Sinestesia - Nath Queiroz e Tami Rangel
Sinestesia - Nath Queiroz e Tami Rangel
Sinestesia - Nath Queiroz e Tami Rangel
Série Apenas
Apenas Amigos
Apenas Mais Uma
Apenas Nós Dois
Série Quase
Quase Namorados
Quase Uma Noite
Quase Vizinhos
Fio Invisível
Direitos Autorais © 2022 Nath Queiroz e Tami Rangel
Site: www.nathqueirozetamirangel.com.br
E-mail: nathamiautoras@gmail.com
Instagram: @tamienathautoras
Assessoria: pandalendo@gmail.com (@pandalendo)
Para todas as leitoras que viram Thomas
crescer e Lia nascer. Obrigada por serem o motivo
pelo qual escrevemos.
io
Nota das autoras
Prólogo. Lia
Prólogo. Thomas
1. Lia
2. Thomas
3. Lia
4. Thomas
5. Lia
6. Thomas
7. Lia
8. Thomas
9. Lia
10. Thomas
11. Lia
12. Thomas
13. Lia
14. Thomas
15. Lia
16. Lia
17. Thomas
18. Lia
19. Thomas
20. Lia
21. Lia
22. Thomas
23. Lia
24. Thomas
25. Lia
26. Thomas
27. Lia
28. Thomas
29. Lia
30. Lia
31. Thomas
32. Lia
33. Lia
34. Thomas
35. Lia
36. Thomas
37. Lia
Epílogo - Lia
Agradecimentos
Gostinho do próximo
Nota das autoras
“Why can't you hold me in the street?
Why can't I kiss you on the dance floor?
I wish that it could be like that
Why can't we be like that?
'Cause I'm yours”
(Secret Love Song – Little Mix feat. Jason Derulo)
Roberto Mattos
Coordenador do Departamento de Linguística
Universidade Federal do Rio de Janeiro
É… Incrível…
2. Thomas
Estacionei meu carro no lugar mais próximo do prédio
da Reitoria e peguei um elevador até o andar indicado no e-
mail recebido alguns dias antes. Era um dia quente do verão
carioca e eu estava suando por baixo da minha roupa social.
Como meu pai aguentava usar essa porra todos os dias para
trabalhar?
― Bom dia, é aqui a entrega de documentos para
professor substituto? ― perguntei ao homem que estava no
fim de uma das três filas que existiam ali.
― É aqui assim. E pelo visto vai demorar. ― Ele tinha
razão. Devia ter, pelo menos, umas trinta pessoas na minha
frente.
― Pelo menos o ar condicionado está funcionando ―
comentei.
― Você sabia que eles tirariam uma foto hoje?
― Eu não fazia ideia ― admiti.
― Parece que é para o nosso crachá de funcionário. ―
Assenti. ― Nem me apresentei para você. Sou João, futuro
professor substituto da Escola de Educação Física e
Desportos.
Isso explicava o porte atlético do rapaz à minha frente.
João tinha cabelos e olhos castanhos, era tão alto quanto eu
e aparentava ser apenas um pouco mais velho. O cara
parecia simpático, então continuei a conversa.
― Thomas. Professor substituto da Faculdade de Letras.
― Ele estendeu a mão em minha direção e a apertei. ― Já
sabe qual matéria vai lecionar?
― Na verdade, serei treinador do novo time da Atlética
da UFRJ. Conhece?
― Não só conheço como fui a muitos jogos. Sou um
filho de Minerva também ― contei. Eu tinha muito orgulho
de ter feito não só minha graduação como também meu
mestrado na Universidade Federal do Rio de Janeiro. E, se
tudo desse certo, faria meu doutorado por aqui também. ―
Ouvi dizer que é o melhor time universitário dos últimos
tempos. Eles foram sensacionais no último semestre. Você
vai ter uma responsabilidade e tanto. ― Ele assentiu.
Andamos alguns passos para frente na fila, que estava
diminuindo de tamanho mais rápido do que eu esperava.
― Pois é, nunca vi uma coisa assim dentro dos Jogos
Universitários. Não é à toa que agora unificaram o time de
futebol em um só, sem diferenciar os cursos. ― Eu tinha lido
algo sobre isso em uma nota de rodapé do jornal de
esportes que costumava ler na internet. Em geral, esses
jogos não revelavam grandes promessas do futebol, mas
alguns jogadores chamaram tanta atenção que até olheiros
começaram a frequentar os treinos. ― Estou animado para
conhecer melhor o time e fazê-los mais uma vez campeões
― disse com um brilho nos olhos.
― Você já trabalhava com isso? ― perguntei.
― Sim. Fui treinador durante os últimos dois anos de
um time de futebol profissional em São Paulo. Até que no
final do ano passado minha esposa passou para um
concurso público aqui no Rio de Janeiro e decidimos nos
mudar para a cidade maravilhosa. Quando vi o edital com
essa vaga disponível aqui, não pensei duas vezes antes de
me inscrever.
― Nunca vi um jogador de Atlética se tornar jogador
profissional, mas depois do último jogo que assisti, eu não
duvido. Ter um técnico como você vai fazer toda a
diferença.
― Assim espero. E você, vai lecionar o que?
― Uma matéria chamada Linguagem e Sentido. Não é
tão divertido quanto futebol, mas eu gosto bastante ―
brinquei.
― Você curte esportes? ― perguntou. A fila andou
mais um pouco e nossa vez de sermos atendidos estava
quase chegando.
― Eu adoro. É difícil não gostar quando se cresce com
dois tios apaixonados por esportes ― contei, pensando nos
meus tios Arthur e Edu. Eles não são meus tios de sangue,
mas isso não faz a menor diferença no amor que sentimos
uns pelos outros. Todas as minhas memórias ao longo da
vida envolvem não só os dois como também a tia Maya, tia
Iane e os meus primos Gael, Luna e Alana. Ser uma família
nem sempre está relacionado a compartilhar a mesma carga
genética ou tipo sanguíneo, mas sim estar presente nos
momentos bons e ruins. É quem te ama, apesar de tudo ou
por causa de tudo. ― Mas confesso que tenho uma
preferência pelas artes marciais. Eu faço Jiu-Jitsu desde
criança.
― Isso é foda, cara ― elogiou. ― Nunca pratiquei
nenhum tipo de luta.
― Ainda dá tempo de começar. Se quiser, pode ir
comigo à academia onde treino. Vai ser divertido.
― Porra, vamos marcar isso sim!
João e eu conversamos mais um pouco e acabamos
trocando nossos números de telefone e redes sociais. Ia ser
legal ter um amigo no trabalho, ainda que déssemos aulas
em cursos diferentes.
― Próximo! ― uma das atendentes chamou e João
seguiu para o cubículo de número 3. Não demorou muito
para que outra atendente me chamasse.
― Documentos, por favor ― pediu.
Abri a pasta que segurava e tirei de dentro dela a
pequena pilha de papel contendo todos os documentos que
precisavam ser apresentados, segundo o edital do concurso.
A mulher leu com atenção cada um deles enquanto digitava
algo no computador à sua frente. Todo processo demorou
quase dez minutos.
― Seus documentos estão todos certos, senhor Goulart.
Agora, preciso que você olhe para essa câmera aqui. ― Ela
apontou para o objeto. ― Vamos tirar uma foto para seu
crachá de professor. 1, 2, 3… ― A moça apertou o botão da
câmera e o flash forte quase me cegou. ― Perfeito! ― Ela
caminhou até uma impressora que ficava na parede atrás
dela e tirou dali mais algumas folhas. ― Você só precisa
assinar esses papéis aqui e está liberado para ir embora.
Dei uma lida rápida no que os documentos que eu
precisava assinar diziam. Aposto que se meu pai estivesse
aqui não teria aprovado a rapidez com que li as palavras
digitadas ali. Henrique Goulart era o tipo de homem de
negócios que lia e relia com atenção cada contrato que caía
em suas mãos. Não duvido nada que ele também seja a
única pessoa do mundo que de fato lê os termos de uso dos
aplicativos de celular. Satisfeito com o texto do documento,
assinei nas linhas pontilhadas.
― Aqui ― entreguei a ela os documentos e a caneta
que havia me emprestado. ― Preciso assinar algo mais?
― Não, está tudo certinho. Seja bem-vindo à UFRJ,
professor Thomas Goulart.
― Obrigado! ― disse antes de levantar e ceder o
espaço para a próxima pessoa da fila.
Minha barriga estava roncando de fome quando me
aproximei do elevador. Eu precisava almoçar antes da
reunião do corpo docente da Faculdade de Letras que
aconteceria mais tarde para recepcionar os novos
professores. João também estava parado ali, olhando algo
em seu celular.
― Você tem planos de fazer algo agora? ― perguntei.
― Eu estava pensando em procurar um lugar para
almoçar. Tenho uma reunião na parte da tarde com a
coordenação do curso de Educação Física.
― Estou na mesma ― falei. ― Quer almoçar junto?
― Claro. Sugere algum lugar? ― Abri um sorriso. A
vantagem de ter sido um aluno da UFRJ durante muitos
anos é que eu conhecia os melhores lugares para se comer
naquele campus.
― A comida do RU costuma ser boa, mas, por causa
das férias, ele funciona em um horário especial e acaba
fechando mais cedo. Não vamos conseguir comer por lá
hoje. Mas podemos comer no Tecno Refeições, no CT.
― O que caralhos é um RU ou um CT? ― João
perguntou confuso. Soltei uma risada.
― RU é a sigla para Restaurante Universitário, o
famoso bandejão. E CT é o Centro de Tecnologia, um dos
prédios aqui do Fundão. ― A famosa ilha do Fundão era
praticamente um bairro que servia como sede de boa parte
dos cursos universitários da UFRJ. ― Esse restaurante fica no
bloco F e perdi as contas de quantas vezes almocei por lá
enquanto era aluno. A comida é boa e o preço é justo. Topa?
― Mas é claro ― respondeu.
Apesar do calor, decidimos ir andando do lugar onde
estávamos até o prédio de fachada azul localizado em outra
rua do imenso campus da UFRJ. Sentamos em uma das
mesas vazias do restaurante e aproveitamos para conversar
mais enquanto almoçávamos. João era nascido e criado no
Rio de Janeiro, mas tinha se mudado para São Paulo quando
completou 18 anos de idade para cursar a faculdade de
Educação Física. Conheceu sua esposa em uma choppada
universitária, muitos anos atrás, e estão juntos desde então.
― Está feliz em voltar para o Rio de Janeiro?
― Demais ― disse parecendo animado.
Terminamos de almoçar um tempo depois com a
garantia de que sairíamos para beber juntos no final de
semana. João comentou que sua esposa, Sabrina, é fã de
poesias e prometi que daria à ela um exemplar do meu livro
de poesia já publicado. Pagamos nossa conta e cada um
seguiu seu caminho para os compromissos da parte da
tarde.
A Faculdade de Letras da UFRJ foi fundada em 1968 e,
hoje, possui sete diferentes departamentos. Entrei no prédio
e percorri o trajeto já conhecido até o auditório onde
aconteceria a reunião com todos os novos professores
contratados. Algumas pessoas já aguardavam sentadas.
Puxei meu celular do bolso e aproveitei para responder
umas mensagens enquanto esperava. Minha mãe tinha me
mandado um daqueles gifs de bom dia, Heloísa mandou
uma sequência de vídeos curtos engraçados e, por último,
uma mensagem do meu tio Arthur dizendo que seria o
responsável pelo treino no Jiu-Jitsu de hoje e que quebraria
minha cara se eu faltasse. Respondi dizendo que não
perderia a aula dele por nada nesse mundo.
― Boa tarde e sejam muito bem-vindos à Faculdade de
Letras da UFRJ. Sou a professora Alessandra, coordenadora
do curso de graduação e integrante do departamento de
Ciência da Literatura e Linguística e Filologia ― minha
antiga professora de Introdução à Linguística e atual colega
de trabalho começou seu discurso.
A coordenadora passou os minutos seguintes falando
sobre o funcionamento do curso, apresentou cada um dos
chefes de departamento e também instruiu rapidamente
como mexer no sistema virtual que usamos para
lançamento de notas, atualização de ementa de disciplina
entre outras coisas.
― Por fim, é importante mencionar um ocorrido no
último semestre que acabou nos rendendo uma situação…
Digamos que complicada por aqui. ― Notei os olhares
nervosos que os professores trocaram entre si. Os novatos,
como eu, pareciam confusos. ― Um aluno do sétimo período
contou à sua supervisora de estágio que estava… ― Ela deu
um longo suspiro antes de prosseguir. ― Tendo relações
sexuais com uma das nossas docentes. A notícia logo
começou a ser discutida pelos corredores da faculdade e os
alunos que cursavam a disciplina dessa docente começaram
a questionar se as notas do aluno em questão na matéria
eram devido ao seu aprendizado ou a sua relação com a
professora. Enfim, a repercussão negativa do caso fez com
que a professora fosse afastada de seu cargo. Estou
relatando essa história para lembrar que é proibido, pelas
regras da Universidade, o relacionamento entre o corpo
docente e o discente, especialmente quando há relação
direta entre as duas partes, ou seja, quando o aluno ou
aluna está cursando a disciplina do professor ou professora
em questão.
Eu me lembrava dessa fofoca, apesar de já ter
finalizado meu mestrado quando tudo aconteceu. Não
demorou muito para que o nome dos envolvidos vazasse e
que a história fosse parar em todas as redes sociais.
― No mais, me encontro à disposição para tirar
qualquer dúvida. Será um prazer trabalhar com cada um de
vocês por uma educação de qualidade!
As pessoas presentes ali bateram palmas no final do
discurso de boas-vindas e logo começaram a se dispersar.
Antes que eu conseguisse sair do auditório, alguns dos meus
antigos professores me pararam para me parabenizar por
ter sido aprovado na prova para professor substituto.
Dirigi de volta até em casa apenas para trocar de
roupa e ir à academia para minha aula de Jiu-Jitsu. Comecei
a lutar ainda criança, por volta dos 6 anos de idade e desde
então não parei. Era bom para distrair a cabeça, me
desestressar e preciso confessar que a reação que as
mulheres tinham ao me ver sem camisa também era
bastante agradável.
― Fala, pirralho! ― meu tio Arthur disse ao me ver
entrar na sala onde os treinos aconteciam.
― Você sabe que não sou um pirralho há uns bons
anos, não sabe? ― impliquei.
― Você vai ser sempre um pirralho pra mim, Thomas.
― Daniela, uma das garotas que treinava comigo, nos
cumprimentou ao entrar na sala. ― Ela quer te pegar ― Tio
Arthur disse.
― Da onde você tirou isso? ― perguntei. Daniela era
bonita e nós realmente já tínhamos trocado algumas
mensagens no Instagram.
― Porra, pirralho. Eu sou Arthur Birkman. Eu sou bom
em saber quem quer pegar quem. E você é um cara quase
tão gostoso quanto esse seu tio aqui ― disse, apontando
para si mesmo. Quanto mais velho o tio Arthur ficava, mais a
sua autoestima aumentava. É um dado impressionante,
para falar a verdade. ― Ela seria boba se não quisesse pegar
você. Mas a pergunta é, por que você não pegou a garota?
Ela é gata.
― Só não surgiu a oportunidade ainda ― falei.
Eu não sou nenhum santo, muito pelo contrário. Fiquei
com mais mulheres do que consigo lembrar, principalmente
durante a época da graduação. As vantagens de ser um cara
hétero em um curso predominantemente feito por
mulheres. Mas com o fim do mestrado e a prova para
professor substituto, acabei tendo que deixar minha vida
amorosa um pouco menos agitada. Porra, parando para
pensar agora… Eu tinha deixado minha vida amorosa
completamente parada.
― Então faz a oportunidade surgir, porra. Até parece
que não é um Birkman. ― Soltei uma gargalhada.
― Mas eu não sou ― respondi de volta.
― Você é um Birkman Calegari de consideração.
Precisa honrar esse título, pirralho. Agora chega de papo e
vamos treinar. Vou colocar você, disfarçadamente, para fazer
par com a gatinha. Vê se não me decepciona. ― Virando-se
para o resto da turma, continuou. ― Bora começar a aula,
pessoal. Quero todo mundo fazendo cinquenta polichinelos
só pra dar aquela aquecida.
Nada disfarçadamente, ocupei o espaço ao lado de
Daniela. Talvez tio Arthur estivesse certo… Estava na hora de
voltar a agitar minha vida amorosa e aproveitar o restinho
das férias.
― Você mandou bem demais ― elogiei, estendendo a
mão para ajudar Dani a se levantar do chão. Como
prometido, tio Arthur havia nos colocado para treinar juntos
durante toda a aula. Não que eu tenha achado isso ruim,
pelo contrário.
― Tive uma boa dupla ― Dani respondeu. ― Talvez a
gente possa treinar juntos mais vezes. ― A garota abriu um
sorriso sugestivo em minha direção. Tio Arthur, no canto da
sala, me encarava com as sobrancelhas erguidas.
― É uma boa ideia. Ou, você sabe, a gente pode fazer
outras coisas juntos fora da academia também. Um jantar
no sábado à noite, o que você acha?
― Pensei que esse momento jamais chegaria ―
respondeu, abrindo ainda mais o sorriso. ― É claro que eu
aceito.
― Dani, estamos te esperando lá fora ― Cássia, uma
das amigas de Dani, gritou da porta da sala para avisar. A
garota fez um sinal positivo com as mãos em resposta.
― Preciso ir senão perco minha carona. Nós
combinamos tudo certinho pelo WhatsApp? ― Assenti. Dani
ficou na ponta dos pés e depositou um beijo no meu rosto.
Eu, é claro, retribuí o gesto carinhoso.
― Até sábado, Dani ― despedi-me.
Na volta para casa, decidi parar em uma das minhas
livrarias favoritas que ficava localizada bem na esquina da
rua em que eu morava. Sempre que possível, gosto de dar
um passeio por ali. Por mais que os livros digitais estejam
cada vez mais em alta, eu amo a sensação de pegar um livro
físico em mãos e poder sentir o cheiro das suas folhas,
acariciar sua lombada ou apreciar cada detalhe das páginas
impressas. Há algo reconfortante nesse ato.
Entrei no lugar e logo fui recepcionado pelo aroma
característico da mistura de tinta, papel e café. Como de
costume, caminhei até o balcão da cafeteria que havia ali
dentro e pedi uma bebida: frappuccino choco chip. Apreciei
o líquido gelado, perfeito para o verão carioca, enquanto
caminhava entre as enormes prateleiras lotadas de livros,
observando as novidades. Por fim, voltei para casa com um
livro de poesia novo.
Depois de um banho relaxante, sentei na cama com
meu livro novo em mãos. Eu estava no processo de escrever
uma nova obra para mandar para minha editora, mas, por
alguma razão, estava há dias com bloqueio criativo. Talvez
minha nova aquisição literária pudesse desbloquear algum
sentimento em mim, me permitindo assim voltar a escrever
meus próprios poemas.
Uma hora depois eu já tinha finalizado minha leitura.
Coloquei o exemplar na estante do quarto e sentei na
escrivaninha, de frente para meu computador. A página do
word em branco parecia gritar meu nome, implorando para
ser preenchida por letras. Respirei fundo e então comecei a
digitar:
Passos incertos
Deixam pegadas que mal marcam a areia
Se eu continuar andando
Saberei voltar?
De: lia.bellini@freemail.com
Para: th.goulart@freemail.com
Assunto: Vc eh um fijho da PUTAAA!!!!11!1!
Xaro Jhonaas,
Comnenhum amor,
LIA
De: th.goulart@freemail.com
Para: lia.bellini@freemail.com
Assunto: RES: Vc eh um fijho da PUTAAA!!!!11!1!
Cara Lia,
Acredite em mim, fiquei muito surpreso ao receber
este e-mail hoje pela manhã, mas confesso que foi um
acontecimento inesperado que me divertiu bastante. Eu não
faço ideia de quem é Jhomas ou Jhonas (não consegui
decifrar essa parte direito), mas estou muito feliz em não ser
ele. Não sei se conseguiria suportar ser “odiado com todo
seu coração”. Aliás, o que ele fez? Sabe, você me colocou
nessa história sem que eu pedisse. Acho que mereço saber,
não acha? Mas tudo bem se você não quiser tocar no
assunto também. O seu texto foi bom o suficiente para me
fazer odiar esse Jhomas ou Jhonas tanto quanto você mesmo
sem saber de toda a história.
Já pensou em ser escritora? Acho que você leva jeito.
Deve ser mais fácil escrever quando as letras não estão
correndo. Tenho minhas suspeitas do porquê isso estava
acontecendo, inclusive. Sempre que eu bebo álcool demais,
as letras parecem correr também. É por isso que gosto dos
áudios, são mais práticos, sabe?
Bom, só estou mandando este e-mail para avisar que,
claramente, a sua mensagem não chegou ao remetente
certo. Mas talvez essa seja até uma coisa boa. Agora, sem
teclas correndo, você pode escrever algo muito pior para
esse “filho da puta”, como você mesma disse. Só estou
repetindo suas palavras. Ou talvez você possa só… Deixar
pra lá.
Espero que você fique bem.
Atenciosamente,
Thomas Goulart.
De: lia.bellini@freemail.com
Para: th.goulart@freemail.com
Assunto: Pedido de desculpas!
Prezado senhor Goulart,
Eu estou completamente envergonhada. O senhor tem
razão, esse e-mail não era para nenhum Thomas e sim para
um Jhonas. Eu não prestei muita atenção na hora de digitar
o e-mail. Tá, tudo bem. Eu confesso: estava completamente
bêbada quando mandei o e-mail anterior. Mas, coloque-se no
meu lugar por cinco minutos… O que você faria se visse seu
namorado, com quem você acreditava ter um
relacionamento completamente e totalmente fechado,
beijando outra garota em uma festa? Bem, a minha forma de
lidar com essa surpresinha foi enchendo a cara com as
melhores combinações de bebidas alcóolicas que apenas as
festas universitárias sabem produzir.
Desculpe ter te incomodado em pleno final de semana,
mas eu só precisava colocar para fora de alguma forma,
sabe? E minha prima, Jade, confiscou meu celular para que
eu não ligasse para o idiota do meu agora ex-namorado. Ela
só não contava que eu fosse esperta o suficiente para
mandar um e-mail para ele. Quer dizer, tentar mandar. Mas
você entendeu.
Espero que você não tenha bloqueado meu e-mail nem
nada do tipo. Odiaria não conseguir pedir desculpas e deixar
você achando que sou apenas uma jovem doida que ama
mandar e-mails quando está bêbada para desconhecidos.
Mais uma vez, sinto muito pelo mal entendido.
Atenciosamente,
Lia.
Lia,
Não precisa me chamar de senhor Goulart. Parece que
você está falando com o meu pai, um senhor de idade, e não
comigo, um jovem de 26 anos. É estranho. Pode me chamar
só de Thomas.
Acho que sua reação ao acontecido foi completamente
justificável. Eu, no seu lugar, faria o mesmo. Na minha
opinião, ele é um idiota. Você parece uma garota divertida,
quem perdeu certamente foi ele. Onde você encontrou esse
babaca, afinal de contas?
Eu jamais bloquearia você. Primeiro, porque queria
muito saber a continuação dessa história. Quem não iria
querer? Segundo, não é todo dia que alguém invade nossa
caixa de entrada de e-mails dessa forma. Eu certamente
gostaria de continuar conversando com você, acho que
podemos virar bons amigos. E, como eu disse, você parece
ser divertida.
Thomas
Thomas,
Fico feliz em saber que não estou conversando com um
velho (ou um psicopata) e sim com uma pessoa com a idade
próxima a minha (tenho 24 anos, caso você esteja se
perguntando). Quer dizer, talvez você seja só um excelente
ator e está me fazendo pensar que é uma pessoa legal
quando na verdade não é. Acho que preciso te conhecer um
pouco mais antes de te considerar um amigo. Podemos ser
quase amigos por enquanto, que tal?
Eu conheci o Jhonas na faculdade. Ele parecia legal,
inteligente, carinhoso… E ele realmente se mostrou
bastante carinhoso enquanto beijava a loira na festa onde
teve a cara de pau de me trair. Eu não estava totalmente
errada sobre isso. Quer saber? Já que somos quase amigos,
vou abrir meu coração aqui. Acho que no Rio de Janeiro não
há homens para mim. Pelo menos na capital. Os cariocas não
valem nada! Quando eu morava em Itaperuna, uma cidade
do interior do RJ que você nunca deve ter ouvido falar, as
coisas eram mais fáceis. Os homens eram menos babacas,
mas ainda eram babacas porque, sabe como é, são homens.
Sem ofensas.
Quando eu era mais nova, minha professora do 2º ano
do ensino fundamental queria nos motivar a escrever mais e
fez esse negócio de amigos por correspondência. Na época,
eu adorei. Acho que nós estamos nos tornando amigos de e-
mail, que é tipo a versão mais moderna e atualizada dos
amigos por cartas. Talvez isso seja uma boa ideia. Mas, como
eu disse, preciso te conhecer um pouco mais. Você sabe uma
história vergonhosa sobre mim, agora é sua vez de
compartilhar algo.
Manda ver!
Lia
De: th.goulart@freemail.com
Para: lia.bellini@freemail.com
Assunto: Amigos
Lia,
Sempre bom receber um e-mail seu! Embora eu goste
de arte, não sou e nunca fui um bom ator. Você terá que
acreditar em mim dessa vez. Ou, se você preferir, posso te
mandar uma foto minha como comprovação. Mas, você sabe,
isso também não é garantia de nada. Eu poderia muito bem
roubar a foto de alguém no Instagram e usar como minha.
Se bem que, se eu fizesse isso, não faria sentido te contar
como estou fazendo neste instante. Mas acho que você
entendeu meu ponto de vista.
Ei, não venha culpar os cariocas! Eu sou, com muito
orgulho, nascido e criado na cidade maravilhosa. Acho que
você só está procurando nos lugares errados. Ou você tem
um dedo podre pra porra. Posso te dar umas dicas de onde ir
para achar caras legais como eu, mas infelizmente não
tenho solução para o dedo podre. Sinto muito.
Adorei a ideia de amigos por e-mail. Nunca tive uma
amizade assim, parece divertido. Pelo menos se a amiga for
como você, completamente… espontânea (não quis usar a
palavra doidinha, mas serviria também). Uma história
vergonhosa… Bom, teve uma vez que caí na escola e falei
para a diretora ligar para minha mãe. Só que, na verdade, o
telefone era da minha vizinha, a Laura. O meu pai era viúvo
na época e eu queria muito que eles dois namorassem então
meio que inventei que ela era minha mãe. Eu devia ter uns
7 anos de idade nessa época.
Mas enfim… Meu lado fofoqueiro quer muito saber se
você acabou mandando outro e-mail para o seu ex (desta
vez para o endereço certo). Eu adoraria saber o que ele ia
achar da história do vilão de livro ou da parte que você o
acusa de não saber fazer uma mulher gozar direito. Só para
você saber, isso também não pode ser colocado na culpa de
todos os cariocas. Eu, por exemplo, nunca recebi nenhuma
reclamação sobre isso.
Thomas
De: lia.bellini@freemail.com
Para: th.goulart@freemail.com
Assunto: Apenas amigos
Thomas,
Por mais que eu fosse adorar ver uma foto sua, e tenho
certeza que você não iria me achar ruim de ser vista
também, devo confessar que isso meio que quebra a graça
das trocas de e-mails para mim. Gosto da ideia de
permanecer anônima, pelo menos por enquanto. Talvez eu
também seja uma espécie de fake, já pensou?
Você deve ser um dos poucos cariocas que prestam
então. Eu te conheço virtualmente há mais ou menos 3 dias
e, até agora, não tenho nada para reclamar. Mas nunca se
sabe. Prefiro não colocar minha mão no fogo. Acho que vou
aceitar essas dicas de lugares para ir. Apesar de morar na
cidade há alguns anos, às vezes me sinto uma eterna turista.
Essa sua história não tem nada de vergonhosa. Ela é
extremamente fofa e faz o pequeno Thomas parecer um
romântico incurável. Isso não vale, agora me sinto ainda
mais em desvantagem. Você precisa se esforçar ainda mais
agora porque quero a sua maior e melhor história
vergonhosa. Mas, afinal, o seu pai e essa Laura ficaram
juntos? Ela achou ruim você chamá-la de mãe? Muitos
questionamentos.
Eu não mandei mais nenhuma mensagem para o
Jhonas. Eu só… quero esquecer essa história e seguir em
frente. Mas é mais fácil dizer do que de fato fazer. Eu só
espero que ele esteja sofrendo por ter me perdido. É errado
demais desejar isso? Porque se for errado, não quero estar
certa.
E, mais uma vez, obrigada por compartilhar comigo
uma informação que não foi solicitada sobre sua vida sexual,
meu amigo. Sabe, eu nunca tive um amigo para quem
contar essas coisas, mas já que você insiste em compartilhar
essas informações comigo, irei devolver o favor: já fui
chamada de rainha do boquete. Algumas vezes.
Lia
De: th.goulart@freemail.com
Para: lia.bellini@freemail.com
Assunto: Amigos não guardam segredos
De: lia.bellini@freemail.com
Para: th.goulart@freemail.com
Assunto: Amizade doida
Thonzinho,
Liazinha,
De: lia.bellini@freemail.com
Para: th.goulart@freemail.com
Assunto: Comemoração
Thomas,
Quem diria que mandar um e-mail bêbada fosse
causar tanta diversão, não é mesmo? Mas, só por via das
dúvidas, acho que vou manter todos os aparelhos com
acesso à internet longe de mim na próxima vez que estiver
alcoolizada. Um raio não cai duas vezes no mesmo lugar, ou
seja, posso não ter a sorte de conhecer um cara legal como
você da próxima vez.
Você tem razão, eu estou gostando dessa amizade
inesperada. E também acho que deveríamos comemorar
esse evento. E, sendo bem sincera, eu não consigo negar um
convite para comer hambúrguer com batata frita. E se a
batata frita vier com queijo por cima, acho que vale a pena
correr o risco de encontrar com um possível serial killer para
comê-la. Não que você seja um, eu espero. Só por
precaução, vou deixar uma cópia impressa de todos esses e-
mails na sala da minha casa, você sabe, só para facilitar o
trabalho da polícia caso eu esteja errada.
Bom, Thomas, eu topo sair com você. Domingo às 19h.
Me manda o endereço desse lugar que você falou. Vamos
curtir nosso último dia de férias em grande estilo!
Te vejo em breve,
Lia
De: th.goulart@freemail.com
Para: lia.bellini@freemail.com
Assunto: Temos um encontro!
Liazinha,
Fico feliz que você tenha topado entrar em mais essa
aventura comigo. Se meu voto vale de alguma coisa, eu
também gostaria de votar para que você não tenha acesso à
internet quando estiver bêbada. Não sou muito fã de
compartilhar, sabe? Eu odiaria que você compartilhasse
outra história boa dessas com uma pessoa que não fosse eu.
Tudo bem, eu confesso. Eu sugeri o hambúrguer com
batata frita porque sabia que era um combo difícil de
recusar. Apenas pessoas de caráter duvidoso diriam não
para um convite desses. E, fala sério, você acha mesmo que
um serial killer te levaria para comer o melhor lanche que
existe no planeta? Aposto que te chamaria para comer um
sushi ou algo tão superestimado quanto.
O nome do lugar é Burguero e fica na Praia de
Botafogo, número 400. Domingo às 19h está perfeito. Fiz
uma reserva para a gente. Quando chegar lá, é só perguntar
pela mesa de Thomas Goulart.
Te encontro lá!
Thomas
De: goulart.thomas@letras.ufrj.br
Para: lia.lopesb@letras.ufrj.br
Assunto: Cronograma Tutoria
Oi, Lia!
Estou enviando em anexo o cronograma com os temas
das aulas do semestre. Como você sabe, é preciso que você
dê algumas aulas da disciplina para compor sua nota final
do mestrado. A primeira delas será na semana que vem e o
tema escolhido foi recursos estilísticos presentes na obra de
Machado de Assis. A obra em questão você poderá escolher
a que gostar mais ou se sentir mais confortável explicando.
Mas, pelo que vi na aula de ontem, você não terá problemas
nenhum em dar essa aula, Liazinha.
Qualquer dúvida, pode entrar em contato comigo por
esse e-mail. Ou por WhatsApp, você já tem meu número.
Nos vemos na próxima aula.
Thomas.
De: goulart.thomas@letras.ufrj.br
Para: lia.lopesb@letras.ufrj.br
Assunto: Congresso
Lia,
Você já deve ter recebido o e-mail da coordenação com
o aviso sobre o Congresso Nacional de Língua e Literatura
que vai acontecer no próximo mês em Paraty. Preciso te
orientar na produção de algum projeto de sua autoria para
apresentação no evento. Sei que estamos com pouco tempo,
mas vamos dar conta. Talvez a gente só precise se encontrar
em horários extras com mais frequência para trabalhar
nisso. Pensando bem, que ótimo então que estamos com
pouco tempo.
Você estaria disponível nessa quarta-feira às 15h?
Thomas
De: lia.lopesb@letras.ufrj.br
Para: goulart.thomas@letras.ufrj.br
Assunto: Nota de Tutoria
Thomas,
Me enviaram um e-mail da coordenação de mestrado
pedindo que você avaliasse meu desempenho nessas
primeiras semanas, principalmente em relação à aula que
lecionei. Posso passar na sua sala mais cedo antes da
próxima aula para que você preencha o papel que eles me
mandaram?
Lia.
De: goulart.thomas@letras.ufrj.br
Para: lia.lopesb@letras.ufrj.br
Assunto: RES: Nota de Tutoria
Liazinha,
Sempre chego meia hora antes da aula começar para
arrumar as coisas. Pode chegar nesse horário que preencho
a avaliação para você.
Thomas
Obs: Sei que você não é nada curiosa, mas ainda assim
já vou adiantar que sua nota será um 10. Você tem sido uma
excelente tutora, Lia. E não estou falando isso por causa de
toda a história que compartilhamos, mas porque é verdade.
Os alunos amam as suas aulas… E eu amo assistir você
lecionar.
Obs 2: Eu te daria 10 em várias outras avaliações.
Queria desproibir
Te venerar
Te exibir
Querida Lia,
Já te escrevi muitos e-mails com esse começo, mas uma
carta é a primeira vez. Cartas escritas à mão são uma forma
de deixar um pedaço nosso com a pessoa que irá recebê-la.
Quando sentir minha falta, releia essa carta. Mas, enquanto
você permitir, estarei sempre por perto.
Espero que você goste do livro e que ele te marque de
alguma forma. Assim como você deixa marcas em mim todos
os dias. Você é minha musa inspiradora preferida. E única.
Nunca me canso de escrever sobre você ou para você.
Embora, em alguns momentos, palavras pareçam
insuficientes para expressar tudo que sinto por tê-la em
minha vida.
Essa é só a primeira carta de muitas que ainda te
enviarei.
Com amor, do seu namorado,
Thomas.
Eu te amo tanto
Que quase me falta o ar
Por respirar
Por sentir
Por medo de perder
Por medo de te amar
Eu te desejo tanto
Que parece que o mundo desaparece
Levito
Voo
Perco o chão
Tudo ao redor desvanece
Eu te quero tanto
Que não consigo não ligar
Pro que dizem
Pro que falam
Pro que fazem
Pro que podemos arriscar
É injusto
É vil
Me faz querer gritar
Que seja tão difícil
Simplesmente desejar te amar
― Achei que você tivesse dito que isso não daria certo
― respondi, prendendo o celular entre a orelha e o ombro,
enquanto pegava uma garrafa de vinho para o meu almoço
de domingo com Thomas.
― Ah, e não vai dar mesmo ― Jade respondeu do outro
lado da linha. Apoiei a garrafa na mesa e apertei o botão de
viva voz no telefone para poder me movimentar melhor sem
precisar segurar o aparelho. Minha prima tinha acabado de
confirmar que ia se mudar com Aurora, sua colega de
quarto, para a república dos meninos da atlética. ― Mas
Aurora tá insistindo que vai ser por um tempo curto, só
enquanto procuramos por outro apartamento.
― Eu já te disse que vocês podem ficar aqui, não disse?
― ofereci, arrumando os talheres sobre a mesa.
― Eu adoraria, Lia, mas não tem como. Não teríamos
onde dormir por aí e você também precisa ter sua liberdade
pra trepar com o Thomas onde bem pretender. Se eu estiver
dormindo no seu sofá, como vocês vão poder transar na pia
da cozinha? ― Abri a boca para responder, mas ela
completou antes que eu conseguisse. ― A não ser que você
me convide pra assistir.
― Jade! ― repreendi. ― Que nojo, eu sou sua prima! ―
Ela soltou uma gargalhada do outro lado. ― E onde
exatamente você vai ficar na república? Sentada no irmão
da Aurora? ― A risada da minha prima morreu com o meu
comentário.
―Tem um quarto vazio por lá e eu e Aurora vamos
dividir.
― Rolou alguma coisa entre você e o jogador? ― Pelo
tom de voz da minha prima, eu tinha certeza que alguma
coisa tinha acontecido entre eles.
― Eu não sei por onde começar…
― Que tal do começo? ― propus. Minha campainha
tocou na mesma hora. ― Merda! Thomas chegou, Jade.
Podemos continuar nossa conversa mais tarde? Prometo te
ligar!
― Claro! Bom almoço romântico, priminha romântica!
― debochou. Revirei os olhos sozinha enquanto caminhava
até a porta.
― Eu não sou nada romântica! ― gritei, para que ela
me ouvisse pelo viva voz antes de desligar a ligação. Abri a
porta de uma vez, encontrando Thomas segurando um
embrulho de papel pardo com uma fita vermelha em uma
mão e um buquê de rosas na outra. Senti meu coração bater
acelerado dentro do peito. Tudo bem, talvez eu fosse mesmo
romântica. Mas o que tinha de errado nisso?
― Oi, linda! ― Abri um sorriso de orelha a orelha e
envolvi meus braços ao redor do seu pescoço.
― Oi! Isso é pra mim? ― Indiquei os presentes com a
cabeça. Ele assentiu e colocou um beijo na ponta do meu
nariz. Me afastei para que entrássemos em casa e fechei a
porta atrás de nós dois.
― Espero que goste. ― Peguei o buquê e o pacote e
levei até a cozinha. Apoiei o embrulho sobre a mesa
enquanto procurava por um vaso para colocar as flores. ― A
editora me deu alguns exemplares de cortesia e quis
distribuir para pessoas importantes pra mim. Não tinha
como não trazer um pra minha musa inspiradora. ― Seus
braços me envolveram pelas costas e deixei que um
sorrisinho surgisse no meu rosto.
Comecei a abrir o laço do embrulho, delicadamente.
Procurei por onde poderia abrir o saco de papel pardo sem
estragar, mas a ansiedade ganhou espaço e rasguei de uma
vez o pacote. A capa do seu novo livro apareceu na frente
dos meus olhos e precisei conter uma lágrima de orgulho e
emoção que teimou em se formar. Peguei em mãos e
comecei a folhear, imaginando se algum daqueles poemas
teriam sido feitos pensando em nós. Pensando em mim.
Logo atrás da folha com as informações catalográficas
do livro, um envelope branco lacrado se encontrava. Peguei,
curiosa e ergui os olhos para Thomas.
― Achei que seria interessante escrever uma carta para
cada pessoa especial, já que o nome do livro é Todas as
cartas que não te enviei. ― Meus lábios se curvaram em um
sorriso.
― Nunca recebi uma carta ― comentei, virando o
envelope para procurar pelo lacre. Abri devagar e puxei o
papel de dentro.
― Vou te enviar uma por semana, se você quiser. ― Eu
pretendia responder que adoraria, mas meus olhos já
tinham se vidrado na carta. E não de uma forma positiva.
― Hum, Thomas? ― chamei atenção. Encarei-o
sentindo a preocupação dominar meu corpo. ― Eu acho que
essa carta não era pra mim.
Meu namorado franziu a testa com uma expressão
confusa e veio para o meu lado. Estiquei o papel para que
ele pudesse ler junto comigo.
― “Querida Alessandra, já te disse algumas vezes que
não tenho como agradecer pela oportunidade de me tornar
professor. Desejo que este livro te faça…” ― Thomas puxou
a carta da minha mão antes que eu conseguisse terminar a
leitura.
― Puta que pariu! ― Ele levou as mãos à cabeça,
parecendo em pânico. Nunca tinha visto a expressão de
Thomas daquele jeito. Seu rosto tinha assumido um tom
forte de vermelho e até os seus olhos estavam menos verdes
do que o normal. Coloquei uma mão no seu ombro tentando
acalmá-lo.
― Calma, amor, a gente embrulha de novo e troca os
pacotes. ― Ele fechou os olhos com força, como se qualquer
frase o atingisse em cheio. ― Thomas, o que houve?
― Anteontem eu coloquei todos os outros livros no
correio. ― Ah, meu Deus.
― Isso significa… que o meu livro pode ter ido pra
qualquer pessoa? ― Ele negou com a cabeça e levou as
mãos ao cabelo, seu rosto irreconhecível.
― Não. ― Meu namorado ergueu os olhos devagar. ―
Quando estávamos embalando tudo, sobraram dois por
último. ― Engoli em seco, sentindo uma taquicardia
começar no meu peito.
― Quais? ― Eu não queria saber a resposta. Eu não
queria de jeito nenhum saber a resposta.
― O seu e o da Alessandra. ― Foi a minha vez de fechar
os olhos. Senti meus joelhos fraquejarem.
― Me diz que não é a Alessandra que eu tô pensando ―
implorei, por mais que eu soubesse que estávamos sim
falando sobre a coordenadora da graduação em Letras.
Thomas ficou em silêncio, parecendo não querer ser o
portador das palavras que estavam prestes a destruir tudo
que tínhamos.
― Ah, meu Deus ― deixei escapar, sentindo meus olhos
se encherem de lágrimas. Nós estávamos ferrados. Quando
Alessandra recebesse o livro… ― A gente vai perder tudo.
Thomas, você vai perder seu emprego. ― Senti meu corpo
inteiro ficar dormente. Sabe a sensação de quando algo tão
ruim está acontecendo que você deseja que seja um
pesadelo e que consiga acordar?
Ele ainda estava com as mãos nos cabelos, parecendo
ficar cada vez mais desesperado quando de repente,
arregalou os olhos como se tivesse tido uma ideia.
― E se a gente for na agência dos correios amanhã
assim que abrir? Talvez, por sorte, o pacote ainda esteja por
lá e a gente consiga pegar de volta!
Me joguei no sofá, sentada, com a mão na frente do
meu rosto. Balancei a cabeça negativamente. Eu não era
uma garota pessimista, mas eu me sentia sem chão. Eu
sentia como se tudo fosse dar errado.
Thomas se ajoelhou na minha frente e segurou minhas
mãos com força.
― Ei, olha pra mim. A gente vai dar um jeito, tá? Vai
dar certo. Vamos pegar o livro antes de ser enviado. ―
Encarei seus olhos verdes, sem forças para sequer concordar
ou negar.
Nosso almoço tinha sido destruído. Nem vontade de
comer eu sentia. Passei o domingo inteiro em um estado
quase catatônico sem conseguir impedir o fluxo de
pensamentos horríveis que rondavam a minha cabeça.
Eu sabia que Thomas tinha mais a perder do que eu.
Ele tinha um emprego e a chance de ter a carreira
manchada para sempre. De perder todas as chances de se
tornar professor adjunto na nossa ou em qualquer faculdade
pública. Eu sabia como eram os burburinhos do meio
acadêmico. A notícia voaria muito rápido. “Você viu o caso
do professor que pegou a tutora em troca de dar nota alta?”
“Ouvi dizer que ela já fez o mesmo com outros três
professores.” As prováveis fofocas surgiam na minha cabeça
como catástrofe.
Não consegui pregar o olho durante a noite. Passei o
tempo cochilando e acordando imediatamente depois com
algum sobressalto de pavor. Eu estava sendo uma péssima
namorada, sem nem conseguir conversar com Thomas
direito, mas me sentia afogada. Eu estava ficando sem
respirar dentro do meu próprio corpo, com os meus próprios
pensamentos e com pânico do que o dia seguinte reservava.
― Tá tudo bem? ― A voz de Thomas me despertou.
Pisquei algumas vezes, percebendo pela primeira vez que já
tinha amanhecido. Virei de frente para ele na cama e
encaixei minha cabeça no vão do seu pescoço.
― Não. ― Eu não mentiria. Não quando ele podia
perceber o quão nervosa eu estava desde o dia anterior. ―
Eu não sei o que vamos fazer, Thomas.
Ele me apertou entre os seus braços com mais força e
acariciou meu cabelo.
― Eu vou dar um jeito, Lia. Vamos conseguir, eu
prometo. ― Ele colocou um beijo no topo da minha cabeça.
― Vem, eu preparo nosso café da manhã e vamos direto nos
Correios, tá bom?
― Mas e se virem a gente juntos? ― perguntei. Eu
odiava que qualquer movimento nosso precisasse ser
minuciosamente planejado. Como se fôssemos criminosos.
Foragidos.
― Não existe nenhuma regra sobre ir ao Correio juntos.
― Respirei fundo.
Assenti e o acompanhei até a cozinha. Thomas assumiu
o fogão, preparando um misto quente para nós dois na
sanduicheira de ferro. Liguei a cafeteira, colocando o filtro
de café e apertando todos os botões de forma automática,
sem nem pensar direito.
Comemos em silêncio, o clima ainda completamente
pesado pelo receio do que estava por vir nas próximas horas.
Eu odiava me sentir desse jeito. Odiava que nós dois não
parecêssemos nós.
Todo o caminho até a agência de correios também foi
feito em silêncio. Vez ou outra, Thomas tocava a minha mão
e eu apertava a dele em retorno. Ele estacionou o carro em
frente ao letreiro amarelo e azul da agência na esquina da
rua que morava no Flamengo. A funcionária tinha acabado
de chegar para abrir o local quando colocamos os pés para
fora do carro.
― Bom dia! Estive aqui na sexta feira com alguns
livros para serem enviados por registro módico ― Thomas
começou. A mulher franziu a testa, tentando se lembrar da
informação que ele passava.
― Como posso te ajudar? ― perguntou.
― Eu trouxe um pacote por engano e queria saber se
teria como pegar de volta. Eu tô com a nota fiscal do envio.
― Meu namorado se apressou para tirar a carteira do bolso e
procurar o papel fino com os códigos de rastreio e
pagamento pelos envios.
― Nós tivemos uma saída na sexta-feira mesmo,
acredito que seu pacote já esteja em trânsito. ― Aquelas
palavras me destruíram por completo. Senti meu coração
quase sair pela boca e pela primeira vez desde que
percebemos o que tinha acontecido, Thomas pareceu sem
reação, inerte.
― Teria como você conferir pra gente, por favor? ―
Não sabia dizer como consegui formular palavras coerentes,
mas apoiei minhas mãos no balcão e encarei a funcionária
com minha melhor expressão de desespero.
― Não tem necessidade, eu sei que… ― Interrompi
antes que ela negasse e nos despachasse mais uma vez.
― Por favor. Por favor. É muito importante pra gente. ―
A mulher olhou de mim para Thomas, que ainda parecia
apático ao meu lado. Por um segundo, achei que ela iria me
dispensar ou dar alguma resposta mal dada, mas a
funcionária suspirou e assentiu.
― Esperem aqui que eu vou verificar na zona de
despache. Qual é o pacote? ― Me permiti respirar aliviada
por um momento, mesmo que ainda não tivéssemos
garantia de nada. Thomas voltou a si e esticou a nota fiscal
novamente na direção da mulher, apontando para uma
sequência de números.
― É esse aqui. ― Ela pegou o papel e saiu pela porta
lateral com uma placa escrito “somente funcionários”.
Thomas entrelaçou os dedos nos meus e apertou, mas
ao invés de me sentir reconfortada com o gesto, me senti
em pânico. Puxei a mão da dele, olhando em volta
desesperada. Meu namorado repetiu meu movimento, se
dando conta do que tinha acabado de fazer.
― Desculpa, eu… esqueci ― falou. Não respondi. Eu
me sentia destruída por dentro. Por todas as horas desde
ontem, por todos os meus pensamentos, por tudo de injusto
que acontecia com a gente.
A gente não tinha solução. Não num futuro próximo.
Não no final deste semestre ou do próximo. Não antes de
Thomas sequer conseguir se tornar professor adjunto. Não
antes de eu ser respeitada pela minha carreira.
― Thomas, eu acho que… ― Antes que eu pudesse
despejar o que passava pela minha cabeça, a funcionária
dos correios voltou com um pacote pardo na mão.
Nunca na vida eu tinha me sentido tão aliviada quanto
naquele momento. Como se tivessem arrancado as
correntes do meu pé, me tirado de dentro d’água para
respirar. Mas… Eu continuaria no mar, boiando, na
expectativa do momento que uma onda viesse e me
naufragasse.
― Vocês deram sorte. Os pacotes de vocês ficaram na
remessa pra envio hoje. ― Thomas esticou a mão para
receber o embrulho. ― Só não podemos reembolsar vocês,
já que estava pesado e selado.
― Não tem problema. Muito obrigado. Tenha um ótimo
dia. ― Antes que eu sequer tivesse a chance de agradecer a
mulher, ele já tinha saído do local agarrado no pacote pardo.
Saí da agência atrás de Thomas e o encontrei apoiado
na lateral do carro. Com a mão sobre o rosto em uma
expressão de dor. Ele abriu os olhos devagar quando ouviu
meus passos se aproximando.
― Deu tudo certo ― falou, a voz saindo baixa e quase
na forma de um sussurro, como se ele estivesse desde
ontem se controlando para não desabar. Continuei parada
na sua frente, encarando seus olhos verdes sabendo que eu
precisava falar o que estava na minha cabeça.
― Thomas, eu não posso continuar me sentido à beira
de um precipício. Eu acho que a gente precisa terminar. ―
Aí estavam as palavras mais difíceis da minha vida. Eu achei
que ele ficaria confuso, assustado com minha declaração
súbita. Mas mais uma vez o homem que eu tinha me
apaixonado perdidamente me surpreendeu. Ele esticou a
mão e tocou minha bochecha, numa carícia que partiu meu
coração em mil pedacinhos.
A vida era injusta. A vida era muito injusta.
26. Thomas
Sempre ouvi dizer que as palavras têm o poder de ferir.
Mas, até esse momento, eu não sabia o quão grave esses
ferimentos podem ser.
― Lia… ― Minha voz saía quase como um sussurro. Eu
queria argumentar com ela, dizer que as coisas seriam
diferentes, mas… Eu não podia mentir. Não para ela. Os
riscos, eles sempre estariam lá. Dessa vez, tivemos sorte.
Mas qualquer novo deslize poderia resultar em algo muito
pior.
― Você sabe que isso é o certo a se fazer ― falou,
deixando as primeiras lágrimas escorrerem em cascata.
Limpei cada uma delas com meu dedão, sentindo o macio
da sua pele pelo que provavelmente seria a última vez.
― Como pode ser certo e doer tanto no peito? ― rebati,
sentindo as minhas próprias lágrimas se formarem nos
olhos.
― A vida nem sempre é justa, Thomas. Eu te amo, mas
não consigo mais viver assim. A sensação de sufocamento, o
constante medo de alguém nos pegar. Ter que vigiar cada
um dos meus movimentos quando estou próxima de você
em público para não ser descoberta. É cansativo. O amor
não é para ser assim… O amor é para ser algo leve.
― Eu sinto muito que você se sinta assim.
― Não é culpa sua. E nem minha. Somos só… dois
jovens amantes desafortunados. ― Uma risada triste
escapou de seus lábios.
― E se eu pedir demissão? ― sugeri. Eu poderia
encontrar um novo emprego em outra universidade, mas
uma nova Lia? Acho que não existe.
― Eu jamais me desculparia por fazer você abrir mão
do seu sonho. Acredite em mim, Thomas, já pensei em todas
as opções disponíveis. E a única que nos resta é…
― Terminar ― completei. Lia assentiu em silêncio.
Ficamos alguns longos minutos apenas observando um
ao outro. O único som dentro do carro era, infelizmente, o
barulho da nossa tristeza traduzido em lágrimas.
― Eu queria que as coisas fossem mais fáceis. Eu não
queria que esse momento chegasse ― disse.
― A gente sempre soube que nosso tempo era contado.
Só um tempo emprestado. Mesmo que de forma
inconsciente, eu sabia disso e tenho a sensação de que você
também.
― E o que vamos fazer agora? ― perguntei, me
sentindo completamente perdido. Eu imaginei muitos
cenários acontecendo na manhã de hoje, mas esse não era
um deles.
― Tudo bem se eu for para casa e faltar a tutoria hoje?
Eu só… Preciso de um tempo sozinha.
― Você nunca teve nenhuma falta, não acho que seria
um problema ― falei.
Lia pegou a bolsa do chão do carro e levou a mão até a
maçaneta do veículo. Antes que ela a puxasse para abrir a
porta, eu segurei seu outro braço.
― O que você está fazendo?
― Indo para casa.
― Eu vou te levar.
― Thomas…
― Por favor, Lia. Não quero que você vá para casa
sozinha. É uma carona rápida.
― Tudo bem ― concordou.
Fizemos o trajeto até a casa de Lia em completo
silêncio. As lágrimas, no entanto, ainda caíam de seus olhos.
Eu estava dando o meu melhor para conter o choro, mas
ainda assim senti algumas escorrendo pelo meu rosto.
Quando estacionei meu carro em frente ao prédio que tinha
sido praticamente minha segunda casa durante meses,
senti meu coração se apertar ainda mais dentro do peito. O
meu pesadelo estava cada vez mais perto de se tornar
realidade. No momento que Lia descesse do meu carro, não
existiria mais nós.
― Muito obrigada, Thomas. Não só pela carona, mas
por tudo.
― Eu queria que tivéssemos mais tempo. ― Deixei as
palavras escaparem da minha boca.
Lia me encarou nos olhos antes de se inclinar em
minha direção e me beijar na boca. Um beijo com sabor de
amor, de saudades antecipadas e lágrimas. Um último beijo
para ficar gravado em nossas memórias. Quando nossas
bocas se desconectaram, beijei, pela última vez, a ponta do
seu nariz.
― Tchau, Thomas ― Lia disse, antes de sair do carro
sem olhar para trás. E levando junto com ela meu coração.
Às vezes o adeus
Significa um eu te amo
Ele não precisa ser um ponto final
Mas, quem sabe, um ponto e vírgula
De: Thomas
Para: Você
Assunto: Saudade
De: lia.bellini@freemail.com
Para: th.goulart@freemail.com
Assunto: Você não é um filho da puta
Thomas,
Nesse momento, você está parado na minha frente, me
olhando com uma cara de quem diz “por que essa louca está
mexendo no celular quando eu acabei de abrir meu coração
pra ela e dizer que a amo e quero voltar a tê-la na minha
vida?” Em minha defesa, achei que seria poético te
responder da forma como tudo começou: através de um e-
mail. Dessa vez, no entanto, as letras não estão correndo.
Embora ainda seja um pouco difícil de escrever enquanto as
lágrimas escorrem pelos meus olhos. Mas pelo menos são
lágrimas de alegria e de alívio.
Você não é um filho da puta. Nunca foi e nunca será.
Mesmo nos momentos em que nós precisamos nos afastar,
eu não consegui te odiar. E acredite em mim, eu tentei.
Achei que seria muito mais fácil de te esquecer. Mas não tem
como esquecer o amor da sua vida. Não importa o quanto
você tente.
Você é o amor da minha vida, Thomas. Eu acho que
soube disso no momento que te vi sentado, com uma camisa
verde-musgo, na cadeira daquele restaurante. E quanto
mais eu te conhecia, mais certeza tinha que você e eu
éramos uma espécie de almas gêmeas, destinadas a passar
o resto das nossas vidas juntos.
Acho que você já entendeu minha resposta, né? Tudo
que eu mais quero, Thomas, é escrever poemas com você e
para você. Mais do que isso: quero passar o resto da minha
vida ao seu lado.
Com muito amor,
Lia.
Eu te encontrei em mim
Você me encontrou em ti
Não quero mais ser só
Quer comigo atar um nó?