Breves Disposições Sobre Direito A Cidade
Breves Disposições Sobre Direito A Cidade
Breves Disposições Sobre Direito A Cidade
É evidente que os Direitos Humanos estão presentes em basicamente todos os setores das
relações humanas, desde o nascimento o ser humano já é sujeito detentor desses direitos, tais
como direito a vida, liberdade, dignidade da pessoa humana, a própria expressão (presente
neste texto) e, por consequência, não poderia ser excluído o Direito a Cidade, que
primeiramente não foi destaque no foco dos Direitos Humanos, pois quando o acordo foi
firmado em 1948, a maioria da população mundial era rural, no entanto, atualmente, devido
ao grande crescimento da população urbana em todo o planeta, o Direito a Cidade tornou-se
um assunto de urgente pauta.
Muitos dos direitos a cidade encontram-se já firmados em leis, tratados e, em parte, de forma
fragmentada e, por vezes, implícita na própria Constituição, dente esses direitos podemos
citar:
4) o direito das pessoas sem teto aos albergues de cama e café da manhã sem prejuízo da
obrigação de prover uma solução de moradia definitiva.
5) o direito a permanecer na cidade e a não ser expulso ou afastado dela de modo arbitrário;
O Direito a Cidade surge como uma reação as dualidades advindas desde os primórdios do
surgimento da cidade, no processo da industrialização, tal dualidade pode ser traduzida como
“a cidade dos ricos e a cidade dos pobres”, onde há a mercantilização do território da cidade e
uma divisão, onde existem as áreas habitadas pelas elites “privilegiadas” com asfaltamento das
ruas, segurança reforçada, sistema de esgoto, bom funcionamento da coleta de lixo, limpeza
nas ruas, a estrutura em geral, e as periferias, habitadas por aqueles que não tem condições de
pagar pelo bom espaço da cidade e, portanto, são afastadas para que não “poluam
visualmente” o espaço habitado por aqueles que podem pagar. Ao meu ver seria dizer o obvio
quando falo que esses “privilégios”, em verdade, fazem parte do Direito a Cidade, e, portanto,
deveriam estar ao alcance de todos os cidadãos de seu território, e não apenas aqueles que
detém o capital. Essa realidade dos fatos, em que consiste essa dualidade, se torna ainda mais
chocante quando nos deparamos com a nossa Constituição, que claramente carrega os traços
dos direitos humanos e do Estado do Bem-Estar, o que demonstra que nosso texto maior ao
qual todos, incluindo o grande capital, deveriam estar submetidos, é claramente burlado e
desrespeitado diariamente.
O Direito a Cidade, por sua vez, se ramifica em três princípios que guiam seus objetivos,
presentes na Carta:
Para proteger e de fato efetivar esses direitos, é necessária a inclusão jurídica desses
princípios, pois o Direito a Cidade, em sua realização como direito positivado, ainda
permanece em um estado nebuloso, como uma espécie de “semi -existência” no
ordenamento. Também é necessária a delegação de competências embasadas nesses direitos
ao poder público ( especialmente os municípios), assim como a promoção de políticas
públicas, no intuito de construir uma ética urbana e leis que organizem esse espaço, mas
acima de tudo, é necessário que as pessoas se apropriem do direito a cidade, de suas
garantias, para que esse estado de anomia que hoje passa nossa sociedade possa ser superado
e a cidade deixe de ser um ambiente de opressão, guerra e exclusão, como uma selva de pedra
em que os mais fortes vencem os mais fracos, e passe a ser o que de fato deve ser, um espaço
de solidariedade, cidadania, inclusão, democracia, liberdade, igualdade, fraternidade e
equilíbrio.
No processo de legitimar o Direito a Cidade, o Direito Internacional tem contribuído muito, por
intermédio dos direitos humanos, no entanto, nos Pactos sobre os Direitos Econômicos, Sociais
e Culturais, assim como sobre os Direitos Civis e Políticos, determina no artigo 1 que “todos os
povos têm direito à autodeterminação. [...] determinam livremente o seu estatuto político e
asseguram livremente seu desenvolvimento econômico, social e cultural (inc. 1)”, o que soa
vago à primeira vista, no entanto, em 1986, a Assembleia Geral da ONU aprovou a Declaração
de Direito ao Desenvolvimento definido como “um direito humano inalienável, em virtude do
qual toda pessoa e todos os povos estão habilitados a participar do desenvolvimento
econômico, social, cultural e político, para ele contribuir e dele desfrutar, no qual todos os
direitos humanos e liberdades fundamentais possam ser plenamente realizados” (art. 1º), isso
demonstra que a interferência do direito internacional, por intermédio dos direitos humanos,
no Direito a Cidade, é uma questão polemica, existe um choque de princípios, pois o Direito
Internacional serve de base para o progresso dos povos, limites a governos arbitrários e
estrutura da comunidade internacional e suas leis, no entanto, se o próprio direito
internacional intervisse de forma abrupta na forma dos povos progredirem, por sua vez, se
tonaria arbitrário. Outro ponto que e possível apontar sobre a intervenção do direito
internacional é o “O Direito ao Desenvolvimento pressupõe o cumprimento dos critérios de
eqüidade, não-discriminação, participação, responsabilidade e transparência. Os resultados ou
outros benefícios provenientes do desenvolvimento devem ser eqüitativamente distribuídos.”
Outra forma de intervenção do direitos internacional é por meio de tratados entre os países,
como por exemplo A Carta da OEA (Organização dos Estados Americanos) estabelece,
também, em seu artigo 34 que: “Os Estados membros convêm em que a igualdade de
oportunidades, a eliminação da pobreza crítica e a distribuição eqüitativa da riqueza e da
renda, bem como a plena participação de seus povos nas decisões relativas a seu próprio
desenvolvimento, são, entre outros, objetivos básicos do desenvolvimento integral. Para
alcançá-los convêm, da mesma forma, em dedicar seus maiores esforços à consecução das
seguintes metas básicas:(…) e no artigo 45 (f) “A incorporação e crescente participação dos
setores marginais da população, tanto das zonas rurais como dos centros urbanos, na vida
econômica, social, cívica, cultural e política da nação, a fim de conseguir a plena integração da
comunidade nacional, o aceleramento do processo de mobilidade social e a consolidação do
regime democrático. O estímulo a todo esforço de promoção e cooperação populares que
tenha por fim o desenvolvimento e o progresso da comunidade”.
Assim, o direito a cidade se torna uma forma de proteção dos cidadãos do mundo e, de forma
implícita, uma forma de proteção dos próprios direitos humanos, contra o crescimento e o
desenvolvimento das grandes cidades em face do mundo contemporâneo, cheio de mudanças
e com uma dinâmica de acontecimentos cada vez mais acelerada e que, por vezes, esmaga e
atropela o direito das pessoas, em face do “progresso”, o que deixa a pergunta no ar,
progresso para quem?