Sueli Aparecida Manganotti Marilda Gonçalves Dias Facci
Sueli Aparecida Manganotti Marilda Gonçalves Dias Facci
Sueli Aparecida Manganotti Marilda Gonçalves Dias Facci
Resumo
As reflexões apresentadas neste artigo são resultado de estudos desenvolvidos pelo Programa
de Desenvolvimento Educacional – PDE/SEED e da preocupação com a finalidade da Sala de
Recursos. O objetivo do texto é analisar o desenvolvimento das funções psíquicas superiores e
sua relação com o processo educativo, a luz dos pressupostos da Psicologia Histórico-Cultural,
fundamentada no materialismo histórico e dialético. Serão analisadas a percepção, a memória e
a atenção, apresentando as idéias vigotskianas de que essas funções são desenvolvidas por
meio das relações sociais e exigem uma mediação para que se efetivem. Pretende-se com esse
este estudo colaborar com a escola no sentido de compreender a importância da escolarização,
da intervenção e da mediação do professor entre o conhecimento científico e os alunos no
desenvolvimento psíquico. Concluindo, podemos afirmar que a Psicologia Histórico-Cultural, ao
tratar da relação entre aprendizagem e desenvolvimento, tem fornecido ricos subsídios para
estudos e investigações na área da educação especial, contribuindo para que o professor, no
contexto escolar, por meio da atividade pedagógica e de um ensino organizado, realize um
trabalho diferenciado (no que diz respeito a teorias, práticas e metodologias utilizadas), favorável
à aprendizagem e ao desenvolvimento, por meio da apropriação da produção cultural humana.
Abstract
The reflections presented in this article are resulted of studies developed by the Program of
Education Development. PDE / SEED and of the concern with the purpose of the Room of
Resources. The objective of the text is to analyze the development of the superior psychic
functions and them relationship with the educational process, the light of the presuppositions of
the Historical-cultural Psychology, based in the historical materialism and dialético. The
perception, the memory and the attention will be analyzed, presenting the ideas vigotskianas that
those functions are developed through the social relationships and they demand a mediation for
they are executed. It is intended with that this study to collaborate with the school in the sense of
understanding the importance of the education, of the intervention and of the teacher's mediation
among the scientific knowledge and the students in the psychic development. Ending, we can
affirm that the Historical-cultural Psychology, when treating of the relationship between learning
and development, it has been supplying rich subsidies for studies and investigations in the area of
the special education, contributing so that the teacher, in the school context, through the
pedagogic activity and of an organized teaching, accomplish a differentiated work ( as far as
concerned theories, practices and used methodologies) favorable to the learning and the
development, through the appropriation of the human cultural production.
1
Professora PDE – pedagoga, Professora de Educação Especial, Técnica - pedagógica do Núcleo
Regional de Educação de Umuarama, Coordenadora da Educação Especial do NRE. E-mail:
suelimangnotti@seed.pr.gov.br.
2
Orientadora – doutora em Educação Escolar, Professora do Departamento de Psicologia da Universidade
Estadual de Maringá, Coordenadora do Programa de Pós-Graduação em Psicologia da UEM. E-mail:
mgdfacci@uem.br.
Introdução
O estudo apresentado tem como referência escritos de autores
clássicos e contemporâneos, mediante as concepções presentes na Psicologia
Histórico-Cultural, elaboradas inicialmente por de L. S. Vigotski e após por
autores como A. R. Luria e A. N. Leontiev, entre outros. O foco do trabalho
será o estudo do desenvolvimento das funções psicológicas superiores, à luz
da Psicologia Histórico-Cultural, fundamentada nos princípios do materialismo
histórico e dialético.
Especificamente, destacamos as teorizações a respeito das funções
psicológicas superiores, em especial a percepção, a memória e a atenção.
Trata-se de uma produção desencadeada a partir de estudos desenvolvidos
pelo Programa de Desenvolvimento Educacional – PDE/SEED.
A Psicologia Histórico-Cultural ao tratar de temas como funções
psíquicas, mediação, aprendizagem e desenvolvimento, conceitos espontâneos
e científicos, tem fornecido ricos subsídios para estudos e investigações na
área da educação, no que se refere à aprendizagem. Conceitos que vem
contribuindo para que o professor, no contexto escolar, por meio da atividade
pedagógica e de um ensino organizado, realize um trabalho diferenciado (no
que diz respeito a teorias, práticas e metodologias utilizadas), favorável à
aprendizagem e ao desenvolvimento teórico, por meio da apropriação da
produção cultural humana.
A relação entre aprendizagem e desenvolvimento, segundo Vigotski,
é dialética e não se restringe somente à escola, uma vez que essa relação se
dá num plano mais amplo, ou seja, no interior das relações estabelecidas com
o meio social. O homem, nesta perspectiva, é compreendido como ser
histórico, sendo que a mediação do professor tem papel importante no
processo de humanização, uma vez que ao gerar aprendizagem promove o
desenvolvimento do aluno.
Para o autor
[...] a característica essencial da aprendizagem é que engendra a área de
desenvolvimento potencial, ou seja, que faz nascer, estimula e ativa na
criança um grupo de processos internos de desenvolvimento no âmbito
das inter-relações com outros que, na continuação, são absorvidos pelo
curso interior de desenvolvimento e se convertem em aquisições internas
da criança [...]. (VYGOTSKY, 1988, p. 115)
O autor deixa claro que ensinar a criança o que ela já sabe é perda
de tempo; não contribui para o desenvolvimento do aluno.
Nesta perspectiva a educação é compreendida como um processo
que resulta da representação do real, construído historicamente mediante a
relação do homem com a natureza, a partir do trabalho. Através dessa
atividade, o homem produz os meios necessários à sua subsistência e,
consequentemente, produz conhecimento advindo dessa relação.
Para Saviani (1997, p.16),
Trata-se aqui da produção de idéias, conceitos, valores, símbolos, hábitos,
atitudes, habilidades. Numa palavra, trata-se da produção do saber, seja
do saber sobre a natureza, seja do saber sobre a cultura, o conjunto da
produção humana. Obviamente, a educação se situa nessa categoria do
trabalho não-material. [...]
A PERCEPÇÃO
Segundo Luria (1991 a, p.38, grifos do autor), a percepção “baseia-
se no trabalho conjunto dos órgãos dos sentidos, na síntese de sensações
isoladas e nos complexos sistemas conjuntos”. Transformamos sensações
isoladas numa percepção integral.
Ainda para esse autor, quando percebemos objetos conhecidos, a
identificação ocorre rapidamente, por meio dos principais indícios discriminados
no conjunto. Na percepção de objetos não conhecidos, o processo é mais
complexo: distinguimos cor, forma, propriedades táteis, peso, sabor, mais o
conhecimento anterior para a identificação do objeto. A percepção do objeto
surge como resultado de um complexo e ativo trabalho de análise especial e
síntese, no qual os principais indícios são discriminados em detrimento dos
secundários, numa combinação de detalhes que fazem parte do todo. Neste
processo, segundo Luria (1991 a), incluem-se sempre componentes motores,
como a apalpação do objeto, o movimento dos olhos que distingue os pontos
importantes e outras peculiaridades como o fluxo sonoro.
O homem não só percebe o conjunto de características do objeto,
como também o inclui numa categoria. Essa generalização da percepção é
aperfeiçoada com a idade e o desenvolvimento mental, possibilitando uma
identificação mais precisa desta categoria. O homem armazena informações
por meio das experiências, compila informações bastante precisas sobre as
propriedades do objeto, como cor e tamanho, por exemplo, incorporando esse
conhecimento anterior à percepção direta. Tal fato possibilita o reconhecimento
real da forma dos objetos – dependendo do perfeito funcionamento das
diferentes vias de acesso, como a percepção visual, auditiva e tátil –
necessárias para uma aprendizagem efetiva.
A percepção não depende apenas do funcionamento dos órgãos dos
sentidos como também de outras condições essenciais. A atividade receptora
do homem, segundo Luria (1991 a, p.41-43), aproxima-se do pensamento
direto, levando a uma série de peculiaridades da percepção humana,
sintetizadas nas seguintes proposições:
- a percepção tem “caráter ativo e imediato”. Percebemos o mundo
real, fazemos inferências, interpretamos os dados, baseados em
conhecimentos adquiridos sobre o mundo, ou seja, a percepção do homem é
mediada pelos seus conhecimentos anteriores, num processo de análise e
síntese e na criação de hipóteses a respeito do objeto. Isso conduz a
possibilidade de pensar objetos ausentes, planejar e imaginar ações a serem
realizadas.
- a percepção do homem consiste em seu “caráter material e
genérico”. Percebemos um conjunto de indícios, analisamos esse conjunto,
suas propriedades, atribuímos determinadas categorias, generalizamos e com
a idade evoluímos e aprimoramos nossa percepção.
- o terceiro traço da percepção humana consiste em sua “constância
e correção” (ortoscopicidade). Sabemos sobre determinado objeto pelo
conhecimento anterior e pelas informações de suas propriedades, uma vez que
nossa percepção fará a correção de nossa impressão imediatamente. A
constância do tamanho, forma e cor evoluem entre os dois e os catorze anos.
- a última peculiaridade da percepção humana consiste em ser
“móvel e dirigível” (diferente da percepção do animal, dirigível e arbitrária).
Nesse sentido, para Luria (1991 a, p.67), “Os dados assim obtidos mostram
que o sujeito, ao examinar um quadro complexo, não só destaca neste os
detalhes essenciais, como também muda o sentido do seu exame e a
discriminação de detalhes particulares, dependendo da tarefa que lhe foi
proposta [...] ou do seu objetivo [o que torna] a percepção elástica e dirigível”
(LURIA, 1991 a, p. 42-43).
Nossa percepção depende do nível e do contexto cultural e
intelectual em que vivemos; nossos conhecimentos são base para nossos
julgamentos e a maneira como percebemos o mundo: “Encher a percepção de
sentido, ou por outra, dar sentido à percepção, significa tornar-se consciente do
objeto que esta reproduz” (Rubinstein, 1973, p.151).
Graças aos processos cognitivos é possível organizar os
conhecimentos sobre o mundo, construir categorias, estabelecer as estratégias
de aprendizagem e resolver problemas. É natural que o processo de percepção
sofre influência do nível intelectual do sujeito, por meio da linguagem e do
conhecimento social, converta-se em propriedade para si.
De acordo com Luria (1991 a), as percepções visuais, táteis e
auditivas trabalham em conjunto. O processo de identificação de um objeto que
ocorre imediatamente pela visão, tem por meio do tato uma identificação
desdobrada, pois exige a criação de várias alternativas de busca, como a
apalpação para identificar as formas do objeto a fim de se obter a hipótese
definitiva, ou seja, depende de uma cadeia de testes para a discriminação dos
indícios particulares. A visão humana está organizada para perceber luz,
revelar pontos, linhas, cores, movimentos e profundidade, possibilitando por
meio da percepção visual a discriminação dos detalhes como a cor, o tamanho,
a forma, informações imprescindíveis e necessárias para análise do objeto. O
tato, por sua vez, é uma forma de sensibilidade, que compreende tanto
componentes elementares, quanto complexos. Entre os elementares situam-se
a sensação de frio e calor e a sensação de dor - entre os complexos situam-se
as sensações táteis (contatos e pressões) e os tipos de sensibilidade profunda
e sinestésica que fazem parte da composição das sensações proprioceptivas:
sensação de calor e frio; contato e pressão (LURIA, 1991a, p.45).
A audição permite a percepção de sons em diferentes timbres,
alturas e intensidades, possibilitando discriminar e localizar fontes sonoras e
compreender os diferentes estímulos auditivos, como sons e ruídos.
Falha na sensibilidade visual e auditiva pode causar erros de
percepção e a distorção da síntese dos indícios perceptíveis pode levar a
incapacidade de perceber o objeto no conjunto.
A percepção está relacionada, além do trabalho dos órgãos dos
sentidos, à constância de tamanho, forma e cor (ortoscopia). Se a nossa
percepção não fosse constante, a cada um dos nossos movimentos,
dependendo da posição e distância que olhamos, alteraria o tamanho, a forma
e a cor dos objetos. À menor mudança de iluminação e posição de nosso
corpo, mudariam as propriedades ou qualidades que nos levam a reconhecer
os objetos como tais (Luria, 1991a).
A percepção do espaço (RUBINSTEIN, 1973, p.157, grifos do autor) “[...]
inclui a percepção da distância que os objetos se encontram de nós ou dos
outros [como também] “a percepção da direcão em que se encontram do
tamanho e da forma dos objectos”. A percepção do espaço tridimensional é
fundamental, porque os objetos nunca estão dispostos simetricamente. Em
maior ou menor número, estão colocados ao nosso redor de maneira
assimétrica: uns acima de nós, outros abaixo, em cima e à direita, à esquerda.
E isso tem grande importância em nossa orientação pelo espaço. Caso
contrário ela seria muito difícil, ocorrendo nos casos, por exemplo, de
corredores e saídas de ambientes absolutamente idênticos.
O tamanho que se percebe dos objetos depende do seu ângulo e da
distância de onde se olham. Segundo Luria (1991a), “a noção constante do
tamanho do objeto, formada na experiência anterior, corrige o reflexo [...] desse
objeto na retina e cria a possibilidade de conservar uma avaliação mais
constante do tamanho, [...] que se aproxima do tamanho autêntico do objeto”
(p. 70-71, grifos do autor). A forma dos objetos é um dos fatores principais para
a sua distinção. Quando muda o tamanho, o colorido e também algumas outras
propriedades das diferentes partes de um corpo, mantém-se invariáveis as
proporções geométricas das referidas partes – e, no entanto reconhecemos a
mesma figura geométrica. O desenvolvimento da constância na criança é um
processo bastante prolongado, alcançando o seu máximo entre os dez e
quatorze anos.
As crianças por volta de dois anos, de acordo com Rubinstein (1973),
já reconhecem as formas dos objetos a partir de seus contornos e na pré-
escola já reconhecem perfis complexos e desenho de silhuetas com relativa
independência. Numa ilustração, percebem figuras de cabeça para baixo, e
muitas vezes realizam desenhos dessa maneira. “Ao aprender a escrever, esta
independência da forma em relação à posição manifesta-se nas crianças na
escrita em espelho, em que se reproduz corretamente a forma da letra sem ter
em conta, no entanto, a sua correta disposição” (p.193). A forma geométrica
abstrata é mais difícil para a criança do que a cor, mas nem por isso deixamos
de apresentá-la à mesma - aproveitando a influência da cor e orientar a
atenção para as diferentes formas. Tal fato é imprescindível para “[...] o estudo
da leitura e, depois, para a compreensão dos fundamentos da geometria”
(p.191), à compreensão dos números, estimativas, quantidade. Por meio da
percepção do grupo de objetos a criança adquire a capacidade de abstração,
realizando a representação de números e adquirindo o domínio das operações
aritméticas.
Em relação à percepção de tempo é possível afirmar que avaliações
mais simples e imediatas do tempo baseiam-se em fenômenos rítmicos
elementares, conhecidos como horas biológicas e dependem do caráter rítmico
elementar da vida orgânica, como a pulsação, o ritmo da respiração, o ritmo de
mudança do sono e da vigília. Essa percepção é subjetiva, dependendo do
estado emocional do sujeito.
Para a criança (RUBINSTEIN, 1973) superar as dificuldades em
relação à percepção do tempo e compreender as palavras como agora, hoje,
ontem e amanhã, onde em cada caso ocorre uma conotação diferente do
tempo real (relatividade dos conceitos temporais), são indispensáveis os
componentes mediadores. A criança não pode superar esta dificuldade de uma
só vez, como conhecer conceitos de hoje, amanhã e posteriormente distinguir
os fenômenos das estações do ano; ela aprende, aos poucos, a dominar a
relatividade dos conceitos temporais.
A respeito da percepção, fazendo uma síntese, observamos que esta
não é determinada desde o nascimento; ela se modifica como produto do
desenvolvimento e da apropriação dos conhecimentos historicamente
elaborados, superada por meio das experiências e pelas relações culturais,
compreendendo a influência da escolaridade e das relações com o
conhecimento histórico.
A percepção da realidade na criança, das relações e aspectos
essenciais e das características dos objetos, pode ficar prejudicada em função
de ter pouco desenvolvido os processos de análise e síntese. Processos estes
que, pelos conhecimentos adquiridos no estudo, no processo de escolarização,
levam à interpretação, à generalização e desenvolvem o raciocínio científico. O
domínio e o aumento do conhecimento levam à percepção generalizada, que
por sua vez, faz a criança perceber o mundo de forma diferente, à medida que
vai aprendendo sobre ele. Na criança pequena esse aprendizado é adquirido
por meio de uma atividade lúdica; a partir do momento que ingressa na escola,
por meio dos conteúdos curriculares e no adulto, trata-se de uma atividade
laboral.
Com a aquisição da linguagem e dos conceitos introduzidos pela
cultura, a percepção passa de uma relação direta para uma relação mediada
por conteúdos culturais, fundamentada na mediação simbólica e na origem
sócio-cultural dos processos superiores.
A MEMÓRIA
Luria (1991b, p. 39 entende a memória como
“[...] o registro, a conservação e a reprodução dos vestígios da
experiência anterior, registro esse que dá ao homem a possibilidade
de acumular informações e operar com os vestígios da experiência
anterior após o desaparecimento dos fenômenos que provocaram tais
vestígios.”
Os fenômenos da memória podem pertencer igualmente ao campo
dos processos motores e da experiência intelectual. Todo o reforço
dos conhecimentos e habilidades e a capacidade de aproveitá-los
pertencem à área da memória (p.39).
O autor deixa claro, em seus estudos como esta é desenvolvida
culturalmente e que não depende, exclusivamente, do funcionamento de
determinada área do cérebro. Vigotski também compactua com essa idéia e de
acordo com Almeida (2004), ele deixa bastante explícito sua compreensão a
respeito da plasticidade do sistema nervoso, superando a visão de algumas
escolas psicológicas que a compreendiam somente como fenômeno puramente
orgânico e biológico, enquanto outras dicotomizavam o indivíduo em corpo e
mente. Vigotski refere-se à memória em diferentes idades, sendo um processo
complexo e não linear. Conforme observado por Vygotsky e Luria (1996, p.
186):
[...] uma como outra dessas crianças possuem em geral memória
semelhante, mas a utilizam de modos diferentes: ambas possuem
memória, mas a mais velha sabe como utilizá-la. É essa transição de
formas naturais de memória para formas culturais que constitui o
desenvolvimento da memória da criança para o adulto.
ATENÇÃO
O fenômeno da atenção, observado desde a infância tem caráter
natural, não intencional. Também é chamado por Luria de instintivo-reflexiva,
caracteriza-se pelo caráter não intencional e não volitivo presente na etapa
inicial do desenvolvimento da criança. É provocado por qualquer estímulo
externo forte e repentino que atrai a atenção da criança.
Vigotski e Luria (1996) argumentam que esse tipo de atenção
natural, involuntária, não satisfaz as exigências sociais, coletivas e do trabalho.
Não organiza o comportamento de longo prazo e não é capaz de resolver uma
determinada tarefa, uma vez que a cada novo estímulo, o contexto anterior
seria destruído. Faz-se necessário, portanto outros mecanismos, adquiridos
artificialmente, outra forma de atenção: a atenção voluntária, intencional,
cultural – condição para o trabalho e para a vida social.
A atenção, segundo Vigotski e Luria (1996, p.195), desempenha a
função mais importante na vida do indivíduo, “[...] organiza o comportamento
num determinado contexto” e prepara o homem para a “[...] percepção ou para
a atividade”. Essas seleções de informações são chamadas de atenção. Se
não houvesse seletividade, a quantidade de informação seria desorganizada
impossibilitando o pensamento sistematizado. O pensamento organizado está
voltado para a solução dos problemas colocados diante do homem. O
ambiente, a escola e demais contextos sociais e culturais produzem
determinadas necessidades, que conduzem a criança a uma dada atividade
organizada. Nessa nova demanda, segundo Vigotski e Luria (1996, p. 197,
grifos do autor)
A criança começa a aprender a agir de acordo com a tarefa proposta e
a propor-se a si mesma tais tarefas. Cada uma dessas tarefas
introduz sérias mudanças na estrutura do comportamento; produzem
certa tensão, impelindo a pessoa a uma série de ações que visam à
realização dessa tarefa. [...] Quanto mais claro o problema, mais
preciso o esquema dentro do qual é formulado; quanto mais definidas
as formas traçadas para os caminhos de realização dessa tarefa, mais
persistente e forte se torna o estímulo, impulsionando sua realização
organizada.
[...] Desenvolvendo-se culturalmente, a criança tem a oportunidade de
criar ela mesma esses estímulos que no futuro a influenciarão,
organizarão seu comportamento e atrairão sua atenção.
Considerações Finais
Referências:
ASBAHR, F. da S. F.; BERNARDES, M. E. M. Atividade pedagógica e o
desenvolvimento das funções psicológicas superiores. Periódicos,
Florianópolis, v. 25, n. 2, 315-342, jul./dez. 2007. Disponível em: <
http://www.periodicos.ufsc.br >. Acesso em: 16 nov. 2009.