Apostila - Matérias-Primas para Produção de Biodiesel

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Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia da Bahia

Campus de Porto Seguro

Capítulo: Matérias-primas para produção de biodiesel

Inúmeras espécies vegetais podem servir como matérias-primas para a


produção de biodiesel. As oleaginosas são plantas que contém um alto teor de óleo,
tanto a partir de suas sementes (soja, colza/canola, girassol) como a partir de seus
frutos (palma, babaçu, coco), podendo ser utilizadas para a produção de óleo
vegetal. Além dos óleos de origem vegetal (oleaginosas), existem os óleos de
origem animal e microbiana.
Existem mais de 350 oleaginosas reconhecidas mundialmente como fontes
potenciais para a produção de biodiesel. A grande variedade de matérias-primas
representa uma das oportunidades mais importantes para este biocombustível. As
matérias-primas podem ser divididas nas seguintes categorias:

Diversos tipos de óleos têm sido utilizados como matéria-prima para a


produção de biodiesel, de acordo com sua disponibilidade em cada país. Em
diversos países, existe uma dependência maior de uma ou duas culturas em virtude
da viabilidade que elas possuem levando-se em conta o fornecimento contínuo e de
grande escala. A Europa, por exemplo, depende basicamente da colza, enquanto os
Estados Unidos, Argentina, Brasil, China e Índia se apoiam principalmente na soja,
enquanto os óleos de coco e dendê são frequentes na Malásia, Indonésia e
Colômbia.
Tabela – Matérias-primas utilizadas para a produção de biodiesel por região. Fonte:
ANP (2018).

No Brasil, a diversidade de culturas agrícolas (oleaginosas) a serem


empregadas é grande e varia conforme as características de cada região ou estado
brasileiro. A soja possui potencial de cultivo em todas as regiões brasileiras, com
destaque para as que tradicionalmente a produzem: a região Centro-Oeste e a
região Sul.
Como pode ser visto no gráfico, hoje, a maior parte do biodiesel produzido no
Brasil é de origem vegetal, com notável predominância da soja. A porcentagem de
biodiesel brasileiro derivado da soja vem variando mês a mês, mas em média oscila
em torno de 70% do total da produção nacional. Para reduzir a dependência de um
só produto, o governo vem incentivando também o uso de outros materiais.
Quanto à gordura animal para produção de biodiesel, são bastante utilizados os
rejeitos de abatedouros de bovinos e suínos, além dos rejeitos do processamento
de frango e de peixe, entre outras matérias graxas de origem animal, que podem
ser obtidas em curtumes, frigoríficos e abatedouros de animais de médio e grande
porte. Entretanto, o sebo de boi merece destaque, tornando-se a segunda principal
fonte para produção de biocombustível. A gordura do boi chegou a responder por
25% da produção nacional em março de 2008 e em geral tem se mantido em torno
dos 10%.
Em relação aos óleos residuais de fritura, as principais fontes são o óleo de
cozinha de restaurantes, bares e lanchonetes; a matéria graxa de esgotos; e as
águas residuais da indústria de alimentos.
O custo das matérias-primas representa cerca de 80% do custo final da
produção de biodiesel. Para alguns estudiosos, o biodiesel nacional só vem se
desenvolvendo por causa da sua obrigatoriedade legal, uma vez que o seu preço
sempre foi superior ao do diesel mineral, tornando-o, portanto, pouco competitivo.
Outro problema é que a tecnologia de produção de biodiesel instalada no Brasil
(transesterificação) é específica para óleos de baixa acidez, como a soja por
exemplo, que apresentam maior custo que os óleos de alta acidez.

Tabela – Relação entre produtividade e produção anual de óleos. Fonte: CONAB, 2004.
A relação entre a produtividade agrícola e consequente produtividade de óleo
por hectare de determinadas oleaginosas é apresentada na tabela acima. Nota-se
que a mamona é a cultura que apresenta maior teor de óleo em sua semente.
O babaçu, em contrapartida, é a que apresenta o menor teor de óleo, mas possui
a vantagem de ser nativa. Esta cultura apresenta a maior produtividade de frutos
(cerca de 15 t/ha) e a terceira maior produção de óleo com 0,90 t/ha.
A palma, apesar de possuir quase metade da porcentagem de teor de óleo em
relação à mamona, tem a maior produtividade quando comparada a todas as
matérias-primas correlacionadas, sendo superada apenas pelo babaçu. A produção
de óleo da palma é muito expressiva, cerca de 2,0 t/ha.

Figura – Produção global de biodiesel por matéria-prima. Fonte: Oil Worlds (2017)

Observa-se o aumento da produção de biodiesel, na qual predomina o uso de


óleo de soja, de canola e de dendê. A figura mostra um crescimento no uso de óleos
usados ou fritura e gordura animal para a produção de biocombustível a partir de
2010. Essas duas matérias-primas têm sido consideradas fontes potenciais de
produção de biodiesel, principalmente devido ao seu alto índice de cetano, boa
estabilidade e baixo preço.
Esse domínio da soja vem desde os primórdios da produção de biodiesel no
Brasil e demonstra inicialmente o fracasso do PNPB em diversificar as matérias
primas para o biocombustível, sobretudo, aquelas com maior potencial nas regiões
Norte e Nordeste do Brasil. Exemplificando, segundo os dados da ANP (2018), em
média no ano de 2017, a participação do óleo dendê/palma como matéria prima foi
de apenas 0,88% e não houve produção de biodiesel a partir do pinhão manso e
mamona. Hoje o biodiesel depende basicamente de uma oleaginosa cotada
internacionalmente e que tem múltiplos usos no setor da indústria alimentícia. A
diversificação da matéria prima produtiva é uma questão chave para a
sustentabilidade do sistema. Assim como uma questão de suma importância para
estimular o cultivo de oleaginosas no Norte e Nordeste.
A concentração da produção do biodiesel no Brasil também é uma
característica do setor, considerando que de 2005 a 2016, 66,9% da produção se
concentrou em três estados, Goiás (18,9%), Mato Grosso (19,5%) e Rio Grande do
Sul (28,4%). Não obstante, esses três estados estão entre os quatro maiores
produtores de soja, segundo dados do CONAB (2018), respondendo por
aproximadamente 53% da produção nacional.

Figura – Produção de biodiesel por estados (2005/2016). Fonte: ANP (2018)

Todo esse cenário apresentado, evidencia não somente fracasso do PNPB em


diversificar as matérias primas, mas também, e como consequência desse, o
fracasso em estimular e consolidar a mercado nas regiões mais pobres do país.

1. Óleo de soja
Atualmente, a maior parte do biodiesel produzido pelo Brasil vem da soja. A
soja é reconhecida como um alimento rico em proteínas e lipídios e a sua inclusão
na alimentação humana tem se tornado cada vez maior. Os EUA e o Brasil são os
principais produtores de soja, sendo o Brasil o segundo maior. Grande parte da
produção de óleo brasileira advém dessa leguminosa.
Quanto à produtividade (medida pela razão entre a quantidade produzida
sobre área plantada), o destaque é apenas a região sul do país como a mais
produtiva e com o melhor preço. Com relação ao preço, o principal fator que afeta a
commodity está na variação do preço no mercado internacional sobre sua oferta,
estimulando o setor a concentrar seus esforços para produzir e exportar a maior
quantidade possível de soja, diminuindo, desta maneira, as possibilidades de
produzir biodiesel para o mercado interno brasileiro.
Apesar de a soja possuir um dos menores teores de óleo por peso, ela apresenta
outras vantagens para o seu cultivo, como:
● o rápido retorno de investimento (o objetivo principal de seu plantio é a
obtenção de ração animal);
● é um dos produtos mais fáceis para vender, porque são pouquíssimos os
exportadores (EUA, Brasil, Argentina e Paraguai), mas muitíssimos os
compradores (todos os países), resultando em garantia de comercialização
a preços sempre compensadores;
● pode ser armazenada por longos períodos de tempo;
● tem crescimento relativamente rápido;
● o plantio não é restrito a climas quentes ou frios. Os programas de
melhoramento genético da soja, realizados nas últimas décadas,
possibilitaram a cultura adaptar-se a diferentes latitudes e climas, ocupando
assim grande parte do país;
● seu biodiesel não apresenta qualquer restrição para consumo em climas
quentes ou frios;
● é um dos óleos mais baratos: só é mais caro do que o óleo de algodão e da
gordura animal;

Para extrair o óleo é necessário colocar suas sementes em uma prensa de alta
pressão que as espreme até retirar-se todo o óleo contido nelas. A alta pressão
causa aumento de temperatura o que torna o óleo de coloração escura e sabor
forte. Após a prensa é feito o processo de clarificação e refinação para eliminar
impurezas. O produto final é chamado de óleo virgem ou refinado que deve estar
sem a presença de partículas sólidas e corpos estranhos.
O óleo é composto principalmente por ácidos graxos insaturados,
particularmente o linoléico e o oléico, que são facilmente oxidados nas regiões de
ligações duplas. A oxidação do biocombustível causa:
● aumento da sua viscosidade pela ocorrência de reação de polimerização
envolvendo as duplas ligações;
● em estágios mais avançados, podem levar a formação de materiais
insolúveis, tais como goma e sedimentos, que podem entupir os filtros de
combustível,
● a elevação da acidez que pode ocasionar a corrosão de componentes do
sistema de injeção.

Outras desvantagens:
● baixo teor óleo (18/20%);
● alto índice de iodo;
● baixa estabilidade à oxidação e
● alto teor de fósforo.

No cenário brasileiro destaca-se o uso da soja para produção de biodiesel.


Excetuando a soja, a importância da produção de óleo das demais oleaginosas
(mamona, dendê, girassol, pinhão manso, macaúba, canola, linhaça, gergelim, entre
outras) é muito pequena, apesar de apresentarem teores de óleo mais elevados (30
a 50%, contra 18 a 20% da soja). Isso se deve ao fato de que, quando o programa
de incentivo ao biodiesel foi lançado, o setor da soja era o que se encontrava
melhor preparado, mais consolidado e com alto desempenho para atender o
mercado consumidor. A soja tem uma cadeia produtiva bem estruturada, com
tecnologias de produção bem definidas e modernas.
Uma das explicações para a forte utilização da soja ocorre em função da
concepção do programa PNPB, que nasceu no Brasil para eliminar a super oferta de
óleo de soja, no início dos anos 2000. Isso ocorreu da mesma forma que a colza, na
Europa, onde a espécie encontrou uma demanda não alimentícia para evitar o
colapso de preços, frente à inundação de óleo de palma proveniente da Ásia.
Produzir combustíveis foi o modo encontrado para eliminar um excesso de
oferta de oleaginosas no país.
O óleo é um subproduto dessa planta, e não seu produto principal a ser
explorado, uma vez que produzir soja para comercializar seu óleo não é a fonte
mais lucrativa de seu cultivo: a sua comercialização como farelo e a exportação do
grão são mais rentáveis ao produtor. Dessa forma, não se produz soja para obter o
óleo. O óleo de soja é consequência da demanda crescente por mais farelo proteico,
a matéria-prima da ração animal que alimenta o frango, o porco e o bovino
confinado, cuja demanda não para de aumentar, resultado do crescimento da
economia e da renda per capta, principalmente dos países emergentes. Com mais
dinheiro no bolso, os cidadãos desses países estão comprando cada vez mais
proteína animal, principalmente carnes.
Embora a soja apresenta tais problemas, para o PNPB, sua utilização intensiva
ocorre devido à alta quantidade disponível em relação às demais oleaginosas, e sua
colheita ocorre a cada três meses no ano. Nesse sentido, percebe-se o porquê de as
usinas de biodiesel com alta capacidade se encontrarem no sul do país, onde a
grande quantidade de matéria-prima disponível e o valor recebido pela mesma
determinam a instalação de usinas de biodiesel.
O fato da competição direta com o ramo alimentício é o que evidencia a atual
queda da utilização da soja como matéria-prima para a produção de biodiesel.
Muitos agricultores têm preferido a venda da soja a outros setores do que às
indústrias produtoras de biodiesel, devido ao melhor valor agregado à tonelada da
soja.
O fato de a soja sofrer com variações de preço no mercado internacional e
apresentar-se como uma das matérias-primas com menor teor de óleo, a chamada
soja-dependência é tida como um dos principais entraves para o setor de biodiesel.

2. Gordura bovina

O sebo bovino era tido como resíduo da produção


carne bovina e de derivados em frigoríficos. A partir de
2005, com o PNPB, o sebo passou a ter um valor
agregado, valorizando a atividade pecuária. Hoje, o sebo
é a segunda matéria-prima mais utilizada para a produção de biodiesel no Brasil,
ocupando papel relevante na cadeia do biodiesel, ainda que sem incentivos
governamentais. O uso dessa matéria-prima é pouco associado à produção do
biocombustível, o que pode ser explicado pelo fato do mercado de sebo ser
relativamente novo e pela consequente limitação de informações sobre as
transações na cadeia produtiva (entre fornecedores, frigoríficos/graxarias, e as
plantas produtoras de biodiesel). Apesar disso, a utilização do sebo para a
produção do biodiesel é uma grande vantagem ambiental, por representar um
descarte eficiente ao produto, oriundo do abate bovino, transformando o potencial
dejeto em fonte de energia limpa. Além disso, o país possui o segundo maior
rebanho bovino do mundo.
A produção do biodiesel a partir do sebo bovino ainda possui outros benefícios,
como:
● custo inferior, em relação ao do óleo de soja;
● não exposição a eventuais quebras de safra;
● não competição com a produção de alimentos, entretanto tem disputa
direta com a indústria de sabão e sabonetes;
● alto grau de aproveitamento da matéria-prima na produção (para
exemplificar, 1 kg de sebo bovino se transforma em 1 kg de óleo, ao passo
que 1 kg de soja se transforma em 170 g de óleo;
● não depende das variações de preço internacionais.

Tecnicamente, os pontos positivos do uso do sebo consistem:


● maior poder calorífico;
● maior estabilidade à oxidação, se comparado às oleaginosas e
● maior ponto de fulgor, o que representa maior segurança com relação a
riscos de incêndio.

Uma das maiores desvantagens é a alta quantidade de ácidos graxos saturados


presentes no sebo bovino, que faz com que seu ponto de entupimento de filtro a
frio seja mais alto, tornando impossível seu uso em temperaturas mais baixas. Para
resolução desse problema, sugere-se que o biodiesel de sebo seja misturado ao
biodiesel de óleos vegetais, pois assim o PEFF é reduzido quando essas misturas
são realizadas. Costuma-se utilizar até 20% dessa gordura em mistura com os
óleos vegetais para evitar a solidificação do biocombustível.
Com a atual estruturação do mercado nacional de biodiesel, o preço do sebo
bovino aumentou e passou a sofrer influência direta de seu principal concorrente:
o óleo de soja. Desde 2006, o preço do sebo acompanha o do óleo de soja no Brasil,
que por sua vez é influenciado pelas cotações da soja na Bolsa de Mercados de
Chicago e pela variação cambial do dólar. Como a aquisição de matéria-prima é o
que mais onera a produção de biodiesel, qualquer alteração do preço relativo entre
o óleo de soja e o sebo induz o produtor a utilizar maior proporção de uma ou
outra matéria-prima. Algumas usinas costumam recorrer ao sebo bovino em maior
quantidade quando o preço do óleo de soja sobe.

3. Óleo de fritura

Ao invés de ser jogado pelo ralo, o óleo usado pode servir como uma
importante matéria-prima para a produção de biodiesel – afinal, trata-se de óleo
vegetal. E com a vantagem de ser um resíduo, um material fadado a ser descartado,
virtualmente sem valor. Sua captação depende de projetos de coleta voltados a
residências, restaurantes, lanchonetes etc. No Brasil, parte do óleo residual é
destinado à fabricação de sabões, em menor volume, à produção de biodiesel e a
maior parte é descartada na rede de esgoto.
Há três vantagens principais de se utilizar óleos residuais de frituras como
matéria prima para a produção de biodiesel: a) no âmbito tecnológico, com a não
necessidade do processo de extração do óleo; b) no âmbito econômico, devido à
diminuição do custo da matéria prima com o resíduo de fritura; c) no âmbito
ambiental, pois destina-se adequadamente um resíduo que em geral é descartado
inadequadamente no meio ambiente.
O processo de fritura pode ser definido como o aquecimento do óleo em
temperaturas entre 160 e 220 °C na presença de ar durante um período de tempo.
Durante o processo ocorrem as seguintes alterações físico-químicas no óleo:
● Aumento na viscosidade;
● Diminuição do número de iodo (número proporcional ao teor de
insaturação);
● Mudança no aspecto (cor);
● Aumento da acidez devido à formação de ácidos graxos livres;
● Odor desagradável (ranço).

Chegando à usina, o óleo é submetido a um pré-tratamento (decantação e


filtragem) para separar o produto das impurezas. Esse cuidado é necessário uma
vez que se trata de material descartado, que inexoravelmente contém todo tipo de
material. Daí para frente, o processo de fabricação do combustível é semelhante ao
dos demais óleos vegetais.
O biodiesel de óleos de fritura apresenta características bastante semelhantes
aos ésteres de óleos "novos". Por outro lado, mesmo sendo um biodiesel de óleo
parcialmente oxidado, suas características costumam ser bastante próximas às do
óleo diesel convencional. Mudanças no procedimento de reação são
frequentemente necessárias devido à presença de água e de ácidos graxos livres.
O problema a ser resolvido é a logística do processo. Reunir uma quantidade
suficiente de óleo para manter uma produção contínua de biodiesel é um
verdadeiro pesadelo logístico. Tudo porque essa quantidade não está em um único
lugar, e sim em centenas de casas, restaurantes e lanchonetes espalhados pelas
cidades.
Óleos usados são largamente utilizados como matéria-prima na síntese do
biodiesel em diversos países, tais como Austrália, China, Alemanha, Itália, Portugal,
Reino Unido e nos EUA. Enquanto isso, no Brasil, seu uso ainda se apresenta
bastante tímido encontrando como principal dificuldade a logística de
recolhimento devido, especialmente, ao despejo de modo indevido, consequência
da inexistência de uma lei que nos obrigue ou incentive a coleta e destinação do
óleo usado e da falta de uma educação ambiental mais agressiva nesse sentido.
4. Óleo de dendê ou palma

A região norte produz 81% do


total da produção brasileira de
palma, enquanto que a região
nordeste contribui com 19% da produção. Destacam-se como produtores de palma
os Estados do Pará, Bahia e Amapá. Apesar de bem adaptado na Bahia, a Amazônia
brasileira é a que possui o maior potencial para o cultivo de dendê no Brasil e,
talvez, no mundo, apresentando larga disponibilidade de terras para seu plantio.
O Programa de Produção Sustentável da Palma de Óleo no Brasil (Propalma) é
um dos incentivos governamentais a novos insumos, que tem por objetivo ordenar
a expansão da cultura da palma (dendê), garantir a competitividade do setor com
investimentos em pesquisa e aumentar a renda de agricultores familiares.

Vantagens:
● Entre as oleaginosas, a cultura do dendê é a de maior produtividade
agrícola, depois do babaçu;
● Possui um dos maiores potenciais de produção de óleo/há ficando atrás
apenas do pinhão manso;
● Pesquisas indicam que o biodiesel produzido a partir do dendê está em
conformidade com as especificações da ANP;
● A grande vantagem do biodiesel de dendê é sua alta estabilidade oxidativa
devido aos teores elevados de ácidos graxos saturados.

Desvantagens:
● O ponto de solidificação do biodiesel de dendê é muito alto, em torno de 15
°C, temperatura comumente verificada em qualquer local de clima ameno
ou temperado. Isso limita a utilização de biodiesel de dendê em regiões de
clima ameno, como o Sul do Brasil.
● Alto custo de implantação da lavoura;
● Longa maturação do investimento: 4 a 6 anos de espera;
● O processamento precisa ser efetuado logo após a colheita (até 48 horas),
caso contrário o óleo se torna rançoso, logo a usina precisa estar próxima da
produção;
● A pesquisa é escassa e os problemas agronômicos são abundantes e
● O resíduo tem baixo valor comercial.

5. Óleo de mamona

Acreditando no potencial que a mamona e o dendê teriam em promover a


inclusão social (uso intensivo de mão de obra) e o desenvolvimento regional (são
culturas preferencialmente cultivadas nas regiões Norte e Nordeste), o governo
federal elegeu-as como o carro chefe do Programa Nacional de Produção e Uso de
Biodiesel (PNPB). Se destaca por ser uma planta que se desenvolve em regiões
tropicais e semi áridas (por sua resistência à seca), abrangendo áreas como as do
Nordeste brasileiro.
Com a busca por energias renováveis, o óleo de mamona começou a ser
observado como meio produtivo para obtenção de biodiesel. Entretanto, o
biocombustível oriundo de mamona é o mais denso e viscoso de todos os óleos,
sendo aproximadamente 11 vezes mais viscoso quando comparado ao óleo de soja.

2) Porque o biodiesel de mamona é tão viscoso?

3) Quais são os problemas que a alta viscosidade ocasiona?

Embora o biodiesel de mamona possua densidade e


viscosidade acima do limite especificado para o óleo diesel, uma proporção deste
biocombustível pode ser adicionada ao diesel de petróleo, mantendo o mesmo
dentro das especificações da ANP.
Suas sementes podem variar de tamanho, formato e, principalmente, de
coloração. Destas, extrai-se o óleo de mamona, não alimentício. O principal produto
da mamona é o óleo de rícino, que é de relevante importância econômica e social,
com inúmeras aplicações industriais. Um subproduto derivado do processo de
extração do óleo é a torta, rica em nitrogênio, fósforo e potássio que pode ser
utilizada na recuperação de solos degradados, mas é tóxica, não sendo aproveitada
para alimentação animal.
Sua vantagem de possuir um teor de óleo elevado - quase três vezes maior que
o da soja - desaparece ante as seguintes desvantagens:
● A cadeia produtiva é deficiente (está ainda em formação);
● A produtividade na sua principal região produtora (NE) é baixa (300 a 500
kg/ha);
● O custo de produção é alto, considerando a necessidade de uso intensivo de
mão de obra na colheita;
● A cultura da mamona promove a erosão, estando sujeito à competição com
plantas daninhas, por não propiciar adequada cobertura do solo;
● Conta com pouca pesquisa, resultando na inexistência de variedades
produtivas;
● Seu ciclo produtivo é relativamente longo, resultando em retorno tardio do
investimento.

6. Óleo de girassol

O principal interesse da produção agrícola do


girassol é para a extração do óleo, considerado,
dentre os óleos vegetais, como um dos óleos de
melhor qualidade nutricional e organoléptica (aroma e sabor). Hoje, a produção do
girassol visa atender principalmente o mercado de óleo comestível, existindo
também um segmento interessante a ser atendido, que é o fornecimento de grãos
para alimentação para pássaros. Para produzir óleo de girassol, os grãos da planta
são prensados até que seja extraído o óleo puro. A massa resultante da extração do
óleo rende uma torta altamente proteica, usada na produção de ração.
Quanto à produção de biodiesel, o girassol tem uma grande vantagem em
relação a outras oleaginosas: o teor de óleo nos grãos que varia em torno de 40%,
enquanto em outras oleaginosas que vêm sendo utilizadas para a produção do
biodiesel, esse percentual fica em torno de 20%, como é caso da soja, por exemplo.

Algumas vantagens:
● fácil adaptação ao clima, possuindo diversas espécies que se adaptaram por
todo o território brasileiro;
● a planta é totalmente aproveitada, desde as sementes até os ramos.

Algumas desvantagens:
● devido ao alto teor de ácidos graxos insaturados, seu biodiesel apresenta
baixa estabilidade oxidativa.
● óleo nobre para alimentação humana, rico em ácidos graxos poliinsaturados
e benéfico e valorizado para a alimentação.

7. Óleo de algodão

O algodão é a segunda maior cultura oleaginosa do Brasil. No


entanto, ao contrário da soja, o algodão não é plantado pelo grão
ou pelo óleo. O que é valioso no vegetal é a fibra, matéria-prima da
indústria têxtil. Enquanto a fibra é vendida para a indústria têxtil, do caroço são
extraídos o óleo, que encontrou na produção de biodiesel um bom nicho de
mercado e o farelo, que é encaminhado para a produção de ração animal. Para o
produtor de algodão, poder vender óleo para as usinas é um ótimo negócio, já que
essa é uma cultura cara, que exige muitos fertilizantes e maquinários específicos.
Vender o óleo é garantir uma renda extra que amortiza todos esses investimentos.
Mas, por outro lado, ele é um óleo mais impuro, que exige um pré-tratamento
específico. As indústrias têm que tratar o óleo antes da fabricação do biodiesel, o
que demanda a utilização de mais produtos químicos em diferentes processos de
purificação, o que significa mais custos. Esse custo adicional para purificar o óleo
do algodão é o grande entrave para o crescimento do seu uso pelas usinas. O
algodão também tem a desvantagem de ter baixo teor de óleo por caroço, entre
16% e 26%.
No mercado de biodiesel, o produto não tem competitividade, pois o óleo de
algodão é mais caro que o de soja ou que a gordura de boi. O caroço de algodão
acabou se tornando a proteína alternativa usada em ração de gado para melhorar
margens de lucro.
O fato de poucas usinas utilizarem o óleo de caroço de algodão para a produção
de biodiesel está na rivalidade que outros mercados exercem, e, muitas vezes,
remuneram melhor o insumo como por exemplo, a indústria de higiene e beleza,
celulose e têxtil, química, nutrição animal dentre outros.

8. Óleo de algas

Recentemente, tem sido investigado também o


óleo proveniente de algas. As algas são os organismos
vegetais aquáticos e tem a capacidade de converter
grandes quantidades de dióxido de carbono (CO2) em
oxigênio. Entre as técnicas usadas atualmente para se
produzir microalgas em larga escala estão o uso de
grandes tanques abertos, e de fotobiorreatores
tubulares fechados. Depois, as algas cultivadas
passam por processos de extração do óleo.

Vantagens:
● Elas crescem bem rápido, podendo completar um ciclo de crescimento em
poucos dias e duplicar sua biomassa várias vezes por dia;
● Elevado rendimento: As microalgas possuem alto teor de óleo, sendo que,
em alguns casos, esse teor pode chegar a 80% de óleo por peso seco;
● Podem produzir 200 vezes mais óleo por hectare, sem a necessidade de uso
de terras férteis, ou seja, a produção de algas não necessita de grandes
extensões de espaço para cultivo;

Isso levou muitas pequenas e grandes empresas, bem como muitos


pesquisadores, em todo o mundo, a investir recursos e muito tempo em pesquisas
sobre algas como fonte de óleo. Os resultados, em escala laboratorial, foram
animadores. Por outro lado, todas as experiências em larga escala com algas para a
produção de óleo com foco em biocombustíveis falharam. As principais razões para
essa falha foram:
● Nos tanques de cultura, espécies invasivas podem surgir;
● O óleo resultante geralmente apresentar alto teor de ácidos graxos livres e
também alto índice de iodo, tornando necessárias várias etapas de
purificação, o que encarece a sua produção. Quando comparamos com a
produção do biodiesel a partir do óleo de soja, vemos que o custo de
produção de óleo pelas algas é cerca de 20 vezes superior;
● Dificuldades em desidratar as algas para a extração do óleo;
● Alto preço dos nutrientes;
● Dificuldade em controlar os parâmetros de acidez, temperatura e
nutrientes, a fim de evitar quedas graves na produção ou até a extinção de
variedades cultivadas de algas;
● O alto grau de insaturação do óleo torna o óleo muito vulnerável à oxidação,
exigindo sua modificação antes do processamento ou o uso de aditivos
antioxidantes.

É necessário encontrar condições adequadas para o crescimento em larga


escala, para que a produção de petróleo seja economicamente viável. Até então, a
produção de biodiesel à base de algas deve ser vista como uma solução a longo
prazo. É por isso que as grandes empresas anunciaram recentemente que suas
pesquisas nesse campo serão descontinuadas.

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