Mordidaberta
Mordidaberta
Mordidaberta
______________________________________________
(Rita Rodrigues)
Mordida Aberta: Diagnóstico Tratamento e Estabilidade
Sumário
Esta falência no sentido vertical pode advir de uma anomalia no tamanho das bases
ósseas maxilar e/ou mandibular, nos dentes, processos alveolares e ainda uma junção
dos dois tipos de alterações.
A mordida aberta, pode ser classificada segundo as estruturas que afecta – osso ou
dentes (esquelética, dentária ou dento-alveolar) ou quanto à sua localização (anterior,
posterior ou completa).
Como anomalia oclusal que é, deve ser tratada mediante o seu diagnóstico tendo
como hipóteses de tratamento a remoção dos factores etiológicos a ela associados
quando possível. A remoção dos factores etiológicos pode estar associada a uma
V
Mordida Aberta: Diagnóstico Tratamento e Estabilidade
VI
Mordida Aberta: Diagnóstico Tratamento e Estabilidade
Abstract
This failure of the vertical dimension may ensue from the inadequate size of the
maxillary and/or mandibular bones, from the teeth and the alveolar processes or still
the binding between two types of alterations.
The open bite can be classified according to the structures that are affected - bone or
teeth (skeletal, dental or dento-alveolar) or as to their location (anterior, posterior or
complete).
The great diversity of definitions for this anomaly makes the prevalence have a wide
range among authors, however, according to several studies conducted at an European
level, 25% to 38% of the orthodontic patients exhibit open bite.
To diagnose correctly what kind of anomaly between the several types of existing
open bite is present, a detailed clínical examination with photographic gathering of
the face and neck of the patient and the analysis of radiographic exams as panoramic
radiography and lateral telerradiography of the profile is needed.
As an occlusal anomaly, the open bite must be addressed according to its diagnosis
with the proper treatment being mentioned as hypothesis the removal of ethiological
factors associated, when possible. The removal of the etiological factors may be
combined with a passive therapy, waiting for the malfunction to disappear
spontaneously or through the use of orthodontic or orthopedic appliances with a
VII
Mordida Aberta: Diagnóstico Tratamento e Estabilidade
The use of fixed orthodontic therapy may also involve inter-arcades elastic bands as a
resource to ensure the extrusion of the teeth where they are supported.
In cases of adults with moderate or severe skeletal involvement in the anomaly, the
main indication for treatment is the orthognathic surgery.
VIII
Mordida Aberta: Diagnóstico Tratamento e Estabilidade
Dedicatória
Aos meus pais em especial, que suportaram todos os meu sonhos ao longo da minha
vida.
À minha família em geral por toda a ajuda a nível pessoal e estudantil dando-me a
possibilidade de aprender tudo o que era possível e que me fez nunca desistir dos
meus sonhos.
Dedico este trabalho e todo o esforço que nele investi a todos os pacientes que possam
cruzar o meu futuro. Por mim e por eles irei continuar a tentar ter o maior
conhecimento possível na área pela qual me apaixonei.
Para que um dia, todo o meu estudo e trabalho faça a diferença na vida de alguém.
E. E. Cummings
IX
Mordida Aberta: Diagnóstico Tratamento e Estabilidade
Agradecimentos
Devo um agradecimento pela paciência e apoio ao meu orientador, Prof. Nelso Reis,
mesmo depois de todas adversidades para o início da elaboração desta monografia.
Ao Prof. Carlos Silva pela ajuda que se disponibilizou a dar desde o início deste
projecto e Prof. Maria Gabriel Queirós que foi quem me guiou até ao meu orientador
e assim me permitiu a elaboração deste trabalho nas suas melhores condições.
À Prof. Cláudia Barbosa pela inspiração desde os anos iniciais do curso, alimentando
em mim a vontade de aprender tudo o que consiga de Oclusão e Ortodontia.
Ao Prof. Jorge Dias Lopes pelo material da sua biblioteca pessoal que me cedeu para
que conseguisse completar com toda a informação que me parecia necessária este
trabalho final de curso.
Aos meus tios, Pedro e Maria João por se terem mostrado sempre disponíveis para me
guiar quando estava mais perdida, e me ajudar em tudo o que precisei.
Aos meus queridos amigos e amigas por me terem acompanhado com paciência,
carinho e compreensão todo este tempo e especialmente ao meu binómio, Henrique,
que tantas horas passou comigo durante este curso. Às minhas Ritas, Marianas, Joana,
Ana, Inês, Rui. Ao Miguel pelo esforço que fez em conjunto comigo inicialmente.
Um agradecimento muito especial ao meu querido Rafa que foi uma peça fulcral
para que eu conseguisse fazer tudo o que queria no âmbito desta monografia e
me ajudou sempre incondicionalmente estando ao meu lado durante este ano,
mesmo nas fases com maiores adversidades. – Um grande beijo
X
Mordida Aberta: Diagnóstico Tratamento e Estabilidade
Índice
Sumário...................................................................................................................V
Abstract.................................................................................................................VII
Dedicatória.............................................................................................................IX
Agradecimentos.......................................................................................................X
Índice......................................................................................................................XI
Índice de Figuras.................................................................................................XIII
Índice de Tabelas.................................................................................................XVI
I. Introdução..................................................................................................................1
II. Desenvolvimento.......................................................................................................3
1. Materiais e Métodos...........................................................................................3
2. Fundamentos de oclusão....................................................................................4
3. Mordida aberta...................................................................................................8
3.1. Definição................................................................................................8
3.2.Prevalência...................................................................................................10
3.3.Classificação................................................................................................12
3.4.Etiologia.......................................................................................................15
3.4.1. Hereditariedade....................................................................................16
dentário......................................................................................................18
3.4.4. Ambiente..............................................................................................19
XI
Mordida Aberta: Diagnóstico Tratamento e Estabilidade
3.5. Diagnóstico..................................................................................................23
3.6.3. Camuflagem.........................................................................................45
III. Discussão.................................................................................................................54
IV. Conclusão................................................................................................................59
V. Bibliografia..............................................................................................................60
XII
Mordida Aberta: Diagnóstico Tratamento e Estabilidade
Índice de Figuras
XIII
Mordida Aberta: Diagnóstico Tratamento e Estabilidade
XIV
Mordida Aberta: Diagnóstico Tratamento e Estabilidade
Fig.21-Estado inicial de um paciente que irá recorrer a tratamento por ajustes oclusais
(adaptado de Janson et al., 2008)...........................................................................pág.45
XV
Mordida Aberta: Diagnóstico Tratamento e Estabilidade
Índice de Tabelas
XVI
Mordida Aberta: Diagnóstico Tratamento e Estabilidade
Ena – Espinha Nasal Anterior, ponto mais anterior da espinha nasal da maxila
Enp – Espinha Nasal Posterior, ponto mais posterior da espinha nasal da maxila
mm – milímetro
XVII
Mordida Aberta: Diagnóstico Tratamento e Estabilidade
% – Por cento
XVIII
Mordida Aberta: Diagnóstico Tratamento e Estabilidade
I. Introdução
Historicamente, a oclusão ideal foi descrita como sendo a melhor posição dentária
para bons resultados estéticos, funcionais mastigatórios e facilitadora de actividades
como a deglutição e a fala.
Esta anomalia de oclusão foi referida pela primeira vez em 1842 por Caravelli para
descrever indivíduos com deficiência na sobreposição dos dentes em oclusão cêntrica.
1
Mordida Aberta: Diagnóstico Tratamento e Estabilidade
A escolha deste tema foi baseada na grande relevância que a Oclusão tem em todas as
áreas da Medicina Dentária e pela forte influência que a Ortodontia tem, actualmente,
na área estética e também na correcção funcional do sistema estomatognático.
Como o meu interesse pela Ortodontia já vem mesmo antes da entrada na Faculdade e
como desde o início do curso até à recta final se demonstrou cada vez mais
interessante, seria sensato escolher um tema para a monografia final deste mestrado
que abordasse diagnóstico e tratamento ortodôntico.
Os objectivos desta revisão bibliográfica são abordar a mordida aberta como anomalia
oclusal, classificá-la, abordar a etiologias registadas, métodos de diagnóstico e
possibilidades de tratamento mediante o tipo de mordida aberta presente.
Para que esta revisão bibliográfica fosse possível, foi elaborada uma pesquisa
alargada em bases de dados científicas online e obras literárias das bibliotecas de
Instituições de Ensino Superior do Distrito do Porto.
Com a elaboração deste trabalho foi possível compreender melhor qual o tipo de
limitações que uma anomalia como a mordida aberta provoca, como diagnosticá-la a
partir dos seus sinais clínicos e por vezes sintomas e assimilar formas de contornar
essas limitações explorando os tratamentos possíveis desde o mais conservador ao
mais invasivo.
2
Mordida Aberta: Diagnóstico Tratamento e Estabilidade
II. Desenvolvimento
1. Materiais e Métodos
Para a elaboração desta monografia foi necessária uma pesquisa em bases de dados
como PubMed, Scielo e Scholar Google. Nas bases de dados referidas foram
introduzidos filtros para limitar os resultados da pesquisa restringindo os resultados a
documentos escritos na língua Portuguesa, Espanhola e Inglesa, estudos realizados em
humanos recorrendo às palavras-chave “open bite”, “orthodontics”, “orthodontic
treatment”, “orthodontic appliances”, “functional orthopedics”, “cephalometry”,
“diagnosis”, “mordida aberta” “mordida aberta esquelética”, “mordida aberta
anterior”, “mordida aberta dento-alveolar”, “diagnóstico”, “oclusão dentária”,
“anatomia facial”, “ortodontia”, “cirurgia ortognática” e “ortopedia facial”. À medida
que o tema foi sendo mais desenvolvido, foram necessárias novas palavras-chave
tendo sido incluídas “aerofones”, “bionator”, “Le Fort I”, “mini-implantes”,
“deglutição atípica” e “epidemiologia”. Inicialmente o filtro de restrição cronológica
estava activo seleccionando apenas artigos de 2005 a 2014, porém, por falta de
material que referisse a evolução histórica da definição e classificação da anomalia foi
retirado esse filtro, aceitando todos os artigos que parecessem relevantes e fiáveis para
o efeito. Foram também utilizados livros científicos presentes na biblioteca da
Universidade Fernando Pessoa, biblioteca da Faculdade de Medicina Dentária da
Universidade do Porto, bibliotecas pessoais e obras disponíveis em forma de eBook.
Esta pesquisa foi compreendida entre 30 de Maio de 2014 e 2 de Julho de 2014.
3
Mordida Aberta: Diagnóstico Tratamento e Estabilidade
2. Fundamentos de Oclusão
A posição dos dentes nas arcadas e a respectiva oclusão são determinantes para o bom
desempenho da função mastigatória e actividades como deglutição e fala. A
caracterização de uma oclusão normal tem como conceito base a relação molar,
canina e incisiva (Okeson, 2003).
Fig.1-Inclinação dos eixos longitudinais dos dentes maxilares (1º) e dos dentes mandibulares (2º)
(adaptado de Okeson, 2003).
4
Mordida Aberta: Diagnóstico Tratamento e Estabilidade
É necessário saber que as arcadas dentárias têm de ser avaliadas em três dimensões: a
altura no sentido vertical, comprimento no sentido sagital e largura no sentido
transversal. Nos primeiros anos de vida, a altura facial altera-se rapidamente até a
dentição permanente se estabelecer. Deve salientar-se que a crista alveolar está em
desenvolvimento simultaneamente nas duas arcadas para além do crescimento de cada
uma das bases ósseas (Reina, 2004).
5
Mordida Aberta: Diagnóstico Tratamento e Estabilidade
Se, por qualquer motivo, um dente inicia a sua erupção desviado da posição ideal,
estas forças podem reposicioná-lo. Quando não há espaço disponível na arcada para o
correcto alinhamento dentário, as forças musculares constantes não são suficientes
para o colocar na posição devida. Nestes casos a aplicação de forças externas
adicionais obtidas através de dispositivos ortodônticos serão necessárias para a
correcção da desarmonia dento-maxilar (Okeson, 2003).
Por outro lado, um padrão muscular anormal a actuar no período eruptivo ou pós
eruptivo através de forças leves e constantes, poderá alterar a posição dentária
inicialmente correcta para uma inadequada. Um possível exemplo desta actividade
muscular desfavorável é a deglutição atípica, onde a língua se interpõe entre os
incisivos superiores e inferiores para criar a pressão negativa necessária no processo
de deglutição. Esta posição inadequada da língua, que também ocorre durante o
repouso com o objectivo de selar a boca, irá deslocar os dentes vestibularizando-os e
deste modo potenciando um quadro de mordida aberta anterior (Dawson, 2007).
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Mordida Aberta: Diagnóstico Tratamento e Estabilidade
dentes anteriores e, para que não haja fugas de ar para fora do bocal, é necessário
exercer pressão com os lábios sobre o instrumento que, sendo apoiado nos dentes
pode alterar a sua posição e potenciar a incompetência labial. Os principais dentes
afectados são os anteriores maxilares (Grammatopoulos, 2012).
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Mordida Aberta: Diagnóstico Tratamento e Estabilidade
3. Mordida Aberta
3.1. Definição
A expressão “mordida aberta” foi utilizada pela primeira vez em 1842 por Caravelli
para descrever a oclusão dos indivíduos que tinham uma sobremordida vertical
diminuída (Artese et al., 2011).
Ao longo dos anos, vários autores têm vindo a definir a mordida aberta de diferentes
formas tendo todos como base comum que esta é uma anomalia baseada na inoclusão
de um ou mais dentes com o seu antagonista (Brusola, 1988).
Uma das definições de mordida aberta refere-a como sendo uma anomalia com
falência no sentido vertical, isto é, uma das arcadas ou ambas não atingem o plano
oclusal, sendo por isso caracterizada por uma inoclusão vertical de um grupo de
dentes, podendo ser do sector anterior ou posterior da arcada (unilateral ou
bilateralmente) ou inoclusão completa de todos os dentes presentes na cavidade oral
(Espeland et al., 2008).
Uma definição alternativa seria determinar a mordida aberta como uma deficiência na
sobreposição dentária superior e inferior durante a oclusão cêntrica (Abu Alhaija,
2005; Torres et al., 2011).
Outros autores preferem salientar o facto desta anomalia ter uma combinação das
componentes dentária e esquelética associada a factores ambientais que irá promover
deste modo a inoclusão no sentido vertical (Chung et al., 2012).
8
Mordida Aberta: Diagnóstico Tratamento e Estabilidade
Petrelli (cit. in Silva, 2004) referiu-se à mordida aberta como um desvio na relação
vertical das arcadas maxilar e mandibular, havendo falta de contacto dentário numa
determinada porção da arcada enquanto os restantes dentes ocluem.
Brusola, em 1988 (cit. in Silva, 2004) afirmou que uma mordida aberta não seria
necessariamente a presença de um espaço visível externamente entre bordos incisais
dos incisivos superiores e inferiores. Este autor aponta que numa Classe II divisão 1
severa, caracterizada por sobremordida horizontal acentuada e discrepância
esquelética sagital, o facto do bordo incisal dos incisivos inferiores não contactar com
a face palatina dos incisivos superiores deve ser igualmente classificada como
mordida aberta. É comum que nestes casos os incisivos inferiores estejam apenas
parcialmente erupcionados (Fig.3) (Silva, 2004).
Fig.3- Indivíduo com mordida aberta anterior e Classe II divisão 1 (adaptado de Nightingale, 2000).
A mordida aberta anterior foi descrita também como uma anomalia onde as coroas
dos incisivos superiores não têm capacidade de atingir o terço incisal das coroas dos
incisivos inferiores aquando de uma intercuspidação máxima (Ize-Iyamu, 2012).
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Mordida Aberta: Diagnóstico Tratamento e Estabilidade
3.2. Prevalência
Segundo alguns estudos realizados a nível europeu, 25% a 38% dos pacientes
ortodônticos apresentam mordida aberta e referem-na como motivo principal da
consulta (Espeland et al., 2008).
10
Mordida Aberta: Diagnóstico Tratamento e Estabilidade
Sabe-se ainda que a mordida aberta completa, ou seja, inoclusão de todos os dentes
com os seus antagonistas é extremamente rara (Espeland et al., 2008).
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Mordida Aberta: Diagnóstico Tratamento e Estabilidade
3.3. Classificação
A mordida aberta pode ter várias classificações quanto ao tipo de estruturas afectadas
e quanto à localização dos dentes em inoclusão, sendo esta distinção extremamente
importante para os possíveis planos de tratamento a sugerir e a forma indicada de
actuar (Petrelli, 1994).
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Mordida Aberta: Diagnóstico Tratamento e Estabilidade
Se o principal factor etiológico deste tipo de mordida aberta for um défice nutricional
de vitamina D, é denominada como mordida aberta raquítica (Zambrano et al., 2003).
O local da arcada afectado pela mordida aberta será determinado pelas forças
dominantes presentes nas regiões oral e peri-oral e a resistência dos dentes em relação
às forças neles aplicadas (Gershater, 1972).
13
Mordida Aberta: Diagnóstico Tratamento e Estabilidade
casos de mordida aberta anterior englobavam os caninos e daí que fosse sensato
incluí-los na caracterização desta componente de mordida aberta (Fig.5) (Torres,
2005). Acrescentando Abu Alhaija (2005) que numa situação de intercuspidação
máxima, os molares se iriam encontrar em contacto porém, no sector anterior o
mesmo não iria acontecer.
Haynes, em 1970 (cit. in. Abu Alhaija, 2005), após a realização de um estudo quanto
à prevalência de mordida aberta anterior em crianças britânicas, afirmou que uma em
cada duas dessas crianças apresentavam inoclusão do sector anterior, enquanto os
dentes posteriores se encontravam em contacto perfeito.
Fig.5-Mordida aberta anterior com inoclusão de toda a região inter-canina (adaptado de Nightingale,
2000).
Uma terceira hipótese, pouco frequente, é a mordida aberta completa em que nenhum
dente da arcada está em contacto com o seu antagonista (Espeland et al., 2008).
14
Mordida Aberta: Diagnóstico Tratamento e Estabilidade
3.4. Etiologia
1. Hereditariedade
4. Ambiente
6. Défices nutricionais
7. Deficiências congénitas
8. Factores locais
(Torres, 2005; Sousa et al., 2007; Romero et al., 2011; Matsumoto, 2012)
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Mordida Aberta: Diagnóstico Tratamento e Estabilidade
3.4.1. Hereditariedade
Esta anomalia, como tantas outras que se prendem a padrões oclusais têm um forte
carácter hereditário, no caso especifico da mordida aberta existe relação com, a
divergência das bases ósseas ou incompatibilidade do tamanho das arcadas (Lin et al.,
2013).
Em 2013, Huh publicou um estudo onde demonstrou que a expressão das enzimas
KAT6B e HDAC4, modificadoras da expressão genética, era responsável por uma
alteração nas fibras musculares do masseter que estão altamente associadas a quadros
de mordida penetrante e mordida aberta. Neste estudo a alteração genética não se
mostrou estatisticamente significativa quanto à mordida aberta ou profunda porém
provou que a expressão genética quanto à função muscular (de músculo esquelético)
apresenta alterações na determinação do crescimento ósseo. Concluiu que os
músculos com actividades anormais podem potenciar crescimento ósseo anormal
(Huh, 2013).
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Mordida Aberta: Diagnóstico Tratamento e Estabilidade
São os hábitos de pressão anormal como a sucção digital, o uso de chupeta, sucção
lingual ou labial os factores apontados como principais causadores da mordida aberta
anterior. Mesmo assim, é cientificamente reconhecida a relação entre os vários
factores que forçam o indivíduo a realizar respiração oral com a mordida aberta. A
obstrução das vias aéreas, obstrução nasal crónica, alergias constantes, desvios de
septo nasal e bloqueio pelos cornetos, amigdalites crónicas e adenóides hipertróficas
são alguns dos vários factores que podem provocar respiração oral (Romero, 2011).
A respiração oral tem efeito na posição dentária, por extrusão dos dentes posteriores,
e nas bases ósseas tendo o poder de provocar o estreitamento do espaço palatino mas
aumentando a sua altura: palato em “V” (Almonte, 2010 ; Romero et al., 2011).
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Mordida Aberta: Diagnóstico Tratamento e Estabilidade
Segundo Arun (2003), crianças com respiração oral têm uma probabilidade
aumentada de desenvolver mordida aberta anterior, mordida cruzada posterior e o
desenvolvimento de uma sobressaliência aumentada.
Estes hábitos de pressão anormal, mantidos por muito tempo, são facilmente
precursores de uma mordida cruzada posterior, palato profundo e extrusão dos dentes
posteriores (Almonte, 2010).
A macroglossia é um factor de risco inerente à mordida aberta uma vez que desta
forma, mesmo sem haver uma projecção da língua irá haver interposição lingual entre
arcadas e uma vestibularização dos incisivos (Petrelli, 1994).
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Mordida Aberta: Diagnóstico Tratamento e Estabilidade
3.4.4. Ambiente
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Mordida Aberta: Diagnóstico Tratamento e Estabilidade
Os desgastes físicos ou químicos dos bordos dentários também podem ser um factor
de risco por diminuírem o tamanho vertical dos dentes e por isso provocarem a
anomalia (Ngan, 1997).
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Mordida Aberta: Diagnóstico Tratamento e Estabilidade
Acerca da mordida aberta posterior unilateral, por vezes atribui-se como causa desta
anomalia uma variedade de doenças sistémicas, como consequência de iatrogenia ou
por distúrbio do próprio mecanismo eruptivo por si só (Sohn, 1995).
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Mordida Aberta: Diagnóstico Tratamento e Estabilidade
Tal como a mordida aberta anterior, a mordida aberta posterior pode ser de origem
esquelética ou dento-alveolar. Normalmente, a causa é atribuída a interferências
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Mordida Aberta: Diagnóstico Tratamento e Estabilidade
3.5. Diagnóstico
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Mordida Aberta: Diagnóstico Tratamento e Estabilidade
partir de sinais presentes nos lábios, região malar e região peri-ocular. Estes pacientes
apresentam perfis alterados facilmente reconhecíveis (Millett, 2012).
A análise dos perfis faciais dos pais e, quando existentes, dos irmãos para avaliar o
contexto genético da anomalia, deve sempre integrar-se na história clínica (Lin et al.,
2013).
• Simetria facial
• Fala
(Millett, 2012)
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Mordida Aberta: Diagnóstico Tratamento e Estabilidade
Se o paciente for portador de obstruções respiratórias, ao pedir que este tente respirar
de boca fechada consegue-se ver que este não é capaz de o fazer e verificando que
fica com falta de ar até ao momento em que abre a boca. Este passo é muito
importante para o diagnóstico diferencial entre os respiradores orais por obstrução dos
respiradores orais por hábito ou função. O padrão de deglutição deve ser analisado
para afastar ou comprovar a presença de deglutição infantil que persistiu após os 4
anos de idade sabendo que a partir dessa idade deve ser corrigida (Souki et al., 2009).
25
Mordida Aberta: Diagnóstico Tratamento e Estabilidade
O tamanho da língua deve ser avaliado para verificar se há forças excessivas aplicadas
nos dentes anteriores por pressão exercida pela língua. É por este mesmo motivo que
se analisa também a posição natural da língua. Quanto à função, como a língua se
trata de um músculo, deve-se avaliar se tem capacidade de realizar os movimentos
considerados normais e caso não seja, pesquisar o motivo pelo qual não é capaz
(Torres et al., 2006 ; Artese et al., 2011).
A projecção dos incisivos superiores e inferiores sugere uma posição baixa da língua,
de tratamento mais complexo que a posição alta ou horizontal. A posição alterada de
incisivos inferiores e presença de mordida cruzada posterior irá sugerir uma posição
muito baixa da língua (Rakosi et al., 1993).
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Mordida Aberta: Diagnóstico Tratamento e Estabilidade
diminuído da porção superior do músculo orbicular da boca faz com que o lábio
superior se apresente mais fino e consequentemente incompetente. A porção inferior
do orbicular mostra-se laxa favorecendo a posição invertida do lábio inferior que é
mais volumoso nestes casos. Os músculos do mento ficam hipertensos para
compensar a falta de selamento labial. Apresentam também olheiras marcadas,
podendo por vezes o indivíduo aparentar um quadro de saúde débil (Ngan, 1997 ;
Souki et al., 2009).
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Mordida Aberta: Diagnóstico Tratamento e Estabilidade
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Mordida Aberta: Diagnóstico Tratamento e Estabilidade
O plano de Frankfurt pode ser utilizado com um grau elevado de confiança como uma
horizontal verdadeira caso o paciente tenha realizado a telerradiografia em Posição
Natural da Cabeça (Silva, 2005).
Numa análise segundo Ricketts, para poder determinar se uma mordida aberta é de
responsabilidade esquelética ou dentária e se a origem da anomalia está na mandíbula
ou na maxila é necessário avaliar os ângulos que compõem o índice VERT.
29
Mordida Aberta: Diagnóstico Tratamento e Estabilidade
Segundo a análise de Ricketts, não é possível quantificar o ângulo gónico, logo, para
uma informação mais detalhada devem ser utilizados outros métodos que o consigam
fazer. Alimere (2005) distinguiu as mordidas abertas esqueléticas das dento-
-alveolares a partir da avaliação da inclinação do plano mandibular, do crescimento
vertical e ântero-posterior da mandíbula e do eixo facial (Tab.1). A tabela apresentada
representa a média e desvio-padrão das medidas cefalométricas analisadas nesse
estudo, segundo a divisão em grupos. Como p<0,05, a hipótese nula é rejeitada e os
resultados são estatisticamente significativos.
Tabela 1- Grupo D reúne indivíduos com mordida aberta dento-alveolar e o grupo E indivíduos com
mordida aberta esquelética (adaptado de Alimere, 2005).
Pode então afirmar-se que indivíduos com mordida aberta esquelética, apresentam
maior inclinação do plano mandibular, valores maiores para o crescimento vertical e
ântero-posterior da mandíbula e finalmente valores para o eixo facial menores que os
indivíduos portadores de mordida aberta dento-alveolar. Isto leva a concluir que o
mais comum é que os indivíduos com mordida aberta esquelética sejam portadores de
perfis dolicofaciais (Fig. 10) (Alimere, 2005).
30
Mordida Aberta: Diagnóstico Tratamento e Estabilidade
Esta análise, ao contrário das cefalométricas clássicas, não tem valores médios em
conta mas sim os traçados apresentados na análise do próprio paciente. É um
protocolo de diagnóstico qualitativo-propocional sem medições contornando assim os
erros sistemáticos e aleatórios inerentes ás medições lineares e angulares dos métodos
convencionais. Assim sendo, uma das suas vantagens é ter em maior consideração o
perfil cutâneo utilizando como filosofia o diagnósico e tratamento dos tegumentos
subordinando o reposicionamento das estruturas duras à harmonia dos tecidos moles
(Silva, 2005).
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Mordida Aberta: Diagnóstico Tratamento e Estabilidade
A altura facial inferior deve ser avaliada em duas partes, a anterior e a posterior. A
comparação da altura facial póstero-inferior com a altura facial ântero-inferior irá
determinar se a responsabilidade da mordida aberta esquelética é mandibular com
encurtamento do ramo mandibular ou por rotação posterior da mandíbula.
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Mordida Aberta: Diagnóstico Tratamento e Estabilidade
Numa mordida aberta esquelética de origem maxilar, pode-se ter como motivo a
rotação anti-horária da maxila e consequentemente do plano oclusal maxilar. Neste
caso há uma divergência entre o plano oclusal maxilar e o plano oclusal mandibular.
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Mordida Aberta: Diagnóstico Tratamento e Estabilidade
noutros casos, um tratamento mais complexo que inicialmente parecia ter sido bem
sucedido irá falhar mais tarde (Guarneri et al., 2013).
Tratamentos simples são aqueles que vão permitir uma erupção dentária normal após
a remoção dos factores etiológicos presentes particularmente hábitos de pressão
anormal. Os tratamentos mais complexos contemplam a intrusão dos dentes
posteriores através de dispositivos ortodônticos ou em último recurso recorrendo a
cirurgia ortognática. A combinação de vários tipos de tratamentos pode ser necessária
caso não seja evidente quais os factores etiológicos presentes no indivíduo (Ngan,
1997).
Mesmo após várias décadas de pesquisa, não há um consenso de qual será o melhor
tratamento para esta anomalia oclusal, e como é de etiologia muito variada, os
diferentes tipos de tratamento podem incluir modificações comportamentais no intuito
34
Mordida Aberta: Diagnóstico Tratamento e Estabilidade
Alguns autores apoiam que se a mordida aberta for ligeira ou a estabilidade pós-
tratamento for de prognóstico duvidoso por consequências esqueléticas ou nos tecidos
moles, lábios extremamente incompetentes e/ou suspeita de sucção lingual deve-se
apenas alinhar as arcadas (Millett, 2000).
A mordida aberta pode ser detectada ainda na fase de dentição decídua estando aí
normalmente associada a hábitos de pressão anormal como a utilização de chupeta ou
a sucção digital que altera o padrão eruptivo dentário, na fase de dentição mista que é
onde inicia a possibilidade de se tratar de mordida aberta dentária, dento-alveolar,
combinada ou esquelética. Ou, finalmente, na fase de dentição permanente onde o
efeito dos aparelhos funcionais é nulo visto os padrões musculares já estarem
estabelecidos e o crescimento ósseo já ter terminado (Silva, 2004).
Segundo a pesquisa bibliográfica de Huang em 2002, 80% dos pacientes com mordida
aberta tratados exclusivamente ortodonticamente, ou conjugados com cirurgia
ortognática, permaneciam estáveis no resultado final do tratamento. Apontou também
que estes dados eram um pouco limitados pelos estudos com amostras pequenas que
teriam sido realizados nessa altura (Huang, 2002).
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Mordida Aberta: Diagnóstico Tratamento e Estabilidade
Em 1959, Graber defendeu que apenas se devia tentar remover o hábito da sucção
digital quando a criança está motivada sabendo que o aparelho ortodôntico irá servir
apenas de lembrete de que o problema só poderá ser corrigido se esta abandonar o
hábito. Quer o ortodontista, quer os responsáveis pela criança devem estimulá-la a
abandonar o hábito de sucção digital (cit. in Torres, 2005).
Sabe-se que algumas vezes com o aumento da idade a criança abandona o hábito sem
que alguma intervenção seja necessária (Torres, 2005).
Sabe-se que uma postura alta ou horizontal da língua estará aproximada da posição
recomendada e considerada como normal, cabe ao ortodontista fazer o diagnóstico
diferencial para detectar se o factor etiológico predominante para a mordida aberta de
um determinado paciente é a postura lingual em repouso e não hábitos succionais
(Artese et al., 2011).
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Mordida Aberta: Diagnóstico Tratamento e Estabilidade
Fig.12-Arco palatino modificado com pontas activas (adaptado de Meyer-Marcotty et al., 2007).
A utilização de esporões ou pontas activas foi iniciada em 1927 por Rogers (cit. in
Artese et al., 2011) no tratamento de três casos de mordida aberta anterior causados
por mau posicionamento lingual em repouso. As pontas eram dispostas entre os
caninos e soldadas a um arco palatino. Foi registado um sucesso de 100% no
reposicionamento da língua em repouso num local mais estável. Desde então surgiram
variantes da ideia primária das pontas activas em aparelhos colados directamente nas
superfícies linguais dos incisivos superiores ou inferiores (Meyer-Marcotty et al.,
2007).
Huang, em 1990 realizou um estudo numa amostra de 33 pacientes, divididos por fase
de crescimento para verificar a eficácia das grelhas palatinas ou pontas activas.
Verificou que em ambos houve a correcção da mordida aberta anterior, porém 17,4%
dos pacientes apresentou recidiva (cit. in Artese et al., 2011).
37
Mordida Aberta: Diagnóstico Tratamento e Estabilidade
Quanto à respiração oral causada por obstrução respiratória pode ter intervenção
prévia do otorrinolaringologista para correcção do defeito causador do problema. No
caso de amigdalites crónicas ou hipertrofia das adenóides (Fig. 13), a cirurgia de
remoção estará indicada o quanto antes para poder começar a fisioterapia quer esta
seja respiratória quer seja apenas para criar condições de restituição de normalidade
muscular perioral (Souki et al., 2009).
38
Mordida Aberta: Diagnóstico Tratamento e Estabilidade
Em 1967, Haryett estudou este tipo de casos anteriormente referidos e concluiu que a
percentagem de sucesso no tratamento é excelente (cit. in Torres, 2005).
Estes aparelhos devem ser longos para evitar que a língua tenha espaço para passar
por baixo da grelha lingual (Torres, 2005).
39
Mordida Aberta: Diagnóstico Tratamento e Estabilidade
Mais um motivo para utilizar grelha palatina (Fig. 15) será o tratamento da mordida
aberta anterior por rotação da mandíbula via intrusão dos molares ou controlo vertical
dos mesmos (Gusman, 2011). Um dos problemas da utilização destes dispositivos é
que, como são lisos, a língua poderá ter tendência a apoiar-se neles como estaria até
então a fazer nos dentes. Quando este fenómeno ocorre, pode desistir-se dessa
abordagem pois não está a ocorrer nenhum tipo de reeducação funcional. Irá haver
recidiva da mordida aberta anterior (Artese et al., 2011).
Mesmo que a língua esteja inicialmente numa posição onde seria indicada a utilização
de tratamento impedidor (grelha), se no fim de uma quantidade de tempo aceitável se
verificar que a língua não está a melhorar a sua posição ou que o indivíduo está a criar
o hábito de fazer pressão com a língua contra a grelha, deve-se então tentar
tratamentos direccionadores (pontas activas) (Meyer-Marcotty et al., 2007).
40
Mordida Aberta: Diagnóstico Tratamento e Estabilidade
A ortopedia facial pela utilização de forças extra-orais (Fig. 21) estão especialmente
indicadas para tratamento de mordidas abertas esqueléticas em indivíduos em fase de
crescimento por se considerar que nestas, além da alteração no desenvolvimento das
bases ósseas, a componente muscular postural e mastigatória também estaria alterada
(Beane Jr., 1999).
41
Mordida Aberta: Diagnóstico Tratamento e Estabilidade
A teoria que suporta a utilização da ortopedia segue-se pelo princípio que em fase de
crescimento, os estímulos gerados pelos aparelhos em questão podem influenciar o
desenvolvimento das estruturas buco-maxilo-faciais por estar activo ainda o
crescimento ósseo (Rodrigues, 2010).
Outros aparelhos como os de Thurow modificado (Fig. 24) têm como objectivo a
intervenção ortopédica também, porém estão mais indicados para Classes II
42
Mordida Aberta: Diagnóstico Tratamento e Estabilidade
esqueléticas com posição inadequada da língua que provoca mordida aberta anterior
(Stuani et al., 2005).
43
Mordida Aberta: Diagnóstico Tratamento e Estabilidade
Fig.20-Aparelho activador modificado com bloco borrachoide entre espaço oclusal dos dentes
posteriores (adaptado de Stellzig et al., 1999).
44
Mordida Aberta: Diagnóstico Tratamento e Estabilidade
prazo). Sabe-se que a ortopedia facial tem sucesso quando aplicada em casos com
diagnósticos correctos e seguindo um plano de tratamento adequado. Segundo a
literatura, é também possível afirmar que em período de desenvolvimento do
indivíduo a eficácia deste tipo de tratamentos é significativamente maior mesmo
sendo necessária uma abordagem multidisciplinar de qualquer das formas (Rodrigues,
2010).
3.6.3. Camuflagem
Fig.21-Estado inicial de um paciente que irá recorrer a tratamento por ajustes oclusais (adaptado de
Janson et al., 2008).
45
Mordida Aberta: Diagnóstico Tratamento e Estabilidade
Fig.22-Fotografias finais de tratamento com ajustes oclusais (adaptado de Janson et al., 2008)
Pacientes com história de sucção digital e posição lingual inadequada, selamento para
deglutição com a língua, má oclusão de Classe II ou III dentárias e/ou esqueléticas e
sobremordida horizontal aumentada cuja etiologia é morfogenética podem estar
indicados para cirurgia ortognática se o perfil estiver alterado de forma severa ou para
camuflagem através de extracções de dois ou quatro pré-molares numa ou ambas as
arcadas dependendo das discrepâncias dento-dentária ou dento-maxilar para
restabelecer as sobremordidas horizontal e vertical normais (Denny et al., 2007) (Ahn
et al., 2012).
46
Mordida Aberta: Diagnóstico Tratamento e Estabilidade
Segundo Reis, em 2007, a utilização de elásticos intermaxilares (Fig. 18) pode ser
considerada viável na fase de dentição permanente no intuito de extruir os dentes
anteriores e desta forma fechar mordidas abertas anteriores (Gusman, 2011).
Fig.23-Aplicação de elásticos intermaxilares com aparelho ortodôntico fixo (adaptado de Cabrera et al.,
2010).
Com recurso aos estudos realizados por Lopez-Gavito em 1985, Huang em 2002,
Janson em 2003 e Remmers em 2008, pode afirmar-se que a recidiva proveniente de
tratamentos convencionais ronda os 20 e os 44% a longo prazo (cit. in Teittinen et al.,
2012).
47
Mordida Aberta: Diagnóstico Tratamento e Estabilidade
Nos indivíduos adultos com mordida aberta, é muito frequente a presença de excesso
dento-alveolar posterior na maxila. Por esse motivo, antigamente, era considerado
como tratamento ideal para estes indivíduos a cirurgia ortognática para compactação
do sector posterior maxilar e consequente rotação anti-horária da mandíbula. Hoje em
dia, nestes casos, a utilização de dispositivos de ancoragem esquelética é preferencial
visto não se tratar de um excesso ou divergência das bases ósseas e ser possível
efectuar o tratamento através de procedimentos menos invasivos (Faber et al., 2008).
Fig.24-Intrusão de dentes posteriores das duas hemi-arcadas com utilização exclusiva de mini-
implantes por vestibular e uma barra lingual afastada dos incisivos (adaptado de Araújo et al., 2008).
48
Mordida Aberta: Diagnóstico Tratamento e Estabilidade
locais, porém têm como desvantagem uma maior taxa de insucesso comparativamente
com a utilização de mini-placas (Nicolaievsky, 1980).
A mordida aberta anterior foi uma das primeiras anomalias onde se aplicou o conceito
das mini-placas como auxilio para ancoragem esquelética (Faber et al., 2008).
Para que as mini-placas sejam uma escolha viável, é necessário ter em conta a
quantidade e qualidade de osso cortical e as características da mucosa circundante
sendo que as zonas de mucosa queratinizada têm maior taxa de sucesso do que as
zonas de mucosa alveolar onde existe maior probabilidade de infecção (Faber et al.,
2008).
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Mordida Aberta: Diagnóstico Tratamento e Estabilidade
Takaki, no estudo que realizou em 455 pacientes com 904 implantes colocados no
total, concluiu pelos seus resultados ter uma taxa de sucesso total de 83,8%. Neste seu
estudo, Takaki utilizou micro-implantes (diâmetros de 1.0-1.1 mm), mini-implantes
(diâmetro de 1.5-2.3 mm) e mini-placas. Concluiu que os implantes mais largos
tinham uma maior taxa de sucesso em relação aos mais estreitos. Quer as placas, quer
os implantes demonstraram excelentes resultados clínicos e após a sua remoção
estabilidade dos resultados a curto prazo. (Takaki et al., 2010)
Tabela 2-Taxa de sucesso segundo local de aplicação dos micro-implantes (adaptado de Takaki et al.,
2010).
50
Mordida Aberta: Diagnóstico Tratamento e Estabilidade
Tabela 3-Taxa de sucesso segundo local de aplicação dos mini-implantes (adaptado de Takaki et al.,
2010).
Tabela 4-Taxa de sucesso de terapia com recurso a mini-placas, segundo locais de aplicação (adaptado
de Takaki et al., 2010).
Com recurso a estas três tabelas pode também verificar quais os locais mais
frequentes para a colocação destes dispositivos de ancoragem e a sua taxa de sucesso
individualizada.
51
Mordida Aberta: Diagnóstico Tratamento e Estabilidade
Em casos de mordida aberta anterior severa, a cirurgia deve ser considerada logo que
o crescimento tenha terminado. Mesmo assim, deve-se ter em consideração que a
estabilidade pós-tratamento é de prognóstico duvidoso. (Millett, 2000)
52
Mordida Aberta: Diagnóstico Tratamento e Estabilidade
curto prazo é excelente mesmo sem intervenção cirúrgica mandibular (Proffit et al.,
2000).
Segundo Chang e Lua em 1999 e Proffit em 2000, pacientes adultos cuja fase de
crescimento já foi ultrapassada, têm apenas duas opções de tratamento válidas,
compensações dentárias produzidas através de terapêutica por camuflagem (referindo
a intrusão ou extrusão dentária onde oportuno) e, quando estas não obtêm resultados
satisfatórios, a cirurgia ortognática (cit. in Huang, 2002).
53
Mordida Aberta: Diagnóstico Tratamento e Estabilidade
III. Discussão
Uma oclusão ideal é aquela em que a relação inter-arcada abrange uma arcada
superior com aproximadamente 126mm e a arcada inferior com 128 mm. A relação
intra-arcada cumpre requisitos como curvas de Spee e Wilson não planificadas, todos
os dentes terem contactos simultâneos e com a mesma intensidade durante a oclusão
entre outras características. As sobremordidas horizontal e vertical ideais devem ser
de 2,5 mm.
A oclusão pode ser alterada na fase eruptiva e pós-eruptiva a partir das forças
musculares orais e peri-orais que actuam sobre os dentes piorando ou melhorando o
panorama inicial.
A mordida aberta foi descrita pela primeira vez com esse nome em 1842 por Caravelli
como sendo uma anomalia oclusal de falência na sobremordida vertical.
A mordida aberta, como desordem oclusal, pode ser definida como uma perturbação
no desenvolvimento esquelético e/ou dento-alveolar que irá alterar a relação vertical
das arcadas maxilar e mandibular faltando por isso contactos dentários em parte ou na
totalidade da arcada. Tendo como sua possível classificação: esquelética, dentária ou
dento-alveolar, anterior, posterior ou completa. Está comprovado que o tipo de
anomalia, entre as anteriormente referidas, mais comum é a mordida aberta anterior e
que apesar de poder estar presente em todo o tipo de Classes de Angle, é mais
predominante na Classe II.
54
Mordida Aberta: Diagnóstico Tratamento e Estabilidade
Esta anomalia é mais comum em crianças em fase de dentição decídua e mista sendo
que estudos indicam que aos 6 anos é expectável uma prevalência de 4,2% enquanto
que aos 14 anos são encontrados valores aproximados de 2,5%. Estes dados permitem
demonstrar que com o passar do tempo a tendência é diminuir a prevalência de
mordida aberta. Uma possível explicação para este facto é a diminuição da presença
de certos factores etiológicos como sucção digital.
Uma teoria concebida por Solow e Sandham em 1977 procurou justificar o motivo
pelo qual a postura cervical interfere no crescimento e morfologia craniofacial. Este
conceito, denominado por “Hipótese do estiramento dos tecidos moles” (Fig. 26),
afirma que o facto do estiramento dos tecidos moles que recobrem a cabeça e
pescoço, se estenderem e relaxarem em função do grau de extensão da cabeça, é
responsável pelo aumento das forças aplicadas nas estruturas esqueléticas provocando
estiramento passivo dos músculos faciais e por isso podendo restringir e direccionar o
crescimento ósseo maxilar e mandibular mais para inferior.
Esta hipótese tenta explicar o motivo pelo qual a respiração oral, a deglutição atípica,
a interposição lingual, além de factores influenciados geneticamente causadores de
55
Mordida Aberta: Diagnóstico Tratamento e Estabilidade
56
Mordida Aberta: Diagnóstico Tratamento e Estabilidade
A comparação da altura facial inferior anterior com a altura facial inferior posterior,
irá determinar o envolvimento na mordida aberta esquelética, da mandíbula sabendo
que as possibilidades serão o encurtamento do ramo mandibular ou a rotação posterior
mandibular.
57
Mordida Aberta: Diagnóstico Tratamento e Estabilidade
Uma das limitações deste trabalho é a não inclusão de todas as opções de tratamento
válidas deixando de parte outros tipos de ancoragem que não a esquelética, a
contenção necessária após o período de tratamento da anomalia e, no caso da cirurgia
ortognática, não foram exploradas as técnicas cirúrgicas frequentemente utilizadas e a
possível ordem de utilização das terapias combinadas também não foi examinada
pormenorizadamente. Outra limitação, é a abordagem de apenas duas técnicas de
avaliação da telerradiografia lateral de perfil sendo que existem muitas outras também
utilizadas na actualidade.
Para continuar este trabalho, alguns estudos de campo seriam úteis podendo, deste
modo, avaliar a prevalência desta anomalia recolhendo numa amostra demonstrativa
da população, dados mais concretos e sabendo assim a frequência com que esta
anomalia se apresenta em Portugal. Também poderia ter interesse, investigar a
frequência com que os pacientes diagnosticados com mordida aberta recorrem a cada
tipo de tratamento e avaliar, no final, os seus resultados.
58
Mordida Aberta: Diagnóstico Tratamento e Estabilidade
IV. Conclusão
O objectivo deste trabalho foi alcançado na medida em que foi possível concluir quais
os possíveis factores etiológicos da anomalia, verificar a intervenção que estes têm
para cada tipo de mordida aberta e aprender a melhor forma de diagnosticar esta
desordem oclusal podendo assim elaborar um correcto plano de tratamento para a sua
correcção.
59
Mordida Aberta: Diagnóstico Tratamento e Estabilidade
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