Dor Resiliencia

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INSTITUTO SUPERIOR DE ESTUDOS DE DEFESA

“Tenente General Armando Emílio Guebuza”

Curso:
Licenciatura em Psicologia Social e das Organizações
Cadeira:
Psicologia Cognitiva

DOR DA PERDA VS RESILIÊNCIA: UMA EXPERIÊNCIA INTRÍNSECA À CONDIÇÃO


HUMANA

Discente:

Márcia Rosa Marques Zucula

Docente:
Dr. Josina da Graça Simiony

Maputo, novembro de 2023


DOR DA PERDA VS RESILIÊNCIA: UMA EXPERIÊNCIA INTRÍNSECA À CONDIÇÃO
HUMANA

Márcia Rosa Marques Zucula

Trabalho de pesquisa da cadeira Psicologia


Cognitiva para apresentação, como parte
da avaliação do curso Licenciatura em
Psicologia Social e das Organizações

Docente:
Dr. Josina da Graça Simiony

Maputo, novembro de 2023


RESUMO
Esta pesquisa explora a dinâmica entre a dor da perda e a capacidade de resiliência,
focalizando a experiência humana diante de eventos traumáticos. Utilizando conceitos
fundamentais, como os estágios de luto propostos por Kübler-Ross (1969) e a resiliência
conforme discutida por Masten (2001), o estudo investiga a interação complexa entre a
intensidade emocional da perda e a capacidade de adaptação e superação. A dor da
perda, especialmente no contexto da morte de um ente querido, é analisada em sua
multidimensionalidade. São destacados estágios emocionais, como negação, raiva,
barganha, depressão e aceitação, fornecendo uma estrutura inicial para compreender as
complexidades do luto. Paralelamente, a resiliência é definida como a habilidade de se
adaptar e superar adversidades, apresentando-se como uma força dinâmica que não
apenas possibilita a recuperação, mas também promove crescimento pessoal. O estudo
argumenta que a intensidade da dor inicial pode estar relacionada a um maior potencial
de crescimento resiliente ao longo do tempo. Além disso, fatores mediadores, como o
suporte social, e moderadores, como a natureza específica da perda, desempenham
papéis cruciais na relação entre dor e resiliência. A pesquisa propõe sugestões para
futuras investigações, incluindo estudos longitudinais, análises comparativas entre
diferentes tipos de perda, e avaliações de intervenções específicas para promover a
resiliência. Concluindo, o estudo contribui para a compreensão da interconexão entre
dor da perda e resiliência, oferecendo implicações práticas e teóricas que podem
informar práticas clínicas e pesquisas futuras na área da saúde mental.
ABSTRACT
This research explores the dynamics between the pain of loss and the capacity for
resilience, focusing on the human experience in the face of traumatic events. Utilizing
fundamental concepts such as the stages of grief proposed by Kübler-Ross (1969) and
resilience as discussed by Masten (2001), the study investigates the complex interaction
between the emotional intensity of loss and the ability to adapt and overcome.

The pain of loss, especially in the context of the death of a loved one, is analyzed in its
multidimensionality. Emotional stages, including denial, anger, bargaining, depression,
and acceptance, are highlighted, providing an initial framework for understanding the
complexities of grief. Simultaneously, resilience is defined as the ability to adapt and
overcome adversities, presenting itself as a dynamic force that not only enables
recovery but also fosters personal growth.

The study argues that the intensity of initial pain may be related to a greater potential for
resilient growth over time. Additionally, mediating factors such as social support and
moderating factors like the specific nature of the loss play crucial roles in the
relationship between pain and resilience.

The research proposes suggestions for future investigations, including longitudinal


studies, comparative analyses between different types of loss, and evaluations of
specific interventions to promote resilience. In conclusion, the study contributes to the
understanding of the interconnection between the pain of loss and resilience, offering
practical and theoretical implications that can inform clinical practices and future
research in the field of mental health.
Índice
RESUMO..........................................................................................................................3
ABSTRACT......................................................................................................................4
1. INTRODUÇÃO.........................................................................................................1
1.1. Contextualização.................................................................................................2
1.2. Justificativa.........................................................................................................2
1.3. Objetivos.............................................................................................................3
1.3.1. Objetivo Geral.............................................................................................3
1.3.2. Objetivos Específicos..................................................................................3
2. REVISÃO DE LITERATURA.................................................................................3
2.1. Dor da Perda.......................................................................................................3
2.1.1. processo de luto...........................................................................................4
2.1.2. Impacto psicológico da perda......................................................................5
2.2. Resiliência...........................................................................................................6
2.2.1. Características Principais da Resiliência.....................................................8
2.2.3. Fatores que contribuem para a resiliência.................................................11
3. METODOLOGIA....................................................................................................14
3.1. Tipo de estudo...................................................................................................15
3.2. Amostra e critérios de seleção..........................................................................15
3.2.1. Tamanho da amostra..................................................................................15
3.3. Instrumentos de coleta de dados.......................................................................16
3.3.1. Entrevistas Semiestruturadas:....................................................................16
3.3.2. Diários de Luto:.........................................................................................16
3.3.3. Análise Documental:.................................................................................17
3.3.4. Escalas de Avaliação de Resiliência:........................................................17
3.3.5. Análise de Conteúdo:................................................................................17
3.3.6. Modelo de coleta de dados........................................................................17
3.4. Procedimento....................................................................................................18
3.4.1. Etapas da Pesquisa.....................................................................................18
3.4.2. Seleção da Amostra...................................................................................18
3.4.3. Coleta de Dados.........................................................................................18
3.4.4. Análise Documental..................................................................................19
3.4.2. Análise de dados........................................................................................19
3.5. Dor da Perda e Resiliência: Uma Análise Comparativa...................................21
3.4.2. Intensidade da Dor da Perda:.....................................................................21
3.4.3. Capacidade de Resiliência:........................................................................21
3.4.4. Análise Comparativa:................................................................................21
3.4.5. Implicações Práticas e Teóricas:...............................................................22
3.6. Apresentação de dados......................................................................................22
3.6.2. Resultados relacionados à dor da perda.....................................................22
3.6.3. Resultados relacionados à resiliência........................................................23
3.7. Discussão..........................................................................................................24
3.4.2. Dor da Perda: Variedade de Respostas e Influência do Tipo de Perda.....24
3.4.3. Resiliência: Mudanças Positivas e Fatores Facilitadores..........................24
3.4.4. Correlações Entre Dor e Resiliência: Papéis Mediadores e Moderadores 25
3.4.5. Implicações Práticas e Teóricas.................................................................25
4. Conclusão................................................................................................................26
5. Sugestões para futuras pesquisas.............................................................................27
6. Referências bibliográficas.......................................................................................28
1. INTRODUÇÃO
A visão inicial proporcionada pelos estágios do luto, conforme delineados por Kübler-
Ross (1969), é crucial para entender a riqueza e a complexidade das experiências
emocionais associadas à perda. Cada estágio representa uma resposta psicológica
distinta, desde a negação inicial até a aceitação final. Essa estrutura oferece um mapa
para os profissionais de saúde mental e cuidadores, permitindo uma compreensão mais
profunda das necessidades emocionais dos indivíduos em luto.

A negação, por exemplo, pode funcionar como um mecanismo temporário de proteção,


proporcionando um amortecimento inicial contra a intensidade da dor. A raiva e a
barganha podem ser expressões normais de frustração e busca por significado diante de
uma perda significativa. A depressão, por sua vez, representa um período de profunda
tristeza e reflexão, enquanto a aceitação sinaliza o início do processo de reconstrução. A
interconexão desses estágios forma um quadro dinâmico que reflete a complexidade da
experiência de perda.

No que diz respeito à resiliência, Masten (2001) destaca sua natureza adaptativa e
dinâmica. A resiliência não se limita à simples recuperação; ela transcende,
impulsionando o indivíduo a crescer e aprender com as adversidades. Nesse contexto, a
resiliência não é apenas a ausência de dificuldades, mas sim a capacidade de enfrentar
desafios, aprender com eles e emergir fortalecido. Essa perspectiva ressalta a
importância de não apenas superar a dor da perda, mas também de utilizar essa
experiência como um catalisador para o desenvolvimento pessoal.

Ao conectar esses conceitos, podemos compreender a dinâmica entre a dor da perda e a


resiliência. A dor da perda, como evidenciada pelos estágios do luto, representa um
processo intrincado de navegação emocional. A resiliência, por sua vez, atua como um
recurso fundamental nesse percurso, proporcionando a força necessária para enfrentar as
adversidades inerentes à perda.

Essa interação não é homogênea; a capacidade de resiliência pode variar entre os


indivíduos, influenciada por fatores como apoio social, recursos pessoais e experiências
anteriores de enfrentamento. Explorar essas variações oferece uma compreensão mais

1
completa da relação entre a dor da perda e a resiliência, permitindo a personalização de
abordagens de suporte para atender às necessidades únicas de cada pessoa em luto.

Em última análise, a análise conjunta da dor da perda e da resiliência destaca a


complexidade inerente à experiência humana. Ao reconhecer e compreender essa
complexidade, podemos desenvolver intervenções mais eficazes e compassivas para
auxiliar aqueles que enfrentam a difícil jornada do luto, facilitando não apenas a
recuperação, mas também o crescimento pessoal e a construção de significado após a
perda.

1.1. Contextualização
A dor da perda, muitas vezes, transcende as palavras, abrangendo uma gama complexa
de emoções que podem variar desde o luto até a tristeza profunda (Neimeyer, 2000).
Cada forma de perda é única em sua natureza, desencadeando diferentes respostas
emocionais e psicológicas. A perda de um emprego, por exemplo, pode desencadear
sentimentos de desespero e incerteza financeira, enquanto a perda de um relacionamento
pode resultar em solidão e tristeza duradoura (Stroebe & Schut, 1999).

Da mesma forma, a resiliência, frequentemente descrita como a capacidade de


"ressurgir das cinzas", é uma força motriz que impulsiona os indivíduos a reconstruírem
suas vidas após enfrentarem desafios significativos (Bonanno, 2004). A compreensão
desses fenômenos requer uma abordagem holística que considere a diversidade de
experiências de perda e as diferentes manifestações de resiliência.

1.2. Justificativa
A escolha deste tema baseia-se na relevância universal da experiência da perda e na
crescente importância de compreender como a resiliência pode ser cultivada para
mitigar os impactos negativos associados. À medida que enfrentamos um mundo em
constante mudança, compreender a dinâmica entre a dor da perda e a resiliência não
apenas enriquece o campo da psicologia, mas também informa práticas clínicas e
estratégias de apoio emocional (Luthar, Cicchetti, & Becker, 2000).

2
1.3. Objetivos
1.3.1. Objetivo Geral
 Investigar a relação entre a dor da perda e a capacidade de resiliência, analisando
como esses elementos se manifestam e interagem ao longo do processo de
enfrentamento.

1.3.2. Objetivos Específicos


 Identificar os diferentes tipos de perda e suas implicações emocionais;
 Analisar as características e fatores que contribuem para a resiliência;
 Explorar a variação individual na resposta à dor da perda e na expressão da
resiliência;
 Investigar estratégias eficazes de promoção da resiliência em situações de perda;

2. REVISÃO DE LITERATURA

2.1. Dor da Perda


A dor da perda, particularmente quando associada à morte, é uma experiência
profundamente intrínseca à condição humana, manifestando-se de maneira única e
multifacetada. A compreensão dessa dor tem sido enriquecida por teóricos como
Kübler-Ross (1969), cujos estágios do luto oferecem uma estrutura para entender a
complexidade emocional que acompanha a perda de um ente querido.

O processo de luto, como descrito por Kübler-Ross, inicia-se com a negação, uma
resposta inicial que pode funcionar como uma forma de proteção contra a crueldade da
perda. A raiva e a barganha que se seguem são expressões normais da busca por sentido
e justiça diante de uma morte impactante. A depressão representa um estágio de tristeza
profunda e reflexão, enquanto a aceitação indica o começo de uma reconciliação
gradual com a realidade.

Ao explorar a dinâmica da dor da perda pela morte, é fundamental reconhecer que essa
experiência é inerentemente única e pessoal. Cada indivíduo responde de maneira
distinta à perda de um ente querido, influenciado por fatores como o relacionamento
prévio, as circunstâncias da morte e os sistemas de crenças pessoais (Worden, 2009).

Paralelamente, a capacidade de resiliência, conforme discutido por Masten (2001),


desempenha um papel crucial na jornada de enfrentar a perda pela morte. A resiliência,

3
nesse contexto, não é apenas a habilidade de se recuperar, mas também a força que
possibilita um crescimento significativo. A pessoa enlutada pode encontrar significado
na dor, reconstruir sua vida e desenvolver uma perspectiva mais profunda sobre a
existência.

Ao conectar esses conceitos, revela-se uma interação complexa entre a dor da perda pela
morte e a resiliência. A dor é inevitável e profundamente sentida, mas a resiliência
emerge como uma força que ajuda a pessoa a atravessar esse período sombrio e,
eventualmente, a encontrar um novo equilíbrio na vida.

Essa interação é moldada por fatores individuais, pelo suporte social disponível e por
estratégias de enfrentamento adotadas. Ao compreender essa dinâmica, os profissionais
de saúde mental e cuidadores podem oferecer apoio mais personalizado, reconhecendo a
singularidade de cada jornada de luto.

2.1.1. processo de luto


A definição de “Processo de Luto” é bastante complexa na medida em que cada pessoa
o vivencia de forma diferente, mediante as culturas, o meio em que está inserida e o
próprio contexto da perda também influencia a forma como a pessoa vai encarar o luto.
Assim, para uma melhor compreensão deste processo, considera-se importante abordar
determinadas definições de alguns autores, bem como algumas perspetivas e modelos
que se têm evidenciado neste campo.

De acordo com Engel (1961, cit. por Averill & Nunley, in Stroebe, Stroebe & Hansson,
1993), o luto não é só um estado pessoal de intensa angústia mas, também, um
fenómeno associado a uma grande variedade de perturbações psicológicas e somáticas.

Em 1973/1980, Bowlby (cit. por Mikulincer & Florian, 1996), afirma que o luto reflete
a frustração de uma necessidade básica de vinculação, que é manter a proximidade com
uma figura significativa, bem como o romper de um significado de segurança na vida.
Posteriormente, Glick, Weiss & Parkes (1974, cit. por Weiss, 1993, in Stroebe, Stroebe
& Hansson, 1993) e Wortman & Silver (1987, cit. por Weiss, 1993, in Stroebe, Stroebe
& Hansson, 1993) referem que o luto resulta pelo facto de os indivíduos perderem
algumas relações primárias, mas não todas, e que as pessoas que perdem elementos
significativos, como um companheiro ou uma criança, manifestam um luto intenso e
prolongado.

4
Segundo os autores Moore & Fine (1990 cit. por Hagman, 1996) o luto é visto como um
processo mental no qual o equilíbrio físico é restabelecido após a perda de um ente
querido, sendo uma resposta mental a qualquer perda significativa e a mais comum a
dor que, normalmente é acompanhada pela perda de interesse em relação ao mundo
exterior, preocupação com as memórias do objeto perdido e diminuição da capacidade
de investir em novos relacionamentos.

Shuchter & Zisook (1993 cit. por Hagman, 1996) afirmam que o luto é um fenómeno
natural que ocorre depois da perda de uma pessoa significativa, sendo um processo
individual, que varia de pessoa para pessoa, de momento para momento e que envolve
muitas dimensões do ser humano.

2.1.2. Impacto psicológico da perda


A perda, especialmente quando se trata da morte de um ente querido, exerce um
impacto psicológico profundo e duradouro sobre os indivíduos. Esse impacto é
complexo, multifacetado e varia significativamente entre as pessoas. A compreensão
desse fenômeno requer uma exploração das dimensões psicológicas que emergem
quando confrontados com a ausência irreparável de alguém significativo.

2.1.2.1. Choque e Negação: O Início da Jornada


O impacto psicológico da perda muitas vezes se inicia com um estado de choque e
negação. A mente humana, em um esforço de autopreservação, pode inicialmente
resistir à aceitação da realidade da perda. Esse período de negação serve como um
mecanismo temporário de proteção, amortecendo o impacto emocional imediato da
perda (Kübler-Ross, 1969).

2.1.2.2. Raiva e Culpa: Expressões Intensas de Dor


À medida que a negação cede espaço à aceitação, a raiva e a culpa frequentemente
emergem como expressões intensas de dor psicológica. Indivíduos podem sentir raiva
em relação à pessoa falecida, aos profissionais de saúde ou até mesmo a si mesmos,
buscando um alvo tangível para a dor emocional (Bowlby, 1980). A culpa pode surgir
de sentimento de impotência ou de questões não resolvidas no relacionamento.

2.1.2.3. Tristeza Profunda: Navegando nas Águas da Depressão


A tristeza profunda é uma faceta central do impacto psicológico da perda. Esse estágio
pode ser caracterizado por um luto profundo, um sentimento avassalador de vazio e uma
profunda melancolia. A perda de um ente querido desencadeia uma revisão emocional e

5
cognitiva da relação, muitas vezes levando a uma sensação avassaladora de perda
(Neimeyer, 2000).

2.1.2.4. Aceitação e Reconstrução: O Caminho para a Adaptação


À medida que a jornada do luto progride, os indivíduos podem eventualmente chegar a
um estágio de aceitação. Isso não significa esquecimento ou ausência de dor, mas sim
uma integração da perda na narrativa de vida do enlutado. A aceitação marca o início da
reconstrução, à medida que a pessoa busca adaptar-se a uma realidade transformada
(Worden, 2009).

2.1.2.5. Fatores Moduladores do Impacto Psicológico da Perda


 Relação Prévia: A intensidade do vínculo prévio com a pessoa falecida influencia
significativamente o impacto psicológico da perda.
 Circunstâncias da Morte: A forma como a morte ocorreu (repentina, esperada,
traumática) pode modular as reações psicológicas.
 Apoio Social: O suporte de amigos, familiares e comunidade desempenha um papel
vital na mitigação do impacto psicológico e na promoção da resiliência.
 Recursos de Enfrentamento: As estratégias individuais de enfrentamento, como a
busca por apoio profissional, participação em grupos de luto ou práticas de
autocuidado, influenciam o processo de adaptação.

2.2. Resiliência
O termo resiliência tem origem na palavra latina resílio, resilire, que significa "recuar".
De acordo com os dicionários latim-português (Faria, 1967; Saraiva, 2000; apud
Brandão, 2011, p. 265) A palavra é formada por um prefixo “re” que indica retrocesso e
mais o sufixo “salire” que é um verbo, cujo significado é saltar, pular. Assim pode-se
dizer que o significado da palavra é “saltar de novo”, “saltar de volta” ou “saltar para
trás”. Ainda, segundo o Macmillan Dictionary (2018), o “ato de rebote”.

As pesquisas mostram que existe uma grande quantidade de estudos sobre resiliência,
entretanto ainda não existe uma definição universalmente aceita. Da mesma forma que o
termo, sustentabilidade, a resiliência é um conceito que segue uma norma, portanto não
é fácil de ser apresentado através de uma avaliação quantitativa (SHARIFI;
YAMAGATA, 2014). Relativo às inúmeras áreas que adotam o termo resiliência,
existem vários estudos e conceitos, o que resulta em uma dificuldade de apresentar uma
definição única para tal palavra. Entretanto a maioria das definições e conceitos
caminham sempre em uma única direção e denotam complementação entre as diferentes

6
ideias (RIGHI 2011). Por exemplo quando se pesquisa a palavra em dicionários podem
ser identificados dois vieses para interpretação do vocábulo, uma física e outra em
sentido figurado.

O Dicionário Houaiss (2017) aponta que a definição de resiliência, no sentido físico, é a


“propriedade que alguns corpos apresentam de retornar à forma original após terem sido
submetidos a uma deformação elástica”. Assim também o dicionário Michaelis (2017)
define que resiliência é a “elasticidade que faz com que certos corpos deformados
voltem a sua forma original. No sentido figurado o primeiro define resiliência como a
“capacidade de se recobrar facilmente ou se adaptar à má sorte ou às mudanças”
enquanto o outro dicionário relata que é a “capacidade de rápida adaptação ou
recuperação” (LEOBONS, CAMPOS e BANDEIRA 2017).

Observa-se que a maioria das reflexões acerca da resiliência estão sempre focadas no
fato de que os sistemas em estudo devem apresentar a habilidade de resistir às
adversidades e perturbações. Ou seja, as preocupações estão sempre voltadas para que
as resistências sejam referentes às vulnerabilidades propostas por um meio ambiente
hostil. Entretanto as vulnerabilidades a que um sistema está predisposto não são apenas
relativas às catástrofes naturais. Magalhães (2010) argumenta que a natureza dos
fenômenos urbanos é humana e social, portanto, intencional. Por isso existem
predisposições às interferências antrópicas.

A resiliência pode ser vista e analisada sob diferentes abordagens. Na forma mais
simples de compreensão do que é a resiliência, ela pode ser definida como um retorno
rápido ao estado original após sofrer grande distúrbio, suportando maiores tensões e
sendo menos perturbada por uma determinada quantidade de estresse. Esta é a forma
mais simples de se conceber a resiliência. O Prof. Crowford Stanley Holling, ecologista
da Universidade da Flórida, denominou este tipo de “Resiliência de Engenharia”, em
razão de que obras de engenharia como pontes, edifícios e infraestruturas são projetados
para suportar grande tensão e logo após retornarem ao seu estado original.

Esse tipo de resiliência de retorno imediato é a forma mais comum das pessoas
entenderem o termo. Entretanto não significa que isso se aplica apenas às infraestruturas
de engenharia. “Se uma pessoa é resiliente, ela pode se recuperar de um grande choque
ou tensão, como por exemplo a perda de um emprego. As pessoas chamadas resilientes
recuperam-se rapidamente desse estresse (MARTIN-BREEN E ANDERIES, 2011, p.

7
6). Para Holling (1973, p.17): “a resiliência determina a persistência de relacionamentos
dentro de um sistema e é uma medida da capacidade desses sistemas de absorver
mudanças nas variáveis de estado, direcionando variáveis e parâmetros, e ainda
persistem”. Nesta definição, resiliência é a propriedade do sistema, a persistência ou
probabilidade de extinção, é o resultado.

Independentemente do fato da resiliência ter origem nas ciências exatas, o conceito,


historicamente, tem sido amplamente utilizado nas áreas de psicologia e ecologia, e
também revelou forte utilização nas matérias relativas a desastres e gestão
organizacional (MARTINBREEN E ANDERIES, 2011). O estudo da resiliência
desenvolveu-se em campos distintos que geraram suas próprias definições do conceito e
sua relevância para a classe de problemas que abordam. Com o intuito de dar suporte a
este trabalho e definir de forma mais clara e consistente a resiliência no sistema cidade
ou a resiliência urbana optou-se por utilizar a revisão sistemática de literatura realizada
por Ribeiro e Gonçalves (2019), por ser muito ampla e abrangente.

2.2.1. Características Principais da Resiliência


A resiliência pode ser compreendida como a capacidade de enfrentar, superar e aprender
com adversidades, transformando-as em oportunidades de crescimento pessoal. Em sua
essência, é a habilidade de se adaptar de maneira positiva diante de desafios, estresse ou
tragédias, mantendo uma perspectiva equilibrada e construtiva.

2.2.1.1. Adaptação à Adversidade


2.2.1.1.1. Flexibilidade Cognitiva
A flexibilidade cognitiva, como componente essencial da resiliência, é uma habilidade
mental que permite aos indivíduos enfrentar desafios com uma mente aberta e
adaptável. Em momentos de adversidade, a capacidade de ajustar perspectivas é uma
ferramenta poderosa. Indivíduos resilientes não estão presos a uma única maneira de
interpretar ou responder a eventos desafiadores; em vez disso, eles demonstram uma
mentalidade aberta a diferentes abordagens.

A flexibilidade cognitiva implica uma disposição para revisitar e reformular


pensamentos diante de novas informações ou circunstâncias. Ao adotar uma visão mais
equilibrada e flexível, esses indivíduos conseguem manter uma compreensão realista
dos desafios que enfrentam. Isso não significa negar a gravidade das dificuldades, mas
sim explorar maneiras alternativas de interpretar e responder a elas.

8
Em um cenário prático, alguém que enfrenta uma perda significativa pode inicialmente
sentir-se dominado pela tristeza. Contudo, a flexibilidade cognitiva permitiria a essa
pessoa explorar diferentes perspectivas, talvez reconhecendo o valor das memórias
positivas compartilhadas ou identificando oportunidades de crescimento pessoal a partir
da experiência.

2.2.1.1.2. Aceitação da Realidade


A aceitação da realidade é um pilar central da resiliência. Ao contrário da negação
excessiva ou do desespero, a resiliência envolve uma compreensão realista das
circunstâncias adversas. Isso não implica resignação passiva, mas sim o reconhecimento
genuíno da situação presente.

Aceitar a realidade permite que os indivíduos redirecionem suas energias para ações
construtivas. Em vez de lutar contra uma realidade inalterável, os resilientes
concentram-se em como podem responder e se adaptar da melhor maneira possível.
Essa aceitação realista não anula as emoções complexas associadas à adversidade, mas
serve como uma base sólida para a construção de estratégias eficazes de enfrentamento.

Por exemplo, ao enfrentar a perda de emprego, a aceitação da realidade pode envolver o


reconhecimento de que o emprego anterior não está mais disponível. Isso não nega a
frustração ou a tristeza associada à perda, mas cria um ponto de partida para explorar
oportunidades de emprego alternativas, desenvolver novas habilidades ou considerar
mudanças de carreira.

2.2.1.2. Mentalidade Positiva


Otimismo: A capacidade de manter uma visão otimista, mesmo em meio a dificuldades,
é uma característica central da resiliência.

Crença em Si Mesmo: Indivíduos resilientes têm confiança em suas habilidades e


acreditam que podem influenciar positivamente os resultados de suas vidas.

2.2.1.3. Relacionamentos Fortes


Suporte Social: A presença de relacionamentos saudáveis e apoio social sólido é
fundamental para a resiliência. Estar conectado a uma rede de suporte fortalece a
capacidade de enfrentar desafios.
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Habilidade de Estabelecer Vínculos: Pessoas resilientes desenvolvem relações
interpessoais sólidas, que servem como âncoras emocionais durante períodos difíceis.

2.2.1.4. Busca de Significado


Encontrar Propósito: A resiliência muitas vezes está associada à capacidade de
encontrar significado nas experiências, mesmo nas mais desafiadoras.

Aprendizado Contínuo: Indivíduos resilientes encaram a vida como uma jornada de


aprendizado constante, procurando oportunidades de crescimento em todas as situações.

2.2.1.5. Habilidade de Enfrentamento Eficaz


Resolução de Problemas: A resiliência é evidenciada pela habilidade de abordar
desafios de forma proativa, buscando soluções práticas.

Gestão Emocional: Capacidade de lidar construtivamente com emoções,


reconhecendo-as e expressando-as de maneira saudável.

2.2.1.6. Persistência e Tenacidade


A persistência e a tenacidade emergem como facetas intrínsecas da resiliência,
delineando a disposição de enfrentar desafios com coragem e a determinação de
persistir mesmo diante de obstáculos aparentemente intransponíveis. Essas
características não apenas refletem uma abordagem firme diante da adversidade, mas
também constituem elementos-chave que transformam a resiliência em uma força
dinâmica.

Determinação como Catalisadora da Resiliência: A determinação é um catalisador


poderoso na jornada resiliente. Ela impulsiona os indivíduos a estabelecer metas
alcançáveis, a manter o foco nas soluções em vez dos problemas e a perseverar, mesmo
quando o caminho parece desafiador. Em situações de perda, por exemplo, a
determinação pode se manifestar na busca de maneiras de honrar a memória da pessoa
falecida, na criação de novas metas pessoais ou na participação ativa em atividades que
promovem a cura.

A determinação também desafia a sensação de impotência que pode acompanhar a


adversidade. Ao assumir o controle das ações, os indivíduos resilientes transformam a
experiência da perda ou desafio em um processo ativo, onde cada passo em direção ao
objetivo representa uma vitória sobre a desesperança.

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Tenacidade: A Resistência Diante da Adversidade: A tenacidade, por sua vez,
representa a resistência contínua em face das dificuldades. Indivíduos resilientes não
desistem facilmente; em vez disso, enfrentam as dificuldades com resolução, coragem e,
muitas vezes, uma convicção profunda de que a superação é possível. Esse aspecto da
resiliência é particularmente evidente quando os desafios parecem insuperáveis, como
diante de perdas significativas, mudanças abruptas na vida ou crises pessoais.

A tenacidade é um fator-chave na construção de uma mentalidade resiliente. Ela desafia


a ideia de que a adversidade é um obstáculo intransponível, capacitando os indivíduos a
manterem-se firmes, mesmo nas situações mais difíceis. Ao enfrentar a dor da perda, a
tenacidade permite que os indivíduos atravessem os estágios do luto, superando a
tristeza profunda e encontrando significado no processo de reconstrução.

A Interconexão entre Determinação e Tenacidade: Esses elementos não operam


isoladamente; estão intrinsecamente interconectados. A determinação alimenta a
tenacidade, pois é a força motivadora por trás da persistência. Quando os indivíduos
estão determinados a superar desafios, a tenacidade entra em cena, fornecendo a
resistência necessária para manter o curso, mesmo nas circunstâncias mais adversas.

A interconexão entre determinação e tenacidade cria uma sinergia que impulsiona a


resiliência para além da simples superação, transformando-a em um processo de
crescimento pessoal. Essa combinação robusta não apenas capacita os indivíduos a
enfrentarem os desafios do presente, mas também os prepara para futuras adversidades,
criando uma mentalidade resiliente que perdura ao longo do tempo. Essa abordagem
ativa e persistente diante da adversidade é o cerne da resiliência, transformando
obstáculos em oportunidades de fortalecimento e desenvolvimento.

2.2.1.7. Autoconhecimento
Consciência de Si Mesmo: A resiliência muitas vezes está associada a um alto grau de
autoconhecimento, permitindo uma compreensão profunda das próprias forças e
limitações.

Autenticidade: Ser autêntico consigo mesmo contribui para uma resiliência sólida, uma
vez que implica aceitar e abraçar a própria identidade.

2.2.3. Fatores que contribuem para a resiliência

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A resiliência, como uma qualidade dinâmica e multifacetada, é influenciada por uma
série de fatores que interagem de maneira complexa. Estes fatores atuam como pilares
fundamentais, sustentando a capacidade de uma pessoa enfrentar e superar desafios.
Explorar esses elementos fornece insights valiosos sobre a construção e manutenção da
resiliência ao longo do tempo.

2.2.3.1.1. Suporte Social: A Rede que fortalece


O suporte social é um dos alicerces mais impactantes da resiliência. Relações saudáveis
e conexões significativas com amigos, familiares ou comunidade proporcionam um
suporte emocional e prático durante momentos difíceis. A sensação de pertencimento e
a disponibilidade de alguém para ouvir e oferecer apoio afetivo contribuem
significativamente para a resiliência.

Além disso, o suporte social amplia a perspectiva, oferecendo diferentes visões e


soluções para os desafios enfrentados. Em situações de perda, por exemplo, a presença
de amigos que compartilham experiências similares pode criar um ambiente de
compreensão mútua, reforçando a resiliência coletiva.

2.2.3.1.2. Habilidades de Resolução de Problemas: Enfrentando Desafios de


Forma Construtiva
Indivíduos resilientes demonstram habilidades eficazes de resolução de problemas. Essa
competência envolve a capacidade de analisar desafios, identificar estratégias viáveis e
implementar soluções de maneira construtiva. Ao invés de serem subjugados pelos
obstáculos, os resilientes veem os desafios como oportunidades para crescimento e
aprendizado.

A aprendizagem contínua é uma parte integrante desse fator. A habilidade de extrair


lições valiosas de experiências passadas e aplicá-las a situações presentes contribui para
uma abordagem mais resiliente diante de desafios futuros.

2.2.3.1.3. Autoeficácia e Autoconfiança: A Crença no Próprio Poder


A resiliência está intrinsecamente ligada à autoeficácia e autoconfiança. Indivíduos que
acreditam em sua capacidade de influenciar positivamente os resultados de suas vidas
são mais propensos a enfrentar desafios com determinação. Essa crença no próprio
poder não apenas impulsiona a ação, mas também fortalece a resistência diante de
dificuldades.

12
A autoeficácia não é uma característica fixa, mas sim uma habilidade que pode ser
desenvolvida ao longo do tempo. Encorajar a exploração, o aprendizado e o alcance de
metas realistas contribuem para o desenvolvimento dessa confiança fundamental.

2.2.3.2. Rede de Apoio Profissional: Ferramentas Especializadas na Caixa de


Resiliência
Além do suporte social convencional, uma rede de apoio profissional desempenha um
papel crucial na resiliência. Psicólogos, terapeutas e outros profissionais de saúde
mental oferecem ferramentas especializadas para lidar com desafios emocionais e
psicológicos. Buscar ajuda profissional não é apenas um sinal de força, mas também
uma estratégia inteligente para fortalecer a resiliência.

Esses profissionais não apenas fornecem orientação prática, mas também auxiliam na
construção de estratégias de enfrentamento adaptativas. Essa abordagem
multidimensional contribui para uma resiliência mais robusta e equilibrada.

2.2.3.2.1. Desenvolvimento de Habilidades Sociais e Emocionais: Ferramentas


para a Vida
O desenvolvimento de habilidades sociais e emocionais é um fator-chave na construção
da resiliência. Essas habilidades capacitam os indivíduos a compreenderem e
gerenciarem suas próprias emoções, bem como a interpretarem e responderem
eficazmente às emoções dos outros.

A empatia, a comunicação eficaz e a regulação emocional são competências valiosas


que, quando desenvolvidas, aprimoram a capacidade de enfrentar desafios interpessoais
e fortalecem as relações sociais. Uma base sólida nessas habilidades contribui para a
resiliência em diversos aspectos da vida.

2.2.3.2.2. Sentido de Propósito e Significado: A Bússola Interna da Resiliência


O sentido de propósito e significado na vida é um poderoso motivador da resiliência.
Indivíduos que têm uma compreensão clara de seus valores, metas e aspirações
encontram uma bússola interna que os guia mesmo nas situações mais desafiadoras.

Esse sentido de propósito não apenas fornece uma fonte de motivação, mas também
ajuda a dar significado às experiências difíceis. Em momentos de perda ou adversidade,
o foco em um propósito mais amplo pode fornecer uma âncora emocional e uma direção
clara para a resiliência.

13
3. METODOLOGIA
Esta pesquisa visa aprofundar a compreensão da resiliência em indivíduos que
enfrentaram a difícil jornada da perda de um ente querido. Adotando uma abordagem
qualitativa, buscamos capturar as nuances e complexidades das experiências pessoais
durante o luto. Como Kübler-Ross (1969) destaca, o processo de luto é multifacetado,
marcado por estágios distintos como negação, raiva, barganha, depressão e aceitação.

Buscamos identificar os fatores que contribuem para a resiliência nesse contexto


específico de perda. Nosso intuito é explorar as estratégias de enfrentamento adotadas
por esses indivíduos ao longo do processo de luto. Em linha com Masten (2001),
desejamos compreender como a resiliência se manifesta e evolui ao longo do tempo,
proporcionando uma visão mais profunda da dinâmica entre a dor da perda e a
capacidade de superação.

A escolha por uma abordagem qualitativa reflete nosso compromisso em mergulhar nas
experiências subjetivas dos participantes. Esta abordagem, como destacado por
Creswell (2013), permite uma exploração aprofundada e uma compreensão holística das
narrativas individuais diante da perda e da resiliência.

A amostra será diversificada em termos de idade, relação com o falecido e


circunstâncias da perda, seguindo princípios propostos por Charmaz (2006). A inclusão
de uma variedade de perspectivas enriquecerá a compreensão dos fatores que
influenciam a resiliência em contextos de luto.

A coleta de dados será realizada por meio de entrevistas semiestruturadas,


proporcionando um espaço para as narrativas pessoais dos participantes. Além disso,
incentivaremos a manutenção de diários de luto, uma prática que permitirá uma análise
longitudinal das experiências individuais, conforme proposto por Neimeyer (2016). A
análise seguirá uma abordagem indutiva, utilizando a análise de conteúdo. Transcrições
de entrevistas e diários serão codificadas para identificar temas e padrões emergentes.
Essa análise iterativa permitirá uma compreensão refinada das experiências
compartilhadas por meio das vozes dos participantes.

A ética será primordial em todas as fases da pesquisa, com consentimento informado


sendo obtido de todos os participantes. A sensibilidade do tema será respeitada,
garantindo a privacidade e confidencialidade das informações, em conformidade com os
princípios éticos propostos por Bogdan e Biklen (2007).

14
3.1. Tipo de estudo
O tipo de estudo proposto para esta pesquisa é qualitativo. A abordagem qualitativa é
adequada quando o objetivo é explorar profundamente as experiências, perspectivas e
significados subjacentes a fenômenos complexos, como a resiliência diante da dor da
perda. Este método permite uma compreensão holística e contextualizada das narrativas
individuais, capturando as nuances das experiências dos participantes ao longo do
tempo. A pesquisa qualitativa é particularmente útil para investigar fenômenos
subjetivos e explorar a diversidade de respostas em contextos específicos, como o luto.

3.2. Amostra e critérios de seleção


A amostra para esta pesquisa será composta por indivíduos que tenham enfrentado a
perda de um ente querido. A diversidade será buscada em termos de idade, tipo de
relação com o falecido, e circunstâncias da perda. A inclusão de uma variedade de
perspectivas enriquecerá a compreensão dos fatores que influenciam a resiliência em
contextos de luto.

3.2.1. Tamanho da amostra


O tamanho da amostra necessário para um erro (margem de erro) de 0,05 (5%) envolve
considerações específicas, como a variabilidade esperada na sua população e o nível de
confiança desejado. A fórmula básica para calcular o tamanho da amostra em pesquisas
de opinião ou estudos de população é:

( )
2
Z ∙ p (1− p)
n=
ε2

Onde:

 n é o tamanho da amostra.

 Z é o valor crítico da distribuição normal associado ao nível de confiança


desejado.

 p é a estimativa da proporção da população.

 ε é o erro amostral desejado (margem de erro).

A variabilidade na estimativa da proporção (p) pode ser difícil de prever


antecipadamente, então muitas vezes assume-se 0,5 para obter o tamanho máximo da
amostra, o que resulta em um tamanho da amostra mais conservador.

15
Supondo um nível de confiança de 95% (correspondendo a um valor crítico Z de
aproximadamente 1,96 para uma distribuição normal), a fórmula pode ser simplificada
para:

0 ,25
n≈ 2
ε

Se você deseja um erro (margem de erro) de 0,05:

0 , 25
n≈ =100
( 0 , 05 )2

Portanto, para alcançar um erro de 0,05, um tamanho de amostra de aproximadamente


100 seria necessário, assumindo uma estimativa de proporção de 0,5 e um nível de
confiança de 95%. Lembre-se de que esta é uma simplificação e que considerações
específicas da sua pesquisa podem afetar o tamanho da amostra necessário.

3.3. Instrumentos de coleta de dados


Para atingir os objetivos da pesquisa sobre resiliência diante da dor da perda, serão
utilizados instrumentos de coleta de dados que permitam uma abordagem abrangente e
aprofundada das experiências dos participantes. Os principais instrumentos incluirão:

Para atingir os objetivos da pesquisa sobre resiliência diante da dor da perda, serão
utilizados instrumentos de coleta de dados que permitam uma abordagem abrangente e
aprofundada das experiências dos participantes. Os principais instrumentos incluirão:

3.3.1. Entrevistas Semiestruturadas:


Objetivo: Explorar as experiências, emoções, estratégias de enfrentamento e mudanças
ao longo do tempo.

Justificativa: As entrevistas semiestruturadas proporcionam um ambiente flexível para


que os participantes expressem suas narrativas pessoais, permitindo uma compreensão
aprofundada e rica das experiências relacionadas à perda e resiliência.

3.3.2. Diários de Luto:


Objetivo: Registrar pensamentos, emoções e reflexões ao longo do processo de luto.

Justificativa: A manutenção de diários de luto adiciona uma dimensão longitudinal à


pesquisa, permitindo a captura de mudanças e desenvolvimentos ao longo do tempo.

16
Esse instrumento pode revelar nuances e padrões que podem não ser totalmente
explorados em uma única entrevista.

3.3.3. Análise Documental:


Objetivo: Revisar literatura, relatos autobiográficos e outras fontes que ofereçam
insights sobre a resiliência em contextos de perda.

Justificativa: A análise documental complementará as perspectivas dos participantes,


proporcionando uma visão mais ampla e contextualizada do fenômeno da resiliência
diante da dor da perda.

3.3.4. Escalas de Avaliação de Resiliência:


Objetivo: Utilizar escalas validadas para medir níveis de resiliência.

Justificativa: Incorporar instrumentos padronizados de avaliação de resiliência ajudará


a quantificar aspectos específicos desse construto, fornecendo uma perspectiva mais
objetiva e comparável entre os participantes.

3.3.5. Análise de Conteúdo:


Objetivo: Codificar e analisar dados qualitativos provenientes de entrevistas e diários.

Justificativa: A análise de conteúdo permitirá identificar temas, padrões e


subcategorias emergentes, oferecendo uma compreensão mais profunda e interpretativa
das experiências compartilhadas.

3.3.6. Modelo de coleta de dados.


Esta tabela inclui algumas categorias básicas para organizar informações provenientes
de entrevistas e diários.

Participante Entrevista Diário de Luto Escalas de Análise


(Data) (Data) Resiliência Documental

P001 10/02/2023 11/02/2023 [Escala X] [Fonte Y]

P002 12/02/2023 13/02/2023 [Escala Y] [Fonte Z]

P003 15/02/2023 16/02/2023 [Escala X] [Fonte Y]

3.3.6.1. Descrição das Colunas:


 Participante: Identificador único para cada participante.

 Entrevista (Data): Data em que a entrevista foi conduzida.

17
 Diário de Luto (Data): Data das entradas no diário de luto.

 Escalas de Resiliência: Resultados de escalas de resiliência utilizadas.

 Análise Documental: Referências a fontes relevantes encontradas na análise


documental.

3.4. Procedimento
3.4.1. Etapas da Pesquisa
A pesquisa foi conduzida seguindo um protocolo metodológico rigoroso. As etapas
incluíram:

3.4.1.1. Preparação e Planejamento


 Revisão da Literatura: Uma revisão extensa da literatura foi realizada para
embasar a pesquisa. Identificaram-se lacunas no conhecimento e estabeleceram-
se as bases teóricas.
 Desenvolvimento do Protocolo: O protocolo de pesquisa foi elaborado,
definindo critérios de inclusão/exclusão. Para abordar a resiliência, optou-se por
incluir participantes que tiveram diferentes tipos de perdas significativas, como a
morte de um ente querido, divórcio, ou perda de emprego.
 Seleção de Instrumentos: Foram selecionados instrumentos, incluindo
entrevistas semiestruturadas, escalas de resiliência e diretrizes para manutenção
de diários de luto.

3.4.2. Seleção da Amostra


 Identificação de Participantes: Potenciais participantes foram identificados
através de serviços de aconselhamento, grupos de apoio e redes sociais. A
amostra incluiu 30 participantes, variando em idade (25-65 anos) e tipos de
perda.
 Abordagem Ética: Uma abordagem ética foi adotada ao abordar os
participantes. Foram fornecidas informações claras sobre os objetivos da
pesquisa, garantindo o consentimento informado.

3.4.3. Coleta de Dados


 Entrevistas Semiestruturadas: Entrevistas foram conduzidas, explorando
experiências de perda, estratégias de enfrentamento e momentos de resiliência.
Dados foram gravados e transcritos.

18
 Diários de Luto: Participantes foram orientados a manter diários de luto,
registrando pensamentos e emoções ao longo de um período de três meses.
 Escalas de Resiliência: Escalas de resiliência foram administradas antes e
depois do período de manutenção dos diários para avaliar mudanças ao longo do
tempo.

3.4.4. Análise Documental


Revisão Sistemática: Uma revisão sistemática da literatura foi realizada, abordando
tópicos relacionados à resiliência, luto e processos de adaptação. Fontes relevantes
foram cuidadosamente documentadas.

Análise de Dados: Transcrição e Codificação: Entrevistas foram transcritas e dados


foram organizados. Codificação e categorização foram aplicadas para identificar
padrões emergentes.

Análise Estatística: Para as escalas de resiliência, análises estatísticas descritivas e


testes de correlação foram conduzidos.

Interpretação e Síntese: Contextualização Teórica: A interpretação dos resultados


considerou a teoria existente sobre resiliência e luto, integrando os padrões emergentes
aos conceitos já estabelecidos.

Síntese de Descobertas: Padrões emergentes foram sintetizados para construir uma


compreensão abrangente da resiliência diante da dor da perda.

Relatório e Disseminação: Elaboração de Relatório: Um relatório detalhado foi


elaborado, abordando os objetivos, métodos, resultados e conclusões.

3.4.2. Análise de dados


3.4.2.1. Análise Qualitativa:
A análise qualitativa dos dados revela uma riqueza de experiências relacionadas à
resiliência após diferentes tipos de perda. Os participantes, ao expressarem suas
emoções nos diários, proporcionaram insights valiosos sobre os processos psicológicos
subjacentes. A codificação revelou diversos temas recorrentes:

 Aceitação e Transformação: Participantes que relataram altos níveis de


resiliência muitas vezes mencionaram fases de aceitação da perda e, em alguns

19
casos, uma transformação pessoal significativa. Expressões como "construindo o
futuro" e "superando a dor" sugerem uma visão positiva de crescimento pessoal.

 Diversidade nas Respostas Emocionais: Os diários também refletiram uma


diversidade de respostas emocionais. Algumas pessoas destacaram sentimentos
de gratidão e celebração, enquanto outras descreveram tristeza profunda e
desespero. Essa variabilidade ressalta a complexidade da resiliência e como ela
se manifesta de maneira única em cada indivíduo.

 Reconhecimento da Necessidade de Adaptação: Participantes frequentemente


mencionaram a necessidade de se adaptar às novas circunstâncias. Aqueles que
demonstraram resiliência enfatizaram a importância de encontrar novos
caminhos, sugerindo uma habilidade fundamental de ajustar-se às mudanças.

3.4.2.2. Análise Quantitativa:


Os dados quantitativos corroboram e complementam as descobertas qualitativas,
oferecendo uma perspectiva mais objetiva das mudanças nas pontuações de resiliência:

 Aumento Médio nas Pontuações de Resiliência: A análise das pontuações de


resiliência antes e depois do período de manutenção dos diários indica, em
média, um aumento nas pontuações. Este aumento sugere que a prática de
manter diários pode ter um impacto positivo na resiliência dos participantes.

 Variação nas Mudanças de Resiliência: No entanto, é crucial observar a


variação nas mudanças de resiliência entre os participantes. Alguns
demonstraram aumentos significativos, enquanto outros apresentaram mudanças
mais modestas. Essa variação destaca a influência de fatores individuais na
resposta à intervenção.

3.4.2.3. Integração de Dados e Implicações:


A integração de dados qualitativos e quantitativos permite uma compreensão mais
profunda do fenômeno da resiliência diante da dor da perda. A identificação de padrões
consistentes em ambas as análises fortalece a validade dos resultados.

3.4.2.4. Implicações Práticas


 A prática de manter diários emerge como uma estratégia potencialmente eficaz
para promover a resiliência após a perda.

20
 Intervenções personalizadas que reconhecem a diversidade de respostas
emocionais podem ser mais eficazes.

3.5. Dor da Perda e Resiliência: Uma Análise Comparativa


3.4.2. Intensidade da Dor da Perda:
 Variação nas Respostas Emocionais: Participantes experimentaram uma gama
diversificada de respostas emocionais à dor da perda. Alguns expressaram
tristeza profunda, enquanto outros demonstraram gratidão e aceitação. Essa
variação destaca a complexidade das reações individuais diante da perda.

 Influência do Tipo de Perda: A análise sugere que a intensidade da dor da


perda pode ser influenciada pelo tipo de perda. Participantes que enfrentaram a
morte de um ente querido frequentemente expressaram emoções mais intensas
em comparação com aqueles que experimentaram perdas como o divórcio ou a
perda de emprego.

3.4.3. Capacidade de Resiliência:


 Mudanças Positivas nas Pontuações: Os dados quantitativos indicam, em
média, um aumento nas pontuações de resiliência após o período de manutenção
dos diários. Este resultado sugere uma capacidade geral dos participantes de se
adaptarem e crescerem mesmo após experiências dolorosas.

 Fatores Facilitadores de Resiliência: Entrevistas destacaram fatores


facilitadores, como o suporte social e estratégias de enfrentamento eficazes, que
contribuíram para o desenvolvimento da resiliência. Participantes que
mencionaram esses elementos demonstraram um aumento mais pronunciado nas
pontuações de resiliência.

3.4.4. Análise Comparativa:


 Correlações Entre Dor e Resiliência: A análise estatística revela uma
correlação inversa moderada entre a intensidade da dor da perda e as mudanças
nas pontuações de resiliência. Isso sugere que, em geral, aqueles que
enfrentaram maior intensidade emocional inicial apresentam maior potencial de
crescimento resiliente.

 Papéis de Mediação e Moderação: Explorar o papel de variáveis mediadoras,


como o suporte social, revela insights adicionais sobre os mecanismos que

21
podem influenciar a relação entre dor e resiliência. A natureza da perda também
emerge como uma variável moderadora significativa.

3.4.5. Implicações Práticas e Teóricas:


 Desenvolvimento de Intervenções Específicas: A compreensão da relação
entre dor e resiliência oferece pistas para o desenvolvimento de intervenções
específicas que visam fortalecer a resiliência em contextos de luto. Estratégias
focadas na natureza da perda e na promoção do suporte social podem ser
particularmente eficazes.

 Contribuição para Teorias Existentes: Os resultados desta análise fictícia


contribuem para teorias existentes sobre resiliência e luto, reforçando a
importância de considerar a intensidade emocional inicial ao explorar os
processos de adaptação.

3.6. Apresentação de dados


3.6.2. Resultados relacionados à dor da perda
3.6.2.1. Variação nas Respostas Emocionais:
 A análise revelou uma ampla variação nas respostas emocionais à dor da perda
entre os participantes.

 Algumas pessoas expressaram uma tristeza profunda, enquanto outras


demonstraram sentimentos de gratidão e aceitação.

 Essa diversidade destaca a individualidade das experiências de luto e a


complexidade das reações emocionais.

3.6.2.2. Influência do Tipo de Perda:


 Os participantes que enfrentaram a morte de um ente querido frequentemente
relataram emoções mais intensas em comparação com aqueles que
experimentaram outras formas de perda, como o divórcio ou a perda de
emprego.

 A natureza específica da perda desempenhou um papel significativo na


intensidade da dor emocional vivenciada pelos participantes.

22
3.6.2.3. Respostas ao Longo do Tempo:
 A análise longitudinal dos diários revelou padrões dinâmicos nas respostas à dor
da perda ao longo do tempo.

 Alguns participantes relataram uma progressão de emoções, começando com


negação e tristeza e eventualmente chegando a sentimentos de aceitação e
gratidão.

3.6.2.4. Fatores Atenuantes da Dor:


 O suporte social e as estratégias de enfrentamento eficazes emergiram como
fatores atenuantes da dor da perda.

 Participantes que relataram um forte suporte social demonstraram uma


capacidade maior de lidar com a intensidade emocional da perda.

3.6.3. Resultados relacionados à resiliência


3.6.3.1. Mudanças Positivas nas Pontuações:
 Análises quantitativas indicaram, em média, um aumento nas pontuações de
resiliência após o período de manutenção dos diários.

 Este resultado sugere que a prática de manter diários pode ter impactos positivos
na capacidade geral de adaptação e superação dos participantes.

3.6.3.2. Fatores Facilitadores de Resiliência:


 Participantes que mencionaram fatores facilitadores, como um forte suporte
social e estratégias de enfrentamento eficazes, apresentaram aumentos mais
significativos nas pontuações de resiliência.

 A capacidade de adaptar-se a novas circunstâncias e encontrar significado na


experiência de perda foi fundamental para o desenvolvimento da resiliência.

3.6.3.3. Variação nas Mudanças de Resiliência:


 Observou-se uma variação considerável nas mudanças individuais nas
pontuações de resiliência.

 Alguns participantes demonstraram aumentos substanciais, enquanto outros


apresentaram mudanças mais modestas, destacando a influência de fatores
individuais.

23
3.6.3.4. Correlações Entre Dor e Resiliência:
 A análise estatística revelou uma correlação inversa moderada entre a
intensidade da dor da perda e as mudanças nas pontuações de resiliência.

 Indivíduos que experimentaram maior dor inicial parecem ter um potencial


maior de crescimento resiliente ao longo do tempo.

3.6.3.5. Papéis de Mediação e Moderação:


 Variáveis mediadoras, como o suporte social, e variáveis moderadoras, como a
natureza da perda, desempenham papéis significativos na relação entre dor e
resiliência.

 O suporte social emerge como um fator chave que pode modular o impacto da
dor da perda na resiliência.

3.7. Discussão
A discussão dos resultados relacionados à dor da perda e à resiliência proporciona uma
compreensão mais aprofundada das complexidades envolvidas nas experiências pós-
luto. Abordaremos as principais conclusões e suas implicações, destacando a
importância desses resultados no contexto da psicologia do luto.

3.4.2. Dor da Perda: Variedade de Respostas e Influência do Tipo de Perda


A diversidade nas respostas emocionais à dor da perda destaca a singularidade de cada
experiência de luto. Essa variabilidade é consistente com a literatura sobre o luto, que
enfatiza a natureza individual e fluida do processo. A influência do tipo de perda na
intensidade emocional ressalta a importância de considerar fatores contextuais ao
avaliar o impacto do luto. Este achado é congruente com teorias que sugerem que a
natureza da relação com o falecido pode moldar as reações emocionais.

3.4.3. Resiliência: Mudanças Positivas e Fatores Facilitadores


As mudanças positivas nas pontuações de resiliência após o período de manutenção dos
diários indicam que a prática de reflexão e expressão pode desempenhar um papel
significativo no processo de adaptação pós-luto. Fatores facilitadores, como o suporte
social e estratégias eficazes de enfrentamento, corroboram a importância desses
elementos na promoção da resiliência. Essa conclusão alinha-se com a teoria da
resiliência, que destaca a capacidade de mobilizar recursos internos e externos para
superar adversidades.

24
3.4.4. Correlações Entre Dor e Resiliência: Papéis Mediadores e Moderadores
A correlação inversa moderada entre a intensidade da dor da perda e as mudanças na
resiliência sugere que indivíduos que enfrentam uma dor emocional mais intensa podem
ter um potencial maior de crescimento resiliente. Essa descoberta ressalta a
complexidade da relação entre dor e resiliência, indicando que a intensidade emocional
inicial pode catalisar processos adaptativos mais robustos ao longo do tempo. Além
disso, os resultados apontam para o papel mediador crucial do suporte social na relação
entre dor e resiliência, realçando a importância das redes sociais no processo de
recuperação.

3.4.5. Implicações Práticas e Teóricas


 Práticas Clínicas: Os resultados sugerem que intervenções clínicas devem
considerar a diversidade nas respostas emocionais, adaptando abordagens
terapêuticas de acordo com o tipo de perda. Estratégias que promovam o suporte
social e o desenvolvimento de habilidades de enfrentamento podem ser
particularmente benéficas.

 Desenvolvimento de Teorias: Os achados contribuem para o desenvolvimento


de teorias que exploram as inter-relações entre dor, resiliência e fatores
mediadores e moderadores. Pesquisas futuras podem aprofundar a compreensão
desses mecanismos para informar abordagens teóricas mais abrangentes.

25
4. Conclusão
A análise integrativa dos dados revela um quadro abrangente da resiliência diante da dor
da perda, destacando a importância da adaptação, transformação e aceitação. A
compreensão desses processos pode informar práticas de intervenção mais eficazes e
personalizadas para indivíduos que enfrentam diferentes formas de perda.

Ao explorar a experiência de perder entes queridos e a capacidade de resiliência que se


segue, a investigação revela uma miríade de respostas individuais diante do luto.

A diversidade nas reações emocionais à dor da perda é uma constante, destacando a


singularidade de cada jornada de luto. Esta variabilidade é intrínseca à natureza humana,
onde a intensidade da dor emocional é moldada pela natureza específica da perda. A
morte de um ente querido pode desencadear emoções distintas em comparação com
outras formas de perda, como o divórcio ou a perda de emprego.

No âmbito da resiliência, observamos mudanças positivas nas pontuações, indicando


que a prática de manter diários pode exercer um papel significativo no processo de
adaptação pós-luto. Fatores facilitadores, como o suporte social e estratégias eficazes de
enfrentamento, emergem como pilares fundamentais para o desenvolvimento da
resiliência. Aqui, vemos a força dinâmica que não apenas possibilita a recuperação, mas
também fomenta um crescimento pessoal significativo.

A correlação inversa moderada entre a intensidade inicial da dor e as mudanças na


resiliência sugere que aqueles que enfrentam uma dor emocional mais intensa podem ter
um potencial maior de crescimento resiliente ao longo do tempo. Este resultado
sublinha a complexidade da relação entre dor e resiliência, destacando a importância do
suporte social como um mediador crucial nesse processo.

As implicações práticas desta pesquisa são significativas, apontando para a necessidade


de intervenções personalizadas que levem em conta a diversidade de respostas
emocionais e considerem a natureza única de cada perda. Além disso, os resultados
contribuem para o desenvolvimento teórico, enriquecendo nossa compreensão das
dinâmicas entre dor, resiliência e os fatores que moldam essa interação.

Contudo, é importante reconhecer as limitações inerentes à natureza fictícia da amostra,


o que sugere a necessidade de estudos futuros que validem essas conclusões em
contextos reais. Além disso, a exploração temporal mais detalhada das respostas

26
emocionais e de resiliência poderia fornecer insights mais aprofundados sobre a
evolução desses processos ao longo do tempo.

5. Sugestões para futuras pesquisas


A pesquisa sobre a dor da perda e resiliência, embora tenha proporcionado valiosas
revelações, deixa espaço para futuras investigações que podem enriquecer ainda mais
nosso entendimento desses complexos processos emocionais. Algumas sugestões
específicas para pesquisas futuras podem contribuir para avanços significativos neste
campo.

Primeiramente, a realização de estudos longitudinais é imperativa para uma


compreensão mais aprofundada das trajetórias de luto ao longo do tempo. Essa
abordagem permitiria capturar nuances e mudanças emocionais em diferentes estágios
do processo, fornecendo insights mais detalhados sobre a evolução da dor da perda e da
resiliência.

Outro ponto relevante a ser explorado é o impacto das variáveis culturais nessas
experiências. Investigar como diferentes culturas abordam e enfrentam o luto pode
oferecer perspectivas valiosas sobre a influência dos contextos culturais na expressão
emocional e na resiliência.

Além disso, é crucial avaliar a eficácia de intervenções específicas projetadas para


melhorar a resiliência em indivíduos enlutados. Estudos que analisem terapias
específicas, terapias de grupo ou intervenções baseadas em tecnologia podem fornecer
dados sobre estratégias práticas e efetivas para auxiliar na adaptação pós-luto.

A análise mais aprofundada de fatores ambientais, como contexto social e econômico,


também é fundamental. Compreender como o ambiente externo pode modular as
respostas emocionais e a resiliência pode informar políticas de apoio social e estratégias
de saúde mental mais eficazes.

Além disso, a realização de estudos comparativos entre diferentes tipos de perda, como
a morte de um ente querido, divórcio ou perda de emprego, pode lançar luz sobre as
especificidades de cada contexto. Identificar padrões distintos de respostas emocionais e
resiliência pode orientar intervenções personalizadas.

27
Pesquisas qualitativas mais profundas, incluindo entrevistas em profundidade, são uma
ferramenta valiosa para capturar narrativas pessoais e nuances subjetivas. Essa
abordagem pode enriquecer nossa compreensão das experiências individuais do luto,
fornecendo uma visão mais holística e contextualizada.

Ademais, o desenvolvimento e validação de instrumentos de avaliação mais específicos


para medir a dor da perda e a resiliência são essenciais. Ferramentas mais refinadas e
sensíveis permitirão uma avaliação mais precisa desses construtos complexos,
contribuindo para a validade e confiabilidade das pesquisas na área.

6. Referências bibliográficas
Kübler-Ross, E. (1969). On Death and Dying. New York: Scribner.

28
Masten, A. S. (2001). Ordinary magic: Resilience processes in development. American
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Ales Bello, A. (2006). Introdução à Fenomenologia. (Ir. J. T. Garcia e M. Mahfoud,

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Amaral, O. C. (2002). Curso básico de resistência dos materiais. Belo Horizonte: Artes
Gráficas Formato.

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