LOGOTERAPIA
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6. A QUESTÃO DO SENTIDO:
O sentido no Campo de Concentração; o encontro com o Frankl
e o “Campo de C” na A. Latina (1984...). O Brasil de hoje e a
esperança.
Fico ainda hoje impressionado como a questão dos valores existenciais, quando bem
colocados, tornam-se luz, alento, suporte, respiro, conforto, força e de spontâneas também
podem tornar-se motivo de saúde, mesmo nas situações mais trágicas!
Não posso aqui referir-me a casos clínicos recentes, mas posso referir-me a casos atendidos
quase 10 anos atrás em outros estados do Brasil. Isto garante o anonimato e a ética.
Pois bem.
Uma jovem senhora, após ter superado uma importante questão de um relacionamento
afetivo, permanecia com outra ‘’pendência”, esta aparentemente insolúvel e que lhe causava
um mal estar e desconforto muito grande: era ainda criança (7 ou 8 anos) quando o pai saiu de
casa e nunca mais dera notícias! Doloroso? Com certeza! Mesmo em situações de abandono,
pude experimentar que são os valores a nossa maior força! Mas o sentimento de abandono
nem sempre é abandono...
De família muito simples, o pai era garimpeiro e por diversas vezes saíra para o garimpo,
ausentando-se por 2 ou 3 meses e retornando com víveres e material escolar, dando
condições para uma vida de subsistência, como era comum no norte e nordeste do Brasil nos
anos 70 e como ainda hoje podemos encontrar no nosso “continente” que é o Brasil.
- Eu lembro que o pai saía de madrugada, sempre era muito cedo. Ele ia na rede de cada um
de nós (os filhos) e dava um beijo em cada um... quando ele voltava era uma festa!
Após questionar as motivações para o pai sair de casa e após ouvir as respostas da cliente: “ia
para o trabalho e trabalhava para trazer comida pra gente...” eu repeti a frase: “Ele saía de
madrugada, ia na rede de cada um de nós e dava um beijo...”.
A pergunta foi spontânea: “Será que um pai que quer abandonar os filhos iria na rede de cada
um para dar um beijo?”
Lágrimas e forte emoção foi a resposta. O amor é um valor e o relacionamento familiar, assim
como a família, são valores, mesmo que mudem as dinâmicas familiares e o conceito de
família... Mas este já seria outro assunto!
“A CONSTITUIÇÃO DO EU”
Resumo, Claudio G. Pintos.
“La humanidad posible”, Almagesto, Bs Aires.
A Psicologia não pode não refletir o pensamento da época, visto que, não somente o
“objeto” do estudo da Psicologia é o próprio Homem, mas o ‘pesquisador’, ou seja,
aquele que busca conhecer o Homem estará sempre inserido em um contexto cultural
que dá também ao ‘pesquisador’ – o Homem – as ‘ferramentas’ a serem utilizadas nesta
‘pesquisa’.
(Continua...)
O fato que Frankl, autor da LOGOTERAPIA, chama a sua teoria de “logo”, ou terapia
do sentido da vida, propõe o quanto o ‘sentido’ tenha um caráter exponencial para
Frankl. De fato, este é, já, o primeiro indicativo do ‘eu’ em Frankl: o ‘eu’ frankleano
não é movido pela busca do prazer ou do poder, referindo-se às duas grandes correntes
da sua época, preconizadas por Freud e Adler. Hoje, no contexto das demais correntes
marcadamente existenciais, podemos completar que o ‘eu’, segundo Frankl, vive “a”
angustia de encontrar um sentido para a própria existência, enquanto que para os
demais, o homem vive a angustia do nada, do ‘não-ser’ ou a angustia do permanente
‘decidir’. Quis o destino que Frankl fizesse em primeira pessoa o que ele chamou de
“experimentum crucis”, ou seja, 3 longos anos PRISIONEIRO em campos de
concentração, onde a finalidade dos algozes não era somente ganhar uma guerra, mas
sim destruir um grupo, uma raça e onde a existência passava a ser “um número”
(Frankl, "Em busca de sentido", Vozes).
Neste ponto cabe ressaltar que caíram muitos “determinismos”, não somente os
psíquicos, mas também os sociais e aparece com força a “vontade de sentido” como
coloca Frankl.
García Pintos, em sua descrição “10 teses sobre a Pessoa”, cita Frankl e coloca
apropriadamente que devemos estar atentos a “não cair em um reducionismo
espiritualista, tão negativo quanto o biologista ou o psicologista” e continua: “a
espiritualidade do homem não é somente uma sua ‘característica’, mas um
‘constituinte’: o espiritual não é algo que somente caracteriza o homem, assim como o
fazem o biológico e o psíquico, que são também próprios do animal, mas o espiritual é
algo que distingue o homem, que corresponde a ele e antes de tudo a ele”. Frankl
ressalta ainda que no homem, o bio, o psico e o espiritual são dimensões e não extratos,
ou seja, existe uma continuidade, de maneira que o instinto é ‘espiritualizado’, ou ainda,
podemos acrescentar, ‘permeado do espírito’. Diferenciando do demais seres, ”o
homem tem instintos, o animal é os seus instintos". Ainda, considerando a realidade
psicofísica e espiritual do homem, podemos dizer que o “homem é (tal como é) graças
aos seus instintos, herança genética, do meio e, mais ainda, apesar de tudo isso”.
Consciente que as questões do sentido e dos valores estão entre os tópicos mais
polêmicos, cito uma experiência clínica freqüente, quando coloco a seguinte questão
para o cliente: busco que recorde, da sua memória, duas disciplinas do curso médio que
lhe eram uma, a mais fácil e agradável e outra, a mais difícil; supondo que tenham sido
História e Matemática, faço imaginar que ele, cliente, está em um período de
exames/testes e que recebe, neste momento, estas duas provas e em ambas a mesma
nota: 8,0! O momento seguinte é ‘clássico’: qual das duas notas lhe dá mais satisfação?
Bem, deveria deixar um momento para reflexão, mas antecipo que em grande parte –
não na totalidade e por isso cabe um esclarecimento – as respostas são que a nota 8,0
para a disciplina mais difícil tem mais ‘valor’! E por que teriam mais valor? Porque
significaram mais esforço e este esforço confere um ‘valor’, mesmo se a nota é a mesma
para ambas as disciplinas! Bom, esta resposta não é absoluta, pois algumas pessoas não
percebem em um primeiro momento esta questão do valor intrínseco no esforço.
Significa que não existe ‘valor’ no esforço? Eu não diria tanto, mas poderia confirmar
que os ‘valores’ sempre serão únicos e exclusivos de cada indivíduo. Exemplificando
ainda, chamo a atenção para as muitas situações de consultório, onde encontramos
filhos adolescentes que tiveram as suas dificuldades (crises e dificuldades na escola, por
exemplo) sempre resolvidas pelos pais. Que resultados encontramos? Adolescentes com
as necessidades materiais satisfeitas, mas que buscam um algo, seja o próprio limite,
seja o valor que lhe foi negado, por não realizar o esforço que a vida lhe colocou.
Uma das contribuições mais significativas de Frankl tem a ver com a ‘estrutura’
do Eu e Frankl usa a proposta de Freud para introduzir um novo conceito de
‘inconsciente’, sem antes redimensionar também o EU ou o Ego. Segundo Frankl, Freud
faz com que o ID apareça como o verdadeiro EU, ou seja, ocorre uma “Ideificação”,
visto que o Ego é subjugado, e o Homem um ser fundamentalmente ‘impulsionado’;
afirmando o Homem como um ser fundamentalmente livre, Frankl afirma também que o
Inconsciente contém em si um elemento ‘espiritual’, elemento este que confere uma
capacidade de auto-transcendência que lhe são específicas e únicas.
- Como estaria ela se o senhor tivesse falecido antes? Muito mal, não sei se teria forças
para superar, responde o cliente.
- Entendo. O teu amor por ela justifica este sofrimento, que o somente o senhor pode
vivenciar e assim fazendo, o teu sofrimento é suficiente e necessário para que não seja
ela a pagar por isso.
Como resultado, o cliente em questão percebe no próprio sofrimento um sentido real e
concreto, fundamentado no relacionamento existente no casal.
(O caso clínico abaixo já foi relatado em outro post e aparece aqui para comparação
com o relato do próprio Viktor Frankl)
Anos atrás, chegou no meu consultório uma moça, 27 anos, acompanhada pela irmã,
que relatou uma tentativa de suicídio. Na sala, a moça chorava intermitentemente e
talvez por 20 ou mais minutos, não falamos nada, com exceção de pequenas frases.
Aos poucos, questionei sobre a família, para entender se eram questões desta ordem. O
relato da jovem mostrou que o namorado tinha terminado o relacionamento de modo
abrupto; estavam planejando uma viagem juntos, quando ele disse: “não gosto mais de
você, vou com outra”. Portanto, estava claro o motivo do desespero.
Após confirmar não existir nenhum outro motivo para a crise, questionei sobre o ex-
namorado. “Ele era casado, mas estávamos juntos há 3 anos... ao menos se ele aceitasse
fazer esta viagem...”. Após ouvir este relato, permaneci em silêncio por alguns instantes.
Interrompi o silêncio dizendo: “você é uma pessoa de sorte”. Foi o suficiente para ela
interromper o pranto e me olhar surpresa. Podia ‘ler’ os seus pensamentos, do tipo “esse
cara é doido... eu quero morrer e ele me diz que sou de sorte”...
Segundos depois, chamei a atenção para um fato: esta pessoa, o ex-namorado, já tinha
deixado uma mulher, esteve com ela por 3 anos e do nada, a deixa por outra; sugeri
então que refletisse sobre a hipótese de continuar este relacionamento e ‘ver’ o seu
futuro daqui a 5 anos...
Não preciso dizer que nunca, em outro momento, percebi uma transformação tão forte,
tão evidente, em tão pouco tempo! A pessoa que entrara no consultório era uma moça
destruída pelo pranto, cabelos longos desalinhados, olhos vermelhos e úmidos e esta que
estava saindo, era uma pessoa decidida, resolvida. Sequer sugeri marcar outra consulta.
Tinha uma convicção que não era necessário. Por uma questão pessoal, de confirmação,
poderia fazer um telefonema mais tarde e assim, em torno de 10 dias depois, quem
atendeu o telefonema foi a irmã, dizendo que a jovem nunca mais mostrou preocupação
e estava bem.
Qual o fato comum nestas duas (ver relato de Frankl na SEGUNDA PARTE) situações?
Em ambas ouve uma descoberta: no primeiro caso, o sofrimento ‘adquiriu’ um valor
enquanto que no segundo, a jovem descobriu ‘não ter sentido’ naquele sofrimento, ou
seja, ‘perder’ aquele namorado foi, de fato, uma ‘sorte’, e com isto, o sofrimento
desapareceu!!
“Ser homem significa, por si mesmo, estar orientado para além de si mesmo.
Poderíamos dizer que a essência da existência se encontra na transcendência. Ser
homem significa estar desde sempre (por sua natureza) orientado e dirigido a algo ou a
alguém, estar dedicado a um trabalho, ou a outro ser humano...” (Frankl, Psicoanálisis y
existencialismo, in Garcia Pintos, “La humanidad posible”.)
Anexo:
http://inconfidenciaribeirao.com/coloquios/tag/nietzsche/
(O filósofo Luiz Rufino dos Santos Júnior transmite ao Colóquio desta edição a digna qualidade
de Ágora (Praça principal na constituição da cidade grega durante a Antiguidade Clássica) ao
“palestrar” através da esfera pública do Inconfidência.)
Luiz Rufino – Sim. Tudo é possível. Deus está morto. A ciência não veio para dar
respostas, veio para nos fazer sentir autônomos de tal forma, que nosso olho não está
mais virado para o mundo externo de forma que possamos enxergar nossas limitações –
como o grego antigo que via a natureza como uma limitação. Essa falta de visão é o
mesmo que eu acreditar que sou uma pomba que vai sair voando da janela do prédio e ir
ao trabalho. O máximo que eu vou conseguir é quebrar uma perna.
O ser humano não entende mais quando a natureza diz “você nasceu homem e tem suas
limitações, e isso você não pode mudar”.
Na Idade Média quando não era a natureza que trazia a resposta, recorria-se a Deus.
Então percebiam que liberdade é algo limitado. Você não pode simplesmente acordar
um belo dia e matar seu irmão, desejar a mulher do próximo e uma série de outras
delimitações.
A modernidade matou tudo isso. Nosso globo ocular virou para dentro e passamos a
ignorar as limitações naturais e divinas. E o interior do nosso corpo é um vazio
profundo onde o centro do mundo é o nosso umbigo. Daí qualquer coisa que eu escute
ou use é o melhor, porque eu gosto. Reduzimos o esforço da clareza em prol da opinião.
A hiperdemocracia reduz tudo à opinião. Se você reduzir tudo a ela, não existe clareza,
não existe ciência, não existe nada, só opinião.
Para SARTRE
o Homem é um condenado;
já para FRANKL,
prisioneiro por 3 anos
nos campos de concentração,
Ainda há muito o que descobrir, mas com essas técnicas de estimulação você
vai entendendo cada vez mais o funcionamento dessas áreas. O que ainda é
um mistério é o psiquismo, que é muito mais complexo. Por que um clone
jamais será igual ao original?
Pergunta: Você
não vê contraindicações na manipulação dos
processos naturais da vida?
PN: O que é perigoso nesse progresso todo é que, assim como vai criar novas
soluções, ele também trará novos problemas. Com a genética, por exemplo,
você vai fazer um exame de sangue e o resultado vai dizer que você tem 70%
de chance de ter um câncer de mama.
Mas 70% não querem dizer que você vai ter, até porque aquilo é uma
tendência. Desenvolver depende do meio em que você vive, se fuma, de
muitos outros fatores que interferem. Isso vai criar um certo pânico.
PN: Mas aí você vai poder escolher isso também. Esse vai ser o problema:
todo mundo vai ser inteligente. Isso vai tirar um pouco do romantismo e da
graça da vida. Pelo menos diante do que a gente está acostumado. Acho que
a vida vai ficar um pouco dura demais, sob certos aspectos. Mas, por outro
lado, vai trazer curas e conforto.
O doente vip acaba influindo nas decisões médicas pela importância que
tem, e isso pode complicar o tratamento. Ele tem de ser tratado igualzinho
ao doente comum, para poder dar certo.
Então, é adrenalina todo dia. Sem ela a gente desanima e o cérebro funciona
mal. (risos)
-Se o cirurgião acha banal perder um paciente é porque alguma coisa não
está bem com ele mesmo.