Avaliação Do Risco para Desenvolvimento de Flebite: Uma Proposta de Construção de Um Instrumento
Avaliação Do Risco para Desenvolvimento de Flebite: Uma Proposta de Construção de Um Instrumento
Avaliação Do Risco para Desenvolvimento de Flebite: Uma Proposta de Construção de Um Instrumento
RESUMO
A flebite é um evento adverso presente nas instituições de saúde que utilizam o uso de cateter
venoso periférico na terapia intravenosa. É uma inflamação da camada íntima da veia e sua
ocorrência pode prejudicar a saúde do paciente e gerar maiores custos às instituições de saúde.
Neste sentido, o objetivo deste estudo é construir um instrumento de avaliação de risco para
flebite. As etapas para a condução deste estudo metodológico foram a revisão bibliográfica
e a construção do instrumento por especialistas na área. A escala de classificação de risco para
flebite vai de sem risco, quando o paciente não possui acesso venoso periférico, até alto risco,
de acordo com a terapia intravenosa proposta. Apesar da escala de classificação de flebite estar
disponível, ela ainda não pode ser utilizada para medir o construto para o qual ela foi construída,
uma vez que novos estudos devem ser conduzidos no sentido de validar o instrumento.
Palavras-chave: Fatores de risco; Flebite; Indicadores básicos de saúde; Qualidade da assistência
à saúde; Segurança do paciente.
INTRODUÇÃO
Estima-se que mais de 80% dos pacientes hospitalizados necessitam de terapia intravenosa,1
principalmente a implementada com o uso de cateteres venosos periféricos, uma vez que estes
proporcionam acesso rápido ao vaso sanguíneo, são menos invasivos e podem ser utilizados
em qualquer ambiente de cuidado à saúde.2
A flebite é uma das complicações relacionadas ao uso do cateter venoso periférico em pacien-
tes de todas as idades.1 Como consequências, pode levar a sequelas graves, como a infecção primária
da corrente sanguínea, que, além de prolongar a hospitalização, traz maiores custos assistenciais.
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Revista Qualidade HC
Trata-se de um processo inflamatório da camada íntima da veia desencadeado por fatores mecâni-
cos, físicos e/ou químicos. A flebite pode ser classificada de acordo com a sua gravidade.2-3
Mundialmente, diversas escalas são utilizadas no sentido de avaliar a flebite, como a da
Infusion Nurses Society (INS), a escala Visual Infusion Phlebiti e a escala de Maddox. No entanto,
não foram encontrados estudos robustos que avaliem o risco para o desenvolvimento de flebite.
No Brasil, para a classificação da flebite, é mais comum a aplicação da escala de Flebite da INS,
que varia de 0 a 4, sendo que zero significa a ausência de complicação, e o quadro evolui conforme
os sinais e sintomas de inflamação, apontando para maior gravidade da flebite, até o grau 4,
que abrange indicadores da presença de infecção, como drenagem purulenta.1
De acordo com a INS, é aceitável uma taxa de ocorrência de flebite em cerca de
5% dos pacientes susceptíveis à ocorrência do evento, ou seja, devem possuir, no mínimo,
um acesso venoso periférico. Altas taxas de flebite podem estar relacionadas diretamente
à qualidade do cuidado prestado, bem como ao desconhecimento dos fatores de risco para
o desenvolvimento de flebite.4 Porém, baixas taxas podem não refletir a qualidade da assistência
prestada, mas a falta de indicadores institucionais confiáveis que apontam o verdadeiro pano-
rama da instituição.
Considerando a flebite como um evento adverso prevenível, este estudo tem por objetivo
apresentar a proposta de instrumento de avaliação de risco para tal condição desenvolvido pelo
subcomitê de infecção primária da corrente sanguínea, do Hospital das Clínicas da Faculdade de
Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (HCFMRP-USP).
MÉTODO
Este estudo foi desenvolvido em duas etapas. Na primeira etapa, realizou-se uma revisão
narrativa5 da literatura nacional e internacional, no sentido de identificar os fatores de risco para
o desenvolvimento de flebite.
Foram realizadas buscas na base de dados Literatura Latino-Americana e do Caribe
em Ciências da Saúde (LILACS) dos termos dos Descritores em Ciências da Saúde (DECS) –
Flebite e Fatores de Risco –, obtendo-se um total de 18 artigos. Realizou-se a leitura dos títulos
e resumos de todos e, na sequência, selecionou-se 12 artigos para leitura na íntegra, dos quais
foram elencados os principais fatores de risco que levaram ao desenvolvimento de flebite.
Na sequência, diante dos resultados obtidos, conduziu-se um estudo do tipo metodoló-
gico6 com o objetivo de desenvolver um instrumento que fosse capaz de identificar o risco para
o desenvolvimento de flebite e que contemplasse todas as faixas etárias e condições clínicas
de pacientes internados no HCFMRP-USP.
De posse de uma lista contendo os fatores de risco mais apontados na literatura,
um grupo de especialistas, composto por enfermeiros, farmacêuticos e estatísticos, se reuniu
para organizar os fatores de risco apontados na literatura e, para cada um dos itens, relacionar
com a intensidade do risco de desenvolvimento de flebite.
O estudo foi conduzido pelos membros do subcomitê de prevenção de infecção primária
da corrente sanguínea do HCFMRP-USP.
RESULTADOS
Para a identificação dos fatores de risco relacionados ao desenvolvimento de flebite,
foram selecionados 12 artigos da revisão da literatura, os quais estão identificados no Quadro 1.
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Revista Qualidade HC
Quadro 1 : Trabalhos selecionados para a identificação dos fatores de risco para flebite.
Ribeirão Preto, 2022.
Ano de
Título Revista Autores
publicação
Flebite e infiltração: traumas
Revista Latino-Americana Braga LM, Parreira PM, Oliveira ASS, Mónico
vasculares associados ao cateter 2018
de Enfermagem LSM, Arreguy-Sena C, Henriques MA.
venoso periférico.
Incidência de flebite e
Revista Gaúcha de Urbaneto JS, Muniz FOM, Silva RM, Freitas
flebite pós infusional em 2017
Enfermagem APC, Oliveira APR, Santos JCR.
adultos hospitalizados.
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Revista Qualidade HC
Avaliação
Risco Flebite
Prescrição de
Hemocomponente
Paciente com Sim Nutricão Parenteral Sim
acesso venoso Alto Risco
Medicamentos
períférico?
sinalizados?
Não
Não
Sem Risco
Idade Sim
entre 0 e 12 anos Moderado Risco
ou >60anos?
Não
Não ou sem
informação
Não ou sem
informação
Resultado Sim
hemograma plaqueta Moderado Risco
<150 10°/uL
Não ou sem
informação
Mais de Sim
dois acessos? Moderado Risco
Não
Medicamento
Sim
Moderado Risco
intermitente?
Não
Não
Moderado Risco
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DISCUSSÃO
A literatura aponta fatores de risco para o desenvolvimento de flebite e sua revisão
permitiu identificar os fatores de risco, no sentido de possibilitar a construção de uma escala
para a avaliação do risco de desenvolvimento de flebite em pacientes hospitalizados em um
hospital universitário.
No entanto, observa-se uma escassez de instrumentos ou escalas de classificação
de flebite. Em um dos estudos, observou-se as etapas de construção e validação de uma escala
que avalia o risco para o desenvolvimento de flebite, porém tal escala foi construída apenas para
avaliar o risco de flebite em pacientes adultos7 e, portanto, diante da necessidade do serviço,
optou-se pela construção de um instrumento novo.
O processo de construção de um instrumento envolve diversas etapas, dentre elas
a revisão exaustiva da literatura, a avaliação por especialistas e, por conseguinte, a validação
do instrumento. Em outras palavras, após a construção de uma escala ou instrumento de men-
suração, suas propriedades psicométricas devem ser testadas, de modo a garantir que o instru-
mento meça o constructo para o qual ele foi construído.8
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A disponibilização de um instrumento de medida do risco de desenvolvimento de flebite
poderá permitir que profissionais de saúde avaliem com maior rigor pacientes que apresentam
maior risco e utilizem medidas preventivas para que o evento adverso ocorra. Este estudo
teve por objetivo a construção de um instrumento que avaliasse o risco para o desenvolvi-
mento de flebite. No entanto, para que o instrumento seja utilizado nas instituições de saúde,
ele deverá ser validado para o contexto para o qual ele foi construído. Neste sentido, este texto
é parte de um estudo maior que visa fornecer aos profissionais de saúde um instrumento válido
para a avaliação do risco de desenvolvimento de flebite.
REFERÊNCIAS
1. Infusion Nurses Society – INS Brasil. Diretrizes práticas para terapia infusional. 2018. 127p.
2. Reis PED, Carvalho EC. Flebite secundária à inserção de cateter venoso periférico: aspectos
relevantes para a assistência de enfermagem. Revista de Enfermagem UFPE. 2011;
5(1):134-139 2011.
3. Salgueiro-Oliveira AS, Bastos ML, Braga LM, Arreguy-sena C, Melo MN, Parreira PMSD.
Práticas de enfermagem no cateterismo venoso periférico: a flebite e a segurança do
paciente doente. Texto Contexto Enferm [Internet]. 2019; 28:e20180109. Disponível em:
http://dx.doi.org/10.1590/1980-265X-TCE-2018-0109
4. Jacinto AKL, Avelar AFM, Wilson MMM, Pedreira MLGP. Flebite associada a
cateteres intravenosos periféricos em crianças: estudo de fatores predisponentes.
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