O Jogo Da Minha Vida (Serie Rix - L A Cotton
O Jogo Da Minha Vida (Serie Rix - L A Cotton
O Jogo Da Minha Vida (Serie Rix - L A Cotton
RIXON RAIDERS 3
L A COTTON
CONTENTS
Rixon Raiders
Sinopse:
Chapter 1
Chapter 2
Chapter 3
Chapter 4
Chapter 5
Chapter 6
Chapter 7
Chapter 8
Chapter 9
Chapter 10
Chapter 11
Chapter 12
Chapter 13
Chapter 14
Chapter 15
Chapter 16
Chapter 17
Chapter 18
Chapter 19
Chapter 20
Chapter 21
Chapter 22
Chapter 23
Chapter 24
Chapter 25
Chapter 26
Chapter 27
Chapter 28
Chapter 29
Chapter 30
Chapter 31
Chapter 32
Chapter 33
Chapter 34
Chapter 35
Chapter 36
Chapter 37
Chapter 38
Epilogue
Playlist
Agradecimentos
About the Author
O Jogo da Minha Vida
L. A. Cotton
Este livro é uma obra de ficção. Nomes, personagens, lugares e incidentes são produtos da
imaginação do autor ou foram usados de forma fictícia e não devem ser interpretados como
reais. Qualquer semelhança com pessoas, vivas ou mortas, eventos reais, localidades ou
organizações é inteiramente coincidência.
Todos os direitos reservados e protegidos pela Lei 9610 de 19/02/1998. Exceto para o uso
de pequenos trechos em resenhas, é proibida a reprodução ou utilização deste livro, no todo
ou em parte, de qualquer forma, sem a permissão prévia por escrito do detentor dos direitos
autorais deste livro.
RIXON RAIDERS
— CARAMBA, garota, parece que um pássaro está fazendo ninho aí. — Tia
Ciara olhou meus cachos selvagens com diversão.
Ajeitei o cabelo bagunçado do sono e acenei para ela, indo direto para a
cafeteira. Tive uma noite agitada, repassando coisas na minha cabeça. A
conversa com Asher. O conselho amigável de Felicity e a estranha viagem de
volta para casa com Jason.
— Noite difícil? — minha tia perguntou.
— Algo assim. — Fiz uma xícara de café para mim e me sentei à mesa da
cozinha.
— Eu estava conversando com a Maeve ontem e ela me deu ótimas
notícias. Seu neto, Tyrese, está vindo para passar as férias. Não é ótimo?
Franzi o cenho, sentindo o sangue latejar entre minhas orelhas.
— Tyrese?
— Ele é um bom menino. Está estudando administração na UPenn. Visita
a avó sempre que pode. Estou surpresa que ele ainda esteja solteiro.
— Tia C — gemi, sem gostar de para onde a conversa estava nos
levando.
— Ah, não vá ficar todo irritada. Nós sabemos que não devemos nos
intrometer. Mas te faria algum mal vir visitá-los comigo?
Sim, faria. Já era ruim o suficiente ela ter uma opinião sobre tudo, mas
agora ela estava tentando me empurrar para o neto de sua amiga. Não poderia
ficar muito pior.
— Não vai doer para você ter outro amigo aqui, Mya — ela disse quando
não respondi.
— Eu tenho amigos.
— E tenho certeza de que eles são ótimos. Mas Tyrese é... — ela hesitou.
— Negro? — questionei, sentindo a decepção ecoar em minha voz.
— Não era isso que eu ia dizer. Mas agora que você tocou no assunto,
sim, ele é. É um bom homem afro-americano que foi criado para respeitar as
mulheres. Depois de Jermaine, ele pode ser exatamente o que você precisa.
— Tenho certeza de que ele é um bom homem. — Me levantei da mesa
devagar, deixando a cadeira arranhar os ladrilhos. — Mas não estou
interessada. — Colocando a caneca no escorredor, saí sem me preocupar em
parar ao som da voz da minha tia.
Ela foi longe demais desta vez.
Pensando que eu precisava que ela se envolvesse em minha vida.
Jermaine não era apenas um cara por quem eu me apaixonei. Ele era meu
melhor amigo desde sempre. Tínhamos uma história e nossas vidas estavam
entrelaçadas. Ele era um cara bom, mas como tantos antes dele, foi tentado
pelo dinheiro fácil que a equipe de Diaz poderia lhe dar. As oportunidades
não apareciam em nosso bairro.
Drogas, gangues e crimes, sim.
Bati a porta do quarto e fui até a cama, sendo interrompida pelo barulho
do celular. Ignorei quando vi o nome de Shona e me deitei na cama com um
travesseiro no peito. Minha mãe estava certa. A menos que eu fizesse um
rompimento total, nunca escaparia de meus laços com Fallowfield Heights.
Mas lá era a minha casa. Sem mencionar o fato de que minha mãe nunca iria
embora. Como eu poderia simplesmente esquecê-los? Dar as costas às
minhas raízes?
A resposta era que eu não poderia.
Ainda não.
OITO
Asher
— VOCÊ ESTÁ ACABADO. — Jason sorriu para mim enquanto eu entrava
na cozinha, o cheiro de bacon revirando meu estômago.
— Fee, baby, não que eu não ame te ver na minha cozinha...
— Você precisa comer — ela me cortou, pegando a panela e jogando o
conteúdo em um prato. Normalmente, eu seria o primeiro a comer, mas mal
conseguia olhar para aquilo sem ficar enjoado.
— Não preciso, não — resmunguei. — Preciso de água e Advil. Muito
Advil.
Não era incomum vê-los na minha cozinha em um fim de semana,
especialmente depois de uma festa. Mas hoje eu não queria companhia.
Minha cabeça latejava, meu corpo parecia ter sido atropelado por um trem, e
eu tinha memórias obscuras da noite anterior... memórias que preferia
esquecer.
— Qual de vocês me colocou na cama? — perguntei a Jason e Cam, que
estava terrivelmente quieto. Eles olharam um para o outro e depois para mim.
— Você não se lembra? — Cameron perguntou.
— De pouca coisa.
— Nós não te colocamos na cama, cara. Foi a Mya.
— O que foi que você disse? A Mya nem estava na festa. — Eu sabia,
tinha procurado por ela. Mas isso foi antes de toda a tequila... e Jack... e
shots.
Shots. Pra. Caramba.
— Ela apareceu — Flick acrescentou, empurrando o prato de café da
manhã para mim. Fiquei olhando para ele, tentando afastar a névoa de ressaca
que nublava minha mente.
— Ela estava aqui?
— Sim. — Jason mordeu um pedaço de bacon crocante.
— Merda. — Uma coisa era meus amigos me verem destruído, mas Mya?
Isso não deveria acontecer.
Merda.
— Ela... disse alguma coisa?
— Depois de ver você vomitar por uma hora? A garota ficou
traumatizada.
— Eu não... — Uma memória nebulosa me veio à cabeça. A mão de Mya
na minha pele. Era difícil dizer se era real ou só minha imaginação. Acho que
beber metade do que havia no bar do meu velho faz isso.
— Pronto para nos dizer o que foi que aconteceu? — Jason olhou para
mim.
— Não foi nada. — Dei de ombros com desdém, empurrando ovos pelo
prato.
— Ash, se tem alguma coisa acontecendo...
— Não está acontecendo nada. Estou bem, juro. As semanas têm sido
loucas, e eu fiquei tenso. — Eu mal conseguia olhar para eles, mesmo
sentindo que todos me olhavam.
— Não faça disso um hábito. Podemos ter uma pausa durante os feriados,
mas ainda precisamos de você em forma e pronto para o jogo da exibição.
— Achei que você ainda estava chateado com isso. — Arqueei a
sobrancelha e Jason deu de ombros.
— Estarei presente em qualquer chance de mostrar a Rixon East quem
está no topo. Além disso, a Felicity me convenceu. — Seus olhos pousaram
nos dela, que corou.
— Acho que você descobriu como...
— Asher!
Rindo, fui pegar outro copo d'água.
— Então a Mya não ficou? — Finalmente perguntei o que queria saber
desde que ouvi o nome dela.
— Jason a levou para casa depois que ela se certificou de que todos
estavam acomodados. — As palavras de Cam soaram divertidas, mas não dei
importância.
— Sei — grunhi.
— Essa merda deve estar te matando. Saber que ela estava aqui, mas não
ser capaz de se lembrar do que você disse.
— Jason — Flick me lançou um olhar de desculpas.
— Vou acertar as coisas com ela — falei com convicção.
Se ela me daria uma chance ou não, era outro assunto totalmente
diferente.
— VOCÊ DEVE SER a tia da Mya. Prazer em conhecê-la. Eu sou o Asher,
Asher Bennet. — Estendi o ramo de flores, percebendo que havia
subestimado o aviso de Mya quando a mulher pequena olhou para mim.
— Sei quem você é. O que quer?
— Eu... ah, a Mya está em casa? — Cocei o queixo, sentindo o peso de
seu olhar me pressionando.
— Ela está ocupada.
— Senhora, não quero desrespeitá-la, mas eu realmente gostaria de...
— Asher? — Mya apareceu com os olhos arregalados e uma expressão
indecifrável. — Eu não estava esperando por você.
— Eu sei. Só quis passar por aqui e dar isso à sua tia. Espero poder falar
com você.
— Mya — sua tia avisou.
— Você deveria colocar as flores na água, tia. Eu já vou, tá?
Fiquei um pouco mais ereto ao ouvi-la me defender, mas enquanto as
duas se encaravam, presas em uma conversa silenciosa, eu soube que havia
muito mais nisso do que a tia não gostar de caras brancos.
Merda.
— Cinco minutos — a mulher disse antes de arrancar as flores da minha
mão e sair pelo corredor.
— O que você está fazendo aqui? — Mya sibilou ao sair para a varanda,
fechando a porta atrás de si.
— Eu queria te ver.
— Você poderia ter ligado ou enviado uma mensagem de texto.
— Eu queria te ver, Mya. Depois da noite passada...
— Você se lembra de tudo?
— Eu não disse ou fiz nada impróprio, certo?
— Você estava completamente fora de si. — Ela sorriu, mas não atingiu
seus olhos.
— O quê? — perguntei, sentindo que ela estava escondendo algo de mim.
Achei que ela ia me contar, mas não disse nada. Em vez disso, soltou um
suspiro de cansaço.
— Você realmente não deveria ter vindo aqui.
— Eu só queria te agradecer. Os caras me disseram o que você fez. —
Estendi a mão, puxando um cacho de seu cabelo entre meus dedos. — Eu
teria preferido que você não tivesse me visto assim, mas estou feliz por ter
cuidado de mim.
— Asher, o que aconteceu ontem?
Foi como se o chão se movesse debaixo de mim.
— O que você quer dizer? — ofeguei. — Nada aconteceu.
Mas vi em seus olhos.
Mya sabia.
Talvez ela não soubesse de tudo, mas sabia o suficiente.
Sabia que eu estava mentindo.
Olhando para a casa, Mya contraiu os lábios em uma linha reta.
— Não posso falar agora. Mas eu poderia... aparecer mais tarde?
— Sim! — Meu peito quase explodiu.
— Bem, o cinema da sua casa é incrível.
— Ah, vai ser assim, hein?
— De que outra forma seria?
Ela estava flertando comigo? Porque parecia estar. Lutei contra um
sorriso.
— Pego você às seis?
— Eu posso ir sozinha até lá.
— Tudo bem. — Eu não queria pressioná-la. Ainda não. — Devo
convidar os outros? — perguntei.
— Eles não vão estar ocupados? É sábado, noite de encontros e todas as
outras coisas que os casais normais fazem.
— Então seremos só nós dois? — esclareci, porque minha cabeça estava
girando em uma centena de direções diferentes.
— Asher? — ela me chamou, sua voz sedosa me firmando.
— Sim, Hernandez?— Eu não conseguia tirar o sorriso do rosto.
— Te vejo mais tarde.
Recuando lentamente, mantive os olhos nela. Mya era linda. O macacão
jeans escuro moldava suas curvas. A camiseta preta por baixo destacava o
tom de sua pele. Tudo em Mya me atraía. Ela era feroz, decidida e autêntica.
E eu queria conhecê-la.
Por inteiro.
— Não se atrase — murmurei e ela riu, esperando até que eu estivesse na
calçada.
— Ah, Asher? — ela gritou.
— Sim?
— Não tenha ideias quanto a isso.
— Você quer dizer um filme com uma amiga? — Eu sorri. — Como se
eu pudesse me esquecer.
Mas dessa vez parecia diferente. Ela podia querer agir como se não fosse
nada mais do que uma saída entre amigos, mas havia um brilho em seus olhos
que eu não tinha visto antes.
Um brilho que de repente eu queria ver o tempo todo.
QUANDO MYA CHEGOU, eu não estava mais de ressaca. O que era uma
coisa boa, considerando a quantidade de lanches que preparei. Tudo, de
nachos a pipoca, pretzels a doces. Talvez eu tivesse exagerado um pouco.
— Jason, Cameron, Hailee e Flick fizeram um bom trabalho na limpeza.
— Ela fingiu passar o dedo pelo aparador, inspecionando em busca de poeira.
— Espero que você tenha dado uma boa gorjeta a eles. Estou surpresa por
você não ter uma governanta.
— Costumávamos ter uma quando eu era mais novo — admiti. — Mas
assim que fiz quatorze anos, ela foi embora.
— Não consigo imaginar como é ter alguém para fazer tudo por você. —
Os olhos de Mya nublaram.
— Você é filha única?
— Sim, sou só eu e minha mãe.
— O que aconteceu com o seu pai?
— Achei que íamos assistir a um filme. — Ela mudou de assunto, e eu
não podia culpá-la. Eu também não gostava de falar sobre minha família.
— Podemos fazer isso. — Levei Mya até os fundos da casa, abrindo a
porta do cinema no subsolo.
— Comprei um monte de coisas. Espero que você esteja com fome.
Ela me lançou um sorriso incerto.
— Não precisava fazer isso, Asher.
— Eu sei, mas eu quis. Sinto que depois de ontem à noite, eu te devo
uma. — Passando a mão pelo cabelo, eu me joguei em um dos sofás, rindo
quando Mya se sentou no que estava mais longe de mim.
— Ainda estou com o hálito podre?
— Você se lembra. — Ela ofegou.
— Algumas coisas. É muito nebuloso. O que preciso fazer para que você
me tire do meu sofrimento e me conte se eu disse algo impróprio?
Mya hesitou por um segundo, como se refletisse sobre sua resposta, então
abriu um sorrisinho.
— Você foi um cavalheiro o tempo todo.
— Duvido muito disso. — Mas eu aceitaria qualquer coisa que ela tivesse
para me oferecer.
Jesus, eu era patético, implorando por restos de atenção de uma garota
que deixou claro em mais de uma ocasião que não iria cruzar qualquer linha
invisível que havia traçado entre nós.
Mas ela está aqui. E flertando.
— Ouça, sinto muito pelo que aconteceu com sua tia. Acho que não
acreditei muito quando você disse que ela tinha problemas com garotos
brancos.
— Ela não tem problemas com garotos brancos, Asher. Ela tem um
problema comigo namorando um garoto branco.
— Que bom que você não está namorando um. — Lutei contra um
sorriso, observando sua reação. Mas Mya não era como a maioria das garotas.
Era preciso se esforçar para conquistar seus rubores e pequenas expressões de
surpresa.
Era uma das coisas que eu mais gostava nela.
— Que filme você tem em mente? — Ela mudou de assunto.
— Pode escolher. — Indiquei uma pilha de DVDs. Enquanto ela estava
decidindo, fui buscar os lanches, colocando tigela após tigela na mesinha de
centro.
— Uau. — Mya observou. — É muita comida.
— Você me viu comer, certo?
Ela riu, se sentando no outro sofá.
Que se dane isso.
Eu me levantei e caminhei em sua direção. Ela arregalou os olhos,
observando meus movimentos até que fiquei parado na sua frente.
— Asher, o que você...
— Batata — falei, impassível. — Preciso de batatas. — Enfiando a mão
na tigela, peguei um punhado, pisquei para ela e me sentei na ponta do sofá.
Ela semicerrou os olhos para mim, pressionando os lábios carnudos em uma
linha fina.
— Algum problema? — Arqueei as sobrancelhas.
— Coloca logo a porcaria do filme — ela resmungou.
Mas o filme não foi distração suficiente. Não me impediu de observá-la
com o canto do olho, roubando olhares discretos enquanto ela ria, ofegava e
enterrava as mãos no rosto. Havia algo puro em ver Mya desse jeito.
Completamente desinibida e livre. Isso provocou todo tipo de coisas malucas
comigo. Fez meu coração disparar e minhas mãos suarem. Também me fez
agir como um idiota, porque antes de saber o que estava fazendo, cheguei
perto dela e segurei sua mão. Eu meio que esperava que ela se afastasse e me
repreendesse. Mas Mya estava cheia de surpresas, deixando que nossas mãos
descansassem entre nós como se fosse a coisa mais simples do mundo.
Então as estrelas se alinharam.
Mya se assustou quando o bandido apareceu das sombras, brandindo uma
faca e pronto para matar.
— Puta merda — ela gritou, se levantando pelo menos uns cinco
centímetros do sofá. A risada retumbou no fundo do meu peito enquanto eu
passava o braço em volta de seu ombro e a puxava para o meu lado.
— Está tudo bem — provoquei. — Eu vou te proteger.
— Asher... — Ela apoiou a mão no meu estômago, e meus músculos se
contraíram sob seu toque, abrindo um caminho de calor para baixo, para
baixo, para baixo. Meus olhos encontraram os dela, nublados e famintos.
— Asher, o que você...
— Só uma prova — implorei, precisando tanto beijá-la que doía.
— Eu... — ela começou, mas levei a mão ao seu cabelo, inclinando seu
rosto para o meu. — Não deveríamos... — Foi um sussurro, seus olhos me
dizendo algo diferente. Me dando permissão silenciosa.
O filme continuou, com as explosões e gritos do sistema de som surround
se tornando nada além de ruído branco enquanto eu gentilmente roçava os
lábios nos dela. Mya soltou um gemido baixo e segurou minha camiseta com
a ponta dos dedos. Minha pulsação acelerou e meu corpo queimou pela
garota que tinha gosto de beijos de morango.
— Asher, isso é uma má ideia. — Suas palavras deveriam ser como um
banho água fria, mas isso não aconteceu. Porque Mya não se afastou. Ela não
me empurrou e fugiu. Em vez disso, ela pressionou os lábios nos meus
novamente, puxando meu corpo para o seu. Fui de boa vontade, pressionando
Mya no encosto do sofá, conhecendo o formato de sua boca e as curvas de
seu corpo.
Eu não falei sério quando disse a Flick que achava que Mya e eu
estávamos destinados um ao outro, mas ao beijá-la, senti uma mudança
cósmica. Talvez isso – nós – não fosse o destino, mas éramos tão perfeitos
um para o outro que eu queria gritar dos telhados.
Então ela sussurrou:
— Pare, Asher. Você tem que parar — como se estivéssemos fazendo
algo errado, eu sabia que era um erro.
Porque não havia nada de errado nisso.
Nada mesmo.
Eu só tinha que fazê-la ver.
NOVE
Mya
ASHER ME BEIJOU.
Ele não deveria me beijar.
Eu não deveria deixá-lo me beijar.
Mas o jeito como ele olhou para mim, com tanto anseio e esperança,
rachou a última das minhas defesas. Me deixou desprotegida e impotente
contra seus encantos.
Não me senti vulnerável quando seus lábios tocaram os meus. Me senti
viva. O calor percorreu meu corpo como um incêndio. Seu peso contra mim
era opressor da melhor maneira.
Sempre tive que lutar pelo que queria. Fui uma menina que cresceu em
um mundo patriarcal devastado pelas drogas e pelo crime. Por muitos anos,
estive ao lado de Jermaine, defendendo-o e me recusando a deixá-lo cair
ainda mais fundo naquela armadilha. Cuidei dele desde que éramos crianças
enquanto nunca tive ninguém cuidando de mim. Mas aqui na casa de Asher,
encaixada em seus braços, com seus lábios pairando sobre os meus, me senti
segura. Senti que ele não deixaria nada me machucar.
Deveria ser um alívio. Aqui, com ele, pude finalmente respirar. Mas a
força de meus sentimentos me assustou. Porque aqui, éramos apenas nós
dois. Não havia julgamento ou estereótipos, sussurros ou olhares. Nem negro
ou branco. Nada de rico e pobre. Havia apenas luxúria, desejo e uma conexão
que eu não tinha mais certeza se poderia evitar.
— Por que você gosta de mim? — perguntei, interrompendo o momento.
Mas o medo era um forte motivador.
Asher me olhou e a confusão franziu seus olhos.
— Nunca conheci ninguém como você, Mya — disse. — Você é forte,
bonita e leal. Você não se intimida ou se amedronta com o time, e você é tão
bonita que dói.
— Você já disse isso. — Meu lábio se curvou.
— Já? — Seus olhos brilharam com humor. — Sua beleza merece
repetição.
— Você não é nada original.
— Não? — Ele sorriu. — Tenho certeza de que posso pensar em alguns
outros adjetivos...
— Não. — Passei os dedos pelo seu peito, encontrando sua mandíbula. —
Acho que já entendi.
Asher cobriu minha boca com a sua novamente, deslizando a língua entre
meus lábios. Minha vozinha da razão gritou para que eu parasse, mas a cada
toque de sua língua, cada pressão de seus lábios, ela ficava mais e mais
silenciosa até que todas as razões pelas quais isso era uma má ideia
desapareceram.
Passei as mãos sobre seus ombros, entrelaçando os dedos em sua nuca.
Asher interrompeu o beijo, roçando o nariz no meu antes de traçar os lábios
sobre minha mandíbula e descer pela curva do meu pescoço. Chupando,
mordiscando e roçando os dentes contra a pele sensível, provocando milhares
de pequenos arrepios através de mim.
— Eu te quero, Mya — ele murmurou. — Preciso de você.
O puro desespero em sua voz me fez segurar seu queixo e levantar seu
rosto para o meu.
— O que aconteceu ontem, Asher?
A indecisão cintilou em seus olhos. Ele queria me dizer, mas algo o
impedia.
— O que aconteceu com o seu ex? — ele rebateu.
Filho da mãe.
Estávamos de volta a isso. Os dois precisavam de mais, mas nenhum de
nós queria compartilhar. Mas alguém tinha que fazer um movimento, ceder
um pouco.
Algo me disse que não seria ele.
Respirando fundo, comecei.
— Jermaine é... era o meu melhor amigo. — Empurrei Asher de leve,
precisando de ar.
Ele se recostou, passando a mão pelo cabelo perfeitamente bagunçado.
— Nós crescemos juntos, estávamos na mesma classe na escola. Nossas
mães costumavam brincar que éramos duas metades de um todo. — Asher
soltou um suspiro baixo, e eu encontrei seu olhar. — Não vou mentir para
você, Asher. Ele era tudo para mim.
— O que mudou? — Sua voz estava tensa.
— Não preciso dizer que de onde venho não é como Rixon. Quando você
é criança, é mais fácil ignorar o que acontece nas esquinas, mas quando se
chega ao ensino médio, isso se torna realidade. Drogas, gangues... — Hesitei,
sem saber o que dizer. Não porque eu estivesse protegendo Jermaine, aquele
navio havia partido há muito tempo, mas porque eu estava me protegendo.
Se eu contasse a Asher, se eu o deixasse entrar nessa parte da minha vida,
não havia como desfazer. Eu sempre seria a garota pobre do lado errado dos
trilhos.
— Ele se envolveu com algumas pessoas ruins. As coisas saíram do
controle, e ele se machucou. — Eu me machuquei, as palavras chegaram na
ponta da minha língua.
Asher franziu o cenho enquanto me observava, vendo através das minhas
defesas.
— E...
— E eu sabia que o tinha perdido. Da próxima vez, não seria uma gangue
pulando sobre ele, machucando-o. Seria um carro passando com uma arma.
Minha mãe queria que eu saísse de lá e minha tia estava disposta a me deixar
ficar com ela. Sua vez — falei, vacilando sob a intensidade de seu olhar.
Asher, assim como Felicity, Hailee e todos os outros em Rixon High,
conheciam uma versão de Mya. Claro que eles viam as botas militares, o
macacão jeans e as camisas xadrez, mas ela ainda era uma versão
domesticada de si mesma. Porque eu conhecia a outra versão da Mya, a
versão real, e este lugar, essas pessoas, não combinariam com ela.
— Meu pai é um idiota — Asher brincou, com o rosto desprovido de
emoção.
— Ceertoo. Eu realmente não sei o que dizer sobre isso.
— Todo mundo acha que ele é um homem incrível que se fez sozinho,
que sustenta a família, mas ele é um filho da puta malvado. Um verdadeiro
lobo em pele de cordeiro.
— Ninguém mais sabe disso?
Ele deu de ombros, sem encontrar meus olhos.
— O dinheiro fala, eu acho. E não me interprete mal, aparentemente, ele é
generoso. Ele doa para instituições de caridade, ajuda as famílias dos meus
amigos. Apoia o time. Mas tudo tem um preço no que se refere a Andrew
Bennet.
— E você tem que pagar — sussurrei.
— Quatro anos. — Asher puxou as pontas do cabelo. — Ele me deu
quatro anos de ensino médio, mas o último está quase acabando.
— O que vai acontecer depois do ensino médio? — O medo subiu pela
minha espinha.
Asher passou a mão pelo rosto, com a expressão contorcida de dor.
— Eu me torno sua marionete.
Eu não sabia o que isso significava, mas podia sentir o tormento
irradiando dele.
— Meu pai nunca foi do tipo atlético. Ele não jogava futebol, não corria,
nem nada parecido. Seu talento era computadores e tecnologia. Descobrir
como as coisas funcionam e fazer com que funcionem melhor. Nunca me
interessei por essas coisas e sempre fui uma grande decepção para ele.
Futebol... essa era a minha paixão, e eu era bom nisso. Não tão bom quanto
Jason — ele me deu um sorriso irônico —, mas eu poderia ter uma boa
carreira no futebol americano universitário. O acordo era que eu jogaria em
Rixon se largasse o futebol na faculdade e me concentrasse nos estudos.
— Asher, isso não é...
— Justo? — ele zombou. — Meu velho não se importa com isso. Ele só
se preocupa com seus negócios e com a certeza de que esteja pronto para
ocupar seu lugar para, finalmente, me tornar o filho que ele sempre desejou
ter.
— E quanto à sua mãe? Como ela se comporta com tudo isso?
Sua expressão ficou sombria, e eu soube que tinha acertado outro ponto
fraco.
— Ela é a razão de eu ter quatro anos.
— O que você quer dizer?
— Antes do colégio, meu pai tentou me fazer largar o futebol. Disse que
isso não era apropriado para um Bennet. Ele nunca escondeu o fato de que eu
não era o filho que sempre sonhou ter. Quando eu era criança, minha mãe me
protegia disso, mas não percebi o quanto até que fiquei mais velho. — Seus
olhos pousaram em um ponto do chão, e ele esfregou as mãos fechadas nas
coxas.
Estendi a mão para ele, abrindo seus dedos e os entrelaçando nos meus.
Asher olhou para mim, e eu sorri.
— Estou bem aqui — sussurrei.
— Ela sabia como era importante para mim jogar com o Jason e o Cam.
Então ela se sacrificou — ele quase ofegou com as palavras.
— Eu não... o que você quer dizer?
Era seu marido, não parecia grande coisa para uma esposa apoiar o
marido, a menos que...
— Asher? — perguntei quando ele não respondeu. Seus olhos estavam
fechados, seu peito subindo e descendo com a respiração irregular.
— Quando eu digo que ele é mau, Mya. — Os olhos de Asher se abriram.
Ele parecia arrasado e isso fez meu coração doer. — Ele não é mau apenas
com as palavras.
— Oh. — As palavras não ditas pairaram entre nós.
— Ele alguma vez... te machucou?
— Quando eu era mais novo, ele ficava muito bravo comigo. Minha mãe
sempre interferiu. Achei que ela moderava a raiva, mas ele descontava nela
quando eu não estava por perto. Ela era boa em esconder, mas não é tudo que
a maquiagem pode disfarçar. Felizmente, ele se ausentava muito para
trabalhar, então éramos apenas nós dois e Serena, a governanta. Mas então,
no verão antes do ensino médio, ele começou a falar sobre como era a hora
de eu aprender o negócio e mostrar mais interesse no meu futuro. Nós
tivemos uma grande briga quando ele disse que eu não poderia jogar no time
de futebol no colégio, mas minha mãe interveio, me fazendo sair de casa.
Quando finalmente voltei, eles me chamaram e disseram que haviam chegado
a um acordo. Minha mãe começou a acompanhá-lo em suas viagens de
negócios, e eu tive quatro anos de futebol com meus amigos. Ele sempre quis
que ela se envolvesse mais, mas ela queria me criar.
Havia muita coisa que eu queria perguntar. Tanto que não fazia sentido.
Mas eu podia ver o preço emocional que Asher estava pagando por
finalmente contar a verdade a alguém.
Por me contar.
Então, em vez de questionar mais do que ele estava pronto para me dar,
me aproximei e passei os braços em volta de seu pescoço.
— Sinto muito — falei baixinho.
— É a primeira vez que digo a verdade a alguém. — Asher recuou para
olhar para mim. — Estou feliz que tenha sido você, Mya.
— Não vou contar a ninguém.
— Eu sei — ele disse. — Tenho que contar aos caras em algum
momento. Eles já estão me perguntando por que não me comprometi
formalmente com os Panters de Pittsburgh para o outono. Eles não sabem que
é porque meu futuro já está selado em Pittsburgh e não envolve futebol.
— Eles entenderiam.
— Talvez. Mas não quero que isso fique entre nós, não quando temos
apenas alguns meses do último ano. Além disso, você sabe como o Jason é.
Se ele descobrisse a verdade...
Ele não seria capaz de se segurar. Porque apesar de todas as suas falhas,
Jason Ford protegia aqueles com quem se importava, e Asher era como parte
da família para ele.
— Tem mais, não tem? — Não consegui evitar que as palavras saíssem.
Mas algo sobre a coisa toda não parecia bom.
— Sim — Asher soltou um suspiro cansado. — Se eu não cumprir minha
parte no trato e for para Pittsburgh como um bom cachorrinho, meu pai vai
me cortar de tudo. Sem fundo fiduciário, sem faculdade, sem futuro.
— Existem outras maneiras, Asher. Bolsas de estudo. — Eu soube por
Felicity que ele tinha recebido uma oferta de pelo menos duas bolsas de
estudo pelo futebol.
— Não é tão simples assim — ele disse. — Eu não vou ser o único a
sofrer. Tenho que pensar na minha mãe. Somos tudo o que ela tem.
— Só estou dizendo...
— Podemos não fazer isso agora? — Seus olhos eram suaves, apesar de
seu tom insensível. — Foram dias difíceis e estou exausto.
— Você tem razão. Sinto muito. Eu deveria ir... — Comecei a me
levantar, mas Asher segurou minha mão.
— Não quero que você vá.
— Não?
Ele balançou a cabeça.
— Fique.
— Asher, não tenho certeza...
— Olha, sei que você não quer nada sério e que ainda está presa ao seu
ex, mas eu gosto de você. Gosto muito de você. Posso ir devagar, se é isso
que você precisa.
Ele estava tão adorável olhando para mim com seus grandes olhos azuis.
— Me dê uma chance, Mya, por favor. Isso é tudo que estou pedindo.
Havia tantos motivos pelos quais isso era uma má ideia.
Muitos.
Mas como eu poderia negar quando ele confiou em mim com algo que
nunca confiou a ninguém?
— Vou ficar, mas não vou fazer nenhuma promessa. Nossas vidas são
complicadas e ser mais do que apenas amigos só vai complicá-las ainda mais.
— Posso viver com isso. — Ele se levantou e passou o braço em volta da
minha cintura, me puxando em sua direção. Seus olhos pousaram em meus
lábios e ele começou a se inclinar.
— Asher, amigos não se beijam.
— Talvez possamos ser a exceção à regra — ele disse com um sorriso
irresistível.
Um sorriso perigoso.
Algo que eu sabia que nos colocaria em um monte de problemas.
DEZ
Asher
MYA OLHOU para mim com luxúria e indecisão brilhando em seus olhos.
Ela me queria. Mas ainda estava lutando contra.
— Prometo que não vou me apaixonar por você, se é com isso que você
está preocupada — as palavras foram apenas um sussurro no canto de sua
boca. — Sei que estamos indo em direções diferentes. Que isso é apenas
temporário, mas você faz tudo de ruim desaparecer.
— Asher — ela sussurrou, pressionando sua testa na minha.
— Não vou te magoar, eu prometo. — Mas você pode me destruir.
Porque embora eu tivesse prometido a ela que não iria me apaixonar, eu já
podia me sentir fazendo exatamente isso. No entanto, era um pequeno preço a
pagar, se isso significasse tê-la em minha vida.
Mya agarrou minha camiseta, lutando contra o que quer que estivesse
acontecendo dentro dela. Talvez fossem os sentimentos persistentes por seu
ex, ou o fato de que ele a magoou e ela não queria confiar em outro cara tão
cedo. Seja lá o que fosse, eu queria provar que ela estava errada, mostrar que
nada mais importava, exceto a maneira como fazíamos um ao outro se sentir.
Desta vez, quando toquei os lábios nos dela, Mya não resistiu. Ela me
puxou para mais perto, aprofundando o beijo. Nossas línguas se enredaram
em lambidas suaves, o que deixou meu corpo em chamas. Passei as mãos por
suas costas, encontrando sua bunda perfeita e pressionando-a no meu pau
duro como pedra.
— Veja o que você faz comigo — eu disse contra seus lábios inchados.
— Veja o quanto eu quero você.
Mya gemeu baixinho, se esfregando em mim e me deixando me mover
contra ela no ângulo perfeito. Eu queria despi-la e tomá-la bem aqui no sofá,
mas sabia que ela não estava pronta. Ela estava começando a aceitar o que
estava acontecendo entre nós.
— Vamos — eu disse, me afastando e sorrindo da forma como ela estava
corada e sem fôlego. Levando-a de volta ao primeiro andar, caminhamos em
um silêncio confortável até o meu quarto. — Pelo menos posso andar em
linha reta esta noite — brinquei.
— Acho que eu deveria mandar uma mensagem para minha tia — ela
falou.
— O que você vai dizer a ela?
— Que vou ficar com as garotas.
Assenti. Não esperava que ela contasse a verdade para a tia, mas ainda
doía saber que eu era um segredo.
— É mais fácil assim, Asher — Mya acrescentou, sentindo minha
mudança de humor.
— Está tudo bem — falei com um sorriso fácil quando entramos no meu
quarto. — Pelo menos, ela se importa com o que você está fazendo e com
quem você está.
Meu pai não se importava há muito tempo. Contanto que eu mantivesse
sua boa reputação, ele lavou as mãos no que dizia respeito a mim. A maioria
dos jovens esperava ansiosamente o dia em que seus pais saíam da cidade e
os deixavam em casa sozinhos, mas eu estava acostumado com minha própria
companhia desde a nona série.
— Quer uma camiseta para dormir?
— Eu... ah... — Mya baixou os olhos, brincando com a bainha da blusa.
— Acho que sim.
Com uma risada baixa, fui até a cômoda e peguei uma camisa limpa dos
Raiders.
— Ah, droga, não, não vou usar isso. — Ela torceu o nariz em desgosto.
— Por favor. — Fiz beicinho. — Por mim?
— Asher, vamos... não há algum tipo de ritual de camisa em que você só
deve deixar sua namorada usar o seu número?
— Existe isso? — provoquei. — Eu nunca soube.
— Prefiro dormir nua a usar essa coisa.
— Mesmo? Porque isso pode ser arranjado.
Balançando a cabeça, Mya lutou contra um sorriso.
— Tudo bem, me dê aqui.
— O banheiro é por ali. — Apontei para a porta.
— Ah, eu me lembro. — Ela me deu um olhar perplexo enquanto passava
por mim, segurando a camisa em um aperto mortal. — Espero que você tenha
se limpado depois de ontem à noite — ela falou, e eu sufoquei uma risada.
Enquanto Mya se trocava, tirei as roupas e as joguei na cadeira. Eu não
esperava me virar e vê-la parada na porta me observando com os olhos
semicerrados.
— Vê algo de que gosta? — Arqueei a sobrancelha enquanto acariciava
meu abdômen.
O calor brilhou em seus olhos enquanto ela deixava o olhar correr pelo
meu corpo.
— Tatuagem legal. — Ela sorriu.
Dei um passo em sua direção.
— Nós dois sabemos que você não estava olhando para minha tatuagem,
Hernandez. — Foi a minha vez de deixar meus olhos traçarem seu corpo. —
Puta merda, você fica linda na minha camisa. — A peça se agarrou a suas
curvas, mostrando seu corpo incrível por baixo.
— Pelo menos cobre a minha bunda — ela respondeu, tocando a bainha
que quase alcançava seus joelhos.
— Acho que eu deveria verificar. — Girei um dedo e murmurei: — Vire-
se.
Ela revirou os olhos.
— Como desejar.
Ah, como eu desejava.
— Você não vai dormir assim, vai?
— Sempre durmo assim — falei. — Mas se você acha que não consegue
resistir a me tocar, posso colocar algo.
— Eu... — Mya engoliu em seco. — Acho que sou capaz de resistir.
— Quer apostar?
— Estou começando a achar que foi uma ideia muito ruim ficar aqui. —
Mya me olhou com olhos arregalados novamente. Antes que ela pudesse
fugir, coloquei a mão em volta de sua cintura e a puxei para mais perto.
— Vou me comportar, prometo. — Abaixando a cabeça, beijei a ponta de
seu nariz. — Obrigado por concordar em ficar comigo.
Eu não diria a ela, mas significou muito ela ter concordado em ficar. Não
só porque eu a queria ferozmente, mas porque eu me sentia sozinho dormindo
em uma casa vazia todos os dias.
— Só não se acostume com isso — ela respondeu, com os olhos
brilhando com diversão. — É só por uma noite.
— Melhor aproveitar ao máximo então. — Sem dar a ela qualquer aviso,
a peguei no colo.
— Asher, o que é isso? — ela gritou, agarrando-se a mim. Eu nos levei
até a cama e a coloquei no colchão, sua risada enchendo meu quarto.
— Não pude resistir. Você fica linda na minha cama. — Linda demais.
Principalmente usando meu número. Seus olhos caíram para a cueca boxer
preta, e eu levantei uma sobrancelha com a forma como seu olhar
permaneceu no contorno do meu pau.
— Você está tornando isso muito duro para mim — eu a avisei, sorrindo
do duplo sentido.
— Não tenho ideia do que você está falando. — A inocência apareceu em
sua expressão, mas eu não seria enganado.
Mya era tudo, menos inocente.
Me ajoelhando na cama, rastejei em sua direção, envolvendo a mão em
um de seus tornozelos. Sua pele era muito macia e suave. Eu queria me
familiarizar com cada centímetro de seu corpo. Passei a palma da mão por
sua perna, roçando a parte interna de sua coxa. Os olhos de Mya brilharam,
prendendo a respiração.
— Asher...
— Um dia — eu disse com voz rouca. — Você vai gemer meu nome.
— Você está se achando muito.
— Oh, você acha?
Era isso o que eu precisava de Mya. As brincadeiras, os jogos e as
provocações. Ela tornava tudo tão fácil e dava o melhor que conseguia. E eu
adorava isso.
Tracei o contorno de sua perna novamente, avançando cada vez mais,
desaparecendo sob o tecido azul e branco.
— Asher. — Foi um aviso desta vez. — Não concordei com isso.
— É só um beijo entre amigos, certo? Então, que tal se eu te beijar bem...
— abaixando a cabeça, passei a língua sobre sua pele quente — aqui.
Não beijei sua calcinha, mas deixei a boca ficar lá o suficiente para que
ela movesse a mão e agarrasse meu ombro.
— Você não está jogando limpo.
— Não? — Observei seu corpo, encontrando seus olhos enquanto soprava
suaves lufadas de ar contra ela. Mya abafou um gemido, e senti suas pernas
tensas.
Tudo o que eu queria era empurrar o tecido rendado para o lado e prová-
la, mas eu não faria, não sem sua permissão explícita. Me movi sobre ela,
levando meus olhos ao nível dos seus.
— Oi — eu disse.
— Oi. — Mya sorriu, com os olhos brilhando de desejo.
— Não vou te beijar lá. Não até que você me implore.
— Asher... — saiu como um gemido de dor.
— Sim, Hernandez?
— Tenho pensado em nossa situação.
— Situação, é assim que vamos chamar?
— Sim, e acho que beijar é permitido. Talvez dar amassos vestidos.
— Então posso fazer isso. — Passei a mão em sua barriga, sobre a
camisa, e a descansei contra a protuberância de seus seios. — E você não vai
me dar uma joelhada nas bolas?
— Suas bolas estão seguras. — Ela riu. — Mas eu falei sério. Precisamos
levar isso devagar. Amigos... que se beijam.
— Não se esqueça dos amassos vestidos.
— Isso também. — Mya se inclinou, me beijando lenta e profundamente,
explorando cada centímetro da minha boca com a língua. Meu pau
endureceu, empurrando contra ela.
— Merda, isso é bom — murmurei, certo de que se eu criasse atrito
suficiente, eu poderia satisfazer a nós dois. Interrompi o beijo, movendo os
quadris, observando seus olhos se fecharem. — Que tal isso? Está tudo bem?
— Humm-humm — ela murmurou, mordiscando o lábio inferior, se
impedindo de dizer o que estava na sua cabeça.
— E isto? — Levei a mão entre nós, acariciando-a através da calcinha
úmida.
— Asher, não...
— Não o que, Mya?
— Não pare — ela ofegou as palavras, inclinando a cabeça para trás
enquanto meus dedos continuavam se movendo sobre ela.
— Me deixe te tocar. Eu preciso te tocar. — Eu estava tão excitado por
ela. Queria sentir o quanto ela estava molhada, deslizar meus dedos dentro
dela e fazê-la gozar.
— N-não. — Sua voz estremeceu, assim como seu corpo. — Ainda não.
O que isso significava?
Ainda não como agora?
Ou ainda não como em uma semana... um mês... nunca?
Afastei a mão, acariciando a lateral de seu pescoço enquanto a beijava
profundamente. Era intenso, só dentes, língua e doce desespero. Mas eu não
conseguia o suficiente dela.
Mya prendeu as pernas em volta da minha cintura, me deixando
pressioná-la mais profundamente. Se não fosse pelo tecido fino da boxer e da
calcinha, eu estaria enterrado bem no fundo dela. Mas do jeito que estava, eu
quase podia imaginar.
— Um dia — repeti as palavras sem parar. Contra sua boca e sua pele
úmida enquanto eu me movia mais forte e mais rápido, levando nós dois em
direção ao clímax.
— Parece... — Mya respirou fundo, estremecendo.
— Eu sei. — Não deveria ter sido tão bom, mas era. E ainda tínhamos
uma camada de roupas entre nós.
— Ah, caramba — ela gritou. — Mais, eu preciso de mais. — Mya
segurou minha mão e a empurrou entre nós. Entendi a dica, acariciando-a
novamente, mas ela sussurrou: — Me toque, Asher.
Eu me afastei, olhando para ela com surpresa.
— Posso?
Ela assentiu, capturando meus lábios novamente, me beijando como se
estivesse se afogando e eu fosse a última fonte de ar.
Devagar, enfiei um dedo dentro de sua calcinha. Mya soltou um gemido
baixo, cravando as unhas em meu ombro. Adicionei outro dedo, deixando-os
deslizar entre sua umidade e a penetrei.
— Está tudo bem?
Suprimindo outro gemido, Mya assentiu. Meu polegar encontrou seu
clitóris, fazendo círculos lentos e tortuosos.
— Nossa, isso é... — As palavras ficaram presas em sua garganta quando
seu corpo começou a tremer. — Asher...
— Estou com você, Mya. — Penetrei os dedos mais profundamente,
beijando seu pescoço, sugando a pele macia. Passei a outra mão por seu
estômago, por baixo da camisa desta vez. Encontrei a taça de seu sutiã e
puxei para baixo, provocando o mamilo com meus dedos.
— Ah, caramba — ela gritou. — Eu vou... — Mya enterrou o rosto no
meu ombro enquanto se estilhaçava em torno dos meus dedos. Retardando o
ritmo, estendi seu orgasmo, segurando-a enquanto ela estremecia com as
ondas de prazer.
— Você está bem? — perguntei, afastando-a de leve do meu peito.
— Estou. — Ela sorriu para mim, mas vi a hesitação ali. Mya já estava
repensando o que havia acabado de acontecer entre nós. Mas não queria que
ela se arrependesse. Não queria que ela se arrependesse de um único segundo
comigo.
— Venha aqui. — Enganchando um braço na cintura dela, puxei-a para
mim, de costas para o meu peito.
— O que você está fazendo?
— Conchinha. Amigos podem fazer conchinha, não podem? — Apoiei a
mão em seu estômago enquanto eu a respirava.
— Sim — ela riu baixinho. — Podem, sim
— Boa noite, Mya.
— Boa noite, Asher.
O silêncio nos envolveu e não demorou muito para que a respiração de
Mya se estabilizasse. Eu também estava cansado, mas não queria dormir.
Ainda não. Eu queria absorver sua presença aqui em meus braços. Ela podia
precisar usar o rótulo de amiga, mas enquanto eu estava lá, ouvindo sua
respiração, fiz uma promessa silenciosa para mim mesmo.
Um dia, Mya me consideraria mais do que apenas amigo.
Acordei com a cama vazia. Com os membros pesados e o rastro
persistente de sono, me apoiei em um cotovelo.
— Mya?
Nada.
Rolando, me inclinei na mesa de cabeceira e peguei o celular. Meu
coração afundou com a mensagem de texto na tela.
Mya: Me desculpe por ter ido embora. Precisei voltar... te vejo em breve.
Bj.
Mya: Juro que não. Eu só... preciso de tempo. Você disse que poderia me
dar isso.
— NÃO ACREDITO que você está indo embora. — Flick franziu a testa,
observando enquanto eu colocava um par de jeans limpo em uma mochila.
— Não vou embora — falei. — Só vou fazer um encerramento.
— Encerramento, certo. E esse encerramento não teria nada a ver com um
certo Raider com quem eu sei que você passou a noite, teria?
— Ele contou ao Jason? — Meus olhos quase saltaram, e senti meu
estômago dar um nó em uma bola apertada.
— Não, ele não disse ao Jason. O Asher não faria isso com você. Sua tia
me perguntou como foi a festa do pijama na minha casa ontem à noite. Eu
juntei os pontos.
— Merda, você não...
— Te deixei na mão? Claro que não. Eu disse a ela que nos divertimos
muito trançando o cabelo uma da outra e assando biscoitos.
— Muito engraçado. — Embolei uma camiseta e joguei nela. Flick
pegou, com os ombros tremendo de tanto rir.
— Então o que aconteceu?
— Não quero falar sobre isso.
— Tão ruim assim, é?
Soltando um suspiro exasperado, me sentei na cadeira.
— Não foi ruim... foi...
— Aah, algo aconteceu. — Ela bateu palmas e seus olhos brilharam de
animação. — Me conte o que aconteceu.
— Não é grande coisa.
Felicity franziu o cenho.
— Se não fosse grande coisa, você não estaria agindo de forma tão
suspeita. Desembucha...
— Nós nos beijamos e então ele... ah, demos uns amassos. Vestidos.
— Isso faz toda a diferença. — Ela revirou os olhos. — Você... você
sabe...?
— Gozei? Talvez... possivelmente... — Calor invadiu minhas bochechas.
Minha amiga soltou um grito de alegria.
— Isso é tão emocionante. Espere — sua carranca reapareceu —, por que
você não parece tão animada com este desenvolvimento quanto eu?
— Porque é complicado.
— Por causa do seu ex?
— Entre outras coisas.
— Você ainda está obcecada com a questão da raça? Porque estou te
dizendo, ninguém vai falar nada se vocês dois ficarem juntos.
Mas eles falariam.
Asher era um atleta branco privilegiado, com boas notas e um futuro
brilhante pela frente. Um futuro que eu tinha quase certeza de que a cidade
não gostaria que fosse manchado com seu amado Raider ficando com a pobre
garota negra.
— Não vou entrar nisso de novo. — Suspirei, voltando a arrumar a bolsa.
— Vou passar alguns dias em casa para ver minha mãe e amigos. Um pouco
de espaço pode nos fazer bem.
— O Asher sabe disso?
— Não preciso da permissão dele, Flick. — Meu tom era defensivo.
— Não estou sugerindo que você peça. Mas precisa ver do ponto de vista
dele. Parece que você está fugindo.
— Ele disse a mesma coisa. — Pressionei os lábios um no outro.
— Pelo menos explique para ele. Caso contrário, é provável que ele ache
que você está voltando para o seu ex.
— Eu nunca...
— Eu sei disso e você também, mas ele não sabe.
— Tudo bem — admiti. — Vou mandar uma mensagem para ele.
— Ótimo. Se apresse e faça o que for necessário para que possa voltar
logo e a gente possa comemorar.
— Vamos comemorar?
— Caramba, sim — ela gritou. — Isso é demais. E perfeito. Todos nós
podemos sair sem que ninguém se sinta excluído e Nova York será ainda
melhor quando você e o Asher...
— Uau, vá devagar aí. Eu não tenho certeza para onde essa coisa com o
Asher vai, Flick.
— Ah, cale a boca. Você o quer. Ele quer você. O que falta?
Se a vida fosse tão fácil.
— Por favor, não diga nada a ninguém, ainda não. — Minha expressão
ficou séria. — Não estou pronta para que as pessoas saibam. Inclusive o
Jason.
— Posso, pelo menos, contar a Hailee? Ela vai ficar muito feliz por você.
— Felicity — gemi.
— Tudo bem. — Ela ergueu as mãos. — Os meus lábios estão selados.
Você merece ser feliz com alguém que vai te tratar bem.
Suas palavras me atingiram bem no meio do peito, mas eu as afastei.
— Preciso terminar de arrumar a mala. Você vai me ajudar ou vai
continuar bancando a terapeuta? — Arqueei a sobrancelha.
— Ei, eu só me importo com você.
Parei de repente com sua admissão, e dei a ela um sorriso triste.
— Eu sei, me desculpe. Acho que estou mais nervosa em ir para casa do
que achei que estaria.
— Então não vá.
— Tenho que ir — falei em tom de desafio. — É algo que tenho que
fazer.
Asher: Que merda é essa, Mya? Achei que você tinha terminado com ele.
Eu: Terminei. É por isso que tenho que ir. Não estou tentando te
magoar, nem vou voltar lá para consertar as coisas com ele. Mas preciso
de um encerramento. Imagino que você possa entender isso.
Asher: Não sei o que pensar agora. Acordei depois de uma das melhores
noites da minha vida e descobri que você tinha ido embora. Agora
descubro que você está saindo da cidade. Parece que você está fugindo de
mim.
AQUILO DOEU.
Porque embora eu não tivesse dito a ele ainda, a noite passada também
significou muito para mim. Mais do que jamais pensei que significaria. É por
isso que eu tinha que fazer isso.
Uma ruptura limpa.
Rolei as mensagens até a minha última mensagem, aquela que ficou sem
resposta.
Eu: Você disse que esperaria por mim... Estou pedindo que mantenha
sua palavra.
Eu: Shona, vamos lá... você sabe que não posso ficar desfilando por aí
assim.
Shona: Vai ser na minha casa. Vamos manter isso em segredo. Além
disso, o Jesse está em casa. Ele vai cuidar de nós. Pfvrrr. Estou com
saudades, garota.
— EI, Ash, você está aí? — A voz de Jase ecoou pela casa, e eu soltei os
pesos, pegando uma toalha para me secar. Eu mal tinha conseguido sair do
banco quando ele e Cam apareceram na porta.
— Há quanto tempo você está aqui embaixo? Te ligamos.
— Um tempo. — Peguei a garrafa de água que Cam me jogou, destampei
e dei um longo gole. — Obrigado.
— Você está péssimo — Jase comentou, cruzando os braços e
semicerrando os olhos.
— Estou bem. — Depois da conversa com meu pai e de descobrir que
Mya tinha voltado para casa por alguns dias, fui para a academia. Levei meu
corpo até o limite físico. A adrenalina não apagava as memórias, mas ajudava
a moderar a frustração que eu sentia.
Como meus amigos não responderam, me olhando como se eu fosse um
show de horrores, acrescentei:
— É preciso muito esforço para ficar lindo como eu. — Sorri de forma
convincente.
— Isso não tem nada a ver com o fato de a Mya ter voltado para a
Filadélfia?
— Não. — Eu disse, caindo de volta no banco e olhando para o teto.
— Aconteceu alguma coisa entre vocês dois? — Cam perguntou.
— Sim — Jason respondeu. — Porque eu tentei arrancar da Felicity, mas
ela não falou. Nem mesmo depois que eu fiz aquela coisa que ela ama com a
líng...
— Opa, muita informação — protestei, apoiando um braço sobre meus
olhos.
Quando eu estava malhando, a dor e a resistência exigiam minha total
atenção, mas agora que terminei, meus músculos começaram a se contrair e
relaxar lentamente, deixando entrar a torrente de pensamentos que eu preferia
manter afastados.
— E aí, você e a Mya?
— Não existe Mya e eu — resmunguei.
Ela fugiu.
Na minha cabeça, ela estava voltando para os braços do ex.
Cerrei a mão contra a coxa.
Merda.
— Mas algo aconteceu?
Olhei para eles.
— Achei que sim, mas entendi errado.
— Ela vai mudar de ideia — Jason disse como se fosse algo certo, mas eu
não tinha tanta certeza. Mya passou a noite na minha cama, nos meus braços,
e então literalmente correu para casa, se afastando de mim. Não podia ficar
muito pior que isso.
— De toda forma, temos alguns lugares para ir.
— É? — Arqueei a sobrancelha.
— É. — Ele sorriu. — Se tivesse olhado seu telefone, você saberia. Se
arrume e nos encontre lá na frente em cinco minutos.
Eles se viraram e se afastaram, mas eu os chamei:
— Para onde vamos?
— Iniciar a próxima geração.
Isso chamou minha atenção. Dominamos a equipe por tanto tempo que
não houve necessidade de fazer iniciação com jogadores que subiriam na
hierarquia. Claro, cuidávamos dos jogadores mais jovens, mas todos sabiam
como as coisas funcionavam. Você era selecionado ou não, e se era, se
tornava parte da família. Mas este ano era diferente. Estávamos entregando as
rédeas a eles. Tirando o jogo de exibição no próximo mês, nosso tempo como
Raiders estava oficialmente encerrado.
Eu deveria saber que Jason não iria embora sem colocar os novatos à
prova.
E de mau humor ou não, esse era um show que eu não queria perder.
— VOCÊS ACHAM que eles têm o que é preciso? — perguntei aos meus
melhores amigos, inclinando a cerveja em direção à mesa dos Raiders mais
jovens. Encerramos os exercícios quando uma tempestade veio e grossas
gotas de chuva começaram a cair. No verdadeiro espírito de capitão, Jase
disse a todos para irem ao Bell’s, acrescentando que as bebidas eram por sua
conta.
— Kinnicky tem a habilidade, mas não sei se ele tem coração. — Ele
passou a mão pela mandíbula. — Por outro lado, Mackey está faminto por
isso.
— Com certeza está faminto por alguma coisa. — Cam riu. — Dê uma
olhada nele, tentando a sorte com a Sara de novo.
A garçonete do Bell’s, Sara, estava acostumada com nossas brincadeiras:
os assovios e insinuações sexuais. Mas Mackey era como um cachorro com
um osso e não importava quantas vezes ela o derrubasse, ele se levantava e
tentava de novo.
— Ei, Jase, você já ficou com ela? Pode nos contar. — Grady apareceu e
ganhou um tapa na cabeça de Cam. — O que foi? — ele gemeu. — É só uma
pergunta.
— Estou com a Felicity agora, filho da puta. Mostre algum respeito.
— Caramba, não é como se ela estivesse aqui. Só estou jogando conversa
fora.
— Não. — Jase resmungou, recostando-se na cabine.
— Você mudou, cara. E se isso significa ser dominado por uma garota,
não contem comigo.
— Ahhh, Grady, você parece enciumado — provoquei.
— De jeito nenhum. Vocês dois não estão mais divertidos. Quer dizer,
não me entendam mal, eu gosto da Hailee e da Felicity, gosto muito delas.
Mas puta merda, tem muitas bocetas por aí para se acomodarem antes de
irmos para a faculdade.
— Você vai ver — Jase respondeu em voz baixa. — Um dia, quando
você menos esperar, alguma garota vai aparecer e te derrubar.
— Não, não é meu estilo. Prefiro transar e seguir em frente. Estou certo,
sim ou com certeza, Bennet?
— Ele está certo, Bennet? — Jason levantou uma sobrancelha se
divertindo.
Filho da puta presunçoso.
— O que foi? — Grady percebeu a conversa silenciosa acontecendo entre
mim e meu melhor amigo.
— Nada. Não é nada, certo, Ash?
— Espere um minuto. — Grady endireitou o corpo. — Você está
comendo a negra bonita?
— Grady — avisei, encarando-o com um olhar duro.
— O quê? Por mim, tá ótimo. Ela parece a Rihanna. Você sabe, como na
capa do álbum Talk that talk.
Ficamos pasmos com ele e seus olhos se arregalaram.
— O que foi? Ela é gostosa e essa música é demais.
— Quem é você? — A risada retumbou em meu peito, mas saiu
estrangulada. Não gostei de ouvir Grady falar sobre Mya. Mesmo que fosse
uma tentativa de elogio.
— E aí, está?
— Estou o quê? — perguntei.
— Transando com a Mya.
— Grady?
— Sim? — Ele sorriu.
— Cale a porra da boca.
Antes que eu te faça calar.
TREZE
Mya
— ACHEI que você tinha dito que ia ser discreto — gritei por cima da música
para Shona, mas ela estava muito ocupada comendo um dos amigos do seu
irmão com os olhos.
— Ei, Mya, venha aqui e me mostre seus atributos. — Um cara que
reconheci da escola apontou o dedo para mim com um sorriso preguiçoso
estampado no rosto.
— Em seus sonhos, Diego. Você não sabe que a Mya ainda é a garota do
J?
Eu me arrepiei. Shona finalmente virou a cabeça, me dando sua atenção.
— Ah, caramba. Não, Kris, você não acabou de dizer o que acho que
disse.
— Shona — resmunguei, segurando a mão dela. — Deixa pra lá, não
importa.
— Importa, sim. — Ela deu ao cara um olhar sério. Ele ergueu as mãos,
murmurando um pedido de desculpas. — Isso mesmo, rapaz, é melhor você
se desculpar com a minha amiga.
— Precisa que eu o expulse daqui? — o irmão de Shona perguntou ao
aparecer com seu amigo Leroy.
— Tudo bem. — Ela mal olhou para Jesse, concentrando sua atenção em
Leroy. — Mas você pode pegar uma bebida para mim e para minha amiga.
— Shona, não dê em cima dos meus amigos. — Ele franziu a testa,
olhando para mim com uma expressão que dizia “ajude um cara”. Dei de
ombros. Nós dois sabíamos que não havia como parar Shona quando ela
colocava os olhos em algo ou alguém.
— O que você quer, Mya? — Leroy perguntou.
— Só um refrigerante por...
— Ela vai tomar uma bebida adequada, assim como eu.
— Shona, não acho que seja uma boa ideia. — Olhei ao redor de sua
casa. Cada centímetro do espaço estava abarrotado de pessoas e não pude
deixar de notar que não havia uma única pessoa branca.
Não era algo que eu já tinha notado.
Mas isso foi antes. Quando eu vivia para as festas da minha melhor amiga
e ainda me sentia em casa em Fallowfield Heights. Quando eu não sentia a
necessidade de vigiar por qualquer sinal de problema.
— Ei — Jesse apoiou a mão em meu ombro. — Você está segura aqui. O
Jermaine sabe que não pode aparecer aqui criando problemas.
— Eu sei. — Dei a ele um sorriso tenso. — Estou bem.
— Bom. Então, como é viver no campo? A Shona disse que você está em
uma escola chique focada em futebol.
— Não é exatamente chique, mas eles adoram futebol.
— Eles estão te tratando bem? Ou tenho que bater um papo com seus
novos colegas de classe e dar a eles um aviso no estilo Jesse Byrd?
Lutando contra o sorriso, respondi:
— Na maior parte do tempo, tudo vai bem.
— Maior parte do tempo? — ele arqueou a sobrancelha.
— Sou parte de quatro por cento.
— Hã? — Ele franziu os olhos em confusão, mas Leroy voltou com as
bebidas, me poupando de ter que dar uma explicação. Tomando um gole,
fiquei aliviada ao não encontrar vestígio de bebida alcoólica. A última coisa
que eu precisava era acabar bêbada.
As batidas da música mais recente do Drake explodiram nos alto-falantes,
fazendo Shona dançar.
— Dance comigo. — Ela segurou a mão de Leroy e quase o arrastou para
o meio da sala.
— Droga, ela nunca ouve. — Jesse balançou a cabeça em leve desgosto.
— Ela já ouviu alguma vez? — Ri vendo-a gritar com o amigo de Jesse.
Ele pareceu confuso no início, mas não demorou muito para que suas ações
refletissem as dela, passando as mãos para cima e para baixo em seu corpo
enquanto se moviam com a batida sensual.
— Ela te contou que o Jermaine foi expulso da escola?
Balancei a cabeça, pressionando os lábios para me impedir de falar.
— Ele está profundamente envolvido com o Diaz. Tenha cuidado, Mya.
— Sou uma garota crescida, Jesse. — Olhei para ele. — Posso cuidar de
mim mesma.
— Ah, não duvido. — Seus olhos brilharam com diversão. — Mas você é
como parte da família para mim, sempre será, e eu odiaria ver você se
machucar de novo.
Minha respiração ficou presa na garganta. Nunca conversamos sobre o
que aconteceu, mas Jesse estava lá quando Shona me encontrou. Ele nos
levou ao pronto-socorro. Quase perdeu o controle naquela noite, querendo
encontrar Jermaine e bater nele por ter me colocado em perigo. Shona e eu
conseguimos convencê-lo a não fazer nada imprudente. Jesse Byrd poderia
ter um metro e noventa de músculos e força, mas não era páreo para Diaz e
sua gangue.
— Vou ficar bem, prometo.
Ele não parecia convencido, mas me conhecia bem o suficiente para
desistir. Vimos Shona e Leroy praticamente transarem até que Jesse
finalmente explodiu. Grunhindo baixinho, ele avançou em direção aos dois,
arrancando sua irmãzinha de perto de seu amigo. Ela veio até mim e pegou
sua bebida, quase sem se intimidar.
— Ele precisa parar de encher o saco.
— As coisas entre vocês dois estavam ficando muito quentes.
— Nós estávamos dançando.
— Então eu não o vi se esfregando em você?
Shona sufocou uma risadinha e revirei os olhos.
— Você precisa encontrar um cara decente em vez de agir como se
estivesse sedenta toda vez que um cara olha em sua direção.
Ela fingiu se engasgar.
— Eu não ajo como se estivesse sedenta.
— Você sabe que é verdade. Mas você vale mais, Shona.
— Olhe só para você, agindo toda elegante agora que mora naquela
cidade caipira.
— Você percebe que isso é uma contradição completa, certo? Você não
pode ser elegante e caipira.
— Que seja. — Ela empinou o nariz, empurrando as tranças do ombro. —
Tudo o que estou dizendo é que você não me liga mais, muito ocupada com
seus novos amigos.
— Você sabe que não é isso. — A culpa me envolveu. — Eu só...
— Sim, eu sei. — Shona me olhou. — Estou brincando.
— Estou com um número novo. Portanto, agora podemos conversar o
tempo todo. Você vai ter que salvar meu contato como “vadia elegante” ou
algo assim. — Eu sorri.
— Você realmente acha que eu deixaria o Jermaine olhar meu celular?
Mal falei com ele desde que você foi embora.
O silêncio preencheu o espaço enquanto nós duas olhamos para o mar de
pessoas. Havia uma fina camada de fumaça, o cheiro mordaz de erva
permeando o ar.
— Shona — eu disse, finalmente quebrando a tensão entre nós. — Você
entende por que fui embora, certo?
— Claro, eu entendo. Parte de mim ficou aliviada quando a sua mãe disse
para você fazer as malas. Mas a outra parte, a egoísta, não consegue te
perdoar por me deixar para trás. Sei que isso me torna uma vadia, mas não
posso evitar.
— Eu sei. — Passei os braços em volta dela e a abracei com força. —
Também lamento ter que ir embora.
— Você deve aproveitar ao máximo e se lembrar que partiu, Mya. Você
escapou deste lugar. — Ela recuou, me dando um sorriso enorme. — Agora,
me fale sobre aqueles garotos brancos com quem você anda. — Seu sorriso
se tornou sugestivo.
— Eles são só... caras.
— Você gosta de um deles.
— Não gosto, não. — Mentirosa.
— Ah, sim, está escrito em seu rosto. Me deixe adivinhar, ele é como
Justin Timberlake. Você sempre teve uma queda por JT.
— Ele não é... — Uma comoção perto da porta chamou minha atenção.
— Mya, ei, Mya, você está aqui? — A voz de Jermaine ecoou pela casa e
minha coluna enrijeceu.
— Puta merda — Shona sussurrou. — Não se preocupe, querida, vou
pedir ao Jesse e ao Leroy para lidarem com ele.
— E provocar a Terceira Guerra Mundial? — Olhei para ela. — Sabia
que ele iria me encontrar. Eu só achei que seria nos meus termos. —
Colocando a bebida na mesa, comecei a passar por ela.
— Espere, você tem certeza disso? — ela me perguntou.
— É melhor que seja assim. — Um entendimento silencioso passou entre
nós. Se eu não fosse até ele, Jermaine e seus rapazes causariam problemas
para Shona e o irmão. Algo que eu não podia deixar acontecer.
— Se ele colocar um único dedo em você, me chame, tá? — Jesse me deu
um aceno tranquilizador.
A energia nervosa vibrou através de mim enquanto eu cortava o mar de
pessoas e seguia para a frente da casa de Shona. Jermaine estava na porta,
com os olhos duros e frios. Fazia três meses desde que eu o vi. Três meses
em que ele ficou mais forte e cobriu mais de sua pele escura com tatuagens.
Três meses para deixar seu amor por mim se transformar em ódio.
— Baby, você está linda — ele falou baixinho, deixando seu olhar correr
pelo meu corpo. Estremeci, sua atenção não era mais familiar e segura.
— J. — falei com frieza. — Faz algum tempo.
— Ei, Shawn, saia daqui. Eu e a minha garota temos que conversar. —
Vacilei por dentro.
Sua garota.
Ele ainda pensava em mim como sua garota. Mas eu não era mais sua
namorada desde o dia em que deixei Fallowfield Heights.
Seus rapazes se moveram, prontos para se dispersar na festa, mas eu falei:
— Eles têm que ir embora. Vou falar com você se eles saírem.
Jermaine arqueou a sobrancelha.
— Vai ser assim, é?
— Vai — falei impassível, cruzando os braços e olhando para ele.
— Tudo bem. Vou encontrar vocês mais tarde — ele falou aos caras e
todos saíram da casa.
— Vejo que você arranjou uns cachorrinhos. — Eu não queria pensar no
que ele havia feito para ganhar o respeito deles.
— Meu Deus, por que você tem que ser assim? Achei que poderíamos
conversar. — Ele caminhou em minha direção. — Conversar, nos beijar...
fazer as pazes. Você me deve, garota. — Ele estendeu a mão para mim, mas
eu a afastei.
— Não te devo nada mais do que uma explicação.
— Então vai ser assim? — Jermaine esfregou o queixo.
— Vamos lá fora, preciso de um pouco de ar. — Eu não conseguia
respirar com ele me olhando assim.
Passando por ele, saí para a noite fria. Shona morava em uma das partes
mais agradáveis do bairro, então tínhamos um pouco de privacidade. Fui para
a lateral da casa, onde eu sabia que havia um banco e me sentei. Jermaine me
seguiu, mas não se sentou. Parecia mais alto. Com a expressão um pouco
mais velha de alguma forma. Não havia nenhum sinal do jovem que deixei
para trás.
— Como está sua mãe? — perguntei, quebrando o silêncio. — Aposto
que ela ficou muito desapontada por você ter abandonado a escola.
Ele estalou a língua, dando de ombros.
— Eu fiz o que tinha que fazer.
— Besteira. A escola era a única coisa que dava certo para você.
— E daí? O máximo que eu poderia esperar da vida era trabalhar em uma
loja de conveniência ou servir bebidas no bar do Keelan. Que se foda isso.
— Pelo menos você estaria em segurança. Pelo menos seria um trabalho
honesto.
— Merda, Mya, você esteve três meses em sei lá onde e já está falando
bobagem. Fizeram uma lavagem cerebral em você? Encheram sua cabeça
com sonhos de uma vida melhor? — Ele bufou. — Tenho novidades para
você, garota. Isso é tudo que temos. A vida nunca será diferente.
Meu coração doeu com suas palavras. Pelo garoto que conheci. Jermaine
foi cegado pela promessa de dinheiro e status. Ele não conseguia ver que
havia outra maneira, como muitos homens em nossa vizinhança.
— Não precisava ser assim — sussurrei, inclinando a cabeça para trás
contra o revestimento.
Jermaine segurou minha mão, entrelaçando nossos dedos do jeito que ele
fez tantas vezes. O que no passado me trouxe paz, parecia errado agora.
— Foi sempre você, Mya. Você era minha âncora neste lugar fodido que
chamamos de lar. Contanto que eu tivesse você, nada mais importava.
Os cantos dos meus olhos se encheram de lágrimas.
— Nós dois sabemos que isso não é verdade. Eu nunca fui o suficiente.
Se eu fosse, você teria parado.
— Você me deixou. Você me deixou, merda — ele repetiu, várias e
várias vezes, com a voz embargada de dor. Eu queria consolá-lo, dar-lhe
conforto do jeito que havia feito tantas vezes antes. Mas não fiz.
Eu não podia.
— Fui embora porque sabia que se ficasse, nunca sairia daqui. E eu quero
mais, J. Quero ir para a faculdade e me formar. Quero uma casa, uma família
e um emprego. Eu quero mais do que... do que isso.
— Você sempre foi boa demais para este lugar. — Ele olhou para a
escuridão.
— Lamento ter fugido, lamento mesmo. Mas não tive outra escolha. Vi
você ser espancado até apagar e então fui agredida. Eles me agrediram com o
seu sangue nas mãos. Tem alguma ideia de como foi? Achei que eles iam...
— As palavras se alojaram na minha garganta enquanto as memórias
nebulosas inundavam minha mente.
A dor.
A trituração de osso com osso.
As risadas.
Muitas risadas.
Sangue. Em todos os lugares.
— É a vida, Mya.
— Ah, Deus. — Puxei a mão e fiquei de pé. — Ouça o que você está
dizendo. Mesmo agora, mesmo sentado aqui me ouvindo dizer por que fui
embora, ainda não é o suficiente. Você deveria ir.
— Baby, não faça isso. — Ele se levantou, tentando me puxar para seus
braços, mas resisti, me afastando de seu aperto. — Você faz parecer que tudo
depende de mim, mas sabia quem eu era. Você sabia para onde minha vida
estava indo e me amava mesmo assim. E agora você acha que pode fugir e
fingir que não somos nada um para o outro? Que se foda. Você é minha,
Mya. Você sempre vai ser minha. Você não pode fugir para sempre. — Seus
olhos ficaram duros. — Um dia, você vai voltar correndo. Não dá para fugir
do gueto, baby. Você sabe disso.
Essa era uma coisa boba que dizíamos um para o outro. Eu implorava a
Jermaine para não sair com a gangue de Diaz, e ele me dizia que era o
destino. Mas nunca foi o destino. Era uma escolha, e ele já havia feito a
errada.
— Adeus, Jermaine — falei, me afastando devagar.
— Você está cometendo um erro, Mya — ele grunhiu, com um brilho de
raiva e tristeza nos olhos. Doía fisicamente me afastar dele. Mas eu tinha que
fazer isso. Eu tinha que colocá-lo no passado. Porque o amor não era
suficiente. Não para nós.
— Isso não é o fim — ele gritou atrás de mim enquanto eu me virava e
saía correndo pelos fundos da casa de Shona. Não olhei para trás. Não me
permiti chorar, gritar ou desmoronar.
Não até chegar à porta dos fundos e cair nos braços de Jesse, que estava à
espera.
CATORZE
Asher
— SOUBE que o treinador Hasson prendeu vocês em um jogo de exibição no
mês que vem. — Meu velho falava em tom calmo, mas ouvi a desaprovação
em sua voz. Não foi o que ele disse, mas como disse.
Meus amigos não sabiam disso enquanto comiam a lasanha da minha mãe
e tomavam o uísque de vinte e um anos do meu pai como se tudo estivesse
bem.
— Sim, foi meio que inesperado — Jason comentou. — Mas se significar
que vou jogar uma última vez com o time e arrecadar dinheiro para uma boa
causa, conte comigo.
— É melhor eu abrir meu talão de cheques então. — Meu pai sorriu, mas
isso só me fez lembrar de uma raposa astuta.
Todos riram, mas a mistura de risada tensa da minha mãe com a
exagerada do meu pai era quase insuportável.
Esta não era a primeira vez que bancava a família feliz com meus pais e
melhores amigos. Meu pai gostava do exibicionismo. Ele gostava de
apresentar uma frente unida e forte, e normalmente eu jogava junto sem
muita dificuldade. Mas isso era diferente. Parecia a última ceia antes de
caminhar para uma sentença de morte em sistemas de segurança e reuniões de
negócios, gravatas coloridas e ternos executivos.
— Isso seria muito gentil, sr. Bennet.
— Por favor, Jason, já falamos sobre isso. Me chame de Andrew.
Meu melhor amigo assentiu e tenho certeza de que o peguei com os olhos
brilhantes enquanto observava meu pai comandar a mesa. Jason e seu pai,
Kent Ford, não eram exatamente próximos. Havia muito ressentimento e
amargura ali, mas ainda parecia irônico que ele respeitasse tanto meu pai. Se
ele soubesse...
Afastando os pensamentos, coloquei mais lasanha na boca. Minha mãe
me lançou olhares apreciativos de vez em quando. Isso era tudo para ela.
Jantar. A conversa falsa. Meu pai podia ser um filho da puta frio e cruel, mas
em sua própria maneira distorcida, ele a amava. E se havia uma coisa que
Andrew Bennet nunca fazia, era romper um acordo comercial.
Casamento.
Paternidade.
Os negócios.
Era tudo a mesma coisa para ele. Uma série de transações em que as
pessoas trocavam dinheiro e serviços, promessas e sacrifícios para seguir em
frente e melhorar.
Meu pai teve a garantia de que seu filho seguiria seus passos. Minha mãe
conseguiu a imagem de uma boa família.
E eu ganhei quatro anos de futebol com meus amigos.
— Asher, filho, está ouvindo?
Falando no diabo... Meu pai olhou para mim.
— Eu, ah, desculpe.
— Eu estava dizendo aos caras como estamos entusiasmados por você
manter a tradição dos Bennet de ir a Pittsburgh no outono.
O sangue latejava nas minhas orelhas. Ele podia falar sobre qualquer
coisa, mas escolheu a única sobre a qual eu não queria falar.
— Andrew, não vamos aborrecê-los com histórias de como estamos
orgulhosos. Ainda há muita comida e fiz a sobremesa também.
— Está tudo bem, sra. Bennet — Cam falou. — Sempre podemos
reservar alguns minutos para conversar sobre faculdade, certo, Jase?
— Claro. Mal posso esperar o verão chegar.
— Seu pai me disse que a srta. Giles vai segui-lo até a Penn.
— Ela não o está seguindo, pai — resmunguei. — Ela já ia para lá.
— É mesmo? — Ele parecia genuinamente surpreso. — Não imaginei
que ela fosse tão inteligente. Está na hora de você encontrar uma boa...
— Andrew, por favor. Não vamos envergonhar o Asher na frente dos
amigos.
— Só estou dizendo, Julia, que uma boa mulher pode fazer um homem.
Quero dizer, olhe para nós. — Ele deu um tapinha na mão da minha mãe,
com os olhos brilhando com uma possessividade feroz que poderia
facilmente ser confundida com adoração.
Mas eu o conhecia bem.
Sabia que minha mãe era um peão em seus jogos, assim como eu.
— Na verdade, sr... quero dizer, Andrew, o Asher está de olho em uma
garota.
Virei a cabeça para Jason e arrastei o dedo no meu pescoço. Ele sorriu
enquanto Cam quase cuspia o uísque.
— Ah, sim, a garota Hernandez. — O sorriso de meu pai ficou mais
tenso. — Bem, acho que é melhor ele se divertir antes de se estabelecer e se
concentrar no futuro.
Meus amigos franziram a testa com isso. Jase pigarreou, sem dúvida
pronto para vir em minha defesa, mas Cam o cutucou de forma discreta,
balançando a cabeça de leve.
Caramba. Isso estava se transformando em um show de horrores. Eu não
queria convidá-los, mas sabia que minha mãe ficava feliz com isso. E meus
amigos pareciam uma escolha segura.
Agora eu estava pensando seriamente se havia algo errado comigo.
Isso não era seguro. Tê-los aqui não era reconfortante.
Era doloroso. Me cortava por dentro como se eu tivesse engolido
pequenos cacos de vidro.
Deixei cair os talheres no prato e o barulho cortou o silêncio tenso.
Passando a mão pelo cabelo, dei a Jase um olhar suplicante. Eu nunca tinha
pedido a ele para me ajudar a escapar de um dos jantares de meus pais. Mas
esta noite era diferente.
Esta noite eu precisava de meus amigos.
Jase pigarreou.
— Isso estava ótimo, sra. Bennet. Mal posso esperar para ver o que tem
para a sobremesa. Depois temos que ir. Vamos nos encontrar com o resto do
time no Bell’s para o nosso evento anual pré-natal.
— É mesmo? — A expressão de meu pai ficou mais dura. — Você não
mencionou isso, filho.
— Acho que me esqueci — resmunguei.
— Bem, isso é ótimo — minha mãe acrescentou. — Espírito de equipe é
muito importante hoje em dia. Vou tirar os pratos e servir a sobremesa para
que vocês possam seguir o seu caminho. Asher, pode me dar uma ajudinha?
— Claro, mãe. — Eu me levantei e comecei a retirar os pratos. Eu sabia
que Jason e Cam não entendiam a atmosfera estranha no jantar, mas era
melhor assim.
Por enquanto, era melhor que eles não soubessem de toda a história.
Pelo menos, era o que eu dizia a mim mesmo.
— QUER nos dizer o que é que foi isso? — Jase manteve os olhos na estrada
enquanto nos afastávamos de minha casa. Só quando ela desapareceu no
espelho retrovisor que finalmente senti o peso do meu peito aliviar.
— Apenas o meu velho agindo como um babaca como sempre.
Ele me olhou de soslaio, apertando o volante.
— Tem alguma coisa acontecendo e você não quer nos contar, isso é fato.
Mas pare de besteira. Nós já passamos por isso. Eu com meu pai. Cam com a
mãe. Não há problema em deixar as pessoas entrarem, Ash. Você não tem
que lidar o que quer que esteja te deixando tão nervoso sozinho.
— A Fee é boa para você, cara. — Ignorei seu grande discurso e desviei
os holofotes para ele. — E apesar de tudo o que aconteceu, estou feliz. Vocês
dois se merecem.
— Então é assim que vai ser? — ele perguntou.
— Por enquanto, sim. Mas avisarei quando estiver pronto para conversar.
— Estaremos aqui, sabe disso. — Cam se inclinou para frente no banco
de trás e apertou meu ombro.
As ruas de nossa pequena cidade passaram. Eu não conseguia me
imaginar mudando para Pittsburgh e vivendo em um lugar estranho com
pessoas estranhas. Mas acho que meu futuro estava manchado pelo fato de
não ser realmente o meu futuro.
— Ei — protestei depois de um tempo. — Este não é o caminho para o
Bell’s.
— Você percebeu, hein? — Ele sorriu, sinalizando para a esquerda e
entrando na rua onde Felicity morava.
— Se essa é a sua tentativa de me animar, não estou com vontade de
brincar de vela. — Já tinha feito muito disso nos últimos tempos.
Ele riu, sem dizer outra palavra enquanto entrava na garagem de Flick e
desligava o motor.
— Confie em mim — ele falou em tom enigmático. — Acho que você vai
gostar desta surpresa.
Surpresa?
Que merda era essa?
Saímos e segui Jason e Cam com relutância até a casa dos Giles. A última
coisa que eu queria fazer era sair e vê-los com suas namoradas. Eles
geralmente tentavam manter os toques e carícias ao mínimo perto de mim.
Tentavam e falhavam.
E eu entendia, de verdade. Eles estavam apaixonados. Tão profundamente
apaixonado que não conseguiam tirar as mãos delas. Mas essa merda era
nauseante em um dia bom, imagine em um dia em que tudo parecia horrível.
Jason não bateu. Ele simplesmente entrou como se fosse o dono do lugar.
Não me surpreendia. Ele já tinha o sr. e a sra. Giles na palma da mão, apesar
de suas preocupações iniciais sobre sua filha namorar o garoto de ouro do
futebol de Rixon.
Seguimos a risada feminina até a sala de estar e arregalei os olhos.
— Mya? — ofeguei. — O que você está...?
Ela se levantou, afastando os cachos selvagens do rosto.
— Oi.
Percebi Fee e Hailee sorrindo para nós pelo canto do olho.
— Podemos conversar?
— Eu... ah... claro — falei.
Jase me deu um tapinha nas costas, passando por mim enquanto eu ficava
preso no lugar, olhando para Mya.
— Vamos — ela disse, segurando minha mão e me levando para longe de
nossos amigos.
Fiquei tão surpreso e confuso que me arrastei atrás dela como um
cachorrinho perdido.
Mya continuou até chegarmos à porta dos fundos.
— Está frio — ela disse. — Mas achei que teríamos mais privacidade lá
fora. — Ela olhou para mim e esperou.
— Certo.
Soltando um pequeno suspiro, Mya assentiu antes de sair. Ela não estava
errada. O ar frio nos envolveu como dedos gelados. Ou talvez fosse apenas
apreensão com o que quer que ela queria falar.
— Puta merda — murmurei, enfiando as mãos nos bolsos da jaqueta.
Mya escolheu o balanço. Era grande o suficiente para dois, mas eu ainda
estava tão surpreso ao vê-la que optei por ficar de pé.
— Bem — ela começou —, tenho algo para você.
— É?
— Sim. — Um sorriso hesitante apareceu em sua boca quando ela enfiou
a mão no bolso e tirou um pedacinho de papel. — Aqui.
Peguei o papel com as sobrancelhas franzidas em confusão enquanto li o
número escrito nele.
— Não estou...
— É o número do meu celular. Meu novo número de celular.
— Não entendi. — Cocei a bochecha.
— Acabou, Asher. Voltei lá e vi Jermaine por achar que precisava de um
encerramento, mas percebi uma coisa. Essa parte da minha vida acabou no
segundo em que fiz a mala e parti. Então, está acabado.
— Acabado? — Eu parecia um papagaio, mas não consegui processar o
que ela estava dizendo.
— Ainda quero levar as coisas devagar, mas o que estou dizendo é: se
você ainda me quiser, sou sua.
Sua.
Ela disse: “Sou sua”.
As palavras giraram na minha cabeça até que finalmente se estabeleceram
em cinco letrinhas.
Minha.
Minha.
Minha.
Mya estava dizendo que era minha... se eu ainda a quisesse.
Eu caí de joelhos na frente dela e deixei o pedaço de papel escapar de
minhas mãos enquanto segurava seu rosto.
— Você terminou com ele?
— Definitivamente. — Ela sorriu, com os olhos cheios de promessa.
— Você realmente quer ser minha, Hernandez? Porque vou ser carente.
Carente pra cacete. — Admiti. — Acordar e descobrir que você tinha ido
embora doeu. Mais do que jamais achei que doeria. — Me inclinando, apoiei
a cabeça na dela. — Mas descobrir que você voltou para casa, imaginar você
com ele, quase me matou.
— Sinto muito. Eu só... fiquei com medo, Asher. O que sinto por você me
assusta.
— É? — Me afastando, olhei nos olhos de Mya, precisando ver a verdade
ali. — Como você se sente sobre mim?
— Como se eu pudesse me perder.
— Eu nunca vou deixar isso acontecer — falei. — Sabe por quê?
— Por quê?
— Porque eu sempre vou te encontrar, Mya. — Entrelaçando os dedos
em seus cabelos, me inclinei e provei seus lábios. Uma. Duas. Três vezes. Só
para ter certeza de que isso era real.
Que ela era real.
Mya passou os braços em volta do meu pescoço, me puxando para mais
perto. Fiquei de joelhos, pressionando-a de volta no balanço dos Giles. Ela
disse que queria ir devagar, mas não pude resistir a prender sua perna em
volta do meu quadril e me esfregar contra ela.
— Asher. — Ela segurou minha jaqueta. — Nós provavelmente
deveríamos...
Não diga isso.
Não diga essa merda.
— Desacelerar.
Um gemido de frustração subiu pela minha garganta, mas sorri para ela
enquanto relaxava.
— Você vai me deixar louco, Hernandez.
Mya sorriu. E era tão puro e honesto que me senti me apaixonar ainda
mais por ela.
— Sinto muito.
— Não se desculpe comigo. Nunca. Se gostar de algo que estamos
fazendo, me diga. Se não gostar, também. Se precisar que eu diminua a
velocidade, me fale. Se precisar que eu acelere... — arqueei a sobrancelha de
forma sugestiva — definitivamente me fale.
Ela bateu no meu peito, olhando para mim como se eu tivesse perdido a
cabeça.
— É uma das coisas que mais amo em você, Mya. Você não tem medo de
falar. Eu não quero silenciar você. Não importa o quanto as minhas bolas se
tornem azuis.
— Ah, por favor, pare. — Ela estava rindo. — Você mãos. Use-as.
Me inclinei novamente, beijando um caminho de seus lábios até sua
orelha.
— Ah, eu uso — sussurrei. — E sempre penso em você.
— Asher... — Meu nome em seus lábios era como música para meus
ouvidos.
— Vamos lá, vamos sair com os outros.
— Sério? — A surpresa no rosto de Mya era adorável. Como se parte
dela realmente esperasse que eu a jogasse por cima do ombro e fosse até a
minha caverna para fazer o que queria com ela.
Quer dizer, pensar não era a mesma coisa que fazer. Certo?
Dei um beijo no topo de sua cabeça antes de puxá-la e passar o braço em
volta de seu ombro.
— Você e eu, Mya. Em nossos termos, certo?
— Certo. — Ela engoliu em seco, nervosa.
Eu ri, levando-a de volta para dentro para nos juntarmos aos nossos
amigos, me sentindo como o rei do mundo.
QUINZE
Mya
NO SEGUNDO EM que entramos na sala de estar da casa de Felicity, o
silêncio caiu sobre os quatro. Jason sorriu, resmungando algo que soou como
já estava na hora. Flick lhe deu uma cotovelada nas costelas, fazendo-o
grunhir de dor. Asher riu, segurando minha mão e me levando para o sofá
vazio. Ele se sentou primeiro, me puxando para o seu lado e passou braço ao
meu redor como se fosse a coisa mais natural do mundo.
— Então — Flick falou, olhando de mim para Asher e vice-versa —, isso
significa que vocês dois estão juntos agora? — Ela lutou contra um sorriso.
— Estamos... — Olhei para Asher, sem saber se queria definir ou colocar
um rótulo quando tudo ainda parecia tão novo.
— Indo devagar — ele respondeu por mim. — Mas, só para esclarecer,
não pretendo olhar para outra garota, muito menos tocar. — Ele não estava
olhando para mim, mas eu senti as palavras alcançando minha alma. Era sua
maneira não tão discreta de me deixar saber que estava envolvido, e eu não
podia negar que suavizou algo dentro de mim.
— Isso é tão fofo. — Flick estava sorrindo.
— Enjoativo pra cacete, se você me perguntar. — Jason gemeu.
— Acha que me importo? — Asher me puxou para mais perto, dando um
beijo na minha cabeça. — Eu finalmente consegui a garota. Acho que isso me
dá um passe livre para esta noite, pelo menos. Além disso, tenho que assistir
você limpar os dentes da Fee regularmente — ele resmungou para Jason.
— Apenas agradeça por não ter que me ver limpar a bo...
— JASON! — Felicity gritou, tapando sua boca com a mão. — Isso é
nojento.
— Não, baby, é delicioso — ele murmurou contra a palma da mão dela.
— Sério, cara, estamos felizes por vocês. — Cam nos deu um pequeno
aceno de cabeça, movendo Hailee, que estava enrolada em seu colo, com a
cabeça apoiada em seu peito. — Pelo menos agora podemos sair sem você
reclamar — ele provocou.
— Vá se foder. Sou uma vela incrível.
— Ei. — Eu belisquei sua costela. — O que você está tentando dizer?
Os olhos de Asher encontraram os meus, brilhando com luxúria e outras
coisas que eu não estava pronta para reconhecer.
— Você sabe que eu quero você, Hernandez. É você quem nos faz andar
a passo de caracol.
— Ash... — Minhas bochechas queimaram quando senti todos nos
observando, sem dúvida imaginando do que ele estava falando.
— Diga isso de novo — ele murmurou, com os olhos arregalados de
admiração.
— Dizer o quê? — Franzi o cenho.
— Ash. Você me chamou de Ash.
— Chamei? — Eu nem tinha percebido.
— Chamou, sim. Sabe o que isso significa, Hernandez?
— Não, mas tenho a sensação de que você vai me contar.
Ele se inclinou, roçando o nariz no meu, esquecendo completamente que
tínhamos uma audiência.
— Isso significa que você deve realmente gostar de mim.
— Você está certo. — Sufoquei o aumento das risadas.
— Diga, Mya. Admita que gosta de mim.
— Você realmente precisa me ouvir dizer isso? — Ele me puxou para sua
bolha e eu não poderia negar, mesmo se quisesse.
Ele assentiu, com os olhos implorando por mim.
— Gosto de você. — Foi um sussurro destinado apenas aos seus ouvidos.
Mas no verdadeiro estilo Asher Bennet, ele inclinou a cabeça para trás e
rugiu: — Ela gosta de mim. Mya Hernandez gosta de mim.
A risada ecoou ao nosso redor e nossos amigos contagiados com sua
empolgação.
— Você é louco — falei, agarrando sua jaqueta, persuadindo-o a voltar
para mim.
— Sim, tem razão, sou mesmo. Sou louco por você. — Ele cobriu minha
boca com a sua, me beijando de forma desajeitada. Ávida. Empurrando a
língua em minha boca e enredando-a com a minha.
Não parecia que estávamos indo devagar. Parecia que estávamos nos
jogando de forma imprudente um no outro, sem pensar na força com que
poderíamos colidir.
— Asher — seu nome era um sussurro sem fôlego enquanto eu tentava
segurar meu último fragmento de defesa contra ele.
Mas era inútil.
Asher era a minha fraqueza.
— O QUE ESTÁ te deixando tão feliz? — Tia Ciara me olhou na manhã
seguinte.
— Nada — falei, desviando os olhos.
— Não pense que sou idiota. Você está com aquele olhar jovem e
apaixonado. Por favor, me diga que não caiu no charme daquele atleta?
— Asher, tia, o nome dele é Asher.
— Não preciso saber o nome dele. Ele é encrenca, e eu achei que você
fosse mais esperta, minha garota.
— Tia, por favor. — A culpa envolveu meu coração. Eu não queria
desapontá-la. Não quando ela era uma das últimas pessoas na minha vida que
se importava.
Meu retorno à minha casa foi um desastre em mais de um aspecto. Minha
mãe mal esteve por perto, ocupada no The Diamond com o trabalho. Ela me
convidou para ir com ela, mas eu não conseguia ficar naquele lugar. Vê-la
envolta em Keelan, esperando para atender todas as suas necessidades, ou
ainda pior, no palco dançando para ele e seus amigos.
Um estremecimento doloroso passou por mim.
Quando dei a ela meu novo número de celular, ela me abraçou com força
e me disse que essa era a coisa certa. Que ela estava realmente aliviada por eu
finalmente deixar Jermaine e minha vida em Fallowfield Heights para trás.
Uma vida que a incluía.
— Agora você está carrancuda como se todo o seu mundo tivesse
acabado. O que está acontecendo com você, Mya?
— A minha mãe simplesmente me deixou ir embora. — Não falei muito
sobre a viagem e tia Ciara não perguntou. Ela sabia o quanto sua irmã podia
ser inconstante. Essa era uma das razões pelas quais ela mal nos visitou
quando eu era mais jovem.
— Porque ela sabe que você terá uma vida melhor e melhores
oportunidades fora daquele lugar.
— Sim, mas ela é minha mãe. Achei que pelo menos ficaria triste.
— Mya, ela te ama muito, mas ela também é diferente de mim e de você.
A Sofia precisa se sentir necessária. Ela precisa da validação que o amor de
um homem lhe dá. Depois que seu pai foi embora... — Tia Ciara hesitou.
Meu pai nunca esteve por perto. Ele foi embora antes mesmo de eu
nascer. Demorou um pouco para aceitar que eu nunca o conheceria, mas fiz
as pazes com isso há muito tempo.
— Ele arruinou algo dentro dela — ela continuou. — Algo que o Keelan
recuperou. Ele pode não ser quem você ou eu escolheríamos, mas ele sempre
cuidou dela. Manteve um teto sobre sua cabeça e comida na mesa.
— Eu sei — sussurrei.
Mas tinha um preço. E esse preço era seu amor. Ele exigia isso ao
máximo. E em algum lugar ao longo do tempo, tive que competir por sua
atenção.
Até que eu parei.
— Agora me fale sobre esse menino Bennet.
— Mesmo? — Meu rosto se iluminou e parte de mim odiava o quanto eu
já tinha deixado Asher me envolver. — Você quer saber?
Ela estalou a língua.
— Se colocar um sorriso em seu rosto, acho que posso ouvir por cinco
minutos. Mas não fique com a ideia errada, Mya. Ainda acho que é encrenca.
Esta cidade é mais atrasada do que você pensa. Não é fácil aceitar que um de
seus astros do futebol saia com uma de nós.
— Não existe eles e nós, tia.
Ela franziu o cenho e eu soube que ela via através de mim. Porque
embora eu quisesse acreditar em minhas próprias palavras, parte de mim
sabia que ela estava certa. Mas já era tarde demais. Asher não me deixaria
mais fugir.
E eu não queria.
Queria fazer o que eu fazia de melhor por algo que desejava. Pelas
pessoas com quem eu me importava.
Lutar.
— VOCÊ ACHA que isso é uma boa ideia? — Cam sussurrou enquanto
caminhávamos pelo quintal dos Giles, seguindo pelos arbustos que revestiam
a casa. — Não poderíamos simplesmente ter batido?
— Já faz muito tempo desde que pregamos uma peça em Hailee — Jase
balbuciou. — Ela precisa de um pequeno lembrete de quem é o melhor
irmão.
— Meio-irmão — corrigi.
— Ela me deve uma já que se aproximou do Chase.
— Estou bem aqui — Cam protestou.
— Sim, cara. Você me deve também. Minha meia irmã. Sério, cara, você
tinha que fazer isso?
— Quantas bebidas você tomou esta noite? — perguntei a ele.
— Estou bem.
— Você está bêbado e quando a Felicity vir o que você fez com as
plantas da mãe dela, vai enlouquecer.
— Só porque a Hailee tem suas bolas na bolsa, não significa que o resto
de nós deixe nossas mulheres comandarem o show.
Cam se deixou cair em uma das cadeiras do jardim.
— Só vou me sentar aqui e assistir você mostrar a sua mulher quem
manda.
— Estou com ele — recuei, deixando Jase tentar escalar a parede
sozinho.
— Bando de idiotas — ele murmurou, tentando conseguir um apoio para
os pés na treliça de madeira. — Precisamos recuperar nossas bolas, estou
dizendo. Essas garotas acham que podem simplesmente aparecer, virar nossas
vidas de cabeça para baixo e nos ver correndo atrás delas. Sou um Raider,
pelo amor de Deus. E os Raiders nunca... — ele parou quando percebeu que
estávamos olhando para ele. — O que foi?
Balancei a cabeça por cima do seu ombro para onde as garotas estavam
paradas não parecendo nada divertidas.
— Jason Gary Ford, o que é que você pensa que está fazendo com as
hortênsias da minha mãe?
— Baby, posso explicar... — Jase passou a mão pelo cabelo, se
aproximando delas. — Achamos que seria engraçado.
— Ele — Cam tossiu — ele achou que seria engraçado.
— Filho da puta traidor.
— Por favor, não me diga que você ia tentar escalar a parede. — Flick se
aproximou dele, pressionando as mãos em seu peito com força.
Jase abriu um sorrisinho.
— Eu queria te ver.
— Poderia ter ligado ou batido. Deus, você está fedendo. Quanto vocês o
deixaram beber? — Seus olhos foram para mim.
— Não olhe para mim. Não sou o segurança dele.
— Nem eu — Cam acrescentou. — Culpe o Grady.
— Grady? O Grady, que não está aqui agora pisoteando as plantas da
minha mãe e tentando escalar a treliça.
— Não fique chateada, baby. — Jason enganchou o braço em volta da
cintura de Felicity, puxando-a para mais perto. — Senti a sua falta. — Ele
enterrou o rosto em seu pescoço, e ela gritou.
— Me solta, você está bêbado.
— Talvez você devesse nos convidar para entrar — sugeri —, antes que
ele realmente faça uma cena.
Mya balançou a cabeça para mim, com um sorrisinho. Sem dizer uma
palavra, me levantei da cadeira e fiz o meu melhor para caminhar em linha
reta até ela.
— Oi.
— Oi — ela disse, seu sorriso crescendo. — Você está bêbado?
— Não tanto quanto ele. — Apontei para onde Jason estava quebrando a
determinação de Flick, tentando beijá-la enquanto ela reclamava. — Mas um
pouco mais bêbado do que o Cam.
— Parece mesmo — Hailee falou enquanto passava por mim para ir
buscar seu cara.
— Sentiu saudades?
— Saudades? — Mya riu, passando as mãos pelos meus ombros. — Faz
apenas algumas horas desde a última vez que te vi.
— Admita, você sentiu minha falta.
— Ash... — Ela baixou os olhos, encostando a cabeça na minha.
— Está tudo bem, Mya — Jase gritou. — Somos todos escravos do amor
aqui.
— Ah, Deus, pare — Flick sufocou uma risada. — Você está aqui agora.
Acho que também pode entrar.
— Podemos? — perguntei a Mya. Ela pegou uma das minhas mãos e se
virou para voltar para dentro. Mas parei, observando seu corpo. — Belo
pijama.
— Comporte-se — ela me repreendeu. — Ou eu chamo um táxi para
você.
Jase riu, mas minha namorada lhe deu um olhar severo.
— Você também, Ford. Pode ser a casa da sua namorada, mas você
interrompeu a noite das garotas e não tenho medo de mandá-la te colocar para
fora.
— Aviso recebido alto e claro.
— Você realmente mostrou a ela, Jase — provoquei.
— Vá se foder — ele murmurou enquanto todos nós entrávamos. Já era
tarde e eu e Cam tentamos convencer Jason a não vir aqui para sabotar a noite
das garotas. Mas eu não ia deixá-lo sozinho. Além disso, a chance de passar
mais tempo com Mya era boa demais para recusar.
As garotas nos conduziram para a sala de estar, praticamente nos
empurrando para o sofá.
— Agora — Felicity começou —, o que fazer com vocês três.
— Você pode fazer o que quiser, querida — Jason sorriu, deixando sua
mão descer até a virilha.
— Cara, estamos bem aqui — eu o lembrei.
— Talvez você devesse se foder então.
— Que tal um jogo de verdade ou desafio? — Hailee sugeriu. — Jason
vai primeiro, já que ele é o cérebro por trás de tudo isso.
— Verdade ou desafio é para idiotas — ele grunhiu, com os olhos
famintos fixos em Flick como um predador perseguindo sua presa.
— Faremos valer a pena. — Mya se colocou entre Hailee e Felicity,
passando o braço em volta de seus ombros. Me sentei um pouco mais reto,
carrancudo.
— Ah, é, Hernandez — Jason falou. — E como exatamente você planeja
fazer isso?
— Eu te desafio a beijar o Asher...
— Que merda é essa? — Nós dois gritamos. — De jeito nenhum!
— Beije o Asher — minha garota se manteve firme — e eu vou beijar a
Felicity.
Puta merda.
Meu queixo quase bateu no chão quando Flick assentiu.
— Aah, boa. O que acha?
— Baby, não sou um cara na puberdade que fica olhando duas garotas...
— Suas palavras foram sumindo enquanto Felicity passava um dedo pelo
pescoço de Mya, brincando com o decote do pijama.
— O que você estava dizendo? — Ela tinha toda a atenção de Jase agora.
Ele semicerrou os olhos e dilatou as narinas.
— De verdade, você quer fazer isso? — Seu olhar duro me encontrou ao
redor de Cameron. — Você quer me ver beijar o Asher?
— Cara — interrompi. — Você não está realmente considerando isso,
não é? — Ver Mya beijar Felicity seria muito sexy, mas de jeito nenhum eu
queria beijar meu melhor amigo – um cara – por isso.
Sem chance.
— Estou dentro, se você estiver.
Parecia que éramos espectadores de algum desafio particular entre Jase e
Felicity. O desafio brilhou nos olhos deles e o ar ficou denso com a tensão.
— Você realmente vai fazer valer a pena?
Ela assentiu e eu tentei chamar a atenção de Mya, mas ela estava muito
ocupada observando Jason e Felicity.
— Certo. Ash, venha aqui.
— Não vou beijar você, Jase. De jeito nenhum.
— Não seja tão maricas. Já vi seu pau mais vezes do que posso contar. O
que é um beijinho entre amigos?
— Você ficou louco — gritei enquanto Jason se levantava, contornando o
sofá e vinha em minha direção. — Mantenha seu traseiro bêbado longe de
mim.
— Você sabe que ele vai ganhar — Cam falou. — É melhor acabar logo
com isso.
— Obrigado pela ajuda, cara. Muito obrigado. — Apontei um dedo para
Jase, avisando-o para ficar longe, mas o enorme idiota bêbado se lançou em
cima de mim, me prendendo no sofá.
A risada explodiu ao nosso redor enquanto eu tentava lutar com ele, mas
o filho da puta era muito forte. Ele prendeu meu corpo, usando uma das mãos
para segurar meu rosto.
— Só um beijinho, faça biquinho.
— Jason, dê o fora... — Sua boca cobriu a minha, dura e úmida e
estranha. Pra. Cacete, Fiquei imóvel, apertando os lábios para evitar um
deslize acidental da língua. Com todas as minhas forças, empurrei meu corpo
para frente, fazendo Jase cair de bunda no chão.
— Nunca mais faça isso. — Limpei seu beijo dos meus lábios com as
costas da mão. Ele se levantou com dificuldade, com um sorriso idiota
estampado em seu rosto.
— Ahhh, não seja tão sensível. Você tem lábios muito bonitos para um
cara.
Cam bufou ao meu lado e eu o encarei com um olhar que dizia, você é o
próximo.
— Isso foi... uau, não esperava que isso acontecesse. — Flick parecia um
pouco corada. Seus olhos cintilaram com uma mistura de surpresa e
curiosidade. — Certo, acho que é a nossa vez. Mya...
— Felicity. — Ela sorriu para a amiga, segurando gentilmente seu rosto.
As duas se aproximaram, e eu me vi sentado mais reto novamente. Elas
estavam quase nariz com nariz, lábios com lábios quando as duas viraram a
cabeça no último segundo e sorriram. — Peguei vocês.
— Não posso acreditar que você realmente achou que faríamos isso —
Felicity acrescentou com um sorriso maroto.
— Você nos enganou? — Jase grunhiu.
— E você caiu como um patinho. Quer suas bolas de volta agora?
— Você está bem encrencada, baby. — Ele avançou em sua direção, mas
ela recuou.
— Foi uma piada, Jase. Não seja assim...
— É melhor você correr.
— Ah, merda. — Flick se virou e saiu pela porta. O riso ecoou ao nosso
redor quando Jason saiu atrás dela.
— Acho que não os veremos novamente esta noite — Mya falou, olhando
para mim. — Também estou encrencada?
O calor escorreu pela minha espinha.
— Você quer estar?
Ela se aproximou e subiu no meu colo, colocando seu corpo firmemente
no meu.
— Você ficaria desapontado se eu dissesse que quero sair com o Cam e a
Hailee e apenas desfrutar de ser um casal normal?
— Na verdade — dei um beijinho na ponta de seu nariz —, isso parece
perfeito para mim.
VINTE E UM
Mya
— MYA, estou em casa — a voz da minha tia soou, me assustando.
Soltei um suspiro pesado. Esta seria uma conversa da qual eu sabia que
não poderia escapar. O que foi que Felicity disse sobre arrancar como um
band-aid? Mas eu tinha certeza de que esse band-aid deixaria um corte mais
profundo.
Encontrei tia Ciara na cozinha, desempacotando uma pequena sacola de
mantimentos.
— Pode me ajudar? — Seus olhos se arregalaram com significado e eu ri,
começando a trabalhar ao lado dela.
Depois de alguns minutos de silêncio, ela bufou:
— Pelo amor de Jesus, Mya, desembucha logo.
— Como você faz isso? — perguntei.
— Você acha que eu não vejo a maneira como você está segurando tudo
isso? — Ela ergueu a sobrancelha.
— A Felicity e a Hailee me convidaram para ir a Nova York com elas no
Ano Novo.
— Nova York, é? Parece chique. Extravagante e caro. Você sabe que não
temos dinheiro sobrando para...
— Na verdade, está tudo resolvido.
Ela parou o que estava fazendo, fixando seu olhar desconfiado em mim.
— Deixe-me adivinhar, aqueles meninos Raiders vão pagar a conta.
— A família do Asher tem uma cobertura onde podemos ficar. Não vai
custar um centavo. Só vou precisar de um pouco de dinheiro para gasolina e
uma roupa, mas a Felicity já disse que posso pegar algo dela emprestado para
usar.
— A família do Asher — ela repetiu e sua expressão tensa me disse tudo
que eu precisava saber.
— Não é grande coisa, tia — falei, pegando o resto dos mantimentos e
guardando-os.
— O fato de você estar dizendo que não é grande coisa, me diz que é.
Achei que você fosse ser cautelosa no que se referia ao menino Bennet.
— Asher, o nome dele é Asher, tia C. Além disso, doeria muito se você
ficasse feliz por mim? Tenho amigos, tia, bons amigos. E o Asher é, bem, ele
é uma boa pessoa.
Ele era bom, gentil e gostava de mim.
Ele não viu Mya, a garota do gueto. Ele viu Mya, a garota que havia
deixado sua casa e vida por algo melhor.
— E o que os pais dele pensam sobre você ir para Nova York com o filho
no Ano Novo?
— Eu... não sei. — A verdade oscilou na ponta da minha língua. — Mas
Asher não se importa com o que eles pensam. Ele está falando sério sobre
essa coisa entre nós. Eu também.
— Mya, Mya, Mya — ela fez um gemido prolongado. — Achei que você
fosse mais sensata do que isso.
— Nós gostamos um do outro — falei e minha voz falhou de frustração.
— Não é o suficiente?
— Por enquanto, talvez. Mas e depois da formatura? O que vai ser?
Vocês vão para faculdades diferentes e ele vai o quê, esperar por você? — ela
perguntou incrédula. — Ouvi rumores sobre aquela família, sobre as
conexões do pai dele. Você acha que ele vai ficar sentado vendo seu único
filho namorar você? — Seu tom era quase mordaz, como se eu fosse a vilã
aqui. Não o sr. Bennet e seus ideais preconceituosos.
A necessidade de defender Asher, de defender nosso relacionamento
queimou dentro de mim.
— Asher é...
— Vai partir seu coração. Sinto muito, Mya, sei que você não quer ouvir
isso, mas ele vai para a faculdade, vai conhecer uma garota rica e branca que
seus pais aprovam e vai te deixar na mão.
— Você está errada. — Senti a raiva me tomar, fazendo meu corpo
tremer e as lágrimas arderem em meus olhos. — Sei que você só quer me
proteger, tia. Mas conheço o Asher e você está errada sobre ele.
Talvez essa coisa entre nós estivesse fadada ao fracasso. Talvez estivesse
destinada a não ser nada além do que um pequeno turbilhão de beijos
roubados e toques secretos. Mas no fundo do meu coração, eu sabia que
Asher nunca me magoaria propositalmente. Ele não era esse tipo de pessoa.
— Eu te amo — falei baixinho, sentindo meu coração doer pela rachadura
que se formava em nosso relacionamento. — Mas eu fiz minha escolha.
Escolhi o Asher.
A expressão de tia Ciara endureceu e seus lábios se estreitaram com
desaprovação. Ela não disse nada, não precisava. Senti sua decepção. Ela
permeou o ar, tornando-o denso e opressor. Mas então meu celular tocou,
abafando nossa tensão. Ignorei, tentando pensar em como suavizar a
rachadura que se formava entre nós.
— Você deveria atender — ela retrucou quando tocou de novo.
— Tudo bem, estarei no meu quarto. — Saí da cozinha, desesperada para
ouvir a voz de Asher, mas fiquei desapontada quando vi o nome de Shona na
tela.
— Ei, isso é inesperado.
— Uma garota não pode mais ligar para a amiga?
— Claro que pode, Shona. — Fechando a porta, me sentei na beirada da
cama. — Como as coisas estão?
— Como você acha que estão? O Jermaine quase ficou louco quando
descobriu que você tinha ido embora... de novo.
— Eu disse a ele...
— Não importa o que você disse a ele. Ele não vai deixar essa coisa de
lado.
— Ele tem que deixar. Terminei. Segui em frente. Eu... — O sorriso
contagiante de Asher surgiu na minha cabeça, — Estou saindo com alguém.
— O garoto branco que parece com Timberlake?
— E ele joga futebol — provoquei, tentando aliviar o clima tenso.
— Droga, garota, é como se eu nem soubesse mais quem você é. — O
silêncio pairou sobre a linha.
— Ele é um cara bom, Shona.
— Tudo bem. Só não quero ver você se machucar de novo. — Ela soltou
um suspiro pesado. — Ouça, te liguei para dizer que o Jermaine apareceu
perguntando sobre você. Eu não disse nada, mas não acho que ele não vai te
esquecer tão cedo.
— Ele tem que me esquecer — repeti sem saber a quem eu estava
tentando convencer.
A ela.
Ou a mim mesma.
— Minha vida é aqui agora, Shona. Ele não sabe que estou em Rixon. Ele
não pode saber.
— Calma, garota. Não vou dizer nada. Mas não posso garantir que Jesse
não se envolva se ele continuar aparecendo por aqui.
— Sinto muito.
— Não, você não sente. Mas eu entendo. Você tinha que partir. Se cuide,
garota.
— Você também — sussurrei. Shona desligou e eu apertei o telefone
contra o peito. Jermaine não havia partido. Mesmo que eu tivesse trocado
meu número e dito a ele que tínhamos terminado, ele ainda estava lá. Me
assombrando como um fantasma.
Eu não esperava que tia Ciara e Shona entendessem meu relacionamento
com Asher, mas era uma merda que eu tivesse que defendê-lo
constantemente para as pessoas mais próximas a mim. Tia Ciara tinha seus
motivos, mas Asher não era seu ex. Ele não ia fazer falsas promessas para
depois partir meu coração e me deixar sangrando, machucada e sozinha. E
Shona... bem, ela não entendia. De onde viemos, não se namorava meninos
brancos.
Mesmo que sua desaprovação não me surpreendesse, uma pequena parte
de mim esperava que elas vissem as coisas da minha perspectiva. Que pelo
menos tentariam entender o que era ser uma garota de dezoito anos se
apaixonando por um cara que a fazia rir e se sentir segura e querida. Um cara
que não traria dor, perigo e dor de cabeça à minha porta. Mas quanto mais
alto seus avisos ficavam, mais silenciosa minha convicção se tornava, e as
duas metades de mim ficavam em guerra.
Asher não me machucaria. Eu não tinha dúvidas disso.
Mas tentar viver no mundo de Asher com ele poderia me destruir.
EU RI. Cretino presunçoso. Antes que eu pudesse digitar uma resposta, a tela
acendeu novamente.
Jase: Sei que estou te incomodando, mas estou feliz por você, cara. Agora
vá antes que eu repense minha oferta... feliz ano novo!
— FEE, baby, isso parece muito bom, mas não tenho certeza se posso
aguentar. — Asher gemeu, afastando o prato de comida e apoiando a cabeça
no balcão.
— Não é como se eu tivesse cozinhado. — Ela deu uma risadinha. —
Tudo que eu fiz foi servi-lo.
— Ainda assim, parece ótimo — falei, remexendo em meu prato de
bacon e panquecas. Um copo d'água e dois Advils fizeram maravilhas na
minha ressaca.
— Ash, sei que você está sofrendo agora, mas por favor, pare de chamar
minha garota de Fee, baby.
— Não seja um homem das cavernas, — Flick revirou os olhos para ele.
— Sim, Jase — Asher murmurou. — Não seja um homem das cavernas.
— Certo, então vamos ver se você gosta. — Jason voltou sua atenção
para mim e eu fiz uma careta para ele do outro lado do balcão. — Ei, Mya,
baby — ele falou com a voz rouca — como estão suas panquecas?
— Humm, boas, obrigada. — Olhei para Asher, que ficou tenso.
Jason sorriu.
— Você tem um pouco de xarope bem aí. — Ele se levantou e se inclinou
sobre o balcão, esticando o braço em minha direção. — Aqui, me deixe ver...
— Nem pense nisso. — Asher envolveu a mão no pulso de Jason,
semicerrando os olhos de forma mortal.
— Agora você sabe como é.
— Não é a mesma coisa e você sabe disso.
— Sim. — Jason sorriu. — Foi muito tentador implicar com você. Agora
coma alguma coisa, vai fazer você se sentir melhor.
— Ele é tão mandão com você? — Asher olhou para Felicity, que corou
em um tom profundo de vermelho.
— Ah, você não tem ideia.
— Você ama isso — Jason falou com a boca cheia de bacon.
— Talvez. — Minha amiga estava vermelha como um pimentão. — Só
um pouco.
— Não consigo acreditar que é primeiro de janeiro — Hailee disse. — A
formatura chegará mais cedo que a gente imagina.
— Por mim, pode chegar. Mal posso esperar para dar o fora de Rixon.
— Jason! — Felicity o repreendeu.
Eles começaram a discutir, mas Asher tinha toda a minha atenção. Ele
ainda estava enrolado em si mesmo, o rosto escondido na curva de seu braço.
Apoiei a mão em sua coxa, apertando-a suavemente. Foi uma demonstração
de apoio, uma maneira de deixá-lo saber que estou aqui para ele.
Eu não esperava que ele se endireitasse, limpasse a garganta e dissesse:
— Bom, tenho algo a dizer e preciso que vocês me deixem falar, tá? —
Seus olhos pousaram nos meus e perguntei em silêncio se ele tinha certeza.
— Está na hora — ele sussurrou.
A antecipação ondulou ao nosso redor, deixando o ar denso e pesado.
— Seja o que for, estamos com você — Cam quebrou o silêncio
constrangedor enquanto Asher tentava encontrar as palavras.
— Estamos sim, cara — Jase acrescentou. — Cem por cento.
— Eu sei e agradeço. Mais do que vocês imaginam. — Asher empurrou
seu banquinho e se levantou, passando a mão pelo cabelo despenteado. —
Puta merda, eu nem sei como dizer isso.
— Ash... — Comecei, mas seus olhos cortaram para os meus e a dor por
trás deles fez com que eu me calasse.
— Asher, está tudo bem — Felicity disse baixinho, passando por mim. —
Estamos todos aqui.
— Ah, foda-se — ele soltou um longo suspiro e, em seguida, fixou os
olhos em seus dois melhores amigos e disse as palavras que eu sabia que o
mataria dizer. — Não vou jogar futebol universitário.
VINTE E QUATRO
Asher
OS DOIS CARAS que me conheciam melhor do que ninguém me encararam
como se não soubessem mais quem eu era.
— Você está brincando. — Jase riu, mas foi um tipo de som estrangulado
que me fez estremecer internamente. — É uma piada.
— Não é uma piada, Jase — respondi de forma severa. — Não vou jogar
pelos Panthers.
Ele se endireitou, passando uma mão enérgica pelo rosto.
— Você ficou louco.
— Jason. — Felicity lançou a ele um olhar severo antes de fixar os olhos
em mim. — Mas você adora futebol — ela disse.
— Sim, bem, o futebol não vai garantir meu futuro. E nem todos
podemos ser como você, cara, que tem uma chance de se tornar profissional.
Jason estremeceu com a amargura em meu tom. Eu queria dizer que não
tinha nada a ver com ele e tudo a ver com a merda do meu pai, mas não
conseguia encontrar as palavras.
Eu ainda estava surpreso por ter contado a eles a verdade sobre a
faculdade.
— Então, se você não vai jogar futebol, o que é que você vai fazer?
— Você sabe que Pittsburgh é a alma mater do meu pai. Vou estudar
administração e quando me formar... — as palavras se alojaram na minha
garganta — vou ajudar meu pai a expandir sua empresa de tecnologia.
— Se é isso que você quer, cara — Cam sorriu, mas não atingiu seus
olhos. — Então, bom para você.
— Ainda não entendi — Jase semicerrou o olhar, me examinando como
se visse através das palavras. — Você pode estudar e jogar futebol. Por que
você...
— Tenho que crescer um dia, certo? Achei melhor começar agora. Além
disso, não será a mesma coisa sem vocês.
— Ash, isso não faz sentido. — Eu esperava por isso, esperava que Jase
fosse aquele que não desistiria. — Você é um Raider — ele disse. — O sonho
sempre foi o futebol universitário.
— Sim, bem, os sonhos mudam — falei, exalando uma respiração
instável enquanto fechava os olhos. Jase não entendia. Como poderia? O
futebol sempre foi tudo para ele, o sonho e o objetivo final. E apesar de seu
relacionamento difícil com o pai, pelo menos o sr. Ford entendia o que era
querer algo tão desesperadamente que consumia cada minuto de sua vida.
Desde a primeira vez que segurou uma bola de futebol, Jason se tornou
um astro aos olhos de seu pai. Eu não era nada além de uma amarga decepção
para o meu.
E agora decepcionei meu melhor amigo. O cara que foi meu capitão e
quarterback desde que eu conseguia me lembrar.
Estávamos presos em um impasse. Jason queria dizer mais. Estava bem
ali em seus olhos. A necessidade de desenterrar meus motivos, de saber por
que tinha que ser assim. E eu estava silenciosamente implorando para que ele
deixasse isso de lado.
No final, não fui eu que desisti, como eu esperava. Foi Jason.
— Puta merda — murmurei, cerrando o punho contra a minha coxa. Mya
se levantou e veio até mim, envolvendo os braços em minha cintura.
— Ele vai mudar de ideia.
— Com licença — Felicity se levantou de um salto. — Enquanto eu
coloco algum juízo no meu namorado.
— Acho que deveríamos começar a arrumar as malas — Hailee disse a
Cameron, que estava olhando para mim com uma expressão de desculpas.
— Ele vai se acalmar. Esta decisão é sua, não dele.
— Obrigado. — Assenti para ele, não querendo oferecer-lhe qualquer
explicação adicional.
— Eu não deveria ter dito nada — falei no segundo em que Mya e eu
ficamos sozinhos.
Ela esticou o pescoço para olhar para mim.
— Talvez toda a verdade tivesse sido melhor.
— Eu tentei, mas não estou pronto. Se você acha que isso muda as coisas,
eles saberem de toda a história vai realmente bagunçar as coisas.
— Eles são seus amigos, Ash, eles vão entender.
Envolvendo-a, segurei Mya com força contra o peito.
— Não estou preparado.
Eu não sabia se algum dia estaria. Vivi com essa mentira por tanto tempo
que ela se tornou uma extensão de mim. Uma parede de três metros erguida
com piadas ruins e falsos sorrisos. Contar a eles seria como me expor ao
mundo, o meu verdadeiro eu. Não a versão que as pessoas conheciam e
amavam. Mas a outra.
A obscura e contaminada que tinha raiva fervendo em suas veias e dor
inflamada em seu coração.
— Tudo bem — ela sussurrou. — Vai dar tudo certo.
— Enquanto eu tiver você, vai ficar tudo bem. — Meus lábios cobriram
os dela, encontrando consolo em sua suavidade, nos sons baixos que ela fazia
quando minha língua acariciava a sua. Estar com Mya ia ser complicado. Mas
toda a minha vida era assim.
Pelo menos, com ela ao meu lado, eu não tinha que enfrentar a
tempestade de merda sozinho.
— TEM certeza de que está bem? — Mya me perguntou pela terceira vez
desde que a busquei. Como se meu humor não estivesse ruim o suficiente
depois da minha conversa com meu pai, sua tia fez uma careta para mim da
janela, demonstrando sua desaprovação.
— Estou bem — falei com firmeza, colocando outra batata frita na boca.
Eu a trouxe ao Bell’s para comer alguma coisa e depois os caras iriam se
juntar a nós com Hailee e Felicity.
— Ash... se algo aconteceu quando você chegou em casa...
— Eu disse que estou bem — retruquei, em seguida, soltei um suspiro
pesado, passando a mão pelo rosto. — Desculpe, isso foi desnecessário. Meu
pai me emboscou. Não foi bonito.
— Me deixe adivinhar — sua expressão se desfez. — Ele não está feliz
com a gente?
— Não dou a mínima se ele está feliz ou não. Eu estou feliz, você me faz
feliz. — Estendi a mão para ela e Mya a pegou. — Cinco meses — falei em
tom ríspido, sentindo seu toque acalmar a tensão em meu peito. — Só
precisamos sobreviver a mais cinco meses e então podemos escapar para a
faculdade e não ter todo mundo respirando em nossos pescoços.
— Asher, ainda não decidi para qual faculdade eu vou...
— Asher, meu caro. — Grady e Merrick se aproximaram de nós quando
tudo que eu realmente queria fazer era mandá-los se foder para que eu
pudesse implorar a Mya para que ela escolhesse Cleveland.
Eu precisava que ela escolhesse uma faculdade perto de mim.
— Não esperava ver vocês por aqui. — Seus olhos se voltaram para Mya.
— Vamos encontrar os caras — falei. — Eles vão chegar aqui em breve.
— Jerry vai precisar pendurar uma placa logo. — Grady bufou. —
Primeiro Cam, então Jase, e agora você. Merda, cara, essas garotas devem ter
bocetas de ouro ou...
Eu estava de pé e fora da cabine em um segundo, com as mãos agarradas
no suéter de Grady.
— Qual é o seu problema?
— Uau, Bennet, relaxe — Merrick veio em defesa do nosso companheiro
de equipe. — Ele só está brincando.
— Sim, bem, estou farto disso.
Grady me empurrou para longe dele e nós dois nos enfrentamos, olhos
semicerrados, mandíbulas tensas.
— Asher... — Mya havia se levantado também. Eu a senti se mover para
o meu lado. — Ele não vale a pena.
— Você acha que só porque o Bennet está te dando alguma atenção, você
é especial? — A risada retumbou no peito de Grady enquanto ele falava.
Tínhamos uma audiência agora, todos assistiam, inclusive Jerry.
Mya avançou, com os lábios pressionados em uma linha fina enquanto
ficava cara a cara com a extremidade defensiva dos Raiders.
— Com inveja, Grady?
— Inveja? — ele gaguejou. — Por que eu ficaria com inveja?
Mya arqueou a sobrancelha, abrindo um sorriso presunçoso.
— Porque você nunca chegará perto de conseguir uma gostosa como eu.
— Ela soprou um beijo para ele antes de caminhar em direção aos banheiros
como se nada tivesse acontecido.
Nós três assistimos de bocas abertas.
— Puta merda, Bennet. Aquilo foi...
— Sexy pra cacete. — Merrick terminou por ele.
— Não tenha ideias — falei, sentindo meu peito apertar novamente. —
Ela é minha.
— Sim, mas quanto ela é sua?
— Grady.
— Sim.
Não era uma pergunta, mas respondi mesmo assim.
— Cale a boca.
O atrito entre nós havia se dissipado, substituído por uma tensão
diferente. Vi a fome em seus olhos, mas não tinha certeza se era Mya que ele
queria, não de verdade. Minha garota acertou. Ele estava com inveja e em vez
de ficar feliz por nós, ele atacou.
Como eu sabia tudo sobre isso, decidi dar uma folga ao cara.
— Jesus, Bennet, ela é um foguete — Merrick acrescentou.
— Sim, mas ela é um foguete na...
Encarei Grady com um olhar duro, e ele engoliu as palavras.
— Chega de falar merda perto da Mya, entendeu?
— Sim, entendi — ele resmungou, esfregando o queixo.
Mya voltou alguns minutos depois, passando o braço em volta de mim.
— Sentiu minha falta?
— Sempre.
Ela sorriu para Grady e Merrick, que haviam estabelecido residência na
cabine ao lado da nossa.
— Acha que ele entendeu a mensagem?
— Ah, ele entendeu, sim. Mas agora ele quer sua própria boneca Mya.
— Quer?
Assenti, lutando contra um sorriso.
— Acho que você tem um novo fã-clube.
— Grady? — Mya estremeceu, com expressão de descrença. — Mas ele é
tão... Grady.
Eu ri.
— Me desculpe por agir como um homem das cavernas. Ultimamente,
minha postura padrão é atacar.
— Sei exatamente como você se sente — ela sussurrou. — Quando seus
pais vão embora?
— Amanhã, graças a Deus.
— E eles vão ficar longe por quanto tempo? — Seus dedos brincaram
com minha gola e eu me esforcei para pensar direito, mas meus pensamentos
dispararam em uma centena de direções diferentes, todas terminando com ela.
Nua. Debaixo de mim.
— Não tenho certeza. Pode ser quatro dias, pode ser uma semana. Por
quê?
Os olhos de Mya escureceram, e ela mordeu o lábio inferior.
— Sem motivo.
— Quer brincar de casinha comigo, baby?
— Eu não diria não. — Ela me deu um sorriso tímido, e assim todos os
pensamentos sobre meu pai, Grady e sua tia desapareceram.
VINTE E CINCO
Mya
O RESTO das férias transcorreu sem problemas. Os pais de Asher acabaram
ficando longe por quase uma semana. Deveriam voltar hoje, mas a escola já
estava para voltar.
— Não quero voltar à realidade — eu disse a Asher enquanto nos
deitávamos enrolados em sua cama.
Passei quase todos os minutos acordada em sua casa. Às vezes só nós
dois, às vezes com nossos amigos. Tia Ciara e eu mal estávamos
conversando, a facilidade com que dei meu coração a Asher era demais para
ela aceitar.
Mas eu estava feliz.
Asher me fazia feliz.
Eu sabia que a estrada à frente seria cheia de solavancos e obstáculos,
mas estar com ele era bom demais para me preocupar.
Ele encheu meu rosto de grandes beijos molhados.
— Não acho que posso deixar você ir.
— Você precisa. — Eu ri, pressionando as mãos em seu peito, fingindo
resistir.
Asher nos rolou para que eu ficasse embaixo dele. Passando o nariz como
uma pluma pela minha mandíbula e bochecha, ele beijou o canto da minha
boca.
— Gostaria que eles não tivessem que voltar para casa e estragar isso.
— Não, você não gostaria. — Suspirei, passando os braços ao redor de
seu pescoço. — Você ama a sua mãe.
— Você está certa, eu amo. Mas puta merda, Mya. Às vezes gostaria que
ela o enfrentasse. O dinheiro não é tudo. Faríamos as coisas darem certo de
alguma forma. Odeio a ideia de que ela esteja em dívida com uma vida de
miséria com ele.
Tirando os fios dourados de cabelo de seus olhos, dei um sorrisinho a ele.
— Ele é o marido dela e, apesar de todos os seus defeitos, ela o ama.
Ficar nem sempre é a saída mais fácil, Ash.
Eu sabia disso em primeira mão.
— Sim, é só que... o preço parece muito alto, sabe?
— Eu sei. Mas ela tem que seguir seu coração e cometer os próprios
erros. Caso contrário, ela vai acabar se ressentindo com você.
Eu odiava que, à sua maneira, os pais de Asher o tivessem decepcionado.
Ele merecia muito mais. Merecia que todos os seus sonhos se tornassem
realidade. Mas foi meu passado e seu presente que nos trouxer aqui, a este
exato momento, e eu não poderia me arrepender ou sentir pena por isso.
Nossas experiências nos moldaram nas pessoas que éramos hoje. Dor,
tristeza, felicidade e esperança, tudo contribuiu para quem nos tornamos.
Então, embora eu desejasse que as coisas fossem diferentes para nós dois, eu
também sabia que se não fosse por tudo que passamos, não seríamos nós
mesmos.
Enterrei o rosto no peito de Asher, saboreando a sensação de estar em
seus braços.
— Sei que há um milhão de razões pelas quais eu provavelmente não
deveria dizer isso — ele sussurrou em meu cabelo. — Mas escolha
Cleveland, Mya. Me escolha.
— Ash... — Apertei as mãos ao redor dele.
— Ainda não preciso de uma resposta — ele disse. — Eu só queria que
você soubesse, não me importo com quanto tempo já se passou ou não, ou o
que os próximos cinco meses podem trazer. Sei o que quero e quero você,
Mya. Para sempre.
Não respondi.
Não consegui, pois o nó na minha garganta era muito grande.
Mas se eu tivesse sido corajosa o suficiente para lhe dar uma resposta, eu
tinha certeza de que teria sido sim.
DURANTE A PRÓXIMA HORA, comi, sorri e fingi que por dentro não
estava me matando sentar lá e agir como se tudo estivesse bem.
De certa forma, foi um alívio não estar sentada perto de Asher e seus pais.
Xander nos divertia constantemente, nos entretendo com suas explosões
aleatórias infantis, e o sr. e a sra. Chase eram calorosos e amigáveis, me
tratando com o respeito que o sr. Bennet não tinha me concedido. Mas
mantive um ouvido na conversa entre os pais de Asher e Jason.
Surpreendentemente, o sr. Ford não mencionou o futebol, e me perguntei se
Jason o havia alertado para não mencionar isso.
— Um brinde — a voz profunda do sr. Bennet chamou nossa atenção. Ele
se levantou, com o copo erguido. — Aos bons amigos e aventuras futuras.
Todos levantaram suas bebidas e um coro coletivo de “aos bons amigos e
aventuras futuras” ecoou ao nosso redor.
Ele era um bom ator, não dando nenhuma pista sobre o homem real
escondido debaixo do terno caro e um talão de cheques gordo.
— Vocês todos são bem-vindos para se juntarem a nós em nossa casa
para uma bebida antes de dormir.
— Ah, não poderemos — a mãe de Cameron falou. — Temos que levar
esse monstrinho para dormir.
— Claro — a sra. Bennet deu a amiga um sorriso fraco.
— Kent e Denise?
— Hoje não, Andrew. Me levanto bem cedo. Mas obrigado pelo jantar.
Você não precisava pagar a conta.
— Não seja bobo, Kent. O que é um pequeno jantar entre amigos? —
Eles apertaram as mãos e o pai de Jason ajudou a sra. Raine-Ford a vestir o
casaco.
Também me levantei.
— Estou indo — eu disse a Hailee e Felicity. Quanto mais cedo me
encontrasse com Jermaine, mais cedo poderia tentar deixar o dia de hoje para
trás. — Obrigada pelo jantar adorável. — Me obriguei a olhar para o sr.
Bennet. Sua mandíbula cerrou quando ele me deu um breve aceno.
— Boa noite, Mya. — A Sra. Bennet se levantou, acenando para mim ao
redor da mesa. Fui até ela, que envolveu os braços finos em volta de mim. —
Sinto muito — ela sussurrou. — Mas, por favor, não desista do meu filho.
Ele precisa de você, mais do que você imagina.
Me afastando, dei a ela um sorriso tenso. Asher se levantou e por um
segundo meu coração disparou. Ele ia dizer algo, ia me dar um sinal de que
ainda estávamos bem. Mas ele não estava olhando para mim, seus olhos
semicerraram perigosamente. Me virei lentamente e perdi o ar com a visão de
Jermaine e dois de seus caras parados na porta do Bell’s.
Senti o peso dos olhares de meus amigos e suas famílias enquanto meu
passado e presente colidiam de uma forma que nunca imaginei.
— O que é que você está fazendo aqui? — Corri até Jermaine, olhando
carrancuda para ele.
— Cansei de esperar, garota. — Ele passou o polegar sobre o lábio
inferior, sorrindo.
— Você precisa sair agora.
— O quê? Não teremos as boas-vindas ou algo assim?
— Jermaine, por favor. — Soltei um suspiro exasperado, percebendo o
quanto ele parecia fora do lugar, parado ali usando jeans largos e moletom,
com o cabelo trançado.
— Mya — não era a voz que eu queria ouvir. Na verdade, o sr. Bennet
era a última pessoa que eu queria em qualquer lugar perto de Jermaine e seus
amigos. — Você deveria pedir aos seus amigos para irem embora. Não
queremos problemas.
— E quem é você, meu velho? — Um dos caras de Jermaine deu um
passo à frente.
— Calma, Shawn. — Jermaine ergueu a mão. — Eu só quero conversar.
— Você deveria ter esperado — falei.
— Bem, estou aqui agora. Vamos, a menos que você queira me
apresentar a seus amigos.
Este não era o garoto que eu conhecia. Jermaine estava crescido, dando
ordens com uma arrogância que me assustou. Eu sabia o que significava se
juntar a alguém como Diaz. É por isso que deixei meus olhos correrem para o
cós de sua calça jeans, em busca do contorno de uma faca. Ou pior ainda,
uma arma.
Quando meu olhar voltou para seu rosto, seu sorriso se desfez, e por um
segundo vi um vislumbre do menino que amei.
— Sério, Mya, você acha que vim aqui carregado?
O sr. Bennet pigarreou, pairando precariamente perto de nós.
— Vamos sair e conversar — eu disse, desesperada para levá-los para o
mais longe possível de meus amigos e suas famílias.
— Vou com você. — Felicity apareceu do nada ao meu lado em
solidariedade. Aqueceu meu coração saber que ela estava disposta a tomar
uma posição por mim, mas me recusei a arrastá-la para isso.
— Espere por mim, está bem? — Encontrei seus olhos preocupados. —
Volto já.
Não procurei por Asher.
Eu não poderia.
Mas enquanto eu seguia Jermaine para fora do Bell’s, tive certeza de ter
ouvido seu pai dizer:
— Ela não pertence a este lugar, filho, deixe-a ir.
— QUE MERDA É ESSA, Jermaine? — Bati minhas mãos contra seu peito
no segundo em que estávamos do lado de fora. — O que é que você pensa
que está fazendo?
— Calma, garota. — Ele riu. Ele realmente riu de mim como se não
estivesse aqui para estragar tudo. — Eu precisava te ver.
— Me ver? Você precisava me ver? — gritei, ciente de que estava
perdendo o controle. — Esta é a minha vida, Jermaine. Minha vida, e você
não deveria estar aqui.
— Vamos dar a vocês dois um pouco de espaço — um de seus amigos
disse, me dando um olhar divertido.
— Vá se foder — grunhi, sentindo o controle me deixar. Eu conhecia
pessoas como ele. Garotos de gangue que pensavam que não tinham que
viver de acordo com as regras da sociedade.
Era difícil acreditar que Jermaine era um deles agora, que ele os escolheu
em vez de mim.
— Tenha cuidado, garota. — Jermaine se aproximou, pairando sobre mim
de uma forma que uma vez me fez sentir segura e protegida.
— Diga a seus garotos para recuar. Você quer falar, eu falo. Mas não com
eles me olhando com malícia.
Ele deu a eles um breve olhar. Algo que os fez se afastar sem protestar.
— Quem é você? — sussurrei.
— Eu cresci, Mya. Encontrei meu lugar no mundo. — Ele tentou tocar
minha bochecha, mas eu me afastei. — É hora de você voltar para casa. Eu
posso mantê-la segura agora.
— Porque você está na equipe de Diaz? Ele não pode te manter em
segurança — bufei. — Ele vai te matar. — Forcei as palavras sobre o nó
gigante na minha garganta.
Mesmo agora, apesar de tudo o que tinha acontecido entre nós, eu não
queria ver o garoto com quem cresci se machucar.
Estávamos em um impasse novamente, o mesmo em que estivemos
muitas vezes antes. Jermaine não acreditava que merecia uma vida melhor e
nada que eu pudesse dizer ou fazer mudaria isso. Ele estava vinculado ao
bando de Diaz agora.
— Terminamos — falei, me lembrando de toda a dor e sofrimento que ele
causou. — Nada do que você diga ou faça vai mudar isso. — Recuando, me
abracei com força, criando uma parede entre nós.
Jermaine se aproximou para diminuir a distância, mas estendi a mão.
— Chegue mais perto e eu grito. Alguém vai chamar a polícia.— Fiquei
surpresa que o sr. Bennet ainda não tinha feito isso.
— Você não faria isso — ele falou, mas a surpresa em seus olhos
contradisse suas palavras.
— Me teste.
— Merda, Mya, você mudou.
— Sim. — Levantei meu queixo em desafio. — Bem, você também. —
Me virando para sair, avistei minhas amigas na janela do Bell’s olhando pelas
cortinas. Eu não esperava vê-las paradas ali. Não esperava que Jermaine
agarrasse meu pulso com força e me puxasse de volta.
E eu não esperava que o amigo do meu namorado voasse para fora do bar
e jogasse Jermaine no chão.
Mas se aprendi alguma coisa sobre Asher e seus amigos em meu curto
período em Rixon, era esperar o inesperado.
VINTE E OITO
Asher
FUI ATRÁS DE JASON, mas ele saiu muito rápido. Ele bateu em Jermaine
antes que eu pudesse alcançá-los. Os dois começaram a se atacar, com socos
e ossos se quebrando. Cameron apareceu no momento em que os outros dois
caras atacaram. Não deu tempo para pensar. Já tive brigas suficientes dentro e
fora do campo para saber que se um soco viesse em seu rosto, você ou se
abaixava e tentava fugir ou revidava. Enfiei os dedos direto no rosto de um
cara, e ele inclinou a cabeça para trás enquanto eu sentia a dor estilhaçando
meu pulso.
— Filho da puta — ele grunhiu, tentando me agarrar. Me desviei de seu
alcance e tentei chegar até Jason, que ainda estava lutando com Jermaine, os
dois trocando insultos e socos. Felicity estava com os braços em volta de
Mya, que parecia desesperada para entrar na briga e lancei a ela um olhar
suplicante para ficar parada.
— A polícia está vindo — alguém gritou, mas não éramos nós três que
precisávamos nos preocupar. Éramos de Rixon e eu sabia que os oficiais
presentes olhariam para nós e saberiam quem éramos.
— Você precisa ir embora, filho — meu pai ordenou, mas eu o ignorei,
correndo até Jason. O sangue escorria de um corte profundo em seu lábio,
mas ele não parecia preocupado. Há um tempo atrás, ele viveria para essa
merda.
— Você deve ir antes que os tiras cheguem — grunhi. Jermaine me deu
um sorriso de lobo.
— Eu e você, mauricinho, vamos lá. — Ele saltou na ponta dos pés, me
provocando com os olhos e inclinando o dedo. — Vamos lá, você sabe que
quer.
— Jermaine — Mya gritou enquanto Hailee e Felicity tentavam puxá-la
para longe. — Vá embora.
— Você deveria ouvi-la, cara — Jason falou com a boca cheia de sangue
e cuspiu a seus pés. — Este é o nosso território. Território Raider.
Mas os olhos de Jermaine estavam fixos em mim, o ciúme gravado em
sua expressão.
— Aposto que te mata saber que eu a tive primeiro. Depois de provar o
preto, você nunca vai...
Várias pessoas gritaram quando bati em seu nariz. Jermaine cambaleou
para trás e o sangue respingou no rosto e no moletom.
— Você está morto, filho da puta. — Ele apontou dois dedos para mim e
puxou o gatilho. Mya correu para o meu lado, me puxando para trás no
momento em que as sirenes soaram no final da rua.
— J, vamos embora — disse um de seus caras.
— Sim. — Ele coçou o queixo, mas a indecisão cintilou em seus olhos.
Ele não queria deixar Mya, nem ir embora. Mas para o alívio de todos, ele o
fez. Os três se amontoaram em um Chevy surrado e saíram correndo do
estacionamento.
— O que é que você estava pensando, Jason? — Felicity gritou, se
jogando em seus braços. Ele inclinou a cabeça para mim, a compreensão
passando entre nós.
Ele me ajudou.
O que significava que ele protegeu Mya.
— Você está bem? — ela me perguntou, embalando minha mão
gentilmente na sua. Minhas juntas estavam abertas e o sangue escorria pelos
meus dedos. — Você precisa ver isso.
Os adultos nos cercaram, as mães se preocupando conosco como se
fôssemos crianças precisando de cuidado enquanto os pais observavam em
silêncio, esperando pela oportunidade de atacar.
Meu pai nunca me deixaria esquecer disso. Ele me disse isso lá dentro,
quando Mya saiu para falar com Jermaine. É por isso que Jason os alcançou
primeiro. Algo pelo que eu não me perdoaria tão rapidamente.
— Ash... por favor, diga alguma coisa.
Mas eu não conseguia olhar para ela. Eu estava com raiva e confuso, e
minha mão doía pra caramba.
— Oh, Asher, que confusão. — Minha mãe me ofereceu um sorriso triste.
— Acho que deveríamos levá-lo para casa e cuidar disso.
Mya soltou minha mão devagar e seus dedos se demoraram como se
doesse me deixar ir.
— Acho que eu deveria ir — ela disse tão baixinho que me doeu.
— Provavelmente é uma boa ideia — minha mãe respondeu, parecendo
mais com meu pai do que antes.
— Nunca quis que isso acontecesse, sra. Bennet. — A vulnerabilidade na
voz de Mya me persuadiu a olhar para ela, que parecia arrasada... Derrotada.
Eu queria envolver os braços ao seu redor e dizer que tudo ficaria bem. Mas
antes que eu pudesse dizer as palavras, minha mãe me conduziu para longe.
— Agora você acredita em mim? — meu pai perguntou quando nos
aproximamos dele.
— Agora não, Andrew. — Minha mãe passou por ele, me levando para o
carro. Notei o pai de Jason conversando com os policiais, sem dúvida
acertando as coisas com eles.
Minha mãe entrou no carro, mas Jason correu até mim, empurrando a
mão contra a porta.
— O que você está fazendo? — ele perguntou com as sobrancelhas
franzidas em confusão.
— Deixe isso para lá, Jase.
— De jeito nenhum, cara. Não briguei com aquele imbecil para que você
pudesse se afastar de Mya com o rabo entre as pernas.
— É complicado. — Eu cerrei os dentes.
— Parece muito simples para mim. Ela está abalada e você está fugindo.
— Eu não estou... — Soltei um suspiro cansado. — Jase, por favor, pare
com isso. — Meus olhos foram para meu pai e então encontrei Mya do outro
lado do estacionamento. Sua respiração estava ofegante e havia lágrimas não
derramadas brilhando em seus olhos.
— Asher, filho, está na hora de ir. — O tom de meu pai foi definitivo e a
frieza em sua voz me fez estremecer.
— Há algo que você não está me dizendo, não é? — Jase perguntou.
— Falo com você mais tarde, tá? — Abri a porta e entrei no carro,
batendo-a atrás de mim, o som reverberando bem no fundo do meu peito.
Meu pai entrou um segundo depois, deixando a temperatura abaixo de
zero.
— Como está sua mão, querido?
— Estou bem, mãe. — Apertei a mão ensanguentada no peito, olhando
pela janela enquanto o Bell’s ficava menor atrás de nós.
— Aqueles garotos eram...
— De uma gangue, Julia. Esses jovens eram de uma gangue e, graças a
amiga do Asher, eles mancharam a vitória do time e a reputação de nosso
filho.
— Pare com isso, pai — eu grunhi, sentindo a adrenalina finalmente
diminuindo, dando lugar à dor que irradiava no fundo dos meus metacarpos.
— Vou parar quando você fizer a coisa certa e terminar com a garota
Hernandez. Ela não é nada além de problemas. Você a viu. Ela conhece um
deles. Intimamente, devo acrescentar.
— Asher — minha mãe olhou para trás. — É verdade? Ela... teve um
relacionamento com um daqueles... daqueles homens?
Minha mãe ficou visivelmente abalada com os acontecimentos da noite,
mas não gostei da facilidade com que ela foi persuadida por meu pai.
— Jermaine é o ex da Mya. O relacionamento acabou mal — admiti,
odiando provar que meu pai estava certo. — Mas acabou, e ela está aqui para
escapar dessa vida. Ele não deveria saber que ela estava em Rixon.
— Veja, Julia. Ela arrastou seus amigos de uma gangue para nossas vidas
e agora nenhum de nós está seguro.
— Sério, pai? Não seja tão melodramático. Foi uma briga. Não foi uma
guerra de gangues.
— Não. — Ele chamou minha atenção pelo espelho retrovisor. — Mas o
que acontece agora? Você acha que ele simplesmente seguirá seu caminho?
Eu não queria pensar sobre isso. Queria voltar ao passado, antes mesmo
de colocar os olhos nele. Quando eu estava pensando no quanto eu queria
Mya. Quando eu estava fazendo planos inúteis para o nosso futuro, uma vez
que a formatura estava chegando.
Mas por mais que eu quisesse ignorar suas palavras, a realidade era que
meu pai estava certo. Mesmo que fosse difícil de admitir. Jermaine não era
nada mais do que um nome sem rosto, um cara imaginário que não poderia
afetar nosso relacionamento. Um cara com quem eu não tive que competir.
Mas agora, ele era real.
Agora, eu sabia que ele tinha um brilho perverso nos olhos, uma
arrogância malvada e um gancho de esquerda muito forte.
E o pior de tudo, eu sabia que ele não ia desaparecer. A menos que Mya
conhecesse alguma maneira mágica de mandar seu ex embora.
Merda.
Cerrei o punho involuntariamente, me esquecendo completamente que
meus dedos estavam machucados. Mas a dor era boa. A dor entorpecia todos
os outros pensamentos que apodreciam em minha cabeça.
Logo, meu pai saiu da estrada e entrou na garagem. Sem dizer uma
palavra, desci e fui para casa. Não queria ouvir mais suas besteiras e
certamente não queria ver a expressão de decepção nos olhos de minha mãe.
— Asher, espere — ela chamou. — Eu deveria ver o seu...
— Está tudo bem, mãe. — Pegando a chave, destranquei a porta e entrei.
Eu precisava de espaço. Precisava ficar sozinho. Mas o som de pneus me fez
olhar para trás.
Faróis iluminaram a calçada e minha mãe gritou. Saindo de casa, parei
quando meus olhos pousaram em Jermaine.
— Onde ela está? — ele gritou, com os olhos selvagens.
— Você precisa ir embora, filho. — Meu pai se moveu em direção a ele,
protegendo minha mãe.
— Ela não está aqui — acrescentei, me aproximando de Jermaine, que
estava agindo como um animal enjaulado.
— Ela não saiu com você? — Ele vacilou apenas por um segundo, e meu
pai pegou o celular, ligando para a polícia. Mas antes que completasse a
ligação, Jermaine puxou uma arma e apontou diretamente para ele. — Você
não quer fazer isso, meu velho — ele disse.
Tudo ficou mais lento.
O baque da minha pulsação na cabeça.
A batida do meu coração.
Meu pai largou o celular e ergueu as mãos.
Lentamente.
Lentamente.
Lentamente.
— Você não quer fazer isso. — Ele parecia muito calmo, muito
composto. Como se tivessem apontado uma arma para ele uma centena de
vezes.
— A-Andrew. — O choro de minha mãe cortou o silêncio e Jermaine
balançou a arma. Mergulhei na frente dela, erguendo as mãos também.
— A Mya me contou sobre você, sabia? — eu disse, esperando manter
seus pensamentos em mim e fora do gatilho. — Ela disse que vocês eram
melhores amigos. Cresceram juntos e tudo mais.
— Ela falou sobre mim?
— Sim, cara. Você foi o primeiro em tudo, lembra?
— Então por que ela está fugindo de mim?
— Não posso responder a isso. Mas por que não ligamos para ela? — Fui
abaixar a mão, mas ele apontou a arma para mim. — Uau, calma. — Meu
coração estava na garganta. — Vou ligar para Mya e dizer que você está
procurando por ela.
Eu não queria esse psicopata perto dela, mas não sabia o que fazer.
Ele tinha uma arma.
A porra de uma arma carregada apontada diretamente para mim. Talvez
se eu pudesse ligar para ela ou enviar uma mensagem de texto, eu poderia
avisá-la. Eu poderia fazer com que ela alertasse as autoridades.
Pense, Asher, pense! Avancei com cuidado para manter minha mãe atrás
de mim.
— Asher, filho...
— Shhh, pai, eu cuido disso.
— Jermaine, você não quer fazer isso. Imagine o que Mya fará quando
descobrir...
— Não fale como se a conhecesse. Você não a conhece, eu a conheço. —
Ele virou a arma para si mesmo, batendo-a contra o peito.
— Por que você não deixa meus pais entrarem e podemos conversar? De
homem para homem.
Minha mãe choramingou, e ouvi meu pai tentando confortá-la. Eu
precisava deles fora daqui, em algum lugar seguro. Em algum lugar onde ele
não pudesse tocá-los.
Merda. Eu estava ficando louco.
— Ligue para ela — ele exigiu. — Diga a ela para vir aqui.
O mais devagar possível, tirei o celular do bolso da calça jeans e liguei
para Mya, mantendo um olho em Jermaine.
— Asher — ela murmurou. — Graças a Deus. Eu pensei...
— Preciso que você venha à minha casa.
— Asher, o que foi? O que há de errado?
— O Jermaine está aqui. — Mantive a voz o mais uniforme possível. —
Ele quer falar com você.
— E-ele está aí? — Vozes abafadas soaram através da linha. Eu poderia
distinguir Jason e Felicity ao fundo.
— Depressa — acrescentei, antes de desligar. — Vai levar pelo menos
uns dez minutos.
— Eu tenho tempo. Tenho todo o tempo do mundo.
MYA: A Felicity me disse que sua mãe está estável. Isso é bom, Ash... muito
bom. Estou pensando em vocês dois. Você sabe onde estou se precisar de
mim. Bjo.
QUATRO DIAS.
Me sentei ao lado da minha mãe por quatro dias, esperando, torcendo e
rezando para que os médicos nos dessem as notícias que queríamos ouvir.
Mas quatro dias se passaram e nada mudou.
Sua condição era estável, mas os médicos não queriam acordá-la de
forma prematura por medo de danos em seu cérebro devido à severa perda de
sangue.
— Ei, cara — Cam entrou no quarto, me trazendo um café fresco. Eu
vivia disso, uma vez que ninguém aprovaria se eu me sentasse aqui com uma
garrafa de uísque.
— Obrigado. — Tomei um gole, mal sentindo o gosto.
— Como ela está?
— Na mesma. — Esfreguei o rosto. — É estranho, sabia? Estou
acostumado a não tê-la por perto. Mas isso é uma tortura do caramba. Saber
que ela está bem ali, mas talvez nunca... — Engoli a onda de lágrimas.
— Ela vai superar isso, Ash.
— Sim, talvez. — Eu podia sentir a tristeza invadir meus pensamentos.
Eu queria ser positivo e ouvir quando os médicos diziam que era o melhor
cenário agora. Mas era muito difícil quando ela estava deitada ali, parada.
Sem vida.
— O time todo mandou boas vibrações. Eles querem vir mostrar seu
apoio, mas o treinador disse para esperarem até que você esteja pronto.
— Eu não estou — falei depressa. — Agradeço, mas não estou pronto
para eles estarem aqui. Você e o Jase são diferentes, mas não o resto da
equipe, ainda não.
— Entendo. Mas saiba que ela está nos pensamentos de todos. Vocês dois
estão.
— Obrigado, cara.
— Como seu pai está lidando com isso?
— Você teria que perguntar a ele — resmunguei.
— Tão ruim assim, é?
— Nós não conversamos muito. Ele me culpa.
— Vamos, Ash, isso... não foi sua culpa.
— Não? — Arqueei a sobrancelha. — Se eu não tivesse ficado com a
Mya, o Jermaine nunca teria...
— Você não pode pensar assim e nem mudar o passado. — Ele me
lançou um olhar penetrante, mas não pude suportar sua simpatia. A pena em
seus olhos. — Você falou com ela? — ele perguntou.
— Ela me mandou mensagens de texto algumas vezes, mas,
honestamente, ela é a última das minhas preocupações agora.
— Asher — ele soltou um suspiro pesado. — Isso não é justo e você
sabe.
— Justo?— Eu zombei, fazendo um som estrangulado na minha garganta.
— Nada disso é justo. A minha mãe era inocente, Cam. Ela não deveria ter
sido atingida.
— Ninguém deveria ter sido atingido — ele disse. — E sinto muito que
tenha acontecido, sinto muito mesmo. Mas você a ama, cara. O que
aconteceu não muda isso.
— Não?
— A Mya te ama, e ela está se escondendo na casa da tia... — ele hesitou,
deixando suas palavras sumirem.
— Se escondendo?
— Não é nada, esqueça. — Cam esfregou o rosto, mas vi um lampejo de
culpa em seus olhos. — Você precisa se concentrar na sua mãe. Nós podemos
cuidar do resto.
— Cuidar do quê?— Eu o encarei com um olhar duro. — O que você não
está me dizendo?
— Sério, cara, eu não deveria ter dito nada. Esqueça.
— Cameron...
Ele soltou um suspiro exasperado.
— Você sabe como as pessoas podem ser por aqui. Sua mãe e seu pai são
como celebridades de Rixon.
— Cam, o que foi que aconteceu? — Um grunhido retumbou em meu
peito.
— A Felicity e a Hailee levaram a Mya para tomar sorvete no Ice-T’s.
Houve um incidente.
— Com a Mya? — Meu peito se apertou, e esfreguei o esterno.
— Algumas garotas falaram merda para ela. Ficou feio. Tim não queria
problemas, então pediu a Mya para ir embora.
— Puta merda. — Bati com a mão do outro lado da cama, sentindo a dor
irradiando pelos nós dos dedos. Felizmente, não era a mão já estourada.
— Felicity e Hailee discutiram com ele, mas ela está com a tia desde
então.
— Talvez seja o melhor — murmurei, embalando minha mão. — Talvez
ela devesse simplesmente voltar para Fallowfield Heights.
— Sério? Você quer que ela vá embora?
— Como vou resolver isso, Cam? Me diga o que eu devo fazer aqui? —
Minha voz estava estridente, repleta de desespero. — Porque, pelo que
aconteceu, minha mãe fica boa e não vai querer nada com a garota que trouxe
isso até a nossa porta, ou ela não fica e... — Eu não conseguia nem dizer as
palavras, sentindo o caroço na minha garganta ficar muito grande.
Engolindo, respirei fundo algumas vezes.
— Não é fácil, eu sei...
— É impossível. — A frustração cresceu dentro de mim. — Se tento
consertar as coisas com a Mya, é como se estivesse escolhendo a ela em vez
de minha mãe. E se eu simplesmente terminar as coisas com ela, sou como
qualquer pessoa que a decepcionou. Mas é a minha mãe, Cam. A única
pessoa na minha vida que se sacrificou por mim.
Uma carranca cruzou sua expressão.
— O que você quer dizer?
— Não importa — falei, repleto de tristeza. — Odeio que a Mya esteja
passando por isso, mas não posso ser quem ela precisa agora. Não até minha
mãe acordar.
E talvez nem quando isso acontecer, as palavras estavam na ponta da
minha língua.
Cam se levantou, me oferecendo um sorriso triste.
— Sabe, amo você como um irmão, Ash, amo mesmo, e odeio que isso
esteja acontecendo. Mas sei o que é quase perder alguém que você ama,
sentir que ela está escorregando por seus dedos, e sei o que é querer e
precisar, ter alguém para culpar. Mas isso não é culpa da Mya. Ela veio para
Rixon para escapar do ex psicopata. Coloque-se no lugar dela por um
segundo...
— Cameron, eu não...
— Não, mano, você precisa ouvir. Algo está acontecendo com você, algo
grande. Você acha que não, mas percebemos. E vou arriscar e dizer que tem
algo a ver com o seu velho. Ele deixou bem claro que não aprova a Mya. Mas
não deixe isso — seus olhos se voltaram para minha mãe — dar a munição de
que ele precisa para fazer você terminar as coisas com ela. Você encontrou
sua garota, Asher. Não a deixe escapar só porque as coisas ficaram difíceis de
repente. Você precisa dela assim como ela precisa de você. E se não tentar
consertar as coisas com ela, no futuro, quando sua mãe estiver melhor e isso
não passar de um pesadelo, você vai se arrepender.
— Cam?
— Sim?
— Pode ir agora — eu disse.
Ele hesitou, e o desapontamento apareceu em sua expressão. Parte de
mim queria que ele me pressionasse, que me fizesse ouvir suas palavras.
Afinal, ele estava apenas me dizendo a verdade.
Mas havia um grande problema com isso.
A verdade doía
E eu estava no limite da minha dose diária de dor.
TRINTA E UM
Mya
— CHEGA — minha tia irrompeu em meu quarto. — Você vai sair dessa
cama, nem que eu tenha que te arrastar. — Ela veio em minha direção como
um touro, e eu me endireitei, estendendo as mãos.
— Tudo bem, tudo bem, estou me levantando.
— Graças ao Senhor.— Ela recuou. — Estou quase enlouquecendo de
preocupação com você.
— Sinto muito, tia — sussurrei. — Eu só... — As lágrimas escorreram
dos meus olhos, e eu agarrei um travesseiro, enterrando o rosto nele.
Eu odiava isso.
O buraco permanente no meu estômago, as lágrimas intermináveis e uma
dor avassaladora no coração.
Quase uma semana se passou.
Sete dias sem Asher ao meu lado, me garantindo que poderíamos superar
isso. Sete dias sem saber se ele falaria comigo novamente, muito menos se
me perdoaria.
Sete dias miseráveis sem o cara que passei a amar mais do que tudo.
Se não fosse por Felicity e Hailee, eu poderia ter enlouquecido de
preocupação. Elas me mantiveram informada sobre a condição de sua mãe. O
que não mudou desde que ela saiu da cirurgia.
No início, tentei me manter ocupada. Continuar com a vida normalmente.
Consegui por quatro dias. Quatro dias até que Kellie Ginly e suas amigas da
ginástica me encurralaram no Ice-T’s e me atacaram como se fosse eu quem
tivesse puxado o gatilho. A escola foi difícil o suficiente naquele dia, com um
ataque de sussurros e olhares. Mas não foi nada comparado a ter Kellie na
minha cara, me dizendo que arruinei a vida de Asher.
Eu não conseguia me lembrar de uma vez em que deixei alguém me
menosprezar como ela fez. Mas fiquei lá, aceitando seus abusos e insultos,
deixando-os penetrar em meu coração. Porque me senti parcialmente
responsável. Parte de mim, não importava o quanto fosse equivocado ou
irracional, parecia acreditar que merecia sua ira. Ela era do grupo de Asher
muito antes de eu chegar a Rixon.
E eu?
Eu era apenas a garota negra que veio do gueto e arruinou a vida dele.
— Eu sei, criança, eu sei. — Minha tia se sentou na minha cama,
envolvendo seus braços esguios ao meu redor. — O amor é uma coisa cruel e
perversa. Mas isso não é sua culpa, Mya, está me ouvindo? — Passando os
dedos por baixo de minha mandíbula, ela inclinou meu rosto para cima. —
Me diga que você sabe disso.
— Eu... eu sei.
— Você precisa acreditar também. O que aconteceu com a sra. Bennet
não foi nada além de um trágico acidente. Eu e as senhoras da igreja temos
orado por ela.
— T-têm?
Ela estalou a língua.
— Não pareça tão surpresa. Só porque esta cidade nunca me recebeu de
braços abertos, não significa que eu desejaria mal a alguém. Somos todos
filhos de Deus, Mya. Um fato que algumas das boas pessoas de Rixon
parecem se esquecer. Ele já ligou?
— Não. — Balancei a cabeça, sentindo a vergonha e o constrangimento
queimarem em mim.
— Se ele vale o seu amor, ele vai ligar. E se ele não ligar, você vai saber
que ele não vale.
— Ele me culpa.
— Não, ele não culpa. Mas às vezes, culpar alguém é mais fácil do que
aceitar a verdade.
— Acho que isso é um castigo. Que estou pagando o preço por deixar
Fallowfield Heights e abandonar o Jermaine.
— Mya, Mya, Mya, para uma garota brilhante e inteligente, você
realmente é uma idiota às vezes. Isso não é castigo. É a vida. E a vida pode
ser difícil, confusa e dolorosa. Você saiu de Fallowfield Heights porque sabia
que se ficasse, acabaria se machucando de novo, ou coisa pior. Não há vida
para uma garota como você lá. Sua mãe sabia disso. Keelan também. E, no
fundo, Jermaine também sabia. Nunca se sinta culpada por ter ido embora.
Porque você tomou a decisão difícil e partiu.
— Por que ele simplesmente não me deixou ir? — Chorei, me agarrando
a ela. — Por que ele teve que voltar?
— Porque embora você fosse forte o suficiente para deixá-lo, ele era
fraco. Jermaine vai pagar por seus pecados, Mya. De uma forma ou de outra,
ele vai pagar.
Mesmo agora, isso não me fez sentir melhor. Havia muita dor e
sofrimento.
— Sua orientadora telefonou — tia Ciara disse. — Ela gostaria de ver
você amanhã, se você quiser.
Secando os olhos, eu assenti.
— Eu deveria voltar para a escola de qualquer maneira.
— Essa é a minha garota. Nunca se esqueça de quem você é e de onde
veio, Mya. Nascer e ser criada em Fallowfield Heights faz parte de quem
você é, mas não te define.
— Obrigada por tudo.
— Para minha sobrinha favorita, a qualquer hora. — Sua risada me fez
sorrir. Tivemos um período difícil recentemente, mas éramos uma família, e
não importa o que acontecesse, eu sabia que ela estaria lá para mim.
— MYA, entre.
A srta. Hampstead gostava de prestar serviços com um sorriso e hoje,
apesar das circunstâncias, não foi diferente. Acho que esse era um pré-
requisito para ser orientadora escolar. Era preciso sorrir de qualquer maneira.
— Como você está?
— Estou aguentando, se é isso que você quer saber.
— E o Asher, ele está...
— O Asher está se concentrando em sua mãe.
Ela se encolheu.
— Claro. Bem, eu só queria ter certeza de que você estava bem. Sei com
que rapidez os boatos circulam pelos corredores da escola, quanto mais pela
cidade.
— Não é nada que eu não possa suportar.
Há quatro meses, eu teria acreditado nisso. Mas foi antes do Asher
derrubar minhas paredes e se enterrar no fundo do meu coração.
— Quer falar sobre isso? — A expressão dela suavizou enquanto ela
relaxava na cadeira.
— O que há para dizer?
— Ah, não sei. Muitas coisas, devo imaginar. Como você se sentiu ao ver
Jermaine novamente? Como você se sente agora que ele foi preso com a
probabilidade de passar muito tempo atrás das grades? Acredito que isso
colocou uma grande pressão em seu relacionamento com o Asher. Talvez
devêssemos começar por aí?
— Quer saber como me sinto? — A srta. Hampstead assentiu, e eu
suspirei. — Estou cansada. — Apertei os lábios enquanto um vórtice de
emoção girava dentro de mim. — Estou cansada das pessoas pensando que
sabem tudo sobre mim e sobre a minha vida. Estou cansada de ser julgada
pela cor da minha pele e não pelo que está por baixo dela. Estou cansada de
ouvir as pessoas me perguntando como estou, sabendo que provavelmente
não vão gostar da minha resposta. Mas, acima de tudo, estou com medo.
Estou com tanto medo que a Juli... a sra. Bennet não fique boa, que eu perca
o Asher para sempre e que eu nunca mais seja capaz de andar na rua sem que
as pessoas olhem para mim como se eu tivesse puxado o gatilho. Então, sim,
é assim que estou me sentindo.
O silêncio nos envolveu enquanto minhas palavras e minha dor pesavam
no espaço entre nós.
— Isso é... muito para você carregar.
Tamborilei os dedos na coxa, desesperada para escapar de seu escritório,
mesmo que parte de mim quisesse ficar aqui para sempre.
— Talvez algum tempo de folga...
— Você acha que eu deveria me esconder? — zombei, me sentindo
indignada. — Essa é a sua solução?
— Mya, acalme-se.
Fiquei louca.
— Não me diga para me acalmar. Meu ex-namorado apareceu e ameaçou
meu namorado atual e sua família com uma arma. Com uma arma, srta.
Hampstead. A sra. Bennet foi baleada, tudo está desmoronando ao meu redor
e não sei como devo lidar com isso. — Meu peito arfou enquanto eu colocava
para fora toda a frustração, raiva, medo e dor de cabeça.
Asher não precisava me dizer o que, no fundo, eu já sabia.
Independentemente do que acontecesse com sua mãe, nosso
relacionamento havia acabado.
Sempre haveria uma parte dele que me culparia, assim como sempre
haveria uma parte de mim que me culpava. Não poderíamos seguir em frente
com isso. Mesmo que conseguíssemos lidar com isso e encontrássemos nosso
caminho de volta um para o outro, isso sempre estaria lá. Apodrecendo ao
fundo como uma ferida que se recusava a cicatrizar. Se espalhando ainda
mais com o tempo. Seu veneno sangrando lentamente em tudo ao seu redor.
— Aqui. — Ela empurrou a caixa de lenços em minha direção. — Se
sente melhor?
— Um pouco, eu acho. — Dei de ombros, indiferente, surpresa com o
quanto meu peito parecia mais leve.
— Você precisa falar, Mya. Se não for comigo, então com uma amiga ou
sua tia. Você já passou por muita coisa e ainda não acabou.
— Eu sei.
A polícia gostaria que eu testemunhasse contra Jermaine. Eu era uma
testemunha crucial. Mas testemunhar contra ele poderia me tornar um alvo
novamente. Especialmente se a polícia usasse suas relações com gangues
para construir o caso.
— Minha porta está sempre aberta, seja lá o que você decida. E tente se
lembrar que quando as pessoas te julgam, isso diz mais sobre o caráter delas
do que do seu.
— É essa a sua maneira de dizer que terminamos? — Consegui dar um
sorriso hesitante e a srta. Hampstead deu uma risadinha.
— Tenho a sensação de que já nos aprofundamos o suficiente hoje. Sei
que isso é difícil e as coisas parecem que nunca vão se resolver, mas você vai
superar.
— Obrigada. — Pegando minha mochila, me levantei e me preparei para
a aula. Porque algo me dizia que se eu quisesse sobreviver nas próximas
semanas na escola, precisaria de toda a força que pudesse conseguir.
— ONDE VOCÊ ESTEVE? — grunhi para o meu pai quando ele entrou no
quarto da minha mãe. Parecia mais familiar do que nossa casa ultimamente,
mas eu passava cada minuto acordado aqui. Até as enfermeiras começarem a
insistir que eu saísse para tomar banho, comer e fazer todas as coisas que
precisava para cuidar de mim mesmo. Mas eu não me importava comigo
mesmo.
Eu me preocupava com a mulher dormindo na cama. Só que ela não
estava dormindo, não realmente.
Meu pai mexeu na gravata e eu soube exatamente onde ele estava.
— Trabalho — rebati. — Você tem trabalhado.
— Cuidado com o tom, filho — ele disse. — Os negócios não param
apenas porque... — Ele olhou para minha mãe, empalidecendo. — Como ela
está?
Surpreso com sua relutância em discutir comigo, respondi:
— A mesma coisa. Os médicos disseram que estão pensando em acordá-
la em breve, mas ainda é muito cedo para saber quais são os danos sofridos.
— Você falou com os médicos? — Foi a vez dele de parecer surpreso.
— Bem, eles não podiam falar com você porque você não estava aqui.
— Asher, por favor. — Ele deu a volta na cama e se inclinou para dar um
beijo na cabeça de minha mãe. Era engraçado vê-lo tratá-la como algo frágil e
precioso. Se sentando na cadeira à minha frente, ele segurou a mão da minha
mãe. — É este lugar... eu não posso...
— Eu sei. — Mas enquanto meu pai escolheu fugir, eu escolhi ficar.
Eu sempre ficaria.
É o que nos tornava tão diferentes.
— Como você faz isso? Se senta aqui, dia após dia, observando-a como
se ela pudesse acordar a qualquer segundo, sabendo que não vai?
— Ela desistiu de tudo por mim — retruquei. — É o mínimo que posso
fazer por ela.
— Filho, quero que você saiba...
A porta se abriu e olhamos para ver quem estava entrando.
— Mya — o nome dela saiu dos meus lábios em uma lufada de ar.
— Você. — Meu pai saltou da cadeira. — Você não tem o direito de estar
aqui — ele gritou.
Mya arregalou os olhos, encarando a nós dois.
— Eu-eu vou embora. Isso foi um erro.
— Foi mesmo. Você já causou dor suficiente — meu pai fervia de raiva.
Mas não se aproximou dela. Graças a Deus, ele não se aproximou dela. Eu
não conseguia suportar a ideia de ele colocar uma das mãos sobre ela.
Ofegando, me movi ao redor da cama, me colocando entre ele e Mya.
— Me dê um minuto, pai — eu disse, mantendo meus olhos fixos nela.
Ela saiu do quarto e eu a segui, ignorando os resmungos de desaprovação
dele.
Mya não esperou. Ela continuou andando, quase correndo pelo corredor.
— Espere. — Segurei seu braço, puxando-a. — O que você está fazendo
aqui?
— Eu vim... — Sua voz vacilou e lágrimas não derramadas brilharam em
seus olhos. — Por você, Asher. Você não retornar minhas ligações ou
mensagens de texto. Não te vejo há dias. Eu só precisava saber que você
estava bem.
— Você não pode ficar — eu disse, ainda chocado por ela estar aqui
depois da maneira como eu a dispensei. Eu a ignorei por quase duas semanas.
No entanto, ela estava aqui. Parada na minha frente, me implorando em
silêncio para deixá-la entrar.
Puta merda.
Segurei minha coxa.
Ela sufocou um soluço, se virando para ir embora, mas agarrei seu braço
novamente, puxando-a para o lado.
— Eu não quis dizer... — Merda, o que eu quis dizer?
— Eu só precisava saber a verdade. — A expressão de Mya estava
desanimada.
— A verdade? Não entendi.
— Eu só precisava olhar nos seus olhos e ver. — Lágrimas silenciosas
escorriam por seu rosto, me destruindo de uma forma que eu não estava
preparado. — Você costumava me olhar com tanta adoração. Mas agora me
olha como se não aguentasse ficar perto de mim... como se me culpasse. E eu
entendo, entendo mesmo. Não há nada que eu queira mais do que tomar o
lugar da sua mãe. Mas não posso mudar o que aconteceu. Não posso fazer
nada. Então, ao invés de me sentar na casa da minha tia, louca de
preocupação com você, tive que vir e ver por mim mesma.
— Mya, isso não é justo...
— Nada disso é justo. — Ela deu de ombros. — Vou testemunhar, Asher.
Quero que saiba que farei tudo o que puder para garantir que você e sua
família tenham justiça pelo que aconteceu. Mas não vou me agarrar à
esperança de que as coisas entre nós um dia se resolvam. Não posso.
Passei a mão pelo rosto, tentando processar tudo o que ela estava dizendo.
— Você está terminando comigo? — Minhas palavras estavam repletas
de descrença.
— Não se pode terminar com alguém que você já perdeu, e eu perdi você
no segundo em que a arma disparou. — A dor brilhou em seus olhos, e eu
queria fazer algo – qualquer coisa – para tirá-la dali. Mas era como se minha
cabeça e meu coração estivessem em guerra. Meu coração sabia o quanto ela
era especial, o quanto precisávamos dela. Mas minha cabeça estúpida e
temerária olhou para Mya e viu Jermaine apontando uma arma para meus
pais e para mim. Vi minha mãe sangrando, aninhada nos braços do meu pai.
Era como se não importasse o quanto tentasse, eu não conseguia separar
os dois.
— Eu ia fazer isso, sabe? Ia aceitar uma vaga em Cleveland. Quero que
você saiba disso, Asher. Quero que saiba que eu ia escolher você. — Mya
afastou os cachos úmidos dos olhos e respirou fundo. — Eu realmente espero
que sua mãe tenha uma recuperação completa. Adeus, Asher.
Eu deveria ter ido atrás dela. Deveria ter dito a ela que poderíamos
resolver as coisas, que eu só precisava de um tempo para colocar a cabeça no
lugar.
Mas não fiz isso.
Fui covarde.
Fiquei lá enquanto Mya se afastava de mim pela última vez, sentindo meu
coração se partir novamente.
TRINTA E TRÊS
Mya
— AH, meu Deus, você soube? A mãe do Asher finalmente acordou. —
Kellie Ginly fixou os olhos em mim enquanto eu tentava me afastar dela e de
suas amigas, curvando a boca. — Ele ligou para me contar ontem à noite.
Vacilei por um segundo. Ele ligou para ela? Mas rapidamente afastei a
dor. Não era a informação importante que ouvi. A sra. Bennet estava
acordada e isso era tudo que importava.
— Isso é incrível, aposto que ele está muito aliviado. — Suas amigas
rapidamente explodiram em perguntas.
Como ela está?
Qual é o dano a longo prazo?
Ele vai voltar para a escola em breve?
Apoiei a mochila no ombro e segui pelo corredor. Três semanas se
passaram desde aquele dia no hospital quando Asher me deixou ir embora.
Eu não tinha ido até lá com a intenção de terminar as coisas entre nós, mas no
segundo que o sr. Bennet me viu ali, eu sabia que tinha que deixar Asher ir.
Eu já havia causado dor e sofrimento suficientes para sua família, e não ia
piorar as coisas.
O encerramento foi uma coisa boa. A notícia de que eu não era mais a
garota de Asher se espalhou rapidamente e dentro de alguns dias o interesse
das pessoas em mim diminuiu. Ainda havia sussurros e olhares, mas não era
nada a que eu não estava acostumada. Eu enchia meus dias com aulas e meu
novo emprego de meio expediente, repondo mercadorias nas prateleiras da
loja de conveniência onde minha tia trabalhava. Felicity e Hailee
permaneceram leais em sua amizade, mas não era o mesmo agora que eu e
Asher não estávamos mais juntos.
Para o mundo exterior, eu havia mudado. Mas eu não esperava superá-lo
tão cedo. Asher Bennet havia se impresso em minha alma de uma forma que
eu não tinha certeza se algum dia iria me recuperar. Para lidar com a dor,
mantive a cabeça baixa e meu foco na faculdade. Decidi aceitar uma oferta da
Temple University para estudar serviço social. Se crescer em Fallowfield
Heights me ensinou alguma coisa, foi que mais ajuda era necessária em
comunidades onde homens e mulheres jovens sentiam que não tinham
escolha a não ser recorrer a gangues, drogas e uma vida de crime. Parecia que
o círculo se fechava de alguma forma, e eu estava contando os dias até a
formatura.
— Aí está você. — Felicity me encontrou perto do meu armário. —
Tenho te enviado mensagens.
— Acho que meu celular está no modo silencioso.
Ela revirou os olhos. Era uma ocorrência comum hoje em dia.
— O Asher ligou para Jason mais cedo, a mãe dele...
— Acordou, eu sei.
Flick franziu o cenho.
— Sabe? Ele...
— Ouvi a Kellie Ginly contando para as amigas.
— Kellie... mas como ela sabe?
Dei de ombros, trocando alguns livros.
— Parece que o Asher ligou para ela ontem à noite.
— Mas isso não faz sentido. Ele não....
O som do meu armário se fechando a cortou.
— Não quero falar sobre ele.
— Mas...
— Felicity, você prometeu.
— Eu sei, eu sei, é só que ela está acordada. Isso é uma coisa boa. — Ela
parecia muito esperançosa. Não tive coragem de dizer que algumas coisas
não podiam ser consertadas. Só porque a sra. Bennet estava acordada não
significava que eu e Asher voltaríamos a ficar juntos.
— Você está certa, é uma ótima notícia. Estou feliz por eles. —
Empurrando os livros em minha mochila, coloquei-a no ombro e saí depressa
pelo corredor.
— É isso? — Flick correu atrás de mim. — Isso é tudo que você tem a
dizer?
— O que mais você quer que eu diga?
— Não sei. Acho que pensei...
— A vida não é um conto de fadas, Felicity. Nem todas as histórias têm
um final feliz.
— Mas...
Soltei um suspiro exasperado e a encarei com um olhar duro.
— Você é minha melhor amiga, e eu não teria conseguido passar essas
últimas semanas sem você, mas precisa deixar isso para trás. Aceitei que tudo
acabou entre mim e Asher. Você também deveria.
EU TINHA ACABADO de passar pela porta após um longo turno na loja
quando meu celular tocou.
— Oi, Shona — eu disse, tirando os sapatos e deixando os ladrilhos frios
acalmarem meus pés em chamas.
— Ei, garota. Como vai'?
— Tudo indo. Como você está? Como vão as coisas em casa? — Depois
que Jermaine a forçou a revelar minha localização, Shona se sentiu
responsável por tudo que havia acontecido. Mas eu não a culpava. Pedi a ela
para guardar segredo. Eu a sobrecarreguei com isso.
Eu.
— Diaz está agindo como se tudo estivesse normal, mas desde a prisão de
Jermaine, as coisas parecem... diferentes.
— Se cuida, tá? — pedi.
— Pode deixar. O Jesse e o Leroy me observam como um falcão.
— O Leroy, é? Você conseguiu o que queria então? — Eu sorri.
— Ele acabou cedendo. — Ela deu uma risadinha. — Jesse o deixou com
um olho roxo por isso.
— Estou feliz que ele esteja cuidando de você.
— Alguma novidade quanto ao JT?
— Terminamos. — As palavras apertaram meu peito. — Mas descobri
que a mãe dele finalmente acordou.
— Isso é uma boa notícia, certo?
— Sim. — Eu não conseguia esconder a dor na minha voz.
— Ei, estamos quase nas férias da primavera. Deveríamos fazer uma
viagem de garotas. Faltam apenas algumas semanas para a formatura e então
a faculdade estará chamando seu nome e eu nunca mais vou te ver.
— Shona...
— Sim, sim, eu sei. Nem todos somos inteligentes como você. Mas estou
orgulhosa, Mya. Estou muito orgulhosa de você ter saído e construído uma
vida para si, mesmo que more em alguma cidade caipira no meio do nada. —
Sua risada acalmou a dor em meu peito. — Sei que as coisas estão uma
merda agora, mas logo tudo isso vai ficar para trás.
— Eu sei. — Mas a ideia de deixar Rixon, de deixar minha tia, e o lugar
que passei a chamar de lar, não me encheu de alegria. Porque o Asher está
aqui, uma vozinha sussurrou. Mas quando chegasse o verão, ele não estaria
mais. Ele estaria em Pittsburgh, seguindo em frente com sua vida.
Longe de mim.
— Escute, Shon, preciso começar o jantar. Mas eu te ligo em breve.
— É bom mesmo — ela avisou.
Colocando o celular no bolso, me levantei para ir para a cozinha, mas
uma batida na porta me fez parar. Caminhando de volta para o corredor,
verifiquei o olho mágico antes de abrir a porta.
— Isso é uma surpresa — eu disse a Felicity, que estava na varanda da
casa da minha tia.
— Vamos sair.
— Vamos? — Arqueei as sobrancelhas.
— Sim. Sinto falta de sair com você. Sei que as coisas estão estranhas,
mas você ainda é uma das minhas melhores amigas, então se arrume e vamos.
— Flick, não tenho certeza... — Não saíamos desde o incidente no Ice-
T’s.
— Dez minutos. Você tem dez minutos e depois temos que pegar Hailee.
— Aonde vamos?
— Se preocupe menos com isso e mais com o que você vai vestir. — Ela
franziu a testa para o meu uniforme de trabalho. — É cheiro de atum que
estou sentindo?
Eu me cheirei e percebi que ela estava certa, eu estava fedendo. Devia ter
sido quando limpei um derramamento no corredor três.
— Vou precisar tomar um banho rápido — falei.
— O tempo está passando. — A malícia brilhou em seus olhos.
— É como nos velhos tempos — eu disse, zombando. Quando cheguei
em Rixon e ela me colocou sob sua proteção, nós nos metemos em todos os
tipos de problemas juntas. Era reconfortante saber que depois de tudo, ela
ainda estava aqui.
— Oito minutos e meio — ela resmungou. — Vamos, Hernandez.
Mas quando ela começou a me fazer subir as escadas, fiquei arrasada por
suas palavras.
Hernandez.
Ninguém me chamava assim.
Ninguém, exceto Asher.
O BELL’S ESTAVA LOTADO. Eu não conseguia acreditar que deixei
Felicity me convencer a vir aqui. Mas não podia negar que havia uma parte
de mim que queria ver Asher. Para ver seu sorriso fácil mais uma vez e saber
que ele estava bem.
Isso era tudo que eu sempre quis.
— Respire — Flick sussurrou para mim enquanto nos movíamos mais
para os fundos do bar. O time todo estava aqui com seus amigos e
namoradas. Avistei Kellie e as ginastas imediatamente, e as líderes de torcida
do outro lado do salão. Parecia que toda a classe sênior tinha vindo para
comemorar as boas novas dos Bennet, e meu coração inchou por Asher.
— Olha, o Cam guardou lugar. — Hailee apontou para uma cabine longe
do time de futebol.
— Espero que você se case com ele um dia — falei, nada surpresa que ele
fizesse uma coisa tão boa por mim.
Felicity se ofereceu para ir buscar nossas bebidas enquanto passávamos
por entre o amontoado de pessoas para chegar a Cameron.
Ele se levantou, deixando Hailee entrar. Fui para o outro lado.
— Obrigada por isso — eu disse, tamborilando os dedos contra a mesa.
— É o mínimo que posso fazer. Estou feliz que você veio. — Seus olhos
se desviaram de mim para Hailee. — Vou sair com os caras, mas venho ver
você mais tarde, certo?
Ela assentiu, se inclinando para beijá-lo. Meu coração doeu ao vê-los.
Mas se duas pessoas mereciam felicidade, eram eles.
— Isso é bobagem — eu disse quando ele saiu. — Você não tem que se
sentar aqui comigo. Vou me levantar e você pode...
— Se você acha que vamos abandoná-la, realmente não nos conhece —
Hailee respondeu com um sorrisinho. Flick apareceu segundos depois,
empurrando uma bandeja com bebidas sobre a mesa. — Estamos
comemorando. Por minha conta. — Ela me entregou um coquetel rosa
brilhante.
— O que é? — Cheirei o conteúdo.
— Felicidade e sol em um copo. Beba.
— Jerry não terá problemas por servir bebida a todos?
— A mãe do Asher está acordada. É uma celebração privada. — Ela
piscou para mim, tomando sua própria bebida.
— Você viu...
As palavras morreram na minha língua enquanto Asher aparecia em
minha linha de visão. Ele estava brincando com alguns de seus companheiros
de time, seu cabelo estava para trás naquele seu estilo bagunçado, seu sorriso
fácil e olhos brilhantes.
Engoli em seco, sentindo as lágrimas se formarem em meus olhos.
— Ele parece feliz — sussurrei. Então, Kellie Ginly caminhou até ele e o
abraçou, dando um show ao beijá-lo na bochecha.
— Isso não significa nada — Felicity disse em voz baixa, com uma
pontada de desaprovação.
— Não importa. Ele é livre.
— Mya, você não está falando sério.
— E aí, vocês têm planos para as férias de primavera? — Mudei de
assunto, me forçando a desviar o olhar de Asher e Kellie. Ele não era mais
meu. Poderia abraçar e beijar quem quisesse. Era algo com o qual eu
simplesmente teria que me acostumar.
— Acho que o Cameron e o Jason querem levar o Asher para viajar por
alguns dias. Talvez para a casa do pai nos Hamptons.
Era como se eu não pudesse escapar dele.
Mas, lentamente, eu estava ficando bem. Olhei para trás e encontrei Asher
me observando. Nossos olhares se cruzaram e muito se passou entre nós.
Meu pulso acelerou. Sua boca se curvou em um sorriso, e ele me deu um
pequeno aceno antes de se virar.
Sorri para mim mesma. As coisas entre nós nunca seriam as mesmas, mas
talvez, apenas talvez, pudéssemos encontrar paz depois de tudo.
Mya
Pensei muito sobre como consertar as coisas entre nós... no final, percebi
que ações falam mais que palavras.
Eu te amo mais do que palavras podem dizer
E sei que você me ama também
Então, se arrisque comigo hoje
E me deixe mostrar a nossa história.
Asher: Estou louco. Por você. Agora se apresse ou vai perder seu passeio.
ELE TINHA FICADO LOUCO MESMO. Mas eu não podia negar que uma
emoção passou por mim com sua ousadia. Meu celular vibrou novamente e
sorri ao ler suas palavras.
HERNANDEZ. Deus, parecia que fazia uma eternidade desde que ele me
chamou assim. Desde que as coisas eram fáceis entre nós.
Antes de eu começar a me questionar. Enfiei os livros de volta no
armário, fechei-o com força e corri pelo corredor. Meus olhos imediatamente
encontraram o elegante Dodge Charger de Jason do outro lado do
estacionamento. Ele estava encostado com um sorriso malicioso estampado
em seu rosto ridiculamente bonito.
— Sua carruagem a espera — ele disse com uma pontada de diversão
quando eu o alcancei.
— Devo saber primeiro para onde estamos indo?
— Sem chance. — Seu sorriso cresceu. — Se quer isso, tem que confiar
em mim.
— É mesmo? — Arqueei a sobrancelha e meu olhar endureceu, apesar do
frio em meu estômago.
— Você quer que ele conserte as coisas ou não?
— Estou com medo — admiti, incapaz de encontrar seus olhos.
— Isso não é uma coisa ruim, Mya — Jason respondeu, e a suavidade em
sua voz me fez olhar para ele novamente. — Se você não estivesse com
medo, significaria que você não se importa. E nós dois sabemos que isso não
é verdade.
— Tudo bem — dei um pequeno sorriso. — Vamos fazer isso.
— Graças a Deus, achei que teria que sequestrar você.
Revirando os olhos, entrei no carro, segurando o bilhete como se fosse
minha tábua de salvação.
— Preparada? — Jason perguntou.
Assenti, nervosa demais para falar.
— Relaxe — meu motorista falou. — Você não tem absolutamente nada
com que se preocupar.
Mas nós dois sabíamos que ele estava mentindo, porque eu tinha.
Este era o momento em que eu e Asher avançaríamos juntos ou nos
afastaríamos para sempre.
Quis tanto beijar você naquele dia... quase estrangulei a sra. Hegarty
quando ela nos interrompeu! Você se lembra? As palavras estavam bem na
sua língua. Você queria que eu te beijasse, porque sentiu isso, Mya. Você
sentiu a conexão entre nós.
Mas isso pode esperar, porque está na hora da sua próxima pista...
Não sabia se você chegaria a este ponto. Sei que é muito pedir para você
estar aqui, então, obrigado. Obrigado por confiar em mim.
Não me lembro muito daquela noite. Eu tinha bebido muito. Mas tudo
que consigo me lembrar é de você. Sua voz. Seu toque suave e pele macia
contra a minha. Como foi bom. Você era como uma luz brilhante na
escuridão. Minha própria Estrela do Norte em céus escuros. E mesmo que
tudo esteja um pouco nebuloso, me lembro de ser atingido por essa
necessidade irresistível de torná-la minha, de todas as maneiras possíveis.
Eu queria fazer pequenas rimas, mas não vou mentir... nunca fui muito
bom em poesia. Além disso, acho que você conhece o próximo.
Sua próxima pista está onde nós compartilhamos nosso primeiro beijo de
verdade...
Você se lembra?
Se lembra de como foi bom ter meu corpo pressionado contra o seu? A
maneira como nos beijamos?
Você se lembra de me dizer para parar?
Eu nunca tiraria vantagem de você ou te pressionaria a fazer algo que
você não queria fazer, mas naquele momento, você realmente testou minha
determinação. Eu queria me afogar em você, Mya. Para nunca subir para
respirar.
Você faz isso comigo.
Sempre, só você.
…você se lembra do que aconteceu a seguir?
Foi aqui que saímos um pouco do curso... mas se isso te trouxer de volta a
mim mais rápido, posso viver com isso.
Abra a bolsa, Mya.
Já abriu? Todos devem fazer sentido, mas caso não façam, aqui está um
pequeno lembrete.
O coração representa a primeira vez que você disse, “sou sua”.
Estávamos na casa da Flick (e embora ela quisesse desesperadamente ser
incluída em nossa pequena viagem pelo caminho da memória, eu precisava
acelerar as coisas. Sou um cara paciente... mas no que diz respeito a você,
não sou TÃO paciente).
O barco representa a primeira vez que você se entregou a mim. Melhor.
Noite. Da. Minha. Vida. Prevejo que os únicos dias que chegarão ao topo
serão aqueles em que você se tornará a minha esposa e o dia em que dará à
luz nosso filho. Porque, baby, eu quero tudo com você. Tudo mesmo.
O Empire State Building representa nossa noite... e que noite incrível
foi... em Nova York. Podemos ter dito as palavras pela primeira vez naquela
noite, mas eu já as havia sentido muito antes disso. Na verdade, tenho quase
certeza de que me apaixonei por você naquela noite em que você me colocou
bêbado na cama.
Já estou te conquistando?
Você provavelmente está ficando com um pouco de fome e sede agora...
acho que você deveria sair para tomar uma bebida.
Sei que o futebol não é seu esporte. Sei que doeu para você usar minha
camisa no jogo de exibição e ficar na arquibancada me apoiando. Mas você
fez isso mesmo assim. Você sempre ultrapassa seus limites... por mim.
Você me escolheu.
Lutou por mim.
Achei que estava lutando também. Achei que porque quase acabei com
Merrick, ou porque mal falei com Vaughn em Nova York, ou porque fui
contra as ordens do meu pai por estar com você, eu estava lutando também.
Mas agora percebo que não foi o suficiente.
Eu não fui o suficiente.
E sinto muito, Mya.
Então, me deixe mostrar que estou pronto.
Me encontre no lugar onde os jovens que pensam ter tudo planejado se
tornam deuses e reis.
Porque este rei está pronto para reivindicar sua rainha.
Dizer adeus a qualquer série é sempre difícil, mas dizer adeus a uma série que
mudou o jogo é virtualmente impossível. Cam, Jason e Asher não apenas
roubaram meu coração, eles o arrancaram e o mantiveram cativo. E acho que
eles sempre vão possuir um pequeno pedaço da minha alma.
Muitos de vocês me perguntaram se é realmente o fim, e embora seja
definitivamente um adeus a vida deles como Raiders, suas histórias vão
continuar... se vou escrevê-las novamente permanece um mistério (* inserir
emoji de piscada aqui *).
Como sempre, há uma lista enorme de pessoas a quem devo gratidão:
Andie, meu editor astro do rock! Sinto que, neste ponto, não preciso dizer
nada, a não ser que estaria perdida sem você. Nunca me deixe. Por favor.
Obrigada! Para minha leitora alfa e amiga, Nina: você esteve comigo ao
longo de toda esta série e sou muito grata por seu apoio. Minha equipe beta:
Keeana, Bre, Taylor e Ashley, obrigada por lerem a história de Asher e Mya
no último minuto. E finalmente Ginelle, minha extraordinária revisora. Nem
sempre te envio minhas histórias no tempo certo, mas você sempre encontra
aqueles erros de última hora. Você definitivamente está presa a mim para
sempre! E Tammy, do The Graphics Shed, por oferecer uma formatação
simples, mas bonita. Você é demais, garota! À Sarah Puckett e Wen Ross por
darem vida a esses personagens em áudio (no livro em inglês): foi um prazer
trabalhar com vocês.
Para a equipe L A Cotton de divulgação: vocês, garotas, arrasam demais!
Seu apoio constante é incrível e me sinto sortuda por tê-las ao meu lado.
Abraços virtuais para todas! Minhas Indie Girls, vocês sabem quem são.
Obrigada por estarem sempre presente quando preciso desabafar ou apenas
conversar sobre o que está dando certo e o que não está.
Para meus leitores/grupos de spoiler: seu apoio, incentivo e amor por
minhas histórias fazem tudo isso valer a pena, e a resposta a esta série
literalmente me surpreendeu (bem, não literalmente, porque isso seria
estranho). Espero continuar a entretê-los e fornecer uma fuga muito
necessária com os personagens e mundos que eu crio.
E, finalmente, aos blogueiros, resenhistas e bookstagrammers que
apoiaram a série, obrigada não parece o suficiente!
#Raidersparasempre
Até a próxima,
Beijos,
LA
ABOUT THE AUTHOR
Autora de romances young adult e new adult, L. A. fica mais feliz escrevendo o tipo de
livro que adora ler: histórias viciantes, cheias de angústia adolescente, tensão, voltas e
reviravoltas.
Sua casa fica em uma pequena cidade no meio da Inglaterra, onde atualmente faz
malabarismos para escrever em tempo integral e ser mãe/árbitra de duas crianças. Em seu
tempo livre (e quando não está acampada na frente do laptop), você provavelmente
encontrará L. A. imersa em um livro, escapando do caos que é a vida.