Revista Fórum #85 - 17nov23
Revista Fórum #85 - 17nov23
Revista Fórum #85 - 17nov23
REVISTA
mobile
17.11.2023
COMO A
MÍDIA INVENTOU
UM ESCÂNDALO
CONTRA
FLÁVIO DINO
85
CLUBE DE REVISTAS
CLUBE DE REVISTAS
/ Capa
COMO A MÍDIA INVENTOU UM
ESCÂNDALO CONTRA FLÁVIO DINO
4 | por Henrique Rodrigues
12 | Jornalista do Estadão admite que
“dama do tráfico” não é apelido de esposa
edição #85
/ Política
17 | É muito bom ser governado por um ser
conteúdo |
/ Mídia
22 | A desumanidade e o horror nas frases
de jornalistas brasileiros sobre o massacre
na Palestina, por Plínio Teodoro
/ Global
32 | Um raio não cai duas vezes no mesmo
lugar, mas pode atingir a casa do vizinho...,
por Carla Sangrilli e Josué de Souza
39 | O golpe cínico que derrubou o premiê
de Portugal, por Henrique Rodrigues
/ Música
53 | Roger Waters: Vou agradecer e
lembrar por toda a vida de ter visto aquilo,
por Julinho Bittencourt
/ Cinema
58 | Ó Paí, Ó 2 atualiza dores e manhas da
luta preta pela vida, por Paulo Donizetti
68 / Expediente
Foto capa: Tom Costa/MJSP
CLUBE DE REVISTAS
Capa
Como a mídia
inventou um
escândalo contra
Flávio Dino
por Henrique Rodrigues
CLUBE DE REVISTAS
N
o início de outubro o ministro da Justiça e
Segurança Pública, Flávio Dino, anunciou
um investimento de R$ 900 milhões, a
serem usados até 2026, em ações diretas de
combate às organizações criminosas que atuam
no Brasil. Um mês depois, na primeira semana
de novembro, o chefe da pasta revelou durante
um encontro com o governador do Rio de
Janeiro, Cláudio Castro (PL), que estava criado
o Comitê Integrado de Investigação Financeira e
Recuperação de Ativos (Cifra), uma força-tarefa
interconectada à Polícia Civil fluminense para
rastrear o caminho percorrido pelo dinheiro das
organizações criminosas, sobretudo daquelas
que ele classificou como “narcomilícias”.
“É um escárnio, um absurdo, inaceitável que
os industriais da morte estejam com mansões
em Angra dos Reis, avião, helicóptero. Isso
é um tapa na cara dos cidadãos honestos
do país... A nossa proposta é levantar os
CLUBE DE REVISTAS
Foto Divulgação/SNDH/MDHC
A tal mulher, que de fato teria ido
ao Ministério dos Direitos Humanos, e
posteriormente ao da Justiça e Segurança
Pública, tem condenações na Justiça por
associação ao tráfico. No entanto, ela participou
de um evento chamado Encontro de Comitês
e Mecanismos de Prevenção e Combate à
Tortura, organizado pelo Comitê de Prevenção
e Combate à Tortura, do Ministério dos
Direitos Humanos, que durou dois dias. O tal
encontro tratou de assuntos relacionados às
condições em que presos são mantidos nos
estabelecimentos penitenciários brasileiros.
O Ministério dos Direitos Humanos pediu aos
Comitês de Prevenção e Combate à Tortura dos
CLUBE DE REVISTAS
26 estados e do Distrito Federal que indicassem
pessoas para participar do fórum de discussão,
e ela então foi incluída na lista pelo grupo
amazonense. Em Brasília, a suposta “dama
do tráfico” tratou apenas com funcionários
de escalões mais baixos sobre temas contra
a tortura, assim como as outras dezenas de
convidados, e já admitiu que “viu Flávio Dino
uma vez, quando passou pelo ministério, mas
que nunca falou com ele”.
Diante de crime tão grave, como cruzar
com uma pessoa que recebeu condenação na
Justiça por um corredor e sequer cumprimentá-
la, por não saber quem é, os diários O Globo
e O Estado de S. Paulo, assim como outros
jornais e portais da imprensa tradicional,
aumentaram o bombardeio para tentar minar e
derrubar o mais atuante e incisivo ministro da
atual administração do presidente Luiz Inácio
Lula da Silva.
O próprio presidente, aliás, publicou um tuíte
em sua conta oficial sinalizando algo nesse
sentido, manifestando o quanto Dino vem sendo
alvo de todo tipo de sandice conspiracionista
por razões bem diversas das de combater a
imoralidade ou denunciar crimes de um alto
funcionário do governo.
“Minha solidariedade ao ministro Flávio Dino,
que vem sendo alvo de absurdos ataques
CLUBE DE REVISTAS
“Minha solidariedade
ao ministro Flávio
Dino, que vem sendo
alvo de absurdos
ataques artificialmente
plantados”
Lula
Jornalista do Estadão
admite que “dama do
tráfico” não é apelido de
esposa de traficante
Pelo Instagram, Luciane Barbosa Farias
também denunciou outra manipulação sobre
sua condenação
por Plínio Teodoro
U
m dos autores do factoide criado pelo
Estadão para atacar o ministro da
Justiça, Flávio Dino, o jornalista André
Shalders admitiu nas redes sociais que a
alcunha “dama do tráfico” para definir Luciane
CLUBE DE REVISTAS
Barbosa Farias, presidenta da Associação
Instituto Liberdade do Amazonas, foi inventada
por ele a partir da declaração de uma fonte.
“Estou respondendo a todo mundo porque
tenho como provar tudo o que escrevi. Quanto
ao ‘dama do tráfico’, foi uma expressão usada
por uma fonte. Achei peculiar e coloquei no
texto”, comentou Shalders em resposta a Cynara
Menezes, da Fórum, na rede X, antigo Twitter.
JORNALISMO
AUTÊNTICO E
VERDADEIRO
Acesse todos os dias
www.revistaforum.com.br
i
o seu
portal de notícias
apoie.revistaforum.com.br
CLUBE DE REVISTAS
E
m qualquer manual de demagogia para
políticos, beijar crianças e gente pobre é
uma recomendação primária. Top 5, como
dizem agora. Ou talvez o topo da lista.
CLUBE DE REVISTAS
A desumanidade e o horror
nas frases de jornalistas
brasileiros sobre o
massacre na Palestina
Caio Blinder celebra invasão de hospital
em Gaza, Camila Bomfim ataca Lula por expor
terrorismo de Israel e os jornalistas que atuam
como porta-vozes do genocídio israelense
em território palestino
por Plínio Teodoro
A
s imagens que mostram a invasão das
forças israelenses ao hospital Al-Shifa,
o maior de Gaza, revelam claramente o
crescente terror instalado pelo governo sionista
de Benjamin Netanyahu no território palestino.
CLUBE DE REVISTAS
Em pouco mais de um mês de ataques
incessantes, o número de mortos em Gaza
chegou na quarta-feira (15) a 11.360, segundo o
Ministério da Saúde. Dos corpos abatidos pelos
sionistas, 4.609 são de crianças, 678 de idosos
e 3,1 mil de mulheres. Outros 3.250 moradores,
sendo 2,7 mil crianças, estão desaparecidos.
Muito provavelmente embaixo dos escombros.
Na Cisjordânia, governada pelo Fatah —
adversário do Hamas —, Israel já matou 180
palestinos.
Não bastassem as cenas de terror, como
bem traduzido pelo presidente Lula, e o número
crescente de vítimas, jornalistas brasileiros que
atuam na mídia liberal — claramente atrelada
aos sionistas — protagonizam um verdadeiro
show de horror ao traduzirem o genocídio
palestino em frases que beiram a barbárie e a
desumanidade.
Ecos do preconceito
As frases de jornalistas do grupo Globo sobre
CLUBE DE REVISTAS
a ação genocida na Palestina ainda refletem
o tratamento desumano e preconceituoso às
camadas mais marginalizadas e pobres do
próprio Brasil.
No Jornal da Globo — que já teve no
comando William Waack, demitido por frase
racista —, Renata Lo Prete colocou em xeque
a contagem dos mortos no território palestino e
fez uma relação absurda para justificar o grande
número de crianças assassinadas pelo Exército
de Israel.
Desumanidade pontual
No entanto, um dos principais porta-vozes da
desumanidade do genocídio é Jorge Pontual,
correspondente da emissora em Nova York.
Durante o programa Em Pauta, da
GloboNews, na noite de 13 de outubro, Jorge
Pontual apoiou os ataques israelenses a
ambulâncias e hospitais em Gaza.
“Atacar terroristas
do Hamas é um direito
que Israel tem. Se
eles estavam em uma
ambulância, infelizmente
era isso que Israel tinha que
fazer: alvejar esses seus
inimigos”, disse cruelmente
Jorge Pontual.
CLUBE DE REVISTAS
Diante do repúdio generalizado, Pontual
soltou uma nota em seu perfil no Instagram
— com o alcance infinitamente menor que o
da Globo.
“Ao comentar o ataque a uma ambulância
na Faixa de Gaza, minha intenção foi a de
dar a versão de Israel. Admito que não fui
feliz, pois a muitos pareceu um endosso. Isso
seria impossível, ninguém tem informações
seguras sobre o que lá se passa”, argumentou,
repetindo a ladainha israelense sobre as notícias
vindas do território palestino.
Dias antes do comentário sobre o ataque às
ambulâncias, Pontual propagou a maior mentira
proliferada sobre a guerra até agora, de que o
Hamas teria decapitado 40 bebês.
“Horror de todos, não só americanos e
israelenses, diante dessa monstruosidade que o
Hamas fez em Israel: é pior que terrorismo você
decapitar bebês”, disse o jornalista da Globo
sobre a informação não confirmada até mesmo
pelas Forças de Defesa de Israel.w
CLUBE DE REVISTAS
Clique aqui
e se inscreva
CLUBE DE REVISTAS
N
o Brasil, existe um ditado que afirma:
“um raio não cai duas vezes no mesmo
lugar”. Com todo respeito à sabedoria
popular, embora não caia duas vezes no
mesmo lugar, parece que um raio pode ao
menos atingir a casa do vizinho. Isso porque,
no dia 19 de novembro, a Argentina realizará
CLUBE DE REVISTAS
o segundo turno das eleições presidenciais.
Lá, assim como aconteceu no Brasil, os dois
candidatos são muito diferentes. De um lado,
Sergio Massa, advogado e atual ministro da
Economia, líder da Frente Renovadora, que
reúne políticos do peronismo, do kirchnerismo
e de outros espaços, como os radicais (partido
argentino centenário, aliado do ex-presidente
Macri numa aliança prestes a desmoronar). O
cargo que assumiu está em plena crise política
e financeira.
Quem não acompanha o cenário político
argentino talvez tenha dificuldade em entender
por que um ministro da Economia de um país
em crise chegou ao segundo turno como
opção viável para a Presidência. Duas questões
explicam isso: a primeira é que o poder de
compra permanece elevado no país, uma vez
que os salários formais superam a inflação, em
razão dos aumentos regulares. Apesar disso,
assim como no Brasil, há muitos argentinos
trabalhando na informalidade, portanto a inflação
consome rapidamente seus salários. Esses são
os eleitores mais irritados com o governo.
A segunda questão é de outra natureza:
como disse Jorge Luis Borges, “não é o amor
que nos une, mas o medo”. O medo de que o
raio que atingiu a casa dos vizinhos brasileiros
possa agora incendiar as casas dos argentinos.
CLUBE DE REVISTAS
Fotos Reprodução
Ambos representantes da extrema direita, existem várias semelhanças
entre Javier Milei e o ex-presidente Jair Bolsonaro
Sergio Massa,
adversário de Milei nas
eleições argentinas
Foto Reprodução
Fãs argentinos da cantora Taylor Swift se manifestam
contra o voto em Javier Milei
O
s estudos antropológicos e históricos
mais robustos mostram que, como
povo, nós, os brasileiros, “aprendemos”
muitas coisas com os portugueses, aqueles
que nos colonizaram por mais de três séculos e
CLUBE DE REVISTAS
que deixaram indiscutíveis e indissolúveis traços
como civilização, sejam eles bons ou ruins. Pois
agora, já caminhando para o meio do século
21, parece que nós, os brasileiros, é que temos
transmitido alguns “valores” aos habitantes da
estreita franja ocidental da Península Ibérica.
Era manhã em território luso, dia 7 deste
mês, quando a programação de todas as
emissoras foi interrompida para mostrar uma
ação policial que tinha como alvo
inúmeros integrantes do governo
do primeiro-ministro socialista
António Costa, entre eles
seu chefe de gabinete,
Vítor Escária, e o ministro
das Infraestruturas, João
Galamba. Numa gaveta do
gabinete de Escária, dentro do Palacete
de São Bento, chefia do governo português, os
agentes da Polícia de Segurança Pública (PSP)
encontraram 75 mil euros.
A ação era fruto de um procedimento aberto
pelo Ministério Público (MP) de Portugal,
que àquela altura investigava suspeitas de
ilegalidades e crimes, incluindo aí o recebimento
de propina, em processos envolvendo a
concessão de áreas para exploração de
hidrogênio verde e lítio à iniciativa privada em
duas regiões do país. No total, o MP determinou
CLUBE DE REVISTAS
Parlamento
português Foto República Instagram
Fotos Reprodução
Fernando Lugo, do Paraguai, Dilma Rousseff, do Brasil,
e Cristina Kirchner, da Argentina
CLIQUE
AQUI
CLUBE DE REVISTAS
Música
Roger Waters
Vou agradecer e
lembrar por toda a vida
de ter visto aquilo
por Julinho Bittencourt
Foto Reprodução X
CLUBE DE REVISTAS
F
oi indescritível. Todas as dúvidas que
poderia ter em assistir a um roqueiro de
80 anos que há basicamente três décadas
não emplaca um novo sucesso foram dizimadas
nos três primeiros segundos.
Com cerca de 20 minutos de atraso e logo
após o já tradicional aviso para que os que não
concordam com as opiniões políticas de Roger
Waters que “vazem pro bar”, o estádio virou do
avesso. Sentado de lado em uma cadeira, ele
disparou Comfortably Numb, um dos grandes
sucessos do álbum “The Wall”, do Pink Floyd. E,
assim, deu início ao show de sua turnê This Is
Not a Drill.
Tudo bem, tudo bem. A canção ajuda.
Mas tudo o mais foi devastador. Um telão
enorme que atravessava o palco de lado a lado
projetava imagens de pessoas caminhando por
uma longa rua. A pressão da banda que nada
deixava a dever a qualquer outra formação
anterior (nada mesmo) e a voz intacta do autor
CLUBE DE REVISTAS
Foto Reprodução X
Roger Waters deu de presente para o público inúmeros sucessos do Pink
Floyd alternados com algumas de suas canções mais recentes
O ativismo
Roger e sua banda estão ali, o tempo
CLUBE DE REVISTAS
todo, alternados com imagens de agressões,
catástrofes, fome, líderes assassinados (o nome
de Marielle Franco foi ovacionado quando
surgiu) com o motivo abaixo: “ser negro”, “ser
palestino”, entre outros.
Foto Reprodução X
Foto Divulgação
Cinema
Ó Paí, Ó 2 atualiza
dores e manhas da
luta preta pela vida
por Paulo Donizetti,
especial para Fórum
CLUBE DE REVISTAS
D
ezesseis anos após a primeira versão, o
filme Ó Paí, Ó volta às telas atualizado
e preservando o ritmo, o balanço e
a graça da produção de 2007. No mês da
Consciência Negra, a batalha cotidiana do
povo preto por, mais que sobrevivência,
respeito e direito ao sonho segue presente na
continuação Ó Paí, Ó 2.
O filme capta um retrato do país nas mazelas
políticas e nos contrastes sociais, raciais,
culturais e religiosos das ruas do Pelourinho,
centro histórico de Salvador. Assim define o
ator Lázaro Ramos, que volta a viver Roque, um
aspirante a cantor de sucesso.
“Na Bahia, quem não sabe andar pisa no
massapê e escorrega”, diz a diretora Viviane
Ferreira, citando versos de roda de capoeira. “É
uma mensagem de vida e de força”, emenda
Monique Gardenberg, que participou da direção
em 2007, e se declara satisfeita por migrar para
CLUBE DE REVISTAS
Foto Divulgação
Viviane Ferreira, diretora de Ó Paí, Ó 2
Você é negro!
Quem viu a primeira versão se lembrará de
momentos de muito ritmo, muito riso, mas
também de muita dor. Nela, a discussão entre
CLUBE DE REVISTAS
Foto Divulgação
Lázaro Ramos e Wagner Moura em cena de Ó Paí, Ó (2007)
Outro planeta
Roque abre Ó Paí, Ó 2 brincando com as
transformações do país em uma década e meia.
“Quando você olha, assim, parece que tá tudo
igual. Mas de perto, assim, com uma lupa, você
CLUBE DE REVISTAS
percebe como todo mundo fez as malas e se
mudou para outro planeta”.
Segundo ele, um dos fatores encorajadores
da nova produção foi a repercussão perene
da história nas redes. “O público não deixou
esse filme morrer. Essa obra teve o poder
de continuar na vida das pessoas”, afirma
Lázaro Ramos. “E voltar com Ó Paí, Ó é uma
oportunidade de rever o que aconteceu com
nosso país nesses mais de 15 anos”.
Foto Divulgação
Novas ferramentas
Se a moral da fábula é valorizar a força da
coletividade diante de uma vida de cão, nas
mais precárias condições, a narrativa traz ao
outro planeta instalado no Pelourinho as novas
ferramentas que se integrarão à luta. Uma
juventude que usa o slam para se apropriar
e difundir a força das palavras. Que conhece
Malcolm X, mas prefere citar Beyoncé. Que
incorpora ao seu arsenal a capilaridade das
redes para se comunicar, a inteligência hacker
para investigar, a linguagem do metaverso
CLUBE DE REVISTAS
Fotos Divulgação
Cenas de Ó Paí, Ó 2
Diretor de Redação
_ Renato Rovai
Editora executiva
_ Dri Delorenzo
Designer Revisão
_ Marcos Guinoza _ Laura Pequeno
Acesse: revistaforum.com.br
youtube.com/forumrevista
@revistaforum
facebook.com/forumrevista
@revistaforum