D Ossie Mulher 2023

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Dossiê

Mulher
2023

Elaboração
Elisângela Oliveira
Nathalya Moreira
Priscila Marques
Taís Figueiredo
Vanessa Cardozo
Dossiê Mulher 2023 [livro eletrônico] /
elaboração Elisângela Oliveira . . . [et al.].
-- 18. ed. -- Rio de Janeiro, RJ : Instituto de
Segurança Pública, 2023. -- (Série estudos ; v. 2)
PDF

Outras elaboradoras: Nathalya Moreira, Priscila


Marques, Taís Figueiredo, Vanessa Cardozo.
Bibliografia.
ISBN 978-65-87571-08-9

1. Crime contra as mulheres 2. Mulheres - Crimes


contra - Estatísticas 3. Violência contra as mulheres
- Legislação 4. Violência contra as mulheres - Rio de
Janeiro (Estado) - Estatísticas I. Oliveira,
Elisângela. I I. Moreira, Nathalya. I I I . Marques,
Priscila. IV. Figueiredo, Taís. V. Cardozo, Vanessa.
VI. Série

23 –174321 CDD – 362.880981


Secretaria da
Casa Civil

Cláudio Castro
Governador
Thiago Pampolha
Vice-Governador do Estado do Rio de Janeiro
Nicola Miccione
Secretário de Estado da Casa Civil
Marcela Ortiz
Diretora-Presidente do Instituto de Segurança Pública
Leonardo D’Andrea Vale
Vice-Presidente do Instituto de Segurança Pública

© 2023 by Instituto de Segurança Pública


Distribuição gratuita
Versão digital disponível em www.isp.rj.gov.br
Direitos de publicação reservados ao Instituto de Segurança Pública.
É permitida a reprodução, total ou parcial, e por qualquer meio, desde
que citada a fonte.

Elaboração Revisão Técnica


Elisângela Oliveira Marcela Ortiz
Nathalya Moreira André Gomes
Priscila Marques Emmanuel Rapizo
Taís Figueiredo Karina Nascimento
Vanessa Cardozo Luciana Moura
Ricardo Junqueira
Apoio Técnico
Vanessa Cardozo
André Gomes
Assessoria de Comunicação
Camilla Pereira
Karina Nascimento
Carolina Medeiros
Andressa Cristina Gomes
Esthefany Ventura (estagiária)
Vanessa Cardozo
Luciana Moura
Marina Ferraz (estagiária) Assessoria de Informática
Thiago Falheiros André Andrade
Victor Baptista Jonathan Lima

Capa, Projeto Gráfico e Análise Espacial e Cartografia


Diagramação Temática
Andressa Cristina Gomes Luciano Gonçalves
Autoras Convidadas Equipe
Heloisa Aguiar Alcides Filho
Ana Luiza Azevedo Alexandre Souza
Giulia Luz Aloísio Geraldo
Vitor Rodrigues Anderson Assum
Secretaria de Estado da Mulher
André Regato
Carla Araújo Antônia Luiza
Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro Bruno Massaro
Flávia Nascimento Caio Marcelo
Maria Matilde Alonso Ciorciari Carlos Maciel
Marcia Cristina Carvalho Fernandes Cláudia Peçanha
Pâmella Rossy Duarte Cristiana Menezes
Defensoria Pública do Estado do Rio de Janeiro Daniel de Melo
Diego Soares
Juliana Batalha Knackfuss
Erick Lara
Secretaria de Estado da Casa Civil do Rio de Janeiro
Fernanda Messina
Guilherme Sines
Gustavo Matheus
Janaína Paiva
João Pedro Silveira
Jorge Luiz Monteiro
Estagiários Julio Horta
Clayton Germano Karina de Miranda
Íris Amorim Leonardo Peres
Maria Eduarda Monteiro Livia Floret
Nathan de Almeida Luiz Henrique Lavinas
Pedro Farah Marcelo Haddad
Rodrigo Raimundo Nathalia Santos
Paulo Leite Jr.
Ricardo Pantoja
Rodrigo Veillard
Rosângela Feliciano
Taís Damasceno
Tatiane Moreira
Vanessa Ferreira
Wagner Duarte
A ferida sara, os ossos quebrados se recuperam,
o sangue seca, mas a perda da autoestima,
o sentimento de menos valia, a depressão,
essas são feridas que não cicatrizam.

(Maria Berenice Dias¹)

1 - Trecho disponível em <https://berenicedias.com.br/violencia-domestica/?print=print>.


Último acesso em maio de 2023.
Sumário
Apresentação ................................................................................................................... 10
1. Legislações e projetos de enfrentamento
da violência contra a mulher ............................................................................... 13
1.1. Algumas legislações aprovadas em 2022 e
nos primeiros meses de 2023 ....................................................................................... 15
1.2. Projetos e políticas públicas fluminenses de
enfrentamento da violência contra a mulher ...................................................... 21
1.3. A criação da primeira Secretaria de Estado
da Mulher do Rio de Janeiro: um marco na
proposição de políticas públicas para as
mulheres fluminenses ....................................................................................................... 23
2. A violência contra a mulher no estado
do Rio de Janeiro nos últimos anos ............................................................. 26
2.1. O perfil das mulheres vítimas de violência .............................................. 50

3. Violência Física ......................................................................................................... 63


3.1. Homicídio doloso e tentativa de homicídio ............................................. 70
3.1.1. Distribuição temporal dos homicídios
dolosos e das tentativas de homicídio
contra as mulheres ....................................................................................................... 74
3.1.2. Perfil das mulheres vítimas de
homicídio doloso e de tentativa de homicídio ............................................. 75
3.1.3. Dinâmica dos homicídios dolosos e das
tentativas de homicídio contra as mulheres ............................................... 76
3.2. Feminicídio ...................................................................................................................... 78
3.2.1. Distribuição temporal dos feminicídios
e das tentativas de feminicídio .............................................................................. 81
3.2.2. Perfil das vítimas de feminicídio e
tentativa de feminicídio ............................................................................................. 82
3.2.3. Dinâmica do feminicídio e das
tentativas de feminicídio contra as mulheres .......................................... 84
3.2.4. Outras informações sobre os
feminicídios ........................................................................................................................ 86
Sumário
3.3. Lesão corporal dolosa ...................................................................................... 94
3.3.1. Distribuição temporal das lesões
corporais dolosas contra as mulheres ........................................................ 96
3.3.2. Perfil das mulheres vítimas de lesão
corporal dolosa ................................................................................................................. 97
3.3.3. Dinâmica das lesões corporais dolosas .............................................. 98
4. Violência Sexual ................................................................................................... 100
4.1. Estupro e estupro de vulnerável ............................................................... 108
4.1.1. Distribuição temporal dos estupros e
estupros de vulneráveis ............................................................................................. 113
4.1.2. Perfil das mulheres vítimas de estupro
e estupro de vulnerável ............................................................................................. 114
4.2. Tentativa de estupro ........................................................................................ 116
4.3. Importunação sexual ....................................................................................... 119
4.3.1. Distribuição temporal das
importunações sexuais contra mulheres .................................................... 123
4.3.2. Perfil das mulheres vítimas de
importunação sexual ................................................................................................. 123
4.4. Assédio sexual e ato obsceno ................................................................... 125
4.4.1. Distribuição temporal dos assédios
sexuais e dos atos obscenos contra mulheres ........................................... 128
4.4.2. Perfil das mulheres vítimas de assédio
sexual e de ato obsceno ........................................................................................... 129

5. Violência Psicológica ........................................................................................ 133


5.1. Distribuição temporal das mulheres
vítimas de Violência Psicológica ....................................................................... 145
5.2. O perfil das mulheres vítimas de Violência
Psicológica .................................................................................................................... 145

6. Violência Moral ...................................................................................................... 149


6.1. Distribuição temporal das mulheres
vítimas de Violência Moral ................................................................................... 157
6.2. O perfil das mulheres vítimas de Violência
Moral .................................................................................................................................. 158
Sumário
7. Violência Patrimonial ........................................................................................ 161
7.1. Distribuição temporal das mulheres
vítimas de Violência Patrimonial .............................................................................. 171
7.2. O perfil das mulheres vítimas de Violência
Patrimonial ............................................................................................................................... 172
8. Descumprimento de medida protetiva
de urgência ..................................................................................................................... 175
8.1. Dinâmica dos descumprimentos de
medida protetiva de urgência ................................................................................... 185

9. Considerações finais ......................................................................................... 189


10. Notas metodológicas ...................................................................................... 192
11. Saiba também ........................................................................................................ 199
O Ministério Público e a violência contra
mulher – Carla Rodrigues Araújo de Castro ............................................... 200

12. Outros olhares ...................................................................................................... 207


A atuação da Defensoria Pública do Estado
do Rio de Janeiro na assistência às vítimas
diretas e indiretas nos crimes de feminicídio
– Flávia Nascimento, Maria Matilde Alonso
Ciorciari, Marcia Cristina Carvalho Fernandes
e Pâmella Rossy Duarte ............................................................................................. 208

Breves contribuições acerca da atuação do


Poder Judiciário Brasileiro no combate à
violência contra a mulher – Juliana Batalha
Knackfuss ................................................................................................................................ 218

13. Rede de atendimento e amparo à


mulher em situação de violência ................................................................ 227
14. Apêndices ................................................................................................................ 236
Dossiê Mulher 2023 Sumário

Apresentação
Para além da dor causada pelas marcas físicas evidentes, viver coti-
dianamente sob ameaça, desqualificação e humilhação produz feridas
ocultas e profundas que, muitas vezes, demoram a cicatrizar. A exposição
às agressões ocasiona efeitos que não se restringem ao corpo das mulhe-
res vítimas. Além das consequências de ordem psicológica, são afetadas
suas relações pessoais, sociais e econômicas, assim como aqueles que
estão no seu entorno.

Diante da profundidade e da extensão das sequelas, a violência contra


a mulher se tornou um grave e complexo problema social. Grave porque
atinge diferentes camadas sociais; complexo por envolver condicionantes
históricos, ideológicos e culturais, e incluir, em sua maioria, a existência de
laços afetivos entre vítima e agressor. Daí a importância da produção do
diagnóstico sobre as características, causas e consequências desse tipo
de violação que, somente em 2022, vitimou 125.704 mulheres fluminen-
ses2.

É com este compromisso que o Instituto de Segurança Pública (ISP)


lança a 18ª edição do Dossiê Mulher. Nas próximas páginas, apresentare-
mos análises acerca das cinco formas de violência descritas na Lei Maria
da Penha3 – Física, Sexual, Psicológica, Moral e Patrimonial – além dos
casos de descumprimento de medidas protetivas de urgência (Brasil,

2 - Quantitativo de vítimas considerando os registros de ocorrência da Secretaria de Estado


de Polícia Civil.

3 - BRASIL. Lei nº 11.340, de 7 de agosto de 2006. Cria mecanismos para coibir a violência
doméstica e familiar contra a mulher, nos termos do § 8º do art. 226 da Constituição Federal,
da Convenção sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação contra as Mulheres
e da Convenção Interamericana para Prevenir, Punir e Erradicar a Violência contra a Mulher;
dispõe sobre a criação dos Juizados de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher; altera
o Código de Processo Penal, o Código Penal e a Lei de Execução Penal; e dá outras providên-
cias. Diário Oficial da União, Brasília, 7 de agosto de 2006.

4 - BRASIL. Lei nº 13.641, de 3 de abril de 2018. Altera a Lei nº 11.340, de 7 de agosto de 2006
(Lei Maria da Penha), para tipificar o crime de descumprimento de medidas protetivas de
urgência. Diário Oficial da União, Brasília, 3 de abril de 2018.

10
Apresentação Sumário

2018)4. Para a elaboração deste estudo, utilizamos como fonte principal os


microdados extraídos dos registros de ocorrência da Secretaria de Estado
de Polícia Civil do Rio de Janeiro (SEPOL).

Além do conteúdo descritivo, dos relatos das vítimas e das reflexões


apresentadas ao longo desta edição, optamos por expressar visualmente
o conceito de sororidade na capa e na abertura de cada seção. As ima-
gens foram cuidadosamente pensadas com o propósito de demonstrar
nossa conexão e solidariedade com todas aquelas que denunciaram seus
agressores ou que ainda enfrentam o sofrimento em silêncio. Essa esco-
lha foi uma das maneiras encontradas para enfatizar a importância da
empatia, união e força no combate a todas as formas de exclusão, opres-
são e violência contra a mulher.

Entre as novidades desta edição, incluímos análises sobre o perfil etá-


rio dos agressores, categorizando-as de acordo com as formas de vio-
lência cometidas. Também apresentamos a distribuição do número de
mulheres vítimas e dos descumprimentos de medidas protetivas de ur-
gência, considerando a divisão político-administrativa do estado do Rio
de Janeiro. Ambas são informações relevantes para a estruturação de
ações que reconheçam as particularidades geracionais, os tipos de agres-
sões perpretradas e as características sociais, históricas e econômicas das
oito regiões fluminenses.

Contamos ainda com três contribuições relevantes distribuídas em


duas seções, Saiba também e Outros olhares. Na primeira, incorpora-
mos um estudo dedicado à apresentação das atribuições e da estrutura
do Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro (MPRJ) no que se refere
à violência contra a mulher.

11
Dossiê Mulher 2023 Sumário

Já na segunda, elencamos dois artigos sobre a temática do


enfrentamento do feminicídio, um apresenta os avanços legislativos,
assim como o tratamento conferido pelo Poder Judiciário, em resposta a
essa demanda social. Adicionalmente, o outro aponta como a Defensoria
Pública do Estado do Rio de Janeiro (DPERJ) tem atuado no atendimento
das vítimas diretas e indiretas desse crime.

Ademais, ao associarmos a interpretação de dados oriundos de fontes


qualificadas à divulgação das ações realizadas pelo Estado para reverter
o quadro da violência de gênero, o ISP espera colaborar, continuamente,
para estruturação de políticas públicas, além de contribuir para amplia-
ção da visibilidade e do entendimento deste grave fenômeno social: a
violência contra a mulher. Por fim, é importante lembrar aos leitores que
o acesso às estatísticas relacionadas às cinco formas de violência contra
a mulher também está disponível no painel Dossiê Mulher do site ISP-
Visualização5.

Núcleo de Estudos ISPMulher

5 - O acesso está disponível em <http://www.ispvisualizacao.rj.gov.br/Mulher.html>. Último


acesso em agosto de 2023.

12
1
Legislações e projetos
de enfrentamento
da violência contra a
mulher em 2022
Dossiê Mulher 2023 Sumário

A formulação de políticas públicas transversais para as mulheres com-


põe parte dos esforços empreendidos pelo poder público para garantir a
proteção e os direitos femininos frente às múltiplas formas de violência.
Nesse sentido, a primeira seção do Dossiê Mulher, em contribuição com
a Secretaria de Estado da Mulher (SEM/RJ), apresenta o que há de mais
recente em projetos e legislações, em âmbito estadual e federal, para su-
perar esse quadro social e interestrutural adverso.

Antes de discorrer sobre tais mudanças, é preciso reconhecer a evo-


lução nacional no combate às desigualdades de gênero, a começar pela
criação da Lei Maria da Penha, importante marco legal nas lutas por re-
conhecimento. Com a sua promulgação, foram implementados, pela pri-
meira vez no Brasil, mecanismos para coibir a violência doméstica, por
meio de medidas de assistência e proteção, além da aplicação de penas
mais rigorosas. O detalhamento dessas modalidades de agressão propi-
ciou maior compreensão sobre suas expressões e formas, ampliando a
visão acerca do processo histórico que marginalizou e inferiorizou esse
grupo social.

Cabe contextualizar que as violações físicas e emocionais de gênero


são opressões estruturalmente construídas, reproduzidas na cotidianida-
de e subjetividade, atravessando classes sociais, etnias, escolaridade, fai-
xa etária etc. Em outras palavras, inferimos que, independentemente do
meio social ou do modo de vida, o sistema patriarcal vitimiza, subjuga e
cerceia singularidades (Bourdieu, 2007; Birolli, 2010; Elshtain, 1993)6.

Ao pertencer simultaneamente a outros grupos vulneráveis (como ne-


gros, indígenas, sexualmente explorados, em situação de cárcere, crian-
ças e adolescentes, idosos etc.), a discriminação é acrescida a essa violên-
cia sofrida pela mulher, acirrando o seu potencial ofensivo.

Em que pese os progressos conquistados, como a própria Lei Maria da


Penha, o Pacto Nacional de Enfrentamento à Violência contra as Mulhe-
res e a consequente ampliação da rede de enfrentamento, com a insta-

6 - BOURDIEU, Pierre. O Poder Simbólico. Rio de Janeiro, Bertrand Brasil, 2007.


BIROLLI, Flávia. Gênero e política no noticiário das revistas semanais brasileiras: ausências e
estereótipos. Cadernos Pagu, v. 34, p. 269-299, 2010.
ELSHTAIN, Jean. Public man, private woman: women in social and political thought.
Princeton: Princeton University Press, 1993.

14
Legislações e projetos de enfrentamento
da violência contra a mulher em 2022 Sumário

lação de diversos serviços, tais como os Centros de Referência, as Casas


Abrigo e as Delegacias Especializadas de Atendimento à Mulher (DEAMs),
ainda perduram altos níveis de agressividade e misoginia nas esferas pú-
blicas e privadas.

Para dar conta dessa realidade, a proposição de mudanças legislativas


é essencial para minimizar os sofrimentos e danos causados às vítimas e
seus familiares, por meio do acolhimento e da capacitação profissional
daquelas em situação de vulnerabilidade, da punição dos agressores e da
conscientização sobre as nuances destrutivas do machismo estrutural.

1.1. Algumas legislações aprovadas em 2022 e nos primeiros


meses de 2023

Na esfera estadual, a Rede de Apoio à Mulher com Deficiência Vítima


de Violência Doméstica pode ser considerada um importante avanço no
combate à violência e na inclusão de mulheres com deficiência. Instituída
em 4 de março pela Lei nº 9.595/20227, a rede estadual visa estimular a
conscientização sobre as determinações legais contidas na Lei Maria da
Penha, habilitar servidores em Libras para atendimento mais inclusivo,
bem como oferecer políticas públicas emancipatórias. A efetivação das
ações estabelecidas na Lei nº 9.595/2022 contribuirá para aumentar a vi-
sibilidade da causa e para que essas mulheres se sintam cada vez mais
protegidas.

No mês seguinte, foram promulgadas três grandes conquistas nor-


mativas: a Lei nº 9.655, de 27 de abril de 20228, que autoriza o Poder Exe-

7 - RIO DE JANEIRO. Lei nº 9.595, de 4 de março de 2022. Institui a rede estadual de apoio
à mulher com deficiência vítima de violência doméstica. Diário Oficial do Estado do Rio de
Janeiro, Rio de Janeiro, 4 de março de 2022.

8 - RIO DE JANEIRO. Lei nº 9.655, de 27 de abril de 2022. Fica o Poder Executivo autorizado a
implementar atendimento humanizado, multidisciplinar e imediato, com triagem e acolhida
feita por psicólogo e assistente social, preferencialmente mulheres e enfermeira forense às
mulheres vítimas de violência doméstica e/ou sexual, nas delegacias de Polícia Civil do esta-
do do Rio de Janeiro, e dá outras providências. Diário Oficial do Estado do Rio de Janeiro, Rio
de Janeiro, 27 de abril de 2022.

15
Dossiê Mulher 2023 Sumário

cutivo a garantir assistência multidisciplinar e imediata às mulheres víti-


mas nas delegacias do estado do Rio de Janeiro. Para esse fim, preceitua
que a triagem e acolhida sejam realizadas por psicólogas e assistentes
sociais, preferencialmente mulheres e enfermeiras forenses, com conhe-
cimentos técnicos em casos de violência doméstica e/ou sexual.

Na sequência, foi aprovada a Lei nº 9.659, de 28 de abril de 20229, que


instaura o Programa Estadual de Enfrentamento à Violência Doméstica
contra as Mulheres Idosas na Rede de Saúde Pública fluminense. Além da
orientação a esse grupo social, bem como o seu encaminhamento para
os Centros de Referência Especializados da Assistência Social (CREAS), a
ação tem como foco a produção de estudos qualitativos acerca das vio-
lências cometidas contra essa faixa etária e garantir o cumprimento das
determinações previstas no Estatuto do Idoso10 e na Lei Maria da Penha.

Na esteira do enfrentamento contra as manifestações da Violência


Psicológica, realidade presente na vida de muitas famílias, o último dis-
positivo sancionado em abril, a Lei n° 9.658/202211, estabelece que o Po-
der Executivo estadual divulgue campanhas de conscientização sobre os
abusos de natureza emocional, de modo a promover o debate nos espa-
ços públicos no intuito de combatê-los.

Seguindo a trilha das ações pedagógicas de conscientização sobre o


tema, a Lei nº 9.770/202212 engendra o concurso educacional “Olhar do
colega que protege”. A iniciativa acontece nas escolas estaduais do Rio

9 - RIO DE JANEIRO. Lei nº 9.659, de 28 de abril de 2022. Dispõe sobre o Programa Estadual
de Enfrentamento à Violência contra as Mulheres Idosas na Rede de Saúde Pública Estadual,
e dá outras providências. Diário Oficial do Estado do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 29 de
abril de 2022.

10 - BRASIL. Lei nº 10.741, de 1° de outubro de 2003. Dispõe sobre o Estatuto do Idoso e dá


outras providências. Diário Oficial da União, Brasília, 1° de outubro de 2003.

11 - RIO DE JANEIRO. Lei nº 9658, de 28 de abril de 2022. Institui a campanha de conscien-


tização e combate à violência psicológica praticada contra a mulher. Diário Oficial do Estado
do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 28 de abril de 2022.

12 - BRASIL. Lei n° 9.770, de 4 de julho de 2022. Dispõe sobre a criação de concurso educa-
cional no âmbito das escolas estaduais do estado do Rio de Janeiro sobre a temática violên-
cia de gênero com foco na luta contra o feminicídio. Diário do Estado do Rio de Janeiro, Rio
de Janeiro, 4 de julho de 2022.

16
Legislações e projetos de enfrentamento
da violência contra a mulher em 2022 Sumário

de Janeiro e trata da temática da violência de gênero, com foco na luta


contra o feminicídio. A proposta é que os estudantes colaborem com pro-
duções de texto, vídeo ou música. Os critérios de seleção e pontuação são
definidos por uma comissão composta por membros do corpo docente
e administrativo de cada unidade de ensino, por outros membros da co-
munidade escolar e por integrantes da Comissão de Defesa dos Direitos
da Mulher (CDDM) e do Conselho Estadual dos Direitos da Mulher (CE-
DIM).

Em homenagem ao aniversário da Lei Maria da Penha, o Ministério


Público do Estado do Rio de Janeiro (MPRJ) lançou, no mês de agosto,
a Ouvidoria da Mulher. Durante o atendimento, realizado via formulário
online13 ou contato telefônico e presencial, é possível fazer denúncias re-
lacionadas à violência doméstica e familiar, além de receber orientações
sobre os equipamentos públicos de acolhimento existentes no entorno.

Na esfera federal, ocorreram mudanças em legislações já vigentes, vi-


sando aprimorar seu funcionamento. Uma dessas é a Lei nº 14.310/202214,

13 - Formulário de Ouvidoria das Mulheres. Disponível em: <https://intranet.mprj.mp.br/


institucional/ouvidoria-mprj/formul%C3%A1rio-ouvidoria-da-mulher>. Último acesso em
agosto de 2023.

14 - BRASIL. Lei nº 14.310, de 8 de março de 2022. Altera a Lei nº 11.340, de 7 de agosto


de 2006 (Lei Maria da Penha), para determinar o registro imediato, pela autoridade judicial,
das medidas protetivas de urgência deferidas em favor da mulher em situação de violência
doméstica e familiar, ou de seus dependentes. Diário Oficial da União, Brasília, 8 de março
de 2022.

17
Dossiê Mulher 2023 Sumário

cuja criação alterou o texto da Lei Maria da Penha, ao determinar o re-


gistro imediato das Medidas Protetivas de Urgência (MPU) concedidas a
mulheres que sofrem violência doméstica ou a seus dependentes. Vale
frisar que essa modificação caracteriza o registro imediato das medidas
protetivas em bancos de dados, os quais as instituições de justiça, segu-
rança e assistência social podem ter acesso, de modo a fiscalizar e efeti-
var as medidas deferidas.

A Lei nº 14.316/202215 alterou as Leis nº 13.756/201816 e 13.675/201817,


com intuito de destinar recursos do Fundo Nacional de Segurança Pú-
blica (FNSP) para ações de enfrentamento da violência contra a mulher.
No texto, é proposto que no mínimo 5,0% dos recursos do FNSP sejam di-
recionados a essas operações, desenvolvendo e implementando planos
estaduais e distritais com tratamento específico a mulheres indígenas,
quilombolas e de comunidades tradicionais.

15 - BRASIL. Lei nº 14.316, de 29 de março de 2022. Altera as Leis nº 13.756, de 12 de dezem-


bro de 2018, e 13.675, de 11 de junho de 2018, para destinar recursos do Fundo Nacional de
Segurança Pública (FNSP) para ações de enfrentamento da violência contra a mulher. Diário
Oficial da União, Brasília, 29 de março de 2022.

16 - BRASIL. Lei nº 13.756, de 12 de dezembro de 2018. Dispõe sobre o Fundo Nacional


de Segurança Pública (FNSP), sobre a destinação do produto da arrecadação das loterias
e sobre a promoção comercial e a modalidade lotérica denominada apostas de quota fixa;
altera as Leis n.°s 8.212, de 24 de julho de 1991, 9.615, de 24 março de 1998, 10.891, de 9 de julho
de 2004, 11.473, de 10 de maio de 2007, e 13.675, de 11 de junho de 2018; e revoga dispositivos
das Leis n.ºs 6.168, de 9 de dezembro de 1974, 6.717, de 12 de novembro de 1979, 8.313, de 23
de dezembro de 1991, 9.649, de 27 de maio de 1998, 10.260, de 12 de julho de 2001, 11.345, de
14 de setembro de 2006, e 13.155, de 4 de agosto de 2015, da Lei Complementar nº 79, de 7 de
janeiro de 1994, e dos Decretos-Leis n.ºs 204, de 27 de fevereiro de 1967, e 594, de 27 de maio
de 1969, as Leis nos 6.905, de 11 de maio de 1981, 9.092, de 12 de setembro de 1995, 9.999, de
30 de agosto de 2000, 10.201, de 14 de fevereiro de 2001, e 10.746, de 10 de outubro de 2003,
e os Decretos-Leis n.ºs 1.405, de 20 de junho de 1975, e 1.923, de 20 de janeiro de 1982. Diário
Oficial da União, Brasília, 12 de dezembro de 2018.

17 - BRASIL. Lei nº 13.675, de 11 de junho de 2018. Disciplina a organização e o funcionamen-


to dos órgãos responsáveis pela segurança pública, nos termos do § 7º do art. 144 da Cons-
tituição Federal; cria a Política Nacional de Segurança Pública e Defesa Social (PNSPDS);
institui o Sistema Único de Segurança Pública (Susp); altera a Lei Complementar nº 79, de 7
de janeiro de 1994, a Lei nº 10.201, de 14 de fevereiro de 2001, e a Lei nº 11.530, de 24 de outubro
de 2007; e revoga dispositivos da Lei nº 12.681, de 4 de julho de 2012. Diário Oficial da União,
Brasília, 11 de junho de 2018.

18
Legislações e projetos de enfrentamento
da violência contra a mulher em 2022 Sumário

Considerando que as crianças e os adolescentes são muito afetados


em casos de violência doméstica, a Lei nº 14.344/202218 criou mecanis-
mos para prevenir e combater a violência doméstica e familiar contra
essa faixa etária, entre eles, a criação de centros de atendimento especia-
lizados e espaços de acolhimento familiar. Sua consolidação é mais uma
mudança para atender as demandas de todos os envolvidos em tais epi-
sódios.

Por fim, o Governo Federal instituiu por meio da Lei nº 14.448/202219,


o Agosto Lilás como mês de proteção à mulher. Por conta do aniversário
da Lei Maria da Penha, o período já era costumeiramente escolhido para
realização de diversas atividades e iniciativas contra o machismo. Em ou-
tubro do mesmo ano, foi instituído no estado do Rio de Janeiro o Progra-
ma de Enfrentamento ao Feminicídio, sugerido por meio do Projeto de
Lei nº 4.119/202120.

18 - BRASIL. Lei nº 14.344, de 24 de maio de 2022. Cria mecanismos para a prevenção e o


enfrentamento da violência doméstica e familiar contra a criança e o adolescente, nos ter-
mos do § 8º do art. 226 e do § 4º do art. 227 da Constituição Federal e das disposições especí-
ficas previstas em tratados, convenções ou acordos internacionais de que o Brasil seja parte;
altera o Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940 (Código Penal), e as Leis n.ºs 7.210, de
11 de julho de 1984 (Lei de Execução Penal), 8.069, de 13 de julho de 1990 (Estatuto da Criança
e do Adolescente), 8.072, de 25 de julho de 1990 (Lei de Crimes Hediondos), e 13.431, de 4 de
abril de 2017, que estabelece o sistema de garantia de direitos da criança e do adolescente
vítima ou testemunha de violência; e dá outras providências. Diário Oficial da União, Brasília,
24 de maio de 2022.

19 - BRASIL. Lei nº 14.448, de 9 de setembro de 2022. Institui, em âmbito nacional, o Agos-


to Lilás como mês de proteção à mulher, destinado à conscientização para o fim da violência
contra a mulher. Diário Oficial da União, Brasília, 9 de setembro de 2022.

20 - RIO DE JANEIRO. Projeto de Lei nº 4.419, de 2021. O programa tem como objetivo redu-
zir o número desses crimes no estado, garantindo proteção aos direitos das mulheres e forta-
lecendo uma rede de atendimento. Diário Oficial do Estado do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro.

19
Dossiê Mulher 2023 Sumário

Já nos primeiros meses de 2023, o Governo Federal determinou que


os estados adotassem duas normas: a Lei nº 14.541/202321, que dispõe
sobre o funcionamento das DEAMs 24 horas em todos os dias da semana
e a Lei n° 14.550/202322, que define a concessão imediata das MPU, in-
dependentemente da tipificação penal da violência, do ajuizamento de
ação penal ou cível ou até mesmo da existência de inquérito policial e do
registro de boletim de ocorrência. Além disso, as duas leis deverão vigorar
durante todo o tempo que existir o risco à integridade da mulher.

O Decreto nº 48.39123, de 8 de março de 2023, dispõe sobre as dire-


trizes do Pacto Estadual de Enfrentamento à Violência contra a Mulher
e direciona providências, como a criação de um grupo de trabalho coor-
denado pela SEM/RJ e composto por diversas secretarias e órgãos esta-
duais, incluindo o ISP.

A Lei n° 9.978/202324, também sancionada em março pelo Executivo


Estadual, estabeleceu que os serviços públicos de atendimento às mu-
lheres deverão, obrigatoriamente, utilizar o Formulário de Avaliação de
Risco em Violência Doméstica e Familiar (FRIDA). Elaborado para ajudar
os profissionais na identificação dos riscos, padrões de repetição e agra-
vamento da situação, o modelo é aplicado em duas partes: na primeira,
estão as perguntas objetivas e uma escala de classificação da gravidade
de risco; na segunda, aquelas destinadas a avaliar as condições físicas e
emocionais da vítima, no intuito de prevenir o escalonamento do quadro.

21 - BRASIL. Lei n° 14.541, de 3 de abril de 2023. Dispõe sobre a criação e o funcionamento


ininterrupto de Delegacias Especializadas de Atendimento à Mulher. Diário Oficial da União,
Brasília, 3 de abril de 2023.

22 - BRASIL. Lei n° 14.550, de 19 de abril de 2023. Altera a Lei nº 11.340, de 7 de agosto de


2006 (Lei Maria da Penha), para dispor sobre as medidas protetivas de urgência e estabele-
cer que a causa ou a motivação dos atos de violência e a condição do ofensor ou da ofendida
não excluem a aplicação da Lei. Diário Oficial da União, Brasília, 19 de abril de 2023.

23 - RIO DE JANEIRO. Decreto nº 48.391, de 08 de março de 2023. Dispõe sobre as diretri-


zes do Pacto Estadual de Enfrentamento à Violência Contra a Mulher, cria o Grupo de Traba-
lho na forma que menciona e dá outras providências. Diário do Estado do Rio de Janeiro, Rio
de Janeiro, 8 de março de 2023.

24 - RIO DE JANEIRO. Lei nº 9.978, de 15 de março de 2023. Dispõe sobre o uso do Formu-
lário de Avaliação de Risco em Violência Doméstica e Familiar Contra a Mulher (FRIDA) nos
serviços públicos mantidos pela Rede Estadual de Atendimento. Diário do Estado do Rio de
Janeiro, Rio de Janeiro, 15 de março de 2023.

20
Legislações e projetos de enfrentamento
da violência contra a mulher em 2022 Sumário

1.2. Projetos e políticas públicas fluminenses de enfrentamen-


to da violência contra a mulher

Para além das legislações, a realização de políticas públicas e de ações


direcionadas às mulheres vítimas de violência e aqueles que fazem parte
da sua rede de relações, em especial os filhos, confirmam a seriedade e
o compromisso dos entes federativos com o tratamento desse assunto.

No caso específico do Rio de Janeiro, entre as ações realizadas, desta-


camos a criação do aplicativo Rede Mulher25 que conta com um botão
emergencial para acionamento direto à Central do 190. Desde o lança-
mento, em outubro de 2022, foram contabilizados 22.600 cadastros26.

O aplicativo possibilita que a vítima, após cadastrar seus dados previa-


mente no sistema, acione o atendimento da SEPM pelo botão de emer-
gência, sem precisar telefonar para as autoridades. Dessa forma, os po-
liciais conseguem chegar até as vítimas pela localização compartilhada
via GPS do celular. Além disso, também é possível realizar o boletim de
ocorrência online na Polícia Civil, verificar a listagem completa dos CEAM
em funcionamento no estado e acessar o site do Tribunal de Justiça do
Estado do Rio de Janeiro para solicitar o pedido de medida protetiva,
tudo isso sem sair de casa.

Na mesma linha tecnológica, foi lançado o aplicativo Maria da Penha


Virtual27 com o objetivo de facilitar o pedido de MPU para as vítimas de
violência doméstica e familiar. A ferramenta, criada pelo Centro de Es-
tudos de Direito e Tecnologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro
(CEDITEC/UFRJ), garante o anonimato da mulher e agiliza o procedimen-
to para que o pedido chegue aos serviços públicos especializados.

25 - RIO DE JANEIRO. Aplicativo Rede Mulher completa um mês com a marca de 11,5 mil
downloads. Governo do Estado do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 23 de novembro de 2022.
Disponível em <https://www.rj.gov.br/noticias/aplicativo-rede-mulher-completa-um-mes-
com-115-mil-downloads8924>. Último acesso em maio de 2023.

26 - Dados atualizados em 12 de maio de 2023.

27 - PODER JUDICIÁRIO DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO. Aplicativo Maria da Penha Virtual.


Poder Judiciário do Estado do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro. Disponível em <https://www.
tjrj.jus.br/web/guest/observatorio-judicial-violencia-mulher/aplicativo-maria-da-penha-
-virtual>. Último acesso em junho de 2023.

21
Dossiê Mulher 2023 Sumário

Em junho do mesmo ano, foi aprovada a Lei nº 9.724/202228, que es-


tabelece a campanha de divulgação do aplicativo em setores públicos,
universidades, escolas e redes de atendimento de saúde estaduais.

A criação do Observatório do Feminicídio do Estado do Rio de Janei-


ro representa outra vitória das mulheres. Aprovada pela Lei nº 9.644, de
7 de abril de 202229, a iniciativa objetiva coordenar e analisar os dados
sobre feminicídio consumado e tentado, bem como produzir e publicar
estudos, relatórios e estatísticas que demonstrem a situação e a evolução
desses casos no estado, considerando variáveis como a raça, a faixa etá-
ria, a renda, entre outras. A lei também tem como propósito promover a
integração entre os órgãos de denúncia, investigação e de justiça, além
daqueles que acolhem vítimas e familiares.

Também não podemos deixar de mencionar a expansão do Progra-


ma Empoderadas30, que faz parte da Secretaria de Estado de Desenvolvi-
mento Social e Direitos Humanos (SEDSODH) e possui dezenas de polos
em funcionamento em diferentes regiões do estado. Além de promover
ações educativas, nas quais são transmitidas técnicas preventivas de de-
fesa e proteção feminina, o Empoderadas auxilia as mulheres a obterem

28 - RIO DE JANEIRO. Lei nº 9724, de 21 de junho de 2022. Dispõe sobre campanha de divul-
gação do aplicativo Maria da Penha virtual e dá outras providências. Diário Oficial do Estado
do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 21 de junho de 2022.

29 - RIO DE JANEIRO. Lei nº 9.644, de 7 de abril de 2022. Institui o Observatório do Femini-


cídio no âmbito do estado do Rio de Janeiro e dá outras providências. Diário Oficial do Estado
do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 7 de abril de 2022.

30 - Mais informações sobre o programa estão disponíveis em <https://programaempode-


radas.rio.br/>. Último acesso em maio de 2023.

22
Legislações e projetos de enfrentamento
da violência contra a mulher em 2022 Sumário

seus documentos, promove rodas de conversas com psicólogos especia-


lizados no tema e oferece aconselhamento jurídico às vítimas, dentre ou-
tras estratégias de de combate à violência.

1.3. A criação da primeira Secretaria de Estado da Mulher do


Rio de Janeiro: um marco na proposição de políticas públicas
para as mulheres fluminenses31

Criada em 9 de janeiro de 2023 por meio do Decreto nº 48.310/202332,


a Secretaria de Estado da Mulher é a primeira assim constituída na his-
tória do Rio de Janeiro. Sua criação é uma resposta do governo estadual
à histórica reivindicação das mulheres fluminenses e dos movimentos
feministas. Seus princípios e diretrizes são norteados pelo Plano Nacio-
nal de Políticas para Mulheres33 e suas normativas cumprem os tratados,
acordos e convenções internacionais sobre os direitos desse grupo firma-
dos e ratificados pelo governo brasileiro. Também está de acordo com o
Objetivo do Desenvolvimento Sustentável (ODS) número cinco da Agen-
da 2030 das Nações Unidas (ONU), que trata da promoção da equidade
de gênero e do empoderamento de todas as mulheres e meninas.

A SEM/RJ vem atuando de forma sistêmica e integrada junto à Rede


de Enfrentamento à Violência contra as Mulheres34. Composta por ór-
gãos e serviços governamentais, não-governamentais e a sociedade ci-
vil, a rede desenvolve estratégias e políticas efetivas de prevenção das
diversas formas de violência contra a mulher e de fortalecimento de sua

31 - Essa subseção é de autoria de Heloisa Aguiar (Secretária de Estado da Mulher), Giulia


Luz, Ana Luiza Azevedo e Vitor Rodrigues (servidores da SEM/RJ).

32 - RIO DE JANEIRO. Decreto nº 48.310, de 9 de janeiro de 2023. Dispõe, sem aumento


de despesa, sobre a estrutura organizacional da Secretaria de Estado da Mulher – SEM, e dá
outras providências. Diário Oficial do Estado do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 9 de janeiro
de 2023.

33 - BRASIL. Plano Nacional de Políticas para as Mulheres. Brasília: Secretaria de Políticas


para as Mulheres – Presidência da República. 2013. 114 p.

34 - BRASIL. Rede de Enfrentamento à Violência contra as Mulheres. Brasília: Secretaria


Nacional de Enfrentamento à Violência contra as Mulheres – Secretaria de Políticas para as
Mulheres – Presidência da República, 2011. 74p.

23
Dossiê Mulher 2023 Sumário

autonomia. Nesse sentido, garante seus direitos, bem como a responsa-


bilização e conscientização de agressores, e a oferta qualificada de servi-
ços humanizados em casos de violência.

Em sua atuação junto ao Conselho Estadual dos Direitos da Mulher


e a toda a rede de enfrentamento da violência, a SEM/RJ vem buscando
implementar estratégias efetivas para tornar o estado do Rio de Janeiro
um exemplo na busca pela equidade para todas as mulheres e meninas.
Entre as ações realizadas, podemos citar o diagnóstico da situação, em
termos de infraestrutura e recursos humanos, de todos os equipamentos
de atendimento à mulher em situação de violência (o Centro Integrado
de Atendimento à Mulher – CIAM e Centros Especializados de Atendi-
mento à Mulher – CEAM), a elaboração de alternativas sustentáveis para
sua manutenção e o acompanhamento das obras realizadas pela Empre-
sa de Obras Públicas do Estado do Rio de Janeiro (EMOP), incluindo a
do CEDIM e da Delegacia Especial de Atendimento à Mulher em Campo
Grande, na Zona Oeste do Rio de Janeiro.

Também podem ser citadas a participação no primeiro grupo de tra-


balho “Mulheres e Cidadania”, durante a 7ª edição do Consórcio de In-
tegração Sul e Sudeste (COSUD), em 2023. Sediado no Rio de Janeiro,
o evento foi palco de discussões que culminaram na criação do Fórum
Interestadual de Gestora da Mulher (FIGEM), com a integração de sete es-
tados. Outro resultado alcançado durante o Fórum foi a articulação com
a Secretaria de Estado de Planejamento e Gestão (SEPLAG) para revisão
e regulamentação do Orçamento da Mulher RJ, e com outras secreta-
rias para o mapeamento de políticas transversais que toquem a temática
de gênero, inclusive com a formulação de políticas públicas intersetoriais
com as áreas da Saúde, Educação, Cultura, entre outras.

Como podemos observar, a atuação da Secretaria é focada em três ei-


xos temáticos: a prevenção e combate às violências, em especial ao femi-
nicídio, a promoção da autonomia econômica e o fortalecimento da rede
de atenção às mulheres para promoção de ações intersetoriais e políticas
transversais. A estrutura organizacional da SEM/RJ está diretamente rela-
cionada a esses eixos.

No que se refere ao enfrentamento da violência contra as mulheres,


a Superintendência de Enfrentamento à Violência contra a Mulher (SU-
PEV), tem por objetivo dar visibilidade a princípios, diretrizes e ações de

24
Legislações e projetos de enfrentamento
da violência contra a mulher em 2022 Sumário

prevenção e enfrentamento contra os tipos de violências mais recorren-


tes relacionadas às mulheres, fortalecendo a rede de atendimento e o
sistema de garantia de direitos.

A Superintendência de Autonomia Econômica da Mulher (SUPAE-


CON) visa à promoção da inclusão social e produtiva para a autonomia
socioeconômica feminina, a geração de recursos e o acesso ao trabalho
das mulheres em situação de vulnerabilidade, em igualdade de condi-
ções. As ações conduzidas em seu âmbito também se propõem a con-
tribuir para o desenvolvimento econômico e social do estado do Rio de
Janeiro.

Por último, a Superintendência de Articulação (SUPART) vem atuando


de forma articulada com os municípios, buscando a proteção e a inclusão
social e econômica das mulheres, por meio da participação de todos os
atores envolvidos na consolidação de seus direitos no estado. A sistema-
tização, integração e monitoramento de dados estatísticos e indicadores
sociais, a elaboração de políticas transversais e de ações afirmativas, a
qualificação dos profissionais que atuam na política para mulheres, bem
como o assessoramento aos técnicos dos municípios são algumas das te-
máticas centrais. Nesses primeiros meses de criação, portanto, a SEM/RJ
vem atuando de modo integrado e transversal, dialogando com outros
órgãos públicos e com a sociedade civil, buscando atender às principais
demandas das mulheres fluminenses.

Ao finalizarmos essa seção, que apresentou uma das principais con-


quistas do estado do Rio de Janeiro, no que se refere à atenção e promo-
ção de direitos das mulheres, esperamos ter explicitado a importância
do desenvolvimento de ações abrangentes que estimulem o combate
a todas as formas de preconceito, subjugação e discriminação que a so-
ciedade patriarcal dedicou, historicamente, à condição social da mulher.

Apesar do reconhecimento dos esforços empregados pelos diferentes


órgãos que atuam nessa seara, não podemos esquecer que, diariamente,
centenas de mulheres ainda são expostas a agressões em alguma parte
do nosso estado. No intuito de compreendermos esse cenário, as próxi-
mas seções serão dedicadas à apresentação das estatísticas oficiais acer-
ca desse problema que tanto nos aflige.

25
2
A violência contra a
mulher no estado do
Rio de Janeiro nos
últimos anos
A violência contra a mulher no estado
do Rio de Janeiro nos últimos anos Sumário

De agora em diante, as análises serão pautadas nos dados produ-


zidos, a partir dos registros de ocorrências lavrados pela SEPOL que
envolviam a violência contra a mulher durante o período delimitado
de 2014 a 2022. Somente no ano passado, foram contabilizados 91.301
registros de ocorrências (Gráfico 01). Esse total foi superior aos núme-
ros contabilizados em 2019 (90.232) – ano que antecedeu a pandemia
da Covid-19. Não podemos deixar de mencionar que os anos de 2020
e 2021 foram marcados pela adoção de medidas de isolamento social.
Durante esse período, o medo da contaminação, a dificuldade de cir-
culação e o maior tempo de convívio com os agressores podem ter
contribuído para o aumento da subnotificação dos casos de violência
contra a mulher.

Diferentemente do crescimento notado em relação aos registros de


ocorrências, a análise do Gráfico 01 aponta o declínio no número de
vítimas que procuraram uma delegacia, em 2022, ou que registraram
alguma forma de violência por meio da Delegacia Online da SEPOL, na
comparação com o observado em 2019.

Também verificamos um aumento de 12.983 registros de ocorrên-


cia (16,6%) e de 16.542 mulheres vítimas (15,2%) no comparativo entre
os anos de 2022 e 2021. Identificamos, ainda, a superioridade do nú-
mero de mulheres vítimas (125.704) em relação ao quantitativo de re-
gistros de ocorrências (91.301) lavrados em 2022 – condição percebida
em todos os anos da série histórica. A diferença se justifica pelo fato de
que em uma mesma ocorrência pode haver mais de uma vítima.

27
Dossiê Mulher 2023 Sumário

Gráfico 01 – Registros de ocorrências distintos e mulheres vítimas –


estado do Rio de Janeiro – 2014 a 2022 (números absolutos)

170.598

160.000 148.471

140.000 132.928
Número de mulheres vítimas

128.412 125.704
120.931 121.409
120.000 111.988
109.162
105.639
98.681
100.000 95.047
90.232 91.301
85.205
79.401 78.318
80.000 71.183

60.000

40.000

20.000

2014 2015 2016 2017 2018 2019 2020 2021 2022

Registros Vítimas

Fonte: Elaborado pelo ISP com base em dados da SEPOL.

O Gráfico 02 apresenta o comportamento das cinco formas de violên-


cia estabelecidas pela Lei Maria da Penha. A Violência Física foi predomi-
nante entre os anos de 2015 e 2020. Desde então, a mais registrada foi a
Psicológica (33,7%, em 2021, e 34,7% em 2022), situação também obser-
vada no início da série histórica (34,0% em 2014). Destacamos, ainda, o
comportamento das Violências Sexual e Patrimonial. Entre 2014 e 2016, o
número de registros de Violência Patrimonial era superior ao da Violência
Sexual. A partir desse momento, ocorreu a inversão do padrão. Cabe ain-
da destacar que, em 2022, houve o maior percentual de registros isolados
de Violência Sexual de toda a série histórica (5,9%)

28
A violência contra a mulher no estado
do Rio de Janeiro nos últimos anos Sumário

Gráfico 02 – Formas de Violência nos registros de ocorrências –


estado do Rio de Janeiro – 2014 a 2022 (valores percentuais)

36,4%
34,4% 34,9% 34,6% 34,7%
35,0% 34,0% 33,9% 33,7%
33,0%

33,5% 33,3%
32,3% 32,6% 31,6% 32,0%
30,0% 31,0% 31,2%
30,7%
% de mulheres vítimas

25,0%
24,3% 24,8% 24,8% 24,4% 24,5%
23,5% 23,5% 23,6% 24,0%
20,0%

15,0%

10,0%

5,2% 5,7% 5,7% 5,9%


4,3% 4,4% 4,9% 5,0%
5,0% 4,2%
4,4% 4,6% 4,6% 5,0% 4,8%
3,8% 3,8% 4,1% 4,2%

0,0%

2014 2015 2016 2017 2018 2019 2020 2021 2022

Violência Física Violência Patrimonial Violência Sexual


Violência Moral Violência Psicológica

Fonte: Elaborado pelo ISP com base em dados da SEPOL.

Os registros de ocorrências não trouxeram somente a narrativa do


sofrimento de violências isoladas. Dentre os 91.301 registros lavrados em
2022, 20.830 relataram violências simultâneas (22,8%). O Gráfico 03 apre-
senta os cinco maiores grupos de violências conjuntas (18.066 ou 86,6%
do total). O destaque ficou para a combinação das violências Psicológica
e Moral (7.566 ou 36,3% do total das violências simultâneas), Física e Psico-
lógica (4.707 ou 22,6%) e Física e Moral (2.947 ou 14,1%). Esses dados mos-
tram que, além de cíclicas, muitas vezes as agressões estão associadas.

Como podemos observar, houve reincidência das violências Psicoló-


gica e Moral em relação às outras formas. É importante lembrar que, ao
minar a confiança e a autoestima da mulher por meio de ameaça, cons-
trangimento ou perseguição, normalmente, o agressor cria uma porta

29
Dossiê Mulher 2023 Sumário

de entrada para o cometimento de outras formas de violência, além de


atingir a autoestima da mulher, o que contribui para a perpetuação do
ciclo de violência35.

Gráfico 03 – Cinco maiores grupos de violência nos registros de


ocorrências – estado do Rio de Janeiro – 2022
(números absolutos e valores percentuais)

100,0%

75,0%
% de mulheres vítimas

50,0%

36,3%
7.566

22,6%
25,0% 4.707
14,1%
2.947
8,6%
1.789 5,1%
1.057

0,0%

Psicológica Física e Física e Física, Psicológica


e Moral Psicológica Moral Psicológica e
e Moral Patrimonial

Fonte: Elaborado pelo ISP com base em dados da SEPOL.

De agora em diante, analisaremos a proporção de crimes enquadra-


dos como violência doméstica e familiar (Lei nº 11.340/2006 ou Lei Maria
da Penha), de menor potencial ofensivo (Lei nº 9.099/1995 ou Lei dos Jui-

35 - A pesquisadora Walker (1979) propôs um modelo teórico no qual a dinâmica relacional


passa por três estágios, na medida em que a violência escalona e a mulher vítima se sente
desamparada diante da impossibilidade de controlar a exposição às agressões. São esses:
tensão, episódios de agressão e, por último, arrependimento e amorosidade. WALKER,
Lenore. The Battered Woman Syndrome. New York: Harper and How, 1979.

30
A violência contra a mulher no estado
do Rio de Janeiro nos últimos anos Sumário

zados Especiais Cíveis e Criminais [Silva, 2021])36 e os que não foram cate-
gorizados em nenhuma lei específica.

Ao examinarmos o Gráfico 04, notamos que, no que se refere aos cri-


mes relacionados à Violência Física, prevaleceu o enquadramento na Lei
nº 11.340/2006, que trata da violência doméstica e familiar. Entre 2014 e
2020, houve um aumento na proporção de delitos dessa natureza enqua-
drados na Lei Maria da Penha, salto de 59,8% para 69,3%, seguido de que-
da nos dois anos consecutivos – 67,7%, em 2021, e 66,8% em 2022.

Em relação à Lei nº 9.099/1995, atentamos para redução da proporção


entre 2016 (28,8%) e 2020 (21,2%), além de um aumento nos dois últimos
anos (23,4% em 2021, e 24,0% em 2022). No que concerne à proporção
dos crimes que não foram enquadrados em uma lei específica, notamos
uma redução entre 2014 (12,6%) e 2015 (9,2%). Desde então, a proporção se
manteve no mesmo nível, com exceção de 2017 que apresentou um leve
aumento (10,2%).

Gráfico 04 – Tipo de lei aplicada na Violência Física –


estado do Rio de Janeiro – 2014 a 2022 (valores percentuais)
69,3% 67,7%
70,0% 66,8%
64,5% 65,6%
62,7% 63,7%
62,2%
59,8%
60,0%
% de mulheres vítimas

50,0%

40,0%

28,1% 28,8%
30,0% 27,7% 26,8%
25,3% 24,8%
23,4% 24,0%
21,2%
20,0%

12,6%
9,2% 9,0% 10,2% 9,5% 9,5% 9,5% 9,2%
8,9%
10,0%

0,0%

2014 2015 2016 2017 2018 2019 2020 2021 2022

Lei nº 11.340/2006 Lei nº 9.099/1995 Sem lei específica

Fonte: Elaborado pelo ISP com base em dados da SEPOL.

36 - SILVA, Danilo. Principais aspectos da Lei dos Juizados Especiais Cíveis e Criminais
(9.099/95). Aurum, São Paulo, 25 de agosto de 2021. Disponível em <https://www.aurum.com.br/
blog/lei-9099/#:~:text=De%20ªcordo%20com%20º%20ªrt,a%20concilia%C3%A7%C3%A3º%20
ºu%20ª%20transa%C3%A7%C3%A3>. Último acesso em abril de 2023.

31
Dossiê Mulher 2023 Sumário

Em se tratando da Violência Sexual, o Gráfico 05 mostra que, em geral,


nenhuma lei específica foi aplicada no momento do registro de ocorrên-
cia. Durante toda a série histórica, a proporção desta categoria apresen-
tou média de 60,1%. Em 2022, 63,3% dos registros de Violência Sexual não
tiveram lei específica associada. Por sua vez, observamos uma tendência
de aumento do uso da Lei Maria da Penha para enquadramento desses
crimes, ainda que em 2022 (31,5%) tenha sido registrada pequena queda
em relação ao ano de 2021 (33,7%).

Gráfico 05 – Tipo de lei aplicada na Violência Sexual –


estado do Rio de Janeiro – 2014 a 2022 (valores percentuais)

64,9% 63,3%
62,3% 61,7%
59,8%
60,0% 57,9% 57,5% 57,0% 56,1%

50,0%
% de mulheres vítimas

40,0%
33,9% 33,7%
31,4% 31,5%
30,3% 30,1%
30,0% 26,8% 27,7%
26,0%

20,0%
14,2% 15,3% 14,8%
12,7% 12,5%

10,0%
5,0% 4,6% 5,1%
3,8%

0,0%

2014 2015 2016 2017 2018 2019 2020 2021 2022

Lei nº 11.340/2006 Lei nº 9.099/1995 Sem lei específica

Fonte: Elaborado pelo ISP com base em dados da SEPOL.

No Gráfico 06, vemos novamente a tendência de ampliação do uso


da Lei Maria da Penha para registrar os crimes contra as mulheres, es-
pecificamente entre aqueles que compõem a Violência Psicológica. Em
2014, 56,1% dos registros citavam essa lei, contra 63,5% em 2022. O ano de
2021 alcançou o topo desse percentual, com 65,1% do total de casos. Vale
registrar também o aumento relevante de três pontos percentuais entre
2021 (27,4%) e 2022 (30,2%) para os registros de Violência Psicológica com
aplicação da Lei nº 9.099/1995.

32
A violência contra a mulher no estado
do Rio de Janeiro nos últimos anos Sumário

Gráfico 06 – Tipo de lei aplicada na Violência Psicológica –


estado do Rio de Janeiro – 2014 a 2022 (valores percentuais)

64,9% 65,1% 63,5%


62,0%
60,4% 60,9%
60,0% 58,7% 58,2%
56,1%

50,0%
% de mulheres vítimas

40,0%
34,9% 35,4% 35,8%
32,3% 32,8%
31,0% 30,2%
30,0% 27,4%
26,0%

20,0%

9,0% 9,1%
10,0% 7,3% 7,0% 7,5%
5,9% 6,0% 6,4% 6,4%

0,0%

2014 2015 2016 2017 2018 2019 2020 2021 2022

Lei nº 11.340/2006 Lei nº 9.099/1995 Sem lei específica

Fonte: Elaborado pelo ISP com base em dados da SEPOL.

O Gráfico 07 reforça a importância que a SEPOL tem dado à aplicação


da Lei Maria da Penha. Até 2017, a maioria dos registros de Violência Moral
eram enquadrados na Lei nº 9.099/1995. Em 2018, houve uma inversão, a
Lei Maria da Penha foi usada em 45,6% dos casos, e a Lei do Menor Poten-
cial Ofensivo, em 44,6%. Nos anos seguintes, a distância entre as duas se
ampliou com o maior uso da Lei Maria da Penha. No entanto, ressaltamos
que os valores dessas duas categorias se aproximaram em 2022, quando
a Lei Maria da Penha foi aplicada 47,3% das vezes, e a Lei nº 9.099/95, em
43,3%.

33
Dossiê Mulher 2023 Sumário

Gráfico 07 – Tipo de lei aplicada na Violência Moral –


estado do Rio de Janeiro – 2014 a 2022 (valores percentuais)

50,8% 51,2%
49,1% 49,3% 49,2% 49,0%
50,0% 47,3%
45,3% 45,6%
45,0%
43,7% 44,6%
40,0% 41,9% 42,0% 43,3%
41,4%
40,0%
% de mulheres vítimas

38,2%
35,0%
35,7%

30,0%

25,0%

20,0%

15,0% 13,5%
10,9% 11,0% 10,7%
9,4% 9,8% 9,0% 9,4%
10,0% 8,9%

5,0%

0,0%

2014 2015 2016 2017 2018 2019 2020 2021 2022

Lei nº 11.340/2006 Lei nº 9.099/1995 Sem lei específica

Fonte: Elaborado pelo ISP com base em dados da SEPOL.

O Gráfico 08 mostra uma forte tendência do uso da Lei Maria da Pe-


nha para registrar a Violência Patrimonial no estado do Rio de Janeiro.
Em 2014, 19,4% dos registros de ocorrência não possuíam lei específica
no detalhamento, 35,4% associavam a Lei nº 9.099/1995 e 45,2%, a Lei nº
11.340/2006. Em 2022, a Lei Maria da Penha representou 62,9% do total, a
Lei nº 9.099/1995, 26,7%, e os registros sem lei específica somaram 10,4%.

34
A violência contra a mulher no estado
do Rio de Janeiro nos últimos anos Sumário

Gráfico 08 – Tipo de lei aplicada na Patrimonial –


estado do Rio de Janeiro – 2014 a 2022 (valores percentuais)

65,0%
62,2% 62,9%

60,0%
55,9%
53,1%
51,9%
48,4% 49,3%
50,0%
% de mulheres vítimas

45,2%

40,0%
35,4% 35,4% 35,5%
31,7% 32,5%
30,4%
30,0% 26,7%
24,0% 23,8%
19,4%
20,0%
16,2% 15,3% 15,2% 15,5%
13,8% 13,8%
11,2% 10,4%
10,0%

0,0%

2014 2015 2016 2017 2018 2019 2020 2021 2022

Lei nº 11.340/2006 Lei nº 9.099/1995 Sem lei específica

Fonte: Elaborado pelo ISP com base em dados da SEPOL.

Adicionalmente às análises acerca das formas de violência enfrenta-


das pelas mulheres, a 18ª edição do Dossiê Mulher traz dados inéditos
sobre o perfil etário dos autores (Gráficos 09 a 13). Essas informações são
de suma relevância, visto que a identificação da relação entre a idade e o
tipo de agressão perpetrada pode contribuir para o desenvolvimento de
ações preventivas e educacionais, pautadas na conscientização e direcio-
nadas para diferentes grupos. Inclusive, o artigo 45 da Lei Maria da Penha
estabelece que, nos casos de violência doméstica contra a mulher, o juiz
poderá determinar o comparecimento obrigatório do agressor a progra-
mas de recuperação e reeducação.

Goulart, Gomes e Boeckel (2020)37 realizaram uma revisão sistemáti-

37 - GOULART, Anderson Duarte; GOMES, Juliana Motta; BOECKEL, Mariana Gonçalves. In-
tervenções com homens acusados de violência por parceiro íntimo: revisão sistemática da
literatura. Contextos Clínicos, v. 13, p. 270-292, 2020.

35
Dossiê Mulher 2023 Sumário

ca com base em artigos que abordam intervenções voltadas à reflexão


sobre a prática de comportamentos violentos e a ressignificação das re-
lações de gênero, tendo como foco os homens acusados de violência por
parceiro íntimo. Entre os resultados observados, os autores destacaram “a
baixa reincidência de atos violentos por parte dos participantes, e os bons
indicadores pós intervenção na maioria dos estudos realizados” (Gomes;
Boeckel, 2020, p. 288).

Para além do caráter punitivo, as políticas de prevenção e de enfren-


tamento à violência contra a mulher lançam luz sobre a importância de o
agressor refletir sobre seus atos, de modo a desencorajá-lo a reincidir ou
praticar novas violências.
Tradicionalmente o enfrentamento à violência contra a
mulher teve seu centro nas intervenções com as mulheres;
e assim deve ser, por se tratar de uma violação de direitos
humanos e ser a mulher quem diretamente sofre a violência.
Todavia, a plena superação do problema, na perspectiva
preventiva, passa também pelo diálogo com os homens,
na reconstrução de uma masculinidade não pautada na
violência (Ávila, 2017, p. 109)38.

O Gráfico 09 expõe a proporção dos autores de violência com base


em seu perfil etário. Ao longo de toda a série histórica, é evidente a pre-
dominância daqueles com idades entre 30 e 59 anos, com um aumento
de 43,2%, em 2014, para 52,7% em 2022. Da mesma forma, também se
destaca o crescimento dos que possuíam 60 anos ou mais (de 3,0%, em
2014, para 5,3% em 2022). No período delimitado, houve a redução da au-
sência de informação sobre a idade dos autores (de 30,8%, em 2014, para
19,3% em 2022).

38 - ÁVILA, Thiago Pierobom de. Políticas públicas de prevenção primária à violência contra
a mulher: lições da experiência australiana. Revista Gênero, v. 17, p. 95-125, 2017.

36
A violência contra a mulher no estado
do Rio de Janeiro nos últimos anos Sumário

Gráfico 09 – Autores de violência contra a mulher por perfil etário –


estado do Rio de Janeiro – 2014 a 2022 (valores percentuais)

100,0%
30,8% 27,6% 29,3% 26,9% 24,7% 22,6% 22,6% 19,7% 19,3%

5,2% 5,3%
75,0%
52,4% 52,7%
48,6% 49,8% 50,6%
45,4% 46,4%
43,2% 44,5%
% de autores

50,0%

25,0%
20,9% 21,6% 20,8% 21,2% 21,0% 21,5% 21,1% 21,6% 21,3%

0,0%

2014 2015 2016 2017 2018 2019 2020 2021 2022

0 a 17 anos 18 a 29 anos 30 a 59 anos 60 anos ou mais Sem informação

Fonte: Elaborado pelo ISP com base em dados da SEPOL.

O Gráfico 10 indica que, entre os autores menores de 18 anos, a Violên-


cia Física se sobressaiu. Apesar dessa prevalência, notamos sua redução
proporcional ao longo da série histórica (de 45,6%, em 2014, para 40,2%
em 2022). Outra análise relevante diz respeito ao aumento na prática da
Violência Sexual, com a proporção subindo de 7,2%, em 2014, para 15,1%
em 2022.

37
Dossiê Mulher 2023 Sumário

Gráfico 10 – Autores de violência contra a mulher por perfil etário


(0 a 17 anos) – estado do Rio de Janeiro –
2014 a 2022 (valores percentuais)

100,0%
7,2% 6,7% 7,5% 11,4% 9,0% 12,1% 15,5% 17,3% 15,1%

26,4% 27,8% 26,9% 24,6%


23,0% 26,3%
23,5% 25,5%
21,5%
75,0%
% de autores

17,4% 16,9% 15,9% 15,7% 16,0% 5,0%


14,1% 15,8%
13,1% 16,6%
50,0%

45,6% 46,2% 47,0% 46,7%


45,3% 44,6%
42,1% 43,0%
40,2%

25,0%

0,0%

2014 2015 2016 2017 2018 2019 2020 2021 2022

Física Moral Patrimonial Psicológica Sexual

Fonte: Elaborado pelo ISP com base em dados da SEPOL.

Na faixa etária dos 18 aos 29 anos também prevaleceu a prática da Vio-


lência Física (Gráfico 11). A maior e a menor proporção foram observadas
em 2017 (47,2%) e 2022 (42,1%), respectivamente. É relevante mencionar o
aumento da proporção da Violência Patrimonial, que evoluiu de 4,0%, em
2014, para 5,8% em 2022.

38
A violência contra a mulher no estado
do Rio de Janeiro nos últimos anos Sumário

Gráfico 11 – Autores de violência contra a mulher por perfil etário


(18 a 29 anos) – estado do Rio de Janeiro –
2014 a 2022 (valores percentuais)

100,0%
31,2% 30,7% 29,7% 27,9% 28,6% 29,3% 29,8% 31,0%
27,7%

75,0%

5,6%
% de autores

17,1% 5,8%
17,4% 18,1% 18,0% 17,5% 18,2% 16,4%
17,2% 17,4%

50,0%
47,2% 46,0% 46,7%
44,8% 44,5% 45,1% 44,2% 43,5% 42,1%

25,0%

0,0%

2014 2015 2016 2017 2018 2019 2020 2021 2022

Física Moral Patrimonial Psicológica Sexual

Fonte: Elaborado pelo ISP com base em dados da SEPOL.

Já em relação aos agressores entre 30 e 59 anos (Gráfico 12), o início


da série histórica ilustra a preponderância da prática da Violência Psico-
lógica, registrando uma proporção de 35,1%, em 2014, seguida por uma
trajetória descendente até 2020, com exceção de 2019. Desde então, veri-
ficamos uma tendência crescente dessa forma de violação que, em 2022,
atingiu a maior proporção da série (36,1%). Vale frisar que a incidência da
Violência Física foi superior às demais formas de violência no período de
2016 a 2018, bem como em 2020. A partir desse ponto, notamos a redu-
ção relativa na ocorrência da Violência Física – em 2022 foi registrado o
menor valor da série (31,4%).

39
Dossiê Mulher 2023 Sumário

Gráfico 12 – Autores de violência contra a mulher por perfil etário


(30 a 59 anos) – estado do Rio de Janeiro –
2014 a 2022 (valores percentuais)

100,0%
35,1% 34,5% 33,2% 32,4% 32,5% 33,6% 32,2% 34,7% 36,1%

75,0%
% de autores

24,8% 23,5% 24,8% 5,1%


24,0% 24,7% 25,4% 23,3%
23,7% 23,6%
50,0%

35,0% 36,5% 34,8% 35,5%


34,3% 34,1% 32,8% 32,3% 31,4%
25,0%

0,0%

2014 2015 2016 2017 2018 2019 2020 2021 2022

Física Moral Patrimonial Psicológica Sexual

Fonte: Elaborado pelo ISP com base em dados da SEPOL.

Entre os idosos (Gráfico 13), preponderou o cometimento de crimes


relacionados à Violência Moral (com exceção de 2021 e 2022). No que se
refere às demais formas de violência, merece destaque o aumento da
Violência Sexual entre 2016 (3,9%) e 2017 (6,4%). A partir disso, observa-
mos a manutenção desse padrão de comportamento seguido de um
leve crescimento nos dois últimos anos (6,8% em 2021, e 7,0% em 2022).

40
A violência contra a mulher no estado
do Rio de Janeiro nos últimos anos Sumário

Gráfico 13 – Autores de violência contra a mulher por perfil etário


(60 anos ou mais) – estado do Rio de Janeiro –
2014 a 2022 (valores percentuais)

100,0%
6,4% 5,9% 6,1% 6,7% 6,8% 7,0%
31,9% 32,0% 31,4%
31,3% 31,1% 32,6% 31,2% 33,3% 35,4%

75,0%
% de autores

35,6% 36,3% 35,6% 34,7%


32,9% 35,2% 33,4%
33,0%
31,7%
50,0%

25,0%
24,4% 24,7% 25,6% 25,7% 25,1% 24,9%
22,8% 23,1% 22,6%

0,0%

2014 2015 2016 2017 2018 2019 2020 2021 2022

Física Moral Patrimonial Psicológica Sexual

Fonte: Elaborado pelo ISP com base em dados da SEPOL.

No grupo de autores para os quais não havia informações registradas


sobre a idade (Gráfico 14), merece especial atenção a redução da ocorrên-
cia da Violência Física a partir de 2018, chegando ao seu menor valor em
2022 (26,9%). Ademais, ressaltamos a tendência de aumento da prática
da Violência Sexual ao longo da série histórica, que se inicia em 5,0%, em
2014, e atinge a significativa proporção de 10,3% em 2022.

41
Dossiê Mulher 2023 Sumário

Gráfico 14 – Autores de violência contra a mulher por perfil etário


(sem informações) – estado do Rio de Janeiro – 2014 a 2022
(valores percentuais)

100,0%
5,0% 5,6% 5,9% 7,0% 7,8% 8,5% 8,3% 8,8% 10,3%
33,5% 31,8% 30,2% 28,6% 27,8% 29,8% 30,0% 31,0% 30,2%

75,0%
% de autores

5,2%
5,4% 5,0%
28,9% 28,9% 27,3% 28,1%
27,9% 27,3% 28,2%
27,9% 28,5%
50,0%

32,4% 31,1%
29,0% 29,2% 30,3% 29,0% 29,0%
25,0% 27,3% 26,9%

0,0%

2014 2015 2016 2017 2018 2019 2020 2021 2022

Física Moral Patrimonial Psicológica Sexual

Fonte: Elaborado pelo ISP com base em dados da SEPOL.

Ao examinar especificamente o universo de mulheres vítimas, a Tabe-


la 01 apresenta a distribuição correspondente às regiões administrativas
do estado do Rio de Janeiro39. Em 2022, a Metropolitana registrou o maior
número de vítimas (90.644 ou 72,1%) e a Costa Verde, o menor (2.634 ou
2,1%). Essa distribuição se assemelha àquela percebida em 2021, quando
a primeira concentrou 77.793 vítimas (71,3%), à medida que a segunda
contabilizou 2.491 (2,3%).

Considerando ainda a série histórica anual, a região Metropolitana


apresentou a maior variação na proporção de mulheres atingidas, pas-
sando de 75,6%, em 2014, para 72,1% em 2022. É mister frisar o aumento
do percentual de vítimas do sexo feminino na região das Baixadas Litorâ-
neas, chegando a 7,0% em 2022 – maior concentração desde o início da
série histórica.

39 - A distribuição dos municípios por regiões do estado está disponível nas Notas Metodo-
lógicas deste Dossiê.

42
A violência contra a mulher no estado
do Rio de Janeiro nos últimos anos Sumário

Tabela 01 – Mulheres vítimas de violência – regiões do estado do Rio de


Janeiro – 2014 a 2022 (números absolutos e valores percentuais)

Região 2014 2015 2016 2017 2018 2019 2020 2021 2022

Estado do Rio
170.598 148.471 132.928 111.988 121.409 128.412 98.681 109.162 125.704
de Janeiro

Baixadas 9.424 8.853 8.238 6.173 6.773 8.077 6.225 7.439 8.742
Litorâneas 5,5% 6,0% 6,2% 5,5% 5,6% 6,3% 6,3% 6,8% 7,0%

Centro-Sul 3.454 3.410 3.373 2.396 2.709 3.344 2.639 2.855 3.435
Fluminense 2,0% 2,3% 2,5% 2,1% 2,2% 2,6% 2,7% 2,6% 2,7%

2.564 2.572 2.106 1.899 2.137 2.461 2.171 2.491 2.634


Costa Verde
1,5% 1,7% 1,6% 1,7% 1,8% 1,9% 2,2% 2,3% 2,1%

9.387 8.277 7.601 6.251 6.828 7.280 5.839 6.730 6.927


Médio Paraíba
5,5% 5,6% 5,7% 5,6% 5,6% 5,7% 5,9% 6,2% 5,5%

129.013 110.529 97.665 83.508 89.990 92.848 70.456 77.793 90.644


Metropolitana
75,6% 74,4% 73,5% 74,6% 74,1% 72,3% 71,4% 71,3% 72,1%

Noroeste 3.458 3.025 3.339 2.871 3.306 3.381 2.650 2.655 2.882
Fluminense 2,0% 2,0% 2,5% 2,6% 2,7% 2,6% 2,7% 2,4% 2,3%

Norte 7.315 5.762 4.953 4.172 4.525 5.595 4.079 4.508 5.211
Fluminense 4,3% 3,9% 3,7% 3,7% 3,7% 4,4% 4,1% 4,1% 4,1%

5.983 6.043 5.653 4.718 5.141 5.426 4.622 4.691 5.229


Serrana
3,5% 4,1% 4,3% 4,2% 4,2% 4,2% 4,7% 4,3% 4,2%

Fonte: Elaborada pelo ISP com base em dados da SEPOL.

No que diz respeito às taxas de violência40, a Tabela 02 mostra que em


2022 ocorreu um aumento em todas as regiões do estado em compara-
ção com o ano anterior. Destacamos, na análise, o Centro-Sul Fluminense,
onde o número de vítimas passou de 1.895,7 para 2.280,8, representando
um aumento de 20,3%. Em relação à série histórica anual, percebemos
uma redução da taxa por 100 mil mulheres em todas as regiões entre os
anos de 2014 e 2022, com ênfase no Noroeste Fluminense, que registrou
declínio de 29,3% (ou seja, de 2.372,7 caiu para 1.677,8).

40 - As taxas das regiões foram obtidas por meio da divisão do número de mulheres vítimas
pela população feminina das respectivas áreas. Para o cálculo foram utilizadas as estimativas
populacionais por município e sexo para cada ano da série, com base nos dados do DATASUS.

43
Dossiê Mulher 2023 Sumário

Tabela 02 – Mulheres vítimas – regiões do estado do Rio de Janeiro –


2014 a 2022 (taxa por 100 mil mulheres)

Região 2014 2015 2016 2017 2018 2019 2020 2021 2022

Estado do Rio
1.952,6 1.688,0 1.502,0 1.258,0 1.355,5 1.425,3 1.089,2 1.198,5 1.380,1
de Janeiro

Baixadas
2.371,8 2.177,6 1.984,2 1.457,5 1.566,9 1.832,9 1.387,0 1.629,1 1.914,5
Litorâneas

Centro-Sul
2.834,6 2.785,4 2.743,2 1.617,0 1.820,3 2.237,6 1.758,9 1.895,7 2.280,8
Fluminense

Costa Verde 1.916,0 1.885,6 1.517,3 1.345,4 1.488,4 1.686,4 1.464,9 1.656,6 1.751,7

Médio Paraíba 2.067,6 1.813,2 1.656,6 1.334,6 1.450,3 1.538,6 1.228,2 1.409,3 1.450,5

Metropolitana 1.927,0 1.642,2 1.444,0 1.228,9 1.317,8 1.353,4 1.022,4 1.124,1 1.309,9

Noroeste
2.372,7 2.069,3 2.277,3 1.694,2 1.944,0 1.981,2 1.547,7 1.545,7 1.677,8
Fluminense

Norte
1.607,1 1.251,7 1.065,0 873,9 938,1 1.148,6 829,6 908,8 1.050,5
Fluminense

Serrana 2.208,1 2.215,9 2.060,6 1.692,2 1.833,2 1.923,9 1.630,0 1.645,8 1.834,6

Fonte: Elaborada pelo ISP com base em dados da SEPOL.

O Mapa 01 representa a distribuição das taxas de violência por 100 mil


mulheres entre os municípios do Rio de Janeiro, considerando a compi-
lação de dados referentes aos cinco tipos de violência. A análise apontou
que apenas 2041 das 92 cidades do estado, aproximadamente 22,0% do
total, apresentaram taxas superiores a 2.129,1 incidentes a cada 100 mil
mulheres – vale destacar que nenhuma dessas faz parte da região Metro-

41 - São eles: Paty dos Alferes (2.762,5), Pinheiral (2.739,5), Duas Barras (2.708,8), Mangaratiba
(2.603,4), Três Rios (2.545,3), Saquarema (2.527,1), Cordeiro (2.517,8), Arraial do Cabo (2.476,1),
Itaocara (2.395,2), Itatiaia(2.319,7), Mendes (2.276,5), Porciúncula (2.244,3), Carmo (2.230,4),
Aperibé (2.150,0), Cambuci (2.138,0), São Fidélis (2.130,1), Maricá (2.129,2) e São José do Vale do
Rio Preto (2.116,9).

44
A violência contra a mulher no estado
do Rio de Janeiro nos últimos anos Sumário

politana. Dentre as localidades, apenas três exibiram números superiores


a 3.000 vítimas por 100.000 mulheres: Miguel Pereira (3.836,8), Armação
dos Búzios (3.787,6) e Rio das Flores (3.023,2).

Mapa 01 – Mulheres vítimas de todas as formas de violência – municípios


do estado do Rio de Janeiro – 2022 (taxa por 100 mil mulheres)

Fonte: Elaborado pelo ISP com base em dados da SEPOL e do DATASUS.

Pelo segundo ano consecutivo, observamos que a proporção de mu-


lheres vítimas de Violência Psicológica superou as demais formas de vio-
lência – 33,7% em 2021, e 34,7% em 2022 (Tabela 03). Ao estudarmos a
série histórica anual, também constatamos uma variação na proporção
de mulheres vítimas de Violência Sexual entre 2014 (3,8%) e 2022 (5,9%).

A esse resultado, podemos associar uma maior confiança no sistema


de justiça criminal, juntamente com a expansão dos canais de denúncia e
ampliação de iniciativas voltadas para a conscientização sobre os crimes
inerentes a essa modalidade de violência, contribuindo significativamen-
te para o aumento das notificações.

45
Dossiê Mulher 2023 Sumário

Tabela 03 – Proporção de mulheres vítimas por forma de violência – estado


do Rio de Janeiro – 2014 a 2022 (números absolutos e valores percentuais)

Forma de
2014 2015 2016 2017 2018 2019 2020 2021 2022
violência
Violência 57.232 50.283 45.699 40.764 42.423 42.382 34.192 34.930 38.576
Física 33,5% 33,9% 34,4% 36,4% 34,9% 33,0% 34,6% 32,0% 30,7%

Violência 6.480 5.676 5.424 5.496 6.112 6.704 5.645 6.255 7.363
Sexual 3,8% 3,8% 4,1% 4,9% 5,0% 5,2% 5,7% 5,7% 5,9%

Violência 58.058 49.469 42.954 34.740 37.879 41.891 31.140 36.795 43.594
Psicológica 34,0% 33,3% 32,3% 31,0% 31,2% 32,6% 31,6% 33,7% 34,7%

Violência 41.509 36.817 33.028 26.263 29.665 31.498 23.151 25.776 30.132
Moral 24,3% 24,8% 24,8% 23,5% 24,4% 24,5% 23,5% 23,6% 24,0%

Violência 7.319 6.226 5.823 4.725 5.330 5.937 4.553 5.406 6.039
Patrimonial 4,3% 4,2% 4,4% 4,2% 4,4% 4,6% 4,6% 5,0% 4,8%

Fonte: Elaborada pelo ISP com base em dados da SEPOL.

A Tabela 04 traz o total de vítimas em 2022 para cada um dos delitos


que compõem as cinco formas de violência. De forma geral, as parcelas
femininas da população foram as maiores vítimas, com exceção dos cri-
mes de calúnia (2.043 ou 46,8%), tentativa de homicídio (243 ou 6,8%) e
homicídio doloso (172 ou 5,6%). Em termos de números absolutos, os de-
litos de ameaça (38.086), lesão corporal dolosa (37.757) e injúria (24.965)
foram os mais elevados entre as mulheres que denunciaram os abusos.

46
A violência contra a mulher no estado
do Rio de Janeiro nos últimos anos Sumário

Tabela 04 – Mulheres vítimas segundo formas de violência e delito –


estado do Rio de Janeiro – 2022 (números absolutos)

No de
Formas de Total de % de
Delitos vítimas
violência vítimas mulheres
mulheres

Homicídio doloso 3.059 172 5,6%

Feminicídio 111 111 100,0%


Violência
Tentativa de homicídio 3.571 243 6,8%
Física
Tentativa de feminicídio 293 293 100,0%

Lesão corporal dolosa 57.626 37.757 65,5%

Assédio sexual 338 314 92,9%

Ato obsceno 291 190 65,3%

Violência Estupro 5.627 4.907 87,2%


Sexual Importunação sexual 1.769 1.642 92,8%

Tentativa de estupro 287 259 90,2%

Violação sexual mediante fraude 62 51 82,3%

Ameaça 55.903 38.086 68,1%

Constrangimento ilegal 721 371 51,5%

Crime de perseguição 2.759 2.574 93,3%

Crime de perseguição contra mulher em


54 54 100,0%
razão do gênero
Violência
Psicológica Crime de violência psicológica contra a
1.992 1.975 99,1%
mulher

Divulgação de cena de estupro ou de


536 466 86,9%
cena de estupro de vulnerável

Registro não autorizado da intimidade


74 68 91,9%
sexual

Calúnia 4.361 2.043 46,8%


Violência
Difamação 4.985 3.124 62,7%
Moral
Injúria 32.559 24.965 76,7%

Dano 5.519 3.364 61,0%


Violência
Supressão de documento 417 248 59,5%
Patrimonial
Violação de domicílio 3.392 2.427 71,6%

Fonte: Elaborada pelo ISP com base em dados da SEPOL.

47
Dossiê Mulher 2023 Sumário

Conforme evidencia a Tabela 05, houve um aumento na incidência


de mulheres atingidas pelos crimes que integram a Violência Física, com
exceção da lesão corporal dolosa, cuja proporção declinou de 66,1%, em
2021, para 65,5% em 2022. No homicídio doloso, por exemplo, ocorreu ele-
vação de 8,5%, em 2014, para 9,3% em 2022. O mesmo padrão de cresci-
mento se deu em relação à tentativa de homicídio, com elevação de 12,3%
para 15,0%. Em 2022, ambas as categorias de crimes registraram a maior
proporção de vítimas do sexo feminino em toda a série histórica. Con-
dição também observada em dois delitos que compõem as Violências
Sexual e Patrimonial, respectivamente. No que diz respeito ao estupro,
em 2022, 87,2% das vítimas eram mulheres. Já no caso da violação de
domicílio, o valor chegou a 71,6%.

Tabela 05 – Proporção de mulheres vítimas segundo formas de violência e


delito – estado do Rio de Janeiro – 2014 a 2022 (valores percentuais)

Forma de
Delito 2014 2015 2016 2017 2018 2019 2020 2021 2022
violência

Homicídio doloso 8,5% 8,6% 7,9% 7,1% 7,1% 7,7% 7,8% 7,6% 9,3%

Violência Lesão corporal 64,0% 63,7% 63,8% 65,5% 65,3% 65% 67,1% 66,1% 65,5%
Física dolosa

Tentativa de
12,3% 10,7% 10,1% 12,4% 11,7% 13,1% 12,5% 12,6% 15,0%
homicídio

Assédio sexual 92,3% 93,1% 93,3% 97,7% 90,9% 89,3% 91,5% 94,0% 92,9%

Ato obsceno 60,7% 65,4% 68,9% 69,5% 65,6% 57,3% 64,0% 63,7% 65,3%

Estupro 83,2% 84,5% 85,3% 84,3% 85,6% 86,0% 86,1% 86,8% 87,2%
Violência
Sexual
Importunação
92,7% 91,5% 91,0% 91,0% 92,7% 92,6% 92,5% 93,6% 92,8%
sexual

Tentativa de
91,1% 91,1% 90,8% 90,1% 90,9% 91,8% 89,2% 93,3% 90,2%
estupro

Violação sexual
100,0% 82,2% 97,6% 98,1% 76,7% 89,4% 71,4% 92,4% 82,3%
mediante fraude

48
A violência contra a mulher no estado
do Rio de Janeiro nos últimos anos Sumário

Forma de
Delito 2014 2015 2016 2017 2018 2019 2020 2021 2022
violência

Ameaça 65,5% 65,2% 65,4% 67,3% 66,8% 68,1% 68,6% 69,1% 68,1%

Constrangimento
59,0% 58,4% 55,4% 46,7% 53,0% 50,9% 45,8% 50,9% 51,5%
ilegal

Crime de
- - - - - - - 96,0% 93,3%
Perseguição

Crime de
perseguição
- - - - - - - 100,0% 100,0%
contra mulher em

Violência razão do gênero

Psicológica
Crime de violência
psicológica contra - - - - - - - 99,6% 99,1%
a mulher

Divulgação de
cena de estupro
ou de cena - - - - 91,2% 91,2% 88,5% 90,4% 86,9%
de estupro de
vulnerável

Registro não
autorizado da - - - - - 90,6% 90,7% 95,4% 91,9%
intimidade sexual

Calúnia 49,6% 47,5% 46,6% 45,0% 44,6% 46,2% 44,9% 45,0% 46,8%

Violência
Difamação 71,2% 70,0% 67,6% 66,9% 65,3% 63,5% 60,9% 63,1% 62,7%
Moral

Injúria 76,5% 76,3% 76,4% 76,7% 77,0% 77,8% 77,0% 77,7% 76,7%

Dano 49,9% 50,6% 50,0% 52,8% 55,4% 57,2% 57,9% 61,0% 61,0%

Violência Supressão de
58,0% 56,9% 59,5% 59,7% 61,6% 63,9% 63,5% 64,6% 59,5%
Patrimonial documento

Violação de
66,7% 68,0% 69,4% 70,0% 68,6% 70,0% 70,6% 70,4% 71,6%
domicílio

Fonte: Elaborada pelo ISP com base em dados da SEPOL.

49
Dossiê Mulher 2023 Sumário

A primeira parte desta seção foi dedicada à apresentação das análi-


ses acerca das cinco formas de violência e seus respectivos delitos, bem
como do perfil etário dos agressores, da distribuição por região e, por fim,
do enquadramento jurídico dos crimes. A partir de agora, direcionamos
o olhar sobre as informações referentes ao perfil das vítimas e às circuns-
tâncias nas quais as violências ocorreram.

2.1. O perfil das mulheres vítimas de violência


Nesta subseção, abordamos o perfil etário das vítimas (Gráfico 15).
Além da prevalência ao longo de toda a série histórica, houve o cresci-
mento da proporção de mulheres na faixa dos 30 a 59 anos, de 52,9%, em
2014, para 55,4% em 2022. O aumento também pode ser observado em
relação àquelas com 60 anos ou mais – de 5,0%, em 2014, para 6,7% em
2022 – e entre meninas menores de 12 anos (de 2,0%, em 2014, para 2,6%
em 2022).

Gráfico 15 – Mulheres vítimas de violência contra a mulher por perfil


etário – estado do Rio de Janeiro – 2014 a 2022 (valores percentuais)

100,0%
5,4% 5,7% 5,9% 6,2% 6,4% 6,0% 6,6% 6,7%
52,9% 53,1% 53,7% 53,2% 54,1% 54,5% 55,4% 55,8% 55,4%

75,0%
% de autores

50,0%

31,6% 31,5% 30,8% 30,5% 30,1% 29,8% 30,1% 29,5% 29,2%

25,0%

6,9% 6,3% 6,1% 6,0% 5,6% 5,4% 5,3%


0,0%

2014 2015 2016 2017 2018 2019 2020 2021 2022

0 a 11 anos 18 a 29 anos 60 anos ou mais


12 a 17 anos 30 a 59 anos Sem informação

Fonte: Elaborado pelo ISP com base em dados da SEPOL.

50
A violência contra a mulher no estado
do Rio de Janeiro nos últimos anos Sumário

O Gráfico 16 ilustra como a violência incide entre meninas de 0 e 11


anos, situação que destoa dos demais perfis etários, como evidenciado
nos Gráficos de 17 a 20. Esse grupo é o único em que a Violência Sexual
prevaleceu ao longo de toda a série histórica. Como podemos notar, hou-
ve o aumento dessa forma de violência entre os anos de 2016 e 2020, com
exceção de 2019, seguido por uma redução nos dois últimos anos. O grá-
fico também expõe a diminuição da proporção de vítimas da Violência
Física a partir de 2015, ano em que foi registrado o maior valor da série
(29,1%).

Gráfico 16 – Mulheres vítimas de violência contra a mulher por perfil etário


(0 a 11 anos) – estado do Rio de Janeiro – 2014 a 2022 (valores percentuais)

100,0%
52,6% 51,7% 55,4% 62,4% 63,9% 63,8% 71,7% 67,7% 66,5%

75,0%
% de mulheres vítimas

50,0%
11,7% 10,9%
10,3%

7,6% 7,7% 8,4% 8,9%


7,9% 7,3% 8,1%
6,8%
29,1% 5,8% 5,4%
25,0% 27,1% 26,3% 5,1% 5,3%
23,6% 5,3% 5,8%
22,0% 21,4%
18,9% 19,6% 19,2%

0,0%

2014 2015 2016 2017 2018 2019 2020 2021 2022

Física Moral Patrimonial Psicológica Sexual

Fonte: Elaborado pelo ISP com base em dados da SEPOL.

Apesar de não ser a forma de violência que mais acometeu as meni-


nas entre 12 e 17 anos (Gráfico 17), o crescimento da exposição à Violência
Sexual merece atenção na análise – de 2014 a 2022, houve um salto de
16,4% para 31,8%. Desde 2017, a proporção de adolescentes atingidas por
essa forma de agressão supera a observada na Violência Psicológica. A
série mostra ainda que, mesmo a Violência Física sendo preponderante
nesse grupo etário, houve uma tendência de queda iniciada em 2018, que
culminou no menor valor da série, 32,8%, em 2022.

51
Dossiê Mulher 2023 Sumário

Gráfico 17 – Mulheres vítimas de violência contra a mulher por perfil etário


(12 a 17 anos) – estado do Rio de Janeiro – 2014 a 2022 (valores percentuais)

100,0%
16,4% 17,2% 18,2% 22,7% 24,0% 27,0% 32,1% 33,9% 31,8%

24,1% 22,6% 22,8%


75,0% 19,0%
% de mulheres vítimas

20,0%
20,8%
17,3% 20,6%
18,9%

16,9% 16,6% 15,9% 14,3%


14,5%
50,0% 13,0% 12,5%
12,1% 13,7%
41,4% 42,4% 41,8% 42,9%
40,3%
38,1% 36,9%
33,9% 32,8%
25,0%

0,0%

2014 2015 2016 2017 2018 2019 2020 2021 2022

Física Moral Patrimonial Psicológica Sexual

Fonte: Elaborado pelo ISP com base em dados da SEPOL.

Novamente, a Violência Física suplantou as demais formas de violên-


cia (Gráfico 18), especificamente, entre mulheres na faixa etária de 18 a
29 anos. Apesar desse dado, observamos uma redução do percentual de
vítimas nos dois anos mais recentes – 39,1%, em 2021, e 37,3% em 2022.
Simultaneamente, houve um aumento proporcional na incidência da
Violência Psicológica, que alcançou seu número mais elevado na série,
33,6%, em 2022.

52
A violência contra a mulher no estado
do Rio de Janeiro nos últimos anos Sumário

Gráfico 18 – Mulheres vítimas de violência contra a mulher por perfil etário


(18 a 29 anos) – estado do Rio de Janeiro – 2014 a 2022 (valores percentuais)

100,0%
33,3% 32,8% 31,2% 29,8% 29,7% 31,2% 30,0% 32,4% 33,6%

75,0%
% de mulheres vítimas

21,5% 20,1% 21,0% 19,9%


20,7% 21,1% 20,7%
19,7% 20,4%
50,0%

43,4% 42,2% 42,3%


40,4% 40,4% 40,9% 40,6% 39,1%
37,3%

25,0%

0,0%

2014 2015 2016 2017 2018 2019 2020 2021 2022

Física Moral Patrimonial Psicológica Sexual

Fonte: Elaborado pelo ISP com base em dados da SEPOL.

Entre as vítimas na faixa dos 30 a 59 anos, predominou a exposição à


Violência Psicológica (Gráfico 19). Após um declínio proporcional observa-
do em 2020, houve um aumento nos dois anos subsequentes, chegando
ao ponto mais alto da série, em 2022, com um percentual de 37,7%.

53
Dossiê Mulher 2023 Sumário

Gráfico 19 – Mulheres vítimas de violência contra a mulher por perfil etário


(30 a 59 anos) – estado do Rio de Janeiro – 2014 a 2022 (valores percentuais)

100,0%
36,8% 36,0% 35,1% 34,4% 34,4% 35,6% 34,7% 36,7% 37,7%

75,0%
% de mulheres vítimas

5,0% 5,1% 5,2% 5,1%


5,4% 5,2%
27,9% 27,7% 26,3% 27,4% 27,8% 26,6%
27,4% 26,5% 26,7%
50,0%

33,1% 31,9% 32,0%


29,7% 30,1% 31,0% 29,9% 29,8%
25,0% 28,5%

0,0%

2014 2015 2016 2017 2018 2019 2020 2021 2022

Física Moral Patrimonial Psicológica Sexual

Fonte: Elaborado pelo ISP com base em dados da SEPOL.

Assim como observado em relação às vítimas com idades entre 30 e


59 anos, a Violência Psicológica também emergiu como forma predomi-
nante entre o grupo acima dos 60 anos (Gráfico 20). No último biênio, es-
sas estatísticas alcançaram seus pontos mais elevados da série temporal
– 37,1%, em 2021, e 36,9% em 2022.

Vale ressaltar que o fato de ser mulher e idosa enquadra esse perfil
etário numa posição de dupla vulnerabilidade. Diante de um contexto
social historicamente moldado pela lógica patriarcal, ainda hoje persiste
o domínio dos anseios masculinos sobre os femininos, em igual sentido
hierárquico “a vontade dos mais jovens se sobrepõe a dos mais idosos”
(Morilla; Manso, 2021, p. 78)42. O Gráfico 21 comprova essa percepção, na
medida em que expõe o aumento da proporção de mulheres agredidas

42 - MORILLA, Jéssica Leitão; MANSO, Maria Elisa Gonzalez. A violência contra a mulher idosa
no Brasil e os fatores relacionados ao tema: uma revisão integrativa. VITTALLE - Revista de
Ciências da Saúde, V. 33, n. 2, p. 66–82, 2021. Disponível em <https://periodicos.furg.br/vittal-
le/article/view/12328> Último acesso em abril de 2023.

54
A violência contra a mulher no estado
do Rio de Janeiro nos últimos anos Sumário

por seus filhos(as) ao longo do tempo, passando de 14,9%, em 2014, para


15,8% em 2022. Além do crescimento, vale destacar que o maior percen-
tual da série foi observado em 2020 (17,7%) – ano marcado pela adoção de
medidas de isolamento social em decorrência da Covid-19.

Gráfico 20 – Mulheres vítimas de violência contra a mulher por perfil


etário (60 anos ou mais) – estado do Rio de Janeiro –
2014 a 2022 (valores percentuais)

100,0%
35,6% 34,5% 33,7% 33,2% 33,5% 35,4% 34,9% 37,1% 36,9%

75,0%
% de mulheres vítimas

8,1% 7,8% 7,8% 7,6%


7,7% 7,7% 7,8%
7,3% 7,3%
34,6% 34,2% 32,5% 33,6% 31,3%
34,9% 33,3% 33,1% 32,7%
50,0%

25,0%
25,5% 24,4% 24,9%
22,1% 23,4% 22,7% 22,1%
21,1% 21,5%

0,0%

2014 2015 2016 2017 2018 2019 2020 2021 2022

Física Moral Patrimonial Psicológica Sexual

Fonte: Elaborado pelo ISP com base em dados da SEPOL.

55
Dossiê Mulher 2023 Sumário

Gráfico 21 – Proporção de mulheres idosas agredidas pelos filhos (as) –


estado do Rio de Janeiro – 2014 a 2022 (valores percentuais)

18,0%

16,0% 17,7%

15,8%
15,3% 15,2%
14,9% 14,8%
14,0%
14,2%
13,4%
% de mulheres vítimas

12,0% 12,4%

10,0%

8,0%

6,0%

4,0%

2,0%

0,0%

2014 2015 2016 2017 2018 2019 2020 2021 2022

Fonte: Elaborado pelo ISP com base em dados da SEPOL.

Dentre os registros em que não havia informações sobre a idade das


mulheres vítimas, a Violência Física se destacou com as maiores propor-
ções (Gráfico 22). De 2017 (menor número da série) a 2022, percebemos
um aumento dos casos de Violência Sexual, que evoluiu de 11,9% para
19,9%. Destacamos, ainda, a redução proporcional entre as vítimas da
Violência Patrimonial a partir de 2018 – ano em que se registrou o valor
mais alto da série (6,0%). Por fim, enfatizamos que a qualidade do preen-
chimento dos registros de ocorrência assume relevância primordial, visto
que influencia diretamente a concepção de intervenções específicas pelo
Estado, como a formulação de políticas públicas e projetos direcionados.

56
A violência contra a mulher no estado
do Rio de Janeiro nos últimos anos Sumário

Gráfico 22 – Mulheres vítimas de violência contra a mulher por perfil


etário (sem informação) – estado do Rio de Janeiro – 2014 a 2022
(valores percentuais)

100,0%
19,2% 16,0% 14,9% 11,9% 14,0% 14,8% 16,2% 16,9% 19,9%

19,5%
21,7% 17,5% 23,3%
21,7% 20,8% 22,1%
20,9% 24,8%
75,0%
% de mulheres vítimas

6,0%
20,6%
18,4% 19,3%
17,2% 18,3% 16,3% 17,9%
16,2%
50,0% 16,4%

45,2%
41,7% 42,5% 43,3% 42,7%
39,5% 40,0% 40,1%
36,7%

25,0%

0,0%

2014 2015 2016 2017 2018 2019 2020 2021 2022

Física Moral Patrimonial Psicológica Sexual

Fonte: Elaborado pelo ISP com base em dados da SEPOL.

De agora em diante, as análises têm como foco o perfil racial das mu-
lheres vítimas43. Como mostra o Gráfico 23, ao longo da série histórica, as
mulheres brancas estiveram mais expostas à Violência Psicológica, com
exceção de 2017 e 2018 – anos em que a Violência Física foi predominante.

43 - Para mais informações acerca da divisão de cor/raça realizada neste Dossiê, consultar o
capítulo “Notas metodológicas”. Diante da menor incidência de mulheres vítimas do perfil
racial classificado como Outras (inclui as vítimas albinas, amarelas e indígenas), optamos
por não incluir um gráfico. Ao longo da série histórica, a proporção de vítimas enquadradas
nessa categoria não alcançou 0,5%.

57
Dossiê Mulher 2023 Sumário

Gráfico 23 – Mulheres vítimas de violência por perfil racial (brancas) –


estado do Rio de Janeiro – 2014 a 2022 (valores percentuais)

100,0%
5,0% 5,0% 5,3%
34,3% 33,6% 32,7% 31,6% 31,8% 33,0% 32,1% 34,9% 35,9%

75,0%
% de mulheres vítimas

5,1%
27,3% 27,4% 25,8% 26,8% 5,2% 5,0%
26,7% 26,9% 26,0%
25,7% 25,6%
50,0%

33,7% 32,5%
31,0% 31,2% 31,6% 30,4% 31,9%
29,2% 28,1%
25,0%

0,0%

2014 2015 2016 2017 2018 2019 2020 2021 2022

Física Moral Patrimonial Psicológica Sexual

Fonte: Elaborado pelo ISP com base em dados da SEPOL.

No caso das mulheres negras, a exposição à Violência Física prevale-


ceu entre os anos de 2014 e 2021, seguida da Violência Psicológica (Grá-
fico 24). Contudo, em 2022, ocorreu uma inversão nesse cenário, com a
segunda abrangendo a maior proporção de vítimas (33,8%), enquanto a
primeira registrou 32,8%.

58
A violência contra a mulher no estado
do Rio de Janeiro nos últimos anos Sumário

Gráfico 24 – Mulheres vítimas de violência por perfil racial (negras) –


estado do Rio de Janeiro – 2014 a 2022 (valores percentuais)

100,0%
5,3% 5,3% 5,4% 6,1% 6,1% 6,0%
34,0% 33,3% 32,2% 30,8% 31,0% 32,5% 31,2% 32,9% 33,8%

75,0%
% de mulheres vítimas

22,6% 22,6% 21,3% 22,4%


22,3% 22,7% 21,5%
22,0% 22,7%
50,0%

38,8% 37,2%
35,8% 36,3% 36,9% 35,2% 36,9%
34,2% 32,8%
25,0%

0,0%

2014 2015 2016 2017 2018 2019 2020 2021 2022

Física Moral Patrimonial Psicológica Sexual

Fonte: Elaborado pelo ISP com base em dados da SEPOL.

No grupo de mulheres em que não constava informações acerca do


perfil racial, detectamos que a Violência Física acometeu a maior parcela
das vítimas (Gráfico 25). Os anos de 2017 (38,9%) e 2020 (38,0%) ostenta-
ram os valores mais altos. De igual relevância, é preciso frisar o aumento
da proporção de mulheres expostas à Violência Psicológica, a partir de
2018, culminando nos níveis mais elevados da série nos anos de 2021 e
2022, cada qual com 29,0%.

59
Dossiê Mulher 2023 Sumário

Gráfico 25 – Mulheres vítimas de violência por perfil racial (sem informação)


– estado do Rio de Janeiro – 2014 a 2022 (valores percentuais)

100,0%
15,9% 14,9% 14,1% 11,0% 12,0% 13,1% 11,6% 11,8% 15,1%

24,2% 25,1% 27,7% 29,0%


26,2% 27,9%
25,3% 25,9% 29,0%

75,0%
% de mulheres vítimas

22,5% 6,7%

19,6% 21,3% 18,8% 19,1%


20,1% 20,8% 19,5%
50,0% 19,2%

38,9% 38,0%
36,2% 34,9% 35,1% 36,3%
33,8% 34,2% 33,0%
25,0%

0,0%

2014 2015 2016 2017 2018 2019 2020 2021 2022

Física Moral Patrimonial Psicológica Sexual

Fonte: Elaborado pelo ISP com base em dados da SEPOL.

A próxima característica a ser analisada, com o objetivo de traçar um


perfil sobre as vítimas de violência, refere-se à relação dessas mulheres
com os agressores (Tabela 06). Ao longo de toda a série histórica, com-
panheiros ou ex-companheiros destacaram-se como os principais per-
petradores.

Em 2022, quase metade das mulheres vítimas foram agredidas por


esse grupo (58.950 ou 46,9%). Se somarmos esse percentual às catego-
rias que englobam parentes (9.839 ou 7,8%) e pais ou padrastos (3.030
ou 2,4%), obteremos um total de 71.819 vítimas, ou 57,1%, que possuíam
algum grau de familiaridade com seus agressores.

Ainda em relação à série histórica anual, observamos o aumento do


número de vítimas enquadradas na categoria “Sem informação”, princi-
palmente nos últimos anos (6.380, em 2021, e 17.318 em 2022).

60
A violência contra a mulher no estado
do Rio de Janeiro nos últimos anos Sumário

Tabela 06 – Mulheres vítimas de violência por tipo de relação entre


vítima e autor – estado do Rio de Janeiro – 2014 a 2022
(números absolutos e valores percentuais)

Relação entre
2014 2015 2016 2017 2018 2019 2020 2021 2022
vítima e autor

Companheiros 73.980 65.891 58.015 51.142 55.209 60.547 48.963 53.778 58.950
ou ex 43,4% 44,4% 43,6% 45,7% 45,5% 47,2% 49,6% 49,3% 46,9%

20.466 16.104 13.438 10.244 10.495 10.390 8.216 8.867 7.635


Conhecidos
12,0% 10,8% 10,1% 9,1% 8,6% 8,1% 8,3% 8,1% 6,1%

35.098 30.719 27.992 22.528 25.020 25.105 16.119 18.585 19.457


Nenhuma
20,6% 20,7% 21,1% 20,1% 20,6% 19,6% 16,3% 17,0% 15,5%

17.621 16.283 14.926 12.087 12.732 12.810 9.969 10.123 9.475


Outras
10,3% 11,0% 11,2% 10,8% 10,5% 10,0% 10,1% 9,3% 7,5%

Pais ou 3.506 2.971 2.876 2.633 2.880 2.884 2.597 2.702 3.030
padrastos 2,1% 2,0% 2,2% 2,4% 2,4% 2,2% 2,6% 2,5% 2,4%

12.779 10.447 9.405 8.083 9.034 9.889 7.956 8.727 9.839


Parentes
7,5% 7,0% 7,1% 7,2% 7,4% 7,7% 8,1% 8,0% 7,8%

Sem 7.148 6.056 6.276 5.271 6.039 6.787 4.861 6.380 17.318
informação 4,2% 4,1% 4,7% 4,7% 5,0% 5,3% 4,9% 5,8% 13,8%

Fonte: Elaborada pelo ISP com base em dados da SEPOL.

A última análise diz respeito aos locais onde ocorreram as violências


(Tabela 07). Embora as vítimas, frequentemente, tenham apontado a re-
sidência como o principal local das agressões, notamos uma tendência
de redução ao longo da série histórica (100.663, em 2014, para 67.363 em
2022). Em particular, destacamos que, em 2022, foi registrado o menor
percentual de vitimizações ocorridas em residências (53,6%). Novamen-
te, constatamos o crescimento da categoria “Sem informação” (5.015, em
2021, e 16.641 em 2022).

61
Dossiê Mulher 2023 Sumário

Tabela 07 – Mulheres vítimas de violência por local do fato – estado do


Rio de Janeiro – 2014 a 2022 (números absolutos e valores percentuais)

Local do fato 2014 2015 2016 2017 2018 2019 2020 2021 2022

175 745 1.334 1.720 2.110 2.525 2.978 3.120 3.333


Ambiente virtual
0,1% 0,5% 1,0% 1,5% 1,7% 2,0% 3,0% 2,9% 2,7%

Estabelecimento 7.143 5.569 4.640 3.621 3.822 3.775 2.562 2.833 2.955
comercial 4,2% 3,8% 3,5% 3,2% 3,1% 2,9% 2,6% 2,6% 2,4%

22.284 19.809 18.494 16.228 17.314 18.773 14.355 15.171 16.799


Outros locais
13,1% 13,3% 13,9% 14,5% 14,3% 14,6% 14,5% 13,9% 13,4%

100.663 88.919 78.288 66.424 71.961 76.190 60.089 65.419 67.363


Residência
59,0% 59,9% 58,9% 59,3% 59,3% 59,3% 60,9% 59,9% 53,6%

37.802 31.247 27.450 21.644 23.421 23.926 16.180 17.604 18.613


Via pública
22,2% 21,0% 20,7% 19,3% 19,3% 18,6% 16,4% 16,1% 14,8%

2.531 2.182 2.722 2.351 2.781 3.223 2.517 5.015 16.641


Sem informação
1,5% 1,5% 2,0% 2,1% 2,3% 2,5% 2,6% 4,6% 13,2%

Fonte: Elaborada pelo ISP com base em dados da SEPOL.

Nesta seção, tivemos como foco a atualização do cenário da violência


contra as mulheres no estado do Rio de Janeiro ao longo dos últimos
anos. Dentre as análises apresentadas, destacamos o crescimento das
Violências Psicológica e Sexual. Ambas são marcadas por um intenso so-
frimento que, por vezes, permanece imperceptível tanto para a sociedade
em geral, quanto para aqueles que compõem seus círculos de convívio.

Nas próximas páginas, exploraremos detalhadamente as cinco formas


de violência previstas na Lei Maria da Penha. Nossa missão é continuar a
fornecer dados relevantes sobre a vitimização feminina, os quais podem
contribuir para a elaboração de ações governamentais e não-governa-
mentais. Esperamos que outras mulheres busquem, a partir do reconhe-
cimento dos abusos sofridos, denunciar seus agressores e, assim, romper
com o ciclo da violência.

62
3
Violência Física
Dossiê Mulher 2023 Sumário

A violência de gênero é um problema estrutural, que atravessa classes


sociais, idades, etnias e regiões, e se constitui como uma das mais gra-
ves violações dos direitos humanos. Para além do sofrimento psicológico,
a Violência Física costuma deixar marcas visíveis e sequelas profundas.
Agressões como socos, empurrões, puxões de cabelo, tapas e estrangula-
mento são algumas das práticas adotadas pelos abusadores. Apesar dos
danos evidentes à integridade física e mental, muitas vítimas continuam
presas a ciclos violentos, cuja exposição pode levar a desfechos fatais.

Historicamente, vivemos sob a lógica de uma ordem patriarcal, que


delega aos homens o direito de dominar e controlar as mulheres, poden-
do para isso usar a violência. Ainda hoje, parte da sociedade observa a
prática de atos violentos como normais ou próprios da natureza mascu-
lina. Como destacam Guimarães e Pedroza (2015, p. 259)44, “a percepção
da violência está associada a uma identificação do excesso da ação, ou
seja, ela é sentida quando se ultrapassa limites, estabelecidos pelo social,
cultural, histórico e/ou subjetivo”.

De acordo com o inciso I, do artigo 7º, da Lei Maria da Penha, qualquer


conduta que ofenda a integridade ou saúde corporal da vítima é consi-
derada Violência Física. Nesta seção do Dossiê Mulher, apresentaremos
análises quantitativas dos delitos que se enquadram nessa forma de vio-
lência. Antes, porém, optamos por recorrer às suas definições, segundo o
Código Penal45 e a Lei nº 13.104/201546, juntamente com relatos baseados
nos registros de ocorrência lavrados em 2022.

44 - GUIMARÃES, Maisa Campos; PEDROZA, Regina Lucia Sucupira. Violência contra a mu-
lher: problematizando definições teóricas, filosóficas e jurídicas. Psicologia & Sociedade,
Belo Horizonte, v. 27, n. 2, p. 256-266, maio/ago. 2015. Disponível em <https://www.scielo.br/j/
psoc/a/Dr7bvbkMvcYSTwdHDpdYhfn/>. Último acesso em junho de 2023.

45 - BRASIL. Decreto-Lei 2.848, de 07 de dezembro de 1940. Código Penal. Diário Oficial


da União, Rio de Janeiro, 31 de dezembro de 1940.

46 - BRASIL. Lei nº 13.104, de 9 de março de 2015. Altera o art. 121 do Decreto-Lei nº 2.848, de
7 de dezembro de 1940 – Código Penal, para prever o feminicídio como circunstância qualifi-
cadora do crime de homicídio, e o art. 1º da Lei nº 8.072, de 25 de julho de 1990, para incluir o
feminicídio no rol dos crimes hediondos. Diário Oficial da União, Brasília, 9 de março de 2015.

64
Violência Física Sumário

Homicídio: de acordo com o art. 121 do Código Penal, diz respeito à morte
intencional de uma pessoa por um terceiro, que pode ser por dolo direto,
isto é, quando há intenção de matar, e dolo indireto, quando o agente não
quer a produção do resultado, mas, mesmo prevendo que este poderá
acontecer, assume o risco de causá-lo.

“ Invadiram a minha casa e atiraram na minha mãe e na minha


irmã. – Filho de vítima de homicídio em depoimento na
delegacia.

Feminicídio: trata-se de uma qualificação dos homicídios dolosos de mu-
lheres em razão de seu gênero ou em decorrência de violência doméstica.

“ Denunciei meu pai por estupro de vulnerável. Para se vingar,


ele esfaqueou a mim e a minha mãe dentro de casa. Fui atingida
de raspão, mas minha mãe não resistiu aos ferimentos e faleceu
antes da chegada da polícia. – Filha menor de 14 anos, de uma

vítima de feminicídio, em depoimento na delegacia.

Lesão corporal dolosa: definido pelo art. 129 do Código Penal, no capítu-
lo de crimes contra a vida, consiste na conduta de “ofender a integridade
corporal ou a saúde de outrem”.

“ Quero me separar, já não é a primeira vez que eu sou


agredida. Pedi para que saísse, e ele não quis. Brigamos por

causa disso, e eu levei um soco e fui empurrada da escada com
o nosso filho de seis meses no colo. – Vítima de lesão corporal
em depoimento na Delegacia de Atendimento à Mulher.

65
Dossiê Mulher 2023 Sumário

Tentativa de homicídio: se configura quando iniciada a execução do ho-


micídio, o crime não se consuma por circunstâncias alheias à vontade do
agente, de acordo com o art. 14 do Código Penal.

“ Estava no carro com o meu filho e reparei que os veículos à


minha frente estavam voltando na contramão. Quando percebi
o assalto, já era tarde demais. Um homem parou na minha fren-
te, apontou a arma e, mesmo eu freando imediatamente, reali- “
zou disparos na minha direção, fugindo logo depois. – Vítima de
tentativa de homicídio em depoimento na delegacia.

Tentativa de feminicídio: ocorre quando o agente quer matar uma mu-


lher em razão de seu gênero ou em decorrência de violência doméstica,
mas por circunstâncias alheias à sua vontade não ocorre a consumação.

“ O autor foi detido após ser denunciado pela companheira


como responsável por atear fogo em seu corpo e ocasionar
queimaduras de segundo e terceiro graus. Ainda no hospital, a
vítima forneceu detalhes que enquadram o caso como tentati-“
va de feminicídio. – Policial militar em depoimento na Delegacia
de Atendimento à Mulher.

Diante desses relatos, é fundamental ter em mente a complexidade


do cenário em que ocorrem as agressões. O Gráfico 26 mostra que o nú-
mero de mulheres que registraram algum crime relacionado à Violência
Física tem reduzido ao longo dos anos. Essa queda foi subsequente entre
os anos de 2014 e 2017 e de 2019 e 2020 – neste último, foi registrado o
menor valor da série histórica (34.192). Mesmo com o aumento do núme-
ro de vítimas em 2021 (34.930) e 2022 (38.576), os números observados
ainda permanecem inferiores à média histórica (42.942).

66
Violência Física Sumário

Gráfico 26 – Mulheres vítimas de Violência Física –


estado do Rio de Janeiro – 2014 a 2022 (números absolutos)

70.000

60.000 57.232
Número de mulheres vítimas

50.283
50.000
45.699
Média 42.942

40.000 42.423
40.764 42.382
38.576
34.930
34.192
30.000

20.000

10.000

2014 2015 2016 2017 2018 2019 2020 2021 2022

Fonte: Elaborado pelo ISP com base em dados da SEPOL.

Ao analisar os crimes separadamente, verificamos que todos apresen-


taram crescimento no comparativo entre 2022 e 2021 (Tabela 08). O fe-
minicídio contabilizou a maior variação percentual (30,6%). Por sua vez, o
crime de lesão corporal dolosa concentrou o maior número absoluto de
vítimas (37.757) e taxa de 414,5 por 100 mil mulheres no ano de 2022.

67
Dossiê Mulher 2023 Sumário

Tabela 08 – Mulheres vítimas de Violência Física segundo os delitos


analisados – estado do Rio de Janeiro – 2020 e 2022
(números absolutos, diferença percentual e taxa por 100 mil mulheres)

Nº de Taxa por Nº de Taxa por Diferença


vítimas 100 mil vítimas 100 mil % de 2022
Forma de violência / delito
mulheres mulheres mulheres mulheres em relação
em 2021 (2021) em 2022 (2022) a 2021

Violência Física 34.930 383,5 38.576 423,5 10,4%

Homicídio doloso 162 1,8 172 1,9 6,2%

Feminicídio 85 0,9 111 1,2 30,6%

Tentativa de homicídio 238 2,6 243 2,7 2,1%

Tentativa de feminicídio 264 2,9 293 3,2 11,0%

Lesão corporal dolosa 34.181 375,3 37.757 414,5 10,5%

Fonte: Elaborada pelo ISP com base em dados da SEPOL e do IBGE.

No que concerne à distribuição regional (Gráfico 27), a Metropolitana


registrou o número mais elevado de vítimas (28.554 ou 74,0%), seguida
pelas Baixadas Litorâneas (2.395 ou 6,2%). No entanto, a disposição difere
quando examinamos a taxa por 100 mil mulheres (Mapa 02), visto que as
regiões Centro-Sul Fluminense (642,1) e Serrana (532,2) apresentaram os
maiores valores.

68
Violência Física Sumário

Gráfico100,0%
27 – Mulheres vítimas de Violência Física – regiões do estado do
Rio de Janeiro – 2022 (números absolutos e valores percentuais)

74,0%
28.554
75,0%
% de mulheres vítimas

50,0%

25,0%

6,2% 5,0%
2.395 4,0% 3,9% 2,5%
1.920 2,3% 2,1%
1.556 1.517 967 875 792
0,0%

na s ul e
lita da
ixa as dio rte e na o-S e est e sta
po Ba râne Mé aíba No nens rra ntr ns Noro nens Co rde
tro r mi Se Ce mine i Ve
Me L i t o Pa Flu Fl u Fl u m

Fonte: Elaborado pelo ISP com base em dados da SEPOL e do IBGE.

Mapa 02 – Mulheres vítimas de Violência Física – regiões do


estado do Rio de Janeiro – 2022 (taxa por 100 mil mulheres)

Fonte: Elaborado pelo ISP com base em dados da SEPOL e do IBGE.

69
Dossiê Mulher 2023 Sumário

Quanto à aplicação das leis qualificadoras (Gráfico 28), mais da meta-


de dos crimes de tentativa de feminicídio (86,7%), lesão corporal dolosa
(67,3%) e feminicídio (64,9%) foram classificados sob a Lei Maria da Pe-
nha. A Lei nº 9.099/1995 foi aplicada somente nos crimes de lesão corporal
dolosa (24,5%)47. Nos crimes de homicídio doloso (95,3%) e tentativa de
homicídio (88,9%), prevaleceu a ausência de enquadramento em uma lei
específica.

Gráfico 28 – Lei aplicada por tipo de Violência Física –


estado do Rio de Janeiro – 2022 (valores percentuais)

100,0%
13,3% 8,2% 35,1% 88,9% 94,8%

24,5%
86,7%
% de mulheres vítimas

75,0%

67,3%
64,9%

50,0%

25,0%

11,1%

0,0%

Tentativa Lesão Feminicídio Tentativa Homicídio


de corporal de doloso
feminicídio dolosa homicídio

Lei nº 11.340/2006 Lei nº 9.099/1995 Sem lei específica

Fonte: Elaborado pelo ISP com base em dados da SEPOL.

3.1. Homicídio doloso e tentativa de homicídio


A presente subseção visa identificar as circunstâncias em que ocor-
reram as agressões perpetradas contra as mulheres, além de analisar o
comportamento e a evolução temporal desses atos criminosos. Nesse
sentido, optamos por examinar os crimes de homicídio doloso e tentativa

47 - É importante ressaltar que por se tratar de crimes contra a vida, o homicídio doloso e a
tentativa de homicídio não são tipificados na Lei nº 9.099/95, criada para normatizar os cri-
mes de menor potencial ofensivo.

70
Violência Física Sumário

de homicídio cometidos contra mulheres, separadamente, dos casos de


feminicídio e tentativa de feminicídio.

A série histórica anual (Gráfico 29) demonstra que o homicídio doloso


e a tentativa de homicídio cometidos contra mulheres tiveram compor-
tamentos similares, ambos apresentaram redução do número de vítimas
entre 2014 e 2022 (68,9% na tentativa de homicídio, e 59,0% no homicídio
doloso).

Vale frisar que, em 2021, foram registrados os menores valores de suas


séries históricas, tanto para o homicídio doloso (162), quanto para a ten-
tativa de homicídio (238). Por fim, destacamos o aumento de dez vítimas
de homicídio e cinco de tentativa de homicídio, em 2022, no comparativo
com 2021.

Gráfico 29 – Mulheres vítimas de homicídio doloso e de tentativa de


homicídio – estado do Rio de Janeiro – 2014 a 2022 (números absolutos)

900

781
800
Número de mulheres vítimas

700 642

600 557
495
500 441

374
400
420
380
360 273
300
238 243
314
279
200
223
200
162 172
100

2014 2015 2016 2017 2018 2019 2020 2021 2022

Homicídio doloso Tentativa de homicídio

Fonte: Elaborado pelo ISP com base em dados da SEPOL.

O comportamento dos crimes de homicídio doloso e tentativa de


homicídios, ao longo de 2022, foi diferente (Gráfico 30). A série históri-
ca mensal do homicídio doloso evidencia o crescimento do número de
vítimas mulheres entre maio e julho (passou de 11 para 30). Em outubro,

71
Dossiê Mulher 2023 Sumário

foi registrado o menor valor (oito). Em relação à tentativa de homicídio,


houve a redução do número de vítimas entre os meses de fevereiro e abril
(passou de 28 para 17) e julho e setembro (passou de 25 para 11). Já em
fevereiro, foi alcançado o maior valor da série (28).

Gráfico 30 – Mulheres vítimas de homicídio doloso e de tentativa de


homicídio – estado do Rio de Janeiro – 2022 (números absolutos)

35

30
30 28
Número de mulheres vítimas

26

25 23 23
21 25

20 19 19
17 17
16
14
15 16
16

13 14
12
10 11 11
10
9
8
5

jan fev mar abr mai jun jul ago set out nov dez

Homicídio doloso Tentativa de homicídio

Fonte: Elaborado pelo ISP com base em dados da SEPOL.

Na análise por regiões (Gráfico 31), notamos que a Metropolitana apre-


sentou as maiores concentrações em ambos os delitos – 156 vítimas de
tentativa de homicídio e 96 de homicídio doloso. Na Costa Verde, foi re-
gistrado o menor número de mulheres vítimas de homicídio (dois) e de
tentativa de homicídio (sete). A mesma localidade também apresentou a
menor taxa de homicídio por 100 mil mulheres para o homicídio doloso
(1,3), como mostra a Tabela 09. Em relação à tentativa de homicídio, a
menor e a maior taxa foram registradas nas regiões Metropolitana (2,3) e
Noroeste Fluminense (7,6), respectivamente.

72
Violência Física Sumário

Gráfico 31 – Mulheres vítimas de homicídio doloso e de tentativa de


homicídio – regiões do estado do Rio de Janeiro – 2022 (números absolutos)

250
156
Número de mulheres vítimas

200

150

100
96

50
21

28 16 13
16 15 13 10
0

a s l
tan rte e dio da ste -Su na sta
oli No nens Mé aíba ixa as roe nse entro ense rra Co rde
trop Ba râne No ine C min Se
Me mi Pa
r t o m Ve
Flu Li Flu Flu

Tentativa de homicídio Homicídio doloso

Fonte: Elaborado pelo ISP com base em dados da SEPOL.

Tabela 09 – Mulheres vítimas de homicídio doloso e de tentativa de


homicídio – regiões do estado do Rio de Janeiro – 2022
(taxa por 100 mil mulheres)

Região Homicídio doloso Tentativa de homicídio


Estado do Rio de Janeiro 1,9 2,7

Baixadas Litorâneas 3,3 2,8

Centro-Sul Fluminense 4,0 6,6

Costa Verde 1,3 4,7

Médio Paraíba 3,4 3,4

Metropolitana 1,4 2,3

Noroeste Fluminense 2,9 7,6

Norte Fluminense 5,6 4,2

Serrana 1,4 2,5

Fonte: Elaborada pelo ISP com base em dados da SEPOL.

73
Dossiê Mulher 2023 Sumário

3.1.1. Distribuição temporal dos homicídios dolosos e das


tentativas de homicídio contra as mulheres
Os Gráficos 32 e 33 apresentam a distribuição temporal do homicídio
doloso e da tentativa de homicídio. Domingo foi o dia da semana em que
se contabilizou o maior número de vítimas em ambos os crimes: 31 de
homicídio doloso e 55 de tentativa de homicídio. Vale destacar que, no
homicídio doloso, a concentração das vitimizações ocorreu entre 22h e
0h (29); já nas tentativas de homicídio doloso, na faixa das 18h às 23h (92
vítimas).

Gráfico 32 – Mulheres vítimas Gráfico 33 – Mulheres vítimas de


de homicídio doloso por dia da tentativa de homicídio por dia da
semana e hora do fato – semana e hora do fato –
estado do Rio de Janeiro – 2022 estado do Rio de Janeiro – 2022
(números absolutos) (números absolutos)

Hora dom seg ter qua qui sex sáb Total Hora dom seg ter qua qui sex sáb Total
0h 3 2 1 4 0 3 1 14 0h 0 1 1 1 0 0 3 6
1h 0 2 0 1 1 1 0 5 1h 3 1 1 0 0 1 3 9
2h 1 0 1 0 2 0 1 5 2h 5 1 0 2 1 1 0 10
3h 0 1 0 0 0 0 1 2 3h 2 1 0 0 1 0 1 5
4h 2 0 0 0 1 1 1 5 4h 3 1 0 2 1 3 2 12
5h 1 0 1 0 0 0 3 5 5h 5 0 1 0 0 0 2 8
6h 1 0 1 0 0 0 2 4 6h 0 0 0 1 3 0 1 5
7h 0 2 0 1 2 1 2 8 7h 0 2 0 1 1 1 1 6
8h 2 1 2 1 2 1 2 11 8h 2 5 5 0 0 1 0 13
9h 0 1 0 1 0 1 0 3 9h 2 0 0 1 0 1 0 4
10h 1 1 2 0 4 7 2 17 10h 0 1 0 1 0 2 3 7
11h 1 0 0 1 1 0 1 4 11h 0 1 1 1 0 4 0 7
12h 2 2 0 0 3 1 0 8 12h 0 0 0 2 0 0 2 4
13h 2 2 1 0 0 1 0 6 13h 1 1 3 1 1 1 1 9
14h 0 1 1 0 1 1 0 4 14h 4 2 3 1 3 0 2 15
15h 1 0 1 1 1 0 0 4 15h 1 1 2 0 2 0 3 9
16h 0 2 0 4 1 0 1 8 16h 2 2 3 1 0 4 3 15
17h 0 1 2 1 0 2 0 6 17h 2 1 2 0 1 1 0 7
18h 2 1 1 0 0 3 2 9 18h 3 1 1 0 0 2 4 11
19h 4 0 1 1 1 0 5 12 19h 1 0 3 0 2 4 4 14
20h 2 0 0 0 1 3 2 8 20h 4 1 2 1 3 3 2 16
21h 3 1 0 2 1 1 0 8 21h 4 1 3 0 4 2 4 18
22h 1 1 1 4 1 2 0 10 22h 6 2 1 2 0 1 2 14
23h 2 0 1 0 0 2 0 5 23h 5 2 0 3 1 5 3 19
Total 31 21 17 22 23 31 26 171 Total 55 28 32 21 24 37 46 243

Fonte: Elaborado pelo ISP com base em Fonte: Elaborado pelo ISP com base em
dados da SEPOL. dados da SEPOL.

74
Violência Física Sumário

3.1.2. Perfil das mulheres vítimas de homicídio doloso e de


tentativa de homicídio
Os Gráficos 34 e 35 comprovam que as mulheres entre 30 e 59 anos
foram as maiores vítimas de homicídio doloso (71 ou 41,3% do total) e de
tentativa de homicídio (114 ou 46,9%). Salientamos também o quantita-
tivo de mulheres vítimas de homicídio doloso em que não constava a
informação sobre a situação conjugal (81 ou 47,1%). Esse fenômeno pode
ser explicado pela dificuldade de recolher essas informações no momen-
to do registro de ocorrência. No caso da tentativa de homicídio, desta-
caram-se as solteiras (84 ou 34,6%). Em relação ao perfil racial, houve a
concentração da vitimização entre as mulheres negras (112 ou 65,1% no
homicídio doloso; 137 ou 56,4% na tentativa de homicídio).

Gráfico 34 – Mulheres vítimas de homicídio doloso por faixa etária,


estado civil e perfil racial – estado do Rio de Janeiro – 2022
(números absolutos e valores percentuais)
100,0% 100,0% 100,0%
% de mulheres vítimas

75,0% 75,0% 75,0% 65,1%


112
47,1%
41,3% 81
50,0% 71 50,0% 50,0%
34,9%
27,9% 60 27,3%
48 47
25,0% 12,8% 25,0% 14,5% 25,0%
5,8% 8,7% 22 25 7,6%
3,5% 15 2,3% 1,2% 13
10 6 0,0%
4 2 0
0,0% 0,0% 0,0%

11 7 9 9 ou ao
u
a1 a2 a5 os m a da m a s m
0 a os 12 os 18 os 30 nos 60 an ais Se ação eir sad to ara iúv
a Se ação gra nc tra Se ação
So
lt Ca e jun Sep V Ne Bra Ou
an an an a m orm viv for
m orm
inf in inf
Idade Estado civil Perfil racial

Fonte: Elaborado pelo ISP com base em dados da SEPOL.

Gráfico 35 – Mulheres vítimas de tentativa de homicídio por faixa


etária, estado civil e perfil racial – estado do Rio de Janeiro – 2022
(números absolutos e valores percentuais)
100.0% 100.0% 100.0%
% de mulheres vítimas

75.0% 75.0% 75.0%


56.4%
137
46.9%
50.0%
114 50.0% 50.0%
34.6% 31.7%
29.6% 31.3%
27.6% 84 77
72 76
67
25.0% 25.0% 25.0% 11.9%
7.0% 7.4% 8.6% 29
2.5% 17 18 21 2.1% 2.1% 0.4%
6 5 5 1
0.0% 0.0% 0.0%

11 7 9 9 ou ao
u
a1 a2 a5 os m ira da m a s m
0 a os 12 os 18 os 30 nos 60 an ais Se ação e sad to ara va Se ação gra nc tra Se ação
Solt Ca e jun Sep Viú Ne Bra Ou
an an an a m orm viv orm orm
inf inf inf
Idade Estado Civil Perfil Racial

Fonte: Elaborado pelo ISP com base em dados da SEPOL.

75
Dossiê Mulher 2023 Sumário

O Gráfico 36 revela a falta de informações disponíveis sobre o víncu-


lo entre vítima e agressor em uma proporção significativa dos casos de
homicídio doloso (115 ou 66,9%). Além disso, destacamos a presença de
40 casos, ou seja 23,3%, nos quais não se identificou qualquer relação
com o autor da violência (40 ou 23,3%). No que concerne à tentativa de
homicídio, verificamos uma inversão neste: 99 ou 40,7% das vítimas não
tinham nenhuma relação com os autores, ao passo que em 85 ou 35,0%
apresentaram informações insuficientes para determinar o tipo de rela-
ção existente.

Gráfico 36 – Mulheres vítimas de homicídio doloso e de tentativa de


homicídio por tipo de relação entre vítima e autor –
estado do Rio de Janeiro – 2022 (números absolutos)

200
85
Número de mulheres vítimas

150

99

115
100

50

40
24

13 12
10 9
0

Sem Nenhuma Outras Companheiros Conhecidos Parentes Pais ou


informação ou ex padrastos

Tentativa de homicídio Homicídio doloso

Fonte: Elaborado pelo ISP com base em dados da SEPOL.

3.1.3. Dinâmica dos homicídios dolosos e das tentativas de


homicídio contra as mulheres
No que concerne ao meio empregado (Gráfico 37), prevaleceu o uso
da arma de fogo: 103 vítimas de homicídio doloso (59,9%) e 108 de tenta-
tiva de homicídio (44,4%). Destacamos também as situações em que não

76
Violência Física Sumário

constava a informação sobre o meio empregado nos homicídios dolosos


(44 ou 25,6%) e nas tentativas de homicídio (90 ou 37,0%). É importante
ressaltar que esses dados dizem respeito, exclusivamente, às informa-
ções incluídas pelos policiais civis no momento da lavratura do registro
de ocorrência. Nada impede que sejam, posteriormente, atualizados no
sistema da SEPOL após a realização da perícia, durante as investigações
ou na conclusão do inquérito policial.

Gráfico 37 – Mulheres vítimas de homicídio doloso e de tentativa de


homicídio por meio empregado – 2022 (números absolutos)

108
200
Número de mulheres vítimas

150

90

100 103

50 39
44

20
0

Arma de Sem Arma Asfixia, Pedrada ou


fogo informação branca envenenamento paulada
e material
inflamável

Tentativa de homicídio Homicídio doloso

Fonte: Elaborado pelo ISP com base em dados da SEPOL.

A maioria dos crimes ocorreu em via pública (Gráfico 38), abrangendo


77 vítimas de homicídio (44,8%) e 125 de tentativa de homicídio (51,4%).
Além disso, observamos que outras 40 mulheres foram vítimas de ho-
micídio em uma residência (23,3%) e 51 de tentativa de homicídio (21,0%).

77
Dossiê Mulher 2023 Sumário

Gráfico 38 – Mulheres vítimas de homicídio doloso e de tentativa


de homicídio por local do fato – estado do Rio de Janeiro – 2022
(números absolutos)

200 125
Número de mulheres vítimas

150

100

51
77 42

50

40 38
15

15 10
0

Via Residência Outros Sem Estab.


pública locais informação comercial

Tentativa de homicídio Homicídio doloso

Fonte: Elaborado pelo ISP com base em dados da SEPOL.

3.2 Feminicídio
Nos últimos anos, duas legislações nacionais se destacaram no en-
frentamento da violência contra a mulher: a Lei nº 11.340/2006, e, mais re-
centemente, a Lei nº 13.104/2015, que tipifica o feminicídio. Com a sanção
dessa última lei, o assassinato de mulheres por razões de gênero (quando
envolve violência doméstica e familiar ou menosprezo e discriminação
à condição de mulher) passou a ser incluído entre os tipos de homicídio
qualificado. A pena prevista de reclusão é de 12 a 30 anos.
Apesar de ser considerada um avanço no que diz respeito ao enfrenta-
mento do feminicídio, a Lei nº 13.104/2015 esbarra em alguns fatores como
[...] a própria estrutura patriarcal, que favorece o exercício
cotidiano do poder masculino, traduzido na objetificação,
coisificação e menosprezo de meninas e mulheres, afetando,
consequentemente, a resposta formulada judicialmente
na medida em que são acatadas e legitimadas por teses
que naturalizam, invisibilizam e revitimizam as mulheres
(MARIANO; SOUZA, 2023, p. 17)48.

78
Violência Física Sumário

O Gráfico 39 mostra o aumento do feminicídio e da tentativa de fe-


minicídio em todo o estado do Rio de Janeiro. Em 2022, foi registrado o
maior número de vítimas de feminicídio (111) e o segundo maior número
de tentativas de feminicídio (293) das suas respectivas séries históricas.
No comparativo com o ano anterior, houve o aumento de 26 vítimas ou
30,6% em relação ao feminicídio, e 29 vítimas ou 11,0% no que se refere à
tentativa de feminicídio.
É importante esclarecer que, apesar de a lei federal ter sido sanciona-
da em 2015, os dados sobre esse tipo de delito passaram a ser compu-
tados no estado do Rio de Janeiro a partir de novembro de 2016, com a
entrada em vigor da Lei estadual n° 7.448, de 13 de outubro de 201649. Por
essa razão, a série histórica anual começa em 2016, primeiro ano comple-
to de dados.

Gráfico 39 – Mulheres vítimas de feminicídio e tentativa de feminicídio –


estado
400 do Rio de Janeiro – 2016 a 2022 (números absolutos)

350 334
Número de mulheres vítimas

288 293
300
270 264
248
250

200

150
111

100 85 85
78
68 71
53
50
16

2016 2017 2018 2019 2020 2021 2022

Feminicídio Tentativa de feminicídio

Fonte: Elaborado pelo ISP com base em dados da SEPOL.

48 - MARIANO, S.; SOUZA, M. F. A Morte Antecipada na Forma de Feminicídio: Pelo Direito


à Justiça, à Verdade e à Memória. Mediações: Revista de Ciências Sociais, Londrina, v. 28,
n. 1, p. 1–20, 2023. DOI: 10.5433/2176-6665.2023v28n1e46956. Disponível em <https://ojs.uel.
br/revistas/uel/index.php/mediacoes/article/view/46956>. Último acesso em junho de 2023.

49 - RIO DE JANEIRO. Lei nº 7.448, de 13 de outubro de 2016. Cria o subtítulo nos registros
de ocorrência da Polícia Civil do estado do Rio de Janeiro denominado “feminicídio”. Diário
Oficial do Estado do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 13 de outubro de 2016.

79
Dossiê Mulher 2023 Sumário

Tendo em vista o número absoluto de vítimas, vimos que os valores


mais elevados de feminicídio (77) e tentativa de feminicídio (206) foram
registrados na região Metropolitana, conforme demonstrado no Gráfico
40. Um dado de relevância significativa é a ausência de registros de femi-
nicídio no Centro-Sul Fluminense.

Gráfico 40 – Mulheres vítimas de feminicídio e tentativa de


feminicídio – regiões do estado do Rio de Janeiro –
2022 (números absolutos)

206
Número de mulheres vítimas

200

100

77

26 21
16
0
12

Metropolitana Baixadas Norte Médio Serrana Centro-Sul Noroeste Costa


Litorâneas Fluminense Paraíba Fluminense Fluminense Verde

Tentativa de feminicídio Feminicídio

Fonte: Elaborado pelo ISP com base em dados da SEPOL.

Considerando a taxa por 100 mil mulheres (Tabela 10), observamos


que a região Norte Fluminense apresentou o maior valor de feminicídio
(2,4), ao mesmo tempo que a das Baixadas Litorâneas, o de tentativa de
feminicídio (5,7). Em contrapartida, o Centro-Sul Fluminense registrou a
menor taxa de feminicídio (0,0) e a Costa Verde, de tentativa de femini-
cídio (1,3).

80
Violência Física Sumário

Tabela 10 – Mulheres vítimas de feminicídio e tentativa de feminicídio –


regiões do estado do Rio de Janeiro – 2022 (taxa por 100 mil mulheres)

Região Feminicídio Tentativa de feminicídio


Estado do Rio de Janeiro 1,2 3,2

Baixadas Litorâneas 1,8 5,7

Centro-Sul Fluminense 0,0 5,3

Costa Verde 2,0 1,3

Médio Paraíba 1,1 3,0

Metropolitana 1,3 3,4

Noroeste Fluminense 1,7 2,3

Norte Fluminense 2,4 4,2

Serrana 0,7 3,5

Fonte: Elaborada pelo ISP com base em dados da SEPOL e do IBGE.

3.2.1. Distribuição temporal dos feminicídios e das tentativas


de feminicídio
Os Gráficos 41 e 42 revelam uma concentração no período noturno,
especialmente à 0h (15 vítimas de feminicídio e 22 de tentativa de femi-
nicídio). Também chama atenção os quantitativos de feminicídios (33) e
tentativas de feminicídio (115) que ocorreram nos fins de semana. No caso
específico do feminicídio, destacamos a concentração às segundas, dia
da semana em que houve o maior número de vitimizações (21).

81
Dossiê Mulher 2023 Sumário

Gráfico 41 – Mulheres vítimas de Gráfico 42 – Mulheres vítimas de


feminicídio por dia da semana e hora tentativa de feminicídio por dia da
do fato – estado do Rio de Janeiro – semana e hora do fato – estado do Rio
2022 (números absolutos) de Janeiro – 2022 (números absolutos)

Hora dom seg ter qua qui sex sáb Total Hora dom seg ter qua qui sex sáb Total
0h 2 4 0 3 1 2 3 15 0h 2 2 2 0 7 3 6 22
1h 1 0 0 0 0 0 0 1 1h 3 1 2 1 3 2 1 13
2h 0 0 0 0 0 0 2 2 2h 3 1 1 0 1 4 4 14
3h 0 0 1 0 0 0 0 1 3h 1 1 1 1 1 1 3 9
4h 0 3 1 0 0 0 3 7 4h 7 1 2 2 0 3 1 16
5h 0 1 0 1 0 0 0 2 5h 3 3 0 2 1 0 5 14
6h 1 0 2 0 0 0 0 3 6h 6 1 0 0 3 1 1 12
7h 0 0 0 1 1 2 1 5 7h 3 2 1 3 0 1 1 11
8h 1 4 1 0 1 1 1 9 8h 0 0 1 2 2 0 2 7
9h 2 2 0 1 0 0 0 5 9h 1 2 2 1 1 1 0 8
10h 1 1 1 0 1 0 0 4 10h 3 3 0 1 3 0 2 12
11h 1 0 1 0 2 3 0 7 11h 0 2 0 1 3 0 0 6
12h 0 0 2 1 0 0 1 4 12h 5 2 1 1 0 0 0 9
13h 1 1 1 0 2 0 1 6 13h 0 0 1 0 1 1 0 3
14h 0 0 0 0 0 0 0 0 14h 3 4 1 1 3 1 3 16
15h 1 1 2 1 1 2 1 9 15h 1 1 1 0 3 1 0 7
16h 0 0 0 1 1 1 0 3 16h 2 3 0 1 3 1 0 10
17h 0 0 0 1 0 0 0 1 17h 2 1 2 3 2 1 3 14
18h 1 2 0 0 3 1 0 7 18h 3 3 1 0 0 0 0 7
19h 1 1 1 1 1 1 0 6 19h 4 2 1 2 1 6 2 18
20h 2 0 0 0 0 1 1 4 20h 6 1 2 1 2 2 5 19
21h 0 0 1 1 0 0 2 4 21h 3 0 2 1 1 0 1 8
22h 0 1 1 1 0 0 1 4 22h 5 2 2 2 1 1 3 16
23h 1 0 0 0 0 0 0 1 23h 3 3 3 3 2 3 3 20
Total 16 21 15 13 14 14 17 110 Total 69 41 29 29 44 33 46 291

Fonte: Elaborado pelo ISP com base em Fonte: Elaborado pelo ISP com base em
dados da SEPOL. dados da SEPOL.

3.2.2. Perfil das vítimas de feminicídio e tentativa de femini-


cídio
O Gráfico 43 mostra que mulheres com idades entre 30 e 59 anos fo-
ram as maiores vítimas de feminicídio (67 ou 60,4%). No que diz respeito
ao estado civil, a informação não estava disponível na maior parte dos
registros de ocorrência (40 ou 36,0%). Além disso, as mulheres negras fo-
ram as mais vitimadas (74 ou 66,7%).

Algumas características se repetiram em relação à tentativa de fe-


minicídio (Gráfico 44), mulheres com idades entre 30 e 59 anos (175 ou
59,7%) e negras (176 ou 60,1%) foram as maiores vítimas. A diferença ficou
por conta do estado civil. Nesse caso, o maior valor foi observado entre as
mulheres solteiras (119 ou 40,6%).

82
Violência Física Sumário

Gráfico 43 – Mulheres vítimas de feminicídio por faixa etária, estado


civil e perfil racial – estado do Rio de Janeiro – 2022
(números absolutos e valores percentuais)

100,0% 100,0% 100,0%


% de mulheres vítimas

66,7%
75,0% 60,4% 75,0% 75,0% 74
67

50,0% 50,0% 36,0% 50,0%


28,8% 29,7% 29,7% 40 28,8%
32 33 33 32
25,0% 25,0% 25,0%

1,8% 2,7% 2,7% 3,6% 2,7% 1,8% 4,5%


4 0,0% 5
2 3 3 3 2 0
0,0% 0,0% 0,0%

11 7 9 9 ou ao
u
a1 a2 a5 os m ira da m a s m
0 a os 12 os 18 os 30 nos 60 an ais Se ação lte sad to ara va Se ação gra nc tra Se ação
So Ca e jun Sep Viú Ne Bra Ou
an an an a m orm viv orm orm
inf inf inf
Idade Estado civil Perfil racial

Fonte: Elaborado pelo ISP com base em dados da SEPOL.

Gráfico 44 – Mulheres vítimas de tentativa de feminicídio por faixa


etária, estado civil e perfil racial – estado do Rio de Janeiro – 2022
(números absolutos e valores percentuais)

100,0% 100,0% 100,0%


% de mulheres vítimas

75,0% 75,0% 75,0% 60,1%


59,7%
175 176

50,0% 50,0%
40,6% 38,2% 50,0%
119 112 33,8%
30,7%
99
90
16,0%
25,0% 25,0% 25,0%
47
4,1% 3,8% 6,1%
0,3% 2,0% 3,1% 1,4%
12 11 0,0% 18
1 6 9 4 0
0,0% 0,0% 0,0%

11 7 9 9 ou ao
u
a1 a2 a5 os m ira da m a s m
0 a os 12 os 18 os 30 nos 60 an ais Se ação e sad to ara v a Se ação gra nc tra Se ação
Solt Ca e jun Sep Viú Ne Bra Ou
an an an a m orm viv orm orm
inf inf inf
Idade Estado civil Perfil racial

Fonte: Elaborado pelo ISP com base em dados da SEPOL.

O Gráfico 45 revela um dado expressivo: companheiros e ex-compa-


nheiros figuraram como os principais responsáveis pelos crimes de femi-
nicídio, totalizando 89 ou 80,2% das vezes, e de tentativa de feminicídio,
com 225 ou 76,8%.

83
Dossiê Mulher 2023 Sumário

Gráfico 45 – Mulheres vítimas de feminicídio e de tentativa de


feminicídio por tipo de relação entre vítima e autor –
estado do Rio de Janeiro – 2022 (números absolutos)
225
300
Número de mulheres vítimas

200

100
89

21
19 19
0

Companheiros Parentes Nenhuma Outras Pais ou Conhecidos Sem


ou ex padrastos informação

Tentativa de feminicídio Feminicídio

Fonte: Elaborado pelo ISP com base em dados da SEPOL.

3.2.3. Dinâmica do feminicídio e das tentativas de feminicí-


dio contra as mulheres
Diferente do observado em relação aos homicídios e às tentativas de
homicídio, nos quais prevaleceu o uso de arma de fogo, o Gráfico 46 evi-
dencia o emprego proeminente de arma branca, no que diz respeito aos
meios utilizados nos casos de feminicídio (47 ou 42,3%) e tentativa de fe-
minicídio (91 ou 31,1%).
Ainda em relação ao meio empregado, não podemos deixar de men-
cionar as situações em que as mulheres foram vitimadas por meio de
asfixia, envenenamento e material inflável (24 ou 21,6% do feminicídio e 72
ou 24,6% da tentativa de feminicídio). Situações que revelam a crueldade
do autor ao infligir um maior sofrimento à vítima.
Em relação ao lugar, o Gráfico 47 mostra que a maior parte dos femini-
cídios (89 ou 80,2%) e das tentativas de feminicídio (196 ou 66,9%) ocorreu
em uma residência, local onde os agressores têm facilidade para acessar
itens domésticos, como facas ou tesouras, por exemplo. Além de ser me-
nos complicado transitar pelos espaços públicos com esse tipo de objeto
do que com uma arma de fogo, é mais fácil adquiri-los, escondê-los ou
justificar o porte durante uma abordagem policial, por exemplo.

84
Violência Física Sumário

Gráfico 46 – Mulheres vítimas de feminicídio e de tentativa de


feminicídio por meio empregado – 2022 (números absolutos)

91
Número de mulheres vítimas

100 100
72

50
47

16
14
24
19
16

Arma Asfixia, Arma de Pedrada ou Sem


branca envenenamento fogo paulada informação
e material
inflamável

Tentativa de feminicídio Feminicídio

Fonte: Elaborado pelo ISP com base em dados da SEPOL.

Gráfico 47 – Mulheres vítimas de feminicídio e de tentativa de


feminicídio por local do fato – estado do Rio de Janeiro –
2022 (números absolutos)

196
Número de mulheres vítimas

200

100
89 69

21
16
0

Residência Via Outros Sem


pública locais informação

Tentativa de feminicídio Feminicídio

Fonte: Elaborado pelo ISP com base em dados da SEPOL.

85
Dossiê Mulher 2023 Sumário

3.2.4. Outras informações sobre os feminicídios


A partir de agora, discutiremos somente os casos de feminicídio. As
informações apresentadas nesta seção foram colhidas por uma policial
civil lotada na Coordenadoria de Estatística do ISP, tendo como referên-
cia o mês de março de 2023. Por meio do acesso ao Sistema de Controle
Operacional (SCO) da SEPOL, ela realizou a leitura de todas as peças rele-
vantes relacionadas aos registros de ocorrência dos feminicídios em 2022.

Também foram elaboradas pesquisas adicionais, a fim de identificar


outros elementos sobre os agressores. A partir disso, foi criado um banco
de dados para o armazenamento de todas as informações qualitativas
dos 109 registros de feminicídio lavrados em 2022 no estado, nos quais
foram encontradas 111 vítimas (em dois casos, havia duas vítimas)50. Do
total de vítimas, mais da metade eram mães (73 ou 65,8%). Entre essas
mulheres, 57 possuíam filhos menores de 18 anos (78,1%), conforme mos-
tram os Gráficos 48 e 49.

Em 2021, foram registradas 85 vítimas de feminicídio. Entre essas mu-


lheres, 54 ou 63,5% eram mães, e desse total, 37 ou 68,5% possuíam filhos
menores de 18 anos.
100,0%
Gráfico 48 – Mulheres vítimas de feminicídio com filhos – estado do
Rio de Janeiro – 2022 (números absolutos e valores percentuais)

75,0%
65,8%
% de mulheres vítimas

73

50,0%

32,4%
36

25,0%

1,8%
2
0,0%

Sim Não Sem


informação

Fonte: Elaborado pelo ISP com base em dados da SEPOL.

50 - Para mais informações sobre este processo, consultar as Notas metodológicas deste Dossiê.

86
Violência Física Sumário

Gráfico 49 – Mulheres mães vítimas de feminicídio com filhos


menores de 18 anos – estado do Rio de Janeiro –
2022 (números absolutos e valores percentuais)

100,0%

78,1%
57

75,0%
% de mulheres vítimas

50,0%

21,9%
25,0% 16

0,0%

Sim Não

Fonte: Elaborado pelo ISP com base em dados da SEPOL.

Para agravar a situação, em 17 ocasiões, os filhos presenciaram o ato


hediondo do feminicídio contra suas próprias mães (Gráfico 50), sendo
que oito eram crianças ou adolescentes. Em 2021, a cena de tamanha
violência foi assistida em 21 episódios. Não podemos esquecer que, além
do sofrimento decorrente da perda trágica de suas mães, os órfãos do
feminicídio ainda têm que lidar com os danos psicológicos, sociais e emo-
cionais que podem se arrastar por toda a sua vida.

87
Dossiê Mulher 2023 Sumário

Gráfico 50 – Mulheres vítimas de feminicídio com filho


presente no fato – estado do Rio de Janeiro – 2022
(números absolutos e valores percentuais)

100,0%

75,3%
55
75,0%
% de mulheres vítimas

50,0%

23,3%
17
25,0%

1,4%
1
0,0%

Não Sim Sem


informação

Fonte: Elaborado pelo ISP com base em dados da SEPOL.

A análise acerca dos antecedentes criminais mostra que, dos 116 au-
tores do feminicídio (Gráfico 51)51, a maioria tinha algum tipo de registro
anterior (57 ou 78,1%). Dentro desse grupo, 26 ou 22,4% possuíam ante-
cedentes por violência doméstica, 24 por ameaça (20,7%) e 19 por tráfico
de drogas (16,4%), como indica o Gráfico 52. Em 2021, dos 83 autores, 46
ou 55,4% apresentavam antecedente criminal anterior à prática do femi-
nicídio. Entre eles, 23 ou 27,7% tinham registros relacionados à violência
doméstica, 22 ou 26,5% à ameaça e 12 ou 14,5% à tráfico de drogas.

51 - A diferença entre o número de feminicídios e de autores ocorre por conta dos casos em
que o feminicídio foi cometido por mais de um autor.

88
Violência Física Sumário

Gráfico 51 – Autores de feminicídio por registro anterior – estado do


Rio100,0%
de Janeiro – 2022 (números absolutos e valores percentuais)

75,0%

59,5%
69
% de autores

50,0%

36,2%
42

25,0%

4,3%
5

0,0%

Sim Não Sem


informação

Fonte: Elaborado pelo ISP com base em dados da SEPOL.

100,0%

Gráfico 52 – Autores de feminicídio por tipo de registro anterior – estado


do Rio de Janeiro – 2022 (números absolutos e valores percentuais)

75,0%
% de autores

50,0%

31,9%
37
22,4%
20,7%
25,0% 26
24 16,4%
19 12,1%
10,3% 9,5% 9,5%
14 8,6%
12 11 11 10 5,2%
6 1,7%
2
0,0%

Outros Violência Ameaça Tráfico de Lesão Roubo Furto Homicídio Porte de Estupro Sem
doméstica drogas corporal arma informação
dolosa

Fonte: Elaborado pelo ISP com base em dados da SEPOL.

89
Dossiê Mulher 2023 Sumário

Sobre a motivação (Gráfico 53), identificamos, a partir da leitura qua-


lificada da policial civil lotada no ISP, que 28 feminicídios ocorreram por
ciúmes do autor perante à vítima (24,1%), 27 por briga (23,3%) e 22 pelo
fato de o autor não aceitar o término do relacionamento (19,0%). Já em
2022, 23 feminicídios decorreram do término do relacionamento amoro-
so (27,1%), 13 ou 15,3% por ciúmes da vítima e em seis ou 7,1% a desconfian-
ça de traição levou ao assassinato das vítimas.

Gráfico 53 – Autores de feminicídio por motivação do crime – estado


do Rio de Janeiro – 2022 (números absolutos e valores percentuais)

100,0%

75,0%
% de autores

50,0%

24,1% 23,3%
28 21,6%
27 19,0%
25,0% 25
22

8,6%
10
3,4%
4

0,0%

Ciúmes Briga Término de Desconfiança Surto Sem


relacionamento de traição psicótico informação

Fonte: Elaborado pelo ISP com base em dados da SEPOL.

No Gráfico 54, que faz referência à situação do autor após o cometi-


mento do crime, identificamos que a maior parte foi presa em flagrante
(46 ou 39,7%), 25 presos preventivamente após as investigações (21,6%) e
16 se entregaram voluntariamente (13,8%). Novamente, vale ressaltar, es-
ses dados são referentes ao mês de março de 2023, quando foram pes-
quisados.

90
Violência Física Sumário

Em 2021, constatamos que 30 foram presos em flagrante (36,1%) e 12


após o início das investigações (14,5%). Nove cometeram suicídio logo
após o crime (10,8%), oito se entregaram voluntariamente às autoridades
(9,6%) e dois foram mortos por terceiros (2,4%).

Gráfico 54 – Autores de feminicídio por situação após o crime – estado


do Rio de Janeiro – 2022 (números absolutos e valores percentuais)

100,0%

75,0%
% de autores

50,0%
39,7%
46

21,6%
25,0% 25
13,8% 13,8%
16 16
6,0%
7 3,4%
1,7%
4
2
0,0%

Preso em Preso após Entrega Foragido Suicídio Morto por Sem


flagrante investigação voluntária após o terceiros informação
feminicídio

Fonte: Elaborado pelo ISP com base em dados da SEPOL.

Um dado sensível e de extrema importância para a análise dos femini-


cídios é apresentado no Gráfico 55. Nele, é possível perceber o escalona-
mento das agressões, visto que 70 mulheres já haviam sofrido violência
antes do feminicídio. Entre o total de vítimas, 18 já tinham feito um regis-
tro anterior, 90 não tinham procurado a autoridade policial para relatar
alguma agressão e em três vitimizações não havia informação.

Entre as que não tinham feito o registro, 52 ou 57,8% já tinham sofrido


algum tipo de violência, mas não informaram ou procuraram as autori-
dades policiais. Nesses casos, a exposição à violência foi confidenciada a
alguém de sua confiança, presenciada por terceiros ou a vítima apresen-
tava marcas visíveis de lesão corporal. Em 2021, observamos que em 50
dos 85 registros, o equivalente a 58,8%, a vítima já havia sofrido algum
tipo de violência anterior.

91
Dossiê Mulher 2023 Sumário
100,0%

Gráfico 55 – Mulheres vítimas de feminicídio que sofreram violência anterior –


estado do Rio de Janeiro – 2022 (números absolutos e valores percentuais)
75,0%
% de mulheres vítimas

63,1%
70

50,0%

34,2%
38

25,0%

2,7%
3
0,0%

Sim Não Sem


informação

Fonte: Elaborado pelo ISP com base em dados da SEPOL.

Por fim, a partir da leitura do Gráfico 56, identificamos que das 111 víti-
mas, apenas 17 procuraram a autoridade competente para solicitar medi-
das protetivas de urgência e denunciar a violência pretérita realizada pelo
autor (15,3%).

Gráfico 56 – Mulheres vítimas de feminicídio com pedido de medida protetiva


100,0%
– estado do Rio de Janeiro – 2022 (números absolutos e valores percentuais)
82,0%
91

75,0%
% de mulheres vítimas

50,0%

25,0%
15,3%
17

2,7%
3
0,0%

Não Sim Sem


informação

Fonte: Elaborado pelo ISP com base em dados da SEPOL.

92
Violência Física Sumário

O Mapa 03 representa a concentração espacial dos casos de feminicí-


dio registrados no ano de 2022. Assim, retrata o número de vítimas conta-
bilizadas dentro de um determinado recorte espacial, conforme indicado
na legenda. O mapa representa, ainda, os casos em que houve denúncia
pretérita de agressão, tendo sido requisitada por parte da vítima a medi-
da protetiva de urgência contra o agressor.

É possível notar no mapa que a concentração dos casos letais de vio-


lência contra a mulher apresentou muitas diferenças em relação aos des-
cumprimentos. Na maior parte dos casos, não foram observadas coinci-
dências espaciais das áreas de maior concentração de feminicídios em
relação às manchas criminais dos casos de descumprimento de medida
protetiva de urgência, com exceção das duas áreas da Capital e, espe-
cialmente, na área de Campos dos Goytacazes. Neste município, foram
identificados muitos locais de feminicídio dentro da área de maior aden-
samento espacial dos descumprimentos. Isso inclui dois casos em que as
mortes ocorreram, apesar de ter havido pretérita denúncia de agressão,
bem como a solicitação de medida protetiva contra o agressor.

Mapa 03 – Distribuição dos casos de feminicídio e daqueles em


que houve solicitação ou descumprimento de medida protetiva de
urgência – estado do Rio de Janeiro – 2022

Fonte: Elaborado pelo ISP com base em dados da SEPOL e do IBGE.

93
Dossiê Mulher 2023 Sumário

3.3. Lesão corporal dolosa


A partir de agora, trataremos do crime de lesão corporal dolosa. O
Gráfico 57 mostra a redução do número de vítimas nos primeiros anos
da série histórica (2014 a 2017). Comportamento também observado em
2020 – ano em que foi registrado o menor valor (33.371). Entre 2021 e 2022,
observamos o crescimento de 3.576 mulheres vítimas ou 10,5% .

Gráfico 57 – Mulheres vítimas de lesão corporal dolosa – estado do


Rio de Janeiro – 2014 e 2022 (números absolutos)

60.000
56.031

49.281
50.000
44.693
Número de mulheres vítimas

Média 41.963

40.000
41.344 41.366
39.639
37.757
34.181
33.371
30.000

20.000

10.000

2014 2015 2016 2017 2018 2019 2020 2021 2022

Fonte: Elaborado pelo ISP com base em dados da SEPOL.

O Gráfico 58 mostra que, ao longo de 2022, houve a redução do quan-


titativo de vítimas entre os meses de março (3.606) e junho (2.618) – neste
último foi registrado o menor valor da série. A maior vitimização ocorreu
em outubro (3.676).

94
Violência Física Sumário

Gráfico 58 – Mulheres vítimas de lesão corporal dolosa – estado do


Rio de Janeiro – 2022 (números absolutos)

4.000
3.676
3.606

3.500 3.282 3.308


3.150 3.170
3.057
Número de mulheres vítimas

Média 3.146
3.000
3.028 3.029
2.972
2.861
2.500 2.618

2.000

1.500

1.000

500

jan fev mar abr mai jun jul ago set out nov dez

Fonte: Elaborado pelo ISP com base em dados da SEPOL.

Assim como se manifestou com os demais crimes que compõem a


Violência Física, o maior número absoluto de vítimas de lesão corporal
dolosa foi registrado na região Metropolitana (28.019 ou 74,2%), como in-
dica o Gráfico 59. Em relação à taxa por 100 mil mulheres (Tabela 11), o
Centro-Sul Fluminense concentrou a maior vitimização (626,1).

Gráfico 100,0%
59 – Mulheres vítimas de lesão corporal dolosa – regiões do estado
do Rio de Janeiro – 2022 (números absolutos e valores percentuais)

74,2%
28.019
75,0%
% de mulheres vítimas

50,0%

25,0%

6,2% 4,9%
2.333 4,0% 3,9% 2,5% 2,3%
1.866 1.494 2,1%
1.474 943 850 778
0,0%

na s ul ste
lita da dio na rte e o-S e sta
po ixa as Mé aíba rra No nens ntr ns roe nse Co rde
tro Ba râne Se Ce mine No ine
Me o Pa
r mi m Ve
Lit Flu Flu Flu

Fonte: Elaborado pelo ISP com base em dados da SEPOL.

95
Dossiê Mulher 2023 Sumário

Tabela 11 – Mulheres vítimas de lesão corporal dolosa – regiões do


estado do Rio de Janeiro – 2022 (taxa por 100 mil mulheres)

Lesão corporal
Região
dolosa
Estado do Rio de Janeiro 414,5

Baixadas Litorâneas 510,9

Centro-Sul Fluminense 626,1

Costa Verde 517,4

Médio Paraíba 390,7

Metropolitana 404,9

Noroeste Fluminense 494,9

Norte Fluminense 297,1

Serrana 524,2

Fonte: Elaborada pelo ISP com base em dados da SEPOL e do IBGE.

3.3.1. Distribuição tempo- Gráfico 60 – Mulheres vítimas de lesão


ral das lesões corporais do- corporal dolosa por dia da semana e
hora do fato – estado do Rio de Janeiro
losas contra as mulheres
– 2022 (números absolutos)
Novamente, observamos a
Hora dom seg ter qua qui sex sáb Total
maior prevalência de vitimiza- 0h 416 467 176 208 193 193 312 1.965
1h 379 252 93 97 135 126 249 1.331
ções no período noturno. So- 2h 337 195 65 86 102 110 217 1.112
mente entre às 18h e 23h, 14.201 3h 259 127 50 83 80 96 236 931
4h 224 112 45 51 62 61 177 732
mulheres foram vítimas de lesão 5h 212 101 44 47 54 62 161 681
6h 201 111 76 90 60 75 155 768
corporal (37,6%), como revela o
7h 178 141 120 107 115 122 139 922
Gráfico 60. Tendo em vista os 8h 219 208 169 190 141 187 185 1.299
9h 198 167 166 159 181 156 162 1.189
dias da semana, o maior núme- 10h 253 248 230 217 221 206 243 1.618

ro de agressões também acon- 11h 233 206 179 164 156 183 215 1.336
12h 248 229 222 201 208 215 193 1.516
teceu aos sábados (6.547) e do- 13h 234 190 187 204 183 168 210 1.376
14h 275 245 209 191 175 210 214 1.519
mingos (8.344). 15h 286 195 199 216 201 206 251 1.554
16h 369 220 208 230 189 205 285 1.706
17h 373 271 238 239 264 257 348 1.990
18h 462 266 238 259 225 269 335 2.054
19h 595 314 305 293 298 305 404 2.514
20h 641 304 317 281 303 336 484 2.666
21h 586 248 267 259 285 318 460 2.423
22h 609 233 246 241 270 306 487 2.392
23h 557 181 216 217 205 351 425 2.152
Total 8.344 5.231 4.265 4.330 4.306 4.723 6.547 37.746

Fonte: Elaborado pelo ISP com base


em dados da SEPOL.

96
Violência Física Sumário

3.3.2. Perfil das mulheres vítimas de lesão corporal dolosa


As mulheres entre 30 e 59 anos (19.438 ou 51,5%), solteiras (19.105 ou
50,6%) e negras (21.391 ou 56,7%) foram as maiores vítimas da lesão corpo-
ral dolosa (Gráfico 61).
Gráfico 61 – Mulheres vítimas de lesão corporal dolosa por perfil etário –
estado do Rio de Janeiro – 2022 (números absolutos e valores percentuais)
100,0% 100,0% 100,0%
% de mulheres vítimas

75,0% 75,0% 75,0%


56,7%
51,5% 50,6% 21.391
19.438 19.105
41,1%
50,0% 35,5% 50,0% 50,0%
15.510
13.419 29,5%
11.128
25,0% 25,0% 12,2% 25,0%
5,7% 4,8% 5,9% 4.616
1,6% 2.140 0,9% 2.246 1,8% 0,3% 2,0%
1.803 740
621 336 662 116
0,0% 0,0% 0,0%

11 7 9 9 ou ao
u
a1 a2 a5 os m ira da m a s m
0 a os 12 os 18 os 30 nos 60 an ais Se ação lte sad to ara va Se ação gra nc tra Se ação
So Ca e jun Sep Viú Ne Bra Ou
an an an a m orm viv orm orm
inf inf inf
Idade Estado civil Perfil racial

Fonte: Elaborado pelo ISP com base em dados da SEPOL.

A maior parte foi agredida por companheiros ou ex-companheiros


(54,7%), como mostra o Gráfico 62. Quando somamos as categorias de
pessoas próximas à vítima (companheiros e ex-companheiros, pais e pa-
drastos, parentes ou conhecidos), temos um total de 70,0% dos autores
pertencentes ao seu universo relacional.

Gráfico
100,0%
62 – Mulheres vítimas de lesão corporal dolosa por tipo de
relação entre vítima e autor – estado do Rio de Janeiro –
2022 (números absolutos e valores percentuais)

75,0%
% de mulheres vítimas

54,7%
20.637

50,0%

25,0%
14,5%
5.473
7,9% 7,5% 8,1%
2.973 2.826 4,9% 3.052
1.839 2,5%
957
0,0%

Companheiros Nenhuma Parentes Outras Conhecidos Pais ou Sem


ou ex padrastos informação

Fonte: Elaborado pelo ISP com base em dados da SEPOL.

97
Dossiê Mulher 2023 Sumário

3.3.3. Dinâmica das lesões corporais dolosas


No Gráfico 63, vemos os meios empregados para a prática da lesão
corporal dolosa. Socos, tapas e pontapés representaram 35,0% do total
das agressões registradas pela SEPOL.

Gráfico
100,0%
63 – Mulheres vítimas de lesão corporal dolosa por meio
empregado – estado do Rio de Janeiro – 2022 (números absolutos e
valores percentuais)

75,0%
% de mulheres vítimas

62,2%
23.500

50,0%

35,0%
13.208

25,0%

1,5% 0,7% 0,5% 0,1%


548 273 178 50
0,0%

Sem Socos, Pedrada ou Arma Arma de Asfixia,


informação Tapas ou paulada branca fogo envenenamento
Pontapés e material
inflamável

Fonte: Elaborado pelo ISP com base em dados da SEPOL.

A relação de proximidade com os agressores também pode ser obser-


vada ao pesquisarmos os locais onde ocorreram os episódios de violên-
cia. O Gráfico 64 mostra que mais da metade das lesões corporais dolo-
sas ocorreu em uma residência (57,4%).

98
Violência Física Sumário

Gráfico100,0%
64 – Mulheres vítimas de lesão corporal dolosa por local do fato –
estado do Rio de Janeiro – 2022 (números absolutos e valores percentuais)

75,0%
% de mulheres vítimas

57,4%
21.686

50,0%

20,5%
25,0% 7.741
11,7%
4.423 8,2%
3.109
2,1%
794
0,0%

Residência Via Outros Estab. Sem


pública locais comercial informação

Fonte: Elaborado pelo ISP com base em dados da SEPOL.

Somente em 2022, em média, quatro mulheres foram vítimas de al-


gum dos crimes que compõem a Violência Física por hora. A existência
de legislações, como a Lei Maria da Penha e a Lei nº 13.104/2015, não fo-
ram suficientes para inibir a conduta violenta dos agressores. Cada vez
mais é importante que a sociedade tome conhecimento sobre as leis e
que essas sejam efetivadas por meio do trabalho dos três poderes (Exe-
cutivo, Legislativo e Judiciário).

Além disso, uma vez que surjam os primeiros sinais ou atos de violên-
cia, como discussões e ameaças verbais, é preciso evitar o escalonamento
para as agressões físicas, como é o caso da lesão corporal, e, principal-
mente, do feminicídio – ato máximo da violência estrutural e sistemática
que anualmente atinge milhares de mulheres em nosso estado.

99
4
Violência Sexual
Violência Sexual Sumário

A Violência Sexual representa uma das mais graves formas de agres-


são contra as mulheres. As sequelas físicas, psicológicas e sexuais, muitas
vezes irreparáveis, tornam as vítimas mais vulneráveis. Entre as conse-
quências da exposição a essa forma de violência, podemos citar o sui-
cídio, a gravidez não planejada, o aborto inseguro, a disfunção sexual, as
infecções sexualmente transmissíveis e a depressão.

Durante muito tempo, grande parte da sociedade associou a Violên-


cia Sexual somente ao crime de estupro; porém, é importante ressaltar
que essa engloba outros delitos. De acordo com artigo 7º, inciso III, da Lei
Maria da Penha, a Violência Sexual é entendida como qualquer conduta
que constranja a mulher a presenciar, manter ou participar de relação
sexual não desejada, mediante intimidação, ameaça, coação ou uso da
força, que a induza a comercializar ou a utilizar, de qualquer modo, a sua
sexualidade, que a impeça de usar qualquer método contraceptivo, que
a force ao matrimônio, à gravidez, ao aborto ou à prostituição, por meio
de coação, chantagem, suborno ou manipulação ou que limite ou anule
o exercício de seus direitos sexuais e reprodutivos.

Abaixo, apresentamos uma breve definição dos delitos que compõem


a Violência Sexual considerando a Lei nº 12.015/200952, o Código Penal e
a Lei nº 13.718/201853. Além disso, trouxemos alguns relatos das vítimas
extraídos dos registros de ocorrência lavrados em 2022.

52 - BRASIL. Lei nº 12.015, de 7 de agosto de 2009. Altera o Título VI da Parte Especial do


Decreto-Lei n° 2.848, de 7 de dezembro de 1940 - Código Penal, e o art. 1º da Lei nº 8.072, de
25 de julho de 1990, que dispõe sobre os crimes hediondos, nos termos do inciso XLIII do art.
5º da Constituição Federal e revoga a Lei nº 2.252, de 1º de julho de 1954, que trata de corrup-
ção de menores. Diário Oficial da União, Brasília, 7 de agosto de 2009.

53 - BRASIL. Lei nº 13.718, de 24 de setembro de 2018. Altera o Decreto-Lei nº 2.848, de 7


de dezembro de 1940 (Código Penal), para tipificar os crimes de importunação sexual e de
divulgação de cena de estupro, tornar pública incondicionada a natureza da ação penal dos
crimes contra a liberdade sexual e dos crimes sexuais contra vulnerável, estabelecer causas
de aumento de pena para esses crimes e definir como causas de aumento de pena o estupro
coletivo e o estupro corretivo; e revoga dispositivo do Decreto-Lei nº 3.688, de 3 de outubro
de 1941 (Lei das Contravenções Penais). Diário Oficial da União, Brasília, 24 de setembro de
2018.

101
Dossiê Mulher 2023 Sumário

Estupro: de acordo com o art. 213 da Lei nº 12.015/2009, este crime, o pri-
meiro contra as liberdades individuais, consiste em “constranger alguém,
mediante violência ou grave ameaça, a ter conjunção carnal ou a praticar
ou permitir que com ele se pratique outro ato libidinoso".

“ Minha filha de 15 anos confidenciou à professora que meu


irmão de mais de 30 anos a estuprou duas vezes na nossa casa.
– Mãe de uma vítima de estupro em depoimento na delegacia.

Estupro de vulnerável: este delito constitui “ter conjunção carnal ou pra-
ticar outro ato libidinoso com menor de 14 anos”, como define o art. 217-
A do Código Penal. A pena também se aplica a quem pratica as ações
descritas com alguém que não possua o discernimento necessário para
a prática do ato ou que não pode oferecer resistência por enfermidade ou
deficiência mental.

“ Meu padrasto toca nas partes intimas da minha filha desde



que ela tinha três anos. quando fez sete, ele começou os abusos,
acho que ela esta grávida. – Mãe de uma vítima de estupro de
vulnerável em depoimento na delegacia.

Tentativa de estupro: o art. 14 do Código Penal afirma que ocorre a ten-


tativa “quando iniciada a execução [nesse caso, do estupro], não se con-
suma por circunstâncias alheias à vontade do agente”.

“ Estava realizando o patrulhamento de rotina, no final da tarde,


quando fomos acionados por um condutor que havia prestado
socorro à passageira, vítima de tentativa de estupro. O crime
ocorreu minutos antes numa estrada que dá acesso à rodovia.
A vítima revelou o nome do autor do crime e afirmou que ele
estava sob efeito de álcool. Por uma questão de segurança, a
encaminhamos à Santa Casa. – Policial militar em depoimento na
Delegacia de Atendimento à Mulher.

102
Violência Sexual Sumário

Importunação sexual e demais delitos: tipificado pela Lei n° 13.718/2018,


este crime corresponde a prática de qualquer ato de cunho sexual reali-
zado sem o consentimento da vítima, com o objetivo de satisfação da
própria lascívia ou a de terceiro.

“ Ele é meu professor de Educação Física. Depois da aula de


basquete, fui ao vestiário me trocar enquanto a turma ainda
guardava o material na sala. Do nada, ele entrou no vestiário, sem
bater na porta, e ficou me olhando só de calcinha. Implorei para

ele ir embora, mas só saiu depois que as outras alunas flagraram
a cena e começaram a falar que isso era pedofililia e assédio. – Ví-
tima de importunação sexual em depoimento na delegacia.

Assédio sexual: previsto no art. 216-A, diz respeito ao ato de “constranger


alguém com o intuito de obter vantagem ou favorecimento sexual, preva-
lecendo-se o agente de sua condição de superior hierárquico ou ascen-
dência inerentes ao exercício do emprego, cargo ou função”.

“ Durante uma entrevista de emprego, percebi que ele estava


inquieto e, de repente, segurou meu pescoço com as duas mãos
e começou a beijá-lo e roçar em mim. O empurrei com força e
disse que só queria um emprego. Ele falou que só me daria se eu
tivesse relações sexuais com ele. Fiquei muito nervosa, respondi
que não e fui embora direto para a delegacia. – Vítima de assédio
sexual em depoimento na delegacia.

Ato obsceno: segundo o art. 233, tal delito representa a manifestação
de cunho sexual praticada em local público, capaz de ofender o pudor
médio da sociedade.

103
Dossiê Mulher 2023 Sumário

“ O vizinho de 65 anos estava bêbado e se masturbando na “


varanda de casa, minha filha de 12 anos viu. – Pai de adolescente,
vítima de ato obsceno, em depoimento na delegacia.

Violação sexual mediante fraude: o art. 215 do Código Penal classifi-


ca este crime como ter conjunção carnal ou praticar outro ato libidinoso
com alguém, mediante fraude ou outro meio que impeça ou dificulte a
livre manifestação de vontade da vítima.

“ Em agosto, realizei cinco sessões de fisioterapia. Durante o


atendimento, o profissional tocou nas minhas partes íntimas. –
Vítima de violação sexual mediante fraude.

A exposição à Violência Sexual costuma vir acompanhada por inten-
sos sentimentos de culpa, medo e vergonha, uma consequência direta da
situação traumática, das chantagens e ameaças perpetradas pelos agres-
sores, com o intuito de intimidar e desqualificar as vítimas. Diante disso,
muitas mulheres são levadas a não registrar o fato no momento em que
ocorre, ou procuram a autoridade policial somente após um considerável
período de tempo, como será evidenciado nesta seção.

Anualmente, uma média de 6.128 mulheres denunciaram ter sofrido


alguns dos crimes que compõem a Violência Sexual (Gráfico 65). Ao ob-
servarmos a série histórica, de 2014 a 2022, notamos dois momentos de
crescimento no número de vítimas: primeiro, entre 2017 e 2019, com au-
mento de 1.208 casos (22,0%); e depois, entre 2020 e 2022, com acréscimo
de 1.718 (30,4%). Vale destacar que, em 2022, foi registrado o número mais
elevado dos últimos nove anos, totalizando 7.363 ocorrências.

104
Violência Sexual Sumário

Gráfico 65 – Mulheres vítimas de Violência Sexual – estado do


Rio de Janeiro – 2014 a 2022 (números absolutos)

8.000
7.363

7.000 6.704
6.480
6.112 6.255
Média 6.128
Número de mulheres vítimas

6.000

5.676
5.676 5.645
5.424 5.496
5.000

4.000

3.000

2.000

1.000

2014 2015 2016 2017 2018 2019 2020 2021 2022

Fonte: Elaborado pelo ISP com base em dados da SEPOL.

Como mostra a Tabela 12, o crime de estupro registrou o maior núme-


ro absoluto de vítimas (4.907) dentre as formas de Violência Sexual. No
comparativo com o ano anterior, notamos que todos os crimes apresen-
taram aumento no número de vítimas, com exceção da violação sexual
mediante fraude, que teve uma redução de 10 vítimas (-16,4%). O assédio
sexual foi o crime que alcançou a maior variação percentual (66,1%).

105
Dossiê Mulher 2023 Sumário

Tabela 12 – Mulheres vítimas de Violência Sexual segundo os delitos


analisados – estado do Rio de Janeiro – 2021 e 2022
(números absolutos, diferença percentual e taxa por 100 mil mulheres)

Nº de Taxa por Nº de Taxa por Diferença


vítimas 100 mil vítimas 100 mil % de 2022
Forma de violência / delito
mulheres mulheres mulheres mulheres em relação
em 2021 (2021) em 2022 (2022) a 2021

Violência Sexual 6.255 68,8 7.363 80,8 17,7%

Assédio sexual 189 2,1 314 3,4 66,1%

Ato obsceno 151 1,7 190 2,1 25,8%

Estupro 4.429 48,6 4.907 53,9 10,8%

Importunação sexual 1.189 13,1 1.642 18,0 38,1%

Tentativa de estupro 236 2,6 259 2,8 9,7%

Violação sexual mediante fraude 61 0,7 51 0,6 -16,4%

Fonte: Elaborada pelo ISP com base em dados da SEPOL e do IBGE.

A região Metropolitana concentrou o maior número de mulheres ví-


timas (5.399 ou 73,3%), seguida pelas Baixadas Litorâneas (537 ou 7,3%),
como indicado no Gráfico 66. Ao considerarmos a taxa por 100 mil mu-
lheres, conforme mostra o Mapa 04, verificamos as maiores concentra-
ções no Centro-Sul Fluminense (118,9) e nas Baixadas Litorâneas (117,6).

106
Violência Sexual Sumário

Gráfico100,0%
66 – Mulheres vítimas de Violência Sexual – regiões do estado do
Rio de Janeiro – 2022 (números absolutos e valores percentuais)

73,3%
5.399
75,0%
% de mulheres vítimas

50,0%

25,0%

7,3%
537 4,9% 4,2% 4,1%
359 2,4% 2,1% 1,7%
310 299 179 155 125
0,0%

na s ul ste
lita da te dio na o-S e sta
po ixa as Nor ense Mé aíba rra ntr ns Co rde roe nse
o Ba râne in Se Ce mine No ine
etr i t o u m Pa
r Ve m
M L Fl Flu Fl u

Fonte: Elaborado pelo ISP com base em dados da SEPOL.

Mapa 04 – Mulheres vítimas de Violência Sexual – regiões do estado


do Rio de Janeiro – 2022 (taxa por 100 mil mulheres)

Fonte: Elaborado pelo ISP com base em dados da SEPOL e do IBGE.

107
Dossiê Mulher 2023 Sumário

No que concerne à categorização legal dos crimes que integram a


Violência Sexual, o Gráfico 67 revela que não houve o enquadramento em
uma lei específica em mais da metade dos registros de estupro (59,1%),
estupro de vulnerável (60,1%), tentativa de estupro (61,8%), violação sexual
mediante fraude (68,6%) e importunação sexual (84,7%).

A Lei nº 9.099/1995 foi aplicada em grande parte das situações envol-


vendo ato obsceno (79,5%) e assédio sexual (62,4%). Já a tipificação na
Lei nº 11.340/2006 se deu principalmente nos crimes de estupro (40,8%),
estupro de vulnerável (39,9%) e tentativa de estupro (38,2%).

Gráfico 67 – Lei aplicada por tipo de Violência Sexual – estado do


Rio de Janeiro – 2022 (valores percentuais)

100.0%
59,1% 60,1% 61,8% 68,6% 84,7% 34,1% 18,9%

79,5%
75.0%
% de mulheres vítimas

62,4%

50.0%

40,8% 39,9% 38,2%


31,4%
25.0%

13,4%

0.0%

Estupro Estupro de Tentativa Violação Importunação Assédio Ato


vulnerável de estupro Sexual sexual sexual obsceno
Mediante
Fraude

Lei nº 11.340/2006 Lei nº 9.099/1995 Sem lei específica

Fonte: Elaborado pelo ISP com base em dados da SEPOL.

4.1. Estupro e estupro de vulnerável


Esta subseção se dedica à análise dos dados referentes aos crimes de
estupro e estupro de vulnerável. Ao longo de toda a série histórica, os
números de vítimas de estupro de vulnerável foram superiores aos de es-
tupro (Gráfico 68). Olhando especificamente para o estupro, destacamos
a redução do número de vítimas em 2020 no comparativo com o ano an-
terior (266 ou 16,6%). Essa queda também foi observada em 2021, quando
foi registrado o menor valor da série (1.327). Diferentemente de 2022, em

108
Violência Sexual Sumário

que houve um crescimento no número de vítimas (142 ou 10,7%).

Em relação ao estupro de vulnerável, constatamos o aumento nas viti-


mizações entre 2017 e 2019 (586 ou 23,4%), seguida por uma redução em
2020 e subsequente elevação em 2021 e 2022. A propósito, nesse último
ano foi registrado o maior valor da série (3.438).

Gráfico 68 – Mulheres e meninas vítimas de estupro e de estupro de


vulnerável – estado do Rio de Janeiro – 2014 a 2022 (números absolutos)

4.000

3.438
3.500
3.089 3.102
Número de mulheres vítimas

2.974
2.880
3.000 2.754
2.538 2.503
2.406
2.500

2.000 1.751
1.607 1.670 1.663
1.590 1.598
1.469
1.500 1.332 1.327

1.000

500

2014 2015 2016 2017 2018 2019 2020 2021 2022

Estupro Estupro de vulnerável

Fonte: Elaborado pelo ISP com base em dados da SEPOL.

Pelo segundo ano consecutivo, notamos o crescimento da notificação


dos crimes estupro e estupro de vulnerável informados no mesmo dia do
fato (Gráfico 69). Em 2022, chegou a 26,5% do total. Outro dado relevante
refere-se ao aumento do intervalo de dias entre a data na qual o crime
de estupro foi cometido (data do fato) e a data na qual a vítima regis-
trou a ocorrência na delegacia (data de comunicação) ao longo da série
histórica. Em 2014, 3,3% das mulheres reportaram o estupro sofrido mais
de cinco anos após o fato. Desde então, notamos um crescimento desse
percentual, chegando a 9,9% em 2021. Em 2022, houve uma pequena re-
dução para 9,7%.

109
Dossiê Mulher 2023 Sumário

Gráfico 69 – Estupros e estupros de vulnerável por intervalo de tempo


entre a data do crime e a data da comunicação – estado do
Rio de Janeiro – 2014 a 2022 (valores percentuais)

100,0%
5,7% 7,3% 7,3% 9,3% 9,9% 9,7%
9,4% 9,2% 9,8% 8,9% 9,5% 11,0%
10,5% 11,0% 10,6%
18,4% 18,6% 17,1% 19,4%
18,4% 18,2% 17,4% 16,8% 16,0%
75,0%
% de mulheres vítimas

9,2% 9,4% 9,6%


10,0% 9,9% 9,8% 9,3% 9,8% 9,3%
31,6% 32,1% 33,4%
31,5% 31,5% 27,9%
50,0% 29,5% 30,4% 28,2%

25,0% 28,1% 26,9% 26,5%


25,0% 24,6% 23,5% 24,2% 24,2%
23,1%

0,0%

2014 2015 2016 2017 2018 2019 2020 2021 2022

No mesmo dia Após uma semana até um mês Após um ano até cinco anos
Dia seguinte até uma semana Após um mês até um ano Após cinco anos

Fonte: Elaborado pelo ISP com base em dados da SEPOL.

Na distribuição mensal (Gráfico 70), destacamos o aumento do nú-


mero de vítimas de estupro entre os meses de junho (114) e outubro (154).
Em relação ao estupro de vulnerável, houve a redução do número de ví-
timas nos dois últimos meses do ano, sendo que em dezembro foi regis-
trado o menor valor da série (252).

110
Violência Sexual Sumário

Gráfico 70 – Mulheres e meninas vítimas de estupro e de estupro de


vulnerável – estado do Rio de Janeiro – 2022 (números absolutos)

400

350 328 325


313
305
Número de mulheres vítimas

297
300 277 280 280
270
256 255 252

250

200
154
140
128 127 133
150
113 111 117 114 117
105 110

100

50

jan fev mar abr mai jun jul ago set out nov dez

Estupro Estupro de vulnerável

Fonte: Elaborado pelo ISP com base em dados da SEPOL.

Tendo em vista a divisão por regiões do estado (Gráfico 71), a Metro-


politana concentrou a maioria das vítimas de estupro e estupro de vul-
nerável (1.114 ou 75,8% e 2.504 ou 72,8%, respectivamente). Já em relação
à taxa por 100 mil mulheres (Tabela 13), as Baixadas Litorâneas apresen-
taram o maior valor em relação ao estupro (25,2), e a Costa Verde obteve
proporção superior em casos de estupro de vulnerável (57,9).

111
Dossiê Mulher 2023 Sumário

Gráfico 71 – Mulheres e meninas vítimas de estupro e estupro de vulnerável


– regiões do estado do Rio de Janeiro – 2022 (números absolutos)

2.504

3.000
Número de mulheres vítimas

2.000

1.000 1.114

243
198
127 146
0

Metropolitana Baixadas Norte Médio Serrana Costa Centro-Sul Noroeste


Litorâneas Fluminense Paraíba Verde Fluminense Fluminense

Estupro de vulnerável Estupro

Fonte: Elaborado pelo ISP com base em dados da SEPOL.

Tabela 13 – Mulheres e meninas vítimas de estupro e de estupro de


vulnerável – regiões do estado do Rio de Janeiro – 2022
(taxa por 100 mil mulheres)

Região Estupro Estupro de vulnerável


Estado do Rio de Janeiro 16,1 37,7

Baixadas Litorâneas 25,2 53,2

Centro-Sul Fluminense 21,2 51,8

Costa Verde 19,3 57,9

Médio Paraíba 11,5 26,6

Metropolitana 16,1 36,2

Noroeste Fluminense 16,3 32,0

Norte Fluminense 12,3 39,9

Serrana 12,3 51,2

Fonte: Elaborada pelo ISP com base em dados da SEPOL e do IBGE.

112
Violência Sexual Sumário

4.1.1. Distribuição temporal dos estupros e estupros de


vulneráveis
Como evidenciado nos Gráficos 72 e 73, a maior parte das ocorrências
de estupro e estupro de vulnerável ocorreu aos domingos (245) e sex-
tas-feiras (558), respectivamente. Em relação ao horário, merecem des-
taques as incidências registradas à 0h (171 vítimas de estupro e 607 de
estupro de vulnerável), assim como no intervalo compreendido entre 8h
e 10h (234 vítimas de estupro e 972 de estupro de vulnerável).

Gráfico 72 – Mulheres vítimas de Gráfico 73 – Mulheres vítimas de


estupro por dia da semana e hora do estupro de vulnerável por dia da
fato – estado do Rio de Janeiro – 2022 semana e hora do fato – estado do Rio
(números absolutos) de Janeiro – 2022 (números absolutos)

Hora dom seg ter qua qui sex sáb Total Hora dom seg ter qua qui sex sáb Total
0h 21 33 24 25 14 22 32 171 0h 80 94 88 86 76 109 74 607
1h 8 11 6 4 12 13 10 64 1h 12 5 3 14 5 8 8 55
2h 15 11 10 6 9 2 12 65 2h 17 7 5 1 5 4 8 47
3h 12 11 0 4 4 7 7 45 3h 12 8 2 2 1 4 9 38
4h 12 7 3 4 8 3 9 46 4h 5 4 4 1 5 2 3 24
5h 13 3 1 2 0 4 6 29 5h 7 6 4 1 2 3 7 30
6h 9 4 4 8 6 3 3 37 6h 9 6 6 2 5 6 4 38
7h 3 10 6 3 3 4 9 38 7h 5 9 9 5 6 9 11 54
8h 14 17 20 26 19 20 5 121 8h 70 67 65 79 74 74 70 499
9h 6 6 6 5 2 2 5 32 9h 16 23 15 17 16 22 15 124
10h 11 9 10 18 10 12 11 81 10h 37 55 45 49 53 62 48 349
11h 4 4 5 5 10 4 6 38 11h 16 22 17 14 11 17 18 115
12h 6 9 4 6 8 8 8 49 12h 20 30 32 39 35 28 24 208
13h 3 5 6 5 4 6 3 32 13h 12 24 24 18 15 17 13 123
14h 6 7 9 11 3 9 6 51 14h 13 26 20 13 19 20 14 125
15h 4 8 9 6 7 5 6 45 15h 15 24 16 13 22 20 13 123
16h 10 4 4 10 9 13 2 52 16h 16 17 16 19 26 18 12 124
17h 7 3 4 9 8 2 7 40 17h 21 21 11 17 20 21 13 124
18h 8 6 9 6 10 12 5 56 18h 17 13 19 12 7 17 18 103
19h 11 5 5 11 7 16 11 66 19h 11 13 10 19 10 15 25 103
20h 17 15 14 9 7 8 18 88 20h 17 20 18 20 15 24 20 134
21h 15 10 5 15 8 3 10 66 21h 16 6 9 9 6 19 18 83
22h 17 5 9 9 9 9 18 76 22h 23 30 7 16 9 21 22 128
23h 13 6 7 12 12 12 19 81 23h 8 10 12 7 9 18 15 79
Total 245 209 180 219 189 199 228 1.469 Total 475 540 457 473 452 558 482 3.437

Fonte: Elaborado pelo ISP com base em Fonte: Elaborado pelo ISP com base em
dados da SEPOL. dados da SEPOL.

113
Dossiê Mulher 2023 Sumário

4.1.2. Perfil das mulheres vítimas de estupro e estupro de


vulnerável
Os Gráficos 74 e 75 revelaram um padrão semelhante no que se refere
ao perfil das vítimas de estupro e estupro vulnerável. A maioria estava
solteira (993 ou 67,6% de estupro e 2.766 ou 80,5% de estupro de vulnerá-
vel) e era negra (824 ou 56,1% e 1.985 ou 57,7%). A única diferença notável
diz respeito ao perfil etário: nos casos de estupro (Gráfico 74), a maior
parte eram jovens na faixa de 18 a 29 anos (468 ou 31,9%), enquanto nas
ocorrências de estupro de vulnerável (Gráfico 75), mais da metade eram
crianças com idade inferior a 12 anos (1.910 ou 55,6%).

Gráfico 74 – Mulheres vítimas de estupro por perfil etário, perfil


racial e faixa etária – estado do Rio de Janeiro – 2022
(números absolutos e valores percentuais)
100,0% 100,0% 100,0%
% de mulheres vítimas

67,6%
75,0% 75,0% 993 75,0%
56,1%
824
40,8%
50,0% 50,0% 50,0%
31,9% 600
28,9% 26,7%
424 468
392
16,1%
25,0% 25,0% 10,6% 25,0%
8,3% 236
122 2,7% 4,6% 155 2,9%
1,6% 1,2% 0,2%
40 68 42
23 17 3
0,0% 0,0% 0,0%

11 7 9 9 ou ao
u
a1 a2 a5 os m ira da m a s m
0 a os 12 os 18 os 30 nos 60 an ais Se ação lte sad to ara va Se ação gra nc tra Se ação
So Ca e jun Sep Viú Ne Bra Ou
an an an a m orm viv orm orm
inf inf inf
Idade Estado civil Perfil racial

Fonte: Elaborado pelo ISP com base em dados da SEPOL.

Gráfico 75 – Meninas e mulheres vítimas de estupro de vulnerável por


perfil etário, perfil racial e faixa etária – estado do Rio de Janeiro – 2022
(números absolutos e valores percentuais)
100,0% 100,0% 100,0%
80,5%
2.766
% de mulheres vítimas

75,0% 75,0% 75,0%


55,6% 57,7%
1.910 1.985

50,0% 50,0% 50,0% 35,9%


30,9% 1.235
1.063

25,0% 25,0% 14,8% 25,0%


6,2% 508 6,0%
3,6% 3,6% 2,8% 1,9%
214 0,1% 0,1% 0,3% 207
124 124 96 66
3 2 11
0,0% 0,0% 0,0%

11 7 9 9 ou ao
u
a1 a2 a5 os m ira da m a s m
0 a os 12 os 18 os 30 nos 60 an ais Se ação e sad to ara v a Se ação gra nc tra Se ação
Solt Ca e jun Sep Viú Ne Bra Ou
an an an a m orm viv orm orm
inf inf inf
Idade Estado civil Perfil racial

Fonte: Elaborado pelo ISP com base em dados da SEPOL.

114
Violência Sexual Sumário

Analisamos ainda a relação entre o autor e a vítima (Gráfico 76). Dentre


as vítimas de estupro (483 ou 32,9%) e de estupro de vulnerável (767 ou
22,3%), a maioria não tinha relação com o agressor. Também destacamos
o número de companheiros e ex-companheiros acusados de estupro
(372 ou 25,3%), bem como de pais e padastros em casos de estupro de
vulnerável (696 ou 22,0%). Especificamente sobre esse último, chamou
atenção, também, o número de meninas e mulheres que foram vítimas
de agressões classificadas na categoria “Outras”54.

Gráfico 76 – Mulheres vítimas de estupro de vulnerável e estupro por tipo


de relação entre vítima e autor – estado do Rio de Janeiro – 2022
(números absolutos)

1.200 767
Número de mulheres vítimas

757
800 696

578

142
483
318
400
372

180

157 142
120 107 88
0

Nenhuma Outras Pais ou Parentes Companheiros Conhecidos Sem


padrastos ou ex informação

Estupro de vulnerável Estupro

Fonte: Elaborado pelo ISP com base em dados da SEPOL.

54 - Esta é uma categoria fechada da SEPOL e, portanto, não temos acesso a quais autores
estão inclusos na mesma.

115
Dossiê Mulher 2023 Sumário

A residência foi o local com a maior incidência de estupro (887 ou


60,4%) e de estupro de vulnerável (2.640 ou 76,8%), conforme indicado no
Gráfico 77. Outro destaque foi o quantitativo de vitimizações que ocorre-
ram em ambientes classificados como “Outros locais" (231 vítimas de es-
tupro ou 15,7% e 413 de estupro de vulnerável ou 12,0%). Agrupamos nessa
categoria os espaços com menores incidências, entre eles destacamos:
“Outros"55, com 342 vitimizações ou 7,0%, estabelecimento de ensino (65
ou 1,3%) e hospitais, clínicas e similares (36 ou 0,7%).

Gráfico 77 – Mulheres vítimas de estupro e estupro de vulnerável por local


do fato – estado do Rio de Janeiro – 2022 (números absolutos)

2.640

3.000
Número de mulheres vítimas

2.000

1.000
887
413

145 213
231 188
0 137

Residência Outros Via Estab. Sem


locais pública comercial informação

Estupro de vulnerável Estupro

Fonte: Elaborado pelo ISP com base em dados da SEPOL.

4.2. Tentativa de estupro


Desde o início da série histórica em 2014 (Gráfico 78), notamos uma
queda no número de vítimas de tentativa de estupro, com exceção dos
anos de 2019 (335) e 2022 (259). No comparativo com 2021 constatamos
um aumento de 23 mulheres atingidas, o equivalente a 9,7%.

55 - Categoria definida pela SEPOL.

116
Violência Sexual Sumário

Gráfico 78 – Mulheres vítimas de tentativa de estupro – estado do


Rio de Janeiro – 2022 (números absolutos)

600 586

500 484
Número de mulheres vítimas

400 387
Média 356 356

300 335
308

257 259
236
200

100

2014 2015 2016 2017 2018 2019 2020 2021 2022

Fonte: Elaborado pelo ISP com base em dados da SEPOL.

Dentre as vítimas de tentativa de estupro, a maioria na faixa entre 30 e


59 anos (109 ou 42,1%), solteira (157 ou 60,6%) e negra (140 ou 54,1%), como
evidenciado no Gráfico 79.

Gráfico 79 – Mulheres vítimas de tentativa de estupro por faixa etária,


estado civil e perfil racial – estado do Rio de Janeiro – 2022
(números absolutos e valores percentuais)
100,0% 100,0% 100,0%
% de mulheres vítimas

75,0% 75,0% 60,6% 75,0%


157 54,1%
140
42,1% 41,7%
50,0% 109 50,0% 50,0% 108
23,6% 22,8%
18,5% 61 59
25,0% 12,4% 48 25,0%
9,7%
25,0%
32 6,6%
2,7% 0,8% 25 0,8% 3,5%
17 0,4%
7 2 2 9
1
0,0% 0,0% 0,0%

11 7 9 9 ou ao
u
a1 a2 a5 os m ira da m a s m
0 a os 12 os 18 os 30 nos 60 an ais Se ação lte sad to ara va Se ação gra nc tra Se ação
So Ca e jun Sep Viú Ne Bra Ou
an an an a m orm viv orm orm
inf inf inf
Idade Estado civil Perfil racial

Fonte: Elaborado pelo ISP com base em dados da SEPOL.

117
Dossiê Mulher 2023 Sumário

O Gráfico 80 atesta que a maior parte das vítimas não possuía vínculo
com os agressores (97 ou 37,5%). Entre os autores que mantinham algu-
ma proximidade com as vítimas, destacou-se a maior incidência entre
companheiros e ex-companheiros (65 ou 25,1%).

Gráfico 80 – Mulheres vítimas de tentativa de estupro por tipo de


relação entre vítima e autor – estado do Rio de Janeiro – 2022
(números absolutos e valores percentuais)

100,0%

75,0%
% de mulheres vítimas

50,0%

37,5%
97

25,1%
65
25,0%

11,2%
7,3% 6,9% 6,2% 29
5,8%
19 18 16 15

0,0%

Nenhuma Companheiros Conhecidos Outras Pais ou Parentes Sem


ou ex padrastos informação

Fonte: Elaborado pelo ISP com base em dados da SEPOL.

Assim como nas situações de estupro e estupro de vulnerável, a maio-


ria das tentativas de estupro ocorreu em uma residência (129 ou 50,2%),
conforme demonstrado no Gráfico 81. Em segundo lugar, estão as vias
públicas, onde foram registradas 59 tentativas, correspondendo a 23,0%
das vitimizações.

118
Violência Sexual Sumário

Gráfico 81 – Mulheres vítimas de tentativa de estupro por local do fato –


estado do Rio de Janeiro – 2022 (números absolutos e valores percentuais)

100,0%

75,0%
% de mulheres vítimas

50,2%
129
50,0%

23,0%
25,0% 59
17,5%
45
8,6%
22
0,8%
2
0,0%

Residência Via Outros Estab. Sem


pública locais comercial informação

Fonte: Elaborado pelo ISP com base em dados da SEPOL.

4.3. Importunação sexual


A Lei nº 13.718/2018 promoveu alterações no Código Penal, introduzin-
do o crime de importunação sexual, que, anteriormente, era considerado
uma contravenção penal, punida com multa. A principal inovação trazida
por essa legislação consiste na possibilidade de condenação a uma pena
de até cinco anos de prisão, para quem cometer ato libidinoso contra al-
guém sem sua anuência.

Considerando essa alteração legislativa, todas as análises apresenta-


das nesta seção incluem os crimes de importunação ofensiva ao pudor e
os de importunação sexual. O Gráfico 82, por exemplo, oferece uma visão
da evolução anual desses crimes ao longo do tempo.

Nos cinco primeiros anos analisados (2014 a 2018), as estatísticas consi-


deraram apenas o total de registros de importunação ofensiva ao pudor.
A partir de 2019, os registros de importunação sexual foram incorporados.
É digno de nota que, já naquele ano, foi observado um aumento de 413

119
Dossiê Mulher 2023 Sumário

vítimas (47,4%) em comparação a 2018. Também vale destacar que, após


uma redução no número de vítimas em 2020, houve um crescimento nas
ocorrências nos dois anos subsequentes, sendo que em 2022 foi registra-
do o maior número de vítimas da série histórica (1.642).

Gráfico 82 – Mulheres vítimas de importunação sexual – estado do


Rio de Janeiro – 2014 a 2022 (números absolutos)

1.800
1.642
1.600
Número de mulheres vítimas

1.400
1.285

1.189
1.200

992
1.000 Média 941

800 872

600 695
610 588 595

400

200

2014 2015 2016 2017 2018 2019 2020 2021 2022

Fonte: Elaborado pelo ISP com base em dados da SEPOL.

Na distribuição mensal (Gráfico 83), destacamos o aumento do núme-


ro de mulheres vítimas entre julho e outubro, mês em que foi registrado
o maior valor da série (195).

120
Violência Sexual Sumário

Gráfico 83 – Mulheres vítimas de importunação sexual – estado do


Rio de Janeiro – 2022 (números absolutos)

225

200 195
Número de mulheres vítimas

175
155 158 157
150
Média 137

125 133 134 136


127
117 114
113
100
103

75

50

25

jan fev mar abr mai jun jul ago set out nov dez

Fonte: Elaborado pelo ISP com base em dados da SEPOL.

Entre as regiões do estado, a Metropolitana concentrou o maior nú-


mero de vítimas, correspondendo a 1.185 ou 72,8% do total, conforme é
possível observar no Gráfico 84. Além disso, as Baixadas Litorâneas tam-
bém se destacaram por seu quantitativo, somando 115 vítimas ou 7,0%.
No que diz respeito à taxa de ocorrência por 100 mil mulheres, o Centro-
-Sul Fluminense contabilizou 37,2, enquanto as Baixadas Litorâneas, 25,2
(Tabela 14).

121
Dossiê Mulher 2023 Sumário

Gráfico 84 – Mulheres vítimas de importunação sexual – regiões do estado


do Rio de Janeiro – 2022 (números absolutos e valores percentuais)

100,0%

72,8%
75,0% 1.195
% de mulheres vítimas

50,0%

25,0%

7,0% 5,7%
115 3,8% 3,4% 3,3% 2,1%
93 1,9%
62 56 55 34 32
0,0%

na s ul ste
lita da dio na o-S e rte e sta
po ixa as Mé aíba rra ntr ns No nens Co rde roe nse
o Ba râne Se Ce mine No ine
etr o Pa
r mi Ve m
M Lit Flu F l u F l u

Fonte: Elaborado pelo ISP com base em dados da SEPOL.

Tabela 14 – Mulheres vítimas de importunação sexual – regiões do


estado do Rio de Janeiro – 2022 (taxa por 100 mil mulheres)

Importunação
Região
sexual
Estado do Rio de Janeiro 18,0

Baixadas Litorâneas 25,2

Centro-Sul Fluminense 37,2

Costa Verde 22,6

Médio Paraíba 19,5

Metropolitana 17,3

Noroeste Fluminense 18,6

Norte Fluminense 11,1

Serrana 21,8

Fonte: Elaborada pelo ISP com base em dados da SEPOL e do IBGE.

122
Violência Sexual Sumário

4.3.1. Distribuição tempo- Gráfico 85 – Mulheres vítimas de


ral das importunações se- importunação sexual por dia da
semana e hora do fato – estado do Rio
xuais contra mulheres
de Janeiro – 2022 (números absolutos)
Considerando a distribuição Hora dom seg ter qua qui sex sáb Total
0h 18 14 6 11 14 13 9 85
por dia da semana e hora do 1h 9 5 3 5 1 2 12 37
fato, identificamos uma concen- 2h 6 0 0 3 2 2 5 18
3h 8 2 1 4 5 4 5 29
tração no intervalo das 8h às 12h, 4h 9 4 2 3 2 1 2 23

abrangendo 516 vítimas ou 31,4% 5h 7 9 0 7 1 3 6 33


6h 7 11 1 6 7 6 6 44
do total. Em particular, as segun- 7h 2 16 12 10 17 13 3 73
8h 17 18 25 14 19 32 15 140
das-feiras às 10h (36) e as sextas 9h 7 11 12 10 12 8 8 68
às 8h (32) se sobressaíram como 10h 9 36 12 16 23 25 13 134
11h 1 12 13 14 8 12 9 69
momentos de maior incidência 12h 7 22 15 17 21 15 8 105
13h 9 7 10 7 17 6 11 67
(Gráfico 85). Vale destacar que
14h 10 15 18 12 14 17 9 95
o primeiro dia útil da semana 15h 7 7 17 19 15 9 8 82
16h 13 13 13 12 16 16 8 91
concentrou o maior número de 17h 11 13 16 18 10 15 11 94

vitimizações (270). 18h 9 23 10 15 8 10 12 87


19h 13 7 13 11 9 10 23 86
20h 5 9 3 6 5 8 12 48
21h 10 6 10 7 1 6 12 52
22h 4 9 5 10 4 9 9 50
23h 3 1 4 6 1 6 10 31
Total 201 270 221 243 232 248 226 1.641

Fonte: Elaborado pelo ISP com base


em dados da SEPOL.

4.3.2. Perfil das mulheres vítimas de importunação sexual


As mulheres com idades entre 18 e 29 anos (588 ou 35,8%), solteiras
(1.106 ou 67,4%) e negras (822 ou 50,1%) foram as maiores vítimas de im-
portunação sexual, como ilustra no Gráfico 86.
Gráfico 86 – Mulheres vítimas de importunação sexual por faixa
etária, estado civil e perfil racial – estado do Rio de Janeiro – 2022
(números absolutos e valores percentuais)
100,0% 100,0% 100,0%
% de mulheres vítimas

67,4%
75,0% 75,0% 1.106 75,0%

50,1%
822 45,9%
50,0% 50,0% 50,0% 753
35,8%
28,6% 588
470 24,9%
409
25,0% 25,0% 12,7% 14,9% 25,0%
7,9% 208 245
129 1,5% 1,3% 4,3% 3,8%
70 0,8% 0,3%
25 21 13 62
5
0,0% 0,0% 0,0%

11 7 9 9 ou ao
u
a1 a2 a5 os m ira da m a s m
0 a os 12 os 18 os 30 nos 60 an ais Se ação lte sad to ara va Se ação gra nc tra Se ação
So Ca e jun Sep Viú Ne Bra Ou
an an an a m orm viv orm orm
inf inf inf
Idade Estado civil Perfil racial

Fonte: Elaborado pelo ISP com base em dados da SEPOL.

123
Dossiê Mulher 2023 Sumário

Ao observar o Gráfico 87, detectamos que quase metade das mulhe-


res vítimas de importunação sexual não possuíam qualquer vínculo pré-
vio com os abusadores (794 ou 48,4%). Em contraste, outras 217 foram
importunadas por conhecidos (13,2%) e 174 por agressores enquadrados
na categoria “Outras”.

Gráfico 87 – Mulheres vítimas de importunação sexual por tipo de


relação entre vítima e autor – estado do Rio de Janeiro – 2022
(números absolutos e valores percentuais)

100,0%

75,0%
% de mulheres vítimas

48,4%
794
50,0%

25,0%
13,2% 14,3%
217 10,6% 235
174
5,5% 4,3% 3,8%
90 70 62

0,0%

Nenhuma Conhecidos Outras Pais ou Parentes Companheiros Sem


padrastos ou ex informação

Fonte: Elaborado pelo ISP com base em dados da SEPOL.

Em relação ao local do fato (Gráfico 88), a maior proporção de vitimi-


zações se enquadrou na categoria “Outros locais” (632 ou 39,0%). Den-
tro desse tipo, destacamos o número de mulheres que foram vítimas de
importunação sexual no interior de coletivo (132), em estabelecimentos
comerciais (97) e em estabelecimentos de ensino (93). Em segundo lugar,
temos as residências, onde foram registradas 475 vítimas, o que corres-
ponde a 29,3% do total.

124
Violência Sexual Sumário

Gráfico 88 – Mulheres vítimas de importunação sexual por local do fato –


estado do Rio de Janeiro – 2022 (números absolutos e valores percentuais)

100,0%

75,0%
% de mulheres vítimas

50,0%
39,0%
632
29,3%
475

25,0%
14,4%
234 11,3%
183
6,0%
97

0,0%

Outros Residência Via Estab. Sem


locais pública comercial informação

Fonte: Elaborado pelo ISP com base em dados da SEPOL.

4.4. Assédio sexual e ato obsceno


Por fim, apresentamos os dados acerca do assédio sexual e do ato
obsceno. Entre 2014 e 2018, o número de vítimas de ato obsceno foi su-
perior ao de assédio sexual (Gráfico 89). Padrão que foi invertido a par-
tir de 2019. Desde então, ambos os delitos têm apresentado um padrão
semelhante: uma redução no número de vítimas em 2020, seguida de
aumentos nos anos subsequentes. Vale ressaltar que, durante o período,
percebemos um notável acréscimo no quantitativo de vítimas de assédio
sexual em 2022, em comparação com o ano anterior (mais 125 vítimas ou
66,1%). Além disso, em 2022, foi registrado o maior valor da série (314).

125
Dossiê Mulher 2023 Sumário

Gráfico 89 – Mulheres vítimas de assédio sexual e de ato obsceno – estado


do Rio de Janeiro – 2014 a 2022 (números absolutos)

350

310 314

300 283
Número de mulheres vítimas

270

250

194 193
200 183 189

190
172 140
150
150 151
134 126 130
125
120
100

50

2014 2015 2016 2017 2018 2019 2020 2021 2022

Assédio sexual Ato obsceno

Fonte: Elaborado pelo ISP com base em dados da SEPOL.

Com base na leitura do Gráfico 90, constatamos que a região Metro-


politana concentrou o maior número absoluto de vítimas tanto de assé-
dio sexual (231 ou 73,6%) quanto de ato obsceno (128 ou 67,4%). Ao consi-
derar a taxa por 100 mil mulheres, disposta na Tabela 15, a região Serrana
ganha notoriedade por registrar os maiores valores para ambos os delitos
– 7,7 para o assédio sexual e 6,0 para o ato obsceno.

126
Violência Sexual Sumário

Gráfico 90 – Mulheres vítimas de assédio sexual e ato obsceno – regiões do


estado do Rio de Janeiro – 2022 (números absolutos)

128
Número de mulheres vítimas

300

231
200

100

18 17
23 22 19
0 14

na s ul e
lita da
ixa as na rte e dio o-S e est e sta
opo Ba râne rra No nens Mé aíba entr nens Noro nens Co rde
etr o Se m i a r C m i m i V e
M i t u P u u
L Fl Fl Fl

Ato obsceno Assédio sexual

Fonte: Elaborado pelo ISP com base em dados da SEPOL.

Tabela 15 – Mulheres vítimas de assédio sexual e ato obsceno – regiões


do estado do Rio de Janeiro – 2022 (taxa por 100 mil mulheres)

Região Assédio sexual Ato obsceno


Estado do Rio de Janeiro 3,4 2,1

Baixadas Litorâneas 5,0 3,9

Centro-Sul Fluminense 1,3 3,3

Costa Verde 0,7 2,0

Médio Paraíba 2,9 1,7

Metropolitana 3,3 1,8

Noroeste Fluminense 1,2 2,9

Norte Fluminense 3,8 1,2

Serrana 7,7 6,0

Fonte: Elaborada pelo ISP com base em dados da SEPOL e do IBGE.

127
Dossiê Mulher 2023 Sumário

4.4.1. Distribuição temporal dos assédios sexuais e dos atos


obscenos contra mulheres
Conforme apontado pelo Gráfico 91, a faixa de tempo compreendida
entre 8h e 10h da manhã registrou o maior número de vitimizações de
assédio sexual (110, ou 35,0%). Além disso, é importante frisar que o perío-
do que engloba os dias úteis da semana, de segunda a sexta-feira (259,
com uma média de 52 vítimas por dia), apresentou um número maior
de vítimas em comparação com os fins de semana (54, ou média de 27
vítimas por dia).

No que diz respeito ao ato obsceno, de acordo com Gráfico 92, a maior
concentração de vítimas (83 ou 43,7%) ocorreu no período da tarde, entre
12h e 17h. Em relação à concentração de vitimizações de atos obscenos
nos dias úteis da semana, identificamos padrão similar com as ocorrên-
cias de assédio sexual, especialmente, às quintas (36) e terças (35).

Gráfico 91 – Mulheres vítimas de Gráfico 92 – Mulheres vítimas de ato


assédio sexual por dia da semana obsceno por dia da semana e hora
e hora do fato – estado do Rio de do fato – estado do Rio de Janeiro –
Janeiro – 2022 (números absolutos) 2022 (números absolutos)

Hora dom seg ter qua qui sex sáb Total Hora dom seg ter qua qui sex sáb Total
0h 4 4 2 6 9 8 2 35 0h 2 0 3 0 0 0 1 6
1h 1 3 0 0 0 0 4 8 1h 1 0 0 0 1 0 0 2
2h 0 0 0 0 0 0 0 0 2h 1 0 0 0 0 0 0 1
3h 0 0 0 0 0 0 0 0 3h 0 0 0 0 0 0 0 0
4h 0 0 0 0 0 0 0 0 4h 0 0 0 0 0 0 0 0
5h 0 0 0 0 0 0 1 1 5h 0 1 0 0 0 1 0 2
6h 0 0 1 1 1 0 0 3 6h 0 0 0 2 1 0 1 4
7h 1 1 4 2 4 0 1 13 7h 0 3 1 0 5 1 0 10
8h 2 11 8 7 6 6 4 44 8h 1 3 3 1 0 2 2 12
9h 0 2 2 1 3 7 2 17 9h 0 2 0 0 4 1 1 8
10h 3 2 4 24 1 9 6 49 10h 1 1 6 1 3 1 2 15
11h 1 10 2 1 2 1 1 18 11h 4 1 1 2 0 1 0 9
12h 1 1 2 4 4 2 0 14 12h 1 1 3 3 1 0 1 10
13h 1 2 6 4 1 4 1 19 13h 0 0 7 1 3 1 0 12
14h 3 3 1 3 3 3 2 18 14h 0 2 2 3 5 0 0 12
15h 0 1 2 2 2 3 0 10 15h 0 0 0 4 2 2 7 15
16h 1 3 2 2 1 1 1 11 16h 4 5 1 2 2 2 4 20
17h 0 0 1 3 3 4 0 11 17h 2 2 4 0 3 1 2 14
18h 0 2 1 0 3 1 0 7 18h 2 0 0 2 1 3 1 9
19h 2 0 0 2 1 2 0 7 19h 2 0 0 0 2 1 1 6
20h 3 0 0 2 2 0 1 8 20h 0 1 1 0 3 2 1 8
21h 0 1 0 0 0 1 2 4 21h 2 0 0 1 0 0 1 4
22h 1 2 1 2 3 0 2 11 22h 2 2 3 0 0 1 0 8
23h 0 1 2 0 1 1 0 5 23h 2 0 0 1 0 0 0 3
Total 24 49 41 66 50 53 30 313 Total 27 24 35 23 36 20 25 190

Fonte: Elaborado pelo ISP com base em Fonte: Elaborado pelo ISP com base em
dados da SEPOL. dados da SEPOL.

128
Violência Sexual Sumário

4.4.2. Perfil das mulheres vítimas de assédio sexual e de ato


obsceno
Identificamos que a maior parcela das vítimas de assédio sexual se
encontrava na faixa dos 18 a 29 anos (117 ou 37,3%) e era solteira (172 ou
54,8%). Em relação ao perfil racial, o número de mulheres brancas e ne-
gras foi equivalente, com 137 vítimas cada, correspondendo a 43,6% do
total, conforme demonstrado no Gráfico 93. Quanto ao ato obsceno (Grá-
fico 94), a maioria das incidências ocorreu com mulheres entre 30 e 59
anos (84 ou 44,2%), solteiras (112 ou 58,9%) e negras (98 ou 51,6%).

Gráfico 93 – Mulheres vítimas de assédio sexual por faixa etária,


estado civil e perfil racial – estado do Rio de Janeiro – 2022
(números absolutos e valores percentuais)
100,0% 100,0% 100,0%
% de mulheres vítimas

75,0% 75,0% 75,0%


54,8%
172
43,6% 43,6%
50,0% 37,3% 50,0% 50,0% 137 137
117 29,6%
25,8% 93
22,3% 81
70
25,0% 11,5% 25,0% 12,4% 25,0% 12,7%
36 39 40
2,5% 0,6% 2,9% 0,3% 0,0%
8 2 9 1 0
0,0% 0,0% 0,0%

11 7 9 9 ou ao
u
a1 a2 a5 os m ira da m a s m
0 a os 12 os 18 os 30 nos 60 an ais Se ação e sad to ara v a Se ação gra nc tra Se ação
Solt Ca e jun Sep Viú Ne Bra Ou
an an an a m orm viv for
m orm
inf in inf
Idade Estado civil Perfil racial

Fonte: Elaborado pelo ISP com base em dados da SEPOL.

Gráfico 94 – Mulheres vítimas de ato obsceno por faixa etária,


estado civil e perfil racial – estado do Rio de Janeiro – 2022
(números absolutos e valores percentuais)
100,0% 100,0% 100,0%
% de mulheres vítimas

75,0% 75,0% 75,0%


58,9%
112 51,6%
44,2% 98 45,3%
50,0% 84 50,0% 50,0% 86
33,7%
64
19,5%
25,0% 25,0% 37 15,3% 25,0%
8,9% 29
5,8% 3,7% 3,7% 5,3% 3,2%
17 1,1% 0,0%
11 7 7 10 6
2 0
0,0% 0,0% 0,0%

11 7 9 9 ou ao
u
a1 a2 a5 os m ira da m a s m
0 a os 12 os 18 os 30 nos 60 an ais Se ação lte sad to ara va Se ação gra nc tra Se ação
So Ca e jun Sep Viú Ne Bra Ou
an an an a m orm viv orm orm
inf inf inf
Idade Estado civil Perfil racial

Fonte: Elaborado pelo ISP com base em dados da SEPOL.

129
Dossiê Mulher 2023 Sumário

O Gráfico 95 mostra que no caso do assédio sexual, os conhecidos


foram os maiores agressores (132 ou 42,0%), seguido daqueles que não
possuíam nenhuma relação com a vítima (82 ou 26,1%). No que concerne
ao ato obsceno, a ordem foi inversa: a maior proporção não tinha relação
prévia com os agressores (105 ou 55,3%). Os conhecidos, por sua vez, re-
presentaram 37 casos ou 19,5% do total.

Gráfico 95 – Mulheres vítimas de assédio sexual e de ato obsceno por tipo


de relação entre vítima e autor – estado do Rio de Janeiro – 2022
(números absolutos)

105

37
Número de mulheres vítimas

150

132

100

33
82

50 56
12
33

Nenhuma Conhecidos Outras Companheiros Pais ou Parentes Sem


ou ex padrastos informação

Ato obsceno Assédio sexual

Fonte: Elaborado pelo ISP com base em dados da SEPOL.

A análise final diz respeito ao local do fato onde ocorreram os crimes.


O Gráfico 96 apontou que a categoria “Outros locais”56 registrou a maior
frequência de vítimas, correspondendo a 166 ou 52,9% do total, no con-
texto do crime de assédio sexual. No que se refere aos crimes de ato obs-
ceno, observamos que 66 mulheres foram vitimadas em uma via pública,

56 - Destaque para o quantitativo de vitimizações ocorridas em locais enquadrados pela


SEPOL na categoria outros (47), nos estabelecimentos de ensino (56), nos estabelecimentos
públicos estadual (10) e em hospitais, clínicas e similares (10).

130
Violência Sexual Sumário

representando 34,7% das ocorrências, e 53 em “Outros locais” 57, o equi-


valente a 27,9%.

Gráfico 96 – Mulheres vítimas de assédio sexual e ato obsceno por


local do fato – estado do Rio de Janeiro – 2022 (números absolutos)

53
200
Número de mulheres vítimas

166
150

100

66 21
37

50 56
12
36 37

11
0

Outros Via Residência Estab. Sem


locais pública comercial informação

Ato obsceno Assédio sexual

Fonte: Elaborado pelo ISP com base em dados da SEPOL.

Entre as violências previstas na Lei Maria da Penha, a Sexual se des-


taca por evidenciar que ainda persiste em nossa sociedade uma cultura
enraizada na masculinidade violenta e na objetificação das mulheres. Os
impactos decorrentes da exposição à Violência Sexual não se limitam ao
corpo feminino, mas permeiam profundamente suas dimensões emo-
cionais, gerando sentimentos complexos que, por vezes, se entrelaçam e
se alternam. Nesse contexto, é possível mencionar a angústia, a tristeza,
a culpa e a repulsa como apenas alguns exemplos das marcas profundas

57 - Além do quantitativo de mulheres que foram vitimadas nos locais classificados como
outros (19), destacamos o número de atos obscenos que ocorreram no interior de coletivo
(11) e na praia (05).

131
Dossiê Mulher 2023 Sumário

deixadas nas psiques das vítimas de abuso.

Como destacado no início desta seção, ao longo dos últimos anos, te-
mos testemunhado um aumento do número de vítimas que se sentem
encorajadas a denunciar seus agressores. Em 2022, observamos o maior
número da série histórica da Violência Sexual. Para mitigar o sofrimento
decorrente da exposição aos crimes que constituem essa forma de vio-
lência e lidar com suas implicações nas esferas pessoal e profissional das
vítimas, é crucial a responsabilização dos agressores. No entanto, é igual-
mente importante garantir um ambiente de acolhimento e evitar qual-
quer culpabilização dessas mulheres.

132
5
Violência Psicológica
Dossiê Mulher 2023 Sumário

Quando se aborda o tema da violência contra a mulher, é comum di-


recionar a atenção, quase que exclusivamente, às agressões que resultam
em lesões físicas aparentes. Isso tem levado as Violências Física e Sexual a
ocuparem um espaço proeminente tanto em termos de reconhecimento
público quanto de representação na discussão sobre o assunto.
No entanto, é imperativo reconhecer que, frequentemente, o proces-
so de exposição às agressões se inicia de maneira insidiosa, por meio da
Violência Psicológica. Sistematicamente, o agressor empreende esforços
para infligir sofrimento emocional, minar a autoestima e o senso de iden-
tidade da vítima. Com isso, consegue manipular e controlar suas ações,
de forma a evitar que busque ajuda. Até chegar a Violência Física, o abu-
sador age para que a vítima se sinta desvalorizada a ponto de se subme-
ter às agressões e, em algumas situações, assumir a culpa pela violência
sofrida.
Por isso, a importância de identificar a Violência Psicológica. Ao lon-
go desta seção, propomos uma abordagem detalhada da definição dos
delitos que compõem esta forma de violência, além de relatos confeccio-
nados a partir dos registros de ocorrência, de modo a exemplificá-los. O
objetivo é facilitar a compreensão das diferenças entre os crimes e como
eles se expressam.
A ameaça consiste em “ameaçar alguém, por palavra, escrito ou ges-
to, ou qualquer outro meio simbólico, de causar-lhe mal injusto e grave”,
como preceitua o art. 147 do Código Penal.

“ Ele era agressivo e falava que ia me matar toda hora. Um dia ele


disse que “eu já tenho morte nas costas, não custa nada ter outra”.
Por causa disso, tive que mudar de cidade com o meu filho para
fugir dele. – Vítima de ameaça em depoimento na delegacia.

O constrangimento ilegal é definido pelo art. 146 do Código Penal


como o ato de “constranger alguém, mediante violência ou grave amea-
ça, ou depois de lhe haver reduzido, por qualquer outro meio, a capaci-
dade de resistência, a não fazer o que a lei permite, ou a fazer o que ela
não manda”.

134
Violência Psicológica Sumário

“ Estava saindo da loja quando fui abordada grosseiramente por


um segurança. Ele mandou eu abrir a bolsa e apresentar a nota
fiscal das minhas compras, perguntei por que dessa desconfian-
ça, foi aí que soube que um vendedor presumiu que eu escondi
um cinto da loja da minha bolsa. Imediatamente, eu pedi para falar
com a gerente da loja, ela me pediu desculpas, mas eu não aceitei.
– Vítima de constrangimento ilegal em depoimento na delegacia.

O art. 147-B da Lei nº 14.188/2021 estabelece que o crime de violência
psicológica contra a mulher consiste no ato de:
causar dano emocional à mulher que a prejudique e pertur-
be seu pleno desenvolvimento ou que vise a degradar ou a
controlar suas ações, comportamentos, crenças e decisões,
mediante ameaça, constrangimento, humilhação, manipu-
lação, isolamento, chantagem, ridicularização, limitação do
direito de ir e vir ou qualquer outro meio que cause prejuízo


à sua saúde psicológica e autodeterminação (BRASIL, 2021).

Somos casados há 26 anos e sofro violência psicológica diaria-


mente. Ele não me deixa sair, tranca portas e janelas, faz inúme-
ras ameaças. Da última vez, disse que pagaria uma pessoa para
atirar em mim, na nossa filha e em seu bebê, de apenas 8 meses
de idade. – Vítima de violência psicológica contra a mulher em de-
poimento à delegacia.

A divulgação de cena de estupro ou de cena de estupro de vulne-
rável refere-se ao ato de “oferecer, trocar, disponibilizar, transmitir, vender
ou expor à venda, distribuir, publicar ou divulgar, por qualquer meio – in-
clusive por meio de comunicação de massa ou sistema de informática ou
telemática –, fotografia, vídeo ou registro audiovisual que contenha cena
de estupro ou estupro de vulnerável ou que faça apologia ou induza a
sua prática, ou, sem o consentimento da vítima, cena de sexo, nudez ou
pornografia”, de acordo com o art. 218-C do Código Penal.

135
Dossiê Mulher 2023 Sumário

“ Ele ficou com ciúmes de uma mensagem que recebi no ce-


lular, quebrou a nossa casa toda e me xingou. Fiquei com medo
e pedi para minha filha chamar a polícia, mas ele foi embora.
Depois disso, ele entrou num grupo de mensagens numa rede
social e enviou um vídeo íntimo nosso, em que eu estava desa-
cordada. – Vítima de divulgação de cena de estupro ou de cena
de estupro de vulnerável na delegacia.

Introduzido pela Lei nº 13.772/2018 que inseriu o art. 216-B no Código
Penal, a divulgação de registro não autorizado da intimidade sexual
refere-se ao ato de “produzir, fotografar, filmar ou registrar, por qualquer
meio, conteúdo com cena de nudez ou ato sexual ou libidinoso de caráter
íntimo e privado sem autorização dos participantes”.

“ Estávamos juntos há quatro meses, terminamos, pois no


meio ato sexual percebi que ele nos gravava escondido, pedi
para que apagasse, mas fez exatamente o contrário, comparti-
lhou para todos os amigos pelo WhatsApp. – Vítima de registro

não autorizado de intimidade sexual.

A Lei nº 14.132/2021 criou o art. 147-A, que tipificou o crime de perse-


guição contra a mulher em razão de gênero como “perseguir alguém,
reiteradamente, e por qualquer meio, ameaçando-lhe a integridade fí-
sica ou psicológica, restringindo-lhe a capacidade de locomoção ou, de
qualquer forma, invadindo ou perturbando sua esfera de liberdade ou
privacidade”. Caso o crime seja cometido contra a mulher por razão da
condição de sexo feminino, a pena é aumentada.

136
Violência Psicológica Sumário

“ Eu terminei o relacionamento há mais de seis meses, mas ele


não aceitou e quer voltar. Ele fica parado em frente a minha casa,
sem falar nada, só olhando. Depois, ele foi ao meu local de trabalho
e fez a mesma coisa: ficou parado, só olhando. Hoje ele entrou na
loja e tentou me abraçar à força, mas consegui escapar. Ele me
manda mensagem toda hora querendo voltar. Estou com medo.
– Vítima de perseguição contra a mulher em razão de gênero em
depoimento na delegacia.

Somente em 2022 (Tabela 16), 43.594 mulheres foram vítimas da Vio-
lência Psicológica em todo o estado (70,3% do total das vítimas). Ou seja,
a cada 24 horas, cerca de 119 mulheres foram vítimas de alguns dos deli-
tos mencionados acima.

Destacamos a predominância do sexo feminino como o mais afeta-


do em todos os crimes que compõem essa forma de violência, especial-
mente nestes: perseguição contra a mulher em razão de gênero (100,0%),
violência psicológica contra a mulher (99,2%)58, perseguição (93,3%) e re-
gistro não autorizado da intimidade sexual (91,9%). Em relação ao número
absoluto por tipo de delito, destacamos que a ameaça foi mais preva-
lente, representando 38.086 ou 87,4% do total de mulheres vítimas de
Violência Psicológica.

58 - O quantitativo apresentado diz respeito às informações incluídas pelos policiais civis no


momento da lavratura do registro de ocorrência. Entre as vítimas foram identificados oito
homens e nove vítimas em que não havia informação sobre o sexo.

137
Dossiê Mulher 2023 Sumário

Tabela 16 – Mulheres vítimas de Violência Psicológica por delito – estado


do Rio de Janeiro – 2022 (números absolutos e valores percentuais)

N° de vítimas % de vítimas
Forma de violência / delito Total de vítimas
mulheres mulheres

Violência Psicológica 62.039 43.594 70,3%

Ameaça 55.903 38.086 68,1%

Constrangimento ilegal 721 371 51,5%

Crime de perseguição 2.759 2.574 93,3%

Crime de perseguição contra mulher


54 54 100,0%
em razão do gênero

Crime de violência psicológica contra


1.992 1.975 99,2%
a mulher

Divulgação de cena de estupro ou de


536 466 86,9%
cena de estupro de vulnerável

Registro não autorizado da intimidade


74 68 91,9%
sexual

Fonte: Elaborada pelo ISP com base em dados da SEPOL.

O Gráfico 97 traz a série histórica anual da Violência Psicológica. Após


uma redução do número de mulheres vítimas até 2017, observamos um
aumento nos anos seguintes, com destaque para o período entre 2018 e
2019. Em 2020, foi registrado o menor valor da série (31.140). A partir des-
se ponto, ocorreu uma retomada do crescimento no número de vítimas,
culminando em 2022, quando foi registrado o maior quantitativo desde
2016, com 43.594 vítimas.

138
Violência Psicológica Sumário

Gráfico 97 – Mulheres vítimas de Violência Psicológica – estado do


Rio de Janeiro – 2014 a 2022 (números absolutos)

70.000

60.000 58.058
Número de mulheres vítimas

49.469
50.000
43.594
42.954
Média 41.836 41.891

40.000

37.879
36.795
34.740
30.000
31.140

20.000

10.000

2014 2015 2016 2017 2018 2019 2020 2021 2022

Fonte: Elaborado pelo ISP com base em dados da SEPOL.

No que se refere aos delitos relacionados à Violência Psicológica, a Ta-


bela 17 evidencia que o crime de ameaça registrou o maior quantitativo
de vítimas (38.086) em 2022 e, consequentemente, a taxa mais elevada
por 100 mil mulheres (418,2). No comparativo com 2021, os crimes de per-
seguição, violência psicológica contra a mulher e perseguição contra mu-
lher em razão de gênero apresentaram as maiores variações. Cabe desta-
car que esses três tipos penais foram criados em 2021 e começaram a ser
contabilizados somente a partir do mês de agosto daquele ano. Portanto,
a comparação de um ano completo (2022) com o período de cinco meses
de 2021 contribuiu para esse resultado.

Mesmo considerando essa condição, é fundamental ressaltar que os


números mensais, observados nesses tipos penais, são significativos e
refletem o acerto dos legisladores em tipificar tais condutas, bem como
demonstram o aumento da conscientização da sociedade, a confiança
das vítimas e a sensibilidade dos agentes policiais em registrar esses tipos
de agressões.

139
Dossiê Mulher 2023 Sumário

Tabela 17 – Distribuição mensal das mulheres vítimas de Violência Psicológica


por delito – estado do Rio de Janeiro – 2022 (números absolutos)

Nº de Taxa por Nº de Taxa por Diferença


vítimas 100 mil vítimas 100 mil % de 2022
Forma de violência / delito
mulheres mulheres mulheres mulheres em relação
em 2021 (2021) em 2022 (2022) a 2021

Violência Psicológica 36.795 - 43.594 478,7 -

Ameaça 34.747 381,5 38.086 418,2 9,6%

Constrangimento ilegal 313 3,4 371 4,1 18,5%

Crime de perseguição 583 - 2.574 28,3 -

Crime de perseguição contra


21 - 54 0,6 -
mulher em razão do gênero

Crime de violência psicológica


666 - 1.975 21,7 -
contra a mulher

Divulgação de cena de estupro


ou de cena de estupro de 403 4,4 466 5,1 15,6%
vulnerável

Registro não autorizado da


62 0,7 68 0,7 9,7%
intimidade sexual

Fonte: Elaborada pelo ISP com base em dados da SEPOL.

Na divisão por regiões do estado, a Metropolitana registrou mais víti-


mas (31.126 ou 71,4%), seguida pelas Baixadas Litorâneas (3.055 ou 7,0%),
como indica o Gráfico 98. Ao considerarmos a taxa por 100 mil mulheres
(Mapa 05), as maiores concentrações foram observadas no Centro-Sul
Fluminense (829,3) e nas Baixadas Litorâneas (669,0).

140
Violência Psicológica Sumário

Gráfico 98 – Mulheres vítimas de Violência Psicológica –


regiões do estado do Rio de Janeiro – 2022
(números absolutos e valores percentuais)

100,0%

71,4%
75,0% 31.126
% de mulheres vítimas

50,0%

25,0%

7,0% 6,0%
3.055 4,2% 4,2% 2,9%
2.600 2,3% 2,0%
1.839 1.826 1.249 1.018 881
0,0%

a s ul ste
tan da dio na rte e o-S e sta
oli ixa as Mé aíba rra No nens ntr ns roe nse Co rde
trop Ba râne r Se i Ce mine No ine
Me Lit
o Pa lum m Ve
F Flu Flu

Fonte: Elaborado pelo ISP com base em dados da SEPOL.

Mapa 05 – Mulheres vítimas de Violência Psicológica – regiões do


estado do Rio de Janeiro – 2022 (taxa por 100 mil mulheres)

Fonte: Elaborado pelo ISP com base em dados da SEPOL e do IBGE.

141
Dossiê Mulher 2023 Sumário

A Lei Maria da Penha foi aplicada para 27.675 ou 63,5% dos crimes que
compõem a Violência Psicológica, ao passo que em 13.146 ou 30,2% fo-
ram classificados como de menor potencial ofensivo (Lei nº9.099/1995),
como mostra o Gráfico 99.

Gráfico 99 – Lei aplicada por tipo de Violência Psicológica – estado do


Rio de Janeiro – 2022 (números absolutos e valores percentuais)

100,0%

75,0%
% de mulheres vítimas

63,5%
27.675

50,0%

30,2%
13.146

25,0%

6,4%
2.773

0,0%

Lei nº Lei nº Sem lei


11.340/2006 9.099/1995 específica

Fonte: Elaborado pelo ISP com base em dados da SEPOL.

A Tabela 18 traz a série histórica anual dos delitos de Violência Psico-


lógica. Ela teve início em 2014 para os crimes de ameaça e constrangi-
mento ilegal. Em 2018, para divulgação de cena de estupro ou de cena de
estupro de vulnerável e, em 2019, para o registro não autorizado da intimi-
dade sexual. Como dissemos anteriormente, os crimes de perseguição,
perseguição contra mulher em razão do gênero e violência psicológica
contra a mulher passaram a ser contabilizados em 2021.

A Tabela mostra ainda que os crimes de divulgação de cena de es-


tupro ou de cena de estupro de vulnerável e registro não autorizado da
intimidade sexual tiveram aumento desde o começo de suas séries. Já
os crimes de ameaça e constrangimento ilegal, em 2022, apresentaram

142
Violência Psicológica Sumário

um crescimento pelo segundo ano consecutivo. Apesar disso, notamos


uma redução percentual em ambos os delitos se comparados aos valores
registrados em 2014 (33,5% e 53,6%, respectivamente).

Tabela 18 – Mulheres vítimas de Violência Psicológica por delito –


estado do Rio de Janeiro – 2014 a 2022 (números absolutos)

Delito 2014 2015 2016 2017 2018 2019 2020 2021 2022

Ameaça 57.259 48.832 42.434 34.347 37.423 41.048 30.468 34.747 38.086

Constrangimento
799 637 520 393 404 444 273 313 371
ilegal

Crime de perseguição - - - - - - - 583 2.574

Crime de perseguição
contra mulher em razão - - - - - - - 21 54
do gênero

Crime de violência
psicológica contra a - - - - - - - 666 1.975
mulher

Divulgação de cena de
estupro ou de cena de - - - - 52 351 360 403 466
estupro de vulnerável

Registro não autorizado


- - - - - 48 39 62 68
da intimidade sexual

Fonte: Elaborada pelo ISP com base em dados da SEPOL.

A Tabela 19 ilustra a série histórica mensal dos delitos que compõem


a Violência Psicológica. Esses, no geral, mantiveram um padrão ao longo
de suas séries. O mês de outubro concentrou o maior número de vítimas
dos crimes de perseguição (253) e de perseguição contra mulher em ra-
zão do gênero (11). Já em junho, foram registrados os menores números
das séries referentes aos crimes de ameaça (2.825), perseguição (164) e
divulgação de cena de estupro ou de cena de estupro de vulnerável (98).
Como destaque, também indicamos o aumento do número de mulheres
vítimas do crime de perseguição contra a mulher em razão do gênero
entre os meses de agosto e outubro (passou de uma para onze) e do cri-
me de crime de violência psicológica contra a mulher entre os meses de
junho e outubro (passou de 98 para 192).

143
Dossiê Mulher 2023 Sumário

Tabela 19 – Distribuição mensal das mulheres vítimas de


Violência Psicológica por delito – estado do Rio de Janeiro –
2022 (números absolutos)

Delito jan fev mar abr mai jun jul ago set out nov dez

Ameaça 3.078 3.021 3.534 3.186 3.071 2.825 3.056 3.454 3.167 3.414 3.062 3.218

Constrangimento
24 21 36 39 36 31 33 31 37 33 17 33
ilegal

Crime de perseguição 198 189 240 213 217 164 177 239 221 253 229 234

Crime de perseguição
contra mulher em 2 7 5 3 4 5 6 1 5 11 2 3
razão do gênero

Crime de violência
psicológica contra a 188 189 149 156 142 98 146 169 183 192 165 198
mulher

Divulgação de cena
de estupro ou de
34 48 45 36 43 32 27 46 27 44 49 35
cena de estupro de
vulnerável

Registro não
autorizado da 5 7 7 6 2 3 4 5 5 9 6 9
intimidade sexual

Fonte: Elaborada pelo ISP com base em dados da SEPOL.

144
Violência Psicológica Sumário

5.1. Distribuição temporal das Gráfico 100 – Mulheres vítimas de


mulheres vítimas de Violên- Violência Psicológica por dia da
semana e hora do fato – estado do Rio
cia Psicológica
de Janeiro – 2022 (números absolutos)
O Gráfico 100 evidencia uma
Hora dom seg ter qua qui sex sáb Total
concentração das vitimizações 0h 367 429 354 335 353 355 367 2.560
1h 178 148 63 84 89 101 155 818
no período entre 8h e 10h da
2h 156 93 55 53 62 83 104 606
manhã (8.704 ou 20,0%) e à 0h 3h 127 78 47 57 39 62 119 529
4h 89 53 32 30 51 36 77 368
(2.560 ou 5,9%). Considerando 5h 94 65 40 37 37 38 86 397
somente os dias da semana, no- 6h 132 141 95 97 67 105 129 766
7h 131 176 167 179 163 165 147 1.128
tamos que os maiores números 8h 427 539 470 484 400 457 409 3.186

foram observados entre sábado 9h 264 324 322 305 277 279 294 2.065
10h 399 550 513 541 465 464 521 3.453
e segunda-feira (19.915 ou 45,7%). 11h 271 333 302 321 266 269 293 2.055
12h 325 389 358 358 331 332 292 2.385
13h 246 298 278 301 258 251 253 1.885
14h 324 327 333 290 268 255 260 2.057
15h 339 309 310 335 263 288 302 2.146
16h 327 320 290 321 278 291 314 2.141
17h 337 327 321 314 304 296 328 2.227
18h 421 355 322 334 300 296 305 2.333
19h 416 335 338 360 309 337 343 2.438
20h 506 341 310 299 318 393 391 2.558
21h 382 272 258 281 284 255 335 2.067
22h 384 233 221 237 275 237 288 1.875
23h 311 163 199 178 187 232 252 1.522
Total 6.953 6.598 5.998 6.131 5.644 5.877 6.364 43.565

Fonte: Elaborado pelo ISP com base


em dados da SEPOL.

5.2. O perfil das mulheres vítimas de Violência Psicológica


O Gráfico 101 indica que o quantitativo de mulheres vítimas com idade
entre 30 e 59 anos (26.291 ou 60,3%) foi mais que o dobro do observado
na faixa de 18 a 29 anos (12.316 ou 28,3%). Em relação ao perfil racial, as
duas faixas registraram valores próximos, com 22.758 (51,8%) identifica-
das como negras e 20.132 (46,5%), como brancas. Em relação ao estado
civil, a maior parte era solteira, totalizando 18.835 (43,2%).

145
Dossiê Mulher 2023 Violência Psicológica
Sumário

Gráfico 101 – Mulheres vítimas de Violência Psicológica por perfil etário,


estado civil e faixa etária – estado do Rio de Janeiro – 2022
(números absolutos e valores percentuais)

100,0% 100,0% 100,0%


% de mulheres vítimas

75,0% 60,3% 75,0% 75,0%


26.291 51,8%
43,2% 22.578 46,2%
50,0% 50,0% 18.835 50,0% 20.132
28,3% 30,0%
12.316 13.097
15,8%
25,0% 25,0% 25,0%
7,1% 8,4% 6.898
0,6% 3,1% 3.091 0,6% 3.666 2,5% 0,4% 1,6%
269 1.360 267 1.098 176 708
0,0% 0,0% 0,0%

11 7 9 9 ou ao
u
a1 a2 a5 os m ira da m a s m
0 a os 12 os 18 os 30 nos 60 an ais Se ação lte sad to ara va Se ação gra nc tra Se ação
So Ca e jun Sep Viú Ne Bra Ou
an an an a m orm viv orm orm
inf inf inf
Idade Estado civil Perfil racial

Fonte: Elaborado pelo ISP com base em dados da SEPOL.

Considerando a relação entre autor e a vítima (Gráfico 102), compa-


nheiros ou ex foram os maiores agressores (22.938 ou 52,6%). O número
se torna ainda mais representativo se incluirmos aqueles que têm algu-
ma relação de proximidade com as vítimas, como é o caso dos pais ou
padrastos (687 ou 1,6%), parentes (3.388 ou 7,8%) e conhecidos (2.440 ou
5,6%). Nesse caso, o total chegou a 29.453 ou 67,6%.

Gráfico 102
100,0%– Mulheres vítimas de Violência Psicológica por tipo de relação

entre vítima e autor – estado do Rio de Janeiro – 2022


(números absolutos e valores percentuais)

75,0%
% de mulheres vítimas

52,6%
22.938
50,0%

25,0%

12,6% 13,7%
5.499 5.962
7,8%
6,1% 5,6%
3.388
2.680 2.440 1,6%
687
0,0%

Companheiros Nenhuma Parentes Outras Conhecidos Pais ou Sem


ou ex padrastos informação

Fonte: Elaborado pelo ISP com base em dados da SEPOL.

146
Violência Psicológica Sumário

O Gráfico 103 mostra que mais da metade das violências ocorreu em


uma residência (23.191 ou 53,2%), seguida de outros locais59 (5.845 ou
13,4%) e da via pública (5.748 ou 13,2%). Também é importante destacar
a prática da Violência Psicológica no ambiente virtual (Gráfico 104). Em
2022, foi registrado o maior número de vítimas desde 2014 (1.738). Aliás,
pela primeira vez o número de mulheres vítimas de Violência Psicológica
foi superior ao observado em relação à Violência Moral (1.549). O cresci-
mento em ambas as formas de violência mostra como o ambiente virtual
tem sido cada vez mais utilizado para facilitar a propagação de ofensas
pessoais e de fatos injuriosos, no intuito de humilhar e constranger as
mulheres vítimas.

Gráfico
100,0% 103 – Mulheres vítimas de Violência Psicológica por
local do fato – estado do Rio de Janeiro – 2022
(números absolutos e valores percentuais)

75,0%
% de mulheres vítimas

53,2%
23.191

50,0%

25,0%
13,4% 13,2% 14,0%
5.845 5.748 6.106

4,0%
2,2%
1.738
966
0,0%

Residência Outros Via Ambiente Estab. Sem


locais pública virtual comercial informação

Fonte: Elaborado pelo ISP com base em dados da SEPOL.

59 - Desse total, 3.469 vitimizações (59,3%) ocorreram em locais categorizados pela SEPOL
como Outros. Destacamos também o quantitativo de mulheres que foram vitimadas em
condomínios (408 ou 7,0%), estabelecimentos de ensino (346 ou 5,9%), estabelecimentos
públicos (234 ou 4,0%), hospitais, clínicas e similares (223 ou 3,8%) e bares e restaurantes (219
ou 3,7%). As demais categorias registraram valores abaixo de 100.

147
Dossiê Mulher 2023 Sumário

Gráfico 104 – Mulheres vítimas de Violências Psicológica e Moral no


ambiente virtual – estado do Rio de Janeiro – 2014 a 2022
(números absolutos)

2.000

1.749 1.738
1.750 1.641
Número de mulheres vítimas

1.462
1.500 1.549
1.351
1.441
1.250
1.125
1.201
1.000 949
1.040

750
734
500
500 579

384
250
115
239

0 55

2014 2015 2016 2017 2018 2019 2020 2021 2022

Violência Moral Violência Psicológica

Fonte: Elaborado pelo ISP com base em dados da SEPOL.

A Violência Psicológica tem como essência a anulação da liberdade


individual da mulher, e é frequentemente utilizada para a manutenção
de relações desiguais de poder. As análises apresentadas ao longo des-
ta seção mostraram o aumento dessa forma de violência. Somente em
2022, 43.594 mulheres foram vitimadas em todo o estado. O crescimento
observado nos últimos anos nos leva a refletir sobre a importância das
inovações propostas pelo Legislativo, das campanhas de conscientização
e do oferecimento dos serviços especializados ou não-especializados de
atendimento que garantam o amparo às vítimas.

148
6
Violência Moral
Dossiê Mulher 2023 Sumário

Conforme abordado na seção anterior, é inegável a associação tradi-


cional da violência contra a mulher com atos de agressão física. No en-
tanto, é crucial reconhecer que há outras modalidades menos debatidas
e muitas vezes subestimadas, como a Violência Moral, cuja naturalização
pode contribuir para a sua perpetuação e agravamento ao longo do tem-
po.

Similar à Violência Psicológica, a Moral engloba manifestações de


agressões, explícitas ou implícitas, que têm como objetivo depreciar, hu-
milhar ou exercer controle sobre as mulheres, visando afetar sua autoima-
gem e confiança. Tendo em vista esses aspectos, a presente seção se de-
dica à análise dos dados sobre os crimes que compõem a Violência Moral
e que são tipificados pelo Código Penal: calúnia (artigo 138), difamação
(artigo 139) e injúria (artigo 140).

A calúnia consiste em imputar falsamente a alguém o cometimento


de um crime.

“ Meu ex-companheiro espalhou boatos falsos dizendo que eu


maltratava e planejava sumir com o nosso filho. Não satisfeito em
me caluniar para amigos e familiares, passou a fazer isso também

na internet, por meio de fotos e textos nas redes sociais, para con-
vencer a todos de que sou uma mãe abusiva. – Vítima de calúnia
em depoimento na delegacia.

A difamação ocorre quando alguém é acusado da autoria de um ato


desonroso, mas não criminoso.

“ Meu ex-companheiro tem me difamado nas redes sociais.


Dia desses, postou no status do WhatsApp que uso o dinheiro
da pensão do nosso filho para pagar hipnose para mim. – Vítima
de difamação em depoimento na delegacia.

150
Violência Moral Sumário

A injúria não envolve terceiros. Basta ao abusador dizer apenas para


vítima algo ofensivo a sua dignidade, honra ou reputação.

“ Fui ofendida pelo meu ex-companheiro no portão de casa, na


frente do meu atual e dos vizinhos. Aos berros, falou para eu não
encará-lo e me xingou, ainda disse que eu era obrigada a fazer
bombom para ele, por causa da pensão. – Vítima de injúria em

depoimento na delegacia.

Das 41.905 vítimas de Violência Moral no estado do Rio de Janeiro em


2022, 30.132 eram do sexo feminino, o equivalente a 71,9% (Tabela 20). Ao
examinar os crimes separadamente, observamos que as mulheres foram
as mais atingidas, com exceção da calúnia, na qual a representação desse
grupo foi ligeiramente menor, correspondendo a um pouco menos da
metade, ou seja, a 46,9% do total de vitimizações para esse tipo de delito
específico.

Tabela 20 – Mulheres vítimas de Violência Moral por delito – estado do


Rio de Janeiro – 2022 (números absolutos e valores percentuais)

Total de % de vítimas
Forma de violência delito Nº de vítimas mulheres
vítimas mulheres

Violência Moral 41.905 30.132 71,9%

Calúnia 4.361 2.043 46,9%

Difamação 4.985 3.124 62,7%

Injúria 32.559 24.965 76,7%

Fonte: Elaborada pelo ISP com base em dados da SEPOL.

151
Dossiê Mulher 2023 Sumário

O Gráfico 105 aponta para uma tendência de crescimento da Violência


Moral nos últimos anos, apesar de o valor ainda permanecer abaixo da
média histórica anual de vítimas (30.871). Em 2021, foram contabilizadas
25.776 mulheres vítimas, número que se elevou para 30.132 em 2022. No
comparativo entre ambos, foi registrada uma variação de 16,9%.

Gráfico 105 – Mulheres vítimas de Violência Moral – estado do


Rio de Janeiro – 2014 a 2022 (números absolutos)

45.000
41.509
40.000
36.817
Número de mulheres vítimas

35.000 33.028
31.498
Média 30.871
30.000
29.665 30.132

25.000 26.263
25.776
23.151
20.000

15.000

10.000

5.000

2014 2015 2016 2017 2018 2019 2020 2021 2022

Fonte: Elaborado pelo ISP com base em dados da SEPOL.

Dentre os crimes que compõem a Violência Moral (Tabela 21), a injúria


concentrou o maior número absoluto de vítimas (24.965) e, consequen-
temente, a taxa mais elevada por 100 mil mulheres (274,1). Já o crime de
difamação apresentou a maior variação no comparativo com 2021, com
um aumento de 30,7% em relação ao total observado.

152
Violência Moral Sumário

Tabela 21 – Mulheres vítimas de Violência Moral por delito – estado do Rio


de Janeiro – 2021 e 2022 (números absolutos e taxa por 100 mil mulheres)

Nº de Taxa por Nº de Taxa por Diferença


vítimas 100 mil vítimas 100 mil % de 2022
Forma de violência / delito
mulheres mulheres mulheres mulheres em relação
em 2021 (2021) em 2022 (2022) a 2021

Violência Moral 25.776 283,1 30.132 330,8 16,9%

Calúnia 1.730 19 2.043 22,4 18,1%

Difamação 2.391 26,3 3.124 34,3 30,7%

Injúria 21.655 237,8 24.965 274,1 15,3%

Fonte: Elaborada pelo ISP com base em dados da SEPOL e do DATASUS.

Conforme apresentado no Gráfico 106, a região Metropolitana registrou


o maior contingente de mulheres vítimas, totalizando 21.433 (71,1% do total),
seguida pelas Baixadas Litorâneas (2.258 ou 7,5%) e Médio Paraíba (1.724 ou
5,7%). Ao analisarmos a taxa por 100 mil mulheres (Mapa 06), verificamos
que o Centro-Sul Fluminense apresentou a mais elevada do estado (587,0),
enquanto as Baixadas Litorâneas ficaram em segundo lugar (494,5).

Gráfico 106 – Mulheres vítimas de Violência Moral – regiões do estado do


100,0%

Rio de Janeiro – 2022 (números absolutos e valores percentuais)

71,1%
75,0% 21.433
% de mulheres vítimas

50,0%

25,0%

7,5%
5,7% 4,4%
2.258 3,8% 2,9% 2,4% 2,2%
1.724 1.312 1.136 884 725 660
0,0%

a s ul e
tan da dio na rte e o-S e est e sta
oli ixa as Mé aíba rra No nens ntr ns Noro nens Co rde
trop Ba râne r Se i Ce mine i
Me Li t o Pa m m Ve
Flu Flu Flu

Fonte: Elaborado pelo ISP com base em dados da SEPOL.

153
Dossiê Mulher 2023 Sumário

Mapa 06 – Mulheres vítimas de Violência Moral – regiões do estado do


Rio de Janeiro – 2022 (taxa por 100 mil mulheres)

Fonte: Elaborado pelo ISP com base em dados da SEPOL e do DATASUS.

Ao examinarmos os crimes que compõem a Violência Moral separada-


mente (Tabela 22), constatamos que as maiores taxas de difamação (53,1)
e de injúria (510,6) foram observadas no Centro-Sul Fluminense. Quanto à
calúnia, o maior valor foi registrado nas Baixadas Litorâneas (28,5).
Tabela 22 – Mulheres vítimas de Violência Moral – regiões do estado
do Rio de Janeiro – 2022 (taxa por 100 mil mulheres)

Região Calúnia Difamação Injúria


Estado do Rio de
22,4 34,3 274,1
Janeiro

Baixadas Litorâneas 28,5 46,0 420,0

Centro-Sul Fluminense 23,2 53,1 510,6

Costa Verde 17,3 35,2 386,4

Médio Paraíba 21,1 35,2 304,7

Metropolitana 23,0 32,6 254,1

Noroeste Fluminense 16,3 46,0 359,8

Norte Fluminense 14,5 31,7 182,8

Serrana 20,7 42,5 397,2

Fonte: Elaborada pelo ISP com base em dados da SEPOL e do DATASUS.

154
Violência Moral Sumário

No Gráfico 107, observamos que 14.238 ou 47,3% dos crimes que com-
põem a Violência Patrimonial foram classificados sob a égide da Lei Maria
da Penha, enquanto 13.055 ou 43,3%, enquadrados pela Lei nº 9.099/1995.
Em um percentual bem menor, os delitos para os quais não houve aplica-
ção de lei específica corresponderam a 2.839 ou 9,4% das vezes.

Gráfico 107 – Violência Moral por tipo de lei aplicada – estado do


Rio de Janeiro – 2022 (números absolutos e valores percentuais)

100,0%

75,0%
% de mulheres vítimas

47,3%
50,0% 14.238 43,3%
13.055

25,0%

9,4%
2.839

0,0%

Lei nº Lei nº Sem lei


11.340/2006 9.099/1995 específica

Fonte: Elaborado pelo ISP com base em dados da SEPOL.

Ao longo da série histórica (Gráfico 108), a injúria se destacou como o


crime que mais afetou as mulheres dentre os delitos que compõem a Vio-
lência Moral. Após o registro do menor número de vítimas atingidas em
2020, visualizamos um crescimento no último biênio, com 21.655 vítimas
contabilizadas em 2021 e 24.965, em 2022.

Essa mesma tendência se manteve nos crimes de calúnia e difama-


ção, no entanto, com uma diferença significativa: no caso da calúnia, o
número registrado em 2022 (2.043) superou o observado antes da pan-
demia da Covid-19, que foi de 1.925 mulheres vítimas, em 2019. Por outro
lado, no que diz respeito à difamação, ocorreu o oposto, com os valores
contabilizados em 2022 (3.124) sendo inferiores aos de 2019 (3.171).

155
Dossiê Mulher 2023 Sumário

Gráfico 108 – Mulheres vítimas de Violência Moral por delito – estado do


Rio de Janeiro – 2014 a 2022 (números absolutos)

40.000

34.841
35.000
31.103
Número de mulheres vítimas

30.000
27.510
26.402
24.583 24.965
25.000
21.655

20.000 21.602
19.312

15.000

10.000

5.000 4.217 3.565 3.483 3.082 3.357 3.171 3.124


2.240 2.391
2.451 2.149 2.035 1.925
1.579 1.725 1.599 1.730 2.043
0

2014 2015 2016 2017 2018 2019 2020 2021 2022

Calúnia Difamação Injúria

Fonte: Elaborado pelo ISP com base em dados da SEPOL.

No geral, o número de mulheres vítimas de injúria se manteve cons-


tante ao longo de 2022, como mostra o Gráfico 109. A maior variação foi
observada entre os meses de março (2.321) e junho (1.780), atingindo o
seu valor mais baixo nesse último. Além disso, os crimes de calúnia e di-
famação apresentaram registros muito próximos e permaneceram rela-
tivamente estáveis ao longo do ano. Os números mais altos foram con-
tabilizados em março, com 315 mulheres vítimas de difamação e 206 de
calúnia; enquanto os mais baixos, em janeiro, com um total de 208 mu-
lheres sofrendo difamação e 140, calúnia.

156
Violência Moral Sumário

Gráfico 109 – Distribuição mensal das mulheres vítimas de Violência Moral


por3.000
delito – estado do Rio de Janeiro – 2022 (números absolutos)
Número de mulheres vítimas

2.500 2.321
2.264 2.329

2.049 2.013 2.086 2.075 2.113


2.021 1.965
1.949
2.000
1.780

1.500

1.000

500
315 270 273 314 264 291
208 230 224 256 225 254

206 159 178 166 196 185 176 155 195


0 140 141 146

jan fev mar abr mai jun jul ago set out nov dez

Calúnia Difamação Injúria

Fonte: Elaborado pelo ISP com base em dados da SEPOL.

6.1. Distribuição temporal Gráfico 110 – Mulheres vítimas de


das mulheres vítimas de Vio- Violência Moral por dia da
lência Moral semana e hora do fato – 2022
(números absolutos)
Ao estudar a distribuição Hora dom seg ter qua qui sex sáb Total
0h 197 244 199 202 197 188 226 1.453
temporal da Violência Moral 1h 112 87 58 49 56 61 107 530
(Gráfico 110), verificamos a con- 2h 88 58 31 41 37 51 81 387
3h 73 44 16 30 30 22 74 289
centração do número de vítimas 4h 62 40 15 17 26 27 55 242
5h 66 38 16 23 15 22 39 219
entre 8h e 10h, todos os dias da
6h 69 72 65 59 41 62 61 429
semana (5.858). Além do acú- 7h 98 113 133 113 106 105 79 747
8h 217 332 294 301 273 284 225 1.926
mulo na faixa de hora mencio- 9h 175 196 219 213 249 232 187 1.471
nada, é notório o número de 10h 300 383 358 398 338 362 322 2.461
11h 192 252 242 210 213 206 189 1.504
vitimizações ocorridas aos do- 12h 252 296 278 269 227 232 208 1.762

mingos (4.727 ou 15,7%) e às se- 13h 167 233 241 228 190 196 204 1.459
14h 231 242 213 217 181 238 226 1.548
gundas-feiras (4.521 ou 15,0%). 15h 246 230 211 228 202 216 219 1.552
16h 269 230 269 212 193 211 238 1.622
17h 258 237 196 214 251 209 198 1.563
18h 292 237 235 227 250 235 226 1.702
19h 302 265 259 258 221 240 259 1.804
20h 327 286 213 231 244 257 279 1.837
21h 298 175 216 195 195 158 203 1.440
22h 251 137 141 154 164 148 195 1.190
23h 185 94 115 115 107 160 186 962
Total 4.727 4.521 4.233 4.204 4.006 4.122 4.286 30.099

Fonte: Elaborado pelo ISP com base em dados da SEPOL.

157
Dossiê Mulher 2023 Sumário

6.2. O perfil das mulheres vítimas de Violência Moral


As maiores vítimas foram mulheres com idade entre 30 e 59 anos
(18.623 ou 61,8%), solteiras (11.406 ou 37,9%) e negras (15.147 ou 50,3%),
como indica o Gráfico 111. Apesar das vitimizações terem ocorrido impe-
rativamente entre as mulheres negras, o número de mulheres brancas
afetadas também foi significativo (14.342 ou 47,6%).

Gráfico 111 – Mulheres vítimas de Violência Moral por faixa etária,


estado civil e faixa etária – estado do Rio de Janeiro – 2022
(números absolutos e valores percentuais)

100,0% 100,0% 100,0%


% de mulheres vítimas

75,0% 61,8% 75,0% 75,0%


18.623
50,3% 47,6%
15.147 14.342
50,0% 50,0% 37,9% 50,0%
11.406 28,8%
24,9% 8.670 22,0%
7.490 6.639
25,0% 25,0% 25,0%
9,1% 8,5%
0,6% 3,0% 2.744 0,6% 2.553 2,9% 0,6% 1,6%
194 904 177 864 175 468
0,0% 0,0% 0,0%

11 7 9 9 ou ao
u
a1 a2 a5 os m ira da m a s m
0 a os 12 os 18 os 30 nos 60 an ais Se ação lte sad to ara va Se ação gra nc tra Se ação
So Ca e jun Sep Viú Ne Bra Ou
an an an a m orm viv orm orm
inf inf inf
Idade Estado civil Perfil racial

Fonte: Elaborado pelo ISP com base em dados da SEPOL.

No que tange à relação entre vítimas e agressores, vale enfatizar que


companheiros ou ex-companheiros (11.294 ou 37,5%) foram apontados
como responsáveis pela maior parte das violências cometidas, vide Gráfi-
co 112. Ao incluirmos outras categorias que faziam parte do círculo social
das vítimas (conhecidos, parentes e pais e padrastos), chegamos ao total
de 16.166 ou 64,8%.

158
Violência Moral Sumário

Gráfico 112 – Mulheres vítimas de Violência Moral por tipo de


relação entre vítima e autor – estado do Rio de Janeiro – 2022
(números absolutos e valores percentuais)

100,0%

75,0%
% de mulheres vítimas

50,0%

37,5%
11.294

21,5%
25,0%
17,0% 6.475
5.119
7,9% 7,8% 7,2%
2.372 2.337 2.163
1,2%
372
0,0%

Companheiros Nenhuma Outras Conhecidos Parentes Pais ou Sem


ou ex padrastos informação

Fonte: Elaborado pelo ISP com base em dados da SEPOL.

A residência apareceu, novamente, como cenário da maior parte das


vitimizações (13.420 ou 44,5%). Destacamos, também, o percentual de
mulheres vitimadas em locais classificados como “Outros”60 (4.453 ou
14,8%) e em vias públicas (3.641 ou 12,1%), como mostra o Gráfico 113.

60 - Entre eles, destacamos o número de vitimizações nos condomínios (475), nos estabe-
lecimentos de ensino (278), nos bares e restaurantes (199), nos hospitais, clínicas e similares
(181) e nos estabelecimentos públicos municipais (164).

159
Dossiê Mulher 2023 Sumário
100,0%
Gráfico 113 – Mulheres vítimas de Violência Moral por local do fato – estado
do Rio de Janeiro – 2022 (números absolutos e valores percentuais)

75,0%
% de mulheres vítimas

50,0% 44,5%
13.420

20,5%
25,0% 6.174
14,8%
4.453 12,1%
3.641
5,1%
1.549 3,0%
895
0,0%

Residência Outros Via Ambiente Estab. Sem


locais pública virtual comercial informação

Fonte: Elaborado pelo ISP com base em dados da SEPOL.

A agressão verbal, apesar de não deixar rastros físicos visíveis, causa


sérios danos interpessoais e emocionais. O potencial prejudicial das pala-
vras, quando mal empregadas, ofensivas ou narcísicas, é imensurável. A
exposição recorrente à Violência Moral traz consigo uma carga pesada,
que transcende o âmbito físico, pois impacta na saúde e, principalmente,
na sociabilidade da vítima.

De acordo com os dados apresentados neste Dossiê, a cada 24 horas,


cerca de 82 mulheres demonstraram coragem para identificar e denun-
ciar seus agressores ao longo de 2022. Apesar de estarmos conscientes
em relação ao aumento registrado no último biênio (2021/2022), sabemos
que muitas outras foram vítimas de calúnia, difamação, injúria e da sé-
rie de delitos relacionados à Violência Patrimonial, que será abordada na
próxima seção.

Por fim, ressaltamos que, mesmo cientes que a subnotificação ainda


é uma realidade a ser superada, esperamos que as análises apresentadas
sirvam de incentivo para que outras vítimas denunciem seus agressores
e inspirem outras mulheres a fazerem o mesmo. Com a pesquisa, aqui
delineada, desejamos cooperar para estruturação de políticas públicas
que busquem dirimir essas formas de violência, por vezes esquecidas ou
naturalizadas.

160
7
Violência Patrimonial
Dossiê Mulher 2023 Sumário

A dependência financeira da mulher, em contexto de violência do-


méstica, é um tema de profundo interesse social e governamental. Ao es-
tudar seus efeitos e entrelaçamentos, a pesquisa conduzida por Soares e
Teixeira (2022)61 apontou para uma dinâmica inversamente proporcional
entre dependência econômica e incidência da violência doméstica. Em
outras palavras, os autores constataram que, quanto maior a vulnerabili-
dade monetária em relação ao marido, menor a probabilidade de sofrer
violência doméstica, de acordo com a citação que segue:
[...] uma relação negativa entre a dependência econômica
da mulher em relação ao marido e à violência doméstica –
ou seja, quanto maior a dependência financeira da mulher,
menor é a probabilidade de que ela esteja em situação de
violência doméstica.” (Soares; Teixeira, 2022, p. 263).

Na perspectiva desses pesquisadores, há duas possibilidades que po-


dem justificar o resultado encontrado, a primeira é que os agressores fa-
riam uso da força para extrair recursos de suas vítimas, já a segunda alega
que a dependência financeira em relação ao agressor aumentaria o grau
de aceitação aos abusos, reduzindo, assim, a chance de denúncia. Ou
seja, falamos aqui de um silenciamento imposto por poder patrimonial.

Nesse sentido, os dados expostos, nesta seção, suscitam importantes


reflexões sobre poder, controle e submissão financeiros que acontecem
nos relacionamentos familiares e em outros contextos. As agressões são
frutos da internalização de práticas machistas e patriarcais, bem como do
estabelecimento de estereótipos de gênero e códigos de conduta, que
resultam na minimização das atitudes configuradas pela Lei Maria da Pe-
nha como Violência Patrimonial.

Com frequência, o agressor se recusa a entregar pertences e docu-


mentos, ou privam suas vítimas de bens, valores ou recursos econômicos,
como mecanismos de vingança ou, até mesmo, para obrigá-las a perma-
necer em um relacionamento abusivo.

61 - SOARES, Laís de Souza Abreu; TEIXEIRA, Evandro Camargos. Dependência econômica e


violência doméstica conjugal no Brasil. Planejamento e Políticas Públicas, n. 61, p. 263-283,
2022. Disponível em <https://doi.org/10.38116/ppp61art9>. Último acesso em abril de 2023.

162
Violência Patrimonial Sumário

Intitulada Violência Patrimonial, a sétima seção do Dossiê Mulher


apresenta como os crimes de dano, supressão de documento e violação
de domicílio atingem as mulheres no estado do Rio de Janeiro. Antes
disso, porém, fornecemos uma breve definição desses delitos de acordo
com o Código Penal, baseada em relatos elaborados a partir dos registros
de ocorrência lavrados em 2022.

De acordo com o art. 163 o dano “consiste no ato de “destruir, inutilizar


ou deteriorar coisa alheia”.

“ Atendemos uma chamada à tarde de uma moça pedindo


ajuda. Seu pai, bêbado e alterado, quebrou a porta da residência
com chutes e tivemos que algemá-lo à força porque se recusava
a nos acompanhar até a delegacia. – Policial militar em depoimen-

to na delegacia.

Como define o art. 305, o crime de supressão de documento consiste


em “destruir, suprimir ou ocultar, em benefício próprio ou de outrem, ou
em prejuízo alheio, documento público ou particular verdadeiro, de que
não podia dispor”.

“ Minha filha é deficiente intelectual e possui sérias dificulda-


des de comunicação. Por muito tempo, morou com o pai, mas ele
abusou dela e perdeu a guarda. Desde então, eu passei a tomar
conta, ainda assim o genitor mantém a posse do cartão do INSS
e se recusa a entregá-lo, gasta todo o dinheiro da menina com
ele. – Vítima de supressão de documento em depoimento na
delegacia.

163
Dossiê Mulher 2023 Sumário

O art. 150 define a violação de domicílio como “entrar ou perma-


necer, clandestina ou astuciosamente, ou contra a vontade expressa, ou
tácita de quem de direito, em casa alheia ou em suas dependências”.

“ Eram cinco horas da manhã, estávamos dormindo eu, meu


namorado e meu filho, quando fomos abruptamente acordados
por um desconhecido tentando forçar, insistentemente, a porta
de entrada da minha casa. Depois de algum tempo, descobri- “
mos se tratar de um vizinho. – Vítima de violação de domicílio em
depoimento na delegacia.

A Tabela 2362 atesta que, das 9.328 vítimas de Violência Patrimonial


registradas no estado do Rio de Janeiro em 2022, a maior parte era com-
posta por mulheres (6.039 ou 64,7%). Quando analisamos os dados por
tipo de crime, o de dano foi o que mais afetou, em números absolutos,
a parcela feminina da população fluminense (3.364). Em termos percen-
tuais, o destaque foi a violação de domicílio, pois 71,6% das vítimas eram
mulheres.

Tabela 23 – Mulheres vítimas de Violência Patrimonial por delito – estado


do Rio de Janeiro – 2022 (números absolutos e valores percentuais)

Forma de violência e Total de Número de vítimas % de vítimas


delito vítimas mulheres mulheres

Violência Patrimonial 9.328 6.039 64,7%

Dano 5.519 3.364 61,0%

Supressão de documento 417 248 59,5%

Violação de domicílio 3.392 2.427 71,6%

Fonte: Elaborada pelo ISP com base em dados da SEPOL.

62 - Considerando as estatísticas de segurança, os crimes que compõem a Violência Patri-


monial são contabilizados por números de registros e não de vítimas. Contudo, ao entender-
mos que a dinâmica desses eventos traz um percentual significativo da violência familiar e
doméstica, as vítimas foram definidas como fenômeno de análise.

164
Violência Patrimonial Sumário

No comparativo com o ano anterior, houve o crescimento de 11,7%


(Gráfico 114). Aliás, o aumento da Violência Patrimonial foi observado
pelo segundo ano consecutivo. Cabe ainda ressaltar que em 2022 foi
registrado o maior número de mulheres vítimas de Violência Patrimonial
desde 2015.

Gráfico 114 – Mulheres vítimas de Violência Patrimonial – estado do


Rio de Janeiro – 2014 a 2022 (números absolutos)

8.000
7.319

7.000
6.226
6.039
5.823 5.937
Número de mulheres vítimas

6.000 Média 5.706

5.000 5.330 5.406

4.725
4.553
4.000

3.000

2.000

1.000

2014 2015 2016 2017 2018 2019 2020 2021 2022

Fonte: Elaborado pelo ISP com base em dados da SEPOL.

Por registrar o maior número absoluto de mulheres vítimas dos


crimes que compõem a Violência Patrimonial, em 2022, o crime de dano
registrou a maior taxa por 100 mil mulheres (36,9). A Tabela 24 mostra ainda
que, enquanto os crimes de violação de domicílio e dano apresentaram
aumento do número de vítimas no comparativo com 2021 (14,4% e 11,4%,
respectivamente), houve uma redução no número de mulheres vítimas
de supressão de documento (6,4%).

165
Dossiê Mulher 2023 Sumário

Tabela 24 – Mulheres vítimas de Violência Patrimonial por delito –


estado do Rio de Janeiro – 2021 e 2022
(números absolutos e taxa por 100 mil mulheres)

Taxa por Diferença %


Nº de vítimas Taxa por 100 Nº de vítimas
Forma de violência 100 mil de 2022 em
mulheres em mil mulheres mulheres em
/ delito mulheres relação a
2021 (2021) 2022
(2022) 2021

Violência
5.406 59,4 6.039 66,3 11,7%
Patrimonial

Dano 3.020 33,2 3.364 36,9 11,4%

Supressão de
265 2,9 248 2,7 -6,4%
documento

Violação de domicílio 2.121 23,3 2.427 26,6 14,4%

Fonte: Elaborada pelo ISP com base em dados da SEPOL e do DATASUS.

Ao considerar o número absoluto de mulheres vítimas (Gráfico 115),


a maior concentração foi verificada na região Metropolitana (4.132 ou
68,4%), seguida das Baixadas Litorâneas (497 ou 8,2%) e Médio Paraíba
(373 ou 6,2%). No entanto, ao observar a taxa por 100 mil mulheres (Mapa
07), a Metropolitana apresentou um resultado diferente, ao ocupar a
última posição (59,7), enquanto as Baixadas Litorâneas, a primeira (108,8).

166
Violência Patrimonial Sumário

100,0%
Gráfico 115 – Mulheres vítimas de Violência Patrimonial – regiões do estado
do Rio de Janeiro – 2022 (números absolutos e valores percentuais)

75,0% 68,4%
% de mulheres vítimas

4.132

50,0%

25,0%

8,2%
497 6,2% 5,5% 4,3%
373 334 2,6% 2,4% 2,3%
262
156 146 139
0,0%

na s ul ste
lita da dio rte e na o-S e sta
po ixa as Mé aíba No nens rra ntr ns Co rde roe nse
tro Ba râne Se Ce mine No ine
Me i t o Pa
r mi Ve m
L Flu Fl u Fl u

Fonte: Elaborado pelo ISP com base em dados da SEPOL.

Mapa 07 – Mulheres vítimas de Violência Patrimonial – regiões do


estado do Rio de Janeiro – 2022 (taxa por 100 mil mulheres)

Fonte: Elaborado pelo ISP com base em dados da SEPOL e do DATASUS.

167
Dossiê Mulher 2023 Sumário

Ao analisar os crimes individualmente, tomando como critério a taxa


por 100 mil mulheres (Tabela 25), a região da Costa Verde apresentou
a mais elevada para o crime de dano (59,9). Por outro lado, as Baixadas
Litorâneas lideraram em relação à supressão de documento (4,2) e
violação de domicílio (53,7). Adicionalmente, não houve registro de
supressão de documento no Noroeste Fluminense.

Tabela 25 – Mulheres vítimas de Violência Patrimonial – regiões do


estado do Rio de Janeiro – 2022 (taxa por 100 mil mulheres)

Supressão de Violação de
Região Dano
documento domicílio

Estado do Rio de Janeiro 36,9 2,7 26,6

Baixadas Litorâneas 51,0 4,2 53,7

Centro-Sul Fluminense 59,1 0,7 43,8

Costa Verde 59,9 1,3 35,9

Médio Paraíba 45,0 2,7 30,4

Metropolitana 34,4 2,9 22,4

Noroeste Fluminense 43,7 0,0 37,3

Norte Fluminense 30,4 1,8 35,1

Serrana 45,6 1,1 45,3

Fonte: Elaborada pelo ISP com base em dados da SEPOL e do DATASUS.

Em relação à aplicação da lei, o Gráfico 116 demonstra que 3.798 ou


62,9% dos crimes de Violência Patrimonial foram categorizados sob a
Lei Maria da Penha; enquanto 1.613 ou 26,7% foram regidos pela Lei n°
9.099/1995. Por outro lado, 628 vítimas, totalizando 10,4% do conjunto, não
foram enquadradas sob nenhuma lei específica.

168
Violência Patrimonial Sumário

Gráfico 116 – Violência Patrimonial por tipo de lei aplicada – estado do


Rio de Janeiro – 2022 (números absolutos e valores percentuais)

100,0%

75,0%
% de mulheres vítimas

62,9%
3.798

50,0%

26,7%
1.613
25,0%

10,4%
628

0,0%

Lei nº Lei nº Sem lei


11.340/2006 9.099/1995 específica

Fonte: Elaborado pelo ISP com base em dados da SEPOL.

Os crimes de dano e violação de domicílio tiveram comportamentos


semelhantes em toda a série histórica anual. Em 2020, verificamos a
redução do número de vítimas, que foi seguida de aumento nos dois
últimos anos (Gráfico 117). Por sua vez, a supressão de documento
apresentou uma tendência de redução observada desde 2015, com
exceção do ano de 2019 e 2021. Em 2022, foi registrado o menor número
de vítimas da série histórica (248).

169
Dossiê Mulher 2023 Sumário

Gráfico 117 – Mulheres vítimas de Violência Patrimonial por delito – estado


do Rio de Janeiro – 2014 a 2022 (números absolutos)

4.000
3.607

3.500 3.364
3.137
3.033 3.020
Número de mulheres vítimas

3.000 2.826
3.051 2.743
2.461
2.500 2.383
2.599
2.487 2.427
2.399
2.000 2.223
2.121
1.973
1.843
1.500

1.000
661 594
510
500 369 364 401
249 265 248

2014 2015 2016 2017 2018 2019 2020 2021 2022

Dano Supressão de documento Violação de domicílio

Fonte: Elaborado pelo ISP com base em dados da SEPOL.

Ao observar a série histórica mensal de 2022 (Gráfico 118), notamos


a semelhança no comportamento dos crimes de dano e violação de
domicílio entre junho e dezembro. Em ambos os crimes, o menor
número de vítimas foi registrado em junho (240 e 171, respectivamente).
No caso da supressão de documentos, notamos uma certa estabilidade
ao longo do ano, com destaque para os meses de outubro e dezembro
(25) que registraram o maior número de vítimas, e o de agosto, que teve
o menor valor (14).

170
Violência Patrimonial Sumário

Gráfico 118 – Distribuição mensal das mulheres vítimas de Violência


Patrimonial por delito – estado do Rio de Janeiro – 2022 (números absolutos)
319 316
308
300 292 289
283
270 268
267
253 259
Número de mulheres vítimas

250 240

229 234 225


200 215
209 204
189 197
188 183 183
171
150

100

50
21 22 20 22 24 25 22 25
19 18 14 16

jan fev mar abr mai jun jul ago set out nov dez

Dano Supressão de documento Violação de domicílio

Fonte: Elaborado pelo ISP com base em dados da SEPOL.

7.1. Distribuição temporal Gráfico 119 – Mulheres vítimas de


das mulheres vítimas de Vio- Violência Patrimonial por dia da
lência Patrimonial semana e hora do fato – 2022
(números absolutos)
A análise da distribuição Hora dom seg ter qua qui sex sáb Total
0h 66 66 45 44 43 48 53 365
temporal da Violência Patrimo- 1h 32 39 23 22 23 29 45 213
nial (Gráfico 119) evidencia que 2h 49 25 15 12 15 32 39 187
3h 43 25 16 11 16 14 29 154
um alto quantitativo de vitimiza- 4h 53 19 8 5 16 20 22 143
5h 33 27 11 17 9 16 41 154
ções ocorreu durante o período
6h 31 34 14 15 20 26 29 169
noturno, especificamente entre 7h 38 28 20 16 21 23 28 174
8h 47 57 42 53 40 37 52 328
18h e 0h (2.238 ou 37,1%). Nessa 9h 40 43 29 32 30 41 42 257
faixa horária, é notável a con- 10h 50 48 44 49 51 37 59 338
11h 42 35 34 34 30 31 44 250
centração de mulheres vitima- 12h 49 46 34 44 31 26 46 276

das nos fins de semana (807 ou 13h 28 24 36 22 33 26 31 200


14h 38 22 35 33 36 27 36 227
36,1%). Essa situação sugere que 15h 37 26 20 34 24 36 46 223
16h 44 37 34 45 29 27 46 262
os agressores tinham a intenção 17h 38 31 24 44 28 39 36 240
de impedir que elas começas- 18h 60 43 33 38 22 39 39 274
19h 70 38 42 61 39 33 52 335
sem a semana útil em posse de 20h 68 37 49 47 41 57 60 359
seus documentos ou recursos, 21h 57 38 54 45 48 44 59 345
22h 65 21 30 39 33 46 46 280
o que as deixaria incapazes de 23h 60 22 40 31 24 51 52 280

buscar apoio e ajuda. Total 1.138 831 732 793 702 805 1.032 6.033

Fonte: Elaborado pelo ISP com base em dados da SEPOL.

171
Dossiê Mulher 2023 Sumário

7.2. O perfil das mulheres vítimas de Violência Patrimonial


O Gráfico 120 ilustra o perfil das vítimas de Violência Patrimonial. Na
análise, verificamos que a maioria das mulheres atingidas tinha entre 30
e 59 anos (3.650 ou 60,4%), era negra (3.106 ou 51,4%) e solteira (2.711 ou
44,9%). Vale ainda destacar que a faixa etária de 30 a 59 anos apresentou
mais que o dobro de vítimas em comparação àquelas com idades entre
18 a 29 anos (1.661 ou 27,5%). Contudo, em relação ao perfil racial, o núme-
ro de vítimas negras foi muito próximo ao de brancas (2.823 ou 46,7%).

Gráfico 120 – Mulheres vítimas de Violência Patrimonial por perfil etário,


perfil racial e faixa etária – estado do Rio de Janeiro – 2022
(números absolutos e valores percentuais)

100,0% 100,0% 100,0%


% de mulheres vítimas

75,0% 60,4% 75,0% 75,0%


3.650 51,4%
44,9% 3.106 46,7%
50,0% 50,0% 2.711 50,0%
2.823

27,5% 29,7%
1.661 1.791
25,0% 10,2% 25,0% 11,8% 25,0%
9,4%
613 568 4,2% 713
0,2% 1,3% 0,4% 0,3% 1,5%
80 256 92
12 23 18
0,0% 0,0% 0,0%

11 7 9 9 ou ao
u
a1 a2 a5 os m ira da m a s m
0 a os 12 os 18 os 30 nos 60 an ais Se ação lte sad to ara va Se ação gra nc tra Se ação
So Ca e jun Sep Viú Ne Bra Ou
an an an a m orm viv orm orm
inf inf inf
Idade Estado Civil Perfil Racial

Fonte: Elaborado pelo ISP com base em dados da SEPOL.

O Gráfico 121 mostra que 3.119 vítimas de Violência Patrimonial, ou


seja 51,6% do total, foram agredidas por companheiros ou ex. Quando
adicionamos as categorias parentes, conhecidos ou padrastos, o quan-
titativo aumenta para 4.023, representando 66,5% das mulheres. Como
mencionado no início desta seção, essa forma de agressão é frequente-
mente empregada pelos agressores como meio de punição ou coação
para mantê-las em relacionamentos abusivos.

172
Violência Patrimonial Sumário

Gráfico 100,0%
121 – Mulheres vítimas de Violência Patrimonial por tipo de relação
entre vítima e autor – estado do Rio de Janeiro – 2022
(números absolutos e valores percentuais)

75,0%
% de mulheres vítimas

51,6%
3.119
50,0%

25,0%
14,2% 12,6%
855 763
8,3%
6,6% 5,4%
504
398 328 1,2%
72
0,0%

Companheiros Nenhuma Parentes Outras Conhecidos Pais ou Sem


ou ex padrastos informação

Fonte: Elaborado pelo ISP com base em dados da SEPOL.

Simultaneamente ao fato de a maioria das vítimas possuir algum tipo


de vínculo amoroso com os agressores, a residência prevaleceu como o
local preferido para cometimento desses abusos (4.477 ou 74,1%), como
mostra o Gráfico 122.
100,0%
Gráfico 122 – Mulheres vítimas de Violência Patrimonial por local do fato –
estado do Rio de Janeiro – 2022 (números absolutos e valores percentuais)
74,1%
4.477
75,0%
% de mulheres vítimas

50,0%

25,0%

8,1% 9,4%
6,8% 569
489 409
1,5% 0,1%
89 6
0,0%

Residência Via Outros Estab. Ambiente Sem


pública locais comercial virtual informação

Fonte: Elaborado pelo ISP com base em dados da SEPOL.

173
Dossiê Mulher 2023 Sumário

Chegamos ao final desta seção que abrangeu as cinco formas de vio-


lência previstas na Lei Maria da Penha e foi elaborada a partir dos regis-
tros produzidos pela SEPOL. É crucial destacar o aumento nas estatísticas
de mulheres vítimas de Violência Patrimonial nos últimos anos. Sabemos
que muitas ainda desconhecem essa forma de violência ou, devido à de-
pendência financeira em relação aos seus agressores, tendem a negá-la
ou se sentem obrigadas a permanecer em situações conflitosas.

Diante dessa realidade, é desejo genuíno que a divulgação do Dossiê


Mulher continue desempenhando um papel significativo na promoção
do conhecimento, no incentivo ao debate e em campanhas de conscien-
tização. Acreditamos que este trabalho seja fundamental para fomentar
iniciativas que possam estimular e garantir a autonomia dessas vítimas,
além de encorajar outras mulheres a denunciarem seus agressores.

174
8
Descumprimento de
medida protetiva de
urgência
Dossiê Mulher 2023 Sumário

Ainda nos dias atuais, uma das maiores dificuldades enfrentadas pelas
mulheres é a garantia dos direitos conquistados, ao longo da história, por
meio de lutas e resistências. Dentre os avanços orquestrados, as medidas
protetivas de urgência, capituladas nos artigos 22, 23 e 24 da Lei Maria da
Penha, se destacam como um grande ganho para a causa.

Além de ordenar o afastamento do agressor do local de convívio da ví-


tima, o Estado implementa uma série de mecanismos de proteção àque-
las que se encontram em situações de risco e vulnerabilidade. Dentre
essas medidas, citamos a restrição da visitação aos filhos, a proibição de
se aproximar ou contactar a vítima, seus familiares e testemunhas, bem
como a suspensão da posse ou restrição de porte de arma.

A fiscalização do cumprimento das medidas protetivas é realizada por


equipes multidisciplinares das varas ou juizados de violência domésti-
ca, das Delegacias de Atendimento à Mulher ou das Patrulhas Maria da
Penha. Apesar dos esforços empreendidos pelo Estado em prevenir a
continuidade da violência e de situações que possam favorecê-la, alguns
agressores persistem em desobedecer às ordens formais emitidas pelas
autoridades.

No intuito de conferir mais efetividade ao sistema de proteção, res-


guardar a integridade física e psicológica da mulher que se encontra em
situação de violência, bem como garantir a responsabilização dos agres-
sores, a Lei nº 13.641 de 3 de abril de 2018 (BRASIL, 2018)63 tornou crime o
descumprimento de medida protetiva de urgência.

63 - BRASIL. Lei nº 13.641, de 3 de abril de 2018. Altera a Lei nº 11.340, de 7 de agosto de 2006
(Lei Maria da Penha), para tipificar o crime de descumprimento de medidas protetivas de
urgência. Diário Oficial da União, Brasília, 3 de abril de 2018.

176
Descumprimento de medida protetiva de urgência Sumário

Descumprimento de medida protetiva de urgência: de acordo com


o art. 24-A, a pena consiste na detenção de três meses a dois anos. É
importante ressaltar que, até a publicação desta lei, o descumprimento
de medidas protetivas de urgência não gerava providências equivalentes.
Era possível registrá-lo como crime de desobediência ou atipicidade, por
exemplo.

“ Em setembro do ano passado, solicitei medida protetiva contra


o meu ex-companheiro, que tomou ciência formal e retirou suas coi-
sas de casa. No mês seguinte, estava saindo da igreja quando o vi
de bicicleta. Nesse mesmo dia, fiquei sem energia elétrica em casa,
uma vizinha nossa me contou que o viu cortar o fio. Estou com luz
novamente, mas não me sinto segura. Tenho dormido na casa de
conhecidos, e isso tem me atrapalhado muito. – Vítima de descum-
primento de medida protetiva em depoimento na delegacia.

Desde abril de 2023, as medidas protetivas de urgência podem ser
concedidas sem a necessidade do registro de boletim de ocorrência, da
abertura de inquérito policial ou do ajuizamento de ação penal ou cível.
A Lei nº 14.550, de 19 de abril de 202364, também estabelece que essas vi-
goram “enquanto houver risco para integridade física, psicológica, sexual,
patrimonial ou moral da vítima ou de seus dependentes”.

De acordo com as informações disponíveis na Base Nacional de Da-


dos do Poder Judiciário, em 2022 foram ajuizadas, no Tribunal de Justi-
ça do Estado do Rio de Janeiro, um total de 38.609 medidas protetivas

64 - BRASIL. Lei n° 14.550, de 19 de abril de 2023. Altera a Lei nº 11.340, de 7 de agosto de


2006 (Lei Maria da Penha), para dispor sobre as medidas protetivas de urgência e estabele-
cer que a causa ou a motivação dos atos de violência e a condição do ofensor ou da ofendida
não excluem a aplicação da Lei. Diário Oficial da União, Brasília, 20 de abril de 2023.

177
Dossiê Mulher 2023 Sumário

de urgência destinadas a mulheres65. Dessas, 37.741 foram concedidas


integralmente ou parcialmente, das quais 861 foram revogadas e sete
homologadas, ambas determinadas por autoridade policial. No que diz
respeito às medidas deferidas, completamente concedidas ou em partes,
optou-se pela determinação, em todos os casos, do pleno afastamento
do agressor da residência ou domicílio da vítima.

De acordo com os registros de ocorrência lavrados pela SEPOL, no


mesmo ano, foi observado o maior número de registros de descumpri-
mento de medidas protetivas da série histórica (3.587), como indica o
Gráfico 123.

Gráfico 123 – Descumprimento de medidas protetivas de urgência – estado


do Rio de Janeiro – 2018 a 2022 (números absolutos)

4.000

3.587
3.500

3.000
2.717
Número de casos

2.500
Média 2.325

2.250
2.000
2.003

1.500

1.000 1.070

500

2018 2019 2020 2021 2022

Fonte: Elaborado pelo ISP com base em dados da SEPOL.

65 - De acordo com informações do site do Conselho Nacional de Justiça. Disponível em <ht-


tps://medida-protetiva.cnj.jus.br/s/violencia-domestica/app/dashboards#/view/5ff5ddea-
55e6-42a6-83fa-710d40507c3f?_g=h@2463b39>. Último acesso e pesquisa pelos dados em
setembro de 2023.

178
Descumprimento de medida protetiva de urgência Sumário

O Gráfico 124 expõe o aumento no número de registros de descum-


primentos de medidas protetivas ao longo de 2022, com o pico de inci-
dências ocorrendo em outubro, quando foram contabilizados 357 casos,
o maior da série histórica mensal. Em contraste, abril apresentou 253 des-
cumprimentos de medidas protetivas de urgência, o menor da série.

No mesmo gráfico ainda é possível observar uma elevação no núme-


ro de descumprimentos de medidas protetivas no segundo semestre
(1.950) em relação aos primeiros seis meses de 2022 (1.637). Essa tendên-
cia de crescimento também foi notada na série histórica anual, como de-
monstrado no Gráfico 123.

Gráfico 124 – Descumprimento de medidas protetivas de urgência –


estado do Rio de Janeiro – 2022 (números absolutos)

400

357
350 335 331
321
302 305 301
300 290
267 264 261
253
Número de casos

250

200

150

100

50

jan fev mar abr mai jun jul ago set out nov dez

Fonte: Elaborado pelo ISP com base em dados da SEPOL.

Considerando a divisão política-administrativa (Gráfico 125), fica evi-


dente que a região Metropolitana apresentou o maior número de des-
cumprimento de medida protetiva, com 2.356 casos, o equivalente a
65,7%. Em segundo lugar, as Baixadas Litorâneas, com 260 registros
(7,2%); em terceiro, a região Serrana, com 229 ocorrências contabilizadas
(6,4%).

179
Dossiê Mulher 2023 Sumário

Gráfico 125 – Descumprimento de medidas protetivas de urgência –


regiões do estado do Rio de Janeiro – 2022
(números absolutos e valores percentuais)

100,0%

75,0%
65,7%
2.356
% de casos

50,0%

25,0%

7,2% 6,4% 6,0%


260 4,6% 4,5% 3,5%
229 214 2,1%
166 162 126 74
0,0%

na s ul e
lita da
ixa as na dio rte e o-S e est e sta
opo Ba râne rra Mé aíba No nens entr nens Noro nens Co rde
etr Se r i C i i Ve
M Lit
o Pa Flu
m
Flu
m
Flu
m

Fonte: Elaborado pelo ISP com base em dados da SEPOL.

Com o objetivo de fornecer uma compreensão mais clara e abrangen-


te da distribuição geográfica dos casos de descumprimento de medidas
protetivas de urgência nas oito regiões administrativas do estado, reali-
zamos uma análise geográfica. Para esse fim, procedemos à geocodi-
ficação dos locais identificados nos registros de ocorrência e, utilizando
a técnica de densidade estimada com base no algoritmo de Kernel66,
examinamos as concentrações espaciais desses registros.

Os Mapas de 08 a 15 revelam que os locais das ocorrências de descum-


primento de medida protetivas se concentram nas áreas de maior den-
sidade da população residente e flutuante. Essas características também
foram observadas nas oito regiões de governo, conforme representado
nos respectivos mapas.

66 - A estimativa da densidade com base no algoritmo de Kernel permite a suavização dos


dados que possuem inferências sobre a população feitas com base em uma amostra de
dados finita. Isso possibilita visualizar as ocorrências mais frequentes em manchas de calor.

180
Descumprimento de medida protetiva de urgência Sumário

Essas áreas correspondem, em sua grande maioria, aos locais de re-


sidência ou de trabalho das vítimas. No entanto, é importante frisar que,
embora não tenhamos calculado a taxa per capita referente aos descum-
primentos de medida protetiva, existem alguns recortes com uma con-
centração mais significativa de casos em relação às outras áreas. Esses
casos de maior adensamento de ocorrências podem ser notados em
duas áreas da capital, uma no Centro e outra entre os bairros de Bangu
e Senador Camará, assim como nos centros administrativos dos municí-
pios de Duque de Caxias e Queimados, conforme representado no Mapa
08. Esses padrões também foram identificados em Teresópolis (Mapa 10)
e Campos dos Goytacazes (Mapa 12).

Mapa 08 – Densidade estimada dos descumprimentos de medidas


protetivas de urgência – Região Metropolitana – 2022

Fonte: Elaborado pelo ISP com base em dados da SEPOL.

181
Dossiê Mulher 2023 Sumário

Mapa 09 – Densidade estimada dos descumprimentos de medidas


protetivas de urgência – Baixadas Litorâneas – 2022

Fonte: Elaborado pelo ISP com base em dados da SEPOL.

Mapa 10 – Densidade estimada dos descumprimentos de medidas


protetivas de urgência – Região Serrana – 2022

Fonte: Elaborado pelo ISP com base em dados da SEPOL.

182
Descumprimento de medida protetiva de urgência Sumário

Mapa 11 – Densidade estimada dos descumprimentos de medidas


protetivas de urgência – Médio Paraíba – 2022

Fonte: Elaborado pelo ISP com base em dados da SEPOL.

Mapa 12 – Densidade estimada dos descumprimentos de medidas


protetivas de urgência – Norte Fluminense – 2022

Fonte: Elaborado pelo ISP com base em dados da SEPOL.

183
Dossiê Mulher 2023 Sumário

Mapa 13 – Densidade estimada dos descumprimentos de medidas


protetivas de urgência – Centro-Sul Fluminense – 2022

Fonte: Elaborado pelo ISP com base em dados da SEPOL.

Mapa 14 – Densidade estimada dos descumprimentos de medidas


protetivas de urgência – Noroeste Fluminense – 2022

Fonte: Elaborado pelo ISP com base em dados da SEPOL.

184
Descumprimento de medida protetiva de urgência Sumário

Mapa 15 – Densidade estimada dos descumprimentos de medidas


protetivas de urgência – Costa Verde – 2022

Fonte: Elaborado pelo ISP com base em dados da SEPOL.

8.1. Dinâmica dos descumprimentos de medida protetiva de ur-


gência
Assim como observado nas análises relacionadas às cinco formas de
violência definidas pela Lei Maria da Penha, foi identificado, na maioria
dos registros, uma relação de proximidade entre autor e vítima (Gráfico
126). Companheiros e ex-companheiros representaram 82,1% dos respon-
sáveis por descumprir as medidas protetivas, número expressivo. Esse
alto percentual se explica, em grande medida, pela própria natureza ínti-
ma do crime, tanto que somente em 84 casos, ou seja, 2,3% dos registros,
não foram apontados vínculos com o autor.

185
Dossiê Mulher 2023 Sumário

Gráfico 126 – Descumprimento de medidas protetivas de urgência por tipo


de relação entre vítima e autor – estado do Rio de Janeiro – 2022
(números absolutos e valores percentuais)

100,0%

82,1%
2.944

75,0%
% de casos

50,0%

25,0%

7,7%
277 4,5%
2,3% 1,6% 1,4% 161
84 0,4%
56 52 13
0,0%

Companheiros Parentes Nenhuma Pais ou Outras Conhecidos Sem


ou ex padrastos informação

Fonte: Elaborado pelo ISP com base em dados da SEPOL.

Conforme ilustra o Gráfico 127, mais da metade dos casos de descum-


primento ocorreram em residências (1.958 ou 54,6%), seguidos pela via
pública (675 ou 18,8%).

186
Descumprimento de medida protetiva de urgência Sumário

Gráfico 127 – Descumprimento de medidas protetivas de urgência


por local do fato – estado do Rio de Janeiro – 2022
(números absolutos e valores percentuais)

100,0%

75,0%

54,6%
% de casos

1.958

50,0%

25,0% 18,8%
675
12,9%
464
6,5%
4,8%
2,3% 234
173
83
0,0%

Residência Via Outros Ambiente Estab. Sem


pública locais virtual comercial informação

Fonte: Elaborado pelo ISP com base em dados da SEPOL.

Com relação à hora do fato, notamos que a maioria ocorreu entre 8h


e 10h, em todos os dias da semana (702 ou 19,5%), como demonstra o
Gráfico 128. Além disso, destacamos a concentração de casos nos fins de
semana – 567 ou 15,8%, no sábado, e 552 ou 15,4% no domingo.

187
Dossiê Mulher 2023 Sumário

Gráfico 128 – Descumprimento por dia da semana e


hora do fato – 2022 (números absolutos)

Hora dom seg ter qua qui sex sáb Total


0h 23 34 24 24 22 23 36 186
1h 19 9 6 9 10 11 13 77
2h 21 8 5 8 4 7 9 62
3h 10 9 2 8 1 9 11 50
4h 9 5 4 5 3 6 10 42
5h 10 6 6 8 4 6 12 52
6h 13 13 7 10 4 4 10 61
7h 17 18 13 17 14 12 10 101
8h 25 42 48 31 37 37 34 254
9h 33 31 19 35 24 31 35 208
10h 22 30 39 33 30 45 41 240
11h 26 27 26 32 25 21 37 194
12h 28 30 30 26 25 31 28 198
13h 19 25 15 31 26 30 26 172
14h 24 18 34 31 29 28 29 193
15h 20 19 20 22 30 25 29 165
16h 38 26 32 25 23 26 28 198
17h 21 32 28 26 25 22 18 172
18h 34 19 20 17 24 32 26 172
19h 36 28 31 29 16 32 38 210
20h 38 24 25 23 18 22 26 176
21h 23 20 16 22 21 28 21 151
22h 20 12 24 13 18 17 22 126
23h 23 12 17 16 19 20 18 125
Total 552 497 491 501 452 525 567 3.585

Fonte: Elaborado pelo ISP com base em dados da SEPOL.

Em 2022, ocorreu uma média de dez registros de descumprimento


de medidas protetivas de urgência por dia. No comparativo com o ano
anterior, houve um aumento significativo de 870 casos, representando
32,0%. Embora seja uma tendência preocupante, esse crescimento pode
indicar uma redução na tolerância das mulheres a relacionamentos abu-
sivos. Observamos, cada vez mais, a busca por informações e a procura
pelos mecanismos oferecidos pelo Estado para proteção da integridade
física e/ou psicológica, tanto da mulher em situação de violência quanto
daqueles que sofrem direta ou indiretamente com as agressões, em es-
pecial os filhos.

188
9
Considerações finais
Dossiê Mulher 2023 Sumário

Na 18ª edição do Dossiê Mulher, apresentamos uma análise abran-


gente acerca da vitimização de mulheres no estado do Rio de Janeiro,
com base em 91.301 registros de ocorrência lavrados em 2022. Destes,
22,8% retratavam a exposição das vítimas a mais de uma forma de violên-
cia, com destaque à Psicológica, presente em três dos cinco grupos de
violências mais comuns. Aliás, vale ressaltar que, pelo segundo ano con-
secutivo, a proporção de mulheres vítimas de Violência Psicológica supe-
rou as outras cinco – 34,7% em 2022, em comparação com 33,7% em 2021.

Uma inovação desta edição é a inclusão do perfil etário dos agressores.


Entre os resultados observados, ganhou relevo o acréscimo na ocorrência
de Violência Sexual cometida por adolescentes, agressores menores de
18 anos, pois a proporção passou de 7,2%, em 2014, para 15,1% em 2022.

Em relação às vítimas, destacamos a proporção de mulheres acima dos


60 anos, que registrou os maiores números no último biênio (2021/2022),
com 37,1% em 2021, e 36,9% em 2022. Nesse grupo, também chama aten-
ção o aumento nas agressões cometidas por filhos, que subiram de 9,1%,
em 2014, para 12,0% em 2022, o valor mais alto da série.

Adicionalmente, frisamos que 58,6% das vítimas de Violência Sexual


ainda não haviam completado 18 anos. No que concerne ao perfil racial,
as negras foram as maiores atingidas por todas as formas de violência,
especialmente a Sexual, com 56,3% do total.

Outra novidade é a análise da distribuição geográfica por regiões po-


lítico-administrativas do estado do Rio de Janeiro, onde grande parte das
vitimizações registradas em 2022 ocorreram na Metropolitana (9.066 ou
72,1%), seguida pelas Baixadas Litorâneas (8.742 ou 7,0%). Considerando as
taxas por 100 mil mulheres, as maiores concentrações foram observadas
no Centro-Sul Fluminense (2.280,8) e nas Baixadas Litorâneas (1.914,5).

Assim como nas edições anteriores, companheiros e ex foram os maio-


res agressores (46,9%), e a maior parte das violências ocorreu em uma
residência (53,6%). É pertinente citar que, em 2022, também registramos
os maiores números das séries históricas de feminicídio (111), estupro de
vulnerável (3.438), importunação sexual (1.642) e assédio sexual (314).

Além disso, em 2022, ocorreu o maior número de casos de descum-


primento de medidas protetivas de urgência (3.587). Isso representa um
aumento significativo de 870 casos ou 32,0% em relação ao ano anterior.
É importante lembrar que cada caso de descumprimento significa uma

190
Considerações finais Sumário

ameaça à vida e ao bem-estar das vítimas, e daqueles que fazem parte


do seu círculo de convivência.

Ao darmos visibilidade às estatísticas oficiais de segurança do estado


do Rio de Janeiro, esperamos contribuir para a elaboração de pesquisas
científicas e, principalmente, para que outras mulheres se sintam encora-
jadas a denunciar as agressões sofridas.

Por fim, ressaltamos, mais uma vez, o compromisso do Instituto de


Segurança Pública em divulgar estudos que auxiliem o desenvolvimento
de campanhas e iniciativas focadas na proteção e no atendimento das
mulheres vítimas e de todos aqueles que são atingidos pelos efeitos da
exposição às situações de violência.

191
10
Notas metodológicas
Notas metodológicas Sumário

Nesta edição do Dossiê Mulher, as informações divulgadas têm como


fonte o banco de dados dos registros de ocorrência da SEPOL, que é dis-
ponibilizado ao ISP por meio do seu Departamento Geral de Tecnologia
da Informação e Telecomunicações (DGTIT).
Seguindo as recomendações da Comissão Econômica para a América
Latina e Caribe (CEPAL) para a produção de estatísticas de gênero, de
forma a favorecer análises comparativas em níveis nacionais e internacio-
nais, para os dados sobre a violência contra a mulher trabalhados nesta
publicação, apresentamos também indicadores de violência por meio de
taxas por 100 mil mulheres.
Cada forma de violência analisada agrega os seguintes títulos:
• Violência Física – homicídio doloso e feminicídio, tentativa de homi-
cídio e tentativa de feminicídio e lesão corporal dolosa;
• Violência Sexual – estupro, tentativa de estupro, importunação se-
xual, violação sexual mediante fraude, assédio sexual e ato obsceno;
• Violência Psicológica – ameaça, constrangimento ilegal, crime de
perseguição, crime de perseguição contra mulher em razão do gênero,
crime de violência psicológica contra mulher, divulgação de cena de es-
tupro e registro não autorizado da intimidade sexual;
• Violência Moral – calúnia, difamação e injúria;
• Violência Patrimonial – dano, supressão de documento e violação
de domicílio.

Quantificação
A análise dos dados leva em consideração o número total de vítimas,
o que pode representar um número maior do que o total de ocorrências
registradas, tendo em vista que em um registro de ocorrência pode haver
mais de uma vítima. Esta observação é ainda mais importante para os
casos de Violência Patrimonial que, via de regra, são contabilizados por
número de casos e não de vítimas, mas que aqui são tratados de acor-
do com o número de mulheres vítimas. Excepcionalmente, os registros
de descumprimento de medidas protetivas de urgência são contabiliza-
dos por número de casos, e não de vítimas, uma vez que não há a obri-
gatoriedade do cadastro da vítima específica na ocasião do registro de
ocorrência. Por se tratar de violação de uma decisão judicial, entende-se
que o sujeito passivo imediato é o Estado, no âmbito da administração
da justiça.

193
Dossiê Mulher 2023 Sumário

Quantificação da violência doméstica em âmbito doméstico


e familiar
Desde 2012, a SEPOL qualifica as ocorrências de acordo com a com-
petência de duas leis de grande apelo social e jurídico: a Lei nº 9.099/1995
(Lei dos Juizados Especiais Cíveis e Criminais, também conhecida como
Lei dos Crimes de Menor Potencial Ofensivo) e a Lei nº 11.340/2006 (Lei
Maria da Penha).

O Dossiê Mulher utiliza a qualificação do registro de ocorrência como


de competência da Lei nº 11.340/2006 para apresentar o percentual de
mulheres vítimas de violência em âmbito doméstico e familiar (apenas
para os crimes selecionados para análise neste Dossiê). Vale lembrar que,
nas publicações anteriores a 2012, a classificação era feita por meio da
relação entre vítima e autor.

Feminicídio
A SEPOL passou a qualificar os casos de feminicídio, a partir de outu-
bro de 2016, em consonância com a Lei nº 13.104, de 9 de março de 2015
e com a Lei nº 7.448, de 13 de outubro de 2016. O feminicídio é uma cir-
cunstância qualificadora do crime de homicídio e, portanto, os dados de
feminicídio formam um subgrupo pertencente à categoria de homicídio
doloso.

Neste Dossiê, são considerados todos os registros de feminicídio e de


tentativa de feminicídio independente da variável sexo, em todos os anos
analisados. Dessa forma, foram incluídos na análise aqueles registros que
continham a variável sexo com inconsistências (por não preenchimento
ou por preenchimento incorreto). Esta decisão metodológica objetivou
uma maior exatidão das informações apresentadas e alterou os números
de 2017 anteriormente publicados.

Para esta divulgação, todos os registros de feminicídio de 2022 foram


lidos por uma policial civil lotada no ISP, a fim de obter mais informações
que pudessem qualificar a análise para além das estatísticas usuais e, a
partir disso, algumas correções foram realizadas. Desse modo, por meio
dos textos das dinâmicas das ocorrências e dos termos de declaração dos
envolvidos, foi possível identificar, por exemplo, o histórico de agressão e
de registros de ocorrência das vítimas e dos autores, a situação do autor
após o fato, o meio empregado, a motivação do crime, entre outros as-

194
Notas metodológicas Sumário

pectos qualitativos expostos no respectivo capítulo. Por conta disso, pode


haver divergência entre o número de autores que constam neste Dossiê
e na base de dados da SEPOL.

Hora do fato e hora do registro


Nesta publicação, usamos a data de comunicação dos crimes, con-
forme registrada em delegacias de polícia, para analisar a distribuição da
vitimização contra mulheres por anos e meses, seguindo o padrão de di-
vulgação das estatísticas oficiais. Todavia, com o objetivo de propiciar um
panorama mais acurado sobre a real temporalidade dos crimes sofridos
por mulheres no estado, foram utilizados o dia da semana e a hora em
que os fatos ocorreram para a análise da distribuição temporal dos casos.
Cabe ainda destacar que em alguns casos não foi possível identificar o
horário em que ocorreu as vitimizações. Por isso, podem existir divergên-
cias entre os totais de vítimas de um determinado crime ou uma forma
de violência indicados ao longo de suas respectivas seções e os informa-
dos nos gráficos que tratam especificamente da distribuição por hora.

Cálculo da população
A população do sexo feminino utilizada tem como base o Estudo de
Estimativas Populacionais para os municípios desagregadas por sexo e
idade, para o ano de 2021. Estas estimativas foram elaboradas pelo Minis-
tério da Saúde – Coordenação-Geral de Informações e Análises Epidemio-
lógicas (CGIAE) do Departamento de Análise Epidemiológica e Vigilância
de Doenças – e fornecidas pelo Departamento de Informática do Sistema
Único de Saúde (DATASUS). Estas possuem um recorte populacional por
sexo e faixa etária para o estado e seus respectivos municípios.

Cálculo de taxas
O cálculo de taxas específicas consiste em considerar no divisor so-
mente a população relativa ao grupo de estudo, no caso, as pessoas re-
sidentes do sexo feminino de determinada região. Para facilitar a com-
paração dos dados contidos neste Dossiê Mulher com outros estudos
semelhantes, foram calculadas taxas específicas por 100 mil mulheres
para os delitos analisados, tanto para o estado do Rio de Janeiro, como
para regiões administrativas e por município.

195
Dossiê Mulher 2023 Sumário

Variáveis analisadas
Além do total de vítimas estratificado por sexo, outras variáveis com-
põem as análises, procurando focar em aspectos específicos presentes
nos crimes contra vítimas do sexo feminino: a faixa de idade, a cor e o
estado civil da vítima, a provável relação entre vítima e autor, o meio em-
pregado, o tipo de local, a faixa de hora e o dia da semana do fato. Desse
modo, tais informações permitem traçar um perfil das mulheres vítimas,
as circunstâncias e os tipos de violências sofridas.

Foi necessário adequar a informação do campo raça/cor no banco de


dados da SEPOL para compatibilizar com a metodologia oficial empre-
gada pelo IBGE ao tratar da população negra. Tal campo tem seu preen-
chimento dividido entre branco, pardo, negro, albino, amarelo e indígena.
Como o IBGE utiliza a categoria “negro” (raça) como o somatório de pre-
tos e pardos (cor), optou-se por considerar esta classificação com o termo
“negra”. Além disso, devido ao baixo índice de vitimização registrada de
mulheres albinas, amarelas e indígenas, foi feito o somatório do número
de vítimas desses grupos como “outras”.

A relação entre vítima e autor é outro campo preenchido no momento


do registro de ocorrência, e foram agrupadas aqui nas seguintes catego-
rias:

• companheiros(as) ou ex – amante, companheiro(a), cônjuge, namo-


rado(a), noivo(a), ex-amante, ex-companheiro(a), ex-cônjuge, ex-namora-
do(a) ou ex-noivo(a);

• conhecidos – aluno(a), amigo(a), cliente, colega de trabalho, com-


parsa, empregado(a), patrão(oa), professor(a), vizinho(a), ex-comparsa, ex-
-cunhado(a) ou ex-patrão(oa);

• pais ou padrastos – pai, padrasto, mãe ou madrasta;

• parentes – avô(ó), cunhado(a), enteado(a), filho(a), genro, irmã(o), ne-


to(a), nora, primo(a), sobrinho(a), sogro(a) ou tio(a);

• outras;

• nenhuma e

• sem informação.

Seguindo o padrão utilizado em 2020, foram revistas também as agre-


gações do tipo de local do fato, dando prioridade aos locais com maior

196
Notas metodológicas Sumário

número de ocorrências, quais sejam: residência, via pública, estabeleci-


mento comercial e ambiente virtual. Na categoria “outros locais”, foram
agrupados locais como interior de transporte coletivo/alternativo, bar/res-
taurante, estabelecimento de ensino etc.

A variável meio empregado foi categorizada com as seguintes opções,


conforme foi possível identificar nos dados da SEPOL por meio dos deta-
lhamentos das titulações criminais:

• por arma branca;

• por arma de fogo;

• por asfixia, por envenenamento ou material inflamável;

• por pedrada ou paulada e

• sem informação.

Por fim, também são analisados os antecedentes criminais dos auto-


res de feminicídio. Vale ressaltar que um autor é capaz de possuir mais
de um tipo de anotação criminal, o que pode culminar em um número
de antecedentes maior do que o total de autores. Por esta razão, a soma
desses valores pode ultrapassar 100,0%.

Regiões
As análises das regiões que são apresentadas neste Dossiê são dividi-
das nas seguintes categorias:

• Baixadas Litorâneas – Araruama, Armação dos Búzios, Arraial do


Cabo, Cabo Frio, Casimiro de Abreu, Iguaba Grande, Rio das Ostras, São
Pedro da Aldeia, Saquarema e Silva Jardim;

• Centro-Sul Fluminense – Areal, Comendador Levy Gasparian, Enge-


nheiro Paulo de Frontin, Mendes, Miguel Pereira, Paraíba do Sul, Paty do
Alferes, Sapucaia, Três Rios e Vassouras;

• Costa Verde – Angra dos Reis, Mangaratiba, Paraty;

• Médio Paraíba – Barra do Piraí, Barra Mansa, Itatiaia, Pinheiral, Piraí,


Porto Real, Quatis, Resende, Rio Claro, Rio das Flores, Valença e Volta Re-
donda;

• Metropolitana – Belford Roxo, Cachoeiras de Macacu, Duque de


Caxias, Guapimirim, Itaboraí, Itaguaí, Japeri, Magé, Maricá, Mesquita, Niló-

197
Dossiê Mulher 2023 Sumário

polis, Niterói, Nova Iguaçu, Paracambi, Petrópolis, Queimados, Rio Bonito,


Rio de Janeiro, São Gonçalo, São João de Meriti, Seropédica e Tanguá;

• Noroeste Fluminense – Aperibé, Bom Jesus do Itabapoana, Cam-


buci, Italva, Itaocara, Itaperuna, Laje do Muriaé, Miracema, Natividade,
Porciúncula, Santo Antônio de Pádua, São José de Ubá e Varre-Sai;

• Norte Fluminense – Carapebus, Campos dos Goytacazes, Cardoso


Moreira, Conceição de Macabu, Macaé, Quissamã, São Francisco de Ita-
bapoana, São Fidélis, São João da Barra e

• Serrana – Bom Jardim, Cantagalo, Carmo, Cordeiro, Duas Barras,


Macuco, Nova Friburgo, Santa Maria Madalena, São José do Vale do Rio
Preto, São Sebastião do Alto, Sumidouro, Teresópolis e Trajano de Moraes.

Mapas
Para melhor representar a distribuição espacial dos dados, foram ela-
borados mapas, tendo como unidade de análise as regiões político-ad-
ministrativas do estado do Rio de Janeiro Foram produzidos, também
nesta edição, mapas contendo a densidade estimada dos registros de
descumprimento de medidas protetivas de urgência.

A relação dos municípios, os totais de vítimas dos delitos analisados e


suas respectivas taxas por 100 mil mulheres são apresentadas nos apên-
dices para consulta.

Observações
Eventuais mudanças oriundas de aditamentos e recursos relacionados
aos registros de ocorrência feitos pela SEPOL no decorrer de um ano para
o outro ou, ainda, alterações no padrão de agregação de alguns títulos
podem acarretar em algumas diferenças em relação às séries históricas
publicadas em edições anteriores do Dossiê Mulher. Cabe apontar que,
neste Dossiê, foi realizada a compatibilização da base de dados, a partir
de 2014, com o intuito de padronizar e atualizar as titulações dos eventos
referentes aos delitos relacionados à violência contra a mulher.

Os valores individuais exibidos nos gráficos de barras percentuais fo-


ram arredondados para apresentar apenas uma casa decimal, em confor-
midade com a regra de arredondamento da ABNT 591. Portanto, a soma
desses valores, ao considerarmos apenas uma casa decimal, pode não
totalizar 100,0%.

198
11
Saiba também
Dossiê Mulher 2023 Sumário

O Ministério Público e a violência contra a mulher

Carla Rodrigues Araújo de Castro

O intuito deste artigo é apresentar a atuação do Ministério Público do


Estado do Rio de Janeiro na área de enfrentamento à violência contra
mulher. Para isso, utilizarei como pano de fundo minha história. Ela co-
meça no I Juizado de Violência Doméstica e Familiar do RJ. Logo na pri-
meira semana percebi como as audiências diferiam, as vítimas prestavam
longos depoimentos e narravam uma vida de sofrimento e abusos. Nos
juízos criminais que trabalhei por mais de 20 anos, o crime era um “recor-
te” na vida das vítimas e testemunhas, era um momento, um fato isolado,
como, por exemplo, um roubo num transporte público, nesse contexto a
descrição dos fatos é pontual, objetiva e delimitada no tempo e espaço.
Na violência doméstica não. A violência se entrelaça com afeto, se sobre-
põe a outras agressões sofridas e a questões familiares, e se protrai no
tempo. Recordo-me de uma mulher narrando as agressões que sofreu na
gravidez e que perduraram depois do nascimento do filho, quando per-
guntei a idade da criança, soube que já era um adolescente. A essa altura
você pode estar se perguntando o porquê te contei essa história, pois foi
nessa audiência que descobri o quão importante é a atuação do Ministé-
rio Público na defesa dos direitos das mulheres vítimas de violência. Cabe
aos Promotores de Justiça garantir que a vítima seja ouvida com respeito,
sem descriminações e ofensas, sem ser vitimizada pelo sistema de justi-
ça, em outras palavras, sem sofrer violência institucional.
Mas antes de falar em processo e condenação, é necessário apurar os
fatos. Bem no início, quando a mulher faz um registro de ocorrência, se
inicia a investigação. O inquérito policial é um instrumento de colheita de
provas para que o Ministério Público tenha elementos necessários para
elaborar a denúncia, ou seja, propor uma ação penal. Essa é a atribuição
dos promotores de investigação penal, eles atuam junto às Delegacias de
Polícia e solicitam as diligências necessárias à elucidação do crime. No
interior, essas atribuições são acumuladas por um único promotor, já na
capital, as atribuições são bem delineadas e separadas.
Finda a investigação e iniciada a ação penal, passamos a outra etapa,
agora os autos estão na Justiça, mas em qual juízo? Depende. Nos ca-
sos da lei Maria da Penha, o processo tramitará nos Juizados de Violência
Doméstica e Familiar, nas hipóteses de feminicídios, tentados ou consu-

200
Saiba também Sumário

mados, no Tribunal do Júri e nos crimes restantes, como, por exemplo, os


sexuais, a competência será das Varas Criminais. Em cada juízo terá um
promotor de justiça com atribuição para acompanhar o processo, realizar
as audiências e elaborar as peças processuais. Agora é a hora de produzir
elementos probatórios que gerem o convencimento necessário para que
o julgador prolate a sentença. A prova é importante, mas garantir os direi-
tos e garantias individuais também é por isso cabe ao Ministério Público
velar pelo devido processo legal.
Sentença prolatada, prazo aberto para os recursos que poderão ser
manejados pela defesa ou pela acusação. No segundo grau a voz será
dos procuradores de justiça, que irão elaborar pareceres sobre o fato e as
questões processuais levantadas pelas partes, podendo, inclusive, fazer
sustentação oral nos tribunais.
Mas tão importante quanto à punição do agressor, o que se perquire
com a investigação e processo criminal, é a proteção. O Ministério Público
é um dos legitimados a solicitar medidas protetivas (artigos 22 e 23 da
LMP) e, em caso de descumprimento é promovida uma ação penal. A pu-
nição, como já dito, é tratada pelas Promotorias de Justiça com atribuição
criminal, à proteção também, por meio das manifestações e recursos em
caso de indeferimento.
Por último e não menos importante, vem à prevenção, que é desen-
volvida através de campanhas de conscientização, palestras, rodas de
conversa, divulgação sobre os canais de ajuda, capacitações no próprio
Ministério Público e em outras instituições. A prevenção é desenvolvida
pelos promotores com atuação criminal, mas também é ponto focal do
Centro de Apoio Operacional e é aqui que eu entro mais uma vez.
Após trabalhar no I Juizado fui convidada para assumir a coordenação
do Centro de Apoio Operacional das Promotorias de Justiça de Combate
à Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher, que como o nome já
explicita é um órgão que dá apoio aos promotores que estão “na ponta”
e tem atribuição direta com os processos. Nessa função passei a ter mais
contato com as estruturas da administração do Ministério Público. Cabe
ao Centro de Apoio Operacional das Promotorias de Justiça de Violên-
cia Doméstica Familiar Contra Mulher (CAO VD)67: estimular a integração

67 - Resolução GPGJ nº 2.402, de 2 de março de 2021. Dispõe sobre a estrutura orgânica da


Procuradoria-Geral da Justiça e dá outras providências. Disponível em <https://www.mprj.
mp.br/documents/20184/1930598/resolucao_2402.pdf>. Acesso em setembro de 2023.

201
Dossiê Mulher 2023 Sumário

junto aos órgãos de execução; dar suporte técnico-jurídico, com atuali-


zações legislativas e jurisprudenciais aos membros; elaborar boletins in-
formativos; propor metas de resolutividade; promover a articulação com
a rede de enfrentamento (Tribunal de Justiça, Defensoria Pública, OAB,
Polícia Civil, Polícia Militar, Guarda Municipal, sistema de saúde, equipa-
mentos públicos estaduais e municipais, dentre outros); colaborar com a
prevenção e manter arquivos das fiscalizações realizadas.

A fiscalização dos equipamentos públicos destinados ao acolhimento


da mulher é feita pelo Ministério Público. Visitas periódicas aos abrigos
sigilosos, aos centros de referência e núcleos de atendimento geram re-
latórios e caso seja constatado algum desalinhamento ou ilegalidade a
promotoria de tutela coletiva é informada para que acompanhe o caso,
podendo celebrar termos de ajustamento de conduta, instaurar inquéri-
to civil ou propor ação civil pública, visando à melhoria do serviço.

Voltando a área da prevenção, o Ministério Público do Rio de Janeiro


lançou a cartilha Vamos Conversar Sobre Violência Contra Mulher68, em
novembro de 2022, trabalho desenvolvido pela Coordenação do Centro
de Apoio às Promotorias de Justiça de Combate à Violência Doméstica
e Familiar em parceria com a Coordenadoria de Comunicação. Mais de 6
mil exemplares foram distribuídos na capital e no interior do estado.

A cartilha retrata em imagens as formas de violência doméstica e as


outras violências a que a mulher está sujeita, como: perseguição, assédio,
estupro, importunação sexual, violência pela internet, obstétrica, política
e institucional. É certo que livros e folders são ótimos veículos para expan-
dir o conhecimento sobre a lei e a rede de enfrentamento, mas se consi-
derarmos que parte da nossa população não é letrada ou não adepta à
leitura, uma imagem alcançará mais pessoas e poderá ser utilizada em
públicos diferentes, adequando-se a fala à idade, instrução, profissão e
origem da audiência, por isso a cartilha do Ministério Público do Rio de
Janeiro (MPRJ) foi elaborada basicamente com imagens.

68 - Vamos conversar? Cartilha de enfrentamento da violência doméstica e familiar


contra as mulheres. Disponível em <https://www.mprj.mp.br/documents/20184/3333010/
cartilha-violencia-mulher-apresentacao+%281%29+%281%29.pdf> . Último acesso em agos-
to de 2023.

202
Saiba também Sumário

Figura 01 – Cartilha Sobre Violência Doméstica (2022)

Fonte: Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro.

Aqui a prevenção se faz na conscientização do que é violência, na não


naturalização de condutas que são criminosas, mas normalmente natu-
ralizadas e transmitidas por gerações marcadas pelo patriarcado. A car-
tilha propicia a reflexão para retirar a objeção do medo ao informar das
medidas protetivas, dos números de emergência e da existência de pro-
gramas de proteção; visa diminuir o peso da culpa nos casos de violência
doméstica ao demonstrar que a mulher é vítima de uma manipulação
meticulosa e cruel e que muitas vezes faz com que ela se veja como uma
mulher louca e destemperada, bem como retirar o véu da vergonha das
vítimas de crimes sexuais, aliás, medo, culpa e vergonha é a tríade que
mantém a vítima presa na situação de violência doméstica, familiar e se-
xual.

A diversidade foi uma das preocupações durante a elaboração da car-


tilha de modo que toda mulher possa se identificar e se sentir represen-
tada nas imagens, então tem na capa: uma idosa, uma adolescente, uma
mulher trans, uma mulher adulta, uma cadeirante que faz alusão à Ma-
ria da Penha, uma jovem, uma negra, uma menina, uma indígena, uma
adolescente negra com deficiência visual e uma gestante. Reparem nos
cabelos com formas e tons diferentes, os corpos com estaturas e pesos
diversos e as roupas são as mais variadas.

203
Dossiê Mulher 2023 Sumário

Ainda no campo da prevenção, o Centro de Apoio Operacional das


Promotorias de Justiça de Violência Doméstica Familiar Contra Mulher
(CAO VD) promove, em parceria com a escola de Direito Ministério Públi-
co do Rio de Janeiro (MPRJ), o Instituto de Educação Bernardes Barroso
(IERBB)69, cursos de capacitação e formação para membros, servidores e
público externo, os cursos são gratuitos, presenciais ou online, síncronos
ou pelo sistema de ensino à distância.

Para além da atuação processual e da prevenção, o Ministério Pú-


blico do Rio de Janeiro (MPRJ) se preocupa com todas as pessoas que
são vítimas. Nesse ponto entra em cena a Coordenadoria de Promoção
dos Direitos das Vítimas70, estrutura vinculada à Coordenadoria-Geral de
Promoção da Dignidade da Pessoa Humana. Dentre as suas atribuições
pontuam: identificar as demandas de atuação do Ministério Público para
a garantia dos direitos das vítimas, diretas e indiretas, com especial aten-
ção para o acesso à informação, à participação, à proteção, à reparação,
ao encaminhamento a serviços de assistência (médica, odontológica,
psicossocial e jurídica), aos programas de proteção de vítimas e testemu-
nhas ou aos programas de justiça restaurativa, e para que sejam levadas
em conta as suas considerações em expedientes que tenham por objeto,
infrações penais ou ato infracional; empreender ações de caráter interse-
torial, interdisciplinar, interinstitucional, formativo e de suporte, para asse-
gurar o tratamento equitativo e o respeito aos direitos fundamentais das
vítimas, para reduzir os danos e prevenir a vitimização secundária.

No âmbito desta coordenação foi criado o Núcleo de Apoio às Vítimas


(NAV)71 que funciona na Sede do Ministério Público do Rio de Janeiro
(MPRJ) e presta serviço prioritariamente na Capital e Região Metropo-

69 - Disponível em <http://ierbb.mprj.mp.br>. Último acesso em agosto de 2023.


70 - Resolução GPGJ nº 2.419, de 17 de maio de 2021. A Resolução dispõe acerca das con-
tribuições da Coordenadoria-Geral de Promoção da Dignidade da Pessoa Humana e dos
demais órgãos integrantes de sua estrutura. Coordenadoria de Direitos Humanos e de Mi-
norias; Coordenadoria de Promoção dos Direitos das Vítimas; e Coordenadoria de Mediação,
Métodos Autocompositivos e Sistema Restaurativo, revogando a Res. GPGJ nº 2106/2017. Rio
de Janeiro: DOe.MPRJ, Diário Oficial Eletrônico do Ministério Público do Estado do Rio de
Janeiro, de 18 de maio de 2017, Ed. n. 627, p.1.
71 - Resolução GPGJ nº 2.534. de 2 de junho de 2023. Institui, no âmbito da Coordenadoria
de Promoção dos Direitos das Vítimas - CDV, o Núcleo de Apoio às Vítimas - NAV/MPRJ. Rio
de Janeiro: DOe.MPRJ, Diário Oficial Eletrônico do Ministério Público do Estado do Rio de
Janeiro, 5 de junho de 2023, Ed. nº 1.123, p.1.

204
Saiba também Sumário

litana, sem prejuízo das solicitações de Comarcas do interior. O Núcleo


de Apoio às Vitimas (NAV) atende por demanda espontânea das vítimas,
seus familiares, incluindo aqui não só as vítimas de crimes e atos infracio-
nais, mas também as vítimas de desastres naturais, calamidades públicas
e graves violações de direitos humanos ou mediante solicitação dos ór-
gãos públicos estaduais72.

Você pode estar se perguntando, como entrar em contato com o Mi-


nistério Público? A resposta é simples: por meio da ouvidoria. Esse é o
canal de diálogo do cidadão com o Ministério Público. Mas como estamos
tratando de violência contra mulher, temos um canal específico a ouvi-
doria da mulher. A comunicação pode ser feita pela internet, por telefone
ou presencial73.

É através da ouvidoria que você pode obter informações e fazer de-


núncias, nesta hipótese alguns dados são importantes, assim lembre-se
de informar: quando, como e onde os fatos ocorreram quem é a vítima e
o agressor, com nome e endereço completo. Mas atenção, em situação
de perigo iminente, sendo você a vítima ou presenciando algum tipo de
agressão, ligue imediatamente para 190 ou procure a delegacia de polícia
mais próxima.

Além das fronteiras do estado, o Ministério Público do Rio de Janei-


ro (MPRJ) integra grupos de trabalho e comissões nacionais voltadas ao
combate à violência doméstica, à violência de gênero e direitos das ví-
timas e participa de jornadas e congressos, promovendo a articulação
interinstitucional e intersetorial.

72 - O atendimento é agendado pelos telefones (21) 2215-7130 e 2215-7138, e-mail nav@mprj.


mp.br e formulário. Esse último disponível em <https://www.mprj.mp.br/conheca-o-mprj/
areas-de-atuacao/nucleos-de-atuacao/nucleo-de-apoio-as-vitimas>.
73 - Canais de Atendimento da Ouvidoria da Mulher. Ligue 127 Ramal 2. Ligação (gratuita
dentro do estado do Rio de Janeiro) ou (21) 3883-4600, de todas as localidades, atendimento
de segunda à sexta-feira, em dias úteis, das 8 às 20h.
- Internet: formulário eletrônico. Disponível as 24 horas emem <http://www.mprj.mp.br/co-
municacao/ouvidoria/formulario>
- WhatsApp: somente mensagens de texto, pelo número (21) 99366-3100, atendimento em
dias úteis, de segunda à sexta-feira, das 10h às 18h.
- Presencial: atendimento pessoal prioritário de segunda à sexta-feira, em dias úteis, das 9h
às 17h na sala da Ouvidoria da Mulher, anexo à Ouvidoria Geral, na sede do MPRJ, localizada
na Avenida Marechal Câmara, 370, subsolo – Centro, Rio de Janeiro, RJ.

205
Dossiê Mulher 2023 Sumário

Bom, acho que agora você já tem uma ideia da estrutura do Ministério
Público do Rio de Janeiro (MPRJ), mas é bom lembrar que o Ministério
Público está de portas abertas para você e olhos atentos ao cumprimento
das leis e defesa do regime democrático.

Minicurrículo da autora:

Procuradora de Justiça, Mestre e Doutora em Direito pela Universidade


Gama Filho, Especialista em Gênero e Direito pela Escola da Magistratu-
ra do RJ, pós graduada em Políticas Públicas de Enfrentamento a Vio-
lência Contra Mulher pela PUC-Rio, membra da Comissão Permanente
de Violência Doméstica e Familiar (COPEVID), coordenadora do GT de
Igualdade de Gênero, Direitos LGBT e Estado Laico do Conselho Nacional
do Ministério Público e vice coordenadora do GT para elaboração do Pro-
tocolo de Atuação do Ministério Público com Perspectiva de Gênero do
Conselho Nacional do Ministério Público.

206
12
Outros olhares
Dossiê Mulher 2023 Sumário

A atuação da Defensoria Pública do Estado do Rio de Janei-


ro na assistência às vítimas diretas e indiretas nos crimes de
feminicídio

Flávia Nascimento
Maria Matilde Alonso Ciorciari
Marcia Cristina Carvalho Fernandes
Pâmella Rossy Duarte

Introdução

A Defensoria Pública do Estado do Rio de Janeiro (DPRJ), prevista na


nossa Constituição como “instituição essencial à justiça”, tem como mis-
são a prestação da assistência jurídica integral e gratuita às pessoas que
integram grupos vulnerabilizados, a promoção dos direitos humanos e
a defesa dos direitos individuais e coletivos. Neste sentido, reconhecen-
do as discriminações históricas que subalternizam determinados grupos
sociais, a Defensoria Pública deve assegurar tais serviços pautados na
perspectiva de gênero, raça, etnia e classe, a fim de afastar quaisquer
barreiras de acesso à justiça.

Desse modo, a DPRJ vem institucionalizando a defesa de gênero, ten-


do como norte a evolução legislativa, que impôs a implementação de
uma atuação mais contundente na proteção dos direitos das mulheres.
Da mesma forma, visa o protagonismo daquelas que passaram pelo Nú-
cleo de Defesa dos Direitos da Mulher Vítima de Violência de Gênero (NU-
DEM) ao longo de mais de 25 anos de sua existência. O NUDEM, órgão
da DPRJ criado em 1997, atende exclusivamente às mulheres vítimas de
violência de gênero. Diferentemente da regra geral para atendimento da
Defensoria Pública, que perquire a hipossuficiência do indivíduo para a
prestação do serviço de assistência jurídica, o atendimento do Núcleo é
pautado pela vulnerabilidade da mulher. A partir dessa experiência, con-
seguimos perceber a face perversa da violência que as atinge e as limita-
ções do Direito em lidar com essa temática74.

74 - TELLES, Jaqueline. A Defensoria Pública do Estado do Rio de Janeiro e a Defesa dos Di-
reitos da Mulher: uma história que começa a ser contada. In: Gênero, sociedade e defesa de
direitos: a Defensoria Pública e a atuação na defesa da mulher. Rio de Janeiro: Defensoria
Pública do Estado do Rio de Janeiro, 2017. p. 17-43.

208
Outros olhares Sumário

O documento “100 Regras de Brasília”75, elaborado na XIV Conferência


Judicial Ibero-americana com o objetivo de ampliar e aperfeiçoar o aces-
so à justiça de pessoas vulneráveis, inclui expressamente a mulher vítima
de violência de gênero neste grupo. Segundo a Regra 3, “consideram-
-se em condição de vulnerabilidade aquelas pessoas que, por razão da
sua idade, gênero, estado físico ou mental, ou por circunstâncias sociais,
econômicas, étnicas e/ou culturais, encontram especiais dificuldades em
exercitar com plenitude perante o sistema de justiça os direitos conheci-
dos pelo ordenamento jurídico” (grifo das autoras). Diz ainda o documen-
to na Regra 17 que “a discriminação que a mulher sofre em determinados
âmbitos pressupõe um obstáculo no acesso à justiça, que se vê agravado
naqueles casos nos quais concorra alguma outra causa de vulnerabilida-
de”.
A Lei Maria da Penha e a Política Nacional de Enfrentamento à Vio-
lência contra a Mulher inserem a DPRJ na rede de atendimento. Isso im-
põe uma atuação articulada com as demais instituições e serviços que a
compõem e a prestação de uma assistência qualificada, integral e não
revitimizante à mulher em situação de violência76.
A Lei Orgânica da Defensoria Pública (Lei Complementar nº 80/1994),
do mesmo modo, promove expressamente a defesa dos direitos da mu-
lher vítima de violência doméstica enquanto função institucional:
Art. 4°: São funções institucionais da Defensoria Pública,
dentre outras: (...)
XI – exercer a defesa dos interesses individuais e coletivos da
criança e do adolescente, do idoso, da pessoa portadora de
necessidades especiais, da mulher vítima de violência do-
méstica e familiar e de outros grupos sociais vulneráveis que
mereçam proteção especial do Estado;

Portanto, toda mulher em situação de violência de gênero no Rio de


Janeiro faz jus aos serviços e poderá ser atendida no NUDEM. Dentre os
que são dispensados está o atendimento às vítimas sobreviventes de fe-
minicídio ou familiares de vítimas fatais de feminicídio – o que a doutrina
chama de vítimas diretas e indiretas do feminicídio.

75 - FEDERACÍON IBEROAMERICANA DEL OMBUDSMAN. Regras de Brasília sobre acesso


à Justiça das pessoas em condição de vulnerabilidade. Brasília: XIV Conferência Judicial
Ibero-americana, 2008. 25p.
76 - BRASIL. Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres. Política Nacional e Enfren-
tamento à Violência contra as Mulheres. Brasília: Secretaria Especial de Políticas para as
Mulheres, 2010. 24p. (Relatório de pesquisa).

209
Dossiê Mulher 2023 Sumário

A criação do GT Feminicídio: a prestação de suporte psicojurídico


às vítimas

Os arts. 27 e 28 da Lei Maria da Penha, no art. 4º, inc. XI da LC nº 80/1994,


art. 179, § 3º, “i” da Constituição do estado do Rio de Janeiro atribuem à
instituição o munus da assistência à vítima, figura processual sui generis,
tornando-se indispensável a presença desse sujeito nos casos envolven-
do violência doméstica e familiar, tratando-se de verdadeira garantia da
vítima a um processo não revitimizador e não violador do princípio cons-
titucional da dignidade pessoa humana, afastando por completo teses
discriminatórias, como a Legítima Defesa da Honra. A implementação
dessa nova figura jurídica demandou uma reestruturação da estrutura
organizacional e criação de novos órgãos de atuação, a fim de cumprir
todas as atribuições legais decorrentes da judicialização de casos referen-
tes à violência doméstica e familiar, assegurando a assistência aos réus e
às vítimas.

Com objetivo de garantir às vítimas o acesso aos seus serviços, me-


diante atendimento específico e humanizado, conforme preconizado no
art. 28 da Lei Maria da Penha, a DPRJ expandiu a atuação especializada
para além do NUDEM e criou órgãos de atuação com atribuição para as-
sistência qualificada às vítimas, junto aos Juizados da Violência Domésti-
ca e Familiar contra a Mulher (JVDFM).

A Lei nº 13.104/2015, conhecida como “Lei do Feminicídio”, acrescen-


tou qualificadora do feminicídio, prevendo três hipóteses em que o cri-
me for cometido contra a mulher por razões do sexo feminino: (i) quando
decorrente de violência doméstica e familiar; (ii) por menosprezo ou (iii)
discriminação à condição de mulher77. A partir da vigência da referida lei,
a morte violenta de mulheres em razão da sua condição de gênero saiu
da invisibilidade. Desde 2017 a 2021, quando o Dossiê Mulher incluiu esse
filtro estatístico na série histórica, os dados revelaram um aumento de
61,8% do número de ocorrências78. Foram 68 em 2017 e 85 em 2021.

77 - BIANCHINI, Alice; BAZZO, Mariana; CHAKIAN, Silvia (orgs.). Crimes contra as mulheres. 2ª
ed. Salvador: Editora JusPodivm, 2020.
78 - OLIVEIRA, Elisângela et al. Dossiê Mulher 2022. Rio de Janeiro: Instituto de Segurança
Pública, 2022. 214p.

210
Outros olhares Sumário

A tipificação do crime de feminicídio também exigiu que as institui-


ções do Sistema de Justiça Criminal e Segurança Pública passassem a
analisá-los sob a perspectiva de gênero, desde a investigação até o jul-
gamento. Isso assegurou a aplicação do sistema protetivo da Lei Maria
da Penha às sobreviventes e aos familiares das vítimas fatais, sobretudo,
às crianças e adolescentes órfãos. Com isso, o NUDEM passou a realizar
atendimentos a essas pessoas, que buscavam orientação jurídica. Nesses
atendimentos eram realizados, além das orientações jurídicas e ajuiza-
mento de outras demandas decorrentes do fato (regularização de guar-
da, ação indenizatória, pedidos de medidas protetivas de urgência, entre
outros), encaminhamentos a outros serviços da rede de atendimento e
socioassistenciais.

O NUDEM, a partir da implementação do “Projeto Violeta/Laranja-Fe-


minicídio”79 no âmbito dos Tribunais do Júri da capital em 2018, passou a
realizar atendimentos às mulheres sobreviventes e familiares de vítimas
fatais de feminicídio, encaminhadas ao Núcleo. Sendo um núcleo de por-
tas abertas, as mulheres chegam e já são atendidas pela equipe. Uma vez
identificado tratar-se de hipótese de feminicídio, a mulher ou os familia-
res são encaminhados também ao serviço de psicologia para o acompa-
nhamento e a devida atenção aos aspectos pessoais. Uma vez fortalecida
e segura para dar continuidade ao atendimento, a mulher ou o familiar
passa a revelar suas necessidades e demandas jurídicas. No atendimento,
eles compartilham espontaneamente as dúvidas jurídicas e apresentam
suas necessidades mais latentes. Ditam o que é mais importante e, a par-
tir daí, criamos, conjuntamente, uma estratégia de atuação.

Na esfera psicológica, pensando o feminicídio como a forma mais gra-


vosa de violência contra a mulher, pois, ceifa o seu bem maior – a vida –,
o NUDEM inicia, em 2019, um trabalho específico com as vítimas diretas
e indiretas de feminicídio, justamente pelo intenso sofrimento psíquico
que essas apresentavam. O trabalho foi se consolidando e, a partir da cria-
ção do GT Feminicídio, onde estabelecemos um fluxo de atendimento.

79 - Protocolo de atuação e colaboração entre as I, II, III e IV Varas dos Tribunais do Júri, o I
Juizado da Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher da Comarca da Capital do Estado
do Rio de Janeiro e o NUDEM. Pactuado em 21 de agosto de 2018.

211
Dossiê Mulher 2023 Sumário

Geralmente, as vítimas chegam ao NUDEM fortemente abaladas, seja


por medo, negação, inibição, raiva e/ou luto. Para algumas delas, a dua-
lidade de sentimentos pelo agressor, o corpo que por muitas vezes ficou
marcado pela violência, a ansiedade, a insônia, a depressão, e o processo
judicial é gerador de muita angústia. Esses e tantos outros mecanismos
de defesa80 e sentimentos que as mulheres podem vivenciar com a ex-
periência traumática do feminicídio, exigem dos profissionais novos olha-
res na prática cotidiana. No decorrer dos atendimentos, percebemos que
não é apenas com o crime e o processo judicial que elas têm que lidar, é
também com marca simbólica instaurada pelo crime de feminicídio, seja
na condição de mulher sobrevivente ou de um familiar enlutado.

Pinheiro menciona que a Psicologia faz parte do mundo do “ser”,


enquanto o Direito está inserido no campo do “dever-ser”, como afirma
Hans Kelsen (1976). No encontro dessas duas dimensões, pode-se locali-
zar a psicologia jurídica (PINHEIRO, 2003, p. 27)81. Nesta interseção é que
o atendimento psicológico às mulheres vitimadas pelo feminicídio visa
oferecer suporte emocional da chegada ao NUDEM até o momento da
audiência no Tribunal do Júri. Para além disso, dialoga com as defensoras
públicas do NUDEM e as/os defensoras públicas integrantes do GT a fim
de demonstrar como as usuárias/os encontram-se emocionalmente, fisi-
camente e psicologicamente, para que estratégias de abordagem e con-
dução dos casos sejam mais adequados considerando a subjetividade e o
momento em que essas se encontram. Posto isto, seguimos as diretrizes
de um atendimento integral, personalizado e interdisciplinar. A experiên-
cia acumulada nos mostra que, pertinente ao processo criminal do fe-
minicídio, as dúvidas recaem sobre o andamento, o trâmite processual,
os depoimentos que foram prestados em fase policial, quais as provas
produzidas, as razões que levaram à prisão ou não acusado, se ele pode
ser solto, as perícias que foram produzidas em sede policial, se ela terá de
ficar frente a frente com o acusado, sobre a o tempo, a duração de todos
esses trâmites. São dúvidas comuns e que emergem frequentemente,
de uma hora para outra, da cidadã(ão) envolvida(o) em um processo cri-
minal.

80 - FREUD, Anna. O ego e os mecanismos de defesa. São Paulo: Editora Ática, 1989.
81 - PINHEIRO, Carla. Psicologia jurídica. 3ª. ed. São Paulo: Saraiva, 2017.

212
Outros olhares Sumário

No entanto, ainda não havia uma atuação estruturada em favor das


mulheres vítimas nas Varas do Júri. Em 2017, atendendo a demanda de
uma sobrevivente que buscou atendimento no NUDEM, a defensora
pública Renata Tavares foi designada para atuar em seu favor na Vara
do Júri, onde tramitava a ação penal. A partir de então, a assistência às
vítimas passou a ser realizada, de forma eventual e voluntária, àquelas
que buscaram o atendimento no NUDEM. Dessa forma, no âmbito da
DPRJ, sob a coordenação de Arlanza Rebello, as defensoras públicas Leti-
cia Furtado, Renata Tavares e Simone Estrellita, foram pioneiras na atua-
ção como assistente das sobreviventes do crime feminicídio na sua forma
tentada, assegurando a efetiva participação delas na ação penal, enquan-
to sujeitas de direitos.

Neste contexto, surge para DPRJ o desafio de formalizar a atuação


integral em favor das vítimas diretas e indiretas de feminicídio, na forma
dos artigos 27 e 28 da Lei Maria da Penha, no art. 4º, inc. XI da Lei Comple-
mentar nº 80/1994, art. 179, § 3º, I da Constituição do Estado do Rio de Ja-
neiro, assegurando a assistência qualificada às vítimas nas ações penais
de competência dos Tribunais do Júri, à semelhança da atuação junto aos
Juizados da Violência Doméstica e Familiar.

Portanto, a equipe jurídica do NUDEM precisa promover a articula-


ção tanto com os defensores públicos dos processos criminais quanto
atender às mulheres nas questões que envolvem o Direito de Família. Por
exemplo: a regularização de guarda de filhos de vítimas, a ação de ali-
mentos, divórcio, o encaminhamento para benefícios, curatela, registro
de nascimento – e às questões patrimoniais, como inventário, alvará, ação
de indenização por danos morais e materiais, entrega de bens, rescisão
de contrato. A designação de uma/um defensora pública do GT Femini-
cídio para o processo criminal, assumindo o lugar da assistência à vítima,
complementa essa atuação multifacetada - a/o designada/o será respon-
sável por garantir a participação ativa da mulher vítima ou seu familiar no
processo.

A fim de subsidiar a implementação da atuação nas Varas do Júri, foi


realizada pela Diretoria de Estudos e Pesquisas de Acesso à Justiça da
DPRJ, a partir da leitura de processos judiciais em trâmite nas Varas do
Júri, uma pesquisa para identificar o perfil das vítimas de feminicídio e

213
Dossiê Mulher 2023 Sumário

compreender as circunstâncias desse crime82. Os dados revelaram que


a maior parte dos crimes aconteceram entre pessoas “que namoravam,
estavam casadas ou vivendo em união estável ou tinham uma relação
anterior” (DPRJ, s.d., p. 30), confirmando que, na maioria das vezes, mu-
lheres são mortas no contexto das relações íntimas e de afeto.
A pesquisa ainda aponta “que em 72,0% dos casos o crime ocorreu
na residência da vítima e, na maioria das vezes, no turno da noite ou ma-
drugada (62,0% das ocorrências na residência da vítima), tendo como
motivação a não aceitação do fim do relacionamento ou simplesmente
a “discussão” sobre o assunto (...). E “quanto ao meio empregado para a
prática do crime, o mais frequente é a faca, utilizada em 44,0% dos casos,
seguida da arma de fogo (17,0%)” (DPRJ, s.d., p.33).
Outro dado relevante diz respeito aos relatos de violência anterior: “Em
55,0% dos casos, há indicação de relato de violência doméstica do autor
contra a vítima e em 39,0% há registro na folha de antecedentes de pro-
cesso anterior por outro crime” (DPRJ, s.d., p.28). Esses dados revelam que,
mesmo acessando os serviços da rede de atendimento à mulher, muitas
mulheres foram mortas. Importante destacar que, em 16,0% dos casos
analisados, não houve registro formal da violência sofrida, indicando que
a vítima não acessou o sistema de proteção da Lei Maria da Penha.
A partir das análises e dos dados produzidos pelo “Perfil das Vítimas
de Feminicídio no Rio de Janeiro”, da experiência acumulada na atuação
do NUDEM, dos órgãos especializados junto aos JVDFM e da atuação ex-
perimental realizada pelas defensoras públicas colaboradoras do NUDEM
junto aos Tribunais do Júri da capital, no ano de 2020 foi proposto ao de-
fensor público geral a criação de um grupo de trabalho integrado por
defensoras(es) públicas(os) para atuação em favor das vítimas diretas e
indiretas do crime de feminicídio.
A Resolução DPGERJ nº 1038/202083 prevê a atuação especializada
e multidisciplinar na assistência às vítimas e aos seus familiares, através
de atuação das/os integrantes do Grupo de Trabalho na ação penal, bem
como orientação jurídica e encaminhamentos para os serviços da rede

82 - DEFENSORIA PÚBLICA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO. Perfil das vítimas de femini-


cídio no Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: Defensoria Pública do Estado do Rio de Janeiro, s.d.
34p. (Relatório de pesquisa).
83 - DEFENSORIA PÚBLICA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO. Resolução DPGERJ nº 1.038,
de 26 de junho de 2020. Defensoria Pública do Estado do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 26
de junho de 2020.

214
Outros olhares Sumário

especializada de atendimento à mulher, dentre outros. Seus integrantes


atuam como assistente qualificado da vítima, figura jurídica legal, con-
vencional e constitucional, garantindo aos sobreviventes e aos familiares
das vítimas fatais o amplo acesso à justiça, através de orientações e acom-
panhamento em todos os atos judiciais – e eventuais atos extrajudiciais.
Alinhado às diretrizes da Lei Maria da Penha, o ingresso de defensoras
e defensores públicos no GT Feminicídio está condicionado à participação
em curso de sensibilização quanto às questões de gênero e étnico-racial
– como preconizado no art. 8º da referida lei e nos tratados e convenções
internacionais de direitos humanos das mulheres. O desenvolvimento de
uma ementa que viabilizasse o letramento de gênero – em suas perspec-
tivas racial e territorial – ficou à cargo das equipes da Coordenadoria de
Defesa dos Direitos da Mulher (COMULHER) e do NUDEM. Assim, temos
garantido o atendimento à mulher vítima de violência de gênero e aos
familiares das vítimas fatais, pautado pela escuta livre de estereótipos,
no intuito de se buscar a experiência de fato vivenciada pela vítima, ofe-
recendo acolhimento e conscientização do ciclo de violência às vítimas
sobreviventes. Essa escuta sensibilizada é o recurso inafastável para se
evitar a revitimização da mulher.
Faz-se importante ressaltar que a atuação da Defensoria Pública de-
pende do interesse individual e manifesto da vítima sobrevivente e/ou
das vítimas indiretas (art. 4º – a LC80/1994) prestando a devida orientação,
que poderá partir do interesse na reparação de danos até sua interven-
ção no processo penal, visando o exercício do seu direito à justiça, à ver-
dade dos fatos e aos esclarecimentos sobre o caso84.
As equipes da COMULHER e do NUDEM participam ativamente des-
se processo, do desenvolvimento e execução do programa do curso de
sensibilização até o acompanhamento e suporte dispensado ao trabalho
do grupo. Atualmente, o GT Feminicídio conta com 17 integrantes capaci-
tados – 23 já participaram da formação –, que atuam diretamente em 32
processos de feminicídio tentado ou consumado, sempre em colabora-
ção com o NUDEM e de forma interdisciplinar.

Aspirando pelo aprimoramento do trabalho, em 2022, o serviço de psi-


cologia criou o “Grupo de Mulheres Transformando a Dor em Potência” na

84 - BRASIL. Secretaria de Políticas para Mulheres. Diretrizes para investigar, processar e


julgar com perspectiva de gênero as mortes violentas de mulheres. Brasília: Secretaria de
Políticas para Mulheres, 2016. 132p.

215
Dossiê Mulher 2023 Sumário

expectativa de ampliar o suporte emocional oferecido. A ideia do grupo85


é que a partir da troca e da compreensão das relações das integrantes
entre si, tendo como fator comum a experiência do feminicídio, por meio
das reflexões provocadas através do processo grupal pretende suscitar a
ressignificação e a desnaturalização de conceitos culturais patriarcais -
machistas, em um espaço de aprendizagem e psicoeducação, facilitando
a mudança, a conscientização das possibilidades e limites do processo
judicial, concebendo e/ou vislumbrando outras formas de (re)construção
da vida. A participação no grupo é voluntária, não sendo condicionada ao
processo judicial.
Atualmente, assistimos 32 usuárias, entre vítimas de feminicídio ten-
tado e familiares de vítimas fatais, nas modalidades de atendimento indi-
vidual, em conjunto com as defensoras/es públicas e em grupo. Acolher
cada uma dessas mulheres e famílias nos momentos distintos em que
se encontram, compreendendo as limitações subjetivas, avaliando e re-
conhecendo as possibilidades a serem trabalhadas individual e coletiva-
mente em prol da restauração dos direitos humanos de nossas usuárias/
os é o princípio da atuação conjunta, da interseção entre o Direito e a
Psicologia.
Ademais, embora possuam seus próprios arranjos psicológicos para
lidarem com o feminicídio, sabemos que esse é um fenômeno social
oriundo de uma cultura de dominação e desequilíbrio de poder, próprios
ao regime patriarcal e que estratégias e novos formatos de trabalho ne-
cessitam serem pensados para que os direitos das mulheres sejam res-
peitados e que o sistema de justiça não seja mais um agente reprodutor
da misoginia.

Considerações finais

O modelo público de acesso à justiça por meio da Defensoria Pública


é fundamental para o enfrentamento da violência doméstica e familiar
contra a mulher, considerando que a atuação institucional atende aos es-
tândares internacionais de proteção aos direitos humanos das mulheres
em situação de hipervulnerabilidade.
Cumprindo o seu papel no enfrentamento da violência doméstica e
familiar contra a mulher, para além do atendimento especializado no NU-
DEM e da assistência às vítimas nos processos que tramitam nos Juiza-

85 - PICHON-RIVIÈRE, Henrique. O processo grupal. São Paulo: Martins Fontes, 1982.

216
Outros olhares Sumário

dos da Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher e nos Tribunais do


Júri, é importante salientar, que a DPRJ, atenta ao “conceito atualizado
de acesso à justiça”86, também desenvolve ações preventivas que visam
a promoção e difusão de informações relacionadas a direitos humanos
na perspectiva de gênero, através de atividades de educação em direi-
tos, como campanhas educativas, publicação de cartilhas e realização de
eventos e cursos de formação para mulheres e jovens mulheres divulgan-
do informações sobre direitos e como acessar os seus direitos.
Os múltiplos impactos do crime de feminicídio na vida das mulhe-
res sobreviventes e dos familiares das vítimas fatais exigem uma atuação
ampla, multiprofissional e que se articula em três eixos: a atuação do GT
Feminicídio, o atendimento jurídico e o acompanhamento do serviço de
psicologia do NUDEM.

Minicurrículo das autoras:

Flávia Nascimento – Defensora Pública, titular do órgão para assistência


às vítimas junto ao Juizado de Violência Doméstica e Familiar contra a
Mulher (JVDFM) da Comarca de São Gonçalo. Coordenadoria de Defesa
dos Direitos das Mulheres (COMULHER) da Defensoria Pública do Estado
do Rio de Janeiro (DPRJ). Especialista em Gênero e Direito pela Escola da
Magistratura do Estado do Rio de Janeiro (EMERJ).
Maria Matilde Alonso Ciorciar – Defensora Pública, titular do NUDEM.
Subcoordenadora da COMULHER da DPRJ e coordenadora do NUDEM.
Especialista em Gênero e Direito pela EMERJ.
Marcia Cristina Carvalho Fernandes – Defensora Pública titular do NUDEM.
Pâmella Rossy Duarte – Psicóloga do NUDEM da DPRJ. Especialista em
Psicologia Jurídica. Colaboradora do Núcleo de Psicologia e Justiça do
Conselho Regional de Psicologia do Estado do Rio de Janeiro.

86 - Na lição de Pedro Gonzalez, “[o] ‘conceito atualizado de acesso à justiça’ é, pois, o acesso
à ordem jurídica justa. Isto é, o acesso ao Direito, o acesso aos direitos, o direito a ter direitos,
o acesso à juridicidade – o que pode ocorrer independentemente de intervenção judicial,
inclusive mediante a educação em direitos e os chamados meios adequados de solução de
conflitos como a conciliação, a mediação e arbitragem” (GONZALEZ, s.d., n.p.).
GONZALEZ, Pedro. O conceito atualizado de acesso à justiça e as funções da Defensoria
Pública. Disponível em <https://www.anadep.org.br/wtksite/cms/conteudo/42531/O_Con-
ceito_atualizado_de_acesso___Justi_a_(RJ).pdf>. Último acesso em julho de 2023.

217
Dossiê Mulher 2023 Sumário

Breves contribuições acerca da atuação do Poder Judiciário


Brasileiro no combate à violência contra a mulher

Juliana Batalha Knackfuss

Introdução

Ao longo da história, é possível observar que a temática envolvendo


crimes contra mulheres não é dotada de ineditismo, o que parece
impor uma cruel e recorrente realidade de discriminação, violência e
preconceito de gênero. Inobstante se tratar de um problema social antigo,
suas manifestações e bases ainda ocorrem de forma atual e pungente,
assumindo diferentes formas ao longo dos anos.

De acordo com o estudo do Programa das Nações Unidas para o


Desenvolvimento (PNUD) com a ONU Mulheres87, a América Latina
e Caribe continuam sendo a região mais violenta do mundo para as
mulheres, apesar do aumento expressivo de políticas nacionais de
proteção. Além disso, dois em cada cinco feminicídios são em decorrência
de violência doméstica, segundo dados da OMS de 201388. E, mesmo com
os Estados tendo leis voltadas para o combate desses crimes, somente
alguns legislaram sobre as diversas manifestações de violência contra
elas em ambiente público. Ademais, pouco mais da metade dos países
da região tipificaram penalmente o homicídio e feminicídio.

No caso brasileiro, o país detém a quinta maior taxa de feminicídio


do mundo, segundo dados apresentados no Mapa da Violência89 do ano
de 2015 em que se registrou que entre os anos de 1980 e 2013, 106.093
pessoas morreram exclusivamente pelo fato de serem mulheres (4,8
a cada 100 mil mulheres), segundo a Organização Mundial da Saúde

87 - ESSAYAG, Sebastián. Del Compromiso a la Acción:Políticas para erradicar la violen-


ciacontra las mujeres en AméricaLatina y el Caribe, 2016 – Documento de análisis regio-
nal. Panamá: PNUD e ONU Mulheres, 2017. 46p. (Relatório de pesquisa).
88 - ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE. Estimaciones mundiales y regionales de la vio-
lencia contra la mujer: prevalencia y efectos de la violencia conyugal y de la violencia
sexual no conyugal en la salud: resumen de orientación. Genebra: Organização Mundial
da Saúde, 2013.
89 - WAISELFISZ, Julio Jacobo. Mapa da violência 2015: Homicídio de Mulheres no Brasil.
Brasília: Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres – Ministério das Mulheres, da Igual-
dade Racial e dos Direitos Humanos, 2015. 83p.

218
Outros olhares Sumário

(OMS)90. O Anuário Brasileiro de Segurança Pública 2022 do Fórum


Brasileiro de Segurança Pública (FBSP)91 mostrou que, das 1.341 vítimas
deste crime em 2021, 68,7% tinham entre 18 e 44 anos, 65,6% dos delitos
ocorreram na residência e 62,0% das vítimas eram negras. Além disso,
81,7% dos autores eram companheiros ou ex-companheiros.

Diante de um cenário de prevalência de números crescentes, pode-


se notar a existência de estudos voltados à pesquisa e mapeamento
de dados e das razões sociais que levam a prática do crime no Brasil92.
Portanto, nos parece também importante, o debate em relação aos
avanços legislativos que tratam do feminicídio, bem como o tratamento
que é conferido pelo Poder Judiciário, em resposta a essa demanda social.

Avanços legislativos e breves considerações sobre a atuação do


Poder Judiciário

Antes de fazer as considerações acerca da atuação do Poder Judiciário,


é necessário conhecer a evolução desta pauta. Para tanto, a Figura 1
estabelece uma linha do tempo com os principais avanços legislativos em
matéria de combate à violência contra a mulher, bem como os objetivos
e inovações propostos:

90 - CÂMARA DEBATE. Brasil tem a quinta maior taxa de feminicídio no mundo. Câma-
ra dos Deputados, s.d., Disponível em <https://www.camara.leg.br/tv/553531-brasil-tem-
-a-quinta-maior-taxa-de-feminicidio-no-mundo/#:~:text=O%20Brasil%20tem%20a%20
quinta,Organiza%C3%A7%C3%A3o%20Mundial%20da%20Sa%C3%BAde%20%2D%20OMS>.
Último acesso em junho de 2023.
91 - BUENO, Samira; DE LIMA, Renato. Anuário Brasileiro de Segurança Pública 2022. São
Paulo: do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, 2022. 516p. (Relatório de pesquisa).
92 - IPEA. Reincidência Criminal no Brasil: Relatório de Pesquisa. Rio de Janeiro: IPEA,
2015.
RM. "A grande causa da violência [contra a mulher] está no machismo estruturante da so-
ciedade brasileira". Brasília, Tribunal de Justiça do Distrito Federal e dos Territórios (TJDFT),
2019. Disponível em <https://www.tjdft.jus.br/institucional/imprensa/campanhas-e-produ-
tos/artigos-discursos-e-entrevistas/entrevistas/2019/a-grande-causa-da-violencia-contra-
-a-mulher-esta-no-machismo-estruturante-da-sociedade-brasileira>. Último acesso em
julho de 2023.
BRASIL. Conselho Nacional do Ministério Público. Violência contra a mulher: um olhar do
Ministério Público brasileiro. Brasília: CNMP, 2018.

219
Dossiê Mulher 2023 Sumário

Figura 01 – Linha do tempo com os principais avanços legislativos em


matéria de combate à violência contra a mulher – 1994 a 2018

Convenção Belém do Pará


1994 Convenção Interamericana para Prevenir, Punir e Erradi-
car a Violência Contra a Mulher

Foi aderida e ratificada por 32 dos 33 Estados da América Latina


e Caribe, com exceção de Cuba, sendo aprovada no Brasil em no-
vembro de 1995:
• Objetivo – a tutela e configuração da violência contra a mulher
como violação dos direitos humanos e liberdades fundamentais;
• Avanço – conhecida como "lei de primeira geração", estabelece
medidas de proteção à violência que as mulheres sofrem em âmbi-
to privado. Além disso, promoveu significativos avanços na legisla-
ção interna dos signatários: "leis de segunda geração".93

Lei Maria da Penha


2006 Lei nº 11.340/2006

Criou mecanismos para coibir a violência a violência doméstica e


familiar contra a mulher:
• Objetivo – tipificar os casos de violência doméstica e intrafamiliar
como crimes, julgados no âmbito dos Juizados Especializados;
• Avanço – estabeleceu a proibição de aplicação de penas pecuniá-
rias aos agressores e ainda ampliou a pena de um para até três anos
de prisão.94

93 - CIDH – Comissão Internacional de Direitos Humanos. Convenção Interamericana para


Prevenir, Punir e Erradicar a Violência contra a Mulher, “Convenção de Belém do Pará”. Belém
do Pará: Comissão Internacional de Direitos Humanos, 1994.
94 - BRASIL. Lei nº 11.340, de 7 de agosto de 2006. Cria mecanismos para coibir a violência
doméstica e familiar contra a mulher, nos termos do § 8º do art. 226 da Constituição Federal,
daConvenção sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação contra as Mulheres
e daConvenção Interamericana para Prevenir, Punir e Erradicar a Violência contra a Mulher;
dispõesobre a criação dos Juizados de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher; altera
o Códigode Processo Penal, o Código Penal e a Lei de Execução Penal; e dá outras providên-
cias. Diário Oficial da União, Brasília, 7 de agosto de 2006.

220
Outros olhares Sumário

Lei do Feminicídio
2015 Lei nº 13.104/2015

Torna o feminicídio um homicídio qualificado e o coloca na lista de


crimes hediondos:
• Objetivo – promover a alteração do art. 121 do Penal para prever
o feminicídio como circunstância qualificadora do crime de homi-
cídio;
• Avanço – estabeleceu pena de reclusão de 12 a 30 anos quando o
crime envolvesse violência doméstica e familiar e/ou menosprezo
ou discriminação à condição de mulher, sendo também previsto
o aumento de pena de 1/3 até a metade, se o crime for praticado
durante a gestação ou nos três meses posteriores ao parto; contra
pessoa menor de 14 anos, maior de 60 anos ou com deficiência; e
na presença de descendente ou de ascendente da vítima.95

Descumprimento de Medida Protetiva


2018 Leiº 13.641/2018

A legislação pátria passa a considerar como crime descumprir de-


cisão judicial que defere medidas protetivas de urgência:
• Objetivo – criminalizar a conduta do agressor que descumpre
medida protetiva de urgência, incidindo, assim, no tipo penal pre-
visto no art. 24-A da Lei Maria da Penha;
• Avanço – punição de três meses a dois anos de detenção para
aqueles que descumprirem as medidas.96

Fonte: Elaborada pela autora com base na Convenção Interamericana para Prevenir, Punir e
Erradicar a Violência Contra a Mulher, na Lei nº 11.340/2006, na Lei nº 13.104/2015 e na Lei nº
13.641/2018.

95 - BRASIL. Lei nº 13.104, de 9 de março de 2015. Altera o art. 121 do Decreto-Lei nº 2.848, de
7 de dezembro de 1940 – Código Penal, para prever o feminicídio como circunstância qualifi-
cadora do crime de homicídio, e o art. 1º da Lei nº 8.072, de 25 de julho de 1990, para incluir o
feminicídio no rol dos crimes hediondos. Diário Oficial da União, Brasília, 9 de março de 2015.
96 - BRASIL. Lei nº 13.641, de 3 de abril de 2018. Altera a Lei nº 11.340, de 7 de agosto de
2006(Lei Maria da Penha), para tipificar o crime de descumprimento de medidas protetivas
de urgência. Diário Oficial da União, Brasília, 3 de abril de 2018.

221
Dossiê Mulher 2023 Sumário

A Convenção de Belém do Pará estabeleceu dois importantes meca-


nismos de monitoramento em relação aos Estados signatários. O primei-
ro, de caráter não jurisdicional, consiste na apresentação de petições que
podem ser de cunho individual e/ou coletivas perante a Comissão Intera-
mericana de Direitos Humanos (CIDH), cujo objetivo primordial é a defesa
dos direitos humanos. O segundo, de caráter jurisdicional, compreende a
realização de um procedimento investigativo posterior à apresentação de
denúncia formulada pela CIDH perante a Corte Interamericana de Direi-
tos Humanos, órgão jurisdicional responsável por julgar os Estados even-
tualmente denunciados.

O art. 8º da Lei Maria da Penha atribuiu ao poder público a responsa-


bilidade de instituir políticas de combate à violência contra as mulheres
brasileiras, implementando medidas integradas de prevenção, assistên-
cia e atendimento para garantir seus direitos no âmbito das relações do-
mésticas e familiares. No âmbito da referida lei, o Poder Judiciário passou
a ter especial protagonismo e a especializar-se no atendimento de tais
ações, a partir da criação de Juizados ou Varas de Violência Doméstica
e Familiar em todas as unidades da federação, tendo competência cível
e criminal, contando, ainda, com uma equipe multidisciplinar nas áreas
psicossocial, jurídica e de saúde.

A Política Judiciária Nacional de Enfrentamento à Violência contra


as Mulheres foi instituída pela portaria do Conselho Nacional de Justiça
(CNJ) nº 15/201797. Ela previu, dentre diversas ações, a realização periódi-
ca do mapeamento da estrutura das unidades judiciárias para o recebi-
mento causas cíveis e criminais relativas à prática de violência doméstica
e familiar contra a mulher, assim como dos dados sobre a litigiosidade
nesse tema, medidas protetivas, equipes multidisciplinares, casos novos
e pendentes analisados pelo Judiciário.

A Lei nº 13.641/2018, por sua vez, passou a considerar como crime a


conduta do agressor que descumpre medidas protetivas de urgência,
incidindo, assim, no tipo penal previsto no artigo 24-A da Lei Maria da

97 - BRASIL. Conselho Nacional de Justiça. Portaria CNJ n. 15, de 8 de março de 2017. Ins-
titui a Política Judiciária Nacional de enfrentamento à violência contra as Mulheres no Poder
Judiciário e dá outras providências. Diário de Justiça do Conselho Nacional de Justiça, Brasí-
lia, 9 de março de 2017, nº 36, p. 2-4.

222
Outros olhares Sumário

Penha. Apesar dos art. 22 a 24 positivarem aquilo que se entende por me-
dida protetiva, é importante frisar que esse rol é meramente exemplifica-
tivo e o juiz poderá aplicar outras medidas de urgência que não estejam
expressamente previstas nos mesmos.

A competência para aplicação das medidas protetivas de urgência


pelo juízo cível também foi uma importante inovação trazida pela Lei nº
13.641/2018. O art. 24-A, em seu parágrafo 1º, estabeleceu que a configu-
ração do crime independe da competência civil ou criminal do juiz que
deferiu as medidas, possibilidade essa já autorizada pelo Superior Tribu-
nal de Justiça (STJ) em julgados anteriores:
DIREITO PROCESSUAL CIVIL. VIOLÊNCIA DOMÉSTICA
CONTRA A MULHER. MEDIDAS PROTETIVAS DA LEI N.
11.340/2006 (LEI MARIA DA PENHA). INCIDÊNCIA NO MBITO
CÍVEL. NATUREZA JURÍDICA. DESNECESSIDADE DE INQUÉ-
RITO POLICIAL, PROCESSO PENAL OU CIVIL EM CURSO.
1. As medidas protetivas previstas na Lei n. 11.340/2006, ob-
servados os requisitos específicos para a concessão de cada
uma, podem ser pleiteadas de forma autônoma para fins de
cessação ou de acautelamento de violência doméstica con-
tra a mulher, independentemente da existência, presente
ou potencial, de processo-crime ou ação principal contra o
suposto agressor.
2. Nessa hipótese, as medidas de urgência pleiteadas te-
rão natureza de cautelar cível satisfativa, não se exigindo
instrumentalidade a outro processo cível ou criminal, haja
vista que não se busca necessariamente garantir a eficácia
prática da tutela principal. ‘O fim das medidas protetivas é
proteger direitos fundamentais, evitando a continuidade da
violência e das situações que a favorecem. Não são, necessa-
riamente, preparatórias de qualquer ação judicial. Não visam
processos, mas pessoas’. 98

Dessa forma, a lei autoriza que, nos casos de ocorrência de descum-


primento de medida protetiva de urgência outorgada por qualquer dos
juízos criminal ou cível, caberá a decretação de prisão preventiva ou em
flagrante, a fim de salvaguardar a ordem pública e a integridade física e
psíquica da vítima.

98 - BRASIL. STJ. Quarta Turma. Direito Processual Civil. Violência Doméstica contra a
Mulher. Medidas Protetivas da Lei nº 11.340/2006 (Lei Maria da Penha). Incidência no
âmbito cível. Natureza Jurídica. Desnecessidade de inquérito policial, processo penal
ou civil em curso. RECURSO ESPECIAL n. 1.419.421 - GO. Relator: MINISTRO LUIS FELIPE SA-
LOMÃO. Julgamento em 11 de fevereiro de 2014. Diário Oficial da União, 07 de abril de 2014.

223
Dossiê Mulher 2023 Sumário

Sobre este ponto, em 2018, o CNJ publicou um relatório referente ao


segundo mapeamento realizado utilizando dados fornecidos pelos Tribu-
nais de Justiça dos Estados e do Distrito Federal, referentes aos anos de
2016 e 2017, e atualizados e consolidados em 24 de maio de 201899. Nele,
constatou-se o aumento de 21,0% do número de medidas protetivas ex-
pedidas pelo Poder Judiciário entre esses anos, totalizando nacionalmen-
te 194.812 medidas em 2016, e 236.641 medidas em 2017. Além disso, em
2017, foram 1.448.716 processos referentes à violência doméstica e familiar
tramitando, o que corresponderia, em média, a 13,8 processos a cada mil
mulheres brasileiras. Isso representou um acréscimo de varas e juizados
exclusivos de violência doméstica e familiar de 109 para 122 neste período.
Contudo, o juiz Marcelo Sousa Melo Bento de Resende descreveu, em
um artigo recente, uma situação comumente experimentada nas varas
de violência doméstica. Após a revogação da prisão preventiva, o ofensor
é colocado em liberdade mediante a implementação de medidas caute-
lares diversas da prisão. Seguido de sua soltura, ele volta, imediatamente,
a praticar os crimes contra a mulher, vulnerando novamente sua integri-
dade física e psicológica. Em um fragmento do texto é relatado isso:
Realizada a audiência de instrução e julgamento, numa sex-
ta-feira, o réu é condenado nas penas dos crimes de ameaça
e descumprimento de medida protetiva; a prisão preventiva
é revogada e ele é colocado em liberdade mediante caute-
lares diversas da prisão. Até aí, tudo dentro da normalidade.
Adendo importante, muitas audiências têm sido realizadas
por meio de videoconferências, de forma que muitos juízos
rotineiramente entram em contato com advogados, teste-
munhas, vítimas e réus, por meio de aplicativos de mensa-
gens para encaminhar o link da sala de audiência.
Porém, completamente fora do esperado, hipoteticamente,
no sábado, pela manhã, a vítima da audiência de sexta-fei-
ra, encaminha mensagens à assessoria do juízo, informan-
do que durante toda madrugada o réu, recém colocado em
liberdade, teria lhe enviado mensagens com ameaças de
morte, descumprindo não só as medidas cautelares diversas
da prisão, como também a medida protetiva que se encon-

99 - BRASIL. Conselho Nacional de Justiça. O Poder Judiciário na aplicação da Lei Maria da


Penha. Brasília: Conselho Nacional de Justiça, 2018. 24p.

224
Outros olhares Sumário

trava em vigor e ainda, in tese, cometendo outros crimes100.

Em que pese os esforços empreendidos pelo Judiciário, não são pou-


cos os casos conhecidos em que o réu, após deixar a prisão, procura a
vítima para cometer outro ato de violência. É comum, portanto, deparar-
-se com notícias publicadas em jornais e sites, informando a ocorrência
do descumprimento de medidas protetivas contra as mulheres101. Nesse
contexto, a prisão do agressor e seu distanciamento do convívio com a
vítima parece ser precaução necessária e que se impõe – a qual já se en-
contra autorizada em lei –, demonstrando protagonismo do Poder Judi-
ciário no tratamento da questão.
O Observatório Judicial de Violência Contra a Mulher102 do Poder Ju-
diciário do Estado do Rio de Janeiro realizou um estudo com uma série
histórica de decisões de prisões realizadas nos últimos 12 meses, nos me-
ses de maio de 2022 e abril de 2023. Houve 3.264 decisões de prisões. No
mês de abril de 2023, 254 prisões foram, de fato, decretadas, sendo 175
decorrentes de conversão de flagrante em prisão preventiva, 69 decre-
tações de prisões preventivas, nove ratificações de prisão preventiva e
somente uma decretação de prisão temporária. Em contrapartida, o nú-
mero de sentenças prolatadas no mesmo período ultrapassou o número
de 79.300.
No mesmo período, constatou-se a ocorrência de 3.638 novos casos
e 121.210 pendentes de conhecimento de violência doméstica e 742 de

100 - RESENDE, Marcelo. Decretação da prisão preventiva no âmbito da violência domés-


tica. Migalhas, São Paulo, 24 de outubro de 2022. Disponível <https://www.migalhas.com.
br/depeso/375676/decretacao-da-prisao-preventiva-no-ambito-da-violencia-domestica>.
Último acesso em junho de 2023.
101 - DIAS, Pâmela. Promotor do Paraná descumpre 101 vezes medida protetiva concedida à
ex-mulher: 'Não tenho mais vida social', diz ela. O Globo, Rio de Janeiro, 11 de junho de 2023.
Disponível em <https://oglobo.globo.com/brasil/noticia/2023/06/promotor-do-parana-des-
cumpre-101-vezes-medida-protetiva-concedida-a-ex-mulher-nao-tenho-mais-vida-social-
-diz-ela.ghtml>. Último acesso em junho de 2023.
BHAZ. Homem mata ex-namorada horas após sair da prisão por agredi-la. Metrópoles, Rio
de Janeiro, 5 de maio de 2022. Disponível em <https://www.metropoles.com/brasil/homem-
-mata-ex-namorada-horas-apos-sair-da-prisao-por-agredi-la>. Último acesso em junho de
2023.
102 - TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO RIO DE JANEIRO. Observatório Judicial da Violência contra
Mulher. Dados Estatísticos, 2023. Disponível em<https://app.powerbi.com/view?r=eyJrIjo-
iZjA5ZTAwNjYtZDdiMC00YjI1LTllMWMtNzNhNTZlYzIxMTlhIiwidCI6ImNlNGUxMTY0LTk4Nm
YtNDEzMi04NWQxLTFlM2MxN2NmN2Q2ZSIsImMiOjR9>. Último acesso em junho de 2023.

225
Dossiê Mulher 2023 Sumário

feminicídio. Atrelado a isso, registrou-se o assombroso quantitativo de


38.900 casos de medidas protetivas deferidas e 25.567 audiências realiza-
das nos últimos 12 meses no âmbito do Tribunal de Justiça do Estado do
Rio de Janeiro (TJERJ).
Tais números parecem, a priori, indicar uma possível discrepância en-
tre o número de casos sob análise do Poder Judiciário e das medidas pro-
tetivas deferidas em relação ao número de prisões efetivadas no mesmo
período, o que demanda uma análise mais ampla e detalhada dos moti-
vos ensejadores de tal problemática. Dessa forma, diante do cenário nar-
rado, nos parece que as políticas públicas voltadas para o enfrentamento
da violência contra mulher no país estão contribuindo para uma mudan-
ça de paradigma social, demonstrando o aumento da litigiosidade e a
busca e incentivo aos atos de denúncia e judicialização do tema.

Considerações finais

De acordo com os números e as estatísticas consolidados pelo TJERJ,


observou-se um crescimento da violência contra a mulher, ainda que a
legislação tenha sido elaborada e aperfeiçoada, e haja um crescimento
na interferência do Judiciário e no acesso da mulher à justiça. Nota-se,
ainda, que o arcabouço normativo pátrio, juntamente com o Poder Judi-
ciário, parece incentivar e fomentar a implementação de medidas penais,
sancionatórias e de reparação da violência contra mulheres, buscando-se
a melhoria no atendimento e segurança dessa demanda social.
Entretanto, há inúmeros desafios de ordem técnica, cultural e judicial
envolvendo o tema. Nessa seara, observa-se a provável discrepância en-
tre número de casos sob análise do Poder Judiciário e das medidas pro-
tetivas deferidas, em relação ao número de prisões efetivadas. Portanto,
é necessário que a Justiça siga aperfeiçoando seus processos, de modo a
atuar conjuntamente com o restante da rede de enfrentamento e prote-
ção a violência contra a mulher na coibição desta prática.

Minicurrículo da autora:

Mestranda em Direito pela Universidade Estácio de Sá (UNESA). Pós-Gra-


duada em Direito Processual Civil pela Universidade Cândido Mendes
(UCAM) e em Direito Constitucional pela Faculdade CERS. Graduada em
Direito pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Atualmente é
Assessora Jurídica da Secretaria de Estado da Casa Civil do Estado do Rio
de Janeiro (SECC-RJ). Também atua como advogada e parecerista.

226
13
Rede de atendimento
e amparo à mulher em
situação de violência
Dossiê Mulher 2023 Sumário

Mais uma vez, uma seção do Mulher é dedicada à divulgação de infor-


mações sobre a rede de atendimento das mulheres em situação de vio-
lência, incluindo os locais e canais de denúncia. Não podemos deixar de
mencionar que o trabalho realizado pelos órgãos que compõem a rede
vem contribuindo de maneira decisiva para que muitas mulheres não en-
trem ou permaneçam no ciclo da violência.

A atuação articulada possibilita a implementação de respostas mais


efetivas e coordenadas diante das situações de violência. Além do atendi-
mento integral às mulheres vítimas de violência, também são desenvol-
vidas diferentes iniciativas voltadas para a conscientização e a prevenção
da violência, por meio de campanhas educativas e programas de capa-
citação para profissionais de diferentes áreas, como saúde, educação e
segurança pública.

Ao reunirmos informações sobre os locais e formas de atendimento às


mulheres vítimas, esperamos incentivar e facilitar a busca pelos serviços
de assistência e orientação, bem como apoios jurídico, psicológico e so-
cial especializados. Neste exercício, além da pesquisa nas páginas oficiais
dos órgãos de atendimento, realizamos contatos telefônicos para confir-
mar dados, como o endereço, horário de funcionamento, entre outros.

Entre os canais que podem ser acionados em momentos emergen-


ciais, estão disponíveis: o serviço de atendimento telefônico (190) e o apli-
cativo Rede Mulher (ambos da Secretaria de Estado de Polícia Militar), a
Central de Atendimento à Mulher (Ligue 180)103 e o serviço de denúncia
de violação de direitos humanos (Disque Direitos Humanos – Disque 100).
Todos funcionam 24 horas por dia e sete dias por semana.

As denúncias de violência doméstica e familiar ou as solicitações de


medida protetiva de urgência também podem ser realizadas por meio do
atendimento telefônico da SEPOL, que funciona de segunda a sexta-fei-
ra, das 9h às 17h (Ligue 197). As mulheres vítimas de violência acima de 18
anos também podem registrar um Boletim de Ocorrência pela internet
no seguinte endereço eletrônico: <https://dedic.pcivil.rj.gov.br/> ou nas
Delegacias de Atendimento à Mulher, ou em qualquer delegacia distrital.

103 - Para adicionar o Ligue 180 no WhatsApp, basta enviar uma mensagem para o número
(61) 9610-0180.

228
Rede de atendimento e amparo à
mulher em situação de violência Sumário

Outros canais telefônicos disponíveis são:

• Disque Denúncia – registra denúncias 24 horas por dia e sete dias


por semana por meio dos telefones: (21)2253-1177 (Região Metropolitana)
e 0300-253-1177 (nas demais regiões, com custo de uma ligação local);

• Disque Cidadania e Direitos Humanos – canal de denúncias e


orientações que funciona no estado do Rio de Janeiro 24 horas por dia e
sete dias por semana (0800-023-4567);

• Ouvidoria do Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro (MPRJ)


– atende denúncias e pedidos de informação de segunda a sexta-feira
(dias úteis), de 8h às 20h (telefones: 127 – capital / (21)2262-7015 – demais
localidades);

• Defensoria Pública – Ligue 129 (atendimento nos dias úteis das 09h
às 18h e nos finais de semanas e feriados das 11h às 18h). Atendimento
de casos urgentes todos os dias no horário de 18h às 11h (do dia seguin-
te). O contato pode ser por pelo aplicativo Defensoria RJ ou pelo e-mail:
dpplantao@defensoria.rj.def.br.

No intuito de facilitar a consulta, as informações apresentadas a partir


de agora foram organizadas seguindo a divisão política administrativa do
estado do Rio de Janeiro (Baixadas Litorâneas, Centro-Sul Fluminense,
Costa Verde, Médio Paraíba, Metropolitana, Noroeste Fluminense, Norte
Fluminense e Serrana).

Baixadas Litorâneas
Araruama
• CRAM e CREAS
Endereço: Rua Bernardo Vasconcelos, 312 – Centro
Telefone: (22) 2665-7886

Cabo Frio
• CEAM
Endereço: Rua Florisbela Rosa da Penha, 292 – Braga
Telefone: (22) 99808-2557

229
Dossiê Mulher 2023 Sumário

• DEAM
Endereço: Avenida Teixeira e Souza, s/nº – São Cristóvão
Telefone: (22) 2648-8057 – Telefone do plantão
(22) 2649-7625 – 9h - 17h

Rio das Ostras


• CEAM
Endereço: Avenida Governador Roberto Silveira, 100 – Costazul
Telefone: (22) 2771-3125

Saquarema
• CRAM e Secretaria Municipal da Mulher
Endereço: Rua Elcira de Oliveira Coutinho, 16 – Bacaxá
Telefone: (22) 99859-7841

Centro-Sul Fluminense
Miguel Pereira
• Casa do Direito da Mulher Daniella Perez
Endereço: Avenida General Ferreira do Amaral, 94 – Centro
Telefone: (24) 93500-0079

Três Rios
• NUAM
Endereço: 108ª DP – Avenida Castro Alves, 116 – Portão Vermelho
Telefone: (24) 2252-4633

Costa Verde
Angra dos Reis
• CREAS
Endereço: Rua Almirante Machado Portela, 58, Balneário
Telefone: (24) 3365-5167 / 3365-6895

230
Rede de atendimento e amparo à
mulher em situação de violência Sumário

Médio Paraíba

Barra do Piraí
• CREAS
Endereço: Rua Doutor Morais Barbosa, 120 – Centro
Telefone: (24) 2444-4546

Barra Mansa
• CREAS e CEAM
Endereço: Rua Santos Dumont, 126 – Centro
Telefone: (24) 3322-6957 / 3512-5632
Ramal 1029 (CEAM) / Ramal 1027 (CREAS)

Itatiaia
• Secretaria Municipal de Políticas Públicas para as Mulheres
Endereço: Rua Coronel Mendes Bernardes, 14 – Vila Paraíso
Telefone: (24) 3352-1339

Resende
• NIAM
Endereço: Rua Macedo de Miranda, 81 – Jardim Jalisco
Telefone: (24) 3360-9824

• NUAM
Endereço: 89ª DP – Avenida Rita Maria Ferreira da Rocha, s/nº – Jardim
Jalisco
Telefone: (24) 3354-6440

Volta Redonda
• CEAM
Endereço: Rua Antônio Barreiros, 232 – Nossa Senhora das Graças
Telefone: (24) 3339-9025 / 0800-0229090
E-mail: ceam@voltaredonda.rj.gov.br

• DEAM
Endereço: Avenida Lucas Evangelista, 667 – Aterrado
Telefone: (24) 3338-9638

231
Dossiê Mulher 2023 Sumário

• Secretaria Municipal de Políticas para Mulheres e Direitos Humanos


Endereço: Rua Antônio Barreiros, 232, 2º andar –Nossa Senhora das Graças
Telefone: (24) 3339-9215

Região Metropolitana

Duque de Caxias
• CEAM Idacilde do Prado Lameu
Endereço: Alameda Rui Barbosa, s/nº, Quadra 17, Lote 08 –
Jardim Primavera, Duque Caxias
Telefone: (21) 2773-1896

• CEAM Idacilde do Prado Lameu


Endereço: Av. Brigadeiro Lima e Silva, 1618 – Jardim Vinte e Cinco de
Agosto (funcionando temporariamente no prédio da assistência social)
Telefone: (21) 97907-1165

Maricá
• Centro de Referência da Mulher Natália Coutinho Fernandes
Endereço: Rua Vereador Luiz Antônio da Cunha, 50 – Centro
Telefone: (21) 99112-5905 / 99107-9691 (8h - 17h)

Mesquita
• CEAM
Endereço: Rua Paraná, 1, 2º andar, sala 210 – Centro, Fórum de Mesquita
Telefone: (21) 2797-8661 (Ramal 8661) / 99112-5905

Nilópolis
• Casa da Mulher Nilopolitana
Endereço: Rua Antônio João Mendonça, 65 – Centro
Telefone: (21) 2691-6887

Niterói
• CEAM
Endereço: Rua Cônsul Francisco Cruz, 49 – Centro
Telefone: (21) 2719-3047 / 2620-6638 / 96992-6557

232
Rede de atendimento e amparo à
mulher em situação de violência Sumário

• CODIM
Endereço: Rua Jornalista Rogério Coelho Neto, s/nº – Centro, Caminho
Niemeyer
Telefone: (21) 98321-0548 (WhatsApp)

• DEAM
Endereço: Avenida Ernani do Amaral Peixoto, 577 – Centro
Telefone: (21) 2717-0900 / 2719-3220 / 2717-0558

• Núcleo de Atendimento à Mulher


Endereço: Rua XV de Novembro, 8, 4º andar – Centro
Telefone: (21) 96569-1755 (só funciona na parte da tarde)

Petrópolis
• CRAM
Endereço: Rua Santos Dumont, 100 – Centro
Telefone: (24) 2243-6152 / 98839-7387 (emergências)

Rio de Janeiro
• Casa da Mulher Carioca Dinah Coutinho
Endereço: Rua Limites, 1349 – Realengo
Telefone: (21) 3464-1870

• CEAM Chiquinha Gonzaga


Endereço: Rua Benedito Hipólito, 125 – Centro
Telefone: (21) 2517-2726 / 98555-2151
Site: http://chiquinhagonzaga.com/wp/centro-especializado-de-
atendimento-a-mulher-chiquinha-gonzaga/

• CEJUVIDA – Central Judiciária de Abrigamento Provisório da Mulher


Vítima de Violência Doméstica
Endereço: Rua Dom Manoel, s/nº – Centro (Plantão Judiciário)
Telefone: (21) 3133-3894
(funciona diariamente das 18h às 11h do dia seguinte, inclusive em
finais de semana e feriados. Presta o primeiro atendimento às
mulheres vítimas de violência doméstica e familiar, sempre que os
serviços especializados dos centros de referência não estiverem em
funcionamento)

233
Dossiê Mulher 2023 Sumário

• CRM – Centro de Referência para Mulheres Suely Souza de Almeida


Endereço: Praça Jorge Machado Moreira, s/nº – Cidade Universitária
Telefone: (21) 3938-0623 / 3938-0600

• NUDEM – Núcleo Especial de Defesa dos Direitos da Mulher


Endereço: Rua do Ouvidor, 90, 4° andar – Centro
Telefone: (21) 2526-8700

São Gonçalo
• CEOM – Centro Especial de Orientação à Mulher Zuzu Angel /
Patrícia Acioli
Endereço: Rua Camilo Fernandes Moreira, s/nº – Neves
Telefone: (21) 96427-0012 / 3758-5060

São João de Meriti


• CEAM
Endereço: Rua Defensor Público Zilmar Pinaud, 122 – Vilar dos Teles
Telefone: (21) 2651-1198 / 2662-7626 (WhatsApp)

Tanguá
• CEAM
Endereço: Rua Jobel José Cardoso, 1621 – Pinhão (funciona ao lado da
Casa Rosa)
Telefone: (21) 99977-2478

Noroeste Fluminense
Campos dos Goytacazes
• DEAM
Endereço: Rua Barão de Miracema, 231 – Centro
Telefone: (22) 2738-1254

• CEAM e Subsecretaria de Políticas para Mulheres


Endereço: Rua dos Goytacazes, 257 – Centro
Telefone: (22) 98175-0160

234
Rede de atendimento e amparo à
mulher em situação de violência Sumário

Macaé
• CEAM Pérola Bichara Benjamim
Endereço: Rua São João, 33 – Centro
Telefone: (22) 2796-1045
• Secretaria de Políticas para as Mulheres
Endereço: Rua Luiz Bellegard, 139 – Imbetiba
Telefone: (22) 2796-1149 / 99817-0976

São João da Barra


• CREAS
Endereço: Rua São João, 571 – Centro
Telefone: (22) 2741-8078

Região Serrana
Nova Friburgo
• CREM – Centro de Referência da Mulher
Endereço: Avenida Alberto Braune, 223 – Centro
Telefone: (22) 2525-9226 / 99767-6257

• DEAM
Endereço: Avenida Presidente Costa e Silva, 1051 – Vila Nova
Telefone: (22) 2533-1852 / 2533-1694

Teresópolis
• CRAM
Endereço: Avenida Lúcio Meira, 375 – Várzea
Telefone: (21) 2742-1038 / 98805-4391

• Secretaria de Direitos da Mulher


Endereço: Avenida Lúcio Meira, 375, 2º Piso – Várzea
Telefone: (21) 2742-1038 / 98805-4391

235
14
Apêndices
Apêndices Sumário

Tabela 01 – Mulheres vítimas – regiões administrativas do estado do


Rio de Janeiro – 2022 (números absolutos)

Violência Violência Violência Violência Violência


Região
Física Moral Patrimonial Psicológica Sexual

Estado do Rio de
38.576 30.132 6.039 43.594 7.363
Janeiro

Baixadas Litorâneas 2.395 2.258 497 3.055 537

Centro-Sul
967 884 156 1.249 179
Fluminense

Costa Verde 792 660 146 881 155

Médio Paraíba 1.920 1.724 373 2.600 310

Metropolitana 28.554 21.433 4.132 31.126 5.399

Noroeste Fluminense 875 725 139 1.018 125

Norte Fluminense 1.556 1.136 334 1.826 359

Serrana 1.517 1.312 262 1.839 299

Fonte: Elaborada pelo ISP com base em dados da SEPOL.

Tabela 02 – Mulheres vítimas – regiões administrativas do estado do


Rio de Janeiro – 2022 (taxa por 100 mil mulheres)

Violência Violência Violência Violência Violência


Região
Física Moral Patrimonial Psicológica Sexual

Estado do Rio de
423,53 330,82 66,30 478,63 80,84
Janeiro

Baixadas Litorâneas 524,51 494,50 108,84 669,05 117,60

Centro-Sul
642,08 586,97 103,58 829,32 118,85
Fluminense

Costa Verde 526,72 438,93 97,10 585,91 103,08

Médio Paraíba 27,74 24,91 5,39 37,57 4,48

Metropolitana 5.979,19 4.488,06 865,24 6.517,77 1.130,55

Noroeste Fluminense 509,41 422,08 80,92 592,66 72,77

Norte Fluminense 313,68 229,01 67,33 368,11 72,37

Serrana 532,24 460,32 91,92 645,22 104,90

Fonte: Elaborada pelo ISP com base em dados da SEPOL.

237
Dossiê Mulher 2023 Sumário

Tabela 03 – Mulheres vítimas – Municípios do estado do


Rio de Janeiro – 2022 (números absolutos)

Violência Violência Violência Violência Violência


Municípios
Física Moral Patrimonial Psicológica Sexual

Angra dos Reis 474 393 104 526 103

Aperibé 50 34 4 35 6

Araruama 285 318 83 450 76

Areal 44 37 2 47 4

Armação dos
155 181 56 228 54
Búzios

Arraial do Cabo 133 81 14 142 21

Barra do Pirai 201 119 26 283 27

Barra Mansa 312 255 61 420 43

Belford Roxo 1.148 625 179 1.359 200

Bom Jardim 45 61 9 88 16

Bom Jesus de
100 86 14 119 18
Itabapoana

Cabo Frio 611 576 112 724 125

Cachoeiras de
118 94 11 136 28
Macacu

Cambuci 43 49 5 64 6

Campos dos
686 439 204 825 151
Goytacazes

Cantagalo 50 28 5 56 17

Carapebus 19 14 4 15 10

Cardoso Moreira 23 27 6 42 15

Carmo 58 64 22 62 12

Casimiro de Abreu 106 117 19 128 26

Comendador Levy
24 24 0 29 6
Gasparian

Conceição de
55 33 5 61 10
Macabú

Cordeiro 98 58 14 112 11

Duas Barras 40 34 11 60 11

Duque de Caxias 2.056 1.182 268 2.015 402

Engenheiro Paulo
33 45 2 51 8
de Frontin

Guapimirim 179 160 39 232 48

Iguaba Grande 83 61 11 93 20

238
Apêndices Sumário

Violência Violência Violência Violência Violência


Municípios
Física Moral Patrimonial Psicológica Sexual

Itaboraí 410 227 42 374 89

Itaguaí 423 192 58 304 63

Italva 30 41 7 45 13

Itaocara 88 71 23 91 11

Itaperuna 235 193 34 320 30

Itatiaia 102 93 18 143 21

Japeri 251 102 21 204 65

Laje do Muriaé 30 7 2 23 1

Macaé 388 283 41 452 112

Macuco 27 12 1 15 2

Magé 775 361 95 836 150

Mangaratiba 190 157 25 211 30

Maricá 511 396 84 705 123

Mendes 60 49 13 85 14

Mesquita 442 298 81 426 82

Miguel Pereira 105 166 37 189 23

Miracema 52 38 9 50 12

Natividade 42 34 7 47 9

Nilópolis 457 337 52 429 51

Niterói 1.149 1.177 166 1.349 222

Nova Friburgo 563 438 79 627 85

Nova Iguaçu 2.510 1.651 471 2.554 436

Paracambi 165 115 36 172 21

Paraíba do Sul 121 59 24 121 30

Paraty 128 110 17 144 22

Paty dos Alferes 114 99 23 137 25

Petrópolis 744 708 122 881 147

Pinheiral 97 107 25 125 8

Piraí 58 55 7 77 14

Porciúncula 64 70 10 66 2

Porto Real 54 28 16 69 9

Quatis 21 18 7 35 13

Queimados 490 383 69 532 83

Quissamã 81 70 13 81 11

Resende 268 272 50 346 56

239
Dossiê Mulher 2023 Sumário

Violência Violência Violência Violência Violência


Municípios
Física Moral Patrimonial Psicológica Sexual

Rio Bonito 113 113 24 155 25

Rio Claro 39 32 8 43 10

Rio das Flores 29 38 5 65 6

Rio das Ostras 408 407 97 558 83

Rio de Janeiro 13.868 11.658 1.952 15.884 2.663

Santa Maria
27 18 4 39 3
Madalena

Santo Antônio de
108 83 18 118 13
Pádua

São Fidélis 99 118 24 162 14

São Francisco de
100 47 12 80 17
Itabapoana

São Gonçalo 1.380 942 192 1.244 257

São João da Barra 105 105 25 108 19

São João de Meriti 1.002 498 128 986 196

São José de Ubá 7 3 0 10 1

São José do Vale do


54 58 8 92 19
Rio Preto

São Pedro da Aldeia 220 171 25 251 55

São Sebastião do
7 17 2 16 1
Alto

Sapucaia 38 44 3 53 11

Saquarema 332 296 70 406 68

Seropédica 280 161 28 275 42

Silva Jardim 62 50 10 75 9

Sumidouro 38 41 6 53 3

Tanguá 83 53 14 74 6

Teresópolis 496 463 99 591 117

Trajano de Morais 14 20 2 28 2

Três Rios 322 272 43 410 51

Valença 210 193 40 323 20

Varre-Sai 26 16 6 30 3

Vassouras 106 89 9 127 7

Volta Redonda 529 514 110 671 83

Fonte: Elaborada pelo ISP com base em dados da SEPOL.

240
Apêndices Sumário

Tabela 04 – Estimativa de mulheres residêntes – regiões administrativas


do estado do Rio de Janeiro – 2022 (números absolutos)

Região Mulheres residentes (estimativa)

Estado do Rio de Janeiro 9.108.159

Baixadas Litorâneas 456.620

Centro-Sul Fluminense 150.605

Costa Verde 150.365

Médio Paraíba 6.920.178

Metropolitana 477.556

Noroeste Fluminense 171.769

Norte Fluminense 496.046

Serrana 285.020

Fonte: Elaborada pelo ISP com base em dados da SEPOL.

241
Secretaria da
Casa Civil

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