Artigo 07
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Resumo
Com aderência à Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF), de 4 de maio de 2000, o Conselho
Monetário Nacional (CMN), por meio do Banco Central do Brasil (Bacen), promulgou a Resolução
2.827, em 30 de março de 2001, que consolida e redefine as regras para o contingenciamento
do crédito ao setor público. A restrição creditícia imposta às instituições financeiras quanto
ao financiamento ao setor público, inclusive empresas públicas e de economia mista, torna-se
um instrumento que corrobora para a gestão dos entes públicos, principalmente no que diz
respeito ao atendimento à LRF e à limitação do nível de dívida líquida/PIB. Segundo a literatura
financeira, a presença de capital de terceiros é desejada na estrutura de capital de uma empresa
de grande porte, visto que esse tipo de recurso tende a ter um custo menor quando comparado
ao custo do capital próprio. O presente estudo objetiva identificar as fontes de financiamento
adotadas por empresas estaduais de economia mista que estejam listadas na BM&FBovespa,
atuantes nos setores relacionados à infraestrutura, mais especificamente Água e Saneamento.
Após análise observou-se que, em geral, a principal fonte de financiamento das empresas
estaduais de economia mista de Água e Saneamento é o mercado de capitais, por meio da
emissão de debêntures.
Abstract
The adhesion to the Law of Fiscal Responsibility (Lei de Responsabilidade Fiscal – LRF), of
May 4th, 2000, the National Monetary Council (Conselho Monetário Nacional – CMN), through
the Central Bank of Brazil (Bacen), enacted the Resolution 2827, on March 30th, 2001, which
consolidates and redefines the regulations for the allocation of credit to the public sector. The
credit restriction imposed to the financial institutions regarding the public sector financing,
including the public and mixed economy companies, has become a tool which supports the
management of public entities, mainly in situations where LRF and the limitation of the level
of the net debt/GDP are concerned. According to the financial publications, third party capital
is sought in the capital structure of large companies, considering that this type of resource
represents a lower cost when compared to the companies’ own capital. The present study
aims to identify the sources of financing adopted by state companies of mixed economy
listed at BM&FBovespa index, which deal in infrastructure sectors, more specifically of Water
and Sanitation. The study concluded that, in general, the capital market is the main source of
financing of the state companies of mixed economy of Water and Sanitation, by means of the
issuance of debentures.
Keywords: Law of Fiscal responsibility (LFR). Resolution 2827. State companies of mixed
economy. Debentures. Financing.
1
Aluno do 3º ano de Ciências Econômicas da FAE Centro Universitário. Voluntário do Programa de Apoio à Iniciação
Científica (PAIC 2014-2015). E-mail: diegoyholtz@gmail.com
2
Mestre em Organizações e Desenvolvimento pela FAE Centro Universitário. E-mail: richer.matos@fae.edu
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Introdução
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Desse modo, o objetivo geral desta pesquisa 1 Referencial Teórico
é identificar as fontes de financiamento adotadas
por empresas estaduais de economia mista que
estejam listadas na BM&FBovespa, atuantes O fluxo de caixa de uma empresa pode ser
nos setores relacionados à infraestrutura, mais financiado pelos acionistas, capital próprio, ou
especificamente Água e Saneamento. pelos credores, capital de terceiro ou híbrido.
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custo e maximizado o seu valor, tornando atrativo O custo de capital
investir na empresa.
de terceiros, também
1.1 Custo Médio Ponderado de denominado custo da
Capital (WACC) dívida, corresponde ao
custo corrente que a
O WACC representa uma taxa de atra-
tividade da empresa e também permite identificar empresa paga para
a estrutura de capital ótima de uma companhia.
Portanto, indica a remuneração mínima que deve
emprestar fundos a fim
ser exigida na alocação de capital, de forma a de financiar projetos.
maximizar seu valor de mercado, conforme expõe
Assaf Neto (2009). Sua fórmula está representada
na Equação 1 a seguir.
Em que:
P .r D .r .
r WACC = P + D ( 1 – t ) (1)
P+D P+D atribuídos ao empreendedor serem maiores que
os ao credor.
r WACC = Custo médio ponderado de capital
rP = Custo do capital próprio
1.3 Custo de Capital de Terceiros
rD = Custo da dívida (Capital de terceiros)
P = Capital próprio
O custo de capital de terceiros, também
D = Capital de terceiros
denominado custo da dívida, corresponde ao
t = Alíquota tributária marginal efetiva custo corrente que a empresa paga para emprestar
Esse custo indica a taxa mínima de retorno fundos a fim de financiar projetos. Conforme Assaf
que uma empresa deseja em suas decisões de Neto (2009, p. 393): “É definido de acordo com os
investimento. A empresa não remunerará suas passivos onerosos identificados nos empréstimos
fontes de financiamento propriamente se ela não e financiamentos obtidos pela empresa”.
promover um retorno operacional igual ao seu De acordo com Damodaran (2004), são três
custo total de capital. Quanto menor o valor do as variáveis que determinam o custo da dívida. A
WACC, menor será o valor da empresa no mercado. primeira trata da oscilação na taxa de juros que, no
caso de aumento, faz o custo da dívida ficar maior.
A segunda variável é o risco de inadimplência, o
1.2 Custo de Capital Próprio
qual pode encarecer ainda mais os empréstimos.
Essas duas variáveis exigem extrema atenção dos
O custo de capital próprio representa o administradores, uma vez que podem impactar
custo do recurso oriundo da própria empresa. diretamente no sucesso do negócio. A terceira
Conforme posto na fórmula do WACC, tende a ter, variável trata do principal ganho neste tipo de
num primeiro momento, um custo mais elevado endividamento: a vantagem tributária. Os juros
que o capital de terceiros, haja vista: a) não haver pagos em empréstimos podem ser deduzidos
dedutibilidade fiscal em sua adoção; e b) os riscos do imposto de renda (IR), o que torna o custo
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da dívida após o IR menor que o custo antes da advir de recursos internos e externos.
aplicação dele. Em se tratando de recursos internos,
os principais executores são o BNDES,
Dado a importância do capital de terceiros
por meio do BNDESPAR e Finame;
na composição da estrutura de capital das
Bancos Regionais de Desenvolvimento;
empresas, a seção seguinte versa sobre as fontes
Caixa Econômica e Banco do Brasil.
de financiamento.
c) Arrendamento mercantil (leasing): essa
operação pode ser compreendida como
1.4 Fontes de Financiamento uma forma especial de financiamento.
Basicamente, essa modalidade é pra
ticada mediante a celebração de um
O setor de infraestrutura no Brasil apresenta
contrato de arrendamento (aluguel)
carência de elevados níveis de investimento, seja
efetuado entre um cliente (arrendatário)
pela deficiência histórica em sua capacidade de
e uma sociedade de arrendamento
atendimento satisfatório na prestação de serviços
mercantil (arrendadora), visando à utili
à população, cujos gargalos são recorrentemente
zação, por parte do primeiro, de certo
trazidos à tona, seja pela necessidade de
bem durante um prazo determinado,
acompanhar o crescimento populacional e econô
cujo pagamento é efetuado em forma
mico do país nas décadas recentes.
de aluguel (arrendamento). É importante
Neste quadro, o crédito voltado ao finan destacar que existem diferentes formas
ciamento da atividade produtiva assume elevada de leasing.
importância. Além disso, a moderna teoria
d) Oferta pública de ações, notas
financeira concerne significativa importância à
promissórias (NPs) e debêntures:
utilização de capital de terceiros por parte de
caracteriza-se por uma operação
grandes empresas, haja vista que na composição
típica das sociedades anônimas (SAs).
do custo médio ponderado de capital, a parcela
A emissão e colocação de novas ações
referente ao capital de terceiros (dívida) diminui o
no mercado, que se apresenta como
lucro tributável, gerando assim um benefício fiscal
uma das formas mais vantajosas, deve
que faz desta uma fonte geralmente mais barata
obedecer a uma sistemática legal (Lei
do que o uso exclusivo de capital próprio (ASSAF
nº 6.404 – Lei das SAs e instruções
NETO, 2009; DAMODARAN, 2004).
da Comissão de Valores Mobiliários
Quanto ao crédito, Assaf Neto (2012) elenca – CVM). Já as notas promissórias e
como principais fontes de financiamentos: debêntures são classificadas como
títulos privados de crédito, emitidos
a) Financiamento de capital de giro: é
exclusivamente por sociedades
realizado por bancos comerciais/múl-
por ações e colocadas no mercado
tiplos e bancos de desenvolvimento,
principalmente entre os investidores
com o objetivo de suprir as necessida-
institucionais. A emissão das
des de recursos do ativo circulante das
debêntures por parte das sociedades
empresas.
por ações pode ser privada ou por
b) Operações de repasses: constituem- oferta pública, e a principal diferença
-se em empréstimos contratados por entre as duas é o prazo, dado que as
instituições financeiras do mercado NPs são de curto prazo (máximo um
de capitais e repassados a empresas ano) e as debêntures de longo prazo
carentes de recursos para investimentos (acima de um ano).
de longo prazo. Os repasses podem
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e) Securitização de recebíveis: envolve entidades do setor público à 45% (quarenta e cinco por
a transformação de algum ativo a cento) do Patrimônio de Referência (PR), nos termos da
receber no futuro em uma security regulamentação em vigor (BRASIL, 2001, p. 1).
(título ou valor mobiliário), e respectiva
negociação no mercado financeiro. A A Resolução impõe limite de operações de
securitização de recebíveis é uma forma crédito aos órgãos e entidades do setor público,
de captação de recursos envolvendo
da administração direta da União dos estados, do
a emissão de título de crédito pelo
tomador, os quais são garantidos Distrito Federal e dos munícipios; às autarquias
mediante caução de recebíveis. Por meio e fundações instituídas ou mantidas direta ou
dessa operação financeira, é possível indiretamente pela União, pelos estados, pelo
uma empresa levantar fundos no
mercado sem comprometer seus níveis Distrito Federal e pelos municípios; às empresas
atuais de endividamento de balanço. públicas e sociedades de economia mista não
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2 Metodologia cujas ações são negociadas na bolsa BF-Bovespa
em São Paulo.
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O investimento de R$ 954 milhões, em 2014, conceder crédito às empresas com gestão direta ou
reflete a ênfase dada ao planejamento e ampliação indireta do Estado. Tem-se ainda que o financiamento,
que a Sanepar atua. A TAB. 2, a seguir, estratifica via Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico
o montante. e Social (BNDES) para obras do Programa de
TABELA 2 – Investimentos realizados pela Sanepar em 2014 Aceleração do Crescimento (PAC) e dos recursos
oriundos do FGTS, repassado para Caixa Econômica
Área Valores (em R$ milhões)
Federal – ambos excluídos pelos limites impostos
Água 408,6 pela Resolução 2.827/2001 do Bacen.
Esgoto 468,0
Outros 77,4
3.2 Companhia de Saneamento Básico do
Total 954,0 Estado de São Paulo (Sabesp)
FONTE: Os autores (2015)
Região Metropolitana
Nota-se que a Sanepar tem financiado de São Paulo (RMSP)
833,8 1.174,2 2.008,0
seu passivo oneroso com cerca de 38% da dívida
Sistemas regionais 472,9 729,7 1.202,6
contraída por meio da emissão de debêntures. Isso
pode ser atribuído à Resolução 2.827/2001 do Bacen, Total 1.306,7 1.903,9 3.210,6
que impõe limites para instituições financeiras em FONTE: Os autores (2015)
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Nota-se que os investimentos realizados para atender a Região Metropolitana de São Paulo (RMSP) são
os mais representativos do montante total aplicado.
Debêntures
38,0 38,0 38,0 38,0 38,0 35,2 225,20
BNDES
Debêntures FI
37,0 37,0 37,0 37,0 37,0 37,0 54,0 276,0
FGTS
Arrend. Mercantil 9,0 21,9 22,7 23,6 24,5 26,3 354,6 482,6
Total País 968,4 513,4 1.045,0 743,6 824,0 524,2 1.821,0 6.439,6
BID 1983AB 63,6 63,6 63,6 63,3 47,0 46,2 60,4 407,7
Total Exterior 238,7 585,2 255,3 189,0 193,8 1.121,9 1.762,3 4.346,2
Total Geral 1.207,1 1.098,6 1.300,3 932,6 1.017,8 1.646,1 3.583,3 10.785,8
Nota-se que a empresa possui recursos oriundos de captações em instituições nacionais e também
estrangeiras. Sendo que, do saldo devedor, cerca de 60% tem como fonte instituições nacionais e 40%
instituições estrangeiras.
O financiamento obtido em 2014 junto à CEF e ao BNDES foi para execução de obra do PAC, ou seja,
em regime de excepcionalização.
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Conclusão
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Referências
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