Texto - Reexame de Competências - Prahalad
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REEXAME DE COMPETÊNCIAS
Por C. K. Prahalad
As vésperas do novo milênio, pensadores de todas as áreas vêm trabalhando duro para
projetar as mudanças que estão a caminho e sua possível influência. No território do management, já há
um intenso debate em torno desse futuro próximo e, neste artigo, é a vez de C. K. Prahalad, um dos
maiores especialistas em estratégia da atualidade e criador do conceito de "competência essencial", dar
sua contribuição. Segundo Prahalad, é possível identificar pelo menos oito mudanças significativas em
andamento - globalização, desregulamentação e privatização, volatilidade, convergência, fronteiras
menos definidas entre os setores de atividade, prevalência de padrões, fim da intermediação e nova
consciência ecológica - e elas precisam ser administradas simultaneamente. Neste artigo, Prahalad
descreve tais mudanças, avalia seu impacto e sugere o reexame das competências necessárias a um
negócio em vista disso. Ele vai direto ao ponto, relacionando os principais componentes das novas
competências.
Com o novo milênio, todos os executivos precisam enfrentar novos desafios competitivos.
Não basta pensar em qualidade total, agilidade e downsizing. Como as mudanças transformam certas
competências essenciais em "inflexibilidades" perigosas, os executivos precisam saber "esquecer"
seletivamente e "aprender" com tenacidade.
AS OITO MUDANÇAS
Na nova economia, qualquer uma dessas oito mudanças pode ser administrada, mas exercerá
impacto sobre uma companhia. Esse impacto vai afetar as empresas de maneiras diferentes. Tomadas
como um todo, tais mudanças obrigarão as empresas a:
Permanecer atentas às transações internacionais. Isso significa que todas as empresas terão de
se preocupar com a multiplicidade de unidades, de culturas, de conjuntos de habilidades e de
perspectivas empresariais.
Permanecer atentas às alianças temporárias. Nessas alianças, o aprendizado é tão importante
quanto garantir a propriedade intelectual, o que exige que as pessoas estejam abertas a novas
idéias ao mesmo tempo em que protegem interesses vitais de sua empresa.
Encarar a velocidade como uma questão importante - não apenas a velocidade no
desenvolvimento de produtos, mas também na transferência de conhecimento entre mercados e
empresas. As empresas competitivas terão de absorver esse novo conhecimento e reconfigurar
seus negócios.
Reavaliar o modelo empresarial usado. As crenças atuais sobre o ,luso intensivo de capital" de
uma empresa ou sobre o "modelo de lucro" associado podem ou não permanecer válidas. O
modelo empresarial precisa ser reavaliado e adaptado para atender às exigências da nova
economia.
Uma competência essencial pode ser representada como uma função multiplicadora desses
três elementos. Para administrar as mudanças competitivas, os executivos defrontarão desafios novos e
complexos. Eles deverão tomar as seguintes iniciativas:
Essa transferência de conhecimento é de mão dupla e crucial para que exista uma combinação
proveitosa. Entretanto, a maioria das organizações tende a rejeitar essas novas habilidades. É pouco
provável que uma empresa venha a absorver as novas habilidades sem ser pressionada. Portanto,
um dos papéis cruciais da direção da empresa é legitimar os novos conhecimentos. Os altos
executivos precisam não apenas enfatizar sempre a orientação estratégica para todos os
funcionários, como também identificar os novos conhecimentos que os ajudarão a criar o futuro
almejado. E, além disso, vários níveis da organização precisam aprender e aplicar o "saber" desse
novo conhecimento. Não basta identificar a necessidade de novos conhecimentos e tomar as
providências para adquiri-los (incluindo aqui as alianças). É preciso dar legitimidade e urgência a
essa tarefa.
Quando a colaboração tem início no contexto multicultural (por exemplo, a colaboração entre
equipes de três continentes), surgem os conflitos e os mal-entendidos. Torna-se uma necessidade
compreender profundamente os padrões de socialização dos grupos envolvidos. Mais do que isso,
os executivos precisam evitar o costume de estereotipar os grupos.
4. APRENDER A ESQUECER. E fácil exortar uma pessoa ou uma organização a aprender. Mas talvez
seja igualmente importante esquecer. A lógica predominante da empresa ou das pessoas pode se
tornar um sério obstáculo ao aprendizado. Os executivos precisam primeiro aprender a esquecer, e
esquecer é mais difícil do que aprender. Em muitas organizações, a curva de esquecimento é
achatada, o que é um problema sério em uma era de mudanças.
Por exemplo, é necessário um esforço enorme para mudar de uma visão de "custo maior" da
empresa para uma visão de "preço menor". As duas fórmulas são: 1) Custo + Lucro = Preço; 2)
Preço - Lucro = Custo.
Os setores desregulamentados estão passando por situação semelhante. Antes, o mercado era o
"regulamentador"; algumas pessoas acrescentariam que a concorrência também era a
"regulamentadora". Muitas empresas acabaram ficando parecidas e agiam da mesma forma. A
variedade, quando havia, era mínima. Só que, na concorrência baseada no mercado, o jogo inclui
clientes, diferenciação, desempenho dos preços, inovação e concorrência. É um ambiente
competitivo totalmente diferente. Para concorrer na nova economia é essencial esquecer os antigos
padrões.
Sem essa compreensão, não existe uma estrutura conceitual para o compartilhamento. Por outro
lado, uma estrutura conceitual, sem sistemas de apoio organizacional, dificilmente funciona. Muitas
companhias investem tempo e energia na criação de projeções do futuro e permanecem apegadas a
sistemas administrativos que reforçam a orientação para as unidades de negócios, com exclusão de
todos os outros. É como se abordássemos uma estratégia de quarta geração utilizando uma base de
conhecimentos de terceira geração, executivos de segunda geração e sistemas administrativos de
primeira geração.
COMPONENTES DAS COMPETÊNCIAS
Desnecessário dizer, o equilíbrio entre os elementos é uma meta móvel. À medida que
evoluem, as mudanças no cenário competitivo exercem um impacto sobre a natureza e a composição
dos elementos da base de competências da empresa. Os altos executivos precisam avaliar e calibrar
continuamente essas mudanças e fazer os devidos ajustes em seu foco.
CRIAÇÃO DE COMPETÊNCIAS
Mas o que o desenvolvimento de uma nova competência deve incluir? O papel das pessoas,
das equipes, de toda a organização e o processo pelo qual a excelência individual, o conhecimento
científico, a criatividade e a imaginação são transformados em expertise da equipe e em capacidade de
toda a organização.
O desafio dos altos executivos é criar medidas específicas para administrar essa transformação
e montar um programa de desenvolvimento de novas competências que preveja o investimento em:
socialização - por meio de viagens e missões internacionais -, aprendizado de idiomas e ampla
documentação, não burocrática, para a transferência do conhecimento empresarial.