"Escatologia
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Autor Desconhecido
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO
CAPÍTULO IV - PÓS-MILENISMO
1.Descrição
2.Origem
3.Apoio do Novo Testamento
INTRODUÇÃO
Várias passagens das Escrituras empregam a palavra eschatos juntamente com hmera
(heméra = dia). Assim temos escath hmera (eschatê heméra = último dia), usado em
Jo.6:39 e 7:37. A primeira ocorrência se refere ao último dia da ressurreição, um
dia escatológico, enquanto que a segunda apenas faz alusão ao último dia da festa
de casamento. Temos escatai hmerai (eschatais hemerais = últimos dias) em At.2:17;
II Tm.3:1; Tg.5:3; e escatou twn hemerwn (eschatou tôn hemerôn = últimos dias) em
Hb.1:2. Todas estas passagens aludem ao período de tempo entre a 1ª e a 2ª vindas
de Jesus. Os últimos dias iniciaram-se com a 1ª vinda de Jesus que veio na
"plenitude do tempo"(Gl.4:4), pois o tempo anterior da dispensação da lei já estava
cumprido (Mc.1:15; Lc.16:16). Estamos vivendo os últimos dias. Esse período de
tempo que a Bíblia chama de últimos dias, recebe ainda outras designações, tais
como: "tempo aceitável... dia da salvação"(Is.49:8) ou "ano aceitável do
Senhor"(Is.61:2a); "dispensação da plenitude dos tempos"(Ef.1:10) ou "dispensação
da graça"(Ef.3:2)1 ou "dispensação do mistério"(Ef.3:9); "tempo da oportunidade",
"tempo sobremodo oportuno", "dia da salvação"(IICo.6:2), "tempos oportunos"
(IITm.2:6), "tempos devidos" (Tt.1:3); "hoje" (Hb.3:7,15;4:7,8); "fins dos séculos"
(ICo.10:11); "última hora"(IJo.2:18).
Durante este período a Igreja tem a incumbência de proclamar o evangelho antes que
venha o "grande e terrível dia do Senhor"(Ml.4:5), que porá fim aos últimos dias,
para inaugurar o "dia da vingança do nosso Deus"(Is.61:2b).
Além deste, podemos citar vários outros motivos porque devemos estudar profecias:
1) Sua importância nas Escrituras é estabelecida pelo fato de que 25% da Bíblia é
composta de profecias. Convém mencionar que todas elas, com uma única excessão, são
literais.
É mister lembrar que o estudo da escatologia não nos levará a desvendar todos os
mistérios, épocas e tempos estabelecidos por Deus. Deus nos dará compreensão apenas
às coisas que nos foram reveladas (Dt.29:29), mas as coisas encobertas pertencem ao
Senhor nosso Deus, e não nos "compete conhecer tempos ou épocas que o Pai reservou
para sua exclusiva autoridade"(At.1:7).
CAPÍTULO I
ESCATOLOGIAS CONTEMPORÂNEAS
1. ESCATOLOGIA CONSISTENTE:
Mas o pensador de maior expressão dessa tendência teológica foi Albert Schweitzer
(1875-1965), porque Schweitzer ampliou a proposta de Weiss, aplicando a sua
teologia consistente à todo o Novo Testamento, e não somente aos ensinos de Jesus.
2. ESCATOLOGIA REALIZADA:
O defensor dessa tendência foi Charles H. Dodd (1884-1973). Para Dodd "a nova era
já está aqui; Deus estabeleceu o reino. O conceito mitológico do dia do Senhor foi
transferido a um evento histórico específico que já ocorreu, ou, na realidade, a
uma série de tais eventos - o ministério, a morte e a ressurreição de Jesus Cristo.
A escatologia foi cumprida ou 'realizada'. Aquilo que era futuro nos tempos das
profecias do Antigo Testamento tornou-se presente. Ao invés de procurar duas vindas
de Cristo, devemos entender que há apenas uma; devemos interpretar estas
'predições' à luz das suas declarações de que o Reino de Deus está aqui - está
próximo. Jesus não estava falando de como seria, mas de como era".6
Com esses conceitos, agora podemos melhor definir a Escatologia Realizada. Fica
claro perceber que a Escatologia Realizada adota uma abordagem preterista na sua
interpretação.
CAPÍTULO II
AMILENISMO AGOSTINIANO
1. DESCRIÇÃO E ORIGEM:
O Amilenismo Agostiniano ensina que não haverá um milênio de paz e justiça na terra
antes do fim do mundo. Os amilenistas crêem que haverá um crescimento contínuo de
bem e mal no mundo que culminará na Segunda Vinda de Cristo quando os mortos serão
ressuscitados e se processará o último julgamento. Os amilenistas crêem que o Reino
de Deus está presente agora no mundo, enquanto o Cristo vitorioso governa seu povo
através de sua Palavra e Espírito. Este conceito de amilenismo recebe o nome
agostiniano porque foi defendido por Agostinho de Hipona (354-430 d.C.).
Inicialmente Agostinho era pré-milenista, mas abandonou esta posição "em vista do
extremismo e carnalidade imoderada daqueles que sustentaram o pré-milenismo em sua
época." Agostinho foi também influenciado por Ticônio e pelo método de
interpretação alegórica de Orígenes.
Notamos nesta definição que o termo amilenismo é infeliz, pois sugere que os
amilenistas não crêem em qualquer tipo de milênio. É verdade que os amilenistas
agostinianos rejeitam a idéia de um reino terreno literal de mil anos que se
seguirá ao retorno de Cristo, mas também é verdade que eles crêem que o milênio de
Apocalipse 20 não é exclusivamente futuro, mas está em processo de realização hoje,
não literalmente, mas de forma espiritual. Cristo reina hoje na terra, através da
Igreja, pois os amilenistas crêem que o reino de Deus está no seio da Igreja:
"...não vem o reino de Deus com visível aparência... porque o reino de Deus está
dentro em vós."(Lc.17:20,21). Os amilenistas crêem que os crentes já reinam com
Cristo no presente, pois Ele "nos constituiu reino, sacerdotes para o seu Deus e
Pai..."(Ap.1:6). A Igreja de Cristo é "sacerdócio real"(IPe.2:9), e nessa qualidade
reina, expandindo o Reino de Deus no mundo, através de proclamação "das virtudes
daquele que vos chamou das trevas para a sua maravilhosa luz." Para os Amilenistas
Agostinianos o Reino de Deus prometido ao povo de Israel, foi transferido para a
igreja (Mt.42,43), porque Israel rejeitou o seu Messias. Por causa disso a Igreja
agora é o novo "Israel de Deus."(Gl.6:16).
Para explicar a ação de Satanás na presente era, Figueredo explica que a palavra
preso usado em Ap.20:3 não significa inativo, mas apenas limitado. "Sua prisão,
cremos, é relacionada com o impedimento de sua ação contra a Igreja (Mt.18:16-18);
ele não pode impedir o avanço da Igreja e do Evangelho."
Figueredo prossegue dizendo que esta limitação de Satanás terá fim, quando ele for
solto novamente, fato que será concomitante com a grande tribulação (Mt.24:29,30) e
com a apostasia (IITs.2:8). Depois o Senhor descerá do céu e destruirá o
Anticristo. "Então se seguirão o novo céu e a nova terra, onde os salvos reinarão,
não apenas por mil anos, mas para sempre."
O Dr. Russel Shedd informa que Agostinho interpretou a prisão de Satanás à maneira
da Escatologia Realizada de Dodd. Shedd diz que "para Agostinho, Marcos 3:27,
continha a chave da compreensão certa do milênio... explicou este verso assim:
ninguém poderá entrar na casa do poderoso e tomar os seus bens sem primeiramente
amarrá-lo. O homem forte era Satanás. Seus bens, são os cristãos (antes da
conversão) que estavam sob o seu domínio. Cristo o dominou, amarrando-o e
segurando-o durante todo o período entre a primeira e a segunda vinda. No fim desta
época Satanás será posto em liberdade para testar a Igreja. Em seguida será
absolutamente dominado, iniciando a era eterna."
3. AS DUAS RESSURREIÇÕES:
Para fundamentar esta interpretação apelam para a exegese do texto. Afirmam que o
verbo grego ezhsan (ezêsan = viveram) aplica-se tanto à uma ressurreição
espiritual, da alma, como à uma ressurreição literal, do corpo. Aqui em Apocalipse
20 o "viveram" do versículo 4 faz referência à uma ressurreição espiritual,
enquanto que o "viveram" do versículo 5 se refere a uma única ressurreição
corporal, tando dos salvos quanto dos perdidos.
O Dr. Ladd diz que "aqui há primeiramente uma ressurreição espiritual, seguida por
uma ressurreição física escatológica. Intérpretes amilenistas argumentam que
Apocalipse 20 deveria ser interpretado de forma análoga a João 5."
Para o grupo dos que vivem, a hora já chegou. Isto deixa claro que a referência é
aos que estão espiritualmente mortos e entram na vida ouvindo a voz do Filho de
Deus. O outro grupo (todos), são os que se acham nos túmulos, são tanto aqueles que
estão espiritualmente mortos, como aqueles que vivem e já tiveram parte na primeira
ressurreição. Ambos serão trazidos à vida, simultaneamente, uns para a ressurreição
da vida e outros para a ressurreição do juízo. "Desse modo fica claro que o texto
está falando de dois tipos de 'viver': uma ressurreição espiritual no presente e
uma ressurreição física no futuro."
Como exemplo podemos citar uma profecia de Oséias onde lemos: "Quando Israel era
menino, eu o amei; e do Egito chamei o meu filho."(Os.11:1). Esta afirmação
histórica que Deus chamou Israel do Egito no Êxodo foi aplicada espiritualmente, no
Novo Testamento, à Jesus Cristo, em Mateus 2:15.
Vejamos ainda mais dois exemplos de passagens proféticas do Antigo Testamento, que
são interpretadas como sendo a descrição do reino milenial. O amilenista Anthony A.
Hoekema dá a sua interpretação.
A primeira está em Isaías 11:6-9, onde lemos que "o lobo habitará com o cordeiro, e
o leopardo se deitará junto ao cabrito..." Hoekema argumenta que "no fim dos tempos
haverá uma nova terra (veja, por exemplo, Is.65:17;66:22; Ap.21:1). Por que não
podemos entender os detalhes que encontramos nestes versos como descrições da vida
na nova terra? (...) Por que temos de pensar nestas palavras como se tivessem
aplicação apenas a um período de mil anos precedendo a nova terra?"
A outra passagem que Hoekema faz referência é Isaías 65:17-25. Ele argumenta que "o
verso 18 chama o leitor a exultar 'perpetuamente' - não apenas por mil anos - nos
novos céus e nova terra que acabaram de ser descritos. Isaías não está falando aqui
de uma novidade para durar apenas mil anos, mas uma novidade eterna!"
CAPÍTULO III
AMILENISMO CLÁSSICO
1. DESCRIÇÃO:
Para os amilenistas clássicos o Reino de Deus é o Reino dos Céus3 , e este foi
inaugurado na 1ª vinda de Jesus: "Se, porém, eu expulso os demônios pelo dedo de
Deus, certamente é chegado o reino de Deus sobre vós."(Lc.11:20). Outro versículo
usado para defender o amilenismo encontra-se naquela passagem quando Jesus enviou
seus discípulos para pregarem o Reino de Deus aos seus compatriotas judeus:
"...anunciai-lhes: a vós outros está próximo o reino de Deus."(Lc.10:9). Desse
modo, o reino prometido a Israel foi transferido para a Igreja (Mt.21:43).
Cristo reina nos céus agora. Enquanto Ele reina, o evangelho será pregado na terra,
até que seja divulgado a todas as nações (Mt.24:14). O evangelho, porém, será
rejeitado, pois os homens "não suportarão a sã doutrina"(IITm.4:3), a iniquidade se
multiplicará e os crentes se esfriarão: "E, por multiplicar a iniquidade, o amor se
esfriará de quase todos."(Mt.24:12). Nos últimos tempos "sobrevirão tempos
difíceis..."(IITm.3:1), e por isso, surgirão doutrinas de demônios, para as quais
"alguns apostatarão da fé"(ITm.4:1). Nesse estado caótico Jesus voltará: "...quando
vier o Filho do Homem, achará porventura fé na terra?"(Lc.18:8). Em sua 2ª vinda
julgará os povos, separará o trigo do joio, e criará os novos céus e a nova terra.
É nesta nova terra que o reino dos céus será implantado.
2. INTERPRETAÇÃO DE APOCALIPSE:
"A segunda destas seções é a visão dos sete selos que se encontra nos capítulos 4 a
7. (...) Nesta visão vemos a igreja sofrendo provas e perseguições sobre o pano de
fundo da vitória de Cristo.
"A terceira seção, nos capítulos 8 a 11, descreve as sete trombetas de julgamento.
Nessa visão vemos a igreja vingada, protegida e vitoriosa.
"A quarta seção, capítulos 12 a 14, começa com a visão da mulher dando à luz um
filho enquanto o dragão espera para devorá-lo logo que ele nasça - uma referência
óbvia ao nascimento de Cristo.
"A quinta seção encontra-se nos capítulos 15 e 16. Descreve as sete taças da ira,
representando desta forma de maneira bem vívida a visitação final da ira de Deus
sobre os que permanecem impenitentes.
"A sexta seção, capítulos 17 a 19, descreve a queda da Babilônia e das bestas.
Babilônia representa a cidade do mundo - as forças do secularismo e impiedade que
se opõem ao reino de Deus...
"A sétima seção, narra o fim do dragão... descreve o juízo, o triunfo final de
Cristo e sua igreja e o universo restaurado, chamado aqui de os novos céus e nova
terra.
"Observe que apesar destas seções serem paralelas entre si, revelam também um certo
grau de progressão escatológica. A última seção, por exemplo, leva-nos mais além
para o futuro que as outras. Apesar do juizo final já ter sido anunciado em 1:7 e
brevemente descrito em 6:12-17, não é apresentado detalhadamente senão quando
chegamos a 20:11-15. Apesar do gozo final dos redimidos já ter sido insinuado em
7:15-17, não encontramos uma descrição detalhada e elaborada da bênção da vida na
nova terra senão quando chegamos ao capítulo 21 (21:1-22:5). Por esta razão, este
método de interpretação é chamado paralelismo progressivo."6
CAPÍTULO IV - PÓS-MILENISMO
1. DESCRIÇÃO:
2. ORIGEM:
"O milênio que os pós-milenistas aguardam é, desta forma, uma era áurea de
prosperidade espiritual dentro da atual dispensação, isto é, na Era da Igreja. Isto
vai ser provocado por forças que já estão em atividade no mundo. Ele vai durar por
um período indefinidamente longo de tempo, talvez muito mais que mil anos literais.
O caráter transformado dos indivíduos se refletirá numa vida social, econômica,
política e cultural melhor para a humanidade. O mundo todo gozará um estado de
retidão que até agora só foi visto em grupos relativamente pequenos e isolados: por
exemplo: alguns círculos familiares, e alguns grupos de igrejas locais e
organizações semelhantes."3
"Hoje o mundo como um todo está em um plano muito mais elevado. Os princípios
cristãos são os padrões aceitos em muitas nações, apesar de não serem praticados
consistentemente. A escravidão e poligamia praticamente desapareceram. A situação
das mulheres e crianças melhorou enormemente. As condições sociais e econômicas em
quase todas as nações alcançaram um outro nível. Um espírito de cooperação está se
manifestando entre as nações muito mais do que jamais ocorreu. Incidentes
internacionais que apenas há alguns anos atrás teriam resultado em guerras são
agora normalmente resolvidos por arbitragem."4
1. DESCRIÇÃO:
Quem defende esta corrente é o Dr. George Eldon Ladd. Ele afirma que "Apocalipse
20:1-6 retrata a Segunda Vinda de Cristo como vencedor vindo destruir seus
inimigos: o Anticristo, Satanás e a Morte. Apocalipse 19:17-21 retrata então a
destruição do poder malígno por trás do Anticristo - 'o dragão, a antiga serpente,
que é o diabo, Satanás"(Ap.20:2). Isto ocorre em dois estágios.
"Assim Cristo alcança sua vitória sobre seus três inimigos: o Anticristo, Satanás e
a Morte.1 Só então, subjugados todos os poderes hostís, o cenário está preparado
para o estado eterno - a vinda dos novos céus e nova terra (Ap.21:1-4). Esta é a
maneira mais natural de se entender Apocalipse 20."2
Ladd afirma que "uma ilustração extremamente vívida deste princípio encontra-se em
Romanos 9, onde Paulo está falando de 'nós, a quem também chamou, não só dentre os
judeus, mas também dentre os gentios'(Rm.9:24). Em outras palavras, Paulo está
falando da igreja em Roma, que contava com alguns judeus, mas era em sua maioria
gentia. Para provar que era o propósito de Deus chamar tal povo à existência, Paulo
cita duas passagens de Oséias. 'Assim como também diz em Oséias: Chamarei povo meu
ao que não era meu povo; e, amada, à que não era amada; e no lugar em que se lhes
disse: Vós não sois meu povo, ali mesmo serão chamados filhos do Deus
Vivo.'(Rm.9:25,26) Em Oséias, ambas as passagens referem-se ao Israel literal,
nacional. Por causa de sua rebeldia, Israel não é mais o povo de Deus. 'Disse o
Senhor a Oséias: Põe-lhe o nome de não-meu-povo, porque vós não sois meu povo, nem
eu serei vosso Deus.'(Os.1:9). Israel foi rejeitado pelo Senhor por sua descrença.
Mas Oséias ainda vê um dia de arrependimento no futuro, quando um povo desobediente
se tornará obediente. Ele vê um grande remanescente, como a areia do mar. 'E no
lugar onde se lhes dizia: Vós não sois meu povo, se lhes dirá: Vós sois filhos do
Deus Vivo'(Os.1:10). Isso se refere a uma futura conversão dos judeus. O mesmo pode
ser dito da segunda profecia: 'Compadecer-me-ei da desfavorecida; a não-meu-povo
direi: Tu és o meu povo; e ele dirá: Tu és o meu Deus!'(Os.2:23). Novamente o que
se vê é uma salvação futura do Israel literal quando o povo, rejeitado por Deus,
novamente se tornará povo de Deus.
"A idéia da Igreja como Israel espiritual aparece em outras passagens. Abraão é
chamado 'o pai de todos os que crêem'(Rm.4:11); é 'o pai de todos nós que somos da
fé que teve Abraão'(Rm.4:16); são ós da fé' que são 'filhos de Abraão'(Cl.3:7); é.
se sois de Cristo, também sois descendentes de Abraão, e herdeiros segundo a
promessa'(Cl.3:29). Se Abraão é o pai de um povo espiritual, e se todos os crentes
são filhos de Abraão, seus descendentes, segue-se então que são Israel
espiritualmente falando.
"É isto que leva Paulo a dizer: 'Porque não é judeu quem o é apenas exteriormente,
nem é circuncisão a que é somente na carne. Porém judeu é aquele que o é
interiormente, e circuncisão a que é do coração, no espírito, não segundo a letra
(Rm.2:28,29)".3
Ladd continua a sua argumentação dizendo que outra profecia dada a Israel foi
aplicada à Igreja. Segundo Ladd o profeta Jeremias antevê um dia quando Deus fará
uma nova aliança com o Israel rebelde (Jr.31:33,34). Para Ladd o livro de Hebreus
aplicou esta profecia à nova aliança feita no sangue de Cristo (Hb.8:8-12).
Boettner prossegue dizendo que quando Cristo veio e foi rejeitado pela nação de
Israel, "Ele depôs os líderes do judaísmo apóstata, fariseus e anciãos, e indicou
um novo conjunto de oficiais, os apóstolos, através dos quais estabeleceria a sua
igreja. Aos líderes do judaísmo ele disse: 'O reino de Deus vos será tirado e será
entregue a um povo a igreja que lhe produza os respectivos frutos.'(Mt.23:43). De
conformidade com isto todo o sistema religioso do judaísmo foi abolido, terminou. E
em seu lugar, a Nova Aliança tornou-se o instrumento oficial e autorizado para Deus
lidar com seu povo, a igreja."4
1. ORIGEM:
2.DESCRIÇÃO:
Desse modo os pré-milenistas crêem que a volta de Cristo (2ª fase) será precedida
de certos sinais, como a pregação do evangelho à todas as nações (Mt.24:14; Ap.7:4;
14:1; 11:3; 14:6; Is.66:19; Veja Cl.1:6; 1:23; ITs.1:8) no período entre a 1ª e a
2ª fase da 2ª vinda, o qual a Bíblia chama de tribulação (Mt.24:21). Também haverá
apostasia, guerras (Zc.14:13; Ap.6:3,4), fome (Ap.6:5), terremotos (Mt.24:29;
At.2:19,20) e a manifestação do Anticristo (Mt.24:24; Ap.13:1-10) e do Falso
Profeta (Ap.13:11-18), os quais juntamente com Satanás (o Dragão - Ap.12:9),
formarão a "trindade satânica" (Ap.16:13), que enganarão as nações (Ap.13:13,14;
IITs.2:9,10). Somente depois da manifestação do Anticristo, o "Homem da
Iniquidade"(IITs.2:3) é que Jesus voltará, juntamente com os seus santos (Zc.14:5;
Jd.14) para estabelecer o seu reino(Ap.11:15-18; Zc.14:9; Mt.25:34; 26:29). Durante
a tribulação o evangelho será anunciado, mas a salvação será concedida com muitas
tribulações, pois os santos que estiverem na terra serão perseguidos (Mt.24:13,22;
Ap.13:7-10).
3. AS DUAS RESSURREIÇÕES:
A interpretação literal deve ser adotada para as duas ocorrências do verbo. O grego
ezhsan (ezêsan = viveram), pode de fato ser interpretado no sentido espiritual,
como em Jo.5:25 e Ef.2:1-6, mas também é usado nas Escrituras com o sentido
literal. Em Ap.2:8 e 13:14 o mesmo verbo é empregado para se referir à ressurreição
corporal de Cristo e da besta. Portanto Ap.20:4,5 não deve ser interpretada de
forma análoga a Jo.5:25, de modo nenhum.
"A ressurreição para a vida. Há um número de passagens que ensinam esta parte
distintiva do programa da ressurreição.
"'...e serás bem-aventurado, pelo fato de não terem eles com que recompensar-te; a
tua recompensa, porém, tu a receberás na ressurreição dos justos'(Lc.14:14).
"'Para o conhecer e o poder da sua ressurreição e a comunhão dos seus sofrimentos,
conformando-me com ele na sua morte; para de algum modo alcançar a ressurreição
dentre os mortos' (literalmente: a ressurreição, a dentre os mortos) (Fp.3:10,11).
'Agora, se Cristo vem ressuscitar os justos mil anos antes que os ímpios, seria
natural e imperativo, chamar a primeira ressurreição uma ressurreição de, ou dentre
os mortos, visto que o resto dos mortos ficaram para trás... isto é exatamente o
que cuidadosamente se faz na Palavra... Consiste no uso que se faz, no texto grego,
das palavras... (ek nekron)'.
"'E as restantes 4 vezes se usa para expressar uma ressurreição futura dentre os
mortos, a saber, Mc.12:25 '...quando ressuscitarem de entre os mortos...'',
Lc.20:35,36 '...a ressurreição dentre os mortos...', At.4:1,2 '...a ressurreição
dentre os mortos...'
"'Estas passagens claramente mostram que está por efetuar-se uma ressurreição de
entre os mortos; isto é, que parte dos mortos serão ressuscitados, antes que todos
sejam ressuscitados. Olshausen declara que a 'a expressão seria inexplicável se não
se derivasse da idéia de que de entre a massa dos mortos alguns se ressuscitarão
primeiro'.6
"'Os restantes dos mortos não reviveram até que se completassem os mil
anos...'(Ap.20:5).
"'Vi um grande trono branco e aquele que nele se assenta, de cuja presença fugiram
a terra e o céu, e não se achou lugar para eles. Vi também os mortos, os grandes e
os pequenos, postos em pé diante do trono... Deu o mar os mortos que nele estavam.
A morte e o além entregaram os mortos que neles havia...'(Ap.20:11,12,13).
"Porquanto a primeira ressurreição se efetua antes que comece o reinado de mil anos
(Ap.20:5), 'os mortos' a que se refere Ap.20:11,12 só podem ser aqueles que ficaram
para trás na ressurreição de entre os mortos e são aqueles que serão ressuscitados
para a condenação. A segunda ressurreição, melhor definida como a ressurreição da
condenação, inclui a todos os que serão ressuscitados para a condenação eterna. Não
é a cronologia o que determina quem está incluído na segunda ressurreição, mas sim
o destino dos ressuscitados".8
"Há várias passagens que geralmente se usam para ensinar a falsa doutrina de uma
ressurreição geral. A primeira destas está em Dn.12:2,3, onde o profeta escreve:
"Muitos dos que dormem no pó da terra ressuscitarão, uns para a vida eterna, e
outros para vergonha e horror eterno. Os que forem sábios, pois, resplandecerão
como o fulgor do firmamento; e os que a muitos conduzirem à justiça, como as
estrelas sempre e eternamente.
"Nenhuma distinção quanto ao tempo parece haver aqui e, portanto, se conclui que se
ensina uma ressurreição geral. Tregelles habilmente comenta sobre esta passagem:
"'Eu não duvido que a tradução correta deste versículo é... E muitos dentre os que
dormem no pó da terra ressuscitarão, estes ressuscitarão para a vida eterna, mas os
outros (o resto dos que dormem, aqueles que não ressuscitam neste tempo) para
vergonha e horror eterno. A palavra que na Versão Autorizada em Ingles traduz duas
vezes alguns, nunca se repete em nenhuma outra passagem da Bíblia Hebraica, no
sentido de tornar distributivamente qualquer classe geral que haja sido previamente
mencionada; isto é suficiente, eu creio, como garantia para que apliquemos a
primeira vez a todos os que ressuscitam, e a segunda, a massa dos que dormem,
àqueles que não ressuscitam neste tempo. É claro que não é uma ressurreição geral,
mas sim muitos dentre; e só tomando as palavras neste sentido, obteremos alguma
informação acerca do que sucederá aos que continuam dormindo no pó da terra'.
"Esta passagem tem sido entendida pelos comentaristas judaicos no sentido que se há
mencionado. Claro que estes homens, que têem o véu em seus corações, não são guia
algum quanto ao uso do Antigo Testamento, mas são uma ajuda quanto ao valor
gramatical e lexicográfigo de orações e palavras. Dois dos rabinos que comentaram
sobre este profeta foram Saadiah Haggaon (no século X de nossa era), e Aben Ezra
(no século XII); este último foi um escritor de habilidades peculiares e precisão
mental. Ele explica este versículo da seguinte maneira:
"Não vos maravilheis disto, porque vem a hora em que todos os que se acham nos
túmulos ouvirão a sua voz e sairão; os que tiverem feito o bem para a ressurreição
da vida; e os que tiverem praticado o mal, para a ressurreição do juizo.
"Se afirma que o uso que fez o Senhor da palavra 'hora' requer uma ressurreição
geral tanto dos salvos como dos não salvos. Sem dúvida, esta palavra não implica
necessariamente tal programa geral de ressurreição. Harrison escreve:
"'Deve-se admitir, sem dúvida, que a linguagem não demanda coincidência nas
ressurreições. O uso da palavra (hora) em Jo.5:25 permite sua extensão a um largo
período. O mesmo é verdade em Jo.4:21,23. Jesus está falando no estilo dos profetas
do Antigo Testamento, que agrupavam, sem diferenciação de tempo, os eventos que
eles vislumbravam no distante horizonte da história. O mesmo método se encontra nos
discursos escatológicos de Jesus, nos Evangelhos Sinópticos, onde a predição da
queda de Jerusalém com suas consequências, dificilmente pode desarrolar-se da
descrição do mui distante evento que está relacionado com a Grande Tribulação. Algo
paralelo, ainda que em uma categoria diferente, é a maneira inclusiva em que Jesus
fala da vivificação espiritual e física em uma só declaração. Um exemplo é
Jo.5:21'.10
"Em Apocalipse 20:4-6 se declara mui bem que as duas partes do programa da
ressurreição estão separadas por um intervalo de mil anos. (...) Se observa que a
primeira parte deste versículo 5, mas os restantes dos mortos não reviveram até que
se completassem os mil anos, é uma declaração entre parêntesis, que explica o que
sucede aos que são deixados nos domínios da morte quando se cumpre a primeira
ressurreição na segunda vinda de Cristo. Esta passagem ensina que transcorrerão mil
anos entre a primeira ressurreição, a ressurreição da vida, e a ressurreição do
resto dos mortos, a qual, segundo Apocalipse 20:11-13, é a ressurreição da
condenação. A única maneira de se olvidar do evidente ensino desta passagem, é
espiritualizando-a, de modo que a passagem não fale de ressurreição física, mas sim
da bem-aventurança das almas que estão na presença do Senhor. Acerca desta
interpretação, escreve Alford:
"'...não posso consentir que se tergiversem a estas palavras seu claro sentido e
lugar cronológico na profecia, devido a qualquer considerações de dificuldade, ou
qualquer risco de abusos que a doutrina do milênio pode trazer consigo. Os que
viveram próximo dos apóstolos, e toda a Igreja, durante trezentos anos, a
entenderam em seu claro sentido literal... Se a primeira ressurreição é espiritual,
então a segunda também é, na qual eu suponho que ninguém será tão tolo para sustent
e muitos dos melhores expositores modernos, eu em verdade sustento e recebe como um
artigo de fé e esperança.11
"Deve-se concluir que, ainda que não há nenhuma revelação clara no Antigo
Testamento com respeito a relação de tempo das duas partes do programa de
ressurreição, o Novo declara que a ressurreição da vida e a ressurreição do juizo
estão separadas por um lapso de mil anos."12
3.4 O Programa da Ressurreição:
"O apóstolo Paulo nos dá uma amostra dos eventos do programa da ressurreição em I
Co. 15:
"'Porque assim como em Adão todos morrem, assim também todos serão vivificados em
Cristo. Cada um, porém, por sua própria ordem: Cristo, as primícias; depois os que
são de Cristo, na sua vinda. E então virá o fim, quando ele entregar o reino ao
Deus e Pai, quando houver destruído todo o principado, bem como toda potestade e
poder.'(ICo.15:22-24).
"Um segundo grupo se introduz com a palavra 'logo'. Esta palavra (epeita = epeita)
significa um lapso de tempo de duração não designada. Edwards comenta: 'Ele não
disse que um evento segue ao outro imediatamente... Há uma amplitude aqui para
cobrir o lapso de tempo entre a ressurreição de Cristo e a ressurreição dos que são
de Cristo na sua vinda'.
"Tem havido diferença de opiniões quanto a quem são os do segundo grupo. alguns
tomam a expressão os que são de Cristo (oi tou cristou = hoi tou Christou) e a
fazem sinônimo da expressão em Cristo (en to cristo = en to Christo) do versículo
22. Este último seria a expressão técnica que declara a relação dos santos com
Cristo nesta era presente. Portanto, se conclui que esta é uma ressurreição da
Igreja que se menciona em I Ts.4:16. Este ponto de vista se apóia em referência à
palavra vinda (parousia), que com frequência se aplica ao arrebatamento da Igreja.
Paulo estaria assim declarando que o segundo grande grupo do desfile da
ressurreição seria o daqueles que hão de ressuscitar nesta era presente, no
arrebatamento da Igreja. Podem declarar, ademais, os que sustentam este ponto de
vista, que Paulo não menciona aqui a ressurreição dos santos da tribulação, nem dos
santos do Antigo Testamento. Sem dúvida, porquanto Paulo está dissertando sobre o
programa da ressurreição, pareceria estranho que aqueles grupos importantes fossem
omitidos. Seria melhor tomar o ponto de vista alternativo da que a expressão os que
são de Cristo é uma referência técnica a todos os redimidos, tanto da Igreja, como
do período do antigo Testamento, e o período da tribulação, todos os quais serão
levantados na vinda de Cristo. A palavra vinda, pois, seria tomada em seu mais
amplo sentido, que é aplicado ao segundo advento com todo o seu programa, e não ao
arrebatamento somente. Desta maneira Paulo estaria dizendo que o segundo grande
grupo seriam os santos de todos os tempos, que serão ressuscitados, porque
pertencem a Cristo e que isto se cumpriria no tempo da segunda vinda.
O primeiro ponto sobre a questão sustêm que o 'todos' que em Adão morrem não são os
mesmos 'todos' que em Cristo serão vivificados. Os defensores desta posição
interpretam que o versículo ensina que todos os que estão em Adão morrem, a
ressurreição que se descreve aqui inclui somente os salvos que estão 'em Cristo', e
'o fim', portanto, deve referir-se ao fim desta era. Harrison resume os argumentos
sobre esta posição quando escreve:
"'A interpretação do versículo 22, que geralmente se cita para sustentar esta
construção, considera que o segundo (pantes = todos) é coextensivo com o primeiro.
O todos é universal em ambos os casos. É precisamente neste ponto onde começam as
dificuldades para obstruir este ponto de vista. Como temos observado... a palavra
zwopoihqhsontai (zoopoiethesontai ) é um termo demasiado forte, demasiado complexo
espiritualmente, para aplicá-lo a todos os homens. O termo natural para uma classe
de ressurreição que incluiria a todos seria (eghrestai = egeresthai). As palavras
em Cristo não podem ter uma significação menor do que têem as palavras em outras
partes. Se refere a mais íntima e potente relação de salvação com Cristo. Os
incrédulos não estão classificados como tais. Meyer e Godet estão no caminho errado
ao supôr que (em Cristo) tem aqui um sentido diluído que permite sua aplicação a
todos os incrédulos. Tal aplicação requereria (dia christou) em vez de (en
christo). Uma segunda dificuldade é o fato de que toda a discussão ao largo do
capítulo tem em mente somente os crentes. Pelo menos nada se disse definitivamente
sobre qualquer outro. Em terceiro lugar, o contexto imediato não é favorável. Paulo
concentra a atenção de seus leitores em Cristo como as Primícias dos mortos
cristãos. Tanto a palavra (aparch = aparche = primícias) como o verbo (koimaw =
koimao = dormir) correspondem só aos crentes. Cristo não é as primícias dos outros,
já que necessariamente teriam que ser completamente semelhantes a Ele em sua
ressurreição. Logo, também, os mortos não cristãos não dormem. Eles morrem. Uma
quarta dificuldade se apresenta no uso não natural e sem precedentes de (telo =
télos), que esta construção requer. A palavra significa fim no sentido absoluto de
terminação. Ocasionalmente se usa no sentido de propósito ou finalidade. Mas seu
uso como o equivalente de um adjetivo (fim da ressurreição)'.
"'...como Adão é a cabeça da raça natural e, em virtude desta relação natural com
ele, a morte é a sorte comum dos homens, assim também pela razão de que Cristo é a
Cabeça da raça espiritual, todos os que possuem relação espiritual com Ele serão
vivificados. Não há idéia alguma sobre a universalidade da raça humana, em
comparação da segunda declaração com a primeira. Que os incrédulos estão em Cristo
é algo completamente contrário ao ensino da Escritura... portanto, só os que chegam
a ser novas criaturas e possuem vida espiritual, e estão assim em Cristo, em sua
experiência de vida presente, estão incluídos no todos da segunda declaração, e
serão vivificados'.
"Desta maneira, de acordo com este ponto de vista, Paulo tem em mente duas grandes
etapas no programa da ressurreição: a ressurreição de Cristo, e a ressurreição de
todos os que são de Cristo, que incluiria os santos da igrjea, os santos da
tribulação, e os santos do Antigo Testamento, que serão levantados no tempo da
segunda vinda, ressurreição que seria seguida do fim desta era.
"Há, ainda, alguns que, ao interpretar esta passagem, entendem que Paulo está
incluindo o fim do programa da ressurreição em seu ensino. Por conseguinte a
expressão 'em Cristo', se entenderia como instrumental, por Cristo. Robertson e
Plummer dizem:
"'Paulo estava pensando em uma terceira ordem (tagma), aqueles que não são de
Cristo, que seriam ressuscitados dos mortos num tempo antes do fim...''.
"Pridham declara a ordem assim: '...o apóstolo está distribuindo a grande obra da
ressurreição, como uma manifestação do poder divino, em três atos grandemente
definidos e separados: 1. A ressurreição do Senhor Jesus; 2. O despertamento de
todos os santos em sua vinda; 3. A desocupação final de todos os sepulcros ao
término da administração do Reino do Filho, quando os mortos não incluidos na
primeira ressurreição serão ressuscitados, tanto pequenos como grandes, para juízo
diante de Deus'.
"Porquanto a palavra fim (télos), em seu uso básico, se refere ao fim de um ato ou
de um estado e tem a ver com a terminação de um programa seria preferível entender
que Paulo está incluindo a ressurreição final, no desfile dos grupos que aqui se
descrevem.
"Deve-se observar uma vez mais que Paulo está prevendo um intervalo de tempo entre
a ressurreição dos que são de Cristo e o fim, seja este o fim da era ou o fim do
programa da ressurreição. Vine disse: '...a palavra que se traduz então não é (tote
= tóte), imediatamente logo, mas sim (eita =eita = depois), que indica ordem
cronológica, logo, depois de um intervalo, como por exemplo em Mc.4:17,28 e os
versículos 5 e 7 de ICo.15. O intervalo que se indica aqui, no versículo 24, é
aquele durante o qual o Senhor reinará em seu Reino Milenário de justiça e paz.''"
A literalidade das Escrituras deve ser sustentada como único e mais legível método
de interpretação bíblica. Quando a Bíblia usa "pedra" ela quer dizer pedra e não
"pau". Se Deus quisesse dizer "pau" teria usado este termo, ou um sinônimo
(madeira), mas não o fez porque Deus não é Deus de confusão e, portanto, disse
exatamente aquilo que pretendia dizer. Portanto a literalidade deve ser sustentada
em todos os textos onde sua aplicação for possível, inclusive às profecias. Deve-se
excluir a interpretação literal somente em casos absurdos, como por exemplo João
10:9. É claro que Jesus não é uma porta, com ferrolhos e fechadura, mas sim o
Mediador que oferece aos homens o acesso a Deus. Esta passagem, portanto, deve ser
entendida alegóricamente ou espiritualmente.
Como se explicam aquelas profecias do Antigo Testamento que foram aplicadas com
sentido espiritual pelo Novo Testamento? Deve-se proclamar, em alto e bom som, que
todas elas, com excessão de uma, tiveram seu cumprimento literal no tempo do Antigo
Testamento. É o caso, por exemplo de Isaías 7:14 que predisse o nascimento de uma
criança que serviria como sinal para o rei Acaz. Esta profecia cumpriu-se no século
VIII antes de Cristo. "Mateus, porém, achando um sentido mais completo e profundo
no versículo e também ajudado pelas traduções do grego parthenos ou virgem na LXX
(versão grega do A.T.), como também o nome Emmanuel, argumenta que o nascimento de
Jesus é o cumprimento daquilo que o profeta havia dito (Mt.1:23)".
Um estudo meticuloso das profecias nos mostrará que não são poucas as ocorrências
desse tipo. Este fenômeno da interpretação profética recebe o nome de "sensus
plenior (sentido mais completo além do literal), no qual o N.T. vê um cumprimento
básico e mais profundo que Deus queria comunicar".
É óbvio que somente aos escritores do N.T., que foram movidos pelo Espírito Santo,
foi dada a autoridade de fazer tais "reinterpretações" do texto literal do A.T. O
que se verifica hoje, entre os defensores da interpretação alegórica, é um
verdadeiro abuso do uso do sensus plenior, quando aplicam profecias do A.T. que
dizem respeito ao Israel literal, à Igreja, no sentido espiritual. É o caso, por
exemplo de Os.11:1, que históricamente se refere ao povo de Israel no Egito, mas no
N.T. foi aplicado a Jesus Cristo (Mt.2:15).
Melquisedeque era um rei, humano e mortal, que viveu nos tempos de Abraão. Contudo
sua figura foi aplicada ao Senhor Jesus. De maneira semelhante a Bíblia aplica o
nome de Israel - o povo de Deus - ao Messias (Is.49:3). Esta aplicação é
teologicamente compreensível. O que está em foco nesta passagem é a grande doutrina
da substituição, ensinada pelo N.T., na qual Jesus substituiu o seu povo, e por
quem foi sacrificado(Is.53:4,5,11; Jo.11:50-52; Jo.12:23-28). No que se refere a
Israel (Jacó, Is.41:8;48:20) ser chamado de servo, e Jesus igualmente em Is.53:11,
deve ser notado e ressaltado que no texto de Isaías o Servo de Jeová é chamado de
Justo: "o meu servo, o Justo..."(Is.53:11). Outras profecias que tratam de Jesus
como Servo, apresentam também uma ou mais de suas qualidades como Messias. É o caso
de Is.42:1.
Outra passagem que nos convém comentar, frequentemente usada pelos defensores do
alegorismo, é a de Jeremias 31:33,34. Dizem eles que esta profecia dada à Israel
foi interpretada pelo autor de Hebreus como se referindo à Nova aliança promulgada
com o sangue de Cristo, a favor da Igreja (Hb.8:8-12). Ora, o que ocorre aqui, é o
mesmo fenômeno encontrado, por exemplo, em Os.11:1, cuja passagem bíblica se refere
tanto a Israel, no passado, como a Cristo em sua época. A profecia de Jeremias se
aplica, no presente, à Igreja (Hb.10:14-18), mas, num tempo ainda vindouro, ao povo
de Israel (Hb.8:8-12). Nesse tempo, para a nação de Israel, a ordem de Arão será
substituida pela ordem de Melquisedeque (Hb.7:11-19; Hb.9:11-15; Is.66:20-23;
Mq.4:2).
"O Dr. J. N. Darby, dos 'Irmãos', ensina que a Igreja tem uma relação com o sangue
de Jesus Cristo que é a base para toda a ação de graça da parte de Deus. Mas não vê
senão um só 'Novo Pacto' na Bíblia: o de Jeremias e o do Novo Testamento também.
Considera que o evangelho não é um pacto, mas uma revelação da salvação de Deus.
Que não participamos da letra do Novo Pacto porque é com Israel, e será
estabelecido no milênio; porém, como ele é alicerçado no sangue de Cristo, podemos
em espírito gozar de bençãos semelhantes, pelo mesmo sangue.
"Outra interpretação é a do Dr. C. I. Scofield, na qual ele ensina que o Novo Pacto
em Jeremias é com a casa de Israel, e será cumprido através da sua benção no
futuro, mas que também tem uma aplicação em referência aos crentes de hoje. É
chamado o conceito da aplicação dupla. Como o sangue de Cristo é o sangue do Novo
Pacto, e na comunhão participamos do cálice em memória dele(ICo.11:25), crê-se que
nós, crentes, beneficiamo-nos do Novo Pacto, como concidadãos dos santos e membros
da família de Deus (Ef.2:19), e não como membros da cidadania de Israel (Ef.2:12).
"A terceira interpretação é a mais simples, chamada a dos dois pactos, e conhecida
por ser proposta pelo Dr. L. S. Chafer. Diz que o Novo Pacto de Jeremias 31 é com a
casa de Israel, e será estabelecido no porvir. Há também um outro Pacto Novo em o
Novo Testamento, que foi celebrado com a Igreja, e se está cumprindo todos os dias.
Este conceito demanda uma divisão de todas as passagens neo-testamentárias entre
aquelas que se referem ao pacto com Israel, isto é, o de Jeremias, e aquelas que
fazem menção ao evangelho e à Igreja. Geralmente classificam-se como segue:
Mt.28:26; Mc.14:24; Lc.22:20; ICo.11:25; IICo.3:6; Hb.8:6; Hb.9:15; Hb.10:29 e
Hb.13:30 falam do Novo Pacto com a Igreja. Rm.11:26,27; Hb.8:7-13 e Hb.10:16
referem-se ao Novo Pacto com Israel; enquanto que Hebreus 12:24 simplesmente diz
que Jesus é o Mediador do novo pacto por meio do seu sangue, que é mais eficaz do
que o de Abel, sem designar qual pacto. é razoável considerar que ambos os pactos
são mencionados, sendo que os dois dependem do sacrifício expiatório de Jesus
Cristo."
Uma profecia de grande importância para demonstrar de vez esse ponto de vista, é a
profecia das Setenta Semanas de Daniel. Esta profecia será estudada,
detalhadamente, em nosso próximo capítulo.
Quando Daniel recebeu a profecia das 70 Semanas (Dn.9:20-27) seu povo estava cativo
na Babilônia. Nabucodonosor tinha desolado totalmente a Cidade de Jerusalém
(IICr.36:17-21). Segundo as profecias essa desolação deveria durar setenta anos
(IICr.36:21; Jr.25:11; Dn.9:1,2). Conforme determinava a lei de Moisés (Lv.25:2-7)
a terra deveria gozar de um sábado, um descanso, a cada sete anos. Era um período
especial de instrução sobre a lei de Deus (Dt.31:10-13). Por desobediência a este
preceito da lei, sobreveio à Israel o castigo divino, 70 anos de cativeiro
babilônico, período que corresponde aos anos nos quais o povo judaico deixou de
observar o ano sabático (IICr.36:21).
O profeta Daniel, percebeu pelo estudo dos livros que os 70 anos estava chegando ao
fim (Dn.9:2). O Dr. Ryrie diz que os 70 anos, que teve início em 605 a.C., teve seu
fim em 535 A.C.1 Mas Daniel tinha em mente os 70 anos do cativeiro babilônico (Jr.
25:11; Zc.7:5). Ao receber a resposta de sua oração, o anjo Gabriel trouxe-lhe
novas revelações sobre as 70 semanas. Disse-lhe o anjo: "Setenta semanas estão
determinadas sobre o teu povo..."(Dn.9:24). Esta profecia não tem nenhuma relação
com os 70 anos do cativeiro babilônico que já se cumpriram. O cativeiro durou 70
anos, esta profecia acrescenta 490 anos de desolação sobre Israel.
A palavra hebraica traduzida por semanas, aqui em Dn.9:24, é shabua que significa
sete. Este sete se refere a sete dias ou sete anos, conforme o calendário judaico,
o período de uma semana. Portanto a tradução literal deste texto seria: "setenta
setes estão determinadas..." Para os judeus uma semana poderia ser "uma semana de
dias" (Dn.10:2,3), ou "uma semana de anos"2 . O Dr. Mc'Clain dissertando sobre o
período de jejum de Dainel, escreve: "É significativo que aqui o hebraico lê 'três
setes de dias'. Se no nono capítulo o escritor quisesse que entendêssemos os
'setenta setes' como de dias, porque não empregou o mesmo modo de expressão adotado
no capítulo dez? A resposta é evidente: Daniel só empregou shabua, quando se
referia à bem conhecida 'semana de anos', uso costumeiro, que todo judeu
entenderia; mas, no capítulo dez, ao falar das 'três semanas' de jejum, ele as
especifica como 'semanas de dias' a fim de distinguí-las das 'semanas de anos' no
capítulo nove. E se as 'semanas' do capítulo nove fossem compostas de dias, não
haveria nenhuma razão de ele ter mudado a forma hebraica no capítulo dez".3
A idéia de 'semana de anos' soa um tanto estranho aos nossos ouvidos, mas é algo
com que os judeus estavam bem familiarizados. Lemos em Gênesis que Jacó trabalhou 7
anos por Lia e, depois, mais sete anos por Raquel (Gn.29:21-30). Note que neste
texto Labão fala dos sete anos de trabalho de Jacó como sendo semanas: "Decorrida a
semana desta, dar-te-emos também a outra, pelo trabalho de mais sete anos que ainda
me servirás."(Gn.29:27). Outro texto bíblico onde aparece a expressão 'semanas de
anos' encontra-se em Levítico: "Contarás sete semanas de anos, sete vezes sete
anos; de maneira que os dias das sete semanas de anos te serão quarenta e nove
anos."(Lv.25:8). Há ainda uma outra profecia, que nada tem a ver com as setenta
semanas, mas serve também para esclarecer esta questão. Trata-se da profecia do
exílio proclamada pelo profeta Ezequiel: "Porque eu te dei os anos da sua
iniquidade, segundo o número dos dias... Quarenta dias te dei, cada dia por um
ano..."(Ez.4:5,7). Notamos aqui que cada dia representa um ano. Se uma semana tem
sete dias, então uma semana de anos tem sete anos. Portanto a profecia de Daniel
fala de um período de 490 anos (setenta setes, ou seja 70 x 7 = 490).
Esclarecendo ainda sobre a expressão "tempo, tempos e metade dum tempo" que aparece
em aramaico em Dn.7:25, o Dr. Mac'Clain argumenta: "O livro de Daniel contém uma
parte escrita em aramaico (Dn.2:4 - 7:28). Embora a palavra aramaica traduzida
'tempos' em 7:25 não seja dupla mas plural em forma, sem dúvida o plural aqui tem o
significado de duplo... Isto é confirmado pela expressão paralela que ocorre em
Dn.12:7, 'um tempo, tempos e metade dum tempo', onde a palavra 'tempos' é dupla na
forma hebraica original".5
Para provar que os 173.880 dias são equivalentes ao período de 14 de março de 445
a.C. até 6 de abril de 32 a.D., é necessário fazer o cálculo pelo nosso próprio
calendário:
Este período de tempo do nosso calendário (476 anos = 173.880 dias) equivale aos
483 anos das 70 Semanas (7 + 62 = 69 e 69 x 7 = 483 anos). A profecia menciona 70
semanas, isto é 490 anos, mas somente 483 anos foram cumpridos. Resta ainda 7 anos
(490 - 483 = 7), e este período restante é a septuagésima semana de Daniel, que se
cumprirá na Grande Tribulação. Se esta última semana ainda não se cumpriu, então é
porque há um intervalo entre a 69ª e a 70ª semanas. Desse modo a interpretação da
profecia não é contínua, mas fica estabelecido o fenômeno do cumprimento
parentético.
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~:text=Escatologia%20Reformada,Editora%20Vida%20Nova