Ana Paula Bustamantem
Ana Paula Bustamantem
Ana Paula Bustamantem
INTRODUÇÃO
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Doutoranda em Política Social pela Universidade Federal Fluminense (UFF/RJ). Mestre em Direito
pela Universidade Estácio de Sá (UNESA). Professora Adjunta do Departamento de Ciências
Jurídicas da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ). Professora do Curso de Direito
da Universidade Unigranrio/Afya. Pesquisadora do grupo de pesquisa DIÁLOGOS (UFRRJ/CNPq).
E-mail: anapaula.bustamante@gmail.com.
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acepção de gênero que pode ser feita como uma construção social e histórica e que se
baseia nos significados e simbolismos culturais entre homens e mulheres.
No Brasil, apesar da Constituição Federal de 1988 trazer como fundamento a
dignidade da pessoa humana e estabelecer que todos são iguais perante a lei, sem qualquer
distinção, as mulheres ainda são vulneráveis e fazem parte dos grupos sociais que
precisam de especial atenção.
A legislação infraconstitucional que combate a violência doméstica contra a
mulher - Lei 11.340/2006 (BRASIL, 2006), conhecida como Lei Maria da Penha,
representa uma grande conquista para o movimento feminista, a lei não só cria um
procedimento para a apuração e processo dos crimes praticados contra a mulher, no
ambiente doméstico, mas também expõe mecanismos e instrumentos que protegem a
mulher da violência física, patrimonial, psicológica, moral e sexual. Entretanto,
considerando a concepção heteronormativa e cissexista da sociedade brasileira, na prática,
esta proteção legal não consegue atingir todas as mulheres independentemente da raça,
classe social, etnia e orientação sexual.
A Lei 11.340/2006 (BRASIL, 2006) define em seu art. 5º seu campo de
incidência 2 , dispondo expressamente que a violência doméstica contra a mulher se
configura como qualquer “ação ou omissão baseada no gênero”. Neste sentido, gênero
deve ser entendido como uma categoria de análise das ciências sociais que questiona as
diferenças entre os sexos, considerando que as características de cada um deles são
produtos de uma situação histórico-cultural e política, recusando, portanto, qualquer tipo
de explicação que tenha como base a questão biológica como fundamento para as
desigualdades existentes3.
2
O artigo 5º da Lei 11.340/06 dispõe: “Para os efeitos desta Lei, configura violência doméstica e familiar
contra a mulher qualquer ação ou omissão baseada no gênero que lhe cause morte, lesão, sofrimento
físico, sexual ou psicológico e dano moral ou patrimonial:” (grifo nosso).
3
Ressalta-se que conceituar a categoria gênero é complexo, pois existem diferentes abordagens
epistemológicas que geram impasses entre os pesquisadores, e consequentemente criam
posicionamentos distintos e a necessidade de um olhar mais crítico sobre as diversas teorias.
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Logo, a Lei Maria da Penha não é somente uma proteção para as mulheres
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que possuem sexo biológico feminino, protegendo também as mulheres trans
(transexuais ou transgêneros), aliás este posicionamento é defendido em muitas decisões
dos Tribunais Brasileiros e também em artigos científicos.
Contudo, esse posicionamento no que tange ao universo jurídico é bastante
controvertido, existindo posicionamentos e decisões judiciais contemplando a
desconsideração da identidade de gênero e aplicando a Lei Maria da Penha com base
apenas no sexo biológico, fazendo uma distinção que a própria lei não fez, eis que esta se
valeu do conceito de mulher em seu sentido amplo, ou seja, sem ressalvas.
Em abril de 2022, a 6ª Turma do Superior Tribunal de Justiça6 ao julgar o
REsp 1977124 SP 2021/0391811-0 decidiu, por unanimidade, que a Lei 11.340/06 se
aplica aos casos de violência doméstica ou familiar contra mulheres transexuais,
representando um avanço no combate às violências sofridas por essas mulheres,
principalmente pelo fato de o Brasil, ser considerado o país que mais mata a população
trans no mundo, segundo dados da ONG Transgender Europe - TGEU7 (2021).
O curioso é que muito embora o Brasil seja identificado como o país mais
violento para a população trans, também é o país que mais tem avançado em conquistas
de direitos pró-LGTQIA+, conforme dados da Associação Nacional de Travestis e
Transexuais (ANTRA) apresentados no Dossiê dos assassinatos e da violência contra
travestis e transexuais brasileiras em 2021 (BENEVIDES, 2022, p. 70).
E mesmo com esses dados, esses não representam a realidade, principalmente
no que diz respeito à violência perpetrada às mulheres trans, uma vez que a situação delas
é de muita invisibilidade, faltando dados oficiais que tratem destes crimes, o que se
percebe facilmente com a busca aos sites e órgãos de segurança pública (SMITH e
SANTOS, 2017).
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O “universo trans” engloba travestis, drag queens e transexuais, mas no presente trabalho a expressão
“mulher trans” refere-se tão somente à mulher transexual.
5
Mulher transexual é aquela que nasceu com o sexo biológico masculino, mas se autoidentifica como
mulher, pertencente ao gênero feminino e inserida dentro do binarismo homem/mulher.
6
STJ. RECURSO ESPECIAL: REsp 1977124 SP 2021/0391811-0. Relator: Ministro Rogerio Schietti
Cruz, Sexta Turma. DJE: 22/04/2022. Disponível em:
https://scon.stj.jus.br/jurisprudencia/externo/informativo/?acao=pesquisar&livre=%22REsp%22+com
+%221977124%22. Acesso em: 15 dez. 2022.
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É uma organização internacional de direitos das pessoas trans e intersex.
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1. METODOLOGIA
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O Portal de Periódicos, da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), é
um dos maiores acervos científicos virtuais do País, que reúne e disponibiliza conteúdos produzidos
nacionalmente e outros assinados com editoras internacionais a instituições de ensino e pesquisa no
Brasil (CAPES, 2020).
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A Scientific Electronic Library Online - SciELO, é uma biblioteca virtual de revistas científicas
brasileiras em formato eletrônico. Ela organiza e publica textos completos de revistas na Internet / Web,
assim como produz e publica indicadores do seu uso e impacto. (PACKER, 1998, p. 109)
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É um serviço de busca do Google voltado especialmente para estudantes, pesquisadores, cientistas,
universitários e curiosos. A ferramenta funciona como um repositório de teses, artigos científicos,
resumos, monografias, dissertações e livros.
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com profundidade o tema, eis que o objetivo final do artigo era uma análise da violência
às mulheres trans no ciberspaço.
Com este resultado final de 4 (quatro) artigos restantes foi elaborada uma
triagem de forma a excluir o material acadêmico que não fosse artigo científico e em
decorrência disto foi excluída uma resenha, gerando apenas 3 (três) artigos científicos11
para análise.
De base destes 3 (três) artigos científicos, iniciou-se a leitura dos resumos e
embora tenha se verificado que 1 (um) dos artigos tinha um objetivo final diferente da
abordagem pretendida nesta pesquisa, ele permaneceu para análise, uma vez que o seu
conteúdo desenvolveu, ainda que em segundo plano, a temática sobre violência
doméstica perpetrada contra mulheres trans.
Esses artigos selecionados foram analisados mediante um critério sobre os
periódicos em que foram publicados, se trabalharam com revisão teórica ou estudos de
caso, referencial teórico e metodologias de pesquisa e resultados e conclusões obtidos e
indicados pelos autores.
E, por fim, os artigos foram categorizados conforme eixos temáticos que
demonstram a importância de determinados assuntos no que diz respeito à pesquisa com
população trans e violência doméstica, como: conceitos de gênero, sexo e transexual e o
conceito de mulher para a Lei 11.340/06 e Decisões judiciais - (in)aplicabilidade da Lei
11.306/06 às mulheres trans.
2. RESULTADOS E DISCUSSÕES
11
Salienta-se que o levantamento realizado no Portal de Periódicos da CAPES, com qualquer um dos
jogos de palavras, somente apresentou como resultado artigos científicos, excluindo, portanto, teses e
dissertações. O que acaba por deduzir que não há cadastrado no portal qualquer outro tipo de material
acadêmico sobre a temática, que não seja artigo científico. Diferentemente do que se percebe numa
análise rápida nos resultados do google acadêmico, onde há um número expressivo de monografias e
TCCs desenvolvidos na graduação.
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Quadro 1. Artigos selecionados para análise sobre mulher trans, violência doméstica e
aplicação da Lei Maria da Penha.
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CAMARGO, TRENTIM x
e VIEIRA (2018)
SAMPAIO e SILVA x
(2019)
SCOTT JR e x x
VIEBRANTZ (2002)
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estas áreas de conhecimento seriam as mais capacitadas para análise e que o direito
deveria se valer destas conclusões. Também mencionaram a discussão na doutrina e na
jurisprudência12 quanto ao termo mulher da Lei 11.360/06, eis que para alguns mulher é
somente aquela que nasceu com o sexo biológico feminino ou que foram registradas como
sendo do sexo feminino, enquanto que para outros, o termo “mulher” abrange toda pessoa
que se identifica com o sexo feminino. E, amparados na doutrina de Alice Bianchini (2014)
e no posicionamento da Medicina e da Psicologia, trouxeram o fundamento para sua
conclusão de que a Lei 11.360/06 deve abarcar as mulheres trans, uma vez que estas ao
“assumirem a expressão de gênero perante a sociedade, adquirem todos os direitos
inerentes à condição de mulher” (CAMARGO, TRENTIM e VIEIRA, 2018, p. 162).
SAMPAIO e SILVA (2019), apresentam uma abordagem histórica sobre a
violência doméstica no Brasil e a criação da Lei Maria da Penha, desenvolveram o
conceito de sexo e identidade de gênero e ainda trabalharam a questão da sexualidade.
No tocante ao gênero também se posicionaram no sentido de ser este uma construção
social, que vai além do sexo, fundamentando sua posição na doutrina de Jaqueline Gomes
de Jesus, afirmando que a definição de ser homem ou mulher não está ligada aos
cromossos ou genitália e sim na sua auto-percepção e forma de se expressar socialmente.
Ao abordar o conceito de transexual, seguiu a mesma linha já mencionada, de que a
transexualidade refere-se ao indivíduo que se identifica com um gênero diferente do sexo
biologicamente designado e amparados no trabalho científico de Juliana Gonzaga Jayme,
trouxeram a distinção entre travestis e transexuais, pois embora ambas assumam a
identidade de gênero feminina, as mulheres transexuais querem ajustar seus corpos com
de acordo com sua identidade de gênero e isso pode ou não ocorrer com procedimento
cirúrgico. Já as travestis não manifestam essa vontade de readequação do corpo. Ao
trabalharem o conceito de mulher para a Lei 11.340/06, se posicionam que a proteção da
lei é conferida ao gênero mulher, aprofundando o tema fazendo um paralelo com a
vulnerabilidade social que as mulheres (cisgênero e transgênero) ficam expostas em seus
lares por conta do gênero feminino e para tal afirmação os autores se basearam nos dados
estatísticos do Atlas da Violência de 2017. E no tocante à aplicação da proteção da Lei
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É o termo jurídico utilizado para expressar o conjunto das decisões judiciais e interpretações das leis
feitas pelos tribunais superiores.
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Pela Teoria Queer, o gênero é uma construção social, em que performatividades masculinas e femininas
se relacionam ao ideal histórico e social e não à genitália. Para Judith Butler, o gênero passa a ser visto
como um ato performativo e neste sentido, é um ato de improvisação e por ser um construto cultural
depende da realidade que nos cerca. (COELHO, 2018).
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da Lei Maria da Penha, para alargar o conceito de mulher em razão do gênero, incluindo
expressamente no referido dispositivo legal o termo “identidade de gênero”. Esse projeto
de lei já foi aprovado pela Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania e aguarda
inclusão em Ordem do Dia, desde junho de 2019.
A Lei 11.306/06 é muito clara quanto ao seu objeto de proteção, pois sinaliza
expressamente no seu art. 2º que ela se destina à mulher14 e em seu art. 5º menciona que
“configura violência doméstica e familiar contra a mulher qualquer ação ou omissão
baseada no gênero”. Portanto, indubitável é sua aplicação às mulheres trans.
Ocorre que, o preconceito enraizado na sociedade com relação às mulheres
trans e a ignorância quanto aos conceitos e diferenciação entre sexo e gênero acabam por
contaminar as decisões nos Tribunais Brasileiros. Parte da sociedade e do sistema de
justiça15 ainda se posicionam no sentido da visão naturalizada do homem e da mulher,
baseada nas diferenças anatômicas (sexo biológico), o que tem gerado uma grande
divergência jurisprudencial quanto a aplicabilidade da lei.
Recentemente, o relator do Resp 1.977.124/SP 16 , no Superior Tribunal de
Justiça (STJ), Ministro Rogerio Schietti Cruz, abordou em seu voto os conceitos de sexo,
gênero e identidade de gênero, com base na doutrina especializada, destacando o voto
divergente da desembargadora do TJSP, colacionando julgados de tribunais locais que
aplicaram a Lei Maria da Penha para mulheres trans, entendimentos do Supremo Tribunal
Federal (STF) e do próprio STJ sobre questões de gênero e concluiu pela aplicação das
medidas protetivas requeridas pela vítima (recorrente), portanto, reconhecendo a mulher
14
Art. 2º: Toda mulher, independentemente de classe, raça, etnia, orientação sexual, renda, cultura, nível
educacional, idade e religião, goza dos direitos fundamentais inerentes à pessoa humana, sendo-lhe
asseguradas as oportunidades e facilidades para viver sem violência, preservar sua saúde física e mental
e seu aperfeiçoamento moral, intelectual e social.(grifo nosso).
15
O sistema de justiça tem previsão no art. 92 da Constituição Federal de 1988 e é composto pelos órgãos
do Supremo Tribunal Federal, Superior Tribunal de Justiça, Tribunais Regionais Federais e juízes
federais, Tribunais e juízes do trabalho e Tribunais e juízes dos Estados e do Distrito Federal e
Territórios.
16
STJ. RECURSO ESPECIAL: REsp 1977124 SP 2021/0391811-0. Relator: Ministro Rogerio Schietti
Cruz, Sexta Turma. DJE: 22/04/2022. Disponível em: pesquisar livre=%22 REsp%22+ com
+%221977124%22. Acesso em: 15 dez. 2022.
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trans como mulher e à ela devendo ser aplicada a Lei 11.340/06. Esta decisão foi unânime,
ou seja, todos os ministros concordaram com o voto do relator, o que representa um
grande avanço sobre o tema dentro dos Tribunais.
É fato que esta decisão não vincula os outros Tribunais nem os juízes de 1º
grau, mas expressa a evolução do tema no Judiciário.
Importante também ressaltar, a Recomendação nº. 128, de 15 de fevereiro de
2022, do Conselho Nacional de Justiça que delibera sobre a adoção do “Protocolo para
Julgamento com Perspectiva de Gênero” no âmbito do Poder Judiciário brasileiro.
Esta orientação conceitua sexo, gênero e identidade de gênero, trazendo com
clareza informações necessárias para os magistrados que estão comprometidos com
julgamentos na perspectiva de gênero. Reforçando, portanto, que “as relações de gênero
podem ser estudadas a partir das identidades feminina e masculina, que gênero é uma
questão cultural, social e significa interações entre homens e mulheres” (BRASIL, 2022).
Diante deste panorama no cenário jurídico, analisar as controvérsias de
entendimentos nas decisões judiciais quanto à aplicabilidade da lei às mulheres trans, se
faz imprescindível.
Neste sentido, somente SCOTT JR e VIEBRANTZ (2002) abordaram essas
controvérsias, analisando decisões judiciais frente aos avanços legislativos e
jurisprudenciais. Entretanto, a pesquisa destes autores é datada de período anterior à
Recomendação nº 128/22 e à votação e publicação do acórdão do STJ e, dessa forma, não
desenvolveram este importante julgado.
De toda sorte, SCOTT JR e VIEBRANTZ (2002) apresentaram diversos
julgados onde esmiuçaram algumas decisões judiciais e apontaram as divergências de
posicionamento quanto a considerar a mulher trans como mulher para fazer jus à proteção
concedida pela Lei Maria da Penha. Inicialmente, os autores apontaram a dificuldade na
pesquisa por conta da existência de poucas decisões judiciais sobre o assunto, o que
evidencia a invisibilidade das mulheres trans e consequentemente a dificuldade no acesso
à aplicação da lei. A investigação realizada pelos autores teve por base 05 (cinco)
acórdãos17 de Tribunais diferentes, que abordaram o tema de formas diferenciadas, pois
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É a manifestação de um órgão judicial colegiado que revela uma posição jurídica, baseada em
argumentos sobre a aplicação de determinado direito a uma situação de fato e específica. (BRASIL,
2022).
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além da aplicação às mulheres transexuais, uma das decisões tratou do travesti e a outra
de um casal trans (homem transexual e mulher transexual) e em todas as decisões foi
identificado que para os magistrados do 1º grau, por considerarem que o conceito de
mulher está ligado ao sexo biológico, acabaram tendo um posicionamento de resistência
à aplicação da Lei Maria da Penha às mulheres transexuais em situação de violência
doméstica. Enquanto que os Tribunais de Justiça (órgãos de 2º grau e revisores das
decisões proferidas em 1º grau) reconhecerem em seus acórdãos os avanços sociais e da
doutrina sobre a temática gênero e se posicionaram pela aplicação da Lei Maria da Penha
às mulheres transexuais, reformando, portanto, as decisões de 1º grau. Importante
destacar que na investigação realizada pelos autores sobre esses 5 casos que originaram
os acórdãos, foi identificado que os magistrados de 1º grau, exigiram em um caso a
necessidade de alteração do nome no registro civil e em outro a realização da cirurgia de
redesignação sexual, o que não foi acolhido em grau recursal, eis que para os Tribunais
tais condições não são consideradas imprescindíveis para a aplicação da lei.
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
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PACKER, Abel Laerte et al. SciELO: uma metodologia para publicação eletrônica.
Ciência da informação, v. 27, p. nd-nd, 1998. Disponível em:
https://www.scielo.br/j/ci/a/XhRCDr87m5VTswK5WtNdYzL/abstract/?lang=pt.
Acesso em: 02 jan. 2022.
SILVA FILHO, Luís Massilon; CARVALHO, Mário de Faria. O estado da arte das
pesquisas sobre corpo, transexualidade e educação no Brasil. Humanidades &
Inovação, v. 8, n. 58, p. 329-340, 2021. Disponível em:
https://revista.unitins.br/index.php/humanidadeseinovacao/article/view/5405. Acesso
em: 28 dez. 2022.
SMITH, Andreza do Socorro Pantoja de Oliveira; SANTOS, Jorge Luiz Oliveira dos.
Corpos, identidades e violência: o gênero e os direitos humanos. Revista Direito e
Práxis, v. 8, p. 1083-1112, 2017.
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