Autocriticismo
Autocriticismo
Autocriticismo
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Auto-criticismo, vergonha interna e dissociação:
Sabemos que os indivíduos com auto-dano têm uma relação disfuncional consigo
próprios, pautada por uma visão negativa, defeituosa, desvalorizada ou até detestada
do eu. Sabemos que estes indivíduos têm mais psicopatologia e que alguns deles,
em adultos, poderão preencher critérios para patologia borderline da personalidade.
O presente estudo pretende compreender a fenomenologia dos comportamentos
de auto-dano e a contribuição do auto-criticismo e da vergonha interna para a
sua patoplastia. A amostra é constituída por 81 adolescentes (40 são normais, 22
têm psicopatologia e 19 têm psicopatologia e comportamentos de auto-dano). Os
resultados indicam que os adolescentes com auto-dano apresentam índices mais
elevados de auto-criticismo, vergonha interna e dissociação. Estabelecem com o
grupo social uma vinculação insegura e de pouca proximidade e apresentam mais
sintomatologia depressiva. Nos adolescentes com psicopatologia, a existência de
uma visão do eu defeituosa e inferior contribui significativamente para a depressão.
1. Introdução
Favazza (1998 cit in Gratz, 2001) apresenta uma das mais detalhadas e explícitas
332 descrições do fenómeno de auto-mutilação, definindo-o como uma deliberada
destruição directa ou alteração do tecido corporal sem intenção suicida consciente,
mas em que resultam lesões graves no corpo. Alguns estudos apontam para uma
maior frequência de comportamentos de auto-mutilação em adolescentes do
sexo feminino comparativamente com o sexo masculino (Ross & Heath, 2003).
Contudo, estudos mais recentes registam taxas semelhantes de auto-mutilação
em adolescentes de ambos os sexos (Messer & Fremouw, 2008). Embora não
seja claro em que género a auto-mutilação é mais usual, sabe-se que ela ocorre
habitualmente entre os 14 e os 24 anos de idade (ibidem).
334
1.2. Vergonha
A vergonha é uma emoção normal com uma função adaptativa e reguladora da
coesão social. A ameaça da rejeição e exclusão social é um medo evolucionário e
inato, com riscos para a sobrevivência e que activa o sistema de defesa-ameaça. É
essencialmente uma experiência do eu relacionada com a forma como pensamos
existir na mente dos outros (Gilbert & McGuire, 1998), que pode ser focada no
mundo social, no mundo interno ou em ambos (Gilbert, 1989).
1.4. Dissociação
Actualmente, o termo dissociação é utilizado para descrever uma grande varie-
dade de experiências dissociativas (ou comportamentos dissociativos), normais
e patológicas. Alguns autores identificaram cinco comportamentos dissociati-
vos principais, a saber: amnésia, despersonalização, desrealização, confusão na
identidade e alteração da identidade (Bernstein & Putnam, 1986; Kirmayer, 1994;
Steinberg, 1994 cit in Collins, 2004). Estes comportamentos só são considerados
dissociativos se não constituirem um efeito fisiológico directo do uso de substân-
cias (como drogas, álcool ou medicação) ou de uma condição médica.
Vários modelos teóricos têm tentado explicar a natureza das experiências dis-
sociativas, embora não haja unanimidade acerca da etiologia deste processo.
Encontramos na literatura vários modelos explicativos (p.e., modelos cognitivos
e modelo neurobiológico) que apontam alguns factores psicológicos e neurobio-
lógicos envolvidos nas experiências dissociativas. Contudo, nenhum dos modelos
propostos explica de forma satisfatória no âmbito das experiências dissociativas,
embora todos eles, de uma maneira ou de outra, são apoiados por subgrupos de
investigação (Brunet, Holowka & Laurence, 2001).
Sabe-se que a dissociação apresenta uma elevada comorbilidade com várias pertur-
bações psiquiátricas. De acordo com Brunet et al. (2001), os sintomas dissociativos
ocorrem na perturbação de pânico (p.e., desrealização e despersonalização durante
os ataques de pânico), nas perturbações psicóticas (p.e., nas alucinações visuais
ou auditivas, sensação de estranheza), nas perturbações somatorformes (p.e.,
nas parastesias funcionais), nas perturbações do sono (p.e., no sonambulismo),
em determinadas perturbações perturbações da personalidade (p.e., despersona-
lização durante o episódio de auto-mutilação na perturbação da personalidade
borderline), bem como nas perturbações alimentares (p.e., desrealização durante
os episódios de empanturramento).
Dorahy, Lewis, Millar e Gree (2003) citam alguns estudos na população não-
clínica que encontraram associações entre a dissociação e padrões irracionais de
pensamento (Pauer & Power, 1995), saúde mental deficitária (Ross, Ryan, Voigt &
Eide, 1991), experiências traumáticas durante a infância (Sanders, McRoberts &
Tolefson, 1989), e afecto negativo, nomeadamente raiva e ansiedade (Norton, Ross,
& Novotny, 1990), vergonha (Irwin, 1998) e culpa (Dorahy & Schumaker, 1997).
A alexitimia também tem sido investigada, recentemente, como possível preditor
dos comportamentos dissociativos. Berenbaum e James (1994 cit in Sayar & Kose,
2003) num estudo realizado com estudantes mostraram que a alexitimia estava
associada à dissociação. Sayar & Kose (2003), também num estudo com adoles-
centes, verificaram que a alexitimia não prediz os comportamentos dissociativos.
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Sendo a ansiedade o preditor significativo, apesar de não explicar a plenitude dos
factores que determinam os comportamentos dissociativos. Nesse sentido, talvez
esta investigação possa contribuir para um esclarecimento mais consistente dos
factores constituintes dos comportamentos dissociativos.
Objectivos
O objectivo principal deste estudo é compreender a fenomenologia dos compor-
tamentos de auto-dano e a contribuição do auto-criticismo e da vergonha para a
sua patoplastia. Pretendemos perceber a forma como a experiência de vergonha
e o auto-criticismo estão relacionados com os comportamentos de auto-dano
nos adolescentes.
2. Método
2.1. Participantes
A amostra clínica4 deste estudo transversal é composta por doentes que foram
recolhidos em várias consultas de diferentes serviços de saúde mental do país5.
A amostra final é constituída por 81 sujeitos6, divididos em três grupos, dos quais
40 são controlos normais, 22 são adolescentes com psicopatologia e, por fim, 19
são adolescentes com psicopatologia que manifestam comportamentos de auto-
dano, com idades compreendidas entre os 15 e os 18 anos.
4 Relativamente aos quadros clínicos manifestados pelos dois grupos da amostra clínica, constata-se a
existência de diagnósticos variados, sobretudo de carácter ansioso e depressivo, sendo apenas a mani-
festação/não manifestação de comportamentos de auto-dano nos últimos seis meses o critério que
determina a integração dos sujeitos nos respectivos grupos.
6 Os critérios de exclusão dos participantes foram: (a) idade inferior a 15 anos e superior a 18 anos, (b)
preenchimento incompleto das escalas, e (c) evidência clara de incumprimento das instruções de resposta.
p=.771) nem no estado civil e ocupação profissional, uma vez que todos os sujeitos
são solteiros e estudantes.
Escala de Vinculação ao Grupo Social (EVGS, Smith, E., Murphy, J. & Coats, S., 1999;
tradução e adaptação de Dinis, A., Matos, M. & Pinto Gouveia, J., 2008). A versão
portuguesa desta escala é constituída por 25 itens e pretende avaliar o sentimento
de pertença que as pessoas têm em relação ao grupo social que consideram ser,
para si, mais importante. As respostas são dadas numa escala de 7 pontos (1 - “dis-
cordo totalmente”; 7 - “concordo totalmente”). Na versão original, as sub-escalas
apresentam valores bons de consistência interna com um alpha de Cronbach de
.86 para a sub-escala Vinculação Ansiosa e de .75 para a sub-escala Vinculação
Evitante. No nosso estudo, os valores de Cronbach obtidos foram de α=.74 na
sub-escala Vinculação Ansiosa e de α=.80 para a sub-escala Vinculação Evitante.
343
Escala de Proximidade e Ligação aos Outros (EPLO; Cook, 1996; tradução e adaptação
2.3. Procedimento
2.3.1.Procedimentos metodológicos
Para o processo de recolha da amostra, como esta é constituída maioritariamente
por menores (adolescentes entre os 15 e 18 anos, inclusive), procedeu-se à elabo-
ração de uma folha de consentimento informado para entregar aos encarregados
de educação. Após a autorização, foi entregue a bateria de instrumentos de auto-
resposta acima descrita. A esta juntou-se uma folha de rosto que contempla uma
sucinta explicação dos objectivos do estudo, a referência ao anonimato de cada
participante, a confidencialidade das respostas, a importância do preenchimento
de todos os itens dos instrumentos e ao uso dos dados apenas em contexto de
investigação.
2.3.2. Procedimentos estatísticos
Na análise dos dados recorreu-se ao SPSS versão 17.0. Consideramos como diferen-
ças estatisticamente significativas todos os valores com probabilidade associada
inferior a .05 (Howell, 2006). Recorremos a ANOVAS para testarmos as diferenças
entre os três grupos, nas variáveis sócio-demográficas. Para testarmos as diferenças
344
existentes entre os três grupos utilizamos o teste não paramétrico de Kruskal-
Wallis7. Nos estudos seguintes fizemos matrizes de correlação de Pearson para
explorar as relações entre as variáveis em estudo. Modelos de Regressão Linear
e Hierárquica foram usados para estudar os efeitos das variáveis preditoras em
cada uma das variáveis dependentes.
4.Resultados
3.1. Análises Descritivas
7 Como a amostra é reduzida, os pressupostos de utilização de estatística paramétrica não foram cum-
pridos. Importa salientar que este teste não paramétrico não nos permite identificar se as diferenças
encontradas são estatisticamente significativas, nem localizar onde se situam as diferenças, no caso de
estas existirem. Para isso, neste estudo, recorreu-se à utilização da ANOVA e de testes de Post Hoc de
Tukey apenas para confirmar o resultado obtido pelo Kruskal-Wallis.
mais elevados, sendo essa diferença estatisticamente significativa (Kruskal-Wallis
χ2=20.690; p=.000).
Quadro 1 - Comparação dos três grupos da amostra nas Médias e Desvios-Padrão das
variáveis em estudo
ISS Vergonha
Formas Auto-criticismo
FSCRS Eu Inadequado .80**
FSCRS Eu Detestado .71**
FSCRS Eu Tranquilizador -.54**
Funções Auto-criticismo
FSCS Auto-Ataque .65**
FSCS Auto-Correcção .70**
*p<.05; **p<.01
8 Embora a magnitude de correlação seja mais elevada com a sub-escala Eu Inadequado da FSCRS,
optámos por utilizar a sub-escala Eu Detestado da FSCRS por ser a mais patogénica e frequentemente
associada ao auto-dano.
Foram encontradas diferenças estatisticamente significativas ao nível da dis-
tribuição desta variável (t(39)=-2.236; p=.031; M=1160.23 versus M=759.64), com
os adolescentes com psicopatologia mais auto-críticos a apresentarem valores
médios mais elevados de dissociação.
Quadro 3: Correlações de Pearson entre as Escalas das Formas e das Funções do Auto- 347
Criticismoe a DES-II (N=41)
*p<.05; **p<.01
DES II Total
Vergonha Interna
ISS Vergonha .43**
Quadro 5: Correlações de Pearson entre as Escalas das Formas e das Funções do Auto-
Criticismo, a EVGS e o EPLO (N=41)
*p<.05; **p<.01
Por sua vez, as formas do auto-criticismo explicam, no seu total, 61.3% (R=0.783;
p=0.000) da variância da vinculação evitante. Os valores de β standardizados
mostram que apenas a sub-escala Eu Inadequado da FSCRS constitui o preditor
significativo da vinculação evitante (t=3.953; p=.000).
Os dados sugerem que a vergonha interna parece ser fundamental para a vin-
culação evitante.
Quadro 6: Análise de regressão múltipla hierárquica ou por blocos da sub-escala Vergonha da
ISS e da sub-escala Eu Inadequado da FSCRS sobre a sub-escala Vinculação Evitante da EVGS.
Modelo R R2 F p
1 .919 .844 210.868 .000
350 2 .919 .844 103.157 .000
Modelo Preditores β T p
1 Vergonha .887 8.295 .000
2 Eu Inadequado .039 .365 .717
Quadro 7: Correlações de Pearson entre as Escalas das Formas e das Funções do Auto-
Criticismo, a ISS e a sub-escala Depressão da EADS-42 (N=41)
EADS-42 Depressão
Formas Auto-criticismo
FSCRS Eu Inadequado .72**
FSCRS Eu Detestado .63**
FSCRS Eu Tranquilizador -.55**
Funções Auto-criticismo
FSCS Auto-Ataque .55**
FSCS Auto-Correcção .56**
Vergonha
ISS Vergonha .68**
*p<.05; **p<.01
Modelo R R2 F P
1 .677 .458 33.003 .000
2 .741 .548 7.784 .009
Modelo Preditores β T p
1 Vergonha .275 1.507 .140
2 Eu Inadequado .502 2.754 .009
*p<.05; **p<.01
Discussão
A adolescência precipita uma série de mudanças fisiológicas, relacionais e contex-
tuais. Estas incluem o desenvolvimento de modelos complexos de relacionamento
eu-outros, a formação de uma nova e independente identidade, a formação de novas
identidades sociais, preocupação com o bem-estar dentro e fora do grupo, a procura
e valorização dos pares como forma de obter autonomia (Wolfe et al., 1986; Allen
& Land, 1999; Stainberg, 2002). Apesar das mudanças serem positivas acarretam
dificuldades potenciais, sobretudo ao nível da auto-apresentação, auto-consciência,
vergonha, medo de rejeição e de ficar preso num estatuto social baixo (Gilbert &
Irons, 2005). Parece, então, que a competição social está na origem da vergonha
e auto-criticismo. O presente estudo foi desenhado para compreender o papel do
auto-criticismo e da vergonha e as suas implicações no auto-dano, em adolescentes.
Por sua vez, os adolescentes com auto-dano diferenciam-se claramente dos dois
outros grupos, manifestando níveis mais elevados de dissociação. Este dado reforça
a ideia de Gratz e colaboradores (2002, cit in Batey, May & Andrade, 2010) que
consideram que a dissociação exerce um papel importante no comportamento de
auto-dano. Mais precisamente, Klonsky (2007) sugere que um dos propósitos do
auto-dano consiste em proporcionar uma sensação física ao indivíduo de modo a
interromper os sintomas dissociativos e ajudá-lo a voltar à sua experiência actual.
Por sua vez, os adolescentes normais apresentam valores ligeiramente superio-
res de dissociação do que os adolescentes com psicopatologia sem auto-dano.
É possível entender esta ligeira proeminência da dissociação nos adolescentes
353
normais se, à semelhança de Armstrong e colaboradores, conceptualizarmos a
No que concerne à dissociação verificámos que ter a sensação de que está sepa-
rado de si próprio ou de irrealidade ou estranheza do meio envolvente está mais
associada a uma visão do eu como inferior, defeituoso e sem valor e de um dis-
curso interno hostil no qual seja evidente o sentimento de repugnância e ódio ao
eu que se traduz numa “perseguição interna”, motivada pela vontade de agredir,
magoar e destruir o próprio. Também Irwin, em 1998, encontrou associações entre
a vergonha e a dissociação.
Como seria esperado, verificámos que a depressão ocorre sobretudo nos adoles- 355
centes com psicopatologia mais auto-críticos. Além disso, a resposta depressiva
No geral, embora estas limitações possam ter contribuído para resultados pouco
robustos, permite-nos assinalar algumas tendências relevantes da fenomenolo-
gia dos comportamentos de auto-dano e elaborar alguns apontamentos sobre
futuras linhas de pesquisa.
7. Conclusões
Os adolescentes com auto-dano são mais auto-críticos, têm mais vergonha inter-
nalizada e sintomatologia depressiva do que os adolescentes sem auto-dano e
adolescentes normais. Esses adolescentes manifestam igualmente um maior
número de comportamentos dissociativos e uma vinculação ansiosa e evitante
e uma ligação e proximidade ao grupo social mais pobre.
Os adolescentes com psicopatologia (com e sem auto-dano) apresentam um estilo
de processamento mais auto-crítico, mais vergonha internalizada e mais compor-
tamentos dissociativos. A adopção de uma atitude dura, crítica e punitiva para
com o próprio perante situações de falha e desapontamento pessoal associada
a uma visão de si como inferiores, defeituosos e inadequados contribui para a
356
experiência dissociativa. Aqueles que possuem uma visão do eu como inferior,
pequeno e defeituoso têm mais probabilidade de deprimirem dada a contribui-
ção desta vivência de inferioridade para o surgir de sintomatologia depressiva.
8. Referências bibliográficas
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treatment implications. In P. Gilbert and J. Miles (Eds.) Body Shame: Conceptualisa- 357
tion Reseach and Treatment (3-54). London: Brunner-Routledge.
Nous savons que les personnes atteintes d’automutilation ont une relation dysfonc-
tionnelle avec eux-mêmes, marquées par une vision négative, viciée, défectueuse,
dévalués ou même a se détester eux mêmes. Nous savons que ces personnes ont
plus d’une psychopathologie et certains d’entre eux, chez les adultes, peuvent
répondre aux critères de trouble de la personnalité borderline.