Prólogo - Onde tudo começou.

Era Jiang, ano 89, pequena aldeia desconhecida.

“Ei! Volta aqui!” Gritava um garotinho. Seu grito era para outro garotinho logo à frente, que
também estava correndo. O outro garotinho deu uma olhada para trás, apenas para ver que
a distância entre eles aumentava. Abriu um sorriso sincero no rosto e gritou de longe, vendo
o amigo bufar de cansaço: “Ahahahaha, você não me pega!”

Não muito longe deles, haviam duas mulheres os observando-os: “Eles me lembram de
antigamente, quando tudo era mais simples…” A outra também esboçou uma pequena
felicidade: “Sim, nós éramos tão inocentes. Fico feliz que eles possam viver numa época de
paz e prosperidade.”

Ouvindo as últimas palavras de sua companheira, ela não pôde deixar de comentar:
“Espero que aquele tempo nunca mais volte sobre nós…”

“Também espero.”

“You! Aquela não é sua mãe?!” O garotinho mais distante gritou. O outro olhou de volta para
frente e se assustou, era realmente a mãe dele. Ele não deveria estar alí, como um possível
herdeiro do Clã Qing, ele era cotidianamente obrigado a estudar e treinar muito mais que os
outros. Se sua mãe ou pai descobrisse que ele estava brincando ao invés de focar no que
realmente importava, estaria tudo acabado pra ele.

Com uma cara de espanto, soltou: “M-Mãe? O que a senhora tá fazendo aqui essa hora?”
Mesmo tentando bajular, seus olhos já diziam mais que sua boca. Com um olhar
amedrontador, ela pôs as mãos na cintura e disse com uma voz bem irritada: “Eu já não te
avisei antes! Se eu pegasse você matando aula mais uma vez, iria te colocar no jeito de
uma vez por todas!”

O garoto deu um passo para trás, suas mãos tremiam e o suor frio começou a escorrer em
sua coluna “Eu posso explicar!”. Ouvindo aquilo, ela mostrou um sorriso debochado: “Ah…
Sério? Me explica então, vou adorar escutar. Seu pai também vai ficar muito orgulhoso. O
que será que meu nobre filho fez dessa vez? Aprendeu alguma técnica nova? Quebrou um
gargalo na cultivação? Ou… Ainda melhor, descobriu algo que ninguém do clã sabe, algo
que poderia mudar completamente nossa situação?”

“E-E-u….” O garotinho travou, ele não sabia como responder, então escolheu o silêncio. No
mesmo momento, a mãe pegou ele pelo braço e disse, enquanto o puxava: “Vamos para
casa, agora!”

À distância, o outro garotinho assistia àquela cena com olhos tristes. Ele sabia muito bem
da posição de seu amigo e, mesmo assim, o chamou para brincar. No fundo, ele só queria
se divertir um pouco, mas não esperava que a diversão dele iria custar a felicidade de outra
pessoa. Mesmo numa idade tão jovem, onde não poderia entender exatamente aquele tipo
de sentimento, ainda assim, uma espécie de culpa cresceu dentro de si.
Mas, ao contrário do que esperava, o outro garotinho, já as lágrimas, virou o rosto mais uma
vez e gritou, acenando: “Shen! Eu vou ter que fazer umas coisinhas, mais tarde a gente
brinca de novo! Hehe!” Seu sorriso era tão puro que tirou aquela sensação estranha do
coração do garoto. Ele também riu alegremente: “Ahahaha, claro! Da próxima vez eu vou
com velocidade total, você vai ficar comendo poeira!”

A mãe só deu uma olhada fria com os cantos dos olhos. Quando eles já se distanciaram um
pouco mais, ela comentou baixinho: “Filho, você sabe que não pode fazer este tipo de
coisa. Nós somos especiais para as pessoas da aldeia, você tem que ter foco e
determinação se quiser, algum dia, assumir o mesmo lugar que seu pai.”

Ele assentiu com a cabeça: “Eu sei, eu sei, mas eu queria me divertir um pouco. Todo dia
estudando e cultivando não é para mim, eu preciso fazer outras coisas também. Todas as
crianças da aldeia estão por aí, correndo, brincando, se sujando enquanto eu fico trancado
em casa.” Apesar de ainda estar com um pouco de medo com o que aconteceria depois,
sua honestidade era tão clara quanto o sol do meio-dia.

“Tsc!” Ela, com um olhar decepcionado, novamente o reprimiu: “Você não entende em que
posição está, não é mesmo? Você é diferente das outras crianças, especialmente daquele
moleque nojento que você estava ‘brincando’. Se coloque no seu lugar, eu não quero mais
ter que conversar sobre isso contigo. Estamos entendidos?”

Mesmo com a tristeza invadindo seu corpo, ele assentiu com a cabeça novamente: “Tudo
bem… desculpe.” Ela finalmente demonstrou um pouco de alegria e pegou na mão dele:
“Ainda bem que entende, You. Finalmente estamos começando a caminhar novamente.”

O dia foi escurecendo e a noite foi surgindo. O outro garotinho estava sentado do lado de
fora de casa, esperando pelo retorno de seu amigo, retorno este que, infelizmente, nunca
aconteceu. Dentro de si, ele já estava ciente que isto iria acontecer, porém, mesmo assim,
resolveu aguardar ali, para caso ele voltasse, os dois pudessem passar mais tempo juntos.

‘O que será que ele tá fazendo agora?’ O garotinho finalmente entrou em sua casa.

“Você voltou tarde hoje, o que aconteceu?” Uma voz doce e gentil soou assim que ele
fechou a porta, era sua mãe. Ao lado dela, estava um homem alto e de aparência mediana,
com a barba por fazer. Ele olhou para os dois, o garotinho não gostava de mentir, mas
dessa vez, era uma exceção: “Eu passei a tarde toda brincando com o You! Foi muito
divertido, a gente brincou de pega-pega, corrida, escalada em árvore, de tudo um pouco!
Foi muuuuito legal!”

Os dois não eram bobos, eles viram que o filho estava do lado de fora por horas e horas. A
mãe mordeu os lábios “S-Shen…” Mas antes que pudesse terminar de falar uma única
palavra, o homem apertou um pouco sua cintura e, com um olhar animado a interrompeu:
“Sério?! Me conta como foi, eu quero saber tudo.”

Os três conversaram por horas e horas, todos eles sorrindo e se divertindo muito com as
histórias que dividiam. Especialmente o garotinho. Mesmo ele não tendo passado a tarde
toda com seu amigo, o tempo que passaram juntos certamente foi especial para ele, valeu
muito mais do que vários e vários dias comuns. Assim que o céu escureceu ainda mais, ele
foi dormir. Diferente de antes, seu semblante já não era triste, mas sim alegre. Aquele
sentimento estranho, novamente, havia sido engolido.

No entanto, seus pais ainda estavam acordados, a aparência de ambos era muito mais
séria que o normal: “Xu, o que te incomoda tanto?” ele perguntou. Ela suspirou: “Por que
tinha que ser logo com ele? De tantas crianças, tinha que ser alguém como ele?”

“Oof…” O homem suspirou também: “Mas você sabe como são as crianças, elas não ligam
pro passado ou pro futuro, somente para o que acontece agora. De um ponto de vista,
acredito que assim seja até melhor, sabe? Eles não nutrem ódio um com o outro por algo
que aconteceu décadas atrás.”

Ela, com os olhos cheios de lágrimas, confirmou: “Você tem razão....” Enfim, o dia naquela
pequena aldeia escondida nos confins do mundo havia terminado.

Enquanto isso, em um lugar muito mais distante, completamente etéreo, outra questão
muito mais importante para toda existência estava acontecendo.

“Você! Você realmente acha que pode fazer tudo o que fez e ficar impune? Nós jamais
iremos te perdoar, não importa o que você faça, seu Demônio!”

“Isso mesmo! Hoje você sairá daqui morto! Seu cadáver será destruído e seus
descendentes executados! Ninguém vai parar enquanto tudo que você já tenha tocado seja
extinguido para sempre!”

“Mesmo que me custe a vida, eu, Mei Wuxin, prometo que destruírei toda essa sua maldade
e purificarei aqueles que você tentou manipular!”

“AHAHAHAHAHAH! Vocês são tão estúpidos! AHAHAHAH!” Todos olharam em espanto,

Uma intenção assassina congelante penetrou o corpo de cada um deles, um frio na espinha
agoniante rastejou por todos, aquela mancha de sangue parecia ter ganhado vida, diversos
cadáveres vermelhos escuros se aproximavam deles, cada um com um grito mais
tenebroso que outro.

Com uma intenção ainda mais poderosa, uma lança, também vermelha escura, surgiu em
sua mão. “Vocês, Deuses puros, não deveriam ter provocado minha ira, agora todos irão
morrer!” Assim que terminou de proclamar, partiu para cima de todos eles sem nenhuma
hesitação, quase como se fosse algo normal.

Entretanto, tão repentinamente quanto àquele decorrer, uma aura celestial apareceu e
acabou com todo aquele cenário que parecia mais uma carnificina: “Você ainda é muito
fraco, Si Wang.”
Um corte enorme apareceu em seu peito, seu olhar era de mais pura descrença: “Você…
Deveria… ter morrido… Yin Guang.” A frente dele, havia uma mulher de aparência celestial.
Todo seu corpo exalava uma aura divina, ela era simplesmente uma existência além de
todos os outros, que mesmo sendo deuses, nem ao menos chegavam perto daquilo.

“Isso já foi há quantos milhões de anos? Você realmente achou que eu poderia ficar morta
para sempre… hehe” Um sorriso zombeteiro surgiu em seu rosto: “Agora, diga adeus, meu
pequeno aluno.” Outro corte foi desferido, dessa vez, em seu pescoço.

A visão daquele demônio foi escurecendo lentamente, até restar somente sua consciência.

“Não! Eu não posso morrer aqui! Eu ainda tenho muita coisa a fazer! Esta era de Deuses
imbecis tem que acabar antes do meu fim!” O sangue vermelho escuro já pintou todo aquele
chão branco, só restavam quatro seres celestiais e um cadáver horrível no chão.
Independente do que sua consciência dissesse, esta era a dura realidade, ele fracassou e
acabou morto.

“Vamos pegar tudo de pertence e destruir este cadáver impuro.” Um deles exclamou.
Contudo, assim que foram investigar o corpo, uma luz vermelha escura brilhou em cima de
seu corpo.

Uma voz completamente demoníaca ecoou dentro de cada um deles: “Eu não vou morrer!
Não para vocês!” No momento seguinte, uma pequena gota de sangue começou a flutuar à
frente de todos e, num piscar de olhos, desapareceu. No mesmo instante em que ela sumiu,
tanto a luz quanto a voz se dissiparam, deixando novamente somente o cadáver no chão.

Todos estavam desesperados, exceto por uma única pessoa, Yin Guang. Ela ordenou: “Vão,
dispersem! Ele deve estar procurando um herdeiro com o pouco de consciência que lhe
resta. Eu não tenho ideia de que técnicas demoníacas ele aprendeu, mas tenho certeza que
não será bom se ele encontrar alguém com os mesmos ideais!”

Todos assentiram e desapareceram, deixando só os dois ali.

“Por que as coisas terminaram assim? Você foi meu melhor aluno… Eu tinha um orgulho
enorme de ti, Wang.” Fios de lágrimas escorreram de seus olhos: “Nós nascemos da Fonte
Primordial e deveríamos seguir à vontade do Dao, por que você tinha que querer ir além
disso? Por que você se juntou àqueles Demônios impuros? O que tinha de tão importante lá
que fez você desistir de mim?”

Depois de algum tempo refletindo, ela secou as lágrimas com o braço, retornando ao seu
semblante sereno: “Adeus.” Uma chama branca azulada surgiu no cadáver e rapidamente
tomou conta de tudo, deixando nada para trás, consumindo completamente o que um dia já
foi o Deus da Matança.