Cab Diabetes 110-125 Só Nutrição
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6.1 Introdução
A versão de bolso do Guia Alimentar para a População Brasileira também está disponível
em: <http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/guia_alimentar_alimentacao_saudavel.pdf>.
O Quadro 18 apresenta os “Dez Passos para uma Alimentação Saudável”, com orientações
específicas voltadas à prevenção e ao cuidado no diabetes e os conteúdos que justificam cada
mensagem.
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Quadro 18 – Dez passos para uma alimentação saudável para pessoas com DM
Fonte: Universidade Federal de Minas Gerais. Centro Colaborador de Alimentação e Nutrição Sudeste II.
Nota: No Cadernos de Atenção Básica, nº 38 – Estratégias para o Cuidado da Pessoa com Doença Crônica – Obesidade
você encontrará anexas tabelas por grupos alimentares com a lista de equivalência das porções de alimentos em gramas,
medidas usuais e correspondentes de consumo com o seu respectivo conteúdo calórico.
Os “Dez Passos” resumem as diretrizes do Guia Alimentar para a População Brasileira (BRASIL,
2006a) e contemplam as recomendações das sociedades médicas baseadas em evidências
científicas. A sua utilização vai depender da atividade que será desenvolvida e do quanto o
profissional está apropriado para utilizar esse instrumento. Por exemplo, em grupos de educação
em Saúde, as orientações podem ser mais bem aproveitadas se expostas de maneira geral e
Estratégias para o Cuidado da Pessoa com Doença Crônica Diabete Mellitus
A perda de peso por meio de mudança intensiva do estilo de vida, em especial atividade física e
modificações dietéticas, aliada a benefícios como controle da hiperglicemia, resulta em melhoria
dos demais fatores de risco cardiovasculares [GRADE B], especialmente para os indivíduos com
alto risco de desenvolverem o DM – ver Quadro 19 (WING et al., 2010; AMERICAN DIABETES
ASSOCIATION, 2013).
As recomendações nutricionais prescritas para esse fim podem restringir calorias ou reduzir
carboidratos, já que o benefício observado é semelhante entre as diferentes dietas (AMERICAN
DIABETES ASSOCIATION, 2011; 2012). Dietas com baixo teor de carboidratos têm benefício no
controle glicêmico, na perda de peso (mesmo sem focar na restrição calórica), na redução do uso
de medicações e nos fatores de risco cardiovascular como aumento do HDL-colesterol, quando
comparadas com dietas tradicionais (WESTMAN et al., 2008; ESPOSITO et al., 2009). Dietas
com baixo índice glicêmico também apresentam benefício no controle glicêmico (redução de
0,43% na HbA1c) e níveis de HDL-colesterol (BRAND-MILLER et al., 2003; JENKINS et al., 2008). A
ingestão de gordura saturada deve ser <7% do valor energético total (VET) e a de gordura trans
deve ser mínima (AMERICAN DIABETES ASSOCIATION, 2011; 2012). Entretanto, perfil lipídico,
função renal e consumo proteico no caso de nefropatias precisam ser monitorados (AMERICAN
DIABETES ASSOCIATION, 2013).
Avaliação antropométrica
(IMC e CA)
Obesidade ou
sobrepeso e/ou
CA aumentada?
NÃO
Seguem as
orientações?
SIM
NÃO
Reestabelecer metas
Metas em conjunto com a
alcançadas? pessoa e com a equipe
multiprofissional
SIM NÃO
Orientações gerais
e acompanhamento
conforme fluxograma de
tratamento de DM
Fonte: DAB/SAS/MS.
IMC = Índice de Massa Corporal.
CA = Circunferência Abdominal.
Estratégias para o Cuidado da Pessoa com Doença Crônica Diabete Mellitus
A perda de peso é indicada para todas as pessoas com excesso de peso e diabetes ou risco de
desenvolver diabetes. A meta pode ser o peso saudável com IMC abaixo de 24,9 kg/m2 (AMERICAN
DIABETES ASSOCIATION, 2010), mas a redução de 7% do peso corporal mostra-se capaz de
diminuir a resistência à insulina (SOCIEDADE BRASILEIRA DE DIABETES, 2003; 2005; SOCIEDADE
BRASILEIRA DE ENDOCRINOLOGIA E METABOLOGIA; SOCIEDADE BRASILEIRA DE NEFROLOGIA,
2005; SANTOS et al., 2009) [Grau de Recomendação A]. A manutenção desse percentual de perda
de peso ao longo de seis meses e continuidade da perda ponderal moderada de 5% ao longo
de três anos estão associadas à redução da resistência à insulina, melhoria dos índices glicêmicos
e lipídicos, redução da pressão arterial e, em longo prazo, redução do valor da hemoglobina
glicada em adultos com diabetes tipo 2 (AMERICAN DIABETES ASSOCIATION, 2013). A perda de
peso acelerada não é indicada porque provoca a perda de massa magra e de líquidos, dificultando
ainda mais o emagrecimento e influenciando negativamente o metabolismo (BRASIL, 2006a;
BRASIL, 2006c).
Além da perda de peso, a diminuição da gordura central com modificação no perfil de gordura
corporal precisa ser objetivada (SOCIEDADE BRASILEIRA DE ENDOCRINOLOGIA E METABOLOGIA;
SOCIEDADE BRASILEIRA DE NEFROLOGIA, 2005). O acúmulo de gordura na região do abdômen
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• Quanto consome de alimentos como pães integrais, cereais integrais, arroz integral,
farelos de aveia ou de trigo, semente de linhaça, feijões, entre outros?
• Qual a quantidade de latas de óleo utilizadas por mês? Para quantas pessoas?
Orientação nutricional
Carboidrato (CHO)
na função renal, perfil lipídico, risco de hipoglicemia e do seu efeito ter sido demonstrado apenas
em curto prazo [Grau de Recomendação A] (AMERICAN DIABETES ASSOCIATION, 2007; 2010;
SANTOS et al., 2009; ANDERSON et al., 2004).
O índice glicêmico (IG) nos alimentos é o incremento sobre a curva glicêmica causado pela
ingestão de uma porção de 50 g de um alimento fonte de CHO comparado a um alimento padrão
(ANDERSON et al., 2004; COZZOLINO, 2007).
A utilização de dietas com baixo IG pode servir como estratégia complementar no plano
alimentar para o diabético, principalmente em períodos de hiperglicemias (SOCIEDADE BRASILEIRA
DE DIABETES, 2005; 2010; FOSTER-POWELL; HOLT; BRAND-MILLER, 2010). A diminuição da carga
glicêmica da dieta mostrou-se um método efetivo para perda de peso e melhoria do perfil lipídico
(THOMAS, ELLIOTT; BAUR, 2008).
Outros fatores podem influenciar na resposta glicêmica, tais como: o tipo de preparação,
combinação com outros alimentos, grau de maturação e processamento dos alimentos e o nível
de glicemia pré-prandial (AMERICAN DIABETES ASSOCIATION, 2007) como mostra o Quadro 20.
Os carboidratos simples como açúcar, mel, açúcar mascavo, garapa, melado, rapadura, doces
em geral e alimentos industrializados que contenham açúcar devem ser evitados ou substituídos
por adoçantes não calóricos (AMERICAN DIABETES ASSOCIATION, 2007; SANTOS et al., 2009;
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ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE, 2003). O açúcar comum poderá ser utilizado com restrição,
respeitando as limitações indicadas na orientação dietética. A ingestão eventual poderá ser
permitida em pequenas quantidades (10 g a 15 g) como sobremesas, já que nesta quantidade e
nesta forma são minimizados os picos hiperglicêmicos decorrentes da sua ingestão (BANTLE et
al., 2008). O Consenso de 2002 recomenda a ingestão de 6 a 11 porções de CHO por dia, a mesma
utilizada no Guia Alimentar para a População Brasileira (BRASIL, 2006a; SOCIEDADE BRASILEIRA
118
DE DIABETES, 2003). Deve-se levar em consideração o peso, sexo, idade e atividade do indivíduo
ao determinar a quantidade de porções e fracioná-las ao longo do dia nas 5 a 6 refeições (BRASIL,
2006a; SOCIEDADE BRASILEIRA DE DIABETES, 2003).
Alimentos dietéticos
Os alimentos dietéticos podem ser recomendados, desde que se conheça sua composição
nutricional. Os produtos diet isentos de sacarose podem ser bastante calóricos, além de conter
gordura trans ou saturada como, por exemplo, os chocolates, sorvetes e biscoitos. Os refrigerantes,
sucos e gelatinas dietéticas têm valor calórico próximo de zero, mas contêm uma grande
quantidade de sódio (SOCIEDADE BRASILEIRA DE DIABETES, 2003; BRASIL, 2006b; SOCIEDADE
BRASILEIRA DE CARDIOLOGIA, 2007). Os produtos light, de valor calórico reduzido em relação
aos alimentos convencionais, podem conter açúcar (SOCIEDADE BRASILEIRA DE DIABETES, 2002).
O uso moderado de adoçantes não calóricos ou edulcorantes pode ser recomendado, pois
mostraram-se seguros quando consumidos em quantidades usuais (BANTLE et al., 2008). No
Brasil, são disponíveis aspartame, sacarina, ciclamato, acesulfame K, sucralose e estévia. Eles
são praticamente isentos de calorias e podem ser consumidos de acordo com as normas da Food
and Drug Admistration. O site da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) contém
mais informações sobre o uso de adoçantes (http://www.anvisa.gov.br) (SOCIEDADE BRASILEIRA
DE DIABETES, 2003; BRASIL, 2006b; AMERICAN DIABETES ASSOCIATION, 2010; SOCIEDADE
BRASILEIRA DE ENDOCRINOLOGIA E METABOLOGIA; SOCIEDADE BRASILEIRA DE NEFROLOGIA,
2010). Recomenda-se alternar o tipo de adoçante (SOCIEDADE BRASILEIRA DE DIABETES, 2003).
A frutose, o mel e o açúcar mascavo têm o mesmo valor calórico do açúcar e não são
recomendados para pessoas com DM. Se utilizados, a ingestão deverá ser eventual e em pequenas
quantidades (BANTLE et al., 2008).
Fibras
A recomendação diária de fibra é de 25g para mulheres e de 38g para homens ou 14g a cada
1.000 Kcal da dieta [Grau de Recomendação B], a mesma para a população em geral (AMERICAN 119
DIABETES ASSOCIATION, 2013). O farelo de aveia é o alimento mais rico em fibras solúveis,
portanto seu consumo deve ser estimulado (BRASIL, 2012). As fibras alimentares também
estão relacionadas à melhoria do trânsito intestinal; porém seu consumo não deve exceder à
recomendação, pois a fibra interfere na biodisponibilidade de minerais (ANDERSON et al., 2004).
Proteína
A recomendação da ingestão proteica para pessoas com DM 2 é a mesma utilizada para a população
em geral, ou seja: 0,8 g/kg de peso para mulheres e 1 g/Kg de peso para homens (SOCIEDADE
BRASILEIRA DE DIABETES, 2005; BRASIL, 2006a; AMERICAN DIABETES ASSOCIATION, 2010).
Micronutrientes
O profissional, nas consultas de acompanhamento das pessoas com DM tipo 2, deverá sempre
questionar sobre os hábitos alimentares, buscando possíveis inadequações ou dificuldades para
seguir as orientações nutricionais.
No caso do controle glicêmico estar insatisfatório, é necessária uma abordagem mais específica
na alimentação, principalmente quanto à ingestão de carboidratos, e uma investigação mais
rigorosa quanto aos horários, qualidade e quantidade das refeições relacionadas com os horários
da medicação e/ou utilização de insulina. A contagem de carboidratos como base para o ajuste das
doses de insulina prandial foi parte da intervenção intensiva utilizada em pessoas com diabetes
tipo 1 no estudo Diabetes Control and Complications Trial – DCCT (ANDERSON et al., 1993) e, como
tal, pode ser indicada para esses usuários [GRADE D]. Contudo, seu custo-benefício e aplicabilidade
na prática clínica usual não estão estabelecidos. Em usuários com diabetes tipo 2 a contagem de
carboidratos não parece adicionar benefícios [GRADE C] (BERGENSTAL et al., 2008).
Nos casos em que é necessária a perda de peso, o acompanhamento deve ser, no mínimo,
mensal. A avaliação antropométrica e o reforço das orientações alimentares, bem como a busca
de soluções para as dificuldades de adesão às orientações, são fundamentais para motivação,
Estratégias para o Cuidado da Pessoa com Doença Crônica Diabete Mellitus
As pessoas com glicemia controlada ou não, mas com hábitos alimentares saudáveis, peso
e circunferência abdominal conforme indicado para sua idade seguirão seu acompanhamento
clínico conforme as indicações do Capítulo 3 deste Caderno de Atenção Básica, com reavaliação
antropométrica e identificação de inadequações alimentares nas consultas de rotina.
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