Organizacao Judiciaria
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Organização Judiciária
ORGANIZAÇÃO JUDICIÁRIA
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INTRODUÇÃO
I - FUNÇÃO JURISDICIONAL
Este princípio tem consagração expressa na Constituição no artigo 216º, nº2. Este princípio,
em primeiro lugar, procura que os juízes se mantenham independentes e imparciais e que não
possam existir quaisquer circunstâncias que possam implicar ou o medo ou receio de um castigo,
mas também que não impliquem a expectativa de receber um prémio. Pretende-se que quando os
juízes estão a exercer a sua função de administrar a justiça em nome do povo o façam de “cabeça
limpa”, apenas de acordo com a sua mais intima convicção à cerca dos factos que se passaram ali à
sua frente.
Isto não quer dizer que seja um princípio absoluto porque, de facto, há situações - situações
de maior gravidade, de maior censurabilidade - em que os juizes podem ser obrigados a responder
pelas consequências negativas da sua conduta.
Situações de responsabilidade dos juízes:
• Responsabilidade Civil (significa que alguém é chamado a responder pelos seus
atos, e se esses atos causarem danos é obrigado a repará-los) por erro judiciário,
regulada na Lei 67/2007 (alterada pela leia nº 31/2008, de 17/07), artigos 12º a 14º.
O Estado (titular da função jurisdicional) pode ser civilmente responsabilizado, pelos
danos decorrentes de decisões jurisdicionais manifestamente inconstitucionais ou
ilegais ou injustificadas por erro grosseiro na apreciação dos respetivos
pressupostos de facto. “Fora dos casos em que a falta constitua crime, a
responsabilidade civil apenas pode ser efetivada mediante ação de regresso do
Estado contra o respetivo magistrado, com fundamento em dolo (intenção de causar
dano) ou culpa grave, ou seja, se o Estado for condenado a pagar pode depois ir
exigir essa indemnização ao juiz.
• Responsabilidade Penal: criminalização de certas condutas como denegação de
Justiça (negar-se a julgar) e prevaricação - 369º C.Penal. Atuação conscientemente
contra Direito.
• Responsabilidade Disciplinar: só pode ser exercida pelo Conselho Superior da
Magistratura - art. 217º, nº2 da CRP. Constituem infração disciplinar os factos, ainda
que meramente culposos, praticados pelos magistrados judiciais com violação dos
deveres profissionais e os atos ou omissões da sua vida pública ou que nela se
repercutam incompatíveis com a dignidade indispensável ao exercício das suas
funções.
“As decisões dos tribunais que não sejam de mero expediente são fundamentadas na forma
prevista na lei” - art.205º, nº 2 da Constituição. Também está consagrado no art.154º CPC. Decisões
de “mero expediente”, aquelas que se destinam a assegurar a normal tramitação da causa (o
andamento regular do processo - 152.º nº 4 CPC).
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Este princípio está consagrado no artigo 205º, nº2 da Constituição e diz que as decisões dos
tribunais são obrigatórias e prevalecem sobre as de quaisquer outras autoridades.
Mas quando olhamos para este princípio e quando lemos o que diz a Constituição podemo-
nos perguntar: mas o que é que eu tenho haver com aquela decisão? Se há uma sentença que resolve
um litígio entre o Abel e o Bento, o que é que o Carlos tem haver com aquela decisão, se ele nem se
quer participou naquele processo?
Primeira nota: não significa que as decisões produzem efeitos para todos (erga omnes)
significa apenas que todos temos de respeitar os efeitos daquela sentença; ou seja, todos devem
respeitar a eficácia das decisões, ainda que não estejam abrangidos por esses mesmos efeitos.
Assim, por exemplo: se há uma sentença que resolveu um litígio entre o Abel e o Bento,
dizendo que o Bento é que é o proprietário, ao Carlos, aquela sentença não lhe diz nada, mas não
pode atuar como se o proprietário fosse o Abel e não o Bento, porque se a sentença diz que o Bento
é o proprietário, então ele tem que respeitar o efeito dessa sentença. O efeito dessa sentença foi o de
declarar que o Bento é que era o proprietário e, portanto, o Carlos não pode perguntar ao Abel se
este lhe quer vender aquele bem. O Carlos não pode atuar assim porque se o fizer está a comprar um
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bem alheio. Embora a sentença, ao Carlos, não lhe diga respeito, ele tem de respeitar os efeitos dela
decorrentes. Significa que, embora as decisões sejam obrigatórias, tal não implica que elas
produzam efeitos para todos, mas apenas que todos devem respeitar a sua eficácia, os seus
efeitos.
Exemplo: o Abel intenta uma ação contra o Bento, pedindo o reconhecimento de que é
titular do direito de propriedade do prédio X, porquanto havia comprado o mesmo ao Carlos, e a
condenação de Bento a proceder à sua entrega.
Vamos supor que a sentença julgou procedente, ou seja, deu razão ao Abel. Julgar
procedente é conhecer o pedido de forma favorável a quem pede, e quem pede, neste caso, é o
Abel.
Julgou procedente o pedido e agora aparece-nos aqui o Carlos, que não tem nada haver com
o processo, a dizer que ele é que é o proprietário do prédio X. O Abel acaba por dizer que o Carlos
não tem razão nenhuma porque ele tem uma sentença, que lhe deu razão, e também há um princípio
na Constituição que diz que as decisões dos tribunais são obrigatórias. O Abel tem razão? Sim e
não.
É claro que o Carlos tem de respeitar a sentença, ou seja, tem que admitir que há uma
sentença que considerou o Abel como proprietário e que condenou o Bento a entregar-lhe. Mas o
Carlos como não está incluido, ou seja, não está abrangido pelos efeitos da sentença, embora tenha
que os respeitar, não está impedido de intentar uma ação contra o Abel dizendo que ele é que é o
proprietário, pedindo, desta forma, que o tribunal declare que ele é que é o proprietário e que
condene o Abel a entregar-lhe o prédio X.
Autoridade da sentença: Qualidade da sentença que resulta do facto de ser um ato
emanado de um órgão de soberania, que se traduz na obrigatoriedade da sua aceitação enquanto
definição de uma situação jurídica vinculativa para os sujeitos abrangidos pela sua eficácia.
O Carlos não pode por em causa que existiu uma sentença que julgou estes pedidos
procedentes, não pode por em causa a autoridade desta sentença, mas ele, embora tenha de respeitar
os efeitos, não está por eles abrangido porque não foi parte neste processo e porque o caso julgado
só produz efeitos, só é eficaz quanto às partes.
Convém também distinguir quais são os efeitos da sentença (eficácia que pode resultar das
sentenças) . Podemos dizer que a sentença pode ter dois efeitos, duas grandes familias de efeitos: o
efeito declarativo e o efeito constitutivo.
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O efeito declarativo, ou seja, significa que a sentença declara, diz de forma vinculativa, de
forma imperativa, qual o direito aplicável aos factos, mas a sentença não altera o conteúdo da
situação, ela limita-se a declarar de forma vinculativa, de forma imperativa qual o Direito, portanto,
torna certa ou mais certa uma realidade jurídica já existente, ou seja, neste caso, não foi a
sentença que constituiu o Abel como proprietário, ele já era proprietário porque comprou, o tribunal
vai é declarar de forma imperativa que ele é que é o proprietário.
Outro exemplo: a sentença reconhece que o Abel é o pai de Bento. Não é a sentença que
constitui o Abel como pai do Bento, o Abel há-de ter sido pai do Bento de alguma maneira, ela
apenas limita-se a declarar que o Abel é pai do Bento.
Outro exemplo: A vende um imóvel a B verbalmente. Este negócio é inválido. Que tipo de
invalidade? Nulo. Alguma vez o negócio produziu efeitos? Não. Quem é que continuou a ser
sempre o proprietário? O A. A sentença que vier a declarar a nulidade não constitui, não destrói,
limita-se a declarar uma situação existente.
Mas ao contrário, as sentenças também podem modificar, também podem alterar a ordem
jurídica existente, constituindo, modificando ou extinguindo situações jurídicas (efeito
constitutivo). Por exemplo, numa ação de divórcio os conjugues entram no tribunal casados, mas se
a sentença decretar o divórcio eles saem de lá divorciados - a sentença alterou uma situação
jurídica existente.
Outro exemplo: A, com 14 anos, vende um imóvel que tinha herdado do seu avô a Bento. O
A pode fazer isto? Não, porque é menor, mas vendeu. As pessoas que exercem as responsabilidades
parentais do menor podem requerer a anulabilidade. Se o tribunal decretar a anulabilidade o
contrato extingue-se, ou seja, a sentença tem um efeito constitutivo - foi a sentença que extinguiu
uma situação jurídica existente.
As sentenças, por sua vez, a partir de uma determinada altura tornam-se imodificáveis
porque deixa de ser possível a sua modificação. Isto acontece porque as sentenças são
insuscetíveis de recurso ordinário ou de reclamação - a isto se chama trânsito em julgado (art.
628º - CPC).
Uma vez transitado em julgado, a sentença adquire uma qualidade, a qualidade de caso
julgado; significa que ela torna-se imodificavel e produz um efeito preclusivo (eficácia do caso
julgado) - a extinção do poder jurídico de obter uma decisão jurisdicional suscetível de declarar
vinculativamente uma situação jurídica incompatível com uma situação anteriormente declarada
(perdeu-se a possibilidade de alterar a decisão). O prazo para o caso julgado é de 30 dias.
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O caso julgado pode assumir duas modalidades: o caso julgado formal (art. 620º - CPC) e o
caso julgado material (art. 619º - CPC).
(Para que possa haver uma ação têm que estar reunidos vários pressupostos que iremos
estudar mais à frente)
O A intentou uma ação contra o B, pedindo a anulabilidade do contrato, alegando que este
lhe vendeu um automóvel por 25 mil euros e que o carro estava estragado, e o B vem dizer que é
parte ilegítima, ou seja, que não tinha que estar no processo. Vamos supor que o tribunal considera
que o B é realmente parte ilegítima, ou seja, não está preenchido um dos pressupostos para que haja
ação. O que é que o tribunal vai fazer? O tribunal quando declara que o B é parte ilegítima já não
vai conhecer do pedido, acaba logo ali o processo e vai absolver o réu. Mas vai absolver o réu de
quê? Da instância. O tribunal ao deparar-se com a falta de um pressuposto nem se quer se vai
debruçar sobre o assunto. Exceção dilatória (art. 577.º, al. i) - CPC) - o juiz fica impedido de
apreciar o mérito da causa, dando lugar à absolvição do réu da instância (art. 576.º n.º 2 - CPC).
Nas situações normais estão reunidos todos os requisitos e a sentença conhece do pedido.
Se julgar o pedido procedente dá razão ao autor e condena o réu, neste caso, decreta a
anulabilidade. Mas o tribunal também pode dizer que o A não fez prova que o carro estava naquelas
condições e então absolve o réu do pedido, ou seja, o tribunal conhece o pedido, julga-o
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Quando haja uma absolvição da instância, estamos perante uma decisão que foi
proferida sobre a relação processual, ou seja, quando o juiz entende que o B é parte iletigima está
a debruçar-se sobre uma questão meramente processual. Quando assim seja, quando essa decisão
transitar em julgado, diz-se que o caso julgado é formal porque essa decisão apenas tem força no
próprio processo em que a decisão é proferida - significa que naquele processo o juiz já não pode
voltar a dizer que o B é parte legitima, já disse que é ilegítimo, transitou em julgado, já não pode
voltar com a palavra atrás naquele próprio processo. O A, se for teimoso, não fica impedido de
propor nova ação contra o B porque o caso julgado apenas produziu efeitos dentro do processo em
que a decisão foi proferida, o que acontece é que vai levar com outra decisão igual e assim
sucessivamente.
Quando o juiz conhece o pedido diz-se que ele conhece sobre o mérito da causa, e
quando conhece o mérito da causa o caso julgado que se forma é o caso julgado material. Tem
força, produz efeitos dentro e fora do processo. Por isso é que numa outra ação, se estiverem em
causa os mesmos factos e o mesmo pedido a outra parte pode dizer que isso ja constituiu caso
julgado (art. 619º - CPC).
RESUMO: Quando vos disser que o réu foi absolvido da instância, o juiz não conheceu do
pedido; conheceu unicamente uma questão relativa ao processo. E qual é o caso julgado que daqui
se forma? O caso julgado formal. Ele produz efeitos dentro do processo. Isto significa que o autor
fica impedido de propor nova ação com os mesmos sujeitos, com os mesmos factos? Não, porque o
caso julgado só produziu efeitos dentro daquele processo.
E se o juiz conhecer do pedido? Se a sentença transitou em julgado, se constitui caso julgado
material, significa que a decisão produz efeitos dentro e fora do processo e, então, se vem uma outra
ação com vista a obter alguma coisa que já foi decidida e que, portanto, é incompatível com aquilo
que já foi decidido e é imodificavel, dentro dos limites dos artigos 580º e 581º, não pode ser.
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Identidade dos sujeitos (releva a qualidade jurídica: a mesma posição jurídica), identidade
do pedido (pretende-se obter o mesmo efeito jurídico) e identidade de causa de pedir (o mesmo
facto ou substrato factual) - artigos 580º e 581º.
Podemos dizer que o caso julgado tem uma função negativa e uma função positiva.
A função negativa é a mais corrente, que é aquela que está prevista no artigo 580º do CPC.
Não nos podemos esquecer que os tribunais exercem uma função que é a de exercer a justiça em
nome do povo, e, portanto, o tribunal não pode, não deve ser colocado na alternativa, de ter que
contradizer ou colocar em causa ou até de repetir uma decisão anterior. Esta função serve para
evitar que o tribunal seja colocado naquela posição, naquela alternativa. É esta função que dá lugar
à excessão do caso julgado. Ou seja, se o A intenta uma ação contra o B, o tribunal conhece do
mérito do pedido e vamos supor que absolveu o B do pedido, a decisão transitou em julgado,
constitui caso julgado e agora o A, teimoso, vem tentar nova ação contra o B com os mesmos factos
e com o mesmo pedido para tentar que outro juiz lhe dê razão. Não vai poder fazer isso porque o B
vai poder dizer que já tentou isso uma vez e que já não pode vir novamente com o mesmo pedido e
com a mesma causa de pedido porque isso já constituiu caso julgado material. O juiz diz que o B
tem razão e absolve-o desta instancia nesta ação.
A função positiva, embora semelhante, não tem a mesma finalidade. Pretende-se impor
autoridade do caso julgado. No exemplo que nós começámos a ver, entre o A e o B havia uma
sentença que constituiu caso julgado e que dizia que o B é que era o proprietário. O C não está
impedido de tentar uma ação contra o A para que o tribunal diga que ele é que é o proprietário. O A
não pode dizer ao C isto porque os sujeitos não são os mesmos. Não se verifica a exceção do casos
julgado nos termos do artigo 580º. Aqui, quando C intenta ação contra o A, o A não pode invocar a
exceção do caso julgado. Mas o tribunal que vai apreciar agora este litígio entre o A e o C, tem que
respeitar que há uma sentença que diz que no confronto entre A e B, o A é que era o proprietário. A
sentença que vier a ser proferida entre o processo A e C não pode contrariar a sentença que foi
proferida entre A e B.
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No processo entre A e C, embora possa vir a ser proferida uma sentença que diga que o C é
que é o proprietário, nesta sentença não se pode por em causa que houve um processo anterior em
que foi proferida uma sentença que dizia que, no confronto entre A e B, o proprietário era o A. Este
tribunal tem que respeitar esta sentença. Não pode por em causa. Não pode dizer que naquela
sentença o tribunal já errou quando disse que o A era o proprietário e que afinal o A não era o
proprietário - quem era o proprietário era o B. O C tem que encontrar uma causa de pedido que lhe
permita fazer prova de que ele é o proprietário, mas respeitando o caso julgado nesta sentença. O
juiz deve julgar o mérito da causa entre A e C, impondo às partes uma sentença anterior.
O caso julgado tem limites: a regra é a da eficácia relativa do caso julgado. Significa que,
regra geral, o caso julgado apenas produz efeitos para as partes (que são os intervenientes
daquele processo).
Terceiros juridicamente indiferentes: “Eficácia reflexa” do caso julgado - Melhor se diria:
“autoridade da sentença”
Terceiros juridicamente interessados:
• Relações Jurídicas: correntes, paralelas e dependentes - é possível a “extensão” se
favorável a terceiros e em (outros) casos expressamente previstos.
• Relações Jurídicas: independentes e incompatíveis - Não é possível a “extensão”
do caso julgado a terceiros.
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Limites objetivos: os limites são fixados pelos artigos 619º, 580º e 581º.
Exemplos:
• A pede a condenação de B no pagamento de 1000 euros, invocando como causa de
pedir, a venda de X. A ação procede. - B está impedido de demandar A pedindo a
anulação do contrato e uma indemnização por danos.
• C pede a condenação de D no pagamento de 100 euros. D invoca, com êxito, a
nulidade do contrato e é absolvido daquele pedido:
- C está impedido de com base no mesmo contrato pedir a condenação de D no
pagamento de 50 euros, ou na entrega de X (outra obrigação pretensamente
decorrente daquele).
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Pelo artigo 206º da Constituição as “audiências dos tribunais são públicas, salvo quando
o próprio tribunal decidir o contrário, em despacho fundamentado, para salvaguarda da
dignidade das pessoas e da moral pública ou para garantir o seu normal funcionamento”.
A administração da justiça deve ser efectuada em nome do povo, no interesse geral da
coletividade e, como vimos, deve ser desenvolvida em condições de independência e
imparcialidade. Se assim é, importa que as audiências realizadas em tribunal, sobretudo as
audiências de julgamento sejam públicas, ou seja, suscetíveis de serem acompanhadas por todas as
pessoas. É fundamental que os destinatários da administração acreditem e tenham confiança nos
tribunais. Só assim se pode afastar o risco do recurso à Justiça Privada, à força de cada um.
Este princípio assenta em duas razões fundamentais:
• A necessária transparência da administração da justiça tendo em vista a confiança
dos seus destinatários;
• Garantir a possibilidade de controlo de atos de maior relevância na administração da
justiça.
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A publicidade das audiências não pode ser absoluta. O tribunal pode, fundadamente,
restringir a publicidade das audiências como modo de salvaguardar a dignidade das pessoas e da
moral pública, bem como para garantir o normal funcionamento os atos a praticar. O tribunal há-de
necessariamente ponderar o conflito de interesses que nesta matéria se pode suscitar e decidir em
conformidade.
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I - TRIBUNAL CONSTITUCIONAL
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II - TRIBUNAIS JUDICIAIS
Recursos
• Valor de Ação.
• Alçada - valor até ao qual um tribunal julga sem possibilidade de recurso, ou seja,
só a partir deste valor é que se pode pedir recurso. (art. 44º - LOJ)
- 1ª Instância: 5 000, 00€.
- 2ª Instância: 30 000,00€.
- Supremo: não tem alçada.
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Esta divisão tem haver com as matérias. As matérias atribuídas aos Tribunais de
competência territorial alargada são matérias muito especializadas, que não constituem a
generalidade, e territorialmente exercem jurisdição sobre mais de uma comarca. A competência
destes tribunais está presente no artigo 111º e seguintes da LOJ.
Se a matéria não couber nos Tribunais de competência territorial alargada esta vai cair nos
Tribunais de Comarca - os Tribunais de Comarca relativamente aos Tribunais de competência
territorial alargada têm uma competência residual.
Os Tribunais de Comarca desdobram-se consoante as matérias, ou seja, desdobram-se em
vários juízos: em juízos de competência especializada, genérica e de proximidade - prevalece a
especialidade sobre a genérica.
Dentro dos juízos de competência especializada há igualmente uma divisão. As matérias que
mais litígios trazem aos tribunais são as matérias cíveis; dentro dos juízos cíveis, consoante o valor,
existem dois tipos de juízos: centrais cíveis (matérias cíveis de valor superior a 50 mil euros) e
locais cíveis (matérias cíveis de valor igual ou inferior a 50 mil euros) - art. 117º e 130º LOJ. No
entanto, a área cível é tão vasta que também se especializa - art.80º LOJ - nos restos dos casos o
valor não importa, só conta a matéria
Há certas comarcas que, pela sua dimensão populacional, pela dimensão dos litígios, não
justificam a existência destes juízos todos, então o legislador cria juízos de competência genérica.
Ainda há certas zonas do país que nem se justifica ter um juízo de competência genérica,
mas às vezes é preciso as pessoas deslocarem-se, por exemplo, para ir buscar uma certidão, para
serem ouvidas em tribunal, e em vez de terem que percorrer muitos quilómetros, devido à zona
onde residem, cria-se um juízo de proximidade que possa facultar às pessoas documentos de
processos, certidões, por exemplo.
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Estes tribunais funcionam como Tribunais de Primeira Instância e assumem uma função
semelhante aos Tribunais de Segunda Instância. O Supremo Tribunal Administrativo assume, em
matérias administrativas e fiscais, uma função semelhante ao Supremo Tribunal de Justiça.
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IV - TRIBUNAL DE CONTAS
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I - TRIBUNAIS MARÍTIMOS
Tribunal Judicial de competência especializada - art. 78º, al. f) da Lei nº3/99; art. 123º da
Lei 52/2008.
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II - TRIBUNAIS ARBITRAIS
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arbitragem necessária”, por isso, se o consumidor optar por recorrer a este modo de resolução de
lítio a outra aparte não se pode opor porque é a lei que impõe.
Importa saber que a arbitragem embora seja um meio alternativo de resolução de litígios tem
uma natureza jurisdicional porque os árbitros aplicam o Direito - ver arts. 39º e seguintes da lei
nº63/2011 de 14 de Dezembro. Nestes artigos fala-se em sentença que é a parte do processo em que
o tribunal diz qual é o Direito.
Se no Tribunal Arbitral a parte que perder o processo não concordar com a decisão pode
recorrer para o Tribunal da Relação.
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Os Julgados de Paz são também um tipo de tribunal e estão previstos no art. 209º da
Constituição e assim como os Tribunais Arbitrais tem uma natureza jurisdicional. São tribunais
incomuns embora sejam verdadeiros tribunais.
Segundo o artigo nº2 da Lei nº 78/2001 de 13 de Julho, os Julgados de Paz, existem para
numa primeira finalidade serem as próprias partes, por acordo, a resolverem o seu litígio, ou seja,
têm uma existência vocacionada para permitir a participação cívica dos interessados e para
estimular a justa composição dos litígios por acordo das partes.
Outros princípios destes tribunais são a simplicidade, a adequação, a informalidade, a
oralidade, a absoluta economia processual e a rapidez. Se as partes não resolverem o seu litígio
por acordo então o juiz de paz é chamado a decidir e a sua decisão tem uma força igual à da
sentença de um Tribunal Judicial de Primeira Instância. Só que o legislador passa um atestado de
menoridade ao Julgados de Paz, ou seja, o legislador incentiva que os litígios sejam resolvidos no
Julgados de Paz, de acordo com estes princípios, mas depois passa um atestado de menoridade;
depois de dizer que a sentença tem a mesma força de um Tribunal de Primeira Instância, a parte que
perder o processo tem de recorrer para um Tribunal de Primeira Instância (este é o atestado de
menoridade).
Os Julgados de Paz só têm competência para apreciar e decidir ações declarativas cíveis,
com exceção das que envolvam matérias de direito da família, direito das sucessões e direito do
trabalho, cujo valor não ultrapassasse os 15.000€.
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IV - TRIBUNAL DE CONFLITOS
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V - TRIBUNAIS MILITARES
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COMPETÊNCIA
(PRESSUPOSTO PROCESSUAL)
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I - Noção
RESOLUÇÃO DE CONFLITOS
Quanto aos conflitos de competência, estes são resolvidos pelo presidente do tribunal de
menor categoria que exerça jurisdição entre as autoridades em conflito. E qual é que é o
tribunal que exerce jurisdição (de menor categoria), por exemplo, por um Tribunal Judicial de
Primeira Instância? É o Tribunal da Relação e, portanto, será esse. Mas, os Tribunais da Relação
só têm jurisdição sobre os Tribunais Judiciais de 1ª Instancia que estejam na sua
circunscrição territorial. Um Tribunal Judicial da Comarca do Porto não está dentro da jurisdição
do Tribunal da Relação de Lisboa, isto porque não está na sua circunscrição territorial. Isto só pode
ser resolvido pelo tribunal de menor categoria que exerça jurisdição sobre os tribunais em conflito
quando estamos dentro do mesmo distrito judicial. Quando pertencerem a distritos judiciais
diferentes o conflito terá que ser solucionado pelo presidente do Supremo Tribunal de Justiça.
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Aos tribunais portugueses é atribuída competência para julgar ações com elementos de
conexão com outras ordens jurídicas, por normas de Direito Internacional que prevalecem sobre as
disposições de Direito Interno (artigo 8º - CRP).
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O âmbito pessoal/ âmbito subjetivo diz respeito a quem se aplica o regulamento, sendo
que este se aplica a todas aquelas pessoas que independentemente da nacionalidade, tenham
domicilio ou sede (se for pessoa coletiva) num Estado- Membro (art. 4º) e ainda quando estatui
competências exclusivas (art. 24º).
Exemplo: A, português, forneceu a B, iraniano, com domicílio em Roma, 150 pares de
sapatos por 15 mil euros. B não pagou, o fornecimento foi feito por via aérea. O regulamento
aplica-se - a matéria não é nenhuma das que está excluída nem na matéria comercial, nem na
matéria civil, assim como, a nacionalidade de B apesar de ser iraniana, este tem domicílio em
Roma, ou seja, num Estado-Membro.
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sede (art. 4º). Esta regra mantém-se ainda que o réu não seja nacional do Estado em
que se encontra domiciliado, nem (nacional) de qualquer outro Estado-Membro.
• Se o réu não se encontrar domiciliado num Estado-Membro, a competência será
regulada, de acordo com o artigo 6º, em cada Estado-Membro pela lei processual
do Estado onde foi proposta a ação, sem prejuízo da aplicação do disposto nos
artigos 18º, nº1 (direitos do consumidor), art. 21º (direitos emergentes de contratos
individuais de trabalho), art. 24º (competências exclusivas) e art. 25º (extensão de
competência). Portanto, se o demandado não tiver domicilio ou sede num Estado-
Membro, a competência internacional será aferida em cada Estado-Membro pela
respetiva lei processual; por isso é que temos os artigos 62º e 63º, são regras de
competência internacional, mas de Direito Interno, cada Estado-Membro tem as suas
regras.
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Competências Exclusivas
O artigo 24º determina os casos de competência exclusiva dos tribunais dos Estados-
Membros. Trata-se de situações onde, não obstante o demandado não ter domicílio ou sede num dos
Estados-Membros, a competência atribuída aos tribunais de um Estado prevalece sempre
sobre a competência determinada pelos critérios gerais ou especiais. Este artigo determina que
têm competência exclusiva os seguintes tribunais do Estado-Membro, independentemente do
domicílio das partes, portanto, independentemente do domicílio, os tribunais internacionalmente
competentes são aqueles que o artigo 24º diz, mesmo que não sejam do domicílio do demandado.
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A competência dos tribunais portugueses é exclusiva nos casos elencados no artigo 63º:
• Ações relativas a direitos reais sobre imóveis e de arrendamento sobre bens
situados em território português. Em matéria de contratos de arrendamento de
imóveis celebrados para uso pessoal temporário por um período máximo de seis
meses consecutivos são ainda competentes os tribunais do Estado-Membro da União
Europeia onde o requerido tiver domicílio, desde que o arrendatário seja uma pessoa
singular e o proprietário e o arrendatário tenham domicílio no mesmo Estado-
Membro;
• Ações em que estejam em causa a apreciação da validade da constituição ou de
dissolução de sociedades ou de outras pessoas coletivas com sede em Portugal,
ou a validade das decisões dos seus órgãos.
• Ações relativas à validade de inscrições em registos públicos conservados em
Portugal;
• Ações executivas sobre bens imóveis situados em Portugal;
• Em matéria de insolvência ou de revitalização de pessoas domiciliadas em
Portugal ou de pessoas coletivas ou sociedades cuja sede esteja situada em
território português.
Importa observar as regras estatuídas no artigo 62º que acolhe três critérios de atribuição de
competência: coincidência, causalidade e necessidade. A aplicação destes critérios tem uma
ordem, portanto, nós só aplicamos o critério da causalidade se não for possível aplicarmos o critério
de coincidência, da mesma maneira que, só aplicamos o critério da necessidade se não for possível
nem aplicar o da coincidência nem o da causalidade.
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Coincidência
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Causalidade
A ação pode ser proposta em Portugal se os factos que constituem, que integram a
causa de pedir tiverem ocorrido em Portugal. A causa de pedir é o facto ou o conjunto de factos que
sustentam o pedido (factos constitutivos do direito do autor).
Sempre que o facto ou alguns dos factos que integram a causa de pedir tenham
tido lugar em território nacional, os tribunais portugueses têm competência internacional
(art.º 62º al. b)). Ao contrário do que acontece com o critério da coincidência, aqui não se fica
imediatamente a saber qual o tribunal concretamente competente, tem que posteriormente ser
determinado.
Exemplos: A, português, com residência em Lisboa, pretende demandar B (com
residência em Luanda), tendo em vista a anulação de um contrato celebrado em Portugal, com
fundamento em erro.
C, angolano, com residência em Lisboa, pretende demandar D, português, com
residência em Luanda por danos sofridos em Portugal, decorrente de um acidente de viação
ocorrido em Angola.
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Necessidade
Existindo entre o objeto do litígio (aquilo que constitui o litígio) e a ordem jurídica
um elemento ponderoso (relevante) de conexão, os tribunais portugueses têm competência
internacional (art.º 62º al. c)), quando:
• O direito invocado não possa efetivar-se sem ser através de ação proposta em
Portugal;
• Não seja exigível ao autor a propositura da ação no estrangeiro.
A vontade das partes é outro fator relevante para atribuição de competência dos tribunais. Os
Pactos Atributivos de Jurisdição conferem jurisdição aos tribunais portugueses no seu conjunto;
os Pactos Privativos de Jurisdição retiram jurisdição aos tribunais portugueses.
A jurisdição atribuída por ser exclusiva ou meramente alternativa presumindo-se que seja
exclusiva em caso de dúvida (art. 94º, nº2).
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Vamos supor que temos uma determinada ação que tem uma determinada causa de pedir e
um determinado pedido, e o tribunal competente é o tribunal A. Acontece que a meio do processo
surge uma outra questão (questão X) para a qual o tribunal A não seria competente. Mas como entre
o objeto inicial desta ação e a questão que surgiu há um estreito contacto, o tribunal A passa a ser
competente também para apreciar a questão X. Estende-se a competência deste tribunal para
apreciar esta questão. Se não fosse esta estreita ligação este tribunal seria incompetente para
conhecer da questão.
Causas em que se pode verificar a extensão e que se justifica a extensão da competência:
• Questões incidentais: são incidentes que podem acontecer durante o processo. Logo
a palavra “incidente” demonstra-nos que são questões que não integram a normal
marcha do processo, mas que quando acontecem o tribunal tem que as resolver (art.
91º - CPC).
- Incidentes da instância: verificação do valor da causa, por exemplo, todas as
ações têm que ter um valor, mas pode acontecer que as partes não estejam de
acordo com o valor ou que o tribunal vá ter que decidir esta discussão quanto
ao valor da causa; isto é uma questão incidental porque não se propõem ações
em tribunal para discutir valores das causas, isto é uma questão que surge no
decorrer do processo.
- Intervenção de terceiros: geralmente, regra geral, a ação passa-se entre o autor
e o réu ou entre os autores e os réus, mas a meio do processo pode ser
necessário chamar a intervir no processo alguém que não seja parte (é um
terceiro) e o tribunal tem de decidir se ele é ouvido ou não.
- Habilitação: os nosso processos duram tanto tempo que não é raro que o autor
ou o réu morra durante o processo e tenha de se habilitar os seus sucessores.
Por exemplo, a ação começou com A e com B, mas pode acabar com B e com
C, ora bem, se o autor falecer no decurso da ação, o tribunal que é o competente
para conhecer do litígio que levou o autor a intentar a ação contra o réu, vai
também ser o tribunal competente para julgar o incidente de habilitação dos
seus sucessores ainda que se intentássemos uma ação com esse objeto o
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tribunal, onde foi proposta aquela ação, não tinha inicialmente competência
para julgar autonomamente a habilitação de herdeiros, mas como tem uma
estreita conexão com a causa que foi originalmente intentada então essa
competência é estendida também para julgar o incidente de habilitação.
- Liquidação: por exemplo, quando é pedida a condenação de alguém a entregar
uma biblioteca (a biblioteca tem muitos livros), torna-se necessário determinar
a quantidade de livros que têm de ser entregues, mas não era esse o objeto
inicial do processo, isso só surge no decurso do processo, então havendo essa
necessidade, o tribunal que é competente para julgar a ação vê a sua
competência estendida também para esse incidente de liquidação.
• Meios de defesa do réu: nós vamos estudar um princípio essencial em processo
civil que é o princípio do contraditório, quando eu intento uma ação contra alguém,
esse alguém tem que ter conhecimento que a ação foi intentada contra ela e tem que
ser chamada em juízo para poder contrariar aquilo que está a ser invocado contra ela.
Pode acontecer que essa parte invoque certos meios de defesa que se fossem
apreciados originariamente, o tribunal onde foi proposta a ação não teria
competência, mas como existe esta estreita ligação entre esses meios de defesa e a
ação que foi intentada, o tribunal competente para a ação também é competente para
julgar todas as questões que o réu invoque como meio de defesa.
• Questões pré-judiciais: para se conhecer de uma determinada ação tem que se
conhecer uma anterior (artigo 92º - CPC).
• Questões reconvencionais: o que é que é a reconvenção? Regra geral, quem é que
deduz pedidos? Qual das partes? O autor. Mas nessa mesma ação por uma questão
de economia processual, o réu pode aproveitar a ação que o autor intentou contra ele
para vir ele, réu, fazer um pedido de condenação do autor. Então passamos a ter duas
ações a correr simultaneamente no mesmo processo e o tribunal que é competente
para conhecer a ação que o autor intentou contra o réu passa também a ser
competente para conhecer a ação que o réu, nesse mesmo processo, intenta contra o
autor. Mas é necessário que o tribunal que é competente para a ação seja
competente em razão da matéria, da hierarquia, e em razão da nacionalidade
para conhecer do pedido reconvencional, mas não tem que se competente em
razão do território. E reparem, a ação quando entrou tinha um valor de 30 mil
euros, o autor pediu a condenação do réu a pagar-lhe 30 mil euros e agora o réu em
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reconvenção pede que o autor seja condenado a pagar-lhe 40 mil euros, sabem que o
Estado aqui não brinca, começa a ver os símbolos dos euros nos olhinhos, ora, era 30
mil euros quando começou, o outro agora está a pedir 40 mil euros o que dá um total
de 70 mil euros o que faz com que aumente a taxa de justiça, mas se aumenta a taxa
de justiça foi porque aumentou o valor, e o se o tribunal que começou por ser
competente era o juízo local civil, agora passa a ser o juízo central cível (artigo 93º -
CPC). Portanto, se eu vos pedir para comentar a seguinte frase: um tribunal pode ser
territorialmente incompetente para conhecer da reconvenção. Vocês concordam ou
discordam? Têm que concordar porque isto é verdade. Só não pode ser incompetente
em razão da matéria, da hierarquia e da nacionalidade, mas pode ser incompetente
em razão do território e do valor, só que o que é que acontece relativamente ao
valor? O juiz deve remeter oficiosamente o processo para o tribunal competente.
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Incompetência Absoluta
articulado do autor, que se chama réplica. E só depois é que termina a fase dos articulados. E só
após a fase dos articulados é que o processo é concluso ao juiz para que ele possa fazer a primeira
apreciação do processo.)
Quando há lugar a despacho liminar esse despacho tem lugar antes mesmo do réu ser
citado. Há lugar a despacho liminar em duas situações: nos casos previstos na lei (artigo 226º,
nº4 - CPC) ou quando o juiz assim o determinar - artigo 590º do CPC. Se neste despacho, antes
da citação, o juiz verificar que o tribunal é absolutamente incompetente, em vez de citar,
indefere liminarmente a petição inicial com a consequente extinção da instância, como resulta
do artigo 99º do CPC.
Nos casos em que não há despacho liminar, que é a regra, o juiz conhece da incompetência
absoluta no despacho saneador. E, nesse caso, como o réu já foi citado, já estamos a meio do
processo, não há indeferimento liminar da petição, nesse caso o réu é absolvido da instância. Tal
como nos diz o artigo 99º do CPC. Se por acaso não houver lugar a despacho saneador, ou se no
despacho saneador o juiz não detetou a incompetência absoluta, ainda pode fazê-lo na própria
sentença, absolvendo o réu da instância. No meio disto tudo há uma exceção, há um caso em que
não obstante estarmos perante uma situação de incompetência absoluta, em vez de haver absolvição
do réu da instância, se se aproveitar alguma coisa daquele processo e remeter-se o processo para o
tribunal competente, mas isto só é possível desde que se encontrem preenchidos os requisitos do
artigo 99º, nº2 - mesmo que o autor requeira, cumprindo o prazo, se o réu se opuser e se essa
oposição for justificada, não se aplica o nº2 do artigo 99º e como tal o réu é absolvido da
instância.
A regra geral é que a decisão proferida sobre a competência absoluta, mesmo depois de
transitada em julgado, não produz efeitos fora do processo (caso julgado formal), exceto se se
verificarem os requisitos previstos no artigo 101º do CPC.
Incompetência Relativa
incompetência relativa, quando alguém demanda outra pessoa com o único fim de se desviar o
verdadeiro réu do tribunal territorialmente competente.
De facto, quando dissemos que a incompetência absoluta é mais grave devido à natureza dos
interesses que estão na base dessa incompetência absoluta, obviamente, que para a incompetência
relativa temos que dizer o contrário - ela é menos grave porque os interesses que estão na sua
base são fundamentalmente interesses de natureza particular.
Ao contrário da incompetência absoluta, a incompetência relativa só pode ser arguida pelo
réu, no prazo fixado, que é de 30 dias (art. 103º). Em razão do valor é sempre de conhecimento
oficioso, ao contrário do que sucede quanto à incompetência em razão do território que só
excecionalmente deve ser conhecida (art. 104º).
A exceção da incompetência (pelo artigo 576º do CPC) é um meio de defesa do réu. O réu
pode defender-se por impugnação, por exceção dilatória ou por exceção perentória. Se a exceção da
incompetência for julgada procedente, o processo deve ser remetido para o tribunal competente, o
que quer dizer que a incompetência relativa é uma exceção dilatória (artigo 577º - CPC).
Quando o réu na contestação argui a incompetência relativa como meio de defesa como é
que ele se está a defender? Está-se a defender por exceção dilatória porque as exceções dilatórias
são aqueles que obstam que o tribunal conheça do mérito da causa e têm como consequência a
absolvição do réu da instância ou a remessa do processo para o tribunal competente. Isto
também resulta do disposto do artigo 105º, nº3 do CPC.
Nestas situações, a lei prevê ainda que a decisão, quando o tribunal é chamado a resolver
esta questão da incompetência relativa, proferida pelo tribunal é admissível reclamação para o
presidente da relação que decide de forma definitiva a questão nos termos do artigo 105º, nº4 do
CPC .
A decisão relativa à competência, uma vez transitada, resolve definitivamente a questão (art.
105º, nº2), pelo que, no tribunal para onde o processo foi remetido, não poderá discutir-se a mesma
matéria.
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PRESSUPOSTOS PROCESSUAIS
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I - PRESSUPOSTOS PROCESSUAIS
PERSONALIDADE JUDICIÁRIA
O primeiro requisito que o juiz tem de apreciar para que possa apreciar o mérito da causa é
verificar se as partes têm personalidade judiciária.
A personalidade judiciária consiste na suscetibilidade de ser parte, ou seja, na
suscetibilidade de demandar ou de ser demandado - artigo 11º do CPC. O conceito de parte que está
previsto no artigo 11º é um conceito formal, portanto, parte é quem demanda ou é demandado e
não quem pode demandar ou ser demandado.
Para haver personalidade judiciária tem que haver personalidade jurídica, ou seja, o CPC
equipara a personalidade judiciária à personalidade jurídica. Portanto, quem tiver
personalidade jurídica tem personalidade judiciária, então, neste sentido é parte em sentido material
e em sentido formal.
O que acontece é que o conceito de personalidade judiciária é mais amplo do que o conceito
de personalidade jurídica, ou seja, tem personalidade judiciária quem tem personalidade
jurídica, mas a lei processual estende a personalidade judiciária a quem não tem personalidade
jurídica. Essas situações são as que estão previstas no artigo 12º do CPC.
O artigo 13º prevê, no entanto, uma situação especial. As entidades enumeradas no artigo
13º, regra geral, não têm personalidade judiciária, quem tem é a pessoa coletiva. Por isso, se eu
quiser intentar uma ação contra a Caixa Geral de Depósitos, tenho que intentar a ação contra a
Caixa Geral de Depósitos e não contra a agência da Caixa Geral de Depósitos de Belém. Estas só
podem demandar ou ser demandadas quando a ação proceda de facto por elas praticada, por isso,
regra geral, quem tem a personalidade judiciária é a pessoa coletiva, mas se estivermos perante
ações que digam respeito a factos praticados pela própria sucursal, agência, filiação, etc, elas aí
podem demandar ou serem demandadas. Se a ação resultar de um facto por elas praticado, neste
caso, têm personalidade judiciária.
portanto, sempre que possível deve-se tentar sanar a falta de pressupostos processuais. Claro que
alguns são insanáveis e a falta de personalidade judiciária, regra geral, é insanável, mas mesmo que
falte esse pressuposto, o legislador consagra situações em que é possível sanar a falta de
personalidade judiciária.
É a situação das sucursais, das agências, das filiais, das delegações e das representações
demandarem ou serem demandadas fora dos casos previstos no artigo 13º. Mas se as ações forem
intentadas contra elas é possível sanar a falta desse pressuposto processual, pelo artigo 14º.
E mesmo nos casos em que o demandado morre antes de proposta ação, ou nos casos de ser
o autor a morrer antes de propor a ação, mas já depois de ter constituído advogado para esse efeito,
é possível salvar isto pelo do artigo 351º do CPC, através de um incidente chamado incidente de
habilitação. Descobre-se a morte do réu em consequência das diligências para a sua citação. O que
é que o autor pode fazer perante isto? Pode requerer a habilitação dos sucessores do morto, ainda
que o óbito tivesse acontecido antes de proposta a ação.
Fora destas situações a falta de personalidade judiciária é insanável.
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CAPACIDADE JUDICIÁRIA
É muito normal eu fazer um caso prático assim: Abel intentou contra Bento, menor, uma
ação, e na contestação o réu vem dizer que a ação não podia ser proposta contra ele. Concorda com
a contestação? A ação pode ser proposta contra Bento, ele pode ser demandado porque tem
personalidade jurídica, e se tem personalidade jurídica tem personalidade judiciária, pode ser parte,
mas sendo menor sofre de uma incapacidade de exercício, não pode atuar livre e pessoalmente, ora,
transpondo isso para o CPC, é exatamente a mesma coisa. Ele pode ser parte, ele poder demandado,
tem personalidade jurídica, logo, tem personalidade judiciária, o que acontece é que não tem a
suscetibilidade de estar por si mesmo de forma pessoal e livre em juízo.
Pelo artigo 15º, só quem pode estar por si mesmo, sem necessidade de representação em
juízo é que tem capacidade judiciária.
Se no artigo 11º, nº2 está o principio da equiparação entre a personalidade judiciária e a
personalidade jurídica, também quanto à capacidade o legislador remete para o direito substantivo.
Diz o seguinte: a capacidade judiciária tem por base e por medida a capacidade do exercício do
direito. Por base, significa que só tem capacidade judiciária quem tiver capacidade de exercício;
por medida significa que a capacidade judiciária acompanha os limites da capacidade de exercício.
Exemplo: menor, de 17 anos, vendeu um bem com o produto do seu trabalho. Ele é menor,
logo é incapaz de exercício, mas neste caso não é uma exceção de incapacidade prevista no artigo
127º do Código Civil? É. Então a capacidade judiciária acompanha as limitações da capacidade de
exercício. E, se estivermos perante uma situação destas, o menor tem suscetibilidade de estar por si
mesmo em juízo. Às limitações de capacidade de exercício corresponderão idênticas limitações
à capacidade judiciária.
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Note-se que:
• Quanto aos incertos: Ministério Público (art. 22º - CPC);
• Incapazes e Ausentes: sempre que se mostre necessário - Ministério Público (art.
21º e art. 23º - CPC).
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Por exemplo, vou intentar uma ação contra o vosso colega, de 17 anos (não estamos perante
nenhuma das situações excecionais do artigo 127º do CC), sem ter pedido o suprimento da
incapacidade. Devia ter intentando a ação contra o André, sendo este representando pelos seus
progenitores, mas não, meti a ação contra o André. Tal como vimos naquelas situações de falta de
personalidade em que algumas situações podem ser sanadas, então agora também temos de ver
quando e como é que se faz esse suprimento.
Verificada uma situação de incapacidade judiciária não suprida (seja ativa ou passiva,
quer seja a respeito do autor ou do réu) o juiz da causa deve providenciar pelo seu suprimento
(art. 28º - CPC).
Regra Geral:
• Absolvição do réu da instância, quando a incapacidade disser respeito ao autor;
• Absolvição do réu da instância, quando o incapaz é o réu, e o não suprimento da
incapacidade é imputável ao autor.
CPC) e caso este não conteste, o processo seguirá à sua revelia, ou seja, o processo
segue normalmente como se o réu não tivesse contestado.
Igual regime se aplica nos casos de citação ou intervenção do representante em que estes
não ratifiquem nem renovem os atos praticados. Incube ao Ministério Público a representação (art.
21º) e, caso este não conteste, o processo seguirá à revelia.
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Quem queremos proteger é a parte que padece da incapacidade, ora, se ele fica mais
protegido se o juiz puder conhecer do pedido, e desde que esse conhecimento seja integralmente
favorável a essa parte, ou seja, à parte que está a ser protegida pela incapacidade, o juiz deve
conhecer do pedido e em vez de o absolver da instância, absolve-o do pedido.
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LEGITIMIDADE PROCESSUAL
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A lei para além dos critérios gerais que estão no artigo 30º também prevê situações
especiais e uma delas é a relativa aos interesses difusos (art. 31º - CPC) - são aqueles que têm uma
dimensão quer individual quer supra-individual (todos nós somos titulares destes interesses), pela
sua titularidade caber a todos e a cada um dos membros de uma classe ou de um grupo
(independentemente da sua vontade) e por recaírem sobre bens que podem ser gozados de forma
corrente e não exclusiva.
Têm legitimidade para propor e intervir nas ações e procedimentos cautelares destinados à
sua tutela: qual cidadão no gozo dos seus direitos civis e políticos; as associações e fundações
defensoras dos interesses em causa; as autarquias locais; e o Ministério Público.
Exemplo: eu não fui prejudicado com isso, mas acho que a EDP anda a cobrar a outras
pessoas coisas indevidas - posso intentar essa ação, não tenho que ser a DECO como associação de
defesa do consumidor.
Outro critério especial é o que se passa com a substituição processual, ou seja, em que a
lei atribui legitimidade a quem não é titular do objeto do processo ou naquelas situações em que
há uma contitularidade (a quem não é o único titular dos interesses em causa).
Exemplo: artigos 263º (na transmissão da coisa ou direito litigioso) e 1405º, nº2 (na
compropriedade, em situações de reivindicação) do código civil.
Na legitimidade plural temos mais do que um sujeito no lado ativo ou no lado passivo da
relação substantiva ou processual. A questão que se coloca é se para além do X também deveria
estar o Y, o Z ou o W; ou se em vez de ser só o A como autor não devesse estar acompanhado com o
B, com o C ou com o D. Ou seja, para além das partes deviam estar em juízo outros sujeitos?
A legitimidade plural tem duas familias: o litisconsórcio e a coligação.
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O litisconsórcio voluntário é a regra geral e está previsto no artigo 32º do CPC. Temos
uma relação substantiva ou processual em que existem vários interessados, mas no litisconsórcio
voluntário não é necessário que lá estejam todos para se assegurar a legitimidade daqueles que lá
estão - a intervenção dos vários sujeitos da relação material controvertida não é exigida para
assegurar a legitimidade das partes, ou seja, daqueles que estão em juízo. Exemplo: eu pedi-vos
emprestado 1 milhão de euros e fiquei de vos restituir esse dinheiro até ao dia 31 de Dezembro;,
mas passa o tempo e eu não vos paguei; têm de vir todos intentar uma ação contra mim? Não, basta
um.
Mas no litisconsórcio voluntário temos que distinguir duas situações: situações em que a lei
ou o negócio jurídico expressamente admitem que o direito seja exercido na sua globalidade
por um único interessado (como sucede nos artigos 538º, 512º e 1405º, nº2 - CC); e situações em
que a lei ou o negócio são omissos, caso em que o tribunal deve conhecer apenas da respetiva
quota parte do interesse ou responsabilidade, ainda que o pedido abranja a totalidade -
exemplo: eu pedi-vos emprestado 1 milhão de euros e agora vem o vosso colega intentar uma ação
contra mim pedindo tudo, mas a lei e o negócio são omissos quanto à possibilidade de ele exigir
tudo de mim; neste caso, o juiz vai querer saber quanto dinheiro é que ele emprestou e só condena o
réu a pagar-lhe esse valor.
• Natural - é imposto pela própria natureza da relação material controvertida (art. 33º,
nº 2 e 3 - CPC).
Exemplo em que a lei (art. 535º - CC) impõe a intervenção dos vários interessados na
relação material controvertida em juízo.
Se a prestação for indivisível (não se pode dividir) e vários os devedores, só de todos os
obrigados pode o credor exigir o cumprimento da prestação, salvo se tiver sido estipulada a
solidariedade ou esta resultar da lei. Portanto, nas situações indivisíveis com pluralidade de
devedores, sabemos que a lei impõe um litisconsórcio necessário passivo (porque é do lado dos
devedores); se tiver sido estipulada a solidariedade ou esta resultar da lei deixamos de ter
litisconsórcio necessário e passamos a ter litisconsórcio voluntário porque a solidariedade permite
que a prestação seja exigida apenas de um.
Se o A pedir contra B a condenação do B a entregar um automóvel que tinha sido adquirido
a B e C, o A tem que intentar a ação contra B e C porque a obrigação de entrega do automóvel é
indivisível, não pode o B entregar uma parte do automóvel e o C entregar a outra; têm que ambos
entregar o automóvel. Só não seria assim se estivesse estipulado que o A pudesse exigir a um deles.
A presença dos vários interessados é imposta pelo próprio negócio seja ele expresso ou
tácito (art. 33º, nº1 - CPC).
Exemplo: contrato de depósito em que o depositário se obriga a entregar a coisa depositada
a mais do que um dos depositantes (art. 1185º - CC).
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Eu, o meu irmão e a minha irmã temos uma jóia herdada e vamos depositá-la ao banco e
convencionamos no contrato que fizemos que só pelos três é que a jóia podia ser entregue. Mas
agora há um determinado litígio sobre esse contrato de depósito, então nessa situação a ação tem de
ser proposta por todos ou proposta contra todos.
Efeito útil normal: Regular definitivamente a situação concreta das partes face ao pedido
formulado = a eficácia da sentença perante as partes não pode vir a ser colocada em causa por outra
decisão (alcançável por terceiros interessados) - artigo 33º, nº3 do CPC. O que se pretende é evitar
situações inconciliáveis.
E porque é que pode vir a ser posta em causa por uma outra ação? Porque aqueles
interessados que não estiveram em juízo como não estão vinculados pela eficácia do caso julgado
podem propor outra ação. Visa-se que uma decisão proferida numa determinada ação não possa vir
a ser posta em causa por uma outra decisão.
Exemplo: A, B, C e D são proprietários de um terreno, e o A está farto de se manter em
compropriedade com os restantes e por isso quer pôr termos à compropriedade. Põe-se termo à
compropriedade com uma ação de divisão de coisa comum. E então o A quando intenta a ação diz
que é co-proprietário com B, C e D e intenta a ação apenas contra B e C. Vamos supor que não
havia ilegitimidade, a finalidade da ação é dividir. Vamos supor que o tribunal dividia o terreno pelo
A, B, C e D. Esta sentença vinculava D? Não, porque ele não é parte, e se não é parte, o caso
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julgado que recai sobre esta sentença não o abrange. Só que o D não quer ficar com a parte de cima,
então o que é que ele faz? Intenta uma ação a querer nova divisão. E a sentença que viesse agora a
ser proferida dividia de outra forma. As duas sentenças não são conciliáveis. Então nesta ação para
que isto ficasse definitivamente resolvido o D tinha de lá estar, mas como não estava, os restantes
são parte ilegítima.
Exemplo: anulação de contrato de compra e venda referente a uma coisa indivisível
(exemplo, um automóvel). Se A pedir contra B, a anulação do contrato de compra e venda de um
automóvel celebrado com B e C. Para que ficasse definitivamente resolvida a situação tinham que
estar todos em juízo.
Mas há outras que precisamos de saber. Primeira delas: quando existam vários interessados
(litisconsórcio necessário), estão lá todos, mas um dos réus não foi citado, portanto, o autor
intentou a ação contra todos, mas um dos réus não foi citado (art. 190º - CPC). A falta dessa citação
em caso de litisconsórcio necessário causa a invalidade de todos os atos praticados depois das
citações.
No litisconsórcio voluntário nada se anula.
Outra diferença é quanto aos recursos (art. 634º - CPC). A ação foi proposta pelo A contra
B, C, D e E e estes perderam a ação. Agora coloca-se a questão de eles quererem recorrer, mas só
um recorre, o recurso desse aproveita aos restantes que não tiverem recorrido (no litisconsórcio
necessário). Ao passo que no litisconsórcio voluntário isso não é assim.
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contra dois réus. O pedido da seguradora até X e o pedido contra o segurado em Y. Mas é a única
situação em que se pode falar em coligação obrigatória ou necessária.
a letra dou-vos uma ordem de pagamento para pagarem aquele senhor e aquele
senhor agora, que tinha uma relação comigo, eu era devedor dele, como vocês não
pagaram vem intentar ação, e vem intentar ação contra mim com base na relação
subjacente, e contra vocês com base na relação cartular;
• Uma conexão processual dos pedidos (art. 37º - CPC).
Ilegalidade da coligação:
• Havendo incompatibilidade substantiva, ou seja, quando os pedidos são, nos
termos do artigo 555º, substantivamente incompatíveis, ou quando não exista a
conexão objetiva entre os pedidos que é exigida pelo artigo 36º. A consequência é a
notificação do autor para indicar o pedido que pretende ver apreciado, sob pena de
absolvição total do réu, caso não compareça (arts. 38º e 577º, al. d) - CPC);
• Falta de identidade de forma (art. 37º - CPC). Sendo sanável, incumbe ao juiz
adotar o processado à cumulação autorizada. Não sendo sanável dá-se a absolvição
do réu da instância;
• Falta de competência absoluta (art. 99º - CPC). Absolvição do réu da instância.
Intervenção de terceiros - isto é o modo de sanar a ilegitimidade plural (não vamos estudar
isto tudo):
• Intervenção principal:
- Espontânea (311º a 315º);
- Provocada (316º a 320º).
• Intervenção acessória:
- Provocada (321º a 324º);
- Do Ministério Público (325º);
- Assistência (326º a 332º).
• Oposição:
- Espontânea (333º a 337º);
- Provocada (338º a 341º);
- Mediante embargos de terceiro (342º a 350º).
Vamos supor que o A intentou uma ação sem estar devidamente acompanhado pela sua
esposa, e que era uma daquelas situações em que tinham de ser os dois a propor a ação
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(litisconsórcio necessário legal conjugal). O réu quando é citado vem logo dizer que o autor sozinho
sem a mulher é parte ilegítima. E o tribunal quando vai apreciar os pressupostos processuais (regra
geral, não havendo despacho liminar, o tribunal aprecia se os pressupostos estão preenchidos no
despacho saneador), e o juiz no despacho saneador diz que o autor sem a esposa é parte ilegítima.
Ora, até ao trânsito em julgado desta decisão, o autor pode sanar isto (art. 261º) - pode chamar a
esposa.
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INTERESSE PROCESSUAL
74
uma ano) intentar ação contra vocês, eu não tenho interesse em agir, mas tenho legitimidade porque
eu sou titular do interesse relevante para efeitos de legitimidade. Mas não tenho interesse, não tenho
necessidade de recorrer já a tribunais.
Exemplo de situação em que há interesse em agir e não legitimidade: eu sou o senhorio e
arrendei uma casa ao João, e, por sua vez, o João sub-arrendou essa mesma casa à Inês. Eu não
celebrei nenhum contrato com a Inês. Entretanto a casa como estava em mau estado, começou a
chover no quarto onde a Inês dormia. O João não quer saber. A Inês vai intentar ação contra o
senhorio porque é ele que tem de fazer as obras. Como é que ela vai configurar a relação material
controvertida comigo? Não há nenhuma relação. Ela não tem legitimidade para me exigir nada. Mas
ela tem interesse processual, tem necessidade, está numa situação de carência para recorrer a
tribunal, mas isto não se confunde com legitimidade.
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Existirá interesse processual quando o autor pretende reagir contra uma situação de
incerteza objetiva e grave.
A incerteza é:
• Objetiva: quando não traduz uma mera dúvida do autor e resulta de factos externos
aos mesmos (imputáveis à contraparte);
• Grave: quando é suscetível de causar prejuízos.
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Ações declarativas constitutivas: pretende-se obter uma declaração judicial que autorize
uma mudança na ordem jurídica existente. Exemplo do divórcio.
Haverá interesse processual sempre que o efeito jurídico que se pretende alcançar não possa
ser obtido através de simples declaração extrajudicial do demandante; fora do tribunal.
Exemplo: quando se pretende resolver o contrato de arrendamento com fundamento que não
seja a falta de pagamento das rendas. Atualmente, a falta de pagamento das rendas de um contrato
de arrendamento dá origem à resolução pela via extrajudicial, mas todas as outras situações só pela
via judicial é que se pode obter a resolução.
Exemplo: A demanda B pedindo a prolação da sentença que declare a existência de uma
causa de revogação do mandato e extinga os seus efeitos. Haverá, em princípio, falta de interesse
em agir, porquanto o direito potestativo de revogação do mandato pode ser exercido
extrajudicialmente.
Mesmo que se conclua pela falta do interesse em agir, considerando que este pressuposto se
destina a tutelar ou a proteger o réu, este último deve ser absolvido do pedido (não da instância),
caso o tribunal se convença da total improcedência da ação (art. 278º, nº3 - CPC).
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PATROCÍNIO JUDICIÁRIO
Os advogados estagiários podem representar as partes, nas causas em que não é obrigatória
a constituição de advogado (artigo 42º - CPC).
Podem fazer requerimentos em que não se levantem questões de direito, mesmo nas causas
em que seja obrigatória a constituição de advogados (artigo 40º, nº2 - CPC).
Os solicitadores têm uma competência forense idêntica à dos advogados estagiários (arts.
40º, nº2 e 42º - CPC).
Os agentes de execução só têm competência para as ações executivas. São eles que tratam
de burocracia da ação executiva. São eles que penhoram os bens, que vão ter com os devedores…
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Espécies:
• Com reserva: quando o mandatário mantém conjuntamente com o novo mandatário
os poderes de representação (art. 44º, nº3, à contrario sensu - CPC); é apenas para
aquele ato, ou seja, ele pratica o ato e depois disso eu volto a assumir a plenitude do
meu mandato;
• Sem reserva: quando o mandatário inicial não mantém aqueles poderes (art. 4º, nº3 -
CPC); ele fica a ser o advogado até ao fim do processo.
Nota: o patrocínio judiciário pode ser exercido sem que seja a própria parte a constituir
mandatário, como sucede nos casos de nomeação oficiosa de patrono pela Ordem dos Advogados.
Naquelas situações em que a pessoa não tem possibilidade de pagar os onerários a um advogado,
vai solicitar à Segurança Social a atribuição de um advogado oficioso.
Eficácia da renúncia: nos casos em que é obrigatória a constituição de advogado (arts. 40º
e 58º - CPC), o prazo para constituir novo mandatário é de 20 dias (art. 47º, nº3 - CPC).
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Havendo reconvenção (pedido autónomo que o réu deduz contra o autor, vimos isso a
propósito da extinção da competência), se a falta de constituição de mandatário no prazo (20 dias)
disser respeito:
• Aos réus: fica sem efeito o seu pedido reconvencional;
• Ao autor: o processo prossegue para apreciação da reconvenção (decorridos 10 dias
após a suspensão da ação) (art. 47º, nº6 - CPC).
Nos recursos discute-se matéria de direito e, por isso, só os que têm conhecimentos técnicos
é que o podem fazer, daí ser obrigatória a constituição de advogado.
Se as partes não constituírem advogado, nos casos em que é obrigatório fazê-lo, o juiz,
oficiosamente, determinará a sua notificação para sanarem a falta de patrocínio (art. 41º - CPC).
Nota: tendo presente que a falta de constituição de mandatário por parte do réu não impede
a apreciação do mérito da causa, impõe-se concluir que neste caso não estamos perante um
pressuposto processual geral, mas perante um requisito para a prática de certos e determinados atos
no processo.
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