A Abordagem Pikler No Brasil e Suas Contribuicoes
A Abordagem Pikler No Brasil e Suas Contribuicoes
A Abordagem Pikler No Brasil e Suas Contribuicoes
2023v8n2p465
Cassiana Magalhães 2
https://orcid.org/0000-0002-6609-691X
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Mestranda em Educação e licenciada em Pedagogia pela Universidade Estadual de Londrina.
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Doutora em Educação. Docente do Departamento de Educação e do Programa de Pós-Graduação em
Educação da UEL.
Abstract: The object of this theoretical essay is the Pikler Approach. We started from the
guiding question: How does the Pikler Approach contribute to the organization of pedagogical
practice with young children in early childhood education? The objective was to understand the
emergence of the approach in Brazil and its contributions to the pedagogical practice in early
childhood education. To do so, the methodology started from readings and deepening in the
discussions present in the texts by Appell and David (2021); Falk (2021, 2022); Kálló (2021a,
2021b); Kálló and Balog (2021); Nabinger (2018); Rede Pikler Brasil (2022); Soares (2020);
Tardos and Szanto (2021); Tardos (2022). The data revealed that the Pikler Approach presents
important indicators to think about the pedagogical practice for and with children in early
childhood education, from the organization of space, respect for the specificities of young
children, the importance of adult observation, as well as the interaction of children with their
peers and adults.
Keywords: Emmi Pikler; Child Education; Pikler Approach.
Introdução
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Psicóloga de origem húngara naturalizada francesa, mestra e doutora pela Universidade de Paris VIII,
atuou por muitos anos como consultora de escolas de Educação Infantil na França. É vice-presidente da
Associação Pikler-Lóczy da França.
O espaço, depois de se tornar seguro, deve ser ornamentado de tal forma que
convide o bebê e a criança pequena a participarem, podendo se utilizar de tudo ao seu
redor em seu favor, não esquecendo de pensar, outrossim, no espaço ao ar livre, no qual
há muitos materiais a serem explorados pelos pequenos, como no caso de folhas,
galhos, troncos, pedras, areia, entre outros, que podem ser aproveitados para esse
momento de brincadeira.
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Esse grupo de estudos foi realizado pela plataforma Zoom, tendo oito encontros (síncronos), todas as
quartas-feiras, às 20 horas, do dia 2 de fevereiro de 2022 a 30 de março de 2022, cujo objetivo foi
discutir sobre como os bebês e as crianças brincam de acordo com as aproximações da Abordagem
Pikler.
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Paulista, formadora de educadores, pedagoga, especialista em Educação Infantil e estudiosa de tudo o
que envolve os três primeiros anos, como a escuta para as crianças, suas interações, cuidados e
desenvolvimento. Conselheira fiscal da Associação Pikler Brasil e membro atuante da Rede Pikler
Brasil (comissão de comunicação), que se dedica a estudar, aprofundar e disseminar a Abordagem
Pikler no Brasil.
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Pernambucana, especialista em Educação Infantil, mestranda em Educação, Culturas e Identidades e
estudiosa da educação de 0 a 3 anos.
Balog, 2021). Além disso, muitos brinquedos convencionais também são bem-vindos,
apenas devem ser observados em relação a seu objetivo na brincadeira.
Nos primeiros três meses de vida, “[...] o bebê está centrado nas sensações
internas de seu organismo [...]” (Soares, 2020, p. 32), as sensações táteis, visuais e
auditivas. Seu primeiro brinquedo é seu próprio corpo (Kálló, 2021b, p. 20).
Por isso, na Abordagem Pikler não se recomenda amarrar brinquedos na grade dos
berços, como se fossem chocalhos, pois distraem os bebês de descobrirem si mesmos,
além de que eles podem bater e olhar o objeto, mas não têm a liberdade de manipulá-lo
e investigá-lo nos diversos ângulos e movimentações (Kálló, 2021b). O melhor
momento para oferecer o primeiro brinquedo ao bebê é quando ele começa a olhar
muitas vezes para as suas mãos, interessando-se pelo o seu redor, observando o berço,
suas grades, agarrando os detalhes de sua roupa ou da roupa de sua educadora. Emmi
Pikler sugere que o primeiro brinquedo seja um pano de algodão (de 35 x 35 cm de
tamanho), de cor viva, que atraia sua atenção, como no caso de um pano vermelho com
bolinhas, um objeto muito marcante em sua abordagem (Kálló, 2021b).
A Abordagem Pikler recomenda que, no início da brincadeira, a posição para
deixar o bebê seja de costas, pois assim ele terá os braços e as pernas livres para
movimentar e explorar ao redor. Aos poucos, ele mesmo, por conta própria, começa a
identificar os pontos que têm mais apoio para conquistar as novas posições, respeitando
o seu próprio ritmo, com seu esforço natural, espontâneo, com segurança e sem
tentativas e erros por iniciativa dos adultos, com o objetivo de estimular a criança a
alcançar algumas etapas (Soares, 2020).
Ademais, se o adulto ajudar a criança a conquistar certa posição de forma direta,
pode acabar incentivando sua dependência a ele, tornando-a inativa e prejudicando sua
conquista da autonomia e do movimento livre. É adequado que, quando o bebê começa
a explorar suas novas posições e caso não consiga voltar para a posição inicial, a
educadora intervenha, pegue o bebê no colo e o coloque na posição inicial (Falk, 2022).
Aos 5 meses de idade, grande parte das crianças consegue pegar o brinquedo que
deseja e o explora de diversas formas: girando, apertando, depois sacudindo, passando
de uma mão para outra. E quando os bebês começam a utilizar as duas mãos, estão
usando os dois lados do cérebro, “[...] treinando a coordenação dos braços e das mãos”
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Ver mais informações em Blank (2014).
Foi possível perceber uma pequena diferença de alguns meses entre os bebês e
suas conquistas de acordo com a escala, mas sem que isso seja considerado um atraso
ou um problema. O importante é que ela esteja ativa em suas atividades (Falk, 1997
apud Soares, 2020).
É importante manter o respeito à criança e ao seu ritmo, pois às vezes o motivo de
seu “atraso” em relação ao esperado ocorre pela falta de confiança, por não se sentir
segura suficientemente para arriscar a exploração. Quem garante esse espaço seguro e
afirma para a criança que ela é capaz é o adulto (Falk, 2022).
Foi possível observar, quanto à motricidade e à autonomia, a importância do
espaço seguro e da observação. O adulto, ao organizar o espaço com diversidade de
materiais e segurança, potencializa a ação da criança no desenvolvimento de sua
autonomia.
4. Conclusão
O objeto de estudo desta pesquisa foi a Abordagem Pikler, por considerar a
importância de conhecer e discutir diferentes abordagens para a Educação Infantil. O
estudo pretendeu contextualizar o surgimento da Abordagem Pikler no Brasil e
compreender suas contribuições para a prática pedagógica na Educação Infantil.
Retomando o questionamento proposto inicialmente: como a Abordagem Pikler
contribui para a organização da prática pedagógica com as crianças pequenas na
Educação Infantil?
É possível inferir que Abordagem Pikler apresenta rico potencial para a
organização das práticas pedagógicas, especialmente quando lança o olhar para: (a) a
observação do adulto; (b) o respeito às especificidades da criança; (c) orienta a
organização do espaço e dos recursos materiais; (d) enfatiza a importância da
brincadeira; (e) incentiva a motricidade e a autonomia; (f) estimula a interação das
crianças com seus pares e com os adultos.
Independentemente da abordagem teórica que escolhemos em nossa atuação com
as crianças pequenas, concordamos que respeitar as especificidades desse período da
vida é essencial. Entretanto, isso não significa deixar as crianças à sua própria sorte. Na
Abordagem Pikler, entendemos que, apesar de anunciar um brincar livre, por exemplo,
existe preocupação com a preparação do espaço, a diversidade e o acesso de materiais.
Cabe ainda ressaltar que a Abordagem Pikler encontra respaldo na prática, por
meio do Instituto Lóczy. Nessa perspectiva, o adulto, o educador ou o responsável pela
criança consegue enxergá-la, ainda mais, como participante ativa da prática pedagógica,
visando ao seu bem-estar e ao seu pleno desenvolvimento, garantindo o respeito e a
segurança.
Conhecer e estudar os pressupostos da teoria é fundamental, em especial o
contexto histórico da Abordagem Pikler, que se dá após a Segunda Guerra Mundial,
quando muitas famílias foram separadas, crianças se tornaram órfãs, ou ainda pela
inaptidão dos pais que estavam doentes e as crianças que não tinham com quem viver.
O fato de acolher com afeto certamente fez muita diferença no processo de
aprendizagem e desenvolvimento das crianças.
Por fim, acreditamos que os pressupostos difundidos pela Abordagem Pikler
podem contribuir com outros estudos e diversas práticas pedagógicas na Educação
Infantil, com vistas à promoção da aprendizagem e do desenvolvimento das crianças
com respeito à infância.
Referências
FALK, Judit (org.). Educar os três primeiros anos: a experiência Pikler - Lóczy. 3. ed.
São Carlos: Pedro & João Editores, 2021.
FALK, Judit (org.). Abordagem Pikler: educação infantil. 3. ed. São Paulo:
Omnisciência, 2022.
KÁLLÓ, Éva; BALOG, Györgyi (org.). As origens do brincar livre. 2. ed. São Paulo:
Omnisciência, 2021.
KÁLLÓ, Éva. Colecionando. In: KÁLLÓ, Éva; BALOG, Györgyi (org.). As origens do
brincar livre. 2. ed. São Paulo: Omnisciência, 2021a. p. 41-47.
primeiro ano. In: KÁLLÓ, Éva; BALOG, Györgyi (org.). As origens do brincar livre. 2.
ed. São Paulo: Omnisciência, 2021b. p. 20-40.
NABINGER, Sylvia. A chegada das ideias de Emmi Pikler no Brasil. In: FREITAS,
Anita Viudes; PELIZON, Maria Helena; CHAVES, Rosa Silvia Lopes (org.). Olhares
em diálogo na educação infantil: aproximações com a abordagem de Emmi Pikler.
Porto Alegre: Sá Editora, 2018. p. 11-16.
REDE PIKLER BRASIL. Home. Porto Alegre: Rede Pikler Brasil, 2022. Disponível
em: https://pikler.com.br/. Acesso em: 27 jan. 2022.
TARDOS, Anna; SZANTO, Agnés. O que é autonomia na primeira infância? In: FALK,
Judit (org.). Educar os três primeiros anos: a experiência Pikler - Lóczy. 3. ed. São
Carlos: Pedro & João Editores, 2021. p. 45-57.
TARDOS, Anna. Autonomia e/ou dependência. In: FALK, Judit (org.). Abordagem
Pikler: educação infantil. 3. ed. São Paulo: Omnisciência, 2022. p. 56-67.