados europeus (respectivamente França e Grã-Bretanha), possibilitou a
reconquista de Sacramento pelos castelhanos em 1777. Sem a ajuda dos britânicos, os portugueses
não puderam assegurar seu retorno ao Prata, sendo que o Tratado de Santo Ildefonso, assinado em
outubro do mesmo ano, manteve Colônia em poder da Espanha, situação que seria ratificada pelo
Tratado de El Pardo, assinado em março do ano seguinte.
Notas
i
Cf. DOCA, E. F. de Souza. História do Rio Grande do Sul. Rio de Janeiro: Organizações Simões, 1954, p. 9.
iiii
ALMEIDA, Luís Ferrand de. A Diplomacia Portuguesa e os Limites Meridionais do Brasil. Coimbra: Universidade de Coimbra,
1957, vol. 1, pp. 1-2.
iii
Alexandre VI possuía dezesseis bispados e numerosas abadias na Espanha e, em reconhecimento à sua intervenção
favorável aos Reis Católicos nas disputas ultramarinas com Portugal, conseguiu para seu filho, César Borgia, o bispado de
Valência, cuja renda era de 16.000 ducados por ano. Cf. CORTESÃO, Jaime. História do Brasil nos Velhos Mapas. Rio de
Janeiro: Instituto Rio Branco, 1957, tomo 1, pp. 134-135.
iv
ALMEIDA, Luís Ferrand de. Op. cit. pp. 2-4.
v
Ibidem, pp. 4-5.
vi
FONSECA, Luís Adão. Portugal entre dos Mares. Madrid: MAPFRE, 1993, p. 289.
vii
ALMEIDA, Luís Ferrand de. Op. cit. pp. 6-9.
viii
Ibidem, pp. 14-18.
ix
CALÓGERAS, João Pandiá. “A Política Exterior do Império”. Revista do IHGB. Rio de Janeiro, tomo especial, 1927, pp. 47-
48.
x
LUNA, Carlos Correa. Introdução à Campaña del Brasil - Antecedentes Coloniales. Buenos Aires: Archivo General de la
Nación, 1931, tomo 1 (1535-1749), pp. XXIV-XXV.
xi
CORTESÃO, Jaime. Op. cit. p. 159.
xii
“Notícia e justificação do título e boa fé com que se obrou a Nova Colônia do Sacramento, nas terras da Capitania de São
Vicente, nas margens do Rio da Prata”. In: Revista de História. São Paulo, 1977, vol. LXVIII, p. 24.
xiii
Cf. GUEDES, Max Justo. “As Primeiras Expedições de Reconhecimento da Costa Brasileira”. In: História Naval Brasileira.
Rio de Janeiro: Ministério da Marinha, 1975, vol. 1, tomo 1, pp. 234-239.
xiv
Cristóvão de Haro era um comerciante castelhano estabelecido em Lisboa, de onde participou da exploração comercial do
Brasil e, através de sociedade com seu irmão, Diogo de Haro, do comércio dos rios da Guiné. Em 1518, Fernão de Magalhães
e Cristóvão de Haro passaram para o serviço da Coroa castelhana. Segundo Jaime Cortesão, parece provável que os
resultados da expedição de 1513-1514 ao Rio da Prata levaram Cristóvão de Haro a apoiar o projeto espanhol de atingir as
Índias pelo Ocidente e também é provável que os seus informes fossem o principal estímulo para a concretização da
expedição comandada por Solís. Cf. CORTESÃO, Jaime. Op. cit. pp. 307-309.
xv
ABREU, João Capistrano de. “Sobre a Colônia do Sacramento”. Introdução a Simão Pereira de Sá Historia Topographica e
Bellica da Nova Colonia do Sacramento do Rio da Prata. Rio de Janeiro: Leutzinger, 1900, pp. XXI-XXII. LAGUARDA-TRÍAS,
Rolando. “Antecedentes Políticos de la Fundación de la Colonia del Sacramento”. In: DARAGNÈS RODERO, Ernesto. 300
Años de Colonia, Ciclo Conmemorativo. Montevidéu: Universidad de la República, s/d, pp. 35-36.
xvi
ALMEIDA, Luís Ferrand de. Op. cit. pp. 19-20.
xvii
LAGUARDA TRÍAS, Rolando A. “Cristóvão Jaques e as Armadas Guarda-Costa”. In: História Naval Brasileira. Rio de
Janeiro: Ministério da Marinha, 1975, vol. 1, tomo 1, p. 261.
xviii
ALMEIDA, Luís Ferrand de. Op. cit. p. 21.
xix
HOLANDA, Sérgio Buarque de. O Extremo Oeste. São Paulo: Brasiliense, 1986, p. 107.
xx
CORTESÃO, Jaime. Op. cit. p. 368.
xxi
RUBIO, Julián M. Exploración y Conquista del Río de la Plata (Siglos XVI y XVII). Barcelona: Salvat, 1953, p. 54.
xxii
LAGUARDA TRÍAS, Rolando A. “A Expedição de Sebastião Caboto”. In: História Naval Brasileira. Rio de Janeiro: Ministério
da Marinha, 1975, vol. 1, tomo 1, pp. 314-315.
xxiii
LAGUARDA TRÍAS, Rolando A. “A Viagem de Martim Afonso de Souza”. In: História Naval Brasileira. Rio de Janeiro:
Ministério da Marinha, 1975, vol 1, tomo 2, pp. 381-383.
xxiv
ALMEIDA, Luís Ferrand de. Op. cit., pp. 24-27.
xxv
HOLANDA, Sérgio Buarque de. Op. cit. p. 117.
xxvi
ALMEIDA, Luís Ferrand de. Op. cit. pp. 30-31.
xxvii
HOLANDA, Sérgio Buarque de. Op. cit. p. 119.
xxviii
Ibidem, pp. 130-132.
xxix
Ibidem, p. 120.
xxx
MONTEIRO, John Manuel. Negros da Terra. São Paulo: Brasiliense, 1994, p. 38.
24
Dossiê Cultura e Sociedade na América Portuguesa Colonial, v.5, n. 12, out./nov.2004
Disponível em http://www.seol.com.br/mneme
A trilha indígena que conduzia ao Paraguai, com seus oito palmos de largo, era chamada pelos indígenas de “Piabiru” e pelos
portugueses, “Caminho de São Tomé”. Cf. HOLANDA, Sérgio Buarque de. Caminhos e Fronteiras. 3.ª ed. São Paulo:
Brasiliense, 1994, p. 26.
xxxi
ALMEIDA, Luís Ferrand de. Op. cit. p. 36.
xxxii
Ibidem, p. 40.
xxxiii
Ibidem, p. 57.
xxxiv
MONTEIRO, John Manuel. Op. cit. pp. 76-79.
xxxv
Ibidem. p. 113.
Sobre o papel de São Paulo como área de abastecimento interno, consultar: BLAJ, Ilana. A Trama das Tensões. O Processo
de Mercantilização de São Paulo Colonial (1681/1721). São Paulo: Tese de Doutorado apresentada ao Departamento de
História da FFLCH da USP, 1995, (mimeo).
xxxvi
HUBERT, Maxime. A Vida Cotidiana do Índios e Jesuítas no Tempo das Missões. São Paulo; Companhia das Letras –
Círculo do Livro, 1990, p. 156.
xxxvii
FLORES, Moacyr. Colonialismo e Missões Jesuíticas. 2.ª ed. Porto Alegre: Nova Dimensão – EST, 1986, p. 31.
O governador Céspedes era casado com Dona Vitória de Sá e, portanto, tinha importantes ligações com a poderosa família Sá
do Rio de Janeiro. Sobre o assunto, consultar: BOXER, Charles Ralph. Salvador de Sá e a Luta pelo Brasil e Angola (1602-
1686). São Paulo: Editora Nacional – Edusp, 1973, pp. 96-105.
xxxviii
MONTEIRO, John Manuel. Op. cit. p. 69.
xxxix
ALMEIDA, Luís Ferrand de. Op. cit. pp. 57-59.
xl
O ano de 1633 já havia assinalado o fim das Missões do Itatim, inclusive com a destruição da cidade paraguaia de Santiago
de Xerez.
xli
MÖRNER, Magnus. Actividades Políticas y Económicas de los Jesuítas en el Río de la Plata. Buenos Aires: Paidos, 1968,
pp. 54-55.
xlii
ALMEIDA, Luís Ferrand de. Op. cit. pp. 60-61.
Sobre os atritos entre bandeirantes e jesuítas veja-se o grande número de documentos organizados por Jaime Cortesão e
publicados pela Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro: Jesuítas e Bandeirantes no Guairá (1549-1640), Jesuítas e
Bandeirantes no Itatim (1569-1760), Jesuítas e Bandeirantes no Tape (1615-1641) e Jesuítas e Bandeirantes no Paraguai
(1705-1751).
xliii
BANEIRA, Luiz Alberto Moniz. O Expansionismo Brasileiro e a Formação dos Estados na Bacia do Prata. 2ª ed. São Paulo:
Ensaio – Brasília: UnB, 1995, pp. 33-36.
xliv
DIFRIERI, Horacio A. Buenos Aires, Geohistoria de una Metropoli. Buenos Aires: Universidad de Buenos Aires, 1981, p. 58.
xlv
GARCIA, Emanuel Soares da Veiga. O Comércio Ultramarino Espanhol no Prata. São Paulo: Perspectiva, 1982, pp. 14-15.
Curiosamente, Garcia não faz referência alguma à importância da Colônia do Sacramento no comércio ilegal no Rio da Prata,
embora aborde o papel do contrabando em sua obra.
xlvi
WILLIMAN, José Cláudio e PANIZZA PONS, Carlos. Historia Uruguaya. Montevidéu: Ediciones de la Banda Oriental, 1993,
vol. 1, p. 39.
xlvii
Ibidem, p. 40.
xlviii
KONETZKE, Richard. América Latina - La Época Colonial. 24.ª ed. Madrid: Siglo Veinteuno, 1993, vol. 2, p. 276.
xlix
FUNES, Gregorio. Ensayo de la Historia Civil del Paraguay, Buenos Aires y Tucumán. 3.ª ed. Buenos Aires: L. J. Rosso y
Cia, 1911, tomo 2, p. 159.
l
KONETZKE, Richard. Op. cit. p. 119.
li
Ibidem, pp. 44-47.
lii
Ibidem, p. 48.
liii
MACLEOD, Murdo J. “A Espanha e a América: O Comércio Atlântico, 1492-1720”. In: BETHELL, Leslie (org.). História da
América Latina. São Paulo: Edusp – Brasília: Funag, 1997, vol. 1, p. 368.
liv
Ibidem, p. 373.
lv
NOVAIS, Fernando A. Portugal e Brasil na Crise do Antigo Sistema Colonial (1777-1808). 6.ª ed. São Paulo: Hucitec, 1995, p.
72.
lvi
ALMEIDA, Luís Ferrand de. A Colónia do Sacramento na Época da Sucessão de Espanha. Coimbra, 1973, p. 148.
lvii
CANABRAVA, Alice Piffer. O Comércio Português no Rio da Prata (1580-1640). Belo Horizonte: Itatiaia – São Paulo: Edusp,
1984, pp. 82-85. Salvador salienta a origem cristã-nova dos envolvidos no tráfico: “Na Bahia, o governador Manuel Teles
Barreto enviou até presentes ao bispo Vitória. No Espírito Santo, achava-se à frente da Capitania o segundo Vasco Fernandes
Coutinho, cunhado do lic. Ruano Tellez, fiscal de Chuquisaca, e em São Vicente o capitão-mor, Jerônimo Leitão, genro do
judeu Tristão Mendes. No Rio de Janeiro, Salvador Correa de Sá”. SALVADOR, José Gonçalves. Os Magnatas do Tráfico
Negreiro. São Paulo: Pioneira - Edusp, 1981, p. 142.
lviii
VICENTE DO SALVADOR. História do Brasil (1500-1627). 7.ª Ed. Belo Horizonte: Itatiaia - São Paulo: Edusp, 1982, p. 251.
lix
CANABRAVA, Alice Piffer. Op. cit. p. 64.
lx
SALVADOR, José Gonçalves. Op. cit. p. 143
lxi
Citado por BOXER, Charles R. Op. cit., p. 90.
lxii
CANABRAVA, Alice Piffer. Op. cit. pp. 70-77.
lxiii
KONETZKE, Richard. Op. cit. p. 275.
lxiv
MÖRNER, Magnus. “Panorama de la Sociedad del Río de la Plata Durante la Primera Mitad del Siglo XVIII”. Estudios
Americanos. Sevilla, mayo y junio de 1959, vol. XVII, n.s 92-93, p. 204.
lxv
LAFUENTE MACHAÍN, R. Buenos Aires en el Siglo XVII. Buenos Aires: Emecé, 1944, p. 85.
lxvi
GARCIA, Emanuel Soares da Veiga. Op. cit. pp. 30-31.
lxvii
MÖRNER, Magnus Actividades Políticas e Económicas de los Jesuítas en el Río de la Plata. Buenos Aires: Paidos, 1968, p.
40.
lxviii
TORRE REVELLO, José. Crónicas del Buenos Aires Colonial. Buenos Aires: Bajel, 1943, p. 7.
lxix
MÖRNER, Magnus. Actividades Políticas e Económicas... Op. cit., p. 40.
lxx
Ibidem, p. 99.
lxxi
LAFUENTE MACHAÍN, R. Op. cit. p. 86.
lxxii
MÖRNER, Magnus. Actividades Políticas e Económicas... Op. cit. p. 26.
25
Dossiê Cultura e Sociedade na América Portuguesa Colonial, v.5, n. 12, out./nov.2004
Disponível em http://www.seol.com.br/mneme
lxxiii
KONETZKE,Richard. Op. cit. p. 310.
lxxiv
SALVADOR, José Gonçalves. Op. cit. p. 151.
lxxv
FRANÇA, Eduardo D’Oliveira. Portugal na Época da Restauração. São Paulo: Hucitec, 1997, pp. 324-342.
lxxvi
RUSSEL-WOOD, A. J. R. A World on the Move. New York: St Martin’s Press, 1993, p. 144.
lxxvii
Frei Manuel Calado assim descrevia Olinda no período anterior ao domínio holandês: “O ouro, & a prata era sem numero, &
quasi não se estimaua: o assucar tanto que naõ auia embarcações para o carregar [...]. O fausto, & aparato das casas era
excessiuo, porq’ por mui pobre, & miseravel se tinha o q’ não tinha o seu serviço de prata. Os nauios que vinham de arribada,
ou furtados aos direitos do Perù, alli descarregauão o melhor que traziam.” Apud: ALMEIDA, Luís Ferrand de. Op. cit. p. 80.
lxxviii
CANABRAVA, Alice Piffer. Op. cit. pp. 121-123.
lxxix
Ibidem, pp. 138-147.
lxxx
PYRARD, François. “Do Tráfico no Brasil (1611)”. In: RIBEIRO, Darcy e MOREIRA NETO, Carlos de Araújo. A Fundação do
Brasil (Testemunhos, 1500-1700). Petrópolis: Vozes, 1992, pp. 350-351.
lxxxi
SIERRA, Vicente D. Historia de la Argentina. Buenos Aires: Unión de Editores Latinos, 1957, vol. 1, p. 489.
lxxxii
CHAUNU, Pierre. Sevilha e a América nos Séculos XVI e XVII. São Paulo: Difel, 1980, p. 203.
lxxxiii
SALVADOR, José Gonçalves. Cristãos-Novos, Jesuítas e Inquisição. São Paulo: Pioneira – Edusp, 1969, pp. 101-104.
lxxxiv
HOLANDA, Sérgio Buarque de. O Extremo Oeste. São Paulo: Brasiliense, 1986, p. 161.
lxxxv
SIERRA, Vicente D. Op. cit., vol. 1, p. 157.
lxxxvi
ALMEIDA, Luís Ferrand de. A Colónia do Sacramento... Op. cit. pp. 32-33.
lxxxvii
Citado por SIERRA, Vicente D. Op. cit. vol. 1, p. 148.
lxxxviii
Ibidem, p. 42.
lxxxix
Ibidem, p. 43.
xc
Ibidem, Idem.
xci
CANABRAVA, Alice Piffer. Op. cit. p. 160.
xcii
“Carta del Hermano Miguel Herre al R. P. Provincial Fco. Molinder.” s/d. El Río de la Plata visto por viajeros alemanes del
siglo XVIII, según cartas traducidas por Juan Mülm, S. J. In: Revista del Instituto Histórico y Geográfico del Uruguay.
Montevideo, tomo VII, 1930, pp. 251-254.
xciii
CANABRAVA, Alice Piffer. Op. cit. p. 179.
xciv
Ibidem, pp. 179-180.
xcv
Citado por: MONTEIRO, Jonathas da Costa Rego. A Colônia do Sacramento (1680-1777). Porto Alegre: Globo, 1937, vol. 1,
p. 57.
xcvi
CORREA LUNA, Carlos. Op. cit. p. XXXIII.
xcvii
CÁRBIA, Rómolo D. Historia Eclesiástica del Río de la Plata. Buenos Aires: Alfa y Omega, 1914, tomo II, pp. 20-21.
xcviii
RUSSELL-WOOD, A. J. R.. Op. cit. pp. 137-138.
xcix
MELLO, Evaldo Cabral de. O Negócio do Brasil. Rio de Janeiro: Topbooks, 1998, pp. 248-249.
c
RODRÍGUEZ, Mario. Dom Pedro of Braganza and Colônia do Sacramento, 1680-1705. Hispanic American Historical Review.
Durham, v. XXXVIII, n. 2, May 1958, pp. 180-184.
ci
MELLO, Evaldo Cabral de. Op. cit., p. 247.
cii
RUSSELL-WOOD, A. J. R. Op. cit. pp. 152-153.
ciii
NOVAIS, Fernando A. Portugal e Brasil na Crise do Antigo Sistema Colonial (1777-1808). 6.ª ed. São Paulo: Hucitec, 1995,
p. 19.
civ
Em 1653, a falta de moeda na cidade obrigou o governador a estabelecer o açúcar como moeda para o pagamento de
impostos e soldos ao valor de 1.200 réis a arroba, num momento em que a arroba dessa mercadoria não valia mais que 700
réis, devido à dificuldade em encontrar meios de transporte para levá-la ao Reino. Cf. CALDEIRA, Jorge. A Nação
Mercantilista. São Paulo: Editora 34, 1999, p. 70.
cv
RODRÍGUEZ, Mario. Op. cit., pp. 184-185.
cvi
ALMEIDA, Luís Ferrand de. Op. cit. pp. 99-100. O padre Antônio Vieira, em 1648, argumentava ao Marquês de Niza que:
“Também se pode intentar a conquista do Rio da Prata, de que antigamente recebíamos tão consideráveis proveitos pelo
comércio, e se podem podem conseguir ainda maiores, se ajudados dos de S. Paulo marcharmos, como é muito fácil, pela
terra adentro, e conquistarmos algumas cidades sem defensa, e as minas de que elas e Espanha se enriquece (sic), cuja prata
por aquele caminho se pode trazer com muitas menores despesas”. VIEIRA, Antônio. Escritos Históricos e Políticos. São
Paulo: Martins Fontes, 1995, p. 221.
cvii
HOLANDA, Sérgio Buarque de. A Colônia do Sacramento e a Expansão no Extremo Sul In: _____. História Geral da
Civilização Brasileira. São Paulo: Difusão Européia do Livro, 1968, vol. 1, p. 325.
cviii
BOXER, Charles R. Op. cit. p. 308.
cix
DOMINGUES, Moacyr. A Colônia do Sacramento e o Sul do Brasil. Porto Alegre: Sulina, 1973, p. 32.
cx
O Regimento de D. Manuel Lobo (1678). In: ALMEIDA, Luís Ferrand de. “Origens da Colónia do Sacramento”. Separata da
Revista da Universidade de Coimbra. Coimbra, vol. XXIX, 1981, p. 119.
cxi
HOLANDA, Sérgio Buarque de. História Geral... Op. cit., p. 322.
cxii
RODRÍGUEZ, Mario. Op. cit. p. 185.
cxiii
ALMEIDA, Luís Ferrand de. A Diplomacia Portuguesa... Op cit., pp. 103-104.
cxiv
RODRÍGUEZ, Mario Rodríguez. Op. cit., p. 193.
cxv
“Carta del gobernador de Buenos Aires á S. M. dandole cuenta de lo que ha efectuado, en razón de las noticias que se
dieron de que el gobernador de Rio Janeiro tenía orden del Rey de Portugal para poblar la isla de Maldonado y tierra firme...’
Buenos Aires 13 de junio de 1673”. In: Campaña del Brasil. Op. cit., pp. 30-33.
cxvi
ALMEIDA, Luís Ferrand de. A Diplomacia Portuguesa... Op. cit. p. 54.
cxvii
LEITE, Serafim. História da Companhia de Jesus no Brasil. Rio de Janeiro: Imprensa Nacional, 1945, vol. 6, p. 534.
cxviii
BRANDING, D. A. “A Espanha dos Bourbons e seu Império Americano”. In: BETHELL, Leslie (org.). História da América
Latina. São Paulo: Edusp – Brasília: Funag, 1997, vol. 1, p. 391.
cxix
RODRÍGUEZ, Mauro Rodríguez. Op. cit. pp. 187-188.
cxx
ALMEIDA, Luís Ferrand. A Diplomacia Portuguesa... Op. cit. p. 112.
cxxi
PORTO, Aurélio. História das Missões Orientais do Uruguai. 2.ª ed. Porto Alegre: Selbach, 1954, I parte, pp. 387-388.
cxxii
RODRÍGUEZ, Mario. Op. cit. p. 189.
26
Dossiê Cultura e Sociedade na América Portuguesa Colonial, v.5, n. 12, out./nov.2004
Disponível em http://www.seol.com.br/mneme
cxxiii
RODRIGUES, Moacyr. Op. cit., pp. 70-71.
cxxiv
MONTEIRO, Jonathas da Costa Rego. Op. Cit,. vol. 1, pp. 42-43.
cxxv
COARACY, Vivaldo. O Rio de Janeiro no Século 17. Rio de Janeiro: José Olympio, 1944, p. 191.
cxxvi
MONTEIRO, Jonathas da Costa Rego. Op. cit., vol. 1, pp. 43-44.
cxxvii
ALMEIDA, Luís Ferrand de. A Colônia do Sacramento na Época da Sucessão de Espanha. Coimbra: Universidade de
Coimbra, 1973, p. 298.
cxxviii
MONTEIRO, Jonathas da Costa Rego. Op. cit., vol. 1, pp. 50-51.
cxxix
ALMEIDA, Luís Ferrand de. A Diplomacia Portuguesa... Op. cit. pp. 116-117.
cxxx
“Copia da Carta traduzida del G.or D. Manel Lobo para el Principe D. Pedro escripta de otra banda en la Ciudad del
Sacramento”. Colônia, 12/03/1680. In: MONTEIRO, Jonathas da Costa Rego. Op. cit. vol. 2, doc. n.º 5, pp. 23-32.
cxxxi
COARACY, Vivaldo. Op. cit. p. 192.
cxxxii
AZAROLA GIL, Luis Enrique. La Epopeya de Manuel Lobo. Madrid: Compañia Ibero-Americana de Publicaciones, 1931,
pp. 38-43.
cxxxiii
Ibidem, pp. 54-57.
cxxxiv
“Quando Cabo de Gué quase foi tomada de surpresa, em 1533, ‘uma mulher possante, grávida de seis meses, chegou
transportando às costas grandes pedras que dois homens mal podiam erguer. Ela manejava-as como se nada fosse’. Pois nem
esta hercúlea atividade evitou que, três meses depois, desse à luz uma criança normal. Em outra ocasião, quando Arzila
parecia prestes a cair perante um furioso ataque dos Mouros, o baixo moral da guarnição foi reanimado por uma das filhas do
governador, mulher casada que estava então prenhe e com a barriga à boca de uma filha que logo pariu’. Na companhia da
mãe e das irmãs, envergonhou os soldados acobardados para que voltassem aos seus postos e empunhou uma besta com a
qual atirou aos mouros”. BOXER, Charles R. A Mulher na Expansão Ultramarina Ibérica. Lisboa: Horizonte, 1977, p. 17.
cxxxv
“Carta del gobernador de Río de Janeiro, don Manuel Lobo, sobre los acontecimientos acaecidos en la Colonia del
Sacramento y especialmente sobre su cautiverio. Buenos Aires, 3 de enero de 1683”. In: AZAROLA GIL, Luis Enrique. Op. cit.
dos. n.º 28, pp. 190-192.
cxxxvi
ALMEIDA, Luís Ferrand de. A Colónia do Sacramento...Op. cit. p. 296.
cxxxvii
Em 09 de novembro de 1680, o capitão D. Pedro de Vera y Aragón foi encarregado pelo governador Garro de levar a
Mendoza (que então fazia parte do Chile) o mestre de campo Jorge Soares Macedo, o capitão de infantaria Simão Farto, D.
Francisco de Lencastre, Antônio de Magalhães, José Rodrigues e João Godinho. Cf. “Ffee de la entrega y salida de los
prisioneros. Buenos Aires, 9 de noviembre de 1680”. In: Campaña del Brasil. Op. cit. p. 265.
cxxxviii
MONTEIRO, Jonathas da Costa Rego. Op. cit., vol. 1, pp. 88-89.
cxxxix
RIVEROS TULA, Anibal M. “Historia de la Colonia del Sacramento (1680-1830)”. Apartado de la Revista del Instituto
Histórico y Geográfico del Uuruguay. Montevideo, tomo XXII, 1959, pp. 81-82.
cxl
CORVISIER, André. La France de Louis XIV. Paris: SEDES, 1979, pp. 310-311.
cxli
ALMEIDA, Luís Ferrand de. A Diplomacia Portuguesa... Op. cit. p. 166.
27