Ae Pag11 Teste
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Educação Literária
A (92 pontos)
Com os voadores tenho também uma palavra, e não é pequena a queixa. Dizei-me,
voadores, não vos fez Deus para peixes? Pois porque vos meteis a ser aves? O mar fê-lo Deus
para vós, e o ar para elas. Contentai-vos com o mar e com nadar, e não queirais voar, pois sois
peixes. Se acaso vos não conheceis, olhai para as vossas espinhas e para as vossas escamas, e
conhecereis que não sois ave, senão peixe, e ainda entre os peixes não dos melhores. Dir-me-
eis, voador, que vos deu Deus maiores barbatanas que aos outros do vosso tamanho. Pois
porque tivestes maiores barbatanas, por isso haveis de fazer das barbatanas asas?! Mas ainda
mal, porque tantas vezes vos desengana o vosso castigo. Quisestes ser melhor que os outros
peixes, e por isso sois mais mofino 1 que todos. Aos outros peixes, do alto, mata-os o anzol ou a
fisga, a vós sem fisga nem anzol, mata-vos a vossa presunção e o vosso capricho. Vai o navio
navegando e o marinheiro dormindo, e o voador toca na vela ou na corda, e cai palpitando. Aos
outros peixes mata-os a fome e engana-os a isca; ao voador mata-o a vaidade de voar, e a sua
isca é o vento. Quanto melhor lhe fora mergulhar por baixo da quilha 2 e viver, que voar por
cima das entenas3 e cair morto!
Grande ambição é que, sendo o mar tão imenso, lhe não basta a um peixe tão pequeno
todo o mar, e queira outro elemento mais largo. Mas vedes, peixes, o castigo da ambição. O
voador fê-lo Deus peixe, e ele quis ser ave, e permite o mesmo Deus que tenha os perigos de
ave e mais os de peixe. Todas as velas que para ele são redes, como peixe, e todas as cordas,
laços, como ave. Vê, voador, como correu pela posta 4 o teu castigo. Pouco há nadavas vivo no
mar com as barbatanas, e agora jazes em um convés amortalhado nas asas. Não contente com
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infeliz.
2
peça forte de um barco que vai da proa à popa.
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antenas.
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Naquele tempo, era a “posta” ou mala-posta, o meio mais rápido de locomoção.
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ser peixe, quiseste ser ave, e já não és ave nem peixe, nem voar poderás já, nem nadar. A
natureza deu-te água5, tu não quiseste senão o ar, e eu já te vejo posto ao fogo. Peixes, contente-
se cada um com o seu elemento. Se o voador não quisera passar do segundo ao terceiro, não
viera a parar no quarto. Bem seguro estava ele do fogo, quando nadava na água, mas porque
quis ser borboleta das ondas, vieram-se-lhe a queimar as asas.
À vista deste exemplo, peixes, tomai todos na memória esta sentença: Quem quer mais
do que lhe convém, perde o que quer e o que tem. Quem pode nadar e quer voar, tempo virá em
que não voe nem nade. (…)
Oh alma de António, que só vós tivestes asas e voaste sem perigo, porque soubestes
voar para baixo e não para cima!
Padre António Vieira, Sermões, II, prefácio e notas de António Sérgio e Hernâni Cidade, 3.ª ed., Lisboa:
Sá da Costa, 2008. [“Sermão de Santo António aos Peixes”, cap. V, pp. 135-136.]
Apresenta, de forma clara e bem estruturada, as tuas respostas aos itens que se seguem.
1. Explica as consequências da ousadia dos “Voadores”.
2. Explicita o significado das frases de caráter proverbial presentes no início do terceiro
parágrafo (ll. 26-28).
3. Justifica a apóstrofe final a Santo António, tendo em atenção a globalidade deste Sermão.
4. Identifica o recurso expressivo presente na frase “mas porque quis ser borboleta das ondas”
(l. 25) e explica o seu valor expressivo.
B (23 pontos)
5. Tendo em conta a tua experiência de leitura do “Sermão de Santo António (aos peixes)”,
numa breve exposição, apresenta o modo como se concretizam nesta obra os três objetivos
da eloquência.
A tua exposição deve incluir:
1. A Companhia de Jesus
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Padronização.
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3. A Ratio Studiorum
(A) é o plano de estudos que Padre António Vieira seguiu.
(B) não é um documento sobre a pregação.
(C) estimulava o estudo dos jovens do século XV.
(D) foi um documento elaborado por Padre António Vieira.
5. O orador
(A) dirige-se, na terceira pessoa, a todos os jovens presentes.
(B) recorre a recursos verbais e não verbais.
(C) dirige-se, na primeira pessoa do plural, a toda a humanidade.
(D) pretende atingir os quatro objetivos da eloquência.
Bom trabalho!