Relatorio Investigacao P 19
Relatorio Investigacao P 19
Relatorio Investigacao P 19
RELATÓRIO DE
INVESTIGAÇÃO DE
INCIDENTE
Plataforma Petrobras 19 (P-19)
280/flabele
RELATÓRIO DE INVESTIGAÇÃO
DE INCIDENTE
Plataforma PETROBRAS 19 (P-19)
Julho 2023
Diretor-Geral
Rodolfo Henrique de Saboia
Diretores
Symone Christine de Santana Araújo (Diretora - Diretoria I)
Daniel Maia Vieira (Diretor – Diretoria II)
Fernando Wandscheer de Moura Alves (Diretor – Diretoria III)
Claudio Jorge Martins de Souza (Diretor – Diretoria IV)
SUMÁRIO
SUMÁRIO EXECUTIVO .............................................................................................................................................. 7
1. DESCRIÇÃO DO INCIDENTE ............................................................................................................................. 14
2. CARACTERÍSTICAS DA PLATAFORMA P-19 ...................................................................................................... 15
2.1 CONFIGURAÇÃO DO SISTEMA DE COMBATE A INCÊNDIO COM CO2...................................................................... 15
2.2 HISTÓRICO DE INCIDENTES ENVOLVENDO SISTEMA DE COMBATE A INCÊNDIO POR CO2 NAS INSTALAÇÕES DA OPERADORA
20
2.3 CONFIGURAÇÃO DA SALA DOS MOTOGERADORES DIESEL AUXILIARES .................................................................. 20
3. CRONOLOGIA DE EVENTOS ............................................................................................................................ 22
4. ÁRVORE DE FALHAS DO EVENTO .................................................................................................................... 24
4.1 FATOR CAUSAL Nº 1: LIBERAÇÃO DE CO2 NA SALA DOS MOTOGERADORES DIESEL AUXILIARES POR ACIONAMENTO ESPÚRIO
DO SISTEMA FIXO DE CO2 ..................................................................................................................................................... 26
4.2 FATOR CAUSAL Nº 2: PERMANÊNCIA DE PESSOAS NA SALA APÓS ALARME DE LIBERAÇÃO DO CO2. ............................. 29
5. HIPÓTESES DESCARTADAS E INCONCLUSIVAS ................................................................................................ 30
5.1 HIPÓTESES DESCARTADAS: .......................................................................................................................... 30
5.2 HIPÓTESES INCONCLUSIVAS: ........................................................................................................................ 31
6. CAUSAS RAÍZES .............................................................................................................................................. 32
6.1 CAUSA RAIZ Nº 1: FALHA EM PROJETO ........................................................................................................... 32
6.2 CAUSA RAIZ Nº 2: FALHA EM INSPEÇÃO, TESTE E MANUTENÇÃO PREVENTIVA......................................................... 38
6.3 CAUSA RAIZ Nº 3: FALHA NA AVALIAÇÃO DE PERIGOS NA PERMISSÃO DE TRABALHO. .............................................. 40
6.4 CAUSA RAIZ Nº 4: FALHA NA COMUNICAÇÃO DOS RISCOS. ................................................................................. 49
6.5 CAUSA RAIZ Nº 5: FALHA EM TREINAMENTO DE CONSCIENTIZAÇÃO (BRIEFING DE SEGURANÇA) ................................. 51
7. FATORES HUMANOS ...................................................................................................................................... 53
8. DESVIOS E FATORES CONTRIBUINTES ............................................................................................................. 57
9. RECOMENDAÇÕES .......................................................................................................................................... 67
10. CONCLUSÕES.................................................................................................................................................. 71
ANEXO I.................................................................................................................................................................. 73
SUMÁRIO EXECUTIVO
No dia 02 de agosto de 2022, a ANP recebeu, por meio do sistema SISO-Incidentes, a
manutenção na sala dos motogeradores diesel auxiliares, quando houve acionamento espúrio do
sistema de combate a incêndio por dióxido de carbono (CO2), levando a óbito um dos
trabalhadores.
em 1982 com a finalidade de operar como uma sonda de perfuração e convertida em unidade de
produção em 1997. A plataforma P-19 está localizada a 179 km da costa de Macaé, na Bacia de
abrigar até 204 pessoas a bordo. A capacidade de produção média da plataforma é de 16.000 m³
sala dos motogeradores diesel auxiliares, que não estavam operando naquele momento: dois
funcionários da empresa GranIHC removiam os pisos gradeados para que outros dois
funcionários da empresa Engeman realizassem a limpeza do piso da sala. Ocorre que, enquanto
sistema de proteção contra incêndio, o qual inundou rapidamente a sala com CO2.
Adicionalmente, naquele dia também ocorreu um serviço de limpeza na sala que abrigava os
Os dois funcionários da Engeman conseguiram sair da sala inundada com CO2. Contudo,
os dois funcionários da GranIHC não conseguiram abandonar a sala a tempo, tendo sido
a falecer.
Assim que tomou conhecimento do incidente, a ANP planejou a realização de uma ação
autoridades federais, no âmbito da Operação Ouro Negro. A equipe de fiscalização era composta
por cinco servidores, sendo um da ANP, dois do Ministério Público do Trabalho e outros dois do
A comissão de investigação da ANP identificou dois fatores causais, a saber: (1) Liberação
na sala dos motogeradores por acionamento espúrio do sistema fixo de CO2 e (2) Permanência
Causas raízes:
A primeira causa raiz identificada foi falha em projeto. Em 2019 havia sido estabelecida
sistema de CO2 com “double check”, aplicável a todas as plataformas da Operadora. A lógica de
acionamento esperada era que a micro switch, ao ser energizada, abriria a válvula direcional e,
após confirmação de incêndio ou fumaça no local, o operador da sala de controle então acionaria
a botoeira virtual, abrindo as válvulas da cabeça dos cilindros e então liberando o CO2. Contudo,
quando da implementação dessa mudança na plataforma P-19, houve falha na alteração da lógica
de acionamento, tendo sido o código alterado de forma que, ao acionar o micro switch, a válvula
direcional e a botoeira virtual estavam sendo acionadas simultaneamente, sem que fosse de fato
necessária a dupla atuação (atuação da lógica mais atuação humana). Assim, resta constatado
que houve falha na falha na verificação do código e, principalmente, falha no teste, antes da
projeto do sistema fixo de CO2, especificamente, por conta da ausência de válvula lockout, que
cilindros de CO2, que não possui portas e parte de suas paredes eram venezianas, o que permite
entrada constante de umidade no local; falha de localização dos alarmes de CO2 na sala dos
motogeradores diesel auxiliares, que não permitia visibilidade de alguns ângulos da sala; e, por
A segunda causa raiz identificada foi a falha na inspeção e teste do sistema fixo de CO2.
As inspeções dos equipamentos do sistema de combate a incêndio com CO2 eram conduzidas
pelos técnicos de segurança, que realizavam inspeções visuais e executavam apenas testes de
acionamento local de algumas das válvulas, com inibição da liberação do CO2, ações insuficientes
para detecção de problemas, como corrosão, nos componentes das válvulas do sistema de CO2,
por exemplo.
A terceira causa raiz identificada foi falha na avaliação dos riscos na Permissão de
Trabalho (PT). As Permissões de trabalho emitidas para as atividades na sala dos motogeradores
9
fato da sala ser um local protegido por sistema fixo de CO2. De acordo com procedimento da
Operadora, essa análise mais elaborada só seria necessária caso uma pergunta da lista de
Constatou-se, portanto, que houve falha na análise prévia dos perigos existentes no ambiente de
mesma Operadora, quando da execução de atividades em locais protegidos por sistema fixo de
combate a incêndio com CO2, a atuação desse sistema é inativada até a conclusão do serviço a ser
realizado.
A quarta causa raiz identificada foi falha na comunicação dos riscos. Em relação à
atividade de limpeza na sala dos cilindros de CO2, não havia, na permissão de trabalho, qualquer
indicação sobre o risco de formação de névoa de água por conta do uso de jato de água, nem
auxiliares, não havia sinalização sobre o perigo de asfixia por CO2. Resta, assim, constatado que
não havia adequada sinalização (também conhecida como comunicação dos riscos) nos locais
Por fim, a quinta causa raiz indicada foi de falha de treinamento, incluindo treinamento
diálogos diários de segurança. As informações obtidas apontaram que houve falha ou falta de
treinamento e instruções claras sobre o sistema de combate a incêndios por CO2 e seus alarmes.
10
Ficou constatado que alguns trabalhadores não tinham conhecimento suficiente sobre o alarme
Recomendações:
Esta verificação deve ser feita por equipe multidisciplinar, minimamente incluindo
• Instalar válvulas de lockout no sistema fixo de combate a incêndio por CO2, inclusive
11
unidades já existentes. E, para que nas demais alterações nestas normas, seja
• Instalar alarmes visuais e sonoros nos ambientes protegidos por CO2 que sejam
• Avaliar a utilização de gases não asfixiantes para sistemas fixos de combate a incêndio.
• Não permitir o uso ou habitação contínua de salas protegidas por sistema fixo de CO2
• Instalar, na entrada de locais protegidos por sistema fixo de CO2, placas sinalizadoras
de CO2 em ambientes protegidos por sistema fixo de combate a incêndio, à luz dos
CO2, que abordem os riscos presentes nos diversos locais da Unidade e nas ações de
segurança relacionadas.
12
para guiar os socorristas até o local seguro próximo do local de emergência, onde são
resposta.
do sistema fixo de combate a incêndio por CO2 ou outro gás asfixiante que não
882/2022.
13
1. DESCRIÇÃO DO INCIDENTE
motogeradores diesel auxiliares (chamada de “sala dos EMDs” pela equipe da plataforma)
No dia anterior (01/08/2022) havia sido planejada a realização da limpeza da sala dos
motogeradores diesel auxiliares, já que havia óleo no piso. Para que a limpeza fosse realizada,
seria necessária a retirada de parte do piso gradeado para acesso ao local. Assim, dois
No dia seguinte, 02/08/2022, por volta de 09:20h, dois funcionários (jatista e auxiliar de
jatista) da empresa Engeman realizavam a limpeza do piso da sala dos motogeradores enquanto
gradeados no local, quando, minutos após iniciar as atividades, foram surpreendidos pelo
rapidamente por uma rota de fuga próxima, sendo que os dois colaboradores da Engeman
Quanto aos funcionários da GranIHC, esses não lograram êxito em abandonar o local. O
primeiro funcionário localizado foi encontrado desacordado e próximo à rota de fuga, na área do
piso elevado, ainda na sala dos motogeradores. Foi resgatado por brigadistas, colocado em área
segura, recebeu primeiros socorros pela equipe de socorristas, mas não recobrou a consciência,
tendo falecido a bordo. O óbito foi declarado pelo resgate aeromédico às 12:12h.
14
instantes após o primeiro, também por brigadistas, tendo sido encontrado desacordado e
próximo a uma das portas de saída desta sala, colocado em local seguro e recebido primeiros
Ao mesmo tempo que ocorreu a inundação de CO2 na sala dos motogeradores diesel
auxiliares, ocorreu, ainda, o rompimento de mangote de um cilindro de CO2 na sala dos cilindros,
a qual acabou sendo também inundada por CO2. Nesse momento, não havia ninguém no interior
desta sala.
em 1982 com a finalidade de operar como uma sonda de perfuração e convertida em unidade de
produção em 1997. A plataforma P-19 está localizada a 179 km da costa de Macaé, na Bacia de
abrigar até 204 pessoas a bordo. A capacidade de produção média da plataforma é de 16.000 m³
O sistema fixo de combate a incêndio com CO2 (gás carbônico, ou dióxido de carbono) tem
como objetivo extinguir o fogo através de inundação total por gás inerte na área efetiva de risco.
15
uso de combate a incêndio por água não seria adequado, como salas contendo equipamentos
elétricos ou nos quais a utilização de água traria outros riscos, como o de inundação do local.
Conforme consta em Ficha com Dados de Segurança – FDS (até julho de 2023, esta ficha
e ardência do nariz e garganta; até 15% causa dor de cabeça, excitação, excesso de salivação,
náuseas, vômito e perda da consciência. Em concentrações mais altas, causa rápida insuficiência
norma, como a NFPA 12 (Standard on Carbon Dioxide Extinguishing Systems), que estabelece
forma a atenderem o objetivo a que se destinam de forma segura. Esses sistemas são bastante
difundidos na indústria, pois as características e custos do CO2 o tornam adequado para uso
O sistema fixo de extinção de incêndio com CO2 da P-19 é composto por dois grupos de 60
16
habitados:
• sala de rádio;
• sala de telecomunicações;
• sala de equipamentos;
• salas de painéis nº 1, 2 e 3;
compartimentos específicos, a saber: coifa da cozinha, casulo dos turbocompressores, casulo dos
Pode ser observada na Figura 1, parte das baterias de cilindros de CO2 da sala dos
CO2, a sala dos motogeradores diesel auxiliares constitui a maior sala da plataforma atendida
17
iniciam a descarga daquele grupo de cilindros, os quais são equipados com válvulas acionadas
por pressão. (válvulas piloto). Todos esses cilindros estão interligados por uma tubulação de
distribuição.
Para direcionar o fluxo de CO2, válvulas direcionais são responsáveis pelo alinhamento
entre a tubulação de distribuição e a área protegida. Essa válvula direcional possui um comando
elétrico composto por uma bobina solenoide com acionamento elétrico ou acionamento manual
local. Instalado no comando elétrico, há uma chave de posição (ZSH). Essas cabeças de comando
18
elétrico, instaladas nas válvulas direcionais, contam com uma micro switch elétrica com o
por sinalizar que existiu a movimentação do eixo de acionamento da cabeça de comando, que
pode ocorrer tanto com o comando elétrico quanto com o comando manual, diretamente no
dispositivo.
plataforma P-19 indica que “em áreas fechadas, onde o risco de incêndio é constituído
predominantemente por equipamentos elétricos, serão protegidas por sistemas de inundação com
gás carbônico, especificados conforme NFPA 12, acionados manualmente quando o ambiente for
permanentemente assistido ou, em caso contrário, de forma automática por meios de detecção de
Esse documento estabelece ainda que “a estocagem de gás dos sistemas de CO2 será
centralizada, e deverá ser dimensionada para atender o maior ambiente. Uma rede de distribuição
provida de válvulas direcionais permitirá que o gás seja descarregado somente no ambiente
solicitado. A estocagem de gás consistirá em uma bateria de cilindros de alta pressão pronta para
como oriunda de pelo menos 2 detectores), para início da descarga de CO2 nas salas que não são
deve ser iniciada somente por comando manual. A atuação automática poderá ser inibida sem
desativar a detecção de incêndio, que nesta situação passará a funcionar somente com a função de
alarmar. Os solenoides de comando das válvulas piloto e das válvulas direcionais deverão ser
19
(continuidade e curto-circuito). A descarga de CO2 deverá ser possível por acionamento manual das
válvulas na bateria de cilindros de CO2. A descarga de CO2 deverá ser precedida por um sinal de
alarme sonoro, no interior da sala, que será acionado 20 (vinte) segundos antes da liberação do
gás. Cabe aqui destacar que, para a sala dos motogeradores diesel auxiliares, devido a sua
grande dimensão, o alarme é acionado 30 segundos antes da liberação do CO2” (grifo nosso).
2.2 Histórico de incidentes envolvendo sistema de combate a incêndio por CO2 nas
instalações da operadora
Esse levantamento apontou que, entre 2018 e 2022, foram registradas 67 ocorrências
Diante deste dado, infere-se que incidentes envolvendo disparo indevido de CO2 seriam
de mais um disparo indevido de CO2, em P-19 não teria sido um caso isolado; contudo, dessa vez,
A sala dos motogeradores diesel auxiliares (sala dos EMDs), é composta por quatro
motogeradores diesel idênticos, além de possuir uma monovia e uma pequena área de carga e
descarga. Entre os motogeradores, existe piso gradeado elevado, e indicação de uma das rotas
de fuga por um tapete de borracha de cor verde com setas brancas (Figura 2).
20
Figura 3 – Trecho da planta baixa da sala dos motogeradores diesel auxiliares (Fonte: Petrobras).
21
Nesta sala, existem três conjuntos de alarmes visuais e audíveis de CO2 (composto por
autofalante e giroflex de cor vermelha), além de autofalante (boca de ferro) do alarme geral da
plataforma (Figura 4). No teto, existem vários aspersores de CO2 abrangendo toda a área.
Figura 4 – Imagem de aspersor de CO2 (à esquerda) e do conjunto de alarmes de CO2 e geral da plataforma
(à direita) na sala dos motogeradores diesel auxiliares.
3. CRONOLOGIA DE EVENTOS
Data Ações
27/06/2019 Aberta Gestão de Mudança para adequação de P-19 à Especificação Técnica da lógica de
acionamento de sistemas de CO2.
02/08/2022 Realização dos DDS (diálogos diários de segurança) nas respectivas equipes.
07:00h
22
02/08/2022 Emitida Permissão de Trabalho para limpeza industrial na sala dos cilindros de CO2 com uso
07:55h de lava jato, vassoura, lambaio e ferramentas manuais.
02/08/2022 Emitida Permissão de Trabalho para limpeza industrial na área de facilidades (sala dos
08:15h motogeradores diesel auxiliares) com utilização de máquina de lava jato e ferramentas
manuais.
02/08/2022 Emitida Permissão de Trabalho para remoção/ instalação de grade de piso em apoio a
08:50h limpeza geral na sala dos motogeradores diesel auxiliares e posterior caldeiraria dos
permutadores P-GE-514003D/P-GE-514103A (localizados na mesma sala).
02/08/2022 Acionamento do sistema de combate a incêndio com CO 2, direcionando o fluxo para a sala
09:34h dos motogeradores diesel auxiliares.
02/08/2022 Enviada equipe de brigada para busca na sala dos motogeradores diesel auxiliares.
09:43h
02/08/2022 Equipe de brigada resgata a segunda vítima e iniciam as tentativas de primeiros socorros,
09:46h com utilização de máscara de ar do próprio EPI.
02/08/2022 Constatação do óbito da primeira vítima pelo médico da equipe de resgate aeromédico.
12:12h
alarme geral da plataforma, com sinal espúrio da válvula responsável pela inundação de CO2 do
CO2 porque a bateria principal de cilindros estava descarregada após o acidente ocorrido no dia
23
anterior. A Operadora esclareceu em carta para essa Agência que não foi realizado o alinhamento
à bateria reserva de cilindros de forma proposital, visto que naquele momento não se tinha
02/08/2022.
A partir das informações coletadas durante a investigação realizada pela ANP, foram
utilizado foi o da árvore de falhas. Foram levantadas hipóteses para o acidente, que foram
causas que podem levar a um evento indesejado, permitindo a identificação das causas raízes.
24
Na Figura 5, é apresentada a árvore de falhas do evento elaborada pela comissão de investigação da ANP.
25
Conclui-se que este acidente ocorreu devido a dois fatores causais, ou seja, ocorrências
reduziria a sua severidade, a saber: (i) liberação indevida de CO2 na sala dos motogeradores
diesel auxiliares e (ii) permanência de pessoas na sala após alarme de liberação do CO2.
4.1 Fator Causal nº 1: liberação de CO2 na sala dos motogeradores diesel auxiliares por
acionamento espúrio do sistema fixo de CO2
A sala dos cilindros de CO2 da plataforma P-19 (Figuras 6 e 7) é um local com dois acessos
que não possuem portas, sem ventilação forçada e sua área é delimitada por venezianas, sem
paredes, ficando exposta, portanto, a uma grande taxa de umidade, uma vez que a instalação se
Figura 6 – Desenho parcial da planta baixa, foto de parte da sala dos cilindros de CO 2 onde pode-se ver ao
fundo o uso de veneziana (nota-se que o desenho indica com um ‘X’ as partes do compartimento que utilizam
venezianas ao invés de paredes de metal ou outro material que impeça a entrada de umidade).
26
Adicionalmente, informações obtidas nas oitivas apontaram que o piso dessa sala era
frequentemente lavado, com uso inclusive de lava jato, o que propicia a formação de névoa por
todo o ambiente.
Foi relatado em oitiva que as chaves micro switch das válvulas direcionais deveriam ser
substituídas a cada 5 anos, mas não foi apresentada documentação com essa diretriz.
quinquenalmente deveria ser realizado teste de disparo, por equipe acreditada por certificadora,
Em relação aos componentes do sistema fixo de proteção contra incêndio com CO2 da P-19,
foi confirmado junto à Operadora da instalação que não há frequência específica para troca
5425029 para laudo pericial. Durante a inspeção e testes realizados, os peritos detectaram
direcional; sinais de oxidação nos terminais elétricos da micro switch; acúmulo de partículas
27
compartimento dos motogeradores diesel auxiliares e que não existiram outras formas de
sistema fixo central de combate a incêndio por CO2, com a consequente descarga e
Figura 8 – Imagens dos terminais elétricos e componentes internos da válvula direcional e micro switch
(Fonte: Operadora).
necessidades de bloqueios para que não ocorra a injeção de CO2, quando há pessoas nas áreas e
Norma ABNT NBR 12232 / 2015 - Execução de sistemas fixos automáticos de proteção
contra incêndio com gás carbônico (CO2) em transformadores e reatores de potência contendo
óleo isolante.
28
Ainda assim, restou constatado que no sistema em questão da Plataforma P-19, não foram
serem executados na sala dos motogeradores diesel auxiliares e na sala dos cilindros de CO2 não
indicavam ações a serem tomadas em caso de liberação do CO2. Para essas atividades, o
Além disso, a Análise Preliminar de Riscos – APR da instalação não possui cenário
específico para casos de asfixia por CO2, nem cenário de escape e resgate de área inundada por
CO2. Entende-se que, por se tratar de sistema inserido na instalação para aumentar o nível de
segurança do processo, não faria sentido avaliar o risco de sua atuação espúria, uma vez que
ocorreria apenas em ações de emergência, desde que esse sistema tivesse sua confiabilidade
garantida.
tinham conhecimento suficiente sobre o alarme de CO2, conhecendo mais a fundo apenas o
Cabe aqui ressaltar que, por projeto, na lógica dos alarmes da P-19, o alarme de CO2 é
acionado em conjunto com o alarme de emergência da plataforma, o que pode ter confundido as
pessoas que se encontravam na sala dos motogeradores, treinadas para aguardar, quando do
29
(Intercom/ “boca de ferro”) para então seguirem pela rota de fuga mais segura até o respectivo
ponto de encontro.
Também ficou constatado que a porta de entrada da sala dos motogeradores auxiliares
não possuía sinal de aviso de potencial presença de CO2 e tampouco sinalização de possibilidade
de morte por asfixia por CO2, conforme recomendado pela NFPA 12. Por depoimento, foi
confirmado que alguns dos trabalhadores não sabiam do risco de asfixia por CO2 ao adentrar em
ter ocasionado o acidente em tela. Contudo, algumas dessas hipóteses não foram confirmadas
em documentos ou durante as entrevistas. Nos casos em que não foi possível descartar a
nos registros de comandos, não havia evidência do acionamento de botoeira virtual do sistema
fogo/fumaça da sala dos motogeradores diesel auxiliares, tendo sido descartada essa hipótese.
auxiliares, não foram encontradas evidências de acionamento de qualquer botoeira física da sala
30
possibilidade.
obtidas mostram que o painel estava funcionando corretamente durante todo o período anterior
Durante inspeção no local e com base nas imagens obtidas, restou constatado que havia
relação à rota de fuga, sinalizada no piso elevado da sala por um tapete de borracha com fundo
verde e setas e listras brancas, havia na rota desnível entre duas áreas da sala (Figura 9), o que
poderia durante uma tentativa de escape do local, provocar a queda de uma pessoa, dificultando
31
Importante aqui destacar que a vítima fatal foi localizada muito próxima a este desnível.
Contudo, não é possível afirmar que essa vítima tenha tropeçado nesse desnível e caído no local.
após o resgate da primeira vítima para local seguro, quando da chegada da equipe de socorristas,
não foram trazidos cilindro de oxigênio e máscara de respiração de imediato, e sim com certo
atraso, mas que foi utilizado equipamento para monitorar os sinais vitais, o qual não registrava
qualquer reação da vítima. Assim, não há evidências materiais que comprovem que a vítima
estava viva quando do seu resgate e que os procedimentos adotados pela equipe de socorristas
possam ter agravado a situação e, como consequência tirado alguma chance de sobrevivência.
Por esse motivo, não foi apontado fator causal ligado à resposta a emergência.
6. CAUSAS RAÍZES
a adequação do sistema fixo de CO2 de suas plataformas, considerando a versão mais recente da
norma NFPA 12 (Standard on Carbon Dioxide Extinguishing Systems), a qual exige que, em locais
com possibilidade de presença de pessoas atendidos por sistema de CO2, uma segunda
verificação seja realizada para, somente após essa ação, acionar a liberação do gás.
32
Como resultado desse grupo de trabalho, foi estabelecida Especificação Técnica contendo
Conforme esse documento, para que o sistema de combate a incêndio com CO2 fosse
acionado, seria necessário confirmação local de fumaça ou incêndio através de detectores locais
e/ou por acionamento manual de botoeira e posterior confirmação feita em tela de supervisório
pelo operador da sala de controle. Após tais confirmações, seria realizado o acionamento de
botoeira virtual e o disparo de alarme, a partir do qual seria iniciada a contagem do tempo para
Assim, para a plataforma P-19, foi criada Gestão de Mudança para alteração da lógica do
acionamento do sistema de CO2, passando a ser necessária uma dupla verificação. Em seu plano
de ações, constava a ação “Lógica nova descarregada no PLC de F&G da P-19, com o auxílio do
ECOSMAN. O mesmo fez testes de acionamento nas botoeiras, constatando seu total
Conforme verificado no log da sala de controle de P-19 (Figura 10), não houve
33
Figura 10 – Imagem completa da tela da sala de controle com os logs de alarmes da P-19 em
02/08/2022 (Fonte: Operadora).
34
Às 09h34min05s há indicação de disparo local CO2 na zona 604, referente à sala dos
Fica então evidenciado que houve o intervalo de 30 segundos entre o acionamento (espúrio) do
sistema de combate a incêndio com CO2 na zona 604 e o início da inundação do local.
Foi confirmado em reunião com a Operadora que a investigação interna constatou que
que ao acionar a micro switch, a válvula direcional e a botoeira virtual seriam acionadas ao
mesmo tempo com um único comando. É sabido que, pela lógica correta de acionamento do
sistema, esse comando eletromecânico deveria abrir apenas a válvula direcional, sendo que a
válvula da cabeça dos cilindros somente deveria ser aberta após a confirmação pela sala de
Contudo, quando da implementação da gestão de mudança, por erro técnico, foi dada a
essa micro switch função de acionar tanto a válvula direcional quanto a botoeira virtual e,
prática de gestão nº 10, que o Operador deverá “Atender aos critérios de projeto e considerar as
Cabe observar que apesar de ter sido informado que foi realizado o teste na botoeira após
alteração da lógica, a boa prática para mudanças de lógica no PLC é fazer o loop test completo,
35
10.2.1 do RTSGSO.
A estrutura da Plataforma P-19 foi construída em 1982 como uma Sonda de Perfuração,
conforme documentação apresentada pela Operadora, o sistema de combate a incêndio com CO2
foi desenvolvido com base na norma NFPA-12 vigente em 1997. Naquele período, algumas
questões de segurança para esse sistema ainda não eram requisitos da NFPA. Caso disso é a
ausência de dispositivo de lockout para o banco de baterias de CO2. Esse requisito passou a ser
abrigada, porém não tem paredes e nem portas, sendo separada dos demais ambientes da
plataforma por venezianas, permitindo assim a entrada constante de umidade em seu interior,
o que pode ter ocasionado a aceleração da corrosão na micro switch ZSH 5425029.
incêndio com CO2, os alarmes de emergência e do acionamento do CO2 foram comissionados para
Além da sobreposição sonora dos alarmes, a localização dos alarmes visuais (giroscópios)
(Figura 11) de CO2 dificultava e, em alguns pontos, a depender do local dentro da sala onde a
pessoa se encontrava até impedia a visualização. Isso porque a sala dos motogeradores diesel
36
Figura 11 – Imagem dos equipamentos que compõem os alarmes de CO2 (vermelhos) e de emergência na
sala dos motogeradores diesel auxiliares da P-19.
prática de gestão nº 10, que o Operador deverá “considerar, na fase de projeto, a redução da
resposta a emergência.
Dessa forma, resta constatado que houve falha no projeto da sala dos cilindros de CO2,
37
oxidação nos terminais elétricos e acúmulo de partículas na face superior da micro switch da
ZSH-5425029.
Foi verificado durante a investigação, que não existia lista de tarefa de manutenção (LTM)
para estes componentes, e tampouco eram realizadas inspeções por profissionais com
No lugar disso, eram executadas rotinas apontadas em listas de verificação (LV) com
verificação e inspeção visual apenas da integridade das mangueiras dos cilindros, dos pesos
destes e testes de acionamento local das válvulas, com inibição da liberação do CO2 (Figura 12).
Ficou constatado, tanto por oitivas quanto por documentos obtidos junto à Operadora, que tais
verificações eram realizadas por técnicos de segurança. que realizavam inspeções visuais dos
cilindros de CO2 e de toda tubulação do sistema fixo de CO2, além de verificar a integridade dos
38
combate a incêndio fixo com CO2 eram realizadas pelos técnicos de segurança. Também foi
informado em oitiva que era de conhecimento da gestão que, a partir de 2020, por exigência da
Marinha do Brasil, a inspeção do sistema deveria ser realizada por empresa especializada
credenciada pela Sociedade de Classe. Ou seja, a inspeção dos componentes do sistema fixo de
por falha do componente após acionamento ou tentativa de acionamento, e não por identificação
39
para inspeção, teste e manutenção, a fim de buscar a integridade mecânica dos seus sistemas,
estar alinhada com recomendações dos fabricantes, normas, padrões e boas práticas de
engenharia”.
Dessa forma, resta constatado que houve falha nas inspeções, pois as instruções eram
sistema de CO2, não atendendo assim boas práticas de engenharia, contrariando o requisito
13.2.1 do RTSGSO. Além das instruções de trabalho serem incompletas e insuficientes, eram
realizadas por técnicos que não possuem competência técnica para tal.
análise prévia das condições de segurança para execução de tarefas, bem como dos perigos
Cabe aqui destacar que a importância da Permissão de Trabalho (PT) está em garantir a
segurança dos trabalhadores e a integridade do meio ambiente frente aos riscos da tarefa a ser
Petrobras, existem tipos diferentes de PT. A PTRE é um tipo específico de PT de uma das tarefas
que estavam sendo executadas no momento do acidente, que a Operadora define como
‘Permissão para Trabalho Rotineiro Específico’. A diferença entre a PT e a PTRE é que enquanto
a PT é uma autorização dada por escrito para execução de trabalhos de manutenção, montagem,
40
equipamentos, sistemas e estruturas previamente definidas e cujo risco não se altera ao longo
do tempo.
A Permissão de Trabalho do local onde houve vítimas do acidente indicava que ocorreria
testemunhas informaram que essa atividade iniciou na tarde do dia 01/08/2022, mas que,
não foi concluída, tendo sido postergada para o dia seguinte. Este fato foi comprovado por PTRE
Figura 13 – Trecho da PTRE 6430 de tarefa similar à do dia do acidente na sala dos motogeradores nos
dias anteriores ao acidente.
frio n° 6510 em 02/08/2022 (Figura 14) para que fosse realizada a retirada dos pisos gradeados
41
da sala dos motogeradores diesel auxiliares. Nota-se que, diferentemente da permissão do dia
anterior, esta não é uma PTRE, e sim uma PT – apesar de ambas serem para trabalho a frio.
Figura 14 – Trecho da PT 6510 da tarefa da sala dos motogeradores onde houve vítimas.
Cilindros de CO2) atividade de limpeza, conforme PTRE 6516 de 02/08/2022 (Figuras 15 e 16),
sendo realizada por outros dois funcionários da empresa Engeman (jatista e auxiliar de jatista).
Quando do acionamento espúrio do sistema de CO2 na sala dos motogeradores diesel auxiliares,
ocorreu rompimento do mangote de um dos cilindros, levando a inundação por CO2 também na
42
43
possuíam análise de perigos realizado por equipe multidisciplinar (análise de perigo nível 2,
APN-2, conforme procedimento da Operadora), uma vez que o sistema de gestão da Operadora
considera essas atividades de baixo risco, entendendo não ser necessário elaborar análise de
risco.
De acordo com procedimento da empresa (Figura 17), essa análise mais elaborada (APN-
2) só seria necessária caso uma pergunta da lista de verificação fosse marcada como “sim” (lista
denominada como APN-1, análise de perigos nível 1, pela Operadora). Todavia, esta lista/análise
APN-1 não foi realizada, apesar do tipo de PT selecionada no procedimento da empresa ter sido
a Permissão para Trabalho ordinária, que exigia por procedimento a APN-1.. Isso demonstra que
a falta de avaliação de perigo não foi originada somente pelo emissor da PT, mas pelo grupo que
o planejou (geralmente, o planejamento das PTs é feito por gestores da plataforma no dia
anterior ao serviço, em uma reunião que analisa a simultaneidade das tarefas). Não foi informado
o motivo da ausência da APN-1, todavia, interpreta-se que este mesmo serviço já era considerado
como rotineiro e, portanto, necessitaria somente de uma PTRE – e a emissão de PTRE no dia
(Figura 18) que PTRE é utilizado para trabalhos rotineiros frequentes – sendo isto um indício da
44
frequência de limpeza das salas de bateria de CO2. Esta frequência será discutida na seção sobre
Com isso, a PT emitida para o serviço na sala dos motogeradores possuía somente a lista
Apesar de estas atividades serem de baixo risco, o local de sua realização também deve
Sobre o local ou ambiente, outro trecho observado nesta PT é que existe uma resposta
45
Nota-se que a pergunta direciona o emissor a pensar somente em gases que possam estar
no início do serviço no ambiente e não existe pergunta que faça o emitente pensar na
nem tóxico – mas é letal por ser asfixiante em alta concentração. Ao verificar o procedimento de
permissão de trabalho da Operadora, verificou-se que este campo é descrito de forma ambígua,
ou seja, não são feitas orientações claras sobre o preenchimento do campo “análise ambiental”
neste procedimento. O mais próximo que se pôde localizar sobre o tema segue no trecho abaixo
(Figura 21):
46
Além disso, mesmo sendo certo que pelo tipo de PT emitida, a identificação de perigos do
tipo APN-1 deveria ter sido realizada, repara-se que a APN-1 (Figura 22) também não possui
qualquer pergunta sobre o risco de a tarefa ser executada em sala protegida por sistema fixo de
combate a incêndio por gás asfixiante e/ou CO2. A figura abaixo mostra as perguntas que
47
Figura 22 – Ficha para preenchimento da análise preliminar de perigos nível 1 (APN-1), esta é um anexo
do procedimento de PT da operadora na data do acidente.
A sala dos motogeradores diesel auxiliares da P-19 possui uma série de equipamentos e
estruturas em seu interior, dentre os quais quatro motogeradores diesel de grande porte, sendo
48
quando da execução de atividades em locais protegidos por sistema de combate a incêndio com
CO2, a ativação desse sistema é inativada até a conclusão do serviço a ser realizado.
pela operadora levou à falha na análise prévia dos perigos existentes no ambiente de
protegidos por sistema fixo de CO2 e contendo equipamentos elétricos sensíveis é fundamental
para garantir a segurança dos trabalhadores e a integridade dos equipamentos. Existem diversas
falhas na comunicação que podem colocar em risco a vida das pessoas e o patrimônio das
empresas.
Uma das principais falhas na comunicação do risco ocorrida neste acidente, foi a falta de
sinalização na porta de entrada de ambientes protegidos por CO2 (Figura 23), com placa de aviso
de risco de morte por asfixia, conforme recomendado pela NFPA 12 (Figura 24). Cabe observar
executores. Por depoimento, foi confirmado que alguns dos trabalhadores não sabiam do risco
de asfixia por CO2 ao adentrar em alguns ambientes protegidos por este sistema.
49
Figura 24 – Placa que deve ser colocada na entrada das salas protegidas por CO 2, conforme NFPA 12.
limpeza da sala protegida por CO2 (sala dos motogeradores) e da sala de bateria de cilindros de
CO2. Entende-se que, talvez, não devessem ocorrer ao mesmo tempo, o que deveria ter sido
discutido na reunião de simultaneidades, geralmente realizada um dia antes dos serviços das
Diante dos fatos apresentados, resta constatado que não houve adequada
50
identificação dos perigos, descrito na causa raiz anterior, foi também determinante para a falha
na identificação deste perigo a ausência de sinalização já indicada em norma NFPA 12. Se esta
claras sobre sistema de combate a incêndio por CO2 e seus alarmes. Ficou constatado que alguns
trabalhadores não tinham conhecimento suficiente sobre o alarme de CO2, conhecendo mais a
simulados).
emergência). Importante aqui constar que, nos simulados de emergência realizados pela
Operadora em P-19, era ressaltado para todos a bordo sobre a necessidade de aguardar as
instruções transmitidas pelo sistema interno de comunicação (boca de ferro) para que fosse
51
Durante as oitivas, foi informado pelos trabalhadores que estavam no interior da sala dos
as instruções da “boca de ferro”. Contudo, nesse curto período de aguardo dentro da sala,
conscientização para toda a força de trabalho, bem como para visitantes, sempre que houver
bastante amplo, espera-se que esse treinamento tenha, como parte de seu conteúdo,
informações sobre todos os tipos de alarmes da plataforma, além de instruções claras para as
refletir os cenários de grandes emergências dos estudos de risco análise de risco, também há a
previsão no RTSGO de que deve ser estabelecido um programa de treinamento que contemple
14.3.2 do RTSGSO. Não foi possível constatar evidências quanto à qualidade do treinamento
geral (CBSP).
52
7. FATORES HUMANOS
Os Fatores Humanos podem ser definidos como fatores que podem influenciar o que as
conhecidos como fatores influenciadores de desempenho. Para entender como tais fatores
investigação de fatores humanos emanadas pela associação internacional de óleo & gás1,
Fazer esta investigação com diretivas de fatores humanos significou que todas as vezes
que os investigadores se depararam com qualquer indício de erro humano, eles não se
satisfizeram a tê-lo como causa e sim a investigar ainda mais profundamente para entender o
contexto que levou àquelas decisões e ações, baseando suas conclusões em evidências.
Entender o contexto em que uma equipe estava inserida é, portanto, entender os fatores
humanos. . Além de todo o contexto já descrito nos capítulos anteriores, faz-se necessária uma
por renovação do contrato de concessão com o órgão regulador ANP, em 2015, no qual foi
estabelecido projeto de revitalização do campo, com a troca de sete plataformas antigas (acima
1
Relatório IOGP 621 - Desmistificando Fatores Humanos: Construindo confiança na investigação de Fatores Humanos,
disponível em https://www.iogp.org/bookstore/product/iogp-report-621prt-desmistificando-fatores-humanos-
construindo-confianca-na-investigacao-de-fatores-humanos-demystifying-human-factors-building-confidence-in-
human-factors-investigation-portugues/ , acessado em 21/03/2023
53
da vida útil de projeto e em estado avançado de degradação mecânica) pela instalação de duas
Havia uma previsão comunicada em 2022 da Petrobras à ANP sobre o envio do plano de
acidente, com a plataforma ainda interditada, a Petrobras comunicou que decidiu iniciar o
processo de descomissionamento. Todavia, até a data da publicação deste relatório, ainda não
observar que foi declarado em reunião que não existe processo de venda da plataforma e a
despressurização e limpezas de poços e linhas, o que faz com que o sistema fixo de CO2
permaneça necessário.
de 50% de participação nas concessões do campo de Marlim do campo, onde a plataforma P-19
se encontra – todavia no mesmo ano, houve o anúncio, também na mídia, da desistência da venda
por parte da Petrobras3 - este processo não chegou a ser oficializado junto ao órgão regulador
2
Plano atual de desenvolvimento do Campo de Marlim: https://www.gov.br/anp/pt-br/assuntos/exploracao-e-
producao-de-oleo-e-gas/gestao-de-contratos-de-e-p/fase-de-producao/pd/marlim.pdf
3
Notícia na mídia da desistência do processo de venda, disponível em https://petronoticias.com.br/petrobras-volta-
atras-em-processo-de-venda-e-mantera-marlim-em-seu-portfolio/
54
por anúncio formal ou da mídia, é sabido que a força de trabalho passa a perceber o declínio de
recursos e que precisa procurar uma outra plataforma ou outro local de trabalho para solicitar
escolha e transferência é desgastante e com pouco suporte organizacional. Cabe acrescentar que
a força de trabalho destas plataformas descomissionadas no campo de Marlim não pode ser
aproveitada nas plataformas novas a serem instaladas por estas novas serem apenas duas
substituindo algumas plataformas (ou seja, não haveria espaço físico para todos os
trabalhadores). Outro motivo é que essas novas plataformas são afretadas (casos em que a
podem ser relevantes: a plataforma possuía no dia do acidente 156 tripulantes, sendo todos
brasileiros que possuem o Português como primeira língua. A plataforma possuía 148 homens e
Destes, faziam parte a equipe de liderança composta por 1 GPLAT (Gerente de plataforma), 1
facilidades ainda operava na plataforma, e somente após o acidente passou a ser também
remoto. Parte do planejamento de permissão de trabalho (PT) era feita em terra, em uma célula
sistema APLAT, que é o módulo de administração de plataforma, e só então passa por análise da
55
equipe de bordo. A emissão de PTs era dividida por zonas da plataforma: a equipe responsável
pela emissão de PTs na sala de motogeradores auxiliares era a equipe de manutenção, e a equipe
responsável pela emissão de PTs na sala de cilindros de CO2 era a equipe de embarcação. A
equipe de socorristas era composta pelo técnico de enfermagem (funcionário Petrobras, que
fazia cobertura de férias, ou seja, não era um funcionário fixo da P-19 e socorristas da área de
hotelaria. O líder da equipe de socorristas relatou não ter dormido bem na noite anterior ao
acidente, por ter tido pressentimento negativo. Todavia, cabe relatar que há indícios de
sobrecarga de trabalho deste profissional, uma vez que além de desempenhar as funções
pandemia. Houve relatos que todos tinham conhecimento que os simulados de emergência eram
realizados aos sábados. O briefing de segurança completo não precisa ser realizado a partir do
constantemente habitadas protegidas por sistema fixo de CO2 (após o acidente a empresa dispôs
classificação reconhecida pelo mercado (mais informações no Anexo I), chegou-se à conclusão
56
De acordo com esta classificação foi observado ainda, que dentre os fatores
controle inadequado de qualidade. A explicação de como cada fator foi classificado e como esses
resultados podem ser usados em projetos e análises de risco, estão dispostos no Anexo I.
Nesse item são abordados demais desvios em relação ao preconizado pelo RTSGSO
identificados pela comissão de investigação que, no entanto, não foram considerados causas para
o acidente em tela.
As manutenções a serem realizadas nos equipamentos da sala dos cilindros de CO2 eram
Cliente, aberta em 04/03/2019 e realizada em 11/03/2019, que “mangotes necessita (sic) de ser
substituídos, passado no para GEPLAT, COMAM para providência a substituição dos mesmo (sic) a
57
“enviado nota para COMAN e GEPLAT a respeito dos mangotes que estão ressecados e vencidos de
acordo com normas, mas Plataforma ainda não providenciou a compra dos mesmo para serem
substituídos”.
“aguardando a chegada dos mangotes para a substituição dos mesmos, pois estão muito ressecados
Dessa maneira, ficou evidenciado que era de conhecimento das lideranças de bordo a
necessidade de substituição dos mangotes de cilindros de CO2, desde pelo menos o ano de 2017,
que levou a sala dos cilindros também ter sido inundada por CO2. Este não foi um fator causal
para o acidente, uma vez que não teve influência nos fatos que resultaram no evento acidental,
contudo evidenciou falha no envolvimento dos gestores da unidade que não proveram recursos
58
Ademais, como já apontado na causa raiz n° 3, apesar de a operadora alegar que os demais
Importante aqui destacar que a sala possui quatro motogeradores diesel de mesmo
modelo. Durante as oitivas foi relatado que os motogeradores diesel auxiliares comumente
equipes de limpeza para a sala dos motogeradores diesel auxiliares para o recolhimento do óleo
(Turbocharged)” é indicado que “novas juntas devem ser instaladas entre o quadro e o cárter
O próprio documento indica a forma como todo o conjunto dever ser desmontado para
MD-514003A, consta uma extensa lista de tarefas a serem executadas. Conforme consta nesse
documento, devido ao motor estar inoperante no momento pelo fato de o permutador estar
também devido à falha no gerador, várias tarefas não puderam ser executadas, dentre as quais
59
“verificar se há vazamentos de diesel nas entradas dos bicos injetores, com o motor em marcha
filtro centrifugo”. Já em 13/04/2022, foi emitida ordem de manutenção corretiva para realização
de limpeza do permutador do gerador 514003B. Essa ordem não apresenta a lista de tarefas
apenas à tarefa de limpeza do permutador. Cabe aqui destacar que essas foram as duas únicas
ordens de inspeção apresentadas pela Operadora a partir de 2018. Ainda assim, pode-se
auxiliares.
Técnico”.
Instalação terá como atribuição estabelecer planos e procedimentos para inspeção, teste e
estar alinhada com recomendações dos fabricantes, normas, padrões e boas práticas de
engenharia”. Adicionalmente, o item 13.4 do RTSGSO também foi contrariado, uma vez que o
60
problema foi diversas vezes relatado sem a devida solução – demonstrando que os resultados
responsáveis pela inspeção do sistema de combate a incêndio por CO2. Esses técnicos não são os
profissionais mais qualificados para este tipo de inspeção, na qual é necessário abrir e
inspecionar visualmente um componente elétrico. Com isso, o Operador além de não utilizar a
Durante a auditoria realizada pela Operação Ouro Negro, ficou constatado que a sala dos
motogeradores diesel auxiliares não possuía indicação adequada das rotas de fuga. A Operadora
havia, inclusive, instalado, a título de experiência, uma espécie de tapete de borracha em parte
do piso elevado como forma de indicar uma das rotas de fuga da sala.
Em depoimentos colhidos foi relatado que este tapete dificultou o resgate de uma das
vítimas. Dessa maneira, ficou evidenciado que foi contrariado o requisito 4.2.1.1 do RTSGSO
fatores humanos”.
acionamento do sistema de combate a incêndio, foi identificado que havia falha na instalação dos
cilindros com os mangotes ao duto central, uma vez que pelo projeto deveria formar um ângulo
dos cilindros ao duto, a prática até então utilizada era a substituição das mangueiras por
61
demanda detectada nas inspeções visuais periódicas (trimestrais ou anuais) apontando algum
dano visível. Os registros de tais substituições não eram lançados através de operações dentro
a bordo.”.
Em relação à limpeza da sala de bateria de cilindros de CO2, foi constatado que eram
frequentes. Há de se relatar que é incomum que esse tipo de limpeza seja realizada neste tipo de
sala em outras plataformas, o que deveria ter indicado aos gestores que emitiam as PTs, ou
empresa, sobre o desvio de projeto desta sala que continha venezianas ao invés de paredes e
ainda possuía duas entradas sem portas – levando a condições de corrosão dos componentes
elétricos deste sistema crítico de segurança. Isto demonstra falta de consideração de padrões
suprimento de venezianas para abrigar os cilindros de CO2, mesmo com indicadores como o tipo
62
socorristas, quando da mobilização para atendimento à primeira vítima localizada, não levou de
imediato o oxímetro e o cilindro de oxigênio, sendo necessário, após o início dos procedimentos
de primeiros socorros no local, solicitar que alguém fosse à enfermaria buscar tais
equipamentos. Ficou constatado que o plano de resposta a emergência (PRE) da P-19 não
possuía cenário específico de acionamento do sistema fixo de CO2 com pessoas dentro da sala
protegida. Isso porque o PRE da Petrobras continha um procedimento geral, que serviria para
todas as plataformas, e anexos que deveriam ter procedimentos específicos para cada uma das
plataformas. Todavia, o cenário de liberação de CO2 que havia no procedimento geral continha a
informação de que seria aplicável somente à plataforma P-35, e por modo falha diferente daquela
ocorrida no acidente, conforme demonstra o trecho da PRE na Figura 27. Tampouco havia
instrução de resposta específica para este ou outros cenários na plataforma P-19 (no anexo
específico, só foi localizada resposta específica para um cenário somente, o de ‘queda de homem
Figura 27 – cenário de vazamento de CO2 estava informado como não aplicável à P-19.
63
). Além disso, também ficou constatado que o a lista de materiais de recurso de resposta
do PRE não possuía o oxímetro nem cilindro de oxigênio na enfermaria, somente no helideck
64
talvez correlacionado com o fato de não haver análise de risco e premissa de que as normas NFPA
65
Além disso, a equipe de socorristas era composta por técnico de enfermagem e pessoas
pertencentes ao contrato de hotelaria – e por serem todos parte da tripulação que circula apenas
no casario precisaram esperar alguém que conhecia a área para chegar ao local onde se
responsável por avaliar a capacidade de resposta a cada cenário acidental”, devido à falta
de avaliação da capacidade de resposta à cada cenário acidental, uma vez que para cenários com
atendimento imediato da vítima pela equipe de socorristas fora do casario deveria haver equipe
treinamento de acordo com a classificação de funções e as tarefas afetas ao cargo”, por não
incêndio por CO2 nesta e em outras plataformas do sistema Petrobras demonstra que a empresa
não teve capacidade de aprender com a investigação dos incidentes anteriores e implementar
ações que minimizem a possibilidade de recorrência, o que contraria o requisito 9.3.2 A equipe
66
9. RECOMENDAÇÕES
Esta verificação deve ser feita por equipe multidisciplinar, minimamente incluindo
• Instalar válvulas de lockout no sistema fixo de combate a incêndio por CO2, inclusive
unidades já existentes. E, para que nas demais alterações nestas normas, seja
67
• Instalar alarmes visuais e sonoros nos ambientes protegidos por CO2 que sejam
• Avaliar a utilização de gases não asfixiantes para sistemas fixos de combate a incêndio.
• Não permitir o uso ou habitação contínua de salas protegidas por sistema fixo de CO2
• Instalar, na entrada de locais protegidos por sistema fixo de CO2, placas sinalizadoras
de CO2 em ambientes protegidos por sistema fixo de combate a incêndio, à luz dos
CO2, que abordem os riscos presentes nos diversos locais da Unidade e nas ações de
segurança relacionadas.
permitir que ambas as mãos fiquem livres e acelerar a chegada à localização da vítima
68
para guiar os socorristas até o local seguro próximo do local de emergência, onde são
resposta.
do sistema fixo de combate a incêndio por CO2 ou outro gás asfixiante que não
882/2022.
69
Por fim, na Tabela 3, é apresentado um resumo dos achados da investigação relacionados aos
Tabela 3 – Quadro resumo dos achados da investigação relacionados aos fatores contribuintes.
Requisito
Desvios e fatores contribuintes Recomendações do
RTSGSO
Permanência contínua de pessoas em Não permitir o uso ou habitação contínua de salas
locais protegidos por sistema fixo de protegidas por sistema fixo de CO2 que não foram 4.2.1.1
combate a incêndio por CO2. projetadas para tal.
Incluir, nos Estudos de Riscos da Instalação, o cenário
Ausência de cenário específico de específico de descarga espúria de CO2 em ambientes
descarga de CO2 em alta concentração protegidos por sistema fixo de combate a incêndio, à luz dos 12.6.4
na Análise de Riscos da Instalação. procedimentos e normas adotados pelo operador na
realização das Análises de Risco.
Avaliar a substituição de maleta pesada de primeiros
Falha no procedimento de resposta a socorros por mochila, para permitir que ambas as mãos
14.3.3.h
emergência. fiquem livres e acelerar a chegada à localização da vítima
em ambiente com muitas escadas.
Avaliar a inclusão na equipe de primeiros socorros de
pessoas que conheçam a área, para guiar os socorristas até
Falha na avaliação da capacidade de
o local seguro próximo do local de emergência, onde são 14.2.3.a
resposta a cada cenário acidental.
encaminhadas vítimas resgatadas, com o objetivo de
diminuir o tempo de resposta.
Comunicar à ANP como quase acidente os incidentes de
falha espúria no acionamento do sistema fixo de combate a
Comunicação de incidentes incêndio por CO2 ou outro gás asfixiante que não causarem 9.2
vítimas, conforme definido no inciso XI do artigo 2° da
Resolução ANP 882/2022.
70
10. CONCLUSÕES
pessoas na plataforma P-19, que culminou na morte por asfixia de uma vítima, é um acidente
que poderia ter sido evitada se as melhores práticas da indústria e o Regulamento Técnico do
corretamente.
sistema de segurança, o sistema de combate a incêndio por CO2. Ou seja, este sistema de
segurança, apesar de projetado para ser salvaguarda de cenário de risco, acabou por introduzir
riscos adicionais à operação de unidades de produção de petróleo e gás, em função das suas
hierarquia de controle dos riscos, as medidas mais efetivas seriam aquelas que atuassem no
sentido da eliminação do risco. Assim, a adoção de sistemas de combate a incêndio com agentes
não asfixiantes é medida de redução de riscos necessária para evitar a recorrência de eventos
mudanças; falhas no projeto do sistema fixo de CO2 e de posicionamento dos alarmes de CO2 e
geral da instalação; falha em inspeção e teste; falha em avaliação e comunicação dos riscos
investigação também foram identificadas falhas relativas a: falta de recursos para substituição
dos mangotes de CO2, códigos e padrões relativos aos aspectos de ambiente de trabalho e de
71
função de inspeção e manutenção dos componentes associados ao sistema fixo de CO2, falta de
acidentado por asfixia, e por não terem sido devidamente identificados os níveis de habilidade e
óleo e gás. Isso destaca a importância de equipes de verificação nas mudanças de lógica e,
instrumentados de segurança.
instalações da Operadora entre 2018 e 2022 é motivo de alerta. Tais incidentes, ocorrendo de
que ações eficazes sejam aplicadas a fim de assegurar que a operação dessas unidades se
suas instalações. A colaboração entre empresas, órgãos reguladores e outras partes interessadas
72
Anexo I
Entender se os fatores humanos encontrados na investigação foram majoritariamente
gestores, para auxiliar na escolha de normas tanto para projeto de plataformas quanto para sua
estrutura organizacional. Quais fatores influenciaram certas tarefas também deve ser
humanos em análise de risco das tarefas. Os dados de frequência de fatores humanos deste
relatório pode ser inclusive incorporado em banco de dados para subsidiar futuras análises de
risco.
anteriormente estão relacionadas a fatores humanos, foi escolhida uma classificação específica
e reconhecida nesse tema (também conhecida por taxonomia). O objetivo da escolha de uma
taxonomia foi o de utilizá-la como lista de verificação ao final da investigação, para garantir que
todos os aspectos foram verificados. A escolha da taxonomia CREAM4 (Cognitive Reliability and
Error Analysis Method) foi feita para facilitar a comparação deste acidente com outros de mesma
complexidade em um banco de dados pré-existente5, e também porque ela pode ser traduzida
para outras, como Petro-HRA, SPAR-H e HEART. No Erro! Fonte de referência não e
4
A taxonomia foi proposta no livro de mesmo nome, do autor Erik Honnalgel (1993). A tradução para Português é método
de análise de erros e confiabilidade cognitiva. A taxonomia também é usada no método CREAM de análise de
confiabilidade humana.
5
Multi-Attribute Technological Accidents Dataset (MATA-D), disponível em https://datacat.liverpool.ac.uk/1018/,
acessado em 21/03/2023
6
Para uma descrição completa do significado de cada fator, o leitor deve consultar o livro CREAM, de Erik Hollnagel
(1993).
73
FATORES ORGANIZACIONAIS:
• Comunicação
reuniões de planejamento e de emissão de PT sobre risco de CO2; (b) falta de comunicação que
levou a falta de planejamento entre as equipes que coordenaram a limpeza da sala dos
CO2 – os serviços não deveriam ocorrer ao mesmo tempo; (c) falha de comunicação na equipe de
vítima.
o Falta de informação: (a) Ficou constatado que a porta de entrada da sala dos
sinalização de possibilidade de morte por asfixia por CO2, conforme recomendado pela NFPA 12;
(b) Nos simulados de emergência realizados na plataforma, a instrução passada era de que as
de ferro sobre o que está ocorrendo e qual ação deverão adotar, aguardando as instruções para
• Organização
não eram inspecionados; (b) vazamento de óleo dos geradores de diesel auxiliares era sistêmico
74
de CO2 implementada em função da adequação à versão mais recente da norma NFPA-12, houve
falha na avaliação dos perigos e do impacto global nas atividades, antes da implementação da
modificação; (b) não foi feito loop test completo do sistema instrumentado de segurança (sistema
fixo de combate a incêndio por CO2) após implementação de mudança da lógica, apenas parcial;
(c) não foi feita verificação da lógica em um sistema formal de verificação e aprovação; (d) falha
na instalação dos cilindros com os mangotes ao duto central, uma vez que pelo projeto deveria
aproximadamente 45°.
isolando o sistema de CO2 durante atividades de manutenção; (b) falhas relacionadas à estrutura
da sala dos cilindros de CO2, que era mantida aberta expondo os componentes à umidade
constante; (c) localização dos alarmes de CO2 na sala dos geradores diesel auxiliares não
de CO2 do sistema era alocada para técnicos de segurança, profissionais que não possuem
(b) por exigência da Marinha do Brasil desde 2020, as inspeções dos equipamentos do sistema
de combate a incêndio com CO2 deveriam ser realizadas por empresa especializada credenciada
pela Sociedade de Classe, (c) equipe de socorristas não conhece a planta industrial, apenas o
casario, sendo necessário esperar por alguém que os guie ao local, diminuindo o seu tempo de
resposta.
75
• Treinamento
dentro da sala dos motogeradores auxiliares, o que conseguiu alcançar uma saída alternativa
mais rápida de fuga foi o membro que já trabalhava na P-19 há mais de 10 anos. Esta não era
sinalizada como rota de fuga, mas ele sabia que a porta ia para um lugar aberto. Os outros dois
sobreviventes o seguiram. O funcionário que não sobreviveu tentou sair pela mesma porta que
sinalização na porta de entrada; (b) categoria da permissão de trabalho não precisou de técnico
de segurança, deixando de ter a opinião de tal profissional no processo; (c) falha de treinamento,
Condições ambientais:
forma muito repentina, sendo impossível enxergar nem um palmo à frente, não dá
para enxergar nem chão, nem parede. Talvez sinais luminosos teriam sido
visualizados.
• Condições de trabalho
76
apesar de não ser possível afirmar que a vítima tenha tropeçado nesse desnível, ela foi
encontrada caída próxima ao local; (b) Em depoimentos colhidos, foi relatado que o tapete de
borracha com marcações da rota de fuga, que estaria em fase de teste, dificultou o resgate da
vítima – o teste ocorria para tentar substituir a marcação do piso gradeado que não permitia
uma visualização precisa da direção da seta; (c) a sala dos motogeradores diesel auxiliares não
FATORES TECNOLÓGICOS:
• Equipamento
provavelmente por curto de um micro switch, que corroeu devido à umidade excessiva constante
e diária e, talvez, por névoa causada pelo lava-jato a vapor – houve um acionamento espúrio que
possui relação com a falta de manutenção/inspeção do micro switch, a falha no código, falta de
paredes.
• Procedimentos
consta que quinquenalmente deveria ser realizado teste de disparo, por equipe acreditada por
apesar de serem consideradas de baixo risco, o local onde serão realizadas também deve ser
77
contidos numa PT, como, por exemplo, não descreve como deve ser preenchido o campo de
análise ambiental. Além disso, possui lista de verificação que inclui gases inflamáveis ou tóxicos,
com que fosse necessária uma equipe de caldeiraria para deslocar o chão gradeado da sala dos
motogeradores para que a equipe de limpeza pudesse acessar o óleo a ser coletado.
FATORES INDIVIDUAIS:
pela fadiga de seu líder, que teve dificuldades de dormir na noite anterior ao acidente.
fixo de CO2 é algo muito incomum em outras plataformas e a alta emissão de PTs para esse fim
deveria ter sido um indicador de que algo estava errado com o projeto desta sala, que é separada
dos demais ambientes da plataforma por venezianas e possui duas aberturas onde deveriam ter
portas, permitindo assim a entrada constante de umidade e resíduos em seu interior; (b) houve
relatos que, durante a pandemia, era solicitado que, ao alarme de emergência de um simulado,
todos fossem para os camarotes ao invés de irem para seus pontos de encontro, para evitar
aglomeração.
78
Estes fatores influenciadores acima podem ter levado aos modos de erro cognitivo, como
PLC), e erro de planejamento dos serviços de limpeza, que neste caso – sem as devidas
tempo.
Fatores
Organanizacionais
Condições Condições de
Comunicação Organização Treinamento
ambientais trabalho
Condições Suporte
Problema de
ambientais inadequado da
gerenciamento
adversas equipe
Horas irregulares
Falha de projeto Iluminação
de trabalho
Alocação
inadequada de Temperatura
tarefa
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Fatores Tecnológicos
Procedimento
Falha de equipamento Limitações de acesso Problemas de acesso
inadequado
Identificação/etiquetag
Falha no software Informação ambígua
em incorreta
Informação incompleta
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Fatores
Individuais
Permanentes Temporários
Deficiência Falha de
Temor
funcional memória
Variabilidade
Falta de
Viés cognitivo de
atenção
Performance
Stess Stress
psicológico fisiológico
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Falhas de
Cognição e
Execução
Erro de
Falsa observação Raciocício errado Tipo errado
prioridade
Identificação
Erro de decisão Objeto errado
errada
Atraso na
Lugar errado
interpretação
Previsão
incorreta
Existem outros três fatores organizacionais que a equipe de investigação entende que
podem ter contribuído para o incidente, mas não foram possíveis de serem classificados pela
taxonomia CREAM. São fatores organizacionais mais abrangentes aos quais a empresa regulada
está submetida, como sua estratégia e estrutura organizacional, assim como aspectos culturais e
regulatórios do país. Para estes, foi utilizada a taxonomias presente em SOTERIA7 - mas que
possivelmente pode ser traduzida para outras taxonomias como a utilizada em STAMP 8 . Os
7
Socio-Technical Risk Analysis (SoTeRiA) Framework, disponível em
https://soteria.npre.illinois.edu/research/organizational/
8
Systems-Theoretic Accident Model and Processes, disponível em http://sunnyday.mit.edu/accidents/safetyscience-
single.pdf
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Marlim com o órgão regulador ANP com substituição da P-19 por novas plataformas. Visão,
descomissionamento, e também passou por anúncio de venda alguns anos antes (que veio a ser
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